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O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA

Authors:
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS
NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
Raquel Campos Franco
S. Wojciech Sokolowski
Eileen M. H. Hairel
Lester M. Salamon
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS
NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
Raquel Campos Franco
S. Wojciech Sokolowski
Eileen M. H. Hairel
Lester M. Salamon
TÍTULO
O sector não lucrativo português numa perspectiva comparada
TRADUÇÃO
Raquel Campos Franco
TÍTULO DA VERSÃO ORIGINAL
e portuguese nonprofit sector in comparative perspective
GRAFISMO
Paulo Morais
IMPRESSÃO
Uniarte Gráfica
ISBN
972-99847-1-9
DEPÓSITO LEGAL
234332/05
O PROJECTO CNP EM PORTUGA L
Raquel Campos Franco
Coordenadora do Projecto
Faculdade de Economia e Gestão
Universidade Católica Portuguesa
Porto, Portugal
ASSISTENTES DE INVESTIGAÇÃO
A FUNDAÇÃO LUSO-AM ERICANA
DESEN VOLVEU TRABA LHO SOBRE O
ENQUADRA MENTO LEG AL DO SECTOR
NÃO LUCR ATIVO EM PORT UGAL.
Vera Pinto Leite
recolha de dados
Mariana Costa
recolha de dados, histó-
ria, análise de impacto
Liliana Fernandes
análise de impacto
Marta Ribeiro
análise de impacto
Carlos Azevedo
políticas públicas,
análise de impacto
I
Este
importante projecto de in-
vestigação é o resultado da combinação
de esforços de investigadores e analistas ao
longo de mais de dois anos, na procura da
compreensão da história, dimensão e influ-
ência do Sector Não Lucrativo em Portugal.
O projecto emergiu da visão e do financia-
mento de quatro fundações líder portugue-
sas, que compreenderam que a contribuição
deste vasto sector para o desenvolvimento
social, económico e político de Portugal era
largamente desconhecido, e o seu potencial
amplamente subvalorizado. As forças cons-
trutivas de um Sector Não Lucrativo vi-
brante são essenciais para o desenvolvimen-
to equilibrado das sociedades modernas.
Este estudo trará finalmente essas forças à
luz do dia, para que sejam compreendidas,
justamente valorizadas, apoiadas e reforça-
das de forma a contribuírem cada vez mais
para melhores benefícios sociais.
Nós, na Fundação Calouste Gulbenkian,
na Fundação Luso-Americana, na Funda-
ção Ilídio Pinho e na Fundação Aga Khan,
estamos orgulhosos por termos contribuído
para que esta investigação se concretizasse.
O respeito que partilhamos pelo Center for
Civil Society Studies da Universidade de Jo-
hns Hopkins nos Estados Unidos e pelo seu
Director, Lester Salamon, que desenvolveu
a metodologia de investigação e a aplicou
em diversos países, tanto na União Europeia
como globalmente, garantiram a confiança
de que este trabalho resultaria em conclusões
inovadoras, fiáveis e valiosas sobre o impacto
económico e social do sector em Portugal.
O desafio que se coloca agora a uma lide-
rança responsável é o de compreender como
estes resultados e conclusões podem ser usa-
dos de forma vantajosa, como libertar as for-
ças do sector, e como mobilizar e motivar
um maior envolvimento da comunidade nas
organizações sem fins lucrativos. Ainda, é
nossa incumbência continuar a acompanhar
o crescimento do Sector Não Lucrativo e
institucionalizar a recolha de dados como
parte do processo nacional de produção e
tratamento de dados estatísticos.
As nossas palavras de louvor vão para o tra-
balho da Coordenadora do Projecto em Por-
tugal, Raquel Campos Franco, e da sua equi-
pa na Faculdade de Economia e Gestão da
Universidade Católica Portuguesa no Porto.
O seu empenho profissional neste desafio, a
sua orientação informada e a sua persistência
incansável foi a nossa garantia para o sucesso
deste projecto. Também gostaríamos de des-
tacar as importantes contribuições da equi-
pa da Johns Hopkins, particularmente do Dr.
S. Wojciech Sokolowski e da Eileen Hairel.
Estamos gratos a todos eles.
Fundação Calouste Gulbenkian
Fundação Luso-Americana
Fundação Ilídio Pinho
Fundação Aga Khan
PREFÁCIO
II
SUMÁRIO EXECUTIVO
INTRODUÇÃO
I. DEFINIÇÕES E ABORDAGEM
II. PRINCIPAIS RESULTADOS
III. OS CONTORNOS DO SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS:
UMA VISÃO HISTÓRICA
IV. QUESTÕES-CHAVE NO SECTOR NÃO LUCRATIVO EM PORTUGAL
CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES
ANEXO A:
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS ORGANIZAÇÕES NÃO LUCRATIVAS
ANEXO B:
METODOLOGIA DO INQUÉRITO ÀS DOAÇÕES E AO VOLUNTARIADO
ANEXO C:
CLUSTERS DOS PAÍSES
1
3
5
11
22
28
33
31
39
41
ÍNDICE
1
SUMÁRIOEXECUTIVO
Uma
análise recente do Sector
Não Lucrativo em Portugal, levada a cabo
por investigadores da Universidade Católi-
ca Portuguesa sob os auspícios do Projecto
Comparativo do Sector Não Lucrativo da
Universidade de Johns Hopkins, proporcio-
nou o primeiro retrato empírico alguma vez
desenvolvido sobre esta importante compo-
nente da sociedade portuguesa.
De entre os principais resultados deste estu-
do estão os seguintes aspectos:
1. UMA FORÇA ECONÓMICA
SIGNIFICATIVA
O Sector Não Lucrativo Português é uma
força económica significativa:
• Teve despesas, em 2002, que representam
4.2% do Produto Interno Bruto (PIB);
• Envolve as energias de quase um quarto
de milhão de trabalhadores ETI (Equi-
valentes a Tempo Inteiro), dos quais dois
terços (70%) em posições remuneradas e
os restantes em regime de voluntariado;
• As organizações não lucrativas em Por-
tugal empregam, então, mais pessoas do
que algumas indústrias de dimensão,
como a das utilities e a dos transportes.
2. A PAR DA ESPANHA
E DA ITÁLIA
• A mão-de-obra do sector não lucrativo
em Portugal, 4.0% da população eco-
nomicamente activa, é inferior à média
de 4.5% dos 38 países para os quais
existem dados disponíveis, e conside-
ravelmente inferior à média da maioria
dos países da Europa Ocidental;
Contudo, a mão-de-obra do sector não
lucrativo em Portugal é quase equivalente
em dimensão à de Espanha e de Itália, e
significativamente superior à dos países em
transição na Europa Central e de Leste.
3. PREDOMINÂNCIA DOS SERVIÇOS
SOCIAIS
Uma proporção significativa (60%) da
mão-de-obra do sector não lucrativo em
Portugal está envolvida em funções de
serviço, o que é semelhante à maioria dos
outros países;
Contudo, uma proporção consideravel-
mente superior da mão-de-obra do sector
não lucrativo em Portugal está concen-
trada nos serviços sociais (48%), e uma
proporção inferior nos serviços de saúde e
de educação, em comparação com o que
acontece internacionalmente;
Adicionalmente, uma proporção substan-
cial da mão-de-obra do sector não lucra-
tivo em Portugal encontra-se envolvida
em actividades de expressão, tais como a
cultura, artes, lazer, e participação cívica.
4. RECEITAS PRÓPRIAS E APOIO
DO GOVERNO SÃO AS MAIORES
FONTES DE FUNDOS
Cerca de metade (48%) dos fundos das
organizações não lucrativas portuguesas
correspondem a receitas próprias (quoti-
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
2
zações e vendas), seguidas de perto pelo
apoio público (40%);
A filantropia representa apenas 12% dos
fundos;
Incluindo o voluntariado e tratando-o
como uma forma de lantropia, a percen-
tagem da filantropia no total dos fundos
do sector não lucrativo em Portugal sobe
para 21%, ainda bem inferior às receitas
próprias e apoio governamental.
5. UMA HISTÓRIA RICA DE ACTIVI-
DADE DA SOCIEDADE CIVIL
As características do sector não lucrativo
português reflectem a longa história de de-
senvolvimento da sociedade civil do país.
Esta história foi influenciada por quatro
impulsos a destacar – primeiro, a herança
da Igreja Católica Romana no país; se-
gundo, a longa tradição de mutualismo;
terceiro, a sua igualmente longa história
de controlo politico autoritário; e quarto,
a sua recente transição democrática, que
conduziu a uma crescente confiança do
Estado nas organizações privadas não lu-
crativas.
6. DESAFIOS PARA O FUTURO
Embora a democracia tenha recentemente
estimulado o desenvolvimento das insti-
tuições não lucrativas em Portugal, a sua
influência tem sido confinada a um es-
treito campo de actividade, com destaque
para o fornecimento de serviços sociais.
Este sector enfrenta, então, uma série de
desafios críticos:
- Aumentar o conhecimento do
público sobre o sector;
- Fortalecer o enquadramento legal;
- Melhorar a capacidade da socie-
dade civil; e,
- Melhorar as relações Governo-
organizações não lucrativas.
Uma cópia integral deste relatório está dis-
ponível online: www.jhu.edu/ccss/cnp.
3
O sector
da sociedade ci-
vil português teve as suas origens há mais
de um milénio. Os primeiros monarcas e os
líderes da Igreja Católica criaram e apoia-
ram uma série de instituições de caridade,
e mais tarde os Descobrimentos introduzi-
ram novas formas de actividade da socieda-
de civil. Com a Revolução Industrial, novas
associações de ajuda mútua emergiram para
responderem às necessidades das pessoas
afectadas pelas grandes mudanças sócio-
económicas. Contudo, as organizações da
sociedade civil operaram sempre dentro dos
constrangimentos de um regime paternalis-
ta, característico de uma aliança estreita en-
tre a Igreja, o Estado e as elites rurais. Isto
manteve a sociedade civil, em quase toda
a sua história, confinada essencialmente
a actividades assistenciais, excepto num
breve interregno liberal no final do século
19 e início do século 20. Com o regime
de Salazar, a partir de 1926, a actividade
das organizações da sociedade civil foram
outra vez limitadas, tendo o derrube deste
regime em 1974 aberto depois caminho ao
renascer da actividade sem fins lucrativos.
Em consequência, Portugal tem um sector
da sociedade civil que, embora inferior ao
dos outros países da Europa Ocidental, é
substancialmente maior do que o dos paí-
ses da Europa Central e de Leste com quem
Portugal partilha uma história recente de
controlo autoritário.
Os resultados que se apresentam aqui emer-
giram do trabalho levado a cabo por uma
equipa de investigadores da Universidade
Católica Portuguesa em conjunto com o
Centre for Civil Society Studies da Univer-
sidade de Johns Hopkins.
