Content uploaded by Vanda Carmo
Author content
All content in this area was uploaded by Vanda Carmo on Dec 15, 2014
Content may be subject to copyright.
Primeiro bloom de Alexandrium minutum detectado no Arquipélago dos Açores
(Ilha de S. Jorge, NE do Atlântico)
FAJÃ DA CALDEIRA DE SANTO CRISTO
DESCRIÇÃO DA OCORRÊNCIA
b
Mariana Santos1, Pedro Costa1, Vanda Carmo2, João Gonçalves2, Filipe M. Porteiro3, Rui Sequeira3 e Mª Teresa Moita1
1 Instituto Português do Mar e da Atmosfera, IPMA - Av. de Brasília, 1449-006 Lisboa, Portugal.
2 Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, DOP-UAç - Rua Prof. Dr. Frederico Machado, 9901-862 Horta, Portugal.
3 Secretaria Regional dos Recursos Naturais - Av. Antero de Quental, n.º 9C, 2.º Piso, 9500-160 Ponta Delgada, Portugal.
Contacto do autor: marianasantinho@gmail.com
No dia 2 de Setembro de 2013 registou-se, pela primeira vez, uma “maré
vermelha” no Arquipélago dos Açores (NE do Atlântico). Este fenómeno natural
ocorreu na Fajã da Caldeira de Santo Cristo, na ilha de S. Jorge (Fig. 1) e
apresentou uma coloração acastanhada (Fig. 2). Este é o único local dos Açores
onde existe a amêijoa-boa (Venerupis decussata) a qual é explorada localmente
para consumo humano.
A lagoa encontra-se isolada do mar envolvente por uma barreira de calhau que as
Fig. 1 – Localização da Fajã da Caldeira de Santo Cristo
Fig. 2 – Coloração da água da Lagoa (a) durante a ocorrência da “maré vermelha” e (b) no seu estado normal
IDENTIFICAÇÃO DO BLOOM
Fig. 3 – Bloom de Alexandrium minutum preservado em formol, em microscopia óptica.
Complementando as observações com a utilização de microscopia de fluorescência a microalga
responsável pela alteração da cor da água foi identificada como Alexandrium minutum.
Fig. 4 – Alexandrium minutum em microscopia de fluorescência: (a e b) desfasamento do cíngulo; (c) epiteca com evidência do poro apical (Po), da placa 1’ e
poro ventral (seta) e da placa 6’’; (d) epiteca com evidência das placas 1’ e poro ventral (seta), placa 6’’ e da placa sulcal anterior (S.a.); (e) hipoteca com
evidência da placa sulcal posterior (S.p.).
EFEITOS CAUSADOS
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS:
Pequenas células solitárias, redondas ou ovais (Fig. 3)
Cíngulo desfasado, descendo cerca de uma largura cingular (Fig. 4a e 4b)
Poro apical (Po) oval, ligeiramente mais côncavo à direita e com “foramen” central em forma
de vírgula (Fig. 4c)
Placa 1’diretamente em contato com o Po (Fig. 4c), apresentando um pequeno poro ventral
situado na metade posterior da placa (Fig. 4c e 4d)
Placa 6’’ mais estreita do que comprida (com o comprimento cerca 2x a largura, Fig. 4c e 4d)
A margem anterior da placa sulcal anterior (S.a.) é praticamente direita e a margem posterior
apresenta uma acentuada sinuosidade (Fig. 4d)
A placa sulcal posterior (S.p.) é mais larga que comprida e a margem anterior dessa placa é
praticamente direita ou ligeiramente convexa (Fig. 4e)
MORTE DE PEIXES – TAINHA
TOXIFICAÇÃO DA AMÊIJOA DA CALDEIRA POR PSP
http://siaram.azores.gov.pt
CONTAMINAÇÃO DE HUMANOS POR PSP
CONCLUSÕES
As características observadas nas células responsáveis pelo bloom na Fajã
da Caldeira de Santo Cristo estão em concordância com as descrições
clássicas de Alexandrium minutum (Balech, 1995).
Este bloom de A. minutum corresponde ao primeiro registado para o
Arquipélago dos Açores.
O bloom de A. minutum foi responsável pela alteração da coloração da
água, pelos elevados níveis de toxicidade observados nas vísceras das
tainhas e nas amêijoas recolhidas, e consequentemente na contaminação
dos consumidores locais que ingeriram aquele molusco bivalve antes da
deteção do fenómeno pelas autoridades locais.
A apanha da amêijoa da Caldeira foi temporariamente proibida por uma
portaria emitida pela da Secretaria Regional dos Recurso Naturais, entidade
dos Açores com competência na matéria, uma vez que os níveis de toxina se
encontravam acima dos valores regulamentados (800 µgSTXequiv.Kg-1),
constituindo um problema de saúde publica.
AGRADECIMENTOS: Agradecemos à Prof. Doutora Ana Amorim e à Dr. Vera Veloso pelo apoio prestado na obtenção das imagens de fluorescência.
REFERÊNCIAS: Balech, E., 1995. Publ. Sherkin Is. Mar. Station, Sherkin Island, Co. Cork, Ireland, 151 pp. / Cancela da Fonseca, L., Menezes, G., Gonçalves, J. & Porteiro, F., 1995. Boletim do Museu Municipal do Funchal, Sup. 4: 219-232
5 µm
a
Po
6’’ 1’
c
2 µm
1’
6’’ S.a.
d
2 µm
S.p.
e
2 µm
b
5 µm
Utilizou-se o método de Utermöhl através de microscopia óptica de inversão e identificou-se um
bloom do dinoflagelado Alexandrium sp. com concentrações > 1,3 x 107 células.L-1 (Fig. 3)
acompanhado por um bloom da diatomácea Thalassionema frauenfeldii (2 x 106 células.L-1).
Dimensões das células observadas:
-> 20 – 25 µm de comprimento
(X = 22±1,6 µm)
-> 17,5 – 25 µm de largura
(X = 21±2,0 µm)
25 µm
25 µm
a
Eng. Rui Mesquita
Nº de casos notificados: Quatro
Fig. 5 – Exemplares de tainha (Chelon labrosus) mortos
durante a “maré vermelha”
Fig. 6 – Amêijoa da Caldeira
(Venerupis decussata)
Dormência na face, mãos, braços e pernas
Tonturas
Dificuldade em falar
Dificuldade em andar
Principais Sintomas:
Níveis de toxina PSP (GTX 2+3, STX, GTX 1+4 e Neo)
>
Limite regulamentar (800 µgSTXequiv.Kg-1)
Interdição temporária da apanha da
amêijoa
Toxinas PSP (Paralytic shellfish poisoning)
analisadas em:
-Vísceras
- Músculo
- Brânquias
- Cérebro Deteção de toxinas
GTX 2+3, STX, GTX 1+4 e Neo
apenas nas vísceras
ondas atravessam, e apresenta uma
entrada subterrânea de água doce na sua
margem terrestre. Na época estival atinge
em média os 25 ºC e 35,5 de temperatura e
salinidade, respetivamente (Cancela da
Fonseca et al., 1995).