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Revista Latino-Americana de Inovação e Engenharia de Produção Vol. 2, n. 2. Jan./jun. 2014
JARDINS VERTICAIS: POTENCIALIDADES PARA O AMBIENTE URBANO
Minéia Johann Scherer (UFRGS, Brasil) mineiaarq@gmail.com
Beatriz Maria Fedrizzi (UFGRS, Brasil) beatrizfedrizzi@gmail.com
Resumo: O acelerado crescimento das cidades, com intensificação do uso e
ocupação do solo, está levando a uma diminuição das áreas disponíveis para a
vegetação, sendo visíveis as perdas de qualidade ambiental. A presença de es-
paços vegetados favorece um microclima agradável e minimiza os efeitos da
ilha de calor urbana. Na escala da edificação, a vegetação pode contribuir para
o conforto térmico, reduzindo a necessidade de sistemas de climatização artifi-
cial. Os benefícios estéticos e psicológicos também representam uma impor-
tante justificativa para o aumento do verde, uma vez que o bem estar do ho-
mem está intimamente ligado ao seu contato com a natureza. Desta forma, es-
te artigo tem como objetivo discutir as potencialidades do uso dos jardins ver-
ticais como um novo suporte a ser explorado para ampliar as áreas urbanas ve-
getadas. A metodologia do trabalho está baseada em revisão bibliográfica so-
bre o tema, na qual são apresentadas diferentes tipologias de jardins verticais,
bem como, exemplos realizados utilizando uma das técnicas, as chamadas cor-
tinas verdes, a qual se destaca por também assumir a função de elemento de
proteção solar para a edificação. Os resultados demonstram o grande potencial
dos jardins verticais para a economia de energia, além dos benefícios sociais,
psicológicos e de qualificação dos ambientes de trabalho.
Palavras-chave: Jardim vertical. Cortinas verdes. Proteção solar. Conforto
térmico. Sustentabilidade.
Abstract: The rapid growth of cities, with increased use and soil occupation, is
leading to a decrease in available areas for vegetation being visible losses of
environmental quality. The presence of vegetated promotes a microclimate and
minimizes the effects of urban heat island. On the scale of the building, vegeta-
tion can contribute to thermal comfort, reducing the need for artificial climate
control systems. The aesthetic and psychological benefits are also an important
reason for the increase in green areas, considering that human is closely linked
to his contact with nature. Thus, this article aims discusses the potential use of
vertical gardens as a new support to be explored to increase vegetated urban
areas. The work methodology is based on bibliographical review about the sub-
ject, which presents different types of vertical gardens as well, examples per-
formed using one of the techniques, called green curtains, which stands out by
also assume the function of element sun protection for the building. The results
demonstrate the great potential of vertical gardens for energy savings, as well
as social, psychological and qualification of the workplace benefits.
Keywords: Vertical Garden. Green curtains. Sunscreen. Thermal comfort. Sus-
tainability.
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1. Introdução
Os impactos decorrentes da urbanização acele-
rada estão sendo sentidos em diferentes aspec-
tos, o que leva à degradação ambiental das
nossas cidades e, conseqüentemente, à dimi-
nuição da qualidade de vida dos cidadãos. Um
dos pontos de maior relevância é a escassez de
áreas vegetadas no meio urbano, cada vez mais
dominado por edifícios e pavimentações.
Mesmo sendo de amplo conhecimento os bene-
fícios da vegetação para a qualificação ambien-
tal e a sustentabilidade, nos deparamos com a
intensificação de uso e ocupação do solo urba-
no, desordenado e seguindo principalmente
critérios econômicos. As áreas destinadas ao
verde são reduzidas aos índices mínimos pre-
vistos no lote e praticamente inexistem novas
áreas que possam ser contempladas com praças
ou parques. Isto, além de limitar o importante
contato do ser humano com a natureza, influ-
encia no conforto ambiental das cidades, alte-
rando o seu microclima e intensificando o fe-
nômeno da ilha de calor urbano.
A ilha de calor ocorre nos centros urbanos
devido à grande concentração de edificações e
superfícies pavimentadas, que absorvem, retém
e refletem mais energia solar do que superfí-
cies vegetadas. Deste modo, a temperatura do
ar tende a elevar-se, modificando as condições
climáticas naturais do local. A presença da
vegetação, em uma proporção compatível com
as áreas construídas, é, portanto, uma impor-
tante estratégia para manutenção do conforto
térmico das cidades, além de reter partículas de
poluição, umidificar o ambiente, reter a água
da chuva e modificar a ação dos ventos.