1
Este trabalho
procurou documentar a dimensão, compo-
sição, financiamento e papel do sector não
lucrativo ou das organizações da sociedade
civil, bem como compará-lo e contrastá-lo
de uma forma sistemática com o de outros
países. O resultado é o primeiro estudo em-
pírico do sector não lucrativo português e
a primeira tentativa sistemática de compa-
ração das realidades do sector da sociedade
civil português com o de outros países em
todo o mundo.
Este relatório apresenta os principais re-
sultados deste trabalho em Portugal e con-
textualiza-os em relação a outros 37 países
cobertos pelo Projecto Comparativo sobre
o Sector Não Lucrativo da Universidade de
Johns Hopkins (Johns Hopkins Comparative
Nonprofit Sector Project). Também apresen-
ta os principais desenvolvimentos históricos
INTRODUÇÃO
1 O trabalho em Portugal foi coordenado por Raquel Campos Franco (Faculdade de Economia e Gestão, Uni-
versidade Católica Portuguesa Centro Regional do Porto). A equipa portuguesa foi apoiada por um Conselho
Consultivo constituído por Paulo Gomes e José Mata (Instituto Nacional de Estatística), Vitor Melícias (União das
Misericórdias Portuguesas), Joaquim Azevedo (Associação Empresarial de Portugal), Francisco Crespo (Confedera-
ção Nacional das Instituições de Solidariedade), Rogério Roque Amaro (Instituto Superior de Ciências do Trabalho
e da Empresa), José Escaleira (Escola Superior de Tecnologia e Gestão - Instituto Politécnico de Viana do Castelo),
Manuel Canaveira de Campos (Instituto António Sérgio do Sector Cooperativo), Alberto Melo (Universidade do
Algarve), Acácio Catarino (Consultor para os Assuntos Sociais da Casa Civil do Presidente da República), Emílio
Rui Vilar e Teresa Gouveia (Fundação Calouste Gulbenkian), António Correia de Campos (Escola Nacional de
Saúde Pública), Maria Lurdes Pintasilgo (Fundação Cuidar o Futuro), Rui Machete e Charles Buchanan (Fundação
Luso-A mericana), Ângelo Correia (Fundação Ilídio Pinho), Nazim Ahmad e Nazir Sacoor (Fundação Aga-Khan
Portugal). O projecto da Johns Hopkins é dirigido por Lester M. Salamon, e o trabalho em Portugal foi supervisio-
nado por S. Wojciech Sokolowski.
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
4
que contribuíram para o esboço dos con-
tornos do sector, e discute questões legais
e políticas que o sector enfrenta hoje. A
discussão divide-se, então, em cinco partes.
A Parte I apresenta a definição e a aborda-
gem que conduziu o trabalho em Portugal
e nos outros países cobertos pelo projecto
da Johns Hopkins. A Parte II sintetiza os
principais resultados empíricos do trabalho
em Portugal e compara-os aos obtidos nos
outros 37 países para os quais existem da-
dos disponíveis. A Parte III examina breve-
mente os factores históricos na base destes
resultados. A Parte IV apresenta algumas
das questões e desafios que estas organiza-
ções enfrentam em Portugal. Na Parte V
expõem-se algumas conclusões extraídas
da informação apresentada, bem como as
implicações dos resultados para as políticas
públicas e a acção privada sobre o sector da
sociedade civil em Portugal.
5
DEFINIÇÕES E ABORDAGEM i
A recolha
de dados so-
bre o sector não lucrativo português aqui
apresentado foi realizada segundo o Projec-
to Comparativo do Sector Não Lucrativo da
Universidade de Johns Hopkins (CNP). O
objectivo deste projecto tem sido o de col-
matar as falhas que existiram durante muito
tempo no conhecimento sobre o sector não
lucrativo ou das organizações da sociedade
civil, não em Portugal como em todo o
mundo, bem como evidenciar as razões para
as disparidades significativas que existem
na dimensão, composição, nanciamento e
papel destas organizações em diversos países
e regiões. Para concretizar estes objectivos
o projecto recrutou Associados Locais em
mais de 40 países, e formulou um conjunto
de definições e abordagens metodológicas,
desenhadas de forma a gerarem um corpo
sistemático de dados comparáveis sobre estas
organizações nos diferentes contextos nacio-
nais. Porque o trabalho em Portugal foi con-
duzido em parte pelas abordagens conceptu-
ais e metodológicas desenvolvidas em fases
prévias do projecto CNP, é útil rever estas
abordagens de forma breve e determinar se se
aplicam às circunstâncias em Portugal.
O PROJECTO COMPARATIVO
DO SECTOR NÃO LUCRATIVO2
Definir o Sector Não Lucrativo. Para com-
parar de forma fiável as realidades do sector
não lucrativo português com as de outros pa-
íses, o CNP começou por formular uma de-
finição comum das entidades que integram o
sector. Por uma série de razões, nenhuma das
definições de sector não lucrativo existentes
– que se focalizam, respectivamente, nas
origens dos fundos das organizações, no es-
tatuto legal e nos propósitos organizacionais
– se apresentavam como apropriados para
a análise transnacional que conduzíamos.
3
Assim, adoptámos uma abordagem indutiva
para definirmos o sector da sociedade civil,
construindo a nossa definição a partir das ex-
periências do grande leque de países envolvi-
dos no nosso projecto. Em particular, solici-
támos primeiro a todos os Associados Locais,
incluindo o Associado Local em Portugal,
um mapa de todos os tipos de entidades que
razoavelmente seriam incluídos no sector
não lucrativo nos respectivos países. Alinhá-
mos depois esses mapas de forma a perceber
onde se sobrepunham e identificámos as ca-
racterísticas básicas das entidades que se situ-
avam nesta zona de intersecção. Finalmente,
registámos as “zonas cinzentas” que existiam
nos limites deste conceito central, e criámos
um processo segundo o qual os Associados
Locais nos consultavam de maneira a deter-
minarmos como tratar as entidades que ocu-
pavam essas “zonas”.
Deste processo emergiu um consenso em
torno de cinco características estruturais-
2 Esta secção baseia-se largamente em: Lester M. Salamon, S. Wojciech Sokolowski, and Regina List, “Global Civil
Society: An Overview,” in Lester M. Salamon, S. Wojciech Sokolowski and Associates, Global Civil Society: Dimen-
sions of the Nonprofit Sector, Volume Two (Bloomfield, CT: Kumarian Press, 2004), 1- 60.
3 Para mais detalhe sobre estas definições alternativas e as suas limitações, ver: Lester M. Salamon and Helmut K.
Anheier, “In Search of the Nonprofit Sector: e Question of Definitions,” in Lester M. Salamon and Helmut K.
Anheier, eds., Defining the Nonprofit Sector: A Cross-national Analysis (Manchester, U.K.: Manchester University
Press, 1997).
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
6
operacionais que definiam as entidades no
centro da nossa atenção. Assim, para efeitos
deste projecto, definimos o sector da socie-
dade civil como sendo composto por enti-
dades que são:
Organizadas, i.e., têm alguma estrutura e
regularidade nas suas operações, o que se
reflecte através de reuniões regulares, exis-
tência de membros, e alguma estrutura
de procedimentos de tomada de decisões
que os participantes reconhecem como
legítimas, quer sejam ou não formalmen-
te constituídas ou legalmente registadas.
Isto significa que a nossa definição tan-
to abarca grupos informais como grupos
formalmente registados.
Privadas, i.e., são institucionalmente se-
paradas do governo, embora possam re-
ceber deste apoio financeiro. Esta carac-
terística diferencia a nossa abordagem das
definições económicas, uma vez que essas
definições excluem as organizações do
sector da sociedade civil se estas recebem
um apoio significativo do sector público.
Não distribuidoras de lucro, i.e., não são
primeiramente comerciais no seu propósi-
to e não distribuem lucros aos directores,
accionistas ou gestores. As organizações
da sociedade civil podem gerar “lucros”
no decurso das suas operações, mas esses
excedentes têm que ser reinvestidos nos
seus objectivos. Este critério serve como
uma aproximação ao critério “benefício
público” utilizado nalgumas definições
de sociedade civil, mas fá-lo sem ter que
especificar à partida, e para todos os pa-
íses, o que são benefícios públicos” vá-
lidos. Em vez disso, deixa essas decisões
a cargo das pessoas envolvidas, seguindo
a teoria de que se existem pessoas num
país que apoiam voluntariamente uma or-
ganização sem esperança de receber desta
qualquer parte dos lucros por ela gerada,
isto é uma prova forte de que devem ver
algum benefício público nesta organiza-
ção. Este critério também diferencia de
forma útil as organizações não lucrativas
das empresas.
Auto-governadas, i.e., elas têm os seus pró-
prios mecanismos de governação interna,
estão aptas a cessar a sua actividade e a
controlar todas as suas operações.
Voluntárias, i.e., ser membro, participar
ou contribuir em tempo ou dinheiro não
é exigido por lei, nem uma condição de
cidadania, determinada por nascença, ou
de outra forma coagida. Como referido
acima, este critério também ajuda a rela-
cionar a nossa definição com o conceito
de benefício público, mas de uma forma
que permite aos cidadãos de cada país de-
finir, por eles próprios, o que consideram
ser um propósito público válido por virtu-
de da sua decisão de tomar parte, por sua
iniciativa, nas organizações em questão.
Estas cinco características definem um sec-
tor da sociedade civil que é abrangente, en-
volvendo organizações formais e informais,
religiosas e seculares,4 organizações com
pessoas remuneradas e outras com alguns
voluntários, ou constituídas por volun-
tários, e organizações a desempenharem
funções essencialmente de expressão – como
defesa de causas, expressão cultural, orga-
nização comunitária, protecção ambiental,
direitos humanos, religião, defesa de in-
4 As organizações religiosas podem assumir pelo menos duas diferentes formas: (1) locais de culto religioso, e (2)
organizações prestadoras de serviços, como escolas e hospitais com uma afiliação religiosa. Ambas são incluídas
na definição do projecto de organização da sociedade civil, embora quando seja possível diferenciar as duas, as
organizações de serviços afiliadas a uma Igreja são agrupadas com outras organizações prestadoras de serviços e as
organizações de culto tratadas separadamente. Nem todos os países, contudo, conseguiram recolher informação
sobre as organizações de culto.
I. DEFINIÇÕES E ABORDAGEM
7
teresses, e expressão política – bem como
aquelas que desempenham essencialmente
funções de serviço como serviços de saú-
de, educação, sociais. Obviamente, como
em qualquer definição, esta não pode eli-
minar todas as zonas cinzentas ou de fron-
teira. Tendo sido identificadas, foram feitos
esforços para interpretá-las no contexto da
essência da definição, e foram formuladas
clarificações quando necessário. Assim, por
exemplo, o critério da “não distribuição
de lucros” foi incluído para diferenciar as
organizações da sociedade civil das empre-
sas, bem como as cooperativas e mútuas de
grande dimensão que dominam as indús-
trias bancária e seguradora em muitos paí-
ses da Europa. Mas quando se tornou claro
que este critério inadvertidamente ameaça-
va excluir também uma importante classe
de cooperativas comunitárias ao serviço da
luta contra a pobreza ou com fins de solida-
riedade social, incluindo em Portugal, foi
adicionada linguagem para clarificar que
estas instituições deveriam ser incluídas.