A vegetação contribui para a amenização do
microclima devido ao processo de evapotrans-
piração das espécies vegetais, também chama-
do de resfriamento evaporativo: a energia do
sol é absorvida pela planta, resultando na perda
de calor na atmosfera e na umidificação do
ambiente. Além disso, o sombreamento causa-
do pela vegetação diminui as temperaturas
superficiais dos pavimentos e fachadas das
edificações, uma vez que intercepta grande
parte da radiação solar incidente (LYLE, 1994;
CANTUÁRIA, 1995; DE LA TORRE, 1999;
MASCARÓ: MASCARÓ, 2005).
Diante da constatação de que o crescimento
acelerado das grandes cidades está levando a
um esgotamento das áreas públicas disponíveis
para implementação de novos parques ou áreas
revegetadas, este artigo propõe o incentivo ao
uso dos jardins verticais, ou seja, das superfí-
cies verticais das edificações como novos su-
portes para desenvolvimento do verde em nos-
sas cidades.
Tendo em vista as recentes técnicas para exe-
cução dos jardins verticais e o limitado número
de publicações sobre o assunto, especialmente
no Brasil, este texto tem como objetivo princi-
pal, levar ao conhecimento do leitor as diferen-
tes tipologias de jardim vertical, discutindo
suas principais potencialidades para o meio
urbano e para as edificações. Após, o foco é
direcionado para uma tipologia específica de
jardim vertical, as chamadas cortinas verdes,
que agregam importante potencial como prote-
ção solar para as fachadas das edificações,
apresentando alguns exemplos bem sucedidos
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executados com esta técnica. O estudo apro-
fundado das cortinas verdes é tema de douto-
ramento do autor, no Programa de Pesquisa e
Pós-graduação em Arquitetura da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
A metodologia do trabalho está baseada em
revisão bibliográfica, com levantamento e or-
ganização de dados coletados sobre a temática
dos jardins verticais e das cortinas verdes.
2. Classificação dos Jardins Verticais
A denominação de fachada verde, dos termos
em inglês “green wall” ou “green façade”,
refere-se ao revestimento de alvenarias ou
outras estruturas verticais, por meio do desen-
volvimento em sua superfície de vegetação
auto-aderente ou com auxílio de suportes, nos
quais as raízes do vegetal estão na base desta
estrutura, em contato direto com o solo ou com
outro tipo de substrato (DUNNETT; KINGS-
BURY, 2004). A partir desta definição geral,
podemos classificar diferentes tipos de jardim
vertical, sendo que neste trabalho vamos adotar
o proposto por Sharp et al. (2008) e Pérez
(2010), onde há distinção de basicamente três
tipos: os sistemas extensivos tradicionais, as
cortinas verdes e o sistema intensivo denomi-
nado parede viva (Quadro 1).
QUADRO 1: CLASSIFICAÇÃO DOS JARDINS VERTICAIS
Sistemas extensivos
Sistemas intensivos
Fachadas verdes
Fachada verde tradicional
Dupla fachada verde ou cortina verde
Modular
Treliça
Com fio ou cabeada
Malha
Jardineiras perimetrias
Paredes vivas
Em vasos ou cavidades
Painéis geotêxteis
Fonte: Adaptado de Pérez, 2010
A diferença dos sistemas extensivos está, basi-
camente, no plantio de espécies trepadeiras
diretamente no solo ou em jardineiras, enquan-
to que no sistema intensivo não há presença de
solo e as espécies, geralmente de pequeno por-
te, são fixadas em painéis especiais. Sistemas
extensivos são, no geral, mais fáceis de cons-
truir e demandam pouca manutenção, enquanto
que o sistema intensivo tem implantação mais
complexa e exige um elevado nível de manu-
tenção posterior.
2.1 Fachada verde tradicional
Os sistemas extensivos tradicionais se caracte-
rizam pela presença de espécies trepadeiras
auto-aderentes que são capazes de se fixar
diretamente nas alvenarias, por meio de raízes
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adventícias ou gavinhas ramificadas, formando
um revestimento que remete a uma pele verde
na edificação (Figura 1). Algumas das espécies
mais comuns são a Parthenocissus tricuspidata
(falsa-vinha), Hedera helix (hera-inglesa) e a
Ficus pumila (unha-de-gato ou falsa-hera).