Classificar as Organizações Não Lucrativas.
Para apresentar a composição do sector
não lucrativo, e compará-la com a de ou-
tros países, foi necessário complementar
esta definição comum do sector da socie-
dade civil com um sistema de classificação
que a diferenciasse entre eles. Com este ob-
jectivo o projecto CNP partiu do existente
International Standard Industrial Classifi-
cation (ISIC) utilizado na maioria das es-
tatísticas económicas internacionais, mas
elaborou a partir dele de forma a capturar
a diversidade do sector da sociedade civil.
Assim, por exemplo, a ampla categoria de
serviços de saúde e de acção social do ISIC
foi dividido num conjunto de categorias
de maneira a diferenciar melhor o leque
de serviços de saúde e de acção social que
existem no sector da sociedade civil. Tam-
bém uma categoria especial de “desenvol-
vimento” foi adicionada para acomodar as
“organizações não-governamentais”, ou
ONGs, comuns nos países em desenvolvi-
mento. Estas organizações têm um leque
alargado de fins de desenvolvimento e, fre-
quentemente, recorrem a uma estratégia de
empowerment em que as funções de serviço
e de expressão se diluem.
Deste processo emergiu uma Classifica-
ção Internacional para as Organizações
Não Lucrativas a International Classi-
fication of Nonprofit Organizations (ICN-
PO) – que, como apresentado na Tabela
1, identifica doze diferentes categorias de
actividade das organizações da sociedade
civil. Aqui incluídas estão essencialmente
funções de serviço (que incluem educação
e investigação, saúde e serviços sociais)
bem como funções de expressão (que in-
cluem participação cívica e advocacia;
artes, cultura e lazer; protecção ambien-
tal; e associações empresariais, sindicais
e profissionais). Cada uma destas catego-
rias é, por sua vez, subdividida em sub-
categorias (ver Anexo A para uma maior
especificação do sistema de classificação
resultante).
Tabela 1 - Classicação Internacional das Organizações Não Lucrativas*
Cultura e Lazer
Educação e Investigação
Saúde
Serviços Sociais
Ambiente
Desenvolvimento e Habitação
Área Cód. Área
Participação Cívica e Defesa de Causas
Intermediários Filantrópicos
Internacional
Congregações Religiosas
Empresariais e Profissionais, Sindicatos
Outros
* Ver Anexo A para detalhe adicional.
Cód.
8
APLICAÇÃO À REALIDADE
PORTUGUESA
A definição estrutural-operacional do sector
não lucrativo ou da sociedade civil demons-
trou aplicar-se bem à realidade portuguesa.
Consistente com esta definição, o sector da
sociedade civil em Portugal tem uma con-
cepção alargada, abarcando organizações
prestadoras de serviços que suplementam
ou complementam os serviços públicos nas
áreas da saúde, educação e serviços sociais, e
organizações que oferecem mecanismos atra-
vés dos quais os indivíduos se podem juntar
de forma a fazerem face a necessidades da
comunidade, participar na vida política, e
perseguir interesses individuais e de grupo.
Existem conjuntos de organizações não lu-
crativas que são muito visíveis em Portugal,
e que claramente se diferenciam tanto do
sector empresarial (privado com fins lucra-
tivos) como do sector público. Os termos
usados mais frequentemente para descrever
um conjunto destas organizações são “ins-
tituições de solidariedade” e “sector social”,
embora estes termos sejam tipicamente usa-
dos para identificar apenas instituições de
solidariedade social e não todo o terceiro
sector como apresentado pela definição es-
trutural-operacional.
Outros termos utilizados com frequência são:
organizações ou instituições sem ns lu-
crativos ou não lucrativas,
economia social e/ou solidária,
organizações não governamentais,
terceiro sector,
terceiro sistema, e
economia alternativa.
Recentemente, o termo “sector das orga-
nizações da sociedade civil” foi introduzi-
do, embora o seu âmbito tenda a ser mais
alargado do que o adoptado por este pro-
jecto, na medida em que pode incluir as or-
ganizações privadas com fins lucrativos. É
também comum encontrar os termos acima
listados utilizados sem distinção.
O termo “economia social”, largamente
utilizado na União Europeia, é também
usado comummente em Portugal, embora
tenha sido mais recentemente alargado para
“economia social e solidária” ou apenas
“economia solidária”. Embora as definições
de economia social variem, geralmente re-
ferem-se a organizações que fornecem bens
e serviços públicos e operando num espírito
de solidariedade e partilha. A maior dife-
rença entre o conceito de economia social
e o conceito de sector da sociedade civil ou
não lucrativo aqui utilizado é a inclusão das
mutualidades e das cooperativas no pri-
meiro e a sua exclusão parcial do segundo
na base de que podem distribuir lucros aos
seus membros.
Bastante distante desta discussão termino-
lógica, as organizações da sociedade civil
portuguesas assumem uma variedade de
formas legais.5 Estas incluem:
Associações, constituídas no âmbito do
Direito Privado e de certas secções do
Código Civil e, nalguns casos, sob alçada
do estatuto de Utilidade Pública. Podem
ser associações de bombeiros voluntários,
de consumidores, de estudantes, de mu-
lheres, juvenis, de imigrantes, de activis-
tas ambientais e de deficientes.
Fundações, um tipo de organização lucra-
tiva, relativamente recente em Portugal,
5 Para uma discussão mais pormenorizada sobre os principais tipos de organizações não lucrativas em Portugal e o
enquadramento legal destas instituições, ver Raquel Campos Franco, “Defining the Nonprofit Sector: Portugal.”
Working Papers of the Johns Hopkins Comparative Nonprofit Sector Project, No. 43. Baltimore: e Johns Hopkins
Center for Civil Society Studies, 2005.
THE PORTUGUESE NONPROFIT SECTOR IN COMPARATIVE PERSPECTIVE
I. DEFINIÇÕES E ABORDAGEM
9
que foi reconhecido pela primeira vez no
Código Civil de 1867. Existem cerca de
350 fundações registadas em Portugal,
das quais cerca de 100 mantêm opera-
ções activas.
Instituições de Desenvolvimento Local
(IDLs), que operam sobretudo em áreas
rurais com estratégias de empowerment
de pessoas e territórios. A forma legal
das IDL varia e pode incluir entidades
públicas, privadas lucrativas e sem fins
lucrativos.
Misericórdias, organizações com liga-
ção à Igreja Católica que estão entre as
mais antigas organizações não lucrativas
em Portugal. A primeira Misericórdia
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
foi instituída em 1498 e mantém as
suas operações ainda hoje, embora como
instituição pública. Concentram-se na
assistência social e na saúde, embora as
Misericórdias tenham perdido o contro-
lo dos seus hospitais para o Estado em
1975. A União das Misericórdias Portu-
guesas é uma organização federativa que
procura representar os interesses destas
instituições. Existem hoje cerca de 400
Misericórdias em Portugal.
Museus, legalmente reconhecidos como
instituições sem fins lucrativos, sendo
uma boa parte instituições públicas.
Organizações não-governamentais para
o desenvolvimento, organizações não lu-
crativas que levam a cabo programas
sociais, culturais, ambientais, cívicos ou
económicos que beneficiam países em
desenvolvimento (ex. cooperação para
o desenvolvimento, assistência huma-
nitária, ajuda em situações de emergên-
cia e protecção e promoção dos direitos
humanos), embora muitas delas operem
também em Portugal.
Associações mutualistas formadas sob o
estatuto das Instituições Particulares de
Solidariedade Social para o fornecimen-
to de ajuda mútua aos membros e fami-
liares, financiadas essencialmente através
de quotas dos membros.6
Cooperativas, governadas pela Lei das
Cooperativas.
À excepção das cooperativas, que estão au-
torizadas a distribuir lucros aos seus mem-
bros e que, por isso, estão fora do âmbi-
to deste estudo, todas estas organizações
vão de encontro à definição do projecto.
No entanto, dois tipos de cooperativas
Cooperativas de Solidariedade Social e
Cooperativas de Habitação e Construção
estão especificamente proibidas por lei
de distribuir lucros. Ambas estão incluídas
no âmbito deste estudo.
O sistema de classificação utilizado em Por-
tugal é o da Classificação das Actividades
Económicas (CAE) baseado no sistema de
Classificação das Actividades Económicas
(NACE, Revision 1) adoptado pela União
Europeia.7 O sistema NACE aproxima-
se do sistema ISIC descrito acima. Assim,
a concordância entre CAE, NACE, ISIC
e ICNPO foi realizada de forma simples,
seguindo os procedimentos estabelecidos
no Handbook on Nonprofit Institutions in
6 Para efeitos desta análise fazemos uma distinção entre “mútua” e “associação mutualista”, em que o termo “mú-
tua” se refere a uma organização semelhante a um banco ou a uma companhia de seguros, e o termo “associação
mutualista” se refere a uma associação autorizada por lei para fornecer melhores benefícios , mas não a distribuir
lucros. Porque as mútuas distribuem lucros, saem fora do âmbito deste estudo, enquanto que as associações mutu-
alistas estão incluídas neste estudo.
7 O CA E baseia-se no NACE (Rev. 1), que é uma classificação de actividades por 4 dígitos criado em 1990. Os
códigos CAE são os mesmos do NACE até ao dígito, mas pode adicionar-se um 5º dígito para especificidade
adicional.
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
10
the System of National Accounts, das Nações
Unidas.8
O sistema de classificação ICNPO foi
testado na realidade portuguesa e verifi-
cou-se a sua adequação, especialmente nas
instâncias em que as fontes de dados usa-
vam o sistema NACE. Contudo, devido
a limitações nos dados, não foi possível
diferenciar totalmente as receitas das or-
ganizações da sociedade civil por código
ICNPO. Em consequência, os dados de
receitas aqui apresentados estão classifi-
cados apenas em seis dos doze principais
grupos ICNPO.
FONTES DE DADOS E METODOLOGIA
De forma a assegurar um grau razoável de
comparabilidade entre os dados gerados so-
bre o sector da sociedade civil em Portugal
e os gerados sobre outros países cobertos
pelo projecto CNP, o trabalho em Portu-
gal aderiu à abordagem de recolha de dados
utilizada ao longo do projecto. Esta abor-
dagem especificou um conjunto comum
de dados a obter, ofereceu orientação sobre
fontes possíveis de dados e, depois, relegou
nos Associados Locais a formulação de es-
tratégias para a geração da informação ne-
cessária em cada país.
Em Portugal quatro fontes de dados foram
utilizadas. Primeiro, levámos a cabo um in-
quérito aos agregados familiares de forma a
capturarmos a extensão de doações privadas
de tempo e dinheiro (para uma descrição
detalhada da metodologia, ver anexo B).
Em segundo, baseámo-nos no Ficheiro de
Unidades Estatísticas (FUE) do Instituto
Nacional de Estatística (INE) actualizado
por um inquérito de actualização das orga-
nizações não lucrativas conduzido pelo INE
para o ano de 2002. Este inquérito forne-
ceu dados sobre emprego remunerado por
áreas de actividade.9 Terceiro, utilizámos
dados sobre salários, despesas, e receitas de
organizações não lucrativas obtidos através
de tabelas do Sistema de Contas Nacionais
fornecidas pelo INE. Finalmente, os dados
sobre Cooperativas de Solidariedade Social
e de Habitação e Construção foram forne-
cidos pelo Instituto António Sérgio do Sector
Cooperativo.10
8 Nações Unidas, Handbook on Nonprofit Institutions in the System of National Accounts (New York: United Nations,
2003), 26-40.
9 Para informação adicional sobre a metodologia, ver Instituto Nacional de Estatística (INE), Departamento de
Metodologia Estatística, Serviço de Ficheiros de Unidades Estatísticas, “Inquérito de Actualização—Instituições
Sem Fins Lucrativos e Organismos da Administração Pública, Documento Metodológico Preliminar”. Novembro
2002. Para os fins deste projecto, as entidades públicas, normalmente cobertas por este inquérito, foram excluídas.
10 O Instituto António Sérgio do Sector Cooperativo é um instituto público que apoia as cooperativas numa variedade
de formas.
11
Com
a inclusão de Portugal,
dados sistemáticos e comparativos sobre o
âmbito e a estrutura do sector não lucrativo
foram gerados através do projecto da Johns
Hopkins sobre 38 países. Incluídos aqui es-
tão 18 países industriais desenvolvidos que
se espalham pela América do Norte, Euro-
pa Ocidental e Ásia; 15 países em desenvol-
vimento da América Latina, Ásia, África e
Médio Oriente; e 5 países em transição da
Europa Central e de Leste.11 Este cenário
garante ao projecto uma larga experiência
em que se basear para colocar em contexto
os resultados para Portugal.
Nesta secção examinamos os principais re-
sultados empíricos do trabalho em Portu-
gal, e colocamo-los em contexto em relação
a resultados comparáveis gerados nesses ou-
tros países.
1. UMA FORÇA ECONÓMICA
SIGNIFICATIVA
A percepção pública em Portugal é a de
que o país tem um sector da sociedade
civil “fraco”. Os dados gerados aqui pare-
cem confirmar esta percepção, pelo menos
quando Portugal é comparado com outros
países da União Europeia. Contudo, o sec-
tor da sociedade civil constitui uma fatia
maior da economia em Portugal do que
aquilo que é normalmente reconhecido.
Em particular, e como se mostra na Tabela
2, o sector da sociedade civil em Portugal
é:
Um contribuinte considerável para o
rendimento e despesa nacionais. Em
2002, as organizações da sociedade civil,
como são aqui definidas, tiveram despe-
sas de mais de €5.4 mil milhões, ou US
$5.2 mil milhões. Isto é equivalente a
4.2% do Produto Interno Bruto (PIB).
Um empregador significativo. O sec-
tor da sociedade civil português envolve
a energia de quase um quarto de milhão
de trabalhadores equivalentes a tempo in-
teiro (ETI) (incluindo os envolvidos em
actividades de culto), dos quais dois ter-
ços (70%) em posições remuneradas e os
restantes como voluntários. Isto represen-
ta cerca de 4.2% da população economi-
camente activa do país, e cerca de 5.0%
do emprego não agrícola. Só o valor do
PRINCIPAIS RESULTADOS ii
Tabela 2 - O sector da sociedade civil em Portugal, 2002
$ 5.2 mil milhões em despesas
4.2 % do PIB
227,292 trabalhadores ETI (Equivalente a Tempo Inteiro)
159,950 Trabalhadores remunerados ETI
67,342 VoluntáriosETI
4.2% da população economicamente activa
5.0% emprego não agrícola
Fonte: Projecto Comparativo do Sector Não Lucrativo da Johns Hopkins
11 Em Maio de 2004, quatro dos cinco países da Europa Central e de Leste cobertos por este projecto - República
Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia - tornaram-se membros da União Europeia, e é esperado que a Roménia entre
em 2007. Descrevemos estes países como “em transição” porque os dados que recolhemos cobrem o período entre a
sua saída do Bloco Soviético e a sua entrada na União Europeia.
* Incluíndo organizações de culto religioso
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
12
esforço voluntário,12 estimado em 675
milhões (US$650 milhões), contribui
mais de 0.5% para o PIB da nação.
Um empregador tão significativo
quanto a indústria dos transportes.
Como se mostra na Figura 1, o sector
da sociedade civil em Portugal emprega
tantos trabalhadores como a indústria
dos transportes, quase seis vezes mais do
que a indústria das “utilities”, e quase dez
vezes mais do que a maior empresa priva-
da consolidada, SONAE.
13
2. LIGEIRAMENTE INFERIOR
À MÉDIA INTERNACIONAL
Embora empregue um número significati-
vo de pessoas, em percentagem da popu-
lação economicamente activa o sector da
sociedade civil em Portugal encontra-se li-
geiramente abaixo da média dos 38 países
para os quais o Projecto CNP gerou dados
comparáveis. Mais especificamente:
Abaixo da maioria dos países da Eu-
ropa Ocidental. Como se vê na Figura
2, excluindo as organizações de culto,
sobre as quais a maioria dos países não
dispõe de dados, a força de trabalho do
sector da sociedade civil remunera-
da e voluntária - varia de um valor tão
elevado quanto os 14.4% da popula-
ção economicamente activa na Holan-
da para um valor tão baixo quanto os
0.4% no México, com uma média de
4.5% no total.
14
O número para Portu-
gal, 4.0%, é ligeiramente inferior à mé-
dia internacional e bastante inferior aos
valores da maioria dos países da Europa
Ocidental. Contudo, está a par do de
outros países do Sul da Europa, Espa-
nha e Itália.
12 O valor do esforço voluntário foi introduzido afectando às horas de voluntariado um salário/hora equivalente ao
das áreas da saúde e da acção social (NACE, Grupo 85). Para uma discussão sobre este procedimento, ver: Nações
Unidas, Handbook on Nonprofit Institutions in the System of National Accounts (New York: United Nations, 2003),
50. Para efeitos de comparação transnacional, convertemos todos os valores em moeda local para dólares america-
nos usando a taxa de câmbio média para o ano base.
13 O total de trabalhadores da SONAE representa o emprego da empresa em território nacional e consolidado.
14 Embora os valores comparativos apresentados aqui não incluam as organizações de culto religioso (igrejas, mes-
quitas, sinagogas) eles cobrem as organizações prestadoras de serviços afiliadas à religião (ex. hospitais, escolas e
organizações de serviços sociais associadas a organizações religiosas). Estas organizações prestadoras de serviços afi-
liadas a uma religião foram agrupadas com outras organizações prestadoras de serviços na área respectiva (ICNPO).
Os dados portugueses apresentados na secção anterior incluem organizações de culto religioso, mas estas entidades
foram excluídas dos dados comparativos aqui apresentados porque nem todos os países conseguiram recolher da-
dos sobre as organizações de culto religioso. Para informação adicional sobre a cobertura dos dados comparativos,
ver Salamon, Sokolowski, and Associates, Global Civil Society: Dimensions of the Nonprofit Sector, Volume Two
(Bloomfield, CT: Kumarian Press, 2004), Appendix B.
Figura 1 - Força de trabalho das organizações da sociedade civil
em contexto, Portugal
,
,
,
Sector da sociedade
civil*
SONAE**
Utilities
Construção
Transportes
Indústria manufactura
* Incluindo voluntários
** Maior empresa privada
Fonte: Projecto Comparativo do Sector Não Lucrativo da Johns Hopkins
Emprego (milhares)
II. PRINCIPAIS RESULTADOS
13
0,4%
0,8%
0,8%
0,8%
1,0%
1,1%
1,4%
1,5%
1,6%
1,9%
2,0%
2,1%
2,1%
2,3%
2,4%
2,4%
2,5%
2,8%
3,4%
3,8%
4,0%
4,2%
4,3%
4,8%
4,9%
5,3%
5,9%
6,3%
7,1%
7,2%
7,6%
8,0%
8,5%
9,8%
10,4%
10,9%
11,1%
14,4%
1,1%
7,4%
4,5%
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Figura 2 - Força de trabalho das organizações da sociedade civil em percentagem da população
economicamente activa, por país
.
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38 países
Países desenvolvidos
Países em transição
Holanda
Canadá
Bélgica
Irlanda
Estados Unidos
Reino Unido
Israel
França
Noruega
Suécia
Austrália
Alemanha
Finlândia
Áustria
Argentina
Espanha
Japão
Portugal
Itália
África do Sul
Egipto
Perú
Rep. da Coreia
Colômbia
Uganda
Quénia
Tanzânia
Rep. Checa
Filipinas
Brasil
Marrocos
India
Hungria
Paquistão
Eslováquia
Polónia
Roménia
México
Trabalhadores remunerados
Trabalhadores remunerados
Voluntários
Fonte: Projecto Comparativo do Sector Não Lucrativo da Johns Hopkins
Percentagem da população economicamente activa
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
14
Significativamente maior que o sector
da sociedade civil nos países em transi-
ção. Uma vez que Portugal partilha com
os países da Europa Central e de Leste
uma transição relativamente recente de
regimes autoritários, que foram hostis à
sociedade civil, poderá ser mais significa-
tivo comparar a dimensão do seu sector
da sociedade civil com o destes países.
Quando fazemos isto, como se nota na
Figura 2, Portugal apresenta um sector
da sociedade civil que emprega três vezes
mais trabalhadores do que a média dos
países em transição (4.0% vs. 1.1% da
população economicamente activa, res-
pectivamente). Esta diferença deve-se so-
bretudo a políticas conscienciosas levadas
a cabo nos anos 90 do século 20, com o
apoio da União Europeia, para estimular
o desenvolvimento das instituições da so-
ciedade civil. Isto confirma-se pelo facto
de Espanha, que retornou a um regime
democrático num momento próximo a
Portugal, ter um sector da sociedade civil
de magnitude comparável.
Percentagem de voluntários na força de
trabalho das organizações da socieda-
de civil é inferior em Portugal do que
na maioria dos países desenvolvidos. A
percentagem de voluntários na força de
trabalho das organizações da sociedade ci-
vil é inferior à internacional e à dos outros
países desenvolvidos para os quais temos
dados disponíveis. Assim, como apresen-
tado na Figura 3, os voluntários consti-
tuem apenas 29% da força de trabalho
ETI das organizações da sociedade civil
em Portugal, comparando com 38% dos
38 países. Da mesma forma, o valor ab-
soluto do esforço voluntário em Portugal
é também inferior à média internacional
e à média dos países desenvolvidos. (1.1%
da população economicamente activa em
Portugal vs. 1.6% e 2.6%, respectivamen-
te, para a totalidade dos 38 países e para
os 18 países desenvolvidos). Ao mesmo
tempo, o esforço voluntário em Portugal
é quase três vezes superior ao dos países
em transição da Europa Central e de Leste
onde é apenas 0.4% da população econo-
micamente activa.