A maioria das espécies auto-aderentes tende a
crescer em direção à luz, portanto, é preciso
observar a posição em que será plantada a mu-
da quando o objetivo é o revestimento de fa-
chadas. É interessante plantá-la na região mais
sombreada, pois desta forma seu crescimento
naturalmente irá ser direcionado para o restante
da superfície (DUNNETT; KINGSBURY,
2004).
FIGURA 1: PELE VERDE DE CRESCIMENTO ESPONTÂNEO E INTEGRADO AO PROJETO AR-
QUITETÔNICO
Fonte: KÖHLER, 1993, p. 97 e UFFELEN, 2011, p. 148
2.2 Cortina verde
Também denominada dupla fachada verde, são
sistemas em que é necessária a instalação de
algum tipo de suporte ao longo do qual a vege-
tação trepadeira irá se desenvolver. Oss upor-
tes podem variar quanto aos materiais usados,
ao formato, a distância entre os apoios e tam-
bém quanto ao afastamento da parede. As es-
pécies propícias são inúmeras, dependendo de
cada região. Alguns exemplos para o sul do
Brasil são a Lonicera japônica (madressilva),
Wisteria SP (glicínia), Thunbergia grandiflora
(tumbérgia-azul).
Como já citado, a tipologia denominada corti-
na verde será exemplificada a seguir, através
de exemplos arquitetônicos materializados com
esta técnica. A particularidade mais relevante
em relação aos outros tipos de jardim vertical é
a possibilidade do elemento estar sobreposto às
aberturas ou regiões envidraçadas da edifica-
ção, e não somente às paredes opacas. Esta é a
característica dominante que vai classificar a
cortina verde como elemento de proteção solar
em arquitetura.
As duas principais subdivisões das cortinas
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verdes são:
Modular: consiste na combinação de módulos
metálicos prontos, com jardineira e treliça,
fixados na fachada das edificações. Neste caso,
a vegetação trepadeira possui uma área de
substrato e de crescimento limitada, o que faci-
lita a manutenção (Figura 2).
Treliça: ao contrário do sistema anterior, o
plantio das espécies se dá diretamente no solo
ou em grandes jardineiras contínuas, o que
propicia um desenvolvimento maior da trepa-
deira. As treliças permitem maior possibilidade
de variação nas composições de fachada, na
utilização de diferentes materiais e na distância
em relação à parede para sua execução (Figura
3).
FIGURA 2: SISTEMA MODULAR COM CONTAINERS, DA EMPRESA GSKY PLANT SYSTENS
Fonte: GSKY PLANT SYSTENS, 2012.
FIGURA 3: SISTEMA COM TRELIÇA DO EDIFICIO CONSORCIO, SANTIAGO, CHILE, E DO
EDIFÍCO EX-DUCATI, ITÁLIA
Fonte: ENRIQUE BROWNE Y ASOCIADOS, 2012 e MARIO CUCINELLA ARCHITECTS, 2012.
2.3 Parede viva
Também chamado de sistema modular, classi-
fica-se como intensivo e diferencia-se dos an-
teriores por adotar módulos especiais para o
desenvolvimento das plantas, sendo constituí-
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dos por painéis geotêxteis, vasos ou blocos
com cavidades para o substrato, não havendo
contato da raiz da planta com o solo na base da
estrutura. Comumente adotam o sistema hidro-
pônico, onde não há substrato, somente irriga-
ção com fertilizantes solúveis.
Podem utilizar uma grande variedade de espé-
cies, geralmente samambaias, bromélias e ar-
bustos de pequeno porte, formando uma parede
com grande impacto visual, sendo muitas ve-
zes tratada como obra de arte. Atualmente
diversas empresas a nível mundial executam
diferentes sistemas de paredes vivas, sendo que
a classificação pode ser subdividida em basi-
camente dois grandes grupos, conforme segue.
Vasos ou cavidades: este sistema utiliza mó-
dulos onde, geralmente, a vegetação já está
desenvolvida. Um exemplo é o sistema desen-
volvido pela empresa Norte Americana GSky
Plant System, onde a execução é realizada com
a fixação dos módulos a uma estrutura metáli-
ca anexada às paredes (Figura 4).