3. FORTE PRESENÇA DE
ORGANIZAÇÕES DE SERVIÇOS
As organizações da sociedade civil não são
apenas locais de emprego. O que as torna
significativas são as rias funções que de-
sempenham.15 Estas organizações fornecem
uma variedade de serviços humanos, desde a
saúde e educação aos serviços sociais e de
desenvolvimento comunitário. Estas orga-
nizações são conhecidas por identificar e ir
ao encontro de necessidades não satisfeitas,
por inovar, por fornecer serviços de qua-
lidade excepcional e, com frequência, por
servir aqueles com maiores necessidades.
Uma função igualmente importante do sector
da sociedade civil é a da defesa de causas, de
15 Para uma discussão destas funções, ver: Lester M. Salamon, America’s Nonprofit Sector: A Primer, Second Edition
(New York: e Foundation Center, 1999), 15-17.
Figura 3 - Voluntários em percentagem da força de trabalho das organizações
da sociedade civil, Portugal, em transição, desenvolvidos e 38 países
Portugal
Países em transição
Países desenvolvidos
38 países
Fonte: Projecto Comparativo do Sector Não Lucrativo da Johns Hopkins
Percentagem da força de trabalho das organizações
da sociedade civil
II. PRINCIPAIS RESULTADOS
15
advocacia (advocacy role) na identificação
de problemas não satisfeitos e na tarefa de os
trazer à atenção do público, na protecção de
direitos humanos básicos, e ao dar voz a uma
série de interesses e preocupações sociais, po-
líticas, ambientais, étnicas e comunitárias.
Para além de preocupações políticas, o sector
da sociedade civil também desempenha uma
ampla função de expressão, proporcionando
veículos através dos quais uma grande varie-
dade de sentimentos e impulsos - artísticos,
espirituais, culturais, étnicos, ocupacionais,
sociais e de lazer - encontram expressão. Com-
panhias de ópera, orquestras sinfónicas, clubes
de futebol amador, associações em torno de
hobbies, lugares de culto, associações profissio-
nais e clubes de leitura, são apenas algumas
das manifestações desta função de expressão.
Finalmente, as organizações da sociedade civil
também têm sido reconhecidas como contribui-
doras para o que os académicos têm denomina-
do de capital social”, aqueles laços de confiança
e reciprocidade que parecem ser cruciais para
que uma política democrática e uma economia
de mercado funcionem de forma eficaz. Através
do estabelecimento de ligações entre indivídu-
os, o envolvimento em associações ensina nor-
mas de cooperação que são transportadas para
a vida política e económica.16
Enquanto não é possível dividir de forma clara
as organizações da sociedade civil por estas qua-
tro funções, é então possível agrupá-las em duas
grandes categorias para efeitos da discussão: (a)
funções de serviço; e (b) funções de expressão.
Funções de serviço envolvem o forneci-
mento de serviços directos como educação,
saúde, habitação, promoção do desenvolvi-
mento económico, e outros semelhantes.
Funções de expressão envolvem activi-
dades que proporcionam avenidas para a
expressão de valores, interesses e crenças
culturais, espirituais, profissionais ou políti-
cas. Aqui incluídas estão instituições cultu-
rais, grupos de recreação/lazer, associações
profissionais, grupos de defesa de causas,
organizações comunitárias, organizações
ambientais, grupos de direitos humanos,
movimentos sociais, e semelhantes.17
Encarada nesta perspectiva, a composição do
sector da sociedade civil português, reflectida na
distribuição da sua força de trabalho pelas áreas
de actividade, encontra-se genericamente na li-
nha do que foi encontrado internacionalmente e
noutros países desenvolvidos. Ao mesmo tempo
apresenta certas características distintivas:
Dominam actividades de serviços. Como
se mostra na Figura 4, 60% dos trabalha-
dores das organizações da sociedade civil,
remunerados e voluntários, estão envolvi-
dos em actividades de serviços. Este valor é
ligeiramente inferior tanto à média interna-
cional como à média dos países desenvolvi-
dos (64% e 65%, respectivamente).
Serviços sociais mais proeminentes em
Portugal do que em qualquer outro país.
Enquanto que a escala das actividades de
serviços no sector da sociedade civil em
Portugal esa par da que se encontra nos
outros países, a composição dessas activi-
dades de serviço diverge marcadamente em
Portugal. A componente de serviços sociais
do sector da sociedade civil em Portugal é o
16 Ver, por exemplo: James S. Coleman, Foundations of Social eory (Cambridge, MA: Harvard University Press,
1990), 300-21; Robert Putnam, Making Democracy Work: Civic Traditions in Modern Italy (Princeton, NJ: Prince-
ton University Press, 1993), 83-116, 163-185.
17 As organizações de culto religioso estão também incluídas na categoria de expressão, mas como já foi referido não
pudemos incluí-las devido a limitações nalguns dados internacionais (estas organizações foram incluídas nos dados
portugueses na secção I). As organizações prestadoras de serviços afiliadas à Igreja são incluídas, mas na área que
corresponde à actividade desenvolvida.
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
16
dobro das médias de todos os países e dos
países desenvolvidos. As organizações de
serviços sociais não lucrativas absorvem cer-
ca de 48% da força de trabalho do sector da
sociedade civil, comparando com uma mé-
dia de 20% em todos os países para os quais
existem dados, e 22% de média nos países
desenvolvidos. Embora esse valor inclua em
parte organizações de desenvolvimento co-
munitário que em Portugal foram difíceis de
distinguir das entidades de serviços sociais,
claramente indica que a componente de ser-
viços sociais no sector da sociedade civil em
Portugal é proporcionalmente maior que
em qualquer outro país da Europa. Como
é assinalado mais à frente, isto reflectirá
provavelmente o papel histórico das Miseri-
córdias em Portugal, bem como de todas as
outras organizações de solidariedade social
que existiram desde a fundação da Nação.
Também contribuirá o facto da saúde, que
noutros países é uma parte significativa do
sector da sociedade civil, ser proporcionada
quase exclusivamente pelo sector público
em Portugal, após a absorção da gestão dos
hospitais da Misericórdias pelo Estado em
meados da década de 70 do século 20.18
Percentagem ligeiramente inferior de
trabalhadores das organizações da so-
ciedade civil em Portugal envolvidos
em actividades de expressão. Compara-
da com os 60% de trabalhadores do sector
da sociedade civil português envolvidos
em funções de serviços, uma percentagem
mais baixa - 25% - de trabalhadores, re-
munerados e voluntários, estão envolvidos
em actividades de expressão. Este valor é
inferior à média dos países desenvolvidos
e à média internacional (ambas 31%). Isto
reflecte a menor representação das insti-
tuições culturais e recreativas no sector da
sociedade civil (10% em Portugal vs. 20%
nos países desenvolvidos e 18% interna-
cionalmente) mas também limitações nos
dados que impediram a completa classi-
ficação de 35% do tempo de voluntaria-
do por área de actividade.19 Contudo os
Figura 4 - Composição da força de trabalho das organizações da sociedade civil, Portugal, países desenvolvidos,
países em transição, e média de 36 países
Educação
Serviços sociais
Saúde
Desenvolvimento / Habitação
Subtotal, Serviços
Cultura / Lazer
Profissional / Sindicatos
Part. cívica / Defesa de causas*
Ambiente
Subtotal, Expressão
Outros
Internacional
Fundações
* Não inclui valor referente a voluntários
Fonte: Projecto Comparativo do Sector Não Lucrativo da Johns Hopkins
Percentagem da força de trabalho das organizações da sociedade civil
Portugal Países desenvolvidos Países em transição 36 países
N/D
N/D
N/D
II. PRINCIPAIS RESULTADOS
17
dados sugerem que a maioria destes dados
não alocados se deverá dirigir para as áreas
ambientais, de participação cívica e defesa
de causas, o que elevaria a percentagem da
parte de expressão para cerca de 35% do
total da força de trabalho.
Pessoal remunerado e voluntários dis-
tribuídos de forma similar. Esta ima-
gem da distribuição da força de trabalho
das organizações da sociedade civil em
Portugal não se modifica muito quando
o pessoal remunerado e os voluntários
são examinados separadamente. Como
podemos ver na Figura 5, o pessoal re-
munerado e os voluntários dedicam cerca
de um quarto do seu esforço (27 e 21%,
respectivamente) a actividades de expres-
são, enquanto os restantes se dedicam a
actividades de serviço ou a actividades não
classificadas. Contudo, como salientado
acima, a maioria da actividade voluntária
não alocada provavelmente pertence à ca-
tegoria de expressão.
4. FUNDOS OU RECEITAS DOMINA-
DOS POR RECEITAS PRÓPRIAS
Os fundos das organizações da sociedade
civil provêm de uma variedade de origens.
Por razões de conveniência, foram agru-
pados em três categorias: receitas próprias,
que incluem pagamentos privados por bens
e serviços, quotizações e rendimento de in-
vestimento; filantropia, que inclui doações
individuais, doações de fundações e doações
empresariais; e apoio público ou governa-
mental, que inclui subsídios, contratos, re-
embolsos por serviços prestados a terceiras
partes elegíveis (como vouchers escolares ou
seguros de cuidados públicos de saúde) e
pagamentos de sistemas de segurança social
financiados pelo governo, que operam como
quasi-organizações não-governamentais.
Receitas prórpias são a fonte dominante de
recursos das organizações da sociedade civil
em Portugal, seguidas de perto pelo apoio pú-
blico.20 A filantropia, em contraste, ocupa um
distante terceiro lugar. Mais especificamente:
Receitas próprias. Quase metade (48%)
de todos os fundos do sector da sociedade
civil em Portugal provém de quotizações e
vendas, como se vê na Figura 6.
18 Embora a algumas das Misericórdias tenha sido restituída a Gestão dos seus hospitais pelo Decreto Lei
489/82, de 28 de Dezembro de 1981, uma parte significativa do que foram hospitais das Misericórdias mantêm-se
integradas na rede pública de cuidados de saúde como hospitais e centros de saúde.
19 O esforço voluntário aqui apresentado pode ser afectado apenas a oito da doze categorias gerais ICNPO: edu-
cação, serviços sociais, saúde, desenvolvimento e habitação, cultura e lazer, organizações profissionais e sindicatos,
religião e outros (categoria 12). Contudo, quando a religião é incluída, a categoria residual outros – representa
32% do tempo voluntário.
20 Ao contrário de outros países, não foi possível separar em Portugal os fundos das entidades religiosas das outras
na área dos serviços devido a limitações nos dados. Isto eleva ligeiramente a percentagem da filantropia, enquanto
que diminui a percentagem do apoio governamental em Portugal, em relação aos dados internacionais que não
cobrem a área da religião. Contudo a discrepância é mínima, provavelmente menos de 1 ponto percentual.
Figura 5 - Distribuição de trabalhadores remunerados e de voluntários
entre actividades de serviço e de expressão em Portugal
Voluntários
Trabalhadores
remunerados
Fonte: Projecto Comparativo do Sector Não Lucrativo da Johns Hopkins
Percentagem do total (excluindo religião)
Serviço
Expressão
n.c.
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
18
Apoio público/governamental. Os subsí-
dios e contratos governamentais represen-
tam 40 % dos fundos do sector da socie-
dade civil em Portugal.21 Isto reflecte em
grande parte a delegação do governo nas
organizações da sociedade civil no forne-
cimento de serviços sociais, bem como o
elevado apoio público às instituições pri-
vadas de educação e saúde que existem.
Filantropia. Apenas 12% dos fundos das
organizações da sociedade civil provêm
da filantropia. Este número seria ainda
menor se as organizações religiosas fos-
sem excluídas, como noutros países.
Um padrão “em transição”? Este padrão
de fundos em Portugal situa-se a meio ca-
minho entre o que se encontra nos países
desenvolvidos e a média para todos os paí-
ses para os quais existem dados disponíveis.
Como a Figura 7 mostra, a percentagem de
receitas próprias é ligeiramente superior em
Portugal do que noutros países desenvolvi-
dos, mas é inferior à média internacional
(48% para Portugal, vs. 44% e 53% para
os países desenvolvidos e para todos os pa-
íses, respectivamente). Ao contrário, a per-
centagem de apoio público é inferior em
Portugal do que nos países desenvolvidos,
mas superior à média internacional (40%
vs. 48% e 35%). A percentagem de filan-
tropia em Portugal é a mesma da média
internacional (12%), mas substancialmente
superior à média dos países desenvolvidos
(8%). Posto de uma forma diferente, as or-
ganizações da sociedade civil portuguesas
têm maior acesso a apoio público que os
países em transição da Europa Central e de
Leste, mas menor acesso que os países de-
senvolvidos. Para compensar isto têm que
confiar mais em receitas próprias do que os
países desenvolvidos, embora menos do que
os países em transição.
Figura 6 - Fontes de fundos das organizações da sociedade
civil em Portugal
Figura 7 - Fontes de fundos das organizações da sociedade civil,
Portugal, países em transição, países desenvolvidos,
e média de 36 países
Portugal
Países em transição
Países desenvolvidos
36 países
Fonte: Projecto Comparativo do Sector Não Lucrativo da Johns Hopkins
Percentagem do total de fundos das organizações
da sociedade civil
Filantropia
12%
Governo
40%
Receitas Próprias
48%
Fonte: Projecto Comparativo do Sector Não Lucrativo da Johns Hopkins
Receitas Próprias Governo Filantropia
Todas as áreas
Rec. próprias - dominante
Part. Cívica / Defesa de causas
Serviços Sociais
Desenvolvimento / Habitação
Cultura / Lazer
Governo - dominante
Saúde
Educação
21 Este número subestima ligeiramente o nível de apoio governamental, porque devido a limitações nos dados não
foi possível desagregar as compras governamentais das vendas das organizações não lucrativas.
II. PRINCIPAIS RESULTADOS
19
Estrutura de fundos varia segundo as
áreas de actividade. Embora os dados so-
bre a estrutura de fundos por áreas de acti-
vidade sejam limitados, são visíveis alguns
diferentes padrões de fundos. Em duas áre-
as, saúde e educação, é evidente um padrão
dominante de fundos governamentais, dos
quais a maioria (82 e 66% do total, res-
pectivamente) provêm de pagamentos do
sector público (ver Figura 8). Nas restantes
quatro áreas para as quais dispomos de da-
dos (participação cívica e defesa de causas,
serviços sociais, desenvolvimento e habita-
ção, e cultura e lazer) é visível um padrão
dominante de receitas próprias que signi-
ficam 73%, 66%, 60% e 55% dos fundos
respectivamente. Nenhuma das áreas deriva
a maioria dos seus fundos da filantropia.22
O voluntariado muda significativamen-
te a estrutura de fundos. Esta imagem
dos fundos do sector não lucrativo mudam
substancialmente quando o valor do volun-
tariado é incluído e tratado como parte da
filantropia. Como a Figura 9 demonstra,
o valor do tempo de voluntariado quase
duplica a percentagem da filantropia de
12 para 21%. Contudo, mesmo com o va-
lor de voluntariado incluído, a filantropia
mantém o seu terceiro lugar entre as fontes
de fundos do sector da sociedade civil em
Portugal; e o valor português mantém-se
inferior à média dos países desenvolvidos
(21% vs. 28%).
5. PORTUGAL VS.
PADRÕES REGIONAIS DE
CARACTERÍSTICAS DO SECTOR
DA SOCIEDADE CIVIL
O retrato do sector da sociedade civil portu-
guês que emerge dos dados sugere que o sector
não lucrativo partilha uma série de caracterís-
ticas com os países que integram um grupo
que denominámos de “modelo de parceria de
22 A religião pode ser uma excepção a este padrão, contudo não podemos neste momento ainda suportar isso com dados.
Figura 8 - Fontes de fundos das organizações da sociedade civil.
Portugal, por área
Figura 9 - Fontes de apoio das organizações da sociedade civil
incluindo voluntários, Portugal, em transição,
desenvolvidos, e média de 36 países
Receitas Próprias Governo Filantropia
Todas as áreas
Rec. próprias - dominante
Part. Cívica / Defesa de causas
Serviços Sociais
Desenvolvimento / Habitação
Cultura / Lazer
Governo - dominante
Saúde
Educação
Percentagem do total de apoio às organizações
da sociedade civil
Portugal
Países em transição
Países desenvolvidos
36 países
Receitas Próprias Governo Filantropia
Fonte: Projecto Comparativo do Sector Não Lucrativo da Johns Hopkins
Percentagem do total de apoio às organizações
da sociedade civil
Fonte: Projecto Comparativo do Sector Não Lucrativo da Johns Hopkins
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
20
welfare/bem estar” — um de entre oito pa-
drões que identificámos na investigação (ver
Tabela 3 e Anexo C). Incluídos neste padrão
estão muitos dos maiores Estados Providência
da Europa - Holanda, Bélgica, França, Ale-
manha e Irlanda -, assim como Israel e o Ca-
nadá. Como vemos na Tabela 3, os países que
integram este grupo partilham as seguintes
características de sector da sociedade civil:
Uma força de trabalho relativamente grande;
Mais trabalhadores remunerados do que
voluntários;
Uma decisiva oritentação do emprego para
os serviços, com um foco particular em
serviços básicos de bem-estar - serviços de
saúde, educação e serviços sociais-; e
Apoio extensivo do governo às operações
do sector.
Tabela 3 - Portugal vs. Padrões regionais de características do sector da sociedade civil
.
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..
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Parceria
Welfare
(bem estar)
Anglo-
-Saxónico Nórdico Latino-
-Americano
Asiático
industriali-
zado
Europeu
Central e de
Leste Africano
Outros em
desenvolvi-
mento Todos os
países*
Força de trabalho 1
Composição da força de trabalho 2, 4
Em percentagem do PIB
Apoio total (com voluntariado)
Em percentagem do PIB
Remunerados ETI
Voluntários ETI
Total ETI
Serviço
Expressão
Outro
Rec. Próprias
Governo
Filantropia
Rec. Próprias
Governo
Filantropia
Rec. Próprias
Governo
Filantropia
Rec. Próprias
Governo
Filantropia
* Força de trabalho: 38 países; composição: 35 países; fundos e apoio total: 36 países
1 Em percentagem da população economicamente activa
2 Em percentagem do total da força de trabalho das organizações da sociedade civil (trabalhadores remunerados e voluntários)
3 Percentagens podem não totalizar 100% devido a arredondamentos
4 Valores para rec. próprias e governo são os mesmos que para rendimentos ($), porque o valor do voluntariado foi adicionado à lantropia
Fonte: Projecto Comparativo do Sector Não Lucrativo da Johns Hopkins
Fundos
Em % do total de fundos e apoio de voluntariado 3
Em % do total de fundos 3
II. PRINCIPAIS RESULTADOS
21
Ao mesmo tempo Portugal não encaixa
perfeitamente no modelo de parceria de wel-
fare/bem-estar. Por um lado a dimensão da
força de trabalho, remunerada e voluntária,
do sector da sociedade civil é inferior à mé-
dia do modelo, embora seja superior à dos
países em transição da Europa Central e
de Leste. De forma semelhante, o apoio do
governo às organizações da sociedade civil
em Portugal é inferior à média da parceria
de bem-estar, embora superior à dos outros
clusters de países. Enquanto que o sector da
sociedade civil em Portugal assenta mais no
apoio da filantropia do que os outros países
da parceria de bem-estar e do que os clusters
dos outros países desenvolvidos, o volume
de actividade filantrópica em Portugal, em
percentagem do PIB, é quase idêntica à de
outros países da parceria de bem-estar (am-
bos 0.5%).
Assim, embora o modelo da parceria de
bem-estar não esteja perfeitamente ajustado
a Portugal, parece apresentar uma adequa-
ção melhor do que qualquer outro modelo
até agora identificado nos dados. Portugal
pode assim ser considerado como estando
na última fase de transição do autoritaris-
mo para a democracia, exibindo alguns res-
quícios do passado autoritário: um sector da
sociedade civil relativamente pequeno, uma
participação voluntária relativamente baixa
e um nível moderado de apoio do governo
às actividades do sector. Ao mesmo tempo,
contudo, o progresso da reforma democrá-
tica e a integração nas estruturas da União
Europeia trouxeram mudanças suficientes
a Portugal de forma a criar uma parecença
visível com o modelo de parceria de bem-
estar encontrado noutros países da União
Europeia. Os contornos gerais do sector da
sociedade civil em Portugal assemelham-se
aos de Itália e Espanha (ver Tabela 4). Estes
três países da Europa do Sul têm sectores
da sociedade civil que são moderados em
dimensão, substancialmente financiados
pelo governo e fortemente orientados para
a prestação de serviços.
Tabela 4 - Características do sector da sociedade civil em Portugal,
Espanha e Itália
Portugal Espanha Itália
Força de trabalho 1
Composição da força de trabalho 2,4
Em percentagem do PIB 4
Remunerados ETI
Voluntários ETI
Total ETI
Serviço
Expressão
Outro
Rec. Próprias
Governo
Filantropia
Rec. Próprias
Governo
Filantropia
Rec. Próprias
Governo
Filantropia
Rec. Próprias
Governo
Filantropia
Em percentagem do PIB
Apoio total (com voluntariado)
1 Em percentagem da população economicamente activa
2 Em percentagem do total da força de trabalho das organizações da sociedade civil (tra-
balhadores remunerados e voluntários)
3 Percentagens podem não totalizar 100% devido a arredondamentos
4 Valores para rec. próprias e governo são os mesmos que para fundos, porque o valor do
voluntariado foi adicionado à lantropia
Fonte: Projecto Comparativo do Sector Não Lucrativo da Johns Hopkins
.