Painéis geotêxteis: a técnica do botânico Pa-
trick Blanc é pioneira e consiste no plantio de
arbustos de pequeno porte e forrações ao longo
de uma manta geotêxtil fixada e estruturada em
uma grelha metálica ou de PVC, sem a presen-
ça de solo. Os minerais necessários para de-
senvolvimento da vegetação são oferecidos
durantes as frequentes regas do sistema. Tam-
bém pode ser aplicado no interior de edifica-
ções, desde que exista iluminação, natural ou
artificial, suficiente. O processo de planeja-
mento do painel leva em consideração as ca-
racterísticas das espécies escolhidas, seu porte
e coloração. Já o resultado final depende da
velocidade de crescimento das plantas (Figura
5).
3. Potencialidades do uso dos Jardins
Verticais
Assim como as demais formas de aplicação da
vegetação no meio urbano, desde a presença de
espécies arbóreas em ruas, praças ou parques,
até a implementação de telhados verdes, uso já
amplamente valorizado, os jardins verticais
podem contribuir de forma impactante na qua-
lificação ambiental das cidades e também no
conforto térmico das edificações, reduzindo a
necessidade de climatização artificial. Peck et
al (2007) ressaltam que o efeito dos jardins
verticais pode ser superior ao obtido com te-
lhados verdes, principalmente no caso de edifí-
cios com vários pavimentos. Isso porque a área
de superfície vertical é geralmente superior e
abrange todos os pavimentos e não somente a
cobertura. Desta forma, as superfícies verticais
representam um vasto território a ser explora-
do, uma grande oportunidade para aumento da
massa vegetal nas cidades.
Na escala da edificação, os diferentes tipos de
jardim vertical atuam na melhoria do desem-
penho térmico das edificações, pela combina-
ção de diversos fatores. As fachadas verdes,
com espécies trepadeiras aderentes às paredes,
por exemplo, age como um revestimento iso-
lante, capaz de reduzir a energia necessária,
tanto para aquecer, como para resfriar os ambi-
entes internos (DUNNETT; KINGSBURY,
2004).
Johnston e Newton (2004) acrescentam que, ao
contrário da crença popular, fachadas cobertas
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com vegetação são mais secas, outro fator que
reduz a perda de calor por condutividade. A
água é absorvida pelas folhas e o excesso escoa
até o solo, evitando a penetração até a parede,
que permanece seca.
FIGURA 4: SISTEMA COM MÓDULOS FIXADOS EM ESTRUTURA METÁLICA, DA EMPRESA
GSKY PLANT SYSTENS
Fonte: GSKY Plant Systens, 2012
FIGURA 5: PROCESSO DE PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DO SISTEMA DE JARDIM VERTI-
CAL DO BOTÂNICO PATRICK BLANC
Fonte: Stylepark, 2012
A utilização das cortinas verdes, com espécies
trepadeiras afastadas das paredes, por outro
lado, atua especialmente no bloqueio da radia-
ção solar direta. Além disso, o processo de
evapotranspiração das plantas retira calor e
umidifica o ar, realizando naturalmente sua
refrigeração antes de chegar ao ambiente inter-
no. Em regiões de clima composto, o ideal é a
utilização de algumas espécies caducifólias,
para que no inverno o sol atinja a fachada e
aqueça os ambientes (JOHNSTON; NEW-
TON, 2004).
Sobre as espécies caducifólias, Cantuária
(1995) comenta sobre a propriedade de adapta-
ção às variações climáticas a curto e longo
prazo, já que, de acordo com o ângulo de inci-
dência dos raios solares e a intensidade da
temperatura da primavera, as folhas são reor-
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ganizadas, inclinadas ou até mesmo tem seu
brotamento antecipado. Dessa forma, a sombra
adequada à edificação é fornecida também no
momento adequado.
Kwok e Grondzik (2013) complementam a
atuação das cortinas verdes com uma constata-
ção surpreendente: o uso da vegetação pode ser
mais eficiente que o sombreamento realizado
por elementos de proteção solar fixos, tendo
em vista o comportamento da vegetação a qual
acompanha melhor as variações de temperatura
do que os ângulos solares.
Desta forma, pode antecipar sua brotação em
um ano em que o aquecimento da primavera
começa mais cedo ou vice-versa. Da mesma
forma, pode perder antes ou permanecer com
as folhas mais tempo, dependendo da condição
de início do outono, de maior ou menor neces-
sidade de sombreamento.