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Fundos
Em % do total de fundos e apoio de voluntariado 3
Em % do total de fundos 3
22
Como
se poderão explicar
estas características do sector da socieda-
de civil? Em termos gerais, três impulsos
enraizados profundamente na história do
país, assim como um que emergiu mais
recentemente, parecem assumir papéis re-
levantes. Incluídos estarão primeiro a Igreja
Católica; segundo, a longa tradição de mu-
tualidade e auto-ajuda do país; terceiro, a
sua igualmente longa história de controlo
político; e quarto, o desenvolvimento nas
décadas recentes de elementos-chave de um
Estado de bem-estar moderno e uma rele-
gação crescente do Estado nas organizações
não lucrativas. Em conjunto, estes impul-
sos criaram uma tensão histórica entre o
Estado e a acção voluntária, estimulando
a emergência de instituições não lucrativas
mas limitando a sua independência e con-
finando-as a um campo de actuação rela-
tivamente limitado até recentemente. Na
discussão que se segue examinamos cada
um destes impulsos.
CATOLICISMO E O SECTOR
DA SOCIEDADE CIVIL
O sector não lucrativo português é pelo
menos tão antigo quanto o Estado-Nação.
As origens do país remontam a 1143, mas
organizações de caridade existem no terri-
tório mesmo antes dessa data, inspiradas
de forma significativa na Igreja Católica
Romana.
O impacto da Igreja Católica Romana no
desenvolvimento do sector da sociedade ci-
vil em Portugal foi tanto espiritual como
institucional. Espiritualmente, a influência
da Igreja foi cedo evidente nas amplamente
difundidas Obras de Misericórdia, e na ideia
cristã de que as pessoas precisam de actu-
ar de forma a merecem a misericórdia de
Deus. Esta doutrina, inspirada nos evange-
lhos, estabeleceu um conjunto de imperati-
vos morais tanto espirituais (ex. ensinar
os simples, confortar os tristes, perdoar os
que nos ofenderam) como corporais (ex.
curar os doentes, cobrir os despidos, dar de
comer a quem tem fome).
Uma série de diferentes tipos de instituições
foram inspiradas por estes preceitos, e as
Ordens religiosas foram instrumentais na
fundação de muitas delas. Estas incluíam:
Hospedarias mantidas por Ordens reli-
giosas para darem abrigo aos peregrinos
e para a redenção de cativos;
Mercearias, onde mulheres honradas, viú-
vas ou mulheres solteiras com mais de 50
anos podiam ficar até morrerem, ou onde
as pessoas idosas ou deficientes encontra-
vam apoio;
Casas para pobres que davam abrigo a pes-
soas pobres;
Gafarias que ofereciam assistência médica
aos leprosos;
Hospitais de meninos que davam abrigo a
órfãos e crianças abandonadas e os prepa-
ravam para a vida profissional.
No final do século 15 um novo tipo de ins-
tituição relacionada com a Igreja – a Mi-
sericórdia — ganhou terreno reflectindo a
influência crescente das ideias Franciscanas
OS CONTORNOS DO SECTOR
NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS
iii UMA VISÃO HISTÓRICA
III. OS CONTORNOS DO SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS: UMA VISÃO HISTÓRICA
23
e Dominicanas que promoviama ligação
entre as “obras de misericórdia” e o alcance
da salvação junto dos que enriqueciam com
os descobrimentos marítimos da época. Este
desenvolvimento também serviu de resposta
ao aumento da pobreza que estas aventuras
produziam entre as muitas mulheres e crian-
ças que ficavam para trás. Neste processo as
Misericórdias estabeleceram uma forte base
de instituições sociais não lucrativas no país
e que persiste ainda hoje.
Para além de estarem ligadas a iniciativas
nas áreas social e da saúde, a Igreja foi tam-
bém foco de iniciativas na área educativa.
Exemplos antigos dessa actividade foram as
escolas capitulares e as escolas conventuais
dos Beneditinos, dos Cistercienses, e desde
o século 13, das Ordens Mendicantes.
MUTUALISMO, COOPERAÇÃO
E SOLIDARIEDADE
A Igreja Católica foi um elemento constante
no desenvolvimento da sociedade civil por-
tuguesa, mas representa apenas uma parte
na herança legada à sociedade civil portu-
guesa, uma parte que teve tendência para
um carácter paternalista e assistencialista.
Bastante diferente foi um segundo impulso
focado no mutualismo, na solidariedade e
auto-ajuda da parte dos necessitados. As-
sim, nos séculos 12 e 13, as corporações
de mesteres e várias confrarias já tinham
surgido. As corporações de mesteres foram
desenhadas a pensar na preservação dos
interesses e na assistência aos membros de
uma profissão específica, sobretudo atra-
vés da criação de hospitais. As confrarias
medievais prestavam serviços sobretudo
aos confrades mas também prestavam as-
sistência a não-membros.
23
Outros tipos de
organizações de ajuda mútua foram criadas
para fazer face ao impacto dos desastres na
vida das pessoas. Estes eram especialmente
comuns em áreas de actividade perigosas,
como as actividades marítimas, em que as
perdas no mar criavam de repente pobreza
nas famílias e produziam órfãos e viúvas.
Membros dessas organizações adoptavam
modelos de seguros que foram chamados
de compromissos marítimos e confrarias dos
mareantes.
Estruturas mútuas semelhantes emergiram
nas zonas rurais portuguesas. Um exemplo
foi o dos os celeiros comuns. Estas associa-
ções de agricultores constituíam uma for-
ma de se acumularem cereais fornecidos
por agricultores nas boas épocas agrícolas, e
que eram depois “emprestados” aos agricul-
tores em s épocas. Estes princípios de so-
lidariedade também se difundiram a outras
actividades como por exemplo a pecuária.
À medida que Portugal entrava lentamen-
te na era industrial no primeiro quartel do
século 19, estas tradições de mutualidade
assumiram uma forma diferente. A falta de
instituições públicas que ajudassem as pes-
soas com necessidades neste novo contexto
socio-económico, levou à emergência de
“associações de trabalhadores” com o objec-
tivo da organização dos trabalhadores para
a defesa dos seus direitos, e como medida
de segurança em caso de perda de emprego,
doença, morte ou incapacidade. De forma
semelhante as associações mutualistas - As-
sociações de Socorro Mútuo - emergiram para
organizar cuidados de saúde, educação, e
actividades culturais entre os migrantes
urbanos. Também associações humanitárias
de bombeiros voluntários se espalharam por
todo o país, assim como as mútuas agrícolas
proporcionando crédito e seguros mútuos
aos agricultores, e sindicatos agrícolas com
23 Ver, Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa e União das Misericórdias
Portuguesas, Portugaliae Monumenta Misericordiarum, Antes da Fundação das Primeiras Misericórdias, Volume 2
(2002).
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
24
o objectivo de promoverem a solidariedade
entre agricultores.
Historicamente o mutualismo evoluiu em
torno dos princípios da democracia (um
homem, um voto), da liberdade (segundo
o qual qualquer pessoa é livre de se juntar
ao movimento mutualista ou abandoná-
lo), independência (cada organização deve
manter a sua autonomia) e solidariedade
(promovendo o bem-estar dos membros
sem a motivação do lucro individual).
Contudo, a muitas destas novas associa-
ções faltavam os recursos necessários para
assegurar a viabilidade económica das suas
actividades. Este facto, em conjunção com
a inexistência de um enquadramento legal
e do apoio do Estado, conduziu ao insuces-
so de muitas destas iniciativas. Os sindi-
catos agrícolas em particular não duraram
muito. A falta de empenho dos agricul-
tores no movimento associativo levou ao
enfraquecimento e falhanço destas orga-
nizações, e resultou num retorno a formas
prévias de organização, mais tradicionais e
corporativistas.
Mais bem sucedidas foram as organizações
mutualistas que emergiram da classe média,
nomeadamente pela iniciativa de funcioná-
rios do Estado, profissionais liberais, e co-
merciantes. Estes procuravam proporcionar
ajuda em caso de doença e crédito em caso
de dificuldades nanceiras. As associações
com um perfil de seguradoras foram desig-
nadas de montepios, enquanto as associa-
ções com um perfil de poupanças e crédito
foram designadas de caixas económicas. Ao
mesmo tempo, novos líderes de negócios e
capitalistas organizavam-se para defender
os seus interesses perante o Governo. Assim
emergiram associações empresariais fortes.
Duas eram particularmente importantes,
relacionadas com a exportação de vinho e
comerciantes envolvidos em negócios de ca-
rácter internacional: a Associação Comercial
de Lisboa e a Associação Comercial do Porto,
ambas fundadas em 1834.
AUTORITARISMO
A Igreja e as organizações mutualistas,
constituindo as raízes históricas do sector
da sociedade civil portuguesa, foram to-
mando forma num ambiente caracteriza-
do por um forte domínio governamental.
Portugal foi uma monarquia até ao início
do século 20, quando as forças liberais
proporcionaram um breve intervalo de-
mocrático. Em duas décadas, contudo, dá-
se início ao regime autoritário de António
Oliveira Salazar.
A Igreja Católica ajustou-se a esta realidade,
forjando uma aliança com a monarquia que
durou durante três ou quatro séculos. O re-
sultado foi o que um estudioso descreveu
como “uma religião de pendor regalista”
24
,
uma relação que se reforçava mutuamente,
e que permitiu à monarquia manter-se no
poder, e à Igreja expandir a sua influência
apoiada no colonialismo patrocinado pelo
Estado. Contudo, no século 19 o Estado in-
terveio nas associações de fiéis reduzindo-as
ao estatuto de serviços públicos. Em 1834 o
Estado chegou a nacionalizar algumas pos-
ses da Igreja.
A relação entre o movimento mutualista
e o Estado era mais ambígua. Em certos
aspectos o crescimento das organizações
mutualistas ao longo do século 19 constitui
um desafio à aliança Estado-Igreja, dando
poder aos pobres e a uma classe média de
profissionais, fora dos domínios da Igreja
e do Estado. Uma guerra civil eclodiu nos
anos 30 do século 19, estabelecendo uma
nova classe média de profissionais e comer-
24 Ver, Paulo Adragão, “Para aquém e para além da Concordata,” Jornal de Notícias, 9.6.2004, and also:
www.ucp.pt/cedc/Paulo_Adragão.html.
III. OS CONTORNOS DO SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS: UMA VISÃO HISTÓRICA
25
ciantes – a burguesia – contra os detentores
das terras, a Igreja e a monarquia. Os libe-
rais tiveram importantes vitórias nesta luta,
e iniciaram em 1834 uma série de medidas
para abolirem os privilégios e as estruturas
de uma sociedade que tinha sido dominada
pela nobreza e pela Igreja. Uma dessas me-
didas foi a extinção de todos os conventos,
mosteiros, escolas, hospícios e quaisquer
outros estabelecimentos dos religiosos e to-
dos os seus bens foram confiscados. Mais
tarde nesse século, a autoridade e influência
da Igreja foi colocada sob a pressão do mo-
vimento dos sindicatos.