Além disso, enquanto os materiais usuais utili-
zados em proteções solares, como plásticos ou
metais, absorvem mais calor aquecendo o ar
circundante, a vegetação, ao contrário, resfria o
ar pelo processo de evapotranspiração. Isto é
mais uma evidência das vantagens no uso da
vegetação como elemento de proteção solar.
4. Edificações com Cortinas Verdes
Segundo Köhler (2008), o interesse científico
pelo uso da vegetação em fachadas e em seu
benefício ambiental é relativamente recente.
Na Alemanha, no final da década de 1970,
eclodiu um movimento para propor mudanças
nos paradigmas da arquitetura, onde o uso da
fachada verde era visto como alternativa de
revestimento para projetos de edifícios ecoló-
gicos. Foi reconhecido que as fachadas verdes
eram relativamente fáceis de construir e um
programa de incentivo foi desenvolvido em
Berlin para seu uso. Por este motivo, até pou-
cos anos atrás, a maioria das publicações sobre
o assunto restringia-se ao idioma alemão, o que
dificultou a difusão e o incentivo para novas
pesquisas no resto do mundo.
Mais recentemente, a partir do ano 2000, o
botânico francês Patrick Blanc revolucionou a
integração entre arquitetura e paisagem, desta-
cando-se no paisagismo atual por suas criações
de jardins verticais em edificações.
Atualmente, o uso da vegetação integrada com
a fachada da edificação é considerada uma
técnica coerente com os princípios de sustenta-
bilidade e de eficiência energética, sendo que
existe cada vez mais incentivo e movimentos a
nível internacional que tratam deste assunto.
Grandes cidades, tais como Londres na Ingla-
terra, Seattle nos Estados Unidos e Toronto no
Canadá, implantaram nos últimos anos políti-
cas de incentivo ao uso de telhados verdes,
jardins verticais e demais formas de vegetação,
a fim de aumentar a superfície vegetada em
suas áreas urbanas e, assim, minimizar seu
impacto ambiental.
Da mesma forma, campanhas nacionais no
Japão e em Cingapura, incentivam pesquisas e
aplicações dos jardins verticais como forma de
redução no consumo energético para climati-
zação (PECK et al, 2007; SHARP et al., 2008).
Especificamente sobre a tipologia das cortinas
verdes, um dos exemplares mais significativos
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construídos com esta técnica localiza-se no
Chile e foi projetado pelo arquiteto Enrique
Browne, ainda na década de 90 do século pas-
sado.
O Edifício Consorcio em Santiago possui fa-
chadas envidraçadas, porém protegidas do
excesso de sol pelo uso da vegetação trepadei-
ra, que se desenvolve em grandes floreiras e
fixa-se em suportes metálicos afastados das
aberturas. Além do sombreamento, regulado
pela densidade da folhagem que varia segundo
as estações do ano, a vegetação promove cor-
rentes de ar pelo “efeito chaminé” e o resfria-
mento da fachada (Figura 6).
O comportamento energético do edifício foi
avaliado por Reyes apud Browne (2007), onde
foi realizada uma comparação entre dois pavi-
mentos do edifício: um sem a vegetação como
elemento de sombreamento e outro com a cor-
tina verde.
O resultado mostrou que o pavimento protegi-
do consome 35% menos de energia, como uma
redução de 25% nos custos.
Outro aspecto relevante da utilização da vege-
tação como componente do projeto é o efeito
visual interessante e as transformações que a
fachada apresenta ao longo dos anos e das
variações sazonais. Ao contrário dos materiais
de construção usuais, que se deterioram com o
tempo ou que são substituídos por novas tecno-
logias, a vegetação se desenvolve, cresce e
revigora a imagem do edifício com o passar
dos anos (BROWNE, 2007).
Outro exemplo de edificação que utiliza as
cortinas verdes é o Edifício Ex Ducati, na Itá-
lia, projetado pelo arquiteto Mario Cucinella e
executado em 2006.
A fachada principal e as laterais são cobertas
com uma espécie trepadeira que cresce auxili-
ada por uma grelha de aço. Esta solução de
fachada, segundo o próprio arquiteto, cria a
aparência de jardins verticais suspensos e re-
mete aos edifícios tradicionais cobertos com
hera (UFFELEN, 2011).
A vegetação cresce a partir do solo e também
em jardineiras dispostas ao longo do segundo
pavimento, onde forma na varanda dos escritó-
rios um espaço permeável ao ar e à luz, além
de permitir o contato dos ocupantes com a
natureza (Figura 7).
Mais recentemente, em Cingapura, o escritório
WOHA Arquitetos projetou uma edificação
destinada a uma escola especializada em artes
visuais e performativas. O conceito adotado no
projeto prioriza a ventilação e luz natural em
todos os espaços, revelando os novos paradig-
mas da arquitetura em Cingapura, voltada aos
preceitos do bioclimatismo e da sustentabilida-
de.
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FIGURA 6: EDIFÍCIO CONSORCIO SANTIAGO DETALHE DAS CORTINAS VERDES E COM-
PORTAMENTO TÉRMICO DO EDIFÍCIO
Fonte: Enrique Browne y Asociados, 2012
Uma das características plásticas e funcionais
marcantes no projeto é a presença das cortinas
verdes, em todas as fachadas do edifício (Figu-
ra 8). Cingapura está incentivando a aplicação
dos jardins verticais na cidade e nas edifica-
ções, como estratégia de redução no consumo
energético com climatização artificial. A vege-
tação atua como filtro ambiental, contra o ex-
cesso de luz, calor e poluentes, além de pro-
mover o resfriamento evaporativo da ventila-
ção que entra nos espaços.
Estes são apenas alguns exemplos de prédios já
executados com a utilização das cortinas ver-
des, sendo que, a cada dia, verificam-se inúme-
ros projetos em fase de estudos, em todas as
regiões do planeta, o que dá uma previsão do
quanto sua aplicação tende a crescer nos pró-
ximos anos.
FIGURA 7: FACHADA COM VEGETAÇÃO TREPADEIRA E VARANDAS DOS ESCRITÓRIOS
Fonte: Mario Cucinella Architects, 2012
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FIGURA 8: O EDIFÍCIO EM CINGAPURA E DETALHE DAS CORTINAS VERDES ATUANDO NO
SOMBREAMENTO DOS ESPAÇOS
Fonte: Archdaily, 2012
5. Considerações finais
O uso da vegetação representa uma forte estra-
tégia para o futuro das cidades, já que são inú-
meros os benefícios proporcionados pelo au-
mento do verde nos centros urbanos. Os bene-
fícios ambientais estão relacionados aos efeitos
sobre a radiação solar, purificação do ar, reten-
ção de poluentes e umidificação.
Os agentes combinados podem representar
economia no consumo de energia para climati-
zação da edificação, tornando naturalmente o
micro-clima mais agradável. Por outro lado, os
benefícios sociais, estéticos e psicológicos
também representam uma importante justifica-
tiva para o aumento do verde e qualificação
dos ambientes de trabalho, uma vez que o bem
estar do ser humano está intimamente ligado
ao seu contato com a natureza.
Neste contexto, novas formas de revegetação,
incorporadas na edificação, representam uma
importante alternativa para a escassez de áreas
urbanas disponíveis para parques e praças.
Este é o caso dos jardins verticais, onde as
fachadas das edificações são aproveitadas co-
mo suporte para o desenvolvimento da vegeta-
ção e, particularmente, das cortinas verdes que
foram exemplificadas neste trabalho.
Este tipo de fachada verde, além de proporcio-
nar maior contato com a vegetação, representa
uma técnica de controle da radiação solar e
amenização do microclima interno das edifica-
ções, evitando o uso excessivo de climatização
artificial.
Através dos exemplos arquitetônicos apresen-
tados, que utilizam as cortinas verdes enquanto
elemento de proteção solar e, ao mesmo tem-
po, de composição arquitetônica, podemos
observar o quanto promissor pode ser a adoção
desta estratégia natural e de baixo impacto
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ambiental.
Ao mesmo tempo em que seu uso vem sendo
gradativamente explorado a nível mundial,
constata-se que ainda existem poucos estudos
científicos que discutam suas potencialidades e
fragilidades, seu desempenho como elemento
de proteção solar e auxiliem os projetistas para
a aplicação prática das cortinas verdes em
arquitetura.
No Brasil, a utilização das cortinas verdes
ainda é insipiente, com poucos exemplares, a
maioria ainda em fase projetual. No âmbito
científico, o cenário nacional é ainda mais
defasado, o que justifica a realização de inves-
tigações sobre seu uso, sobre sua aplicabilida-
de para a realidade tecnológica, cultural e cli-
mática de nosso país.
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