Foi neste contexto de transformação eco-
nómica e política que a Igreja Católica
procurou uma forma de juntar capitalistas
e trabalhadores. Os Círculos Católicos Ope-
rários (CCO) emergiram no final do sécu-
lo 19 (1878) e foram a primeira tentativa
relevante de criar uma presença católica
organizada no movimento dos trabalhado-
res portugueses. Estas eram organizações
dominadas por aristocratas e católicos
conservadores, desenhadas para propor-
cionar assistência e espalhar a perspectiva
católica a todos os trabalhadores. Contu-
do, os esforços resultantes foram mais fo-
calizados no lazer e na educação cristã do
que na criação de melhores condições de
trabalho. Actuando mais como um movi-
mento religioso do que social, e gastando
mais tempo a tentar recuperar a influência
religiosa do que a lutar por necessidades
sociais mais relevantes, os CCO depressa
perderam importância.
Quando os liberais ganharam terreno no-
vamente no início do século 20, depressa
foram confrontados com uma resposta
conservadora, na medida em que elemen-
tos conservadores da Igreja, do Estado e da
sociedade se restabeleceram em torno do
“golpe de Estado” levado a cabo a 28 de
Maio de 1926 por Oliveira Salazar. Salazar
criou o que foi denominado de Estado Novo
reflectindo um nacionalismo sólido, pru-
dente e conciliador”.
25
Esta “nova ordem
baseava-se na ideia de uma sociedade orga-
nizada em torno de pilares de interesses que
apoiavam o regime político. De acordo com
esta filosofia os trabalhadores, agricultores e
pescadores seriam membros de e representa-
dos por associações — sindicatos corporati-
vistas, Casas do Povo, e Casas dos Pescadores
— que emanariam dos princípios ideológi-
cos e do enquadramento organizacional de
um “Estado corporativo”. Estas organiza-
ções aceitariam e seriam subordinadas ao
princípio da harmonia e da convergência
de interesses entre diferentes classes sociais,
o que era a justificação para a abolição de
todos os partidos políticos. Adicionalmen-
te, industriais e homens de negócios seriam
representados por grémios, fortemente con-
trolados pelas autoridades governamentais.
Não havia lugar para mais de um sindicato
e grémio por sector, nem lugar para mais de
uma Casa do Povo ou Casa dos Pescadores
por localidade. Operário, agricultores, pes-
cadores, industriais, e homens de negócios
eram obrigados a inscreverem-se na associa-
ção do seu sector ou localidade.
A “nova ordem” proporcionou algumas
oportunidades para a criação de cooperati-
vas, especialmente na agricultura. Contu-
do, este movimento estava constantemente
sob vigilância.
26
Também as cooperativas
de consumo foram severamente limitadas,
e as cooperativas agrícolas foram usadas
como instrumentos para a regulação econó-
mica e para o controlo da subida de salários
noutros sectores. A criação de federações
foi proibida. Genericamente, a liberdade de
25 Ver, Oliveira Marques, História de Portugal – das revoluções liberais aos nossos dias (Palas, 1986).
26 Ver, Rui Namorado, “Uma Lógica Produtiva Humanista – Perspectivas do Cooperativismo em Portugal,” Seara
Nova, nº 77, Julho-Setembro 2002.
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
26
associação era encarada como contrária ao
interesse nacional e, assim, proibida e perse-
guida. Os partidos políticos e os movimen-
tos cívicos eram vistos como a expressão de
interesses estrangeiros ou particulares e não
compatíveis com o interesse nacional.
Em consequência, o Estado Novo resultou
num declínio das organizações não lucrati-
vas em geral, e do movimento mutualista em
particular, especialmente depois de 1930,
quando a resistência dos mutualistas à nova
ordem política passou a ser combatida com
perseguição política e policial. Os líderes
e promotores do mutualismo eram presos
como “activistas comunistas”. Associado
à extensão da segurança social promovida
pelo Governo, que foi retirando aos mutu-
alistas uma das suas principais funções, as
auditorias públicas realizadas às associações
mutualistas, e a promoção das instituições
corporativistas da “nova ordem“ resultaram
no enorme enfraquecimento do movimento
mutualista.
DEMOCRATIZAÇÃO
O autoritarismo finalmente deu lugar a um
novo impulso político em Portugal no fi-
nal dos anos 60 do século 20, permitindo
a revitalização e fortalecimento ainda em
curso das organizações da sociedade civil.
De forma interessante as organizações da
sociedade civil que foram sobrevivendo
tiveram um papel fundamental nestes de-
senvolvimentos. As organizações mutualis-
tas, encorajadas por uma nova classe média
urbana, começaram a focalizar-se menos
em actividades assistencialistas e mais em
acção política. Foi também possível assistir
à fundação de cooperativas com fins inte-
lectuais pela classe média urbana, à eleição
de líderes de sindicatos conhecidos pela sua
oposição ao regime, e a fundação de novas
associações por representantes da oposição
como forma de ultrapassar a proibição de
criação de partidos políticos. A morte de
Salazar em 1970 abriu caminho a uma cres-
cente liberalização e à revolução que termi-
nou com o autoritarismo em Portugal em
25 de Abril de 1974.
Na sequência da adopção da Constituição
da República em 1976 e do restabelecimen-
to da liberdade de expressão e de associação,
movimentos e instituições defensoras de di-
reitos e de representação política cresceram
rapidamente. Isto conduziu a uma explosão
de movimentos associativos preocupados
com todos os aspectos da vida social, como
a melhoria das condições de habitabilidade
através das associações de moradores, preser-
vação do emprego, melhoria das condições
de emprego, associações de pais, e serviços
de apoio à infância.
Ao mesmo tempo, o novo regime pós-Sala-
zar não foi totalmente apoiante da sociedade
civil, e a entrada de Portugal na União Eu-
ropeia em 1986 teve implicações ambíguas
para a sociedade civil portuguesa. Por um
lado, o facto do acesso a fundos europeus
requerer associação ou cooperação entre
os interessados foi um factor de incentivo
à criação ou reforço de alguns movimen-
tos associativos. Por outro lado os fluxos
de fundos estruturais europeus reforçaram
a responsabilidade do Estado por assuntos
que tinham no passado sido cobertos pelo
movimento mutualista e pelas associações
da sociedade civil.
As primeiras acções do Estado em relação à
sociedade civil não foram então totalmente
apoiantes. Assim, por exemplo, o Estado
centralizou o processo de regulação, im-
pondo standards legais que favoreceram al-
guns sectores da sociedade civil em relação
a outros. Em semelhança, no seguimento
da revolução de 1974, as Misericórdias per-
deram a gestão dos seus hospitais em favor
do Estado que os integrou na rede públi-
ca de saúde. Em 1980 uma lei autorizou o
pagamento de compensações financeiras às
Misericórdias pelas perdas provocadas, em-
bora a maioria das Misericórdias não tenha
III. OS CONTORNOS DO SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS: UMA VISÃO HISTÓRICA
27
sido compensada até finais dos anos 80 e os
valores da compensação sejam ainda objec-
to de debate.
Lentamente, contudo, o Estado português
foi reconhecendo a importância de forjar
uma parceria com o sector da sociedade ci-
vil. Assim, em 1981, foi criada uma lei que
autorizou a devolução às Misericórdias dos
hospitais que lhes tinham sido retirados,
numa base caso a caso. O Estado promoveu
também o fortalecimento das Associações
Particulares de Assistência, hoje conhecidas
como Instituições Particulares de Solidarie-
dade Social, IPSS. Em 1979, o estatuto das
IPSS foi aprovado, e foi dirigido para todas
as instituições que forneciam serviços de
segurança social. Em 1983, com a revisão
deste estatuto, a acção das IPSS foi alarga-
da para incluir saúde, educação, formação
profissional, e habitação. Adicionalmente,
o Estado português reconheceu recente-
mente o princípio da subsidariedade no for-
necimento de serviços sociais confiando às
Instituições Particulares de Solidariedade
Social a sua prestação.
27
Princípio pelo qual
a instituição mais próxima do indivíduo é
a que deverá prestar assistência em casos
de necessidade. As IPSS têm-se suportado
amplamente no apoio público. Este tipo
de relacionamento também se disseminou
a outras arenas da actividade da sociedade
civil, como a cultura, lazer/recreação, des-
porto, e fins humanitários (ex. associações
de bombeiros voluntários).
27 Para pormenores adicionais referentes a esta alteração de política, ver Lei de Bases nº 32/2002, 20.12, Art. 6º.
28
QUESTÕES-CHAVE NO SECTOR
NÃO LUCRATIVO EM PORTUGAL
iv
O sector
da sociedade ci-
vil em Portugal assenta numa longa história
de envolvimento na sociedade portuguesa.
Ao mesmo tempo, até recentemente, a sua
evolução tem sido severamente constrangi-
da por uma longa tradição de paternalismo.
Em consequência, o sector permanece mais
pequeno do que o de outros países da Eu-
ropa Ocidental, embora esteja a par da sua
vizinha Espanha e de Itália, países com os
quais Portugal partilha características his-
tóricas comuns. Neste sentido, a sociedade
civil em Portugal permanece em “transição”,
de certa forma à semelhança dos países da
Europa Central e de Leste, que ainda en-
frentam uma série de desafios críticos. Nesta
secção apresentaremos desafios que o sector
da sociedade civil português enfrenta e su-
gestões de passos a percorrer de forma a dar-
lhes resposta.
AUMENTAR A CONSCIÊNCIA
DO PÚBLICO SOBRE ESTE SECTOR
Embora existam há vários séculos em Portu-
gal grupos que correspondem à definição de
organização da sociedade civil, e certos sub-
sectores da economia social sejam altamente
visíveis, como as Cooperativas e as Institui-
ções Particulares de Solidariedade Social, é
limitada a compreensão destas organizações
como um sector único e coeso. Esta quase
ausência de consciência de “sector” limita a
capacidade do próprio sector em promover
a filantropia, atrair o apoio do público, e
assegurar políticas favoráveis ao seu futuro
desenvolvimento.
Um passo útil nessa direcção seria tornar
explícitas as ligações entre os diferentes ti-
pos de organizações que constituem o sector
não lucrativo, e entre estas e as cooperativas
e as associações mutualistas, que constituem
aquilo que pode ser designado de “economia
social”. Uma compreensão mais clara dos
aspectos comuns entre as organizações não
lucrativas, e entre estas e as outras compo-
nentes da economia social geraria um am-
biente político mais favorável para o sector
como um todo. Assim, também, o tipo de
dados gerados pela investigação que foi le-
vada a cabo.
Felizmente, existe uma excelente oportu-
nidade para sustentar este tipo de dados,
graças à recente adopção pela Comissão Es-
tatítica das Nações Unidas (United Nations
Statistical Commission) do novo Manual
sobre Organizações Não Lucrativas no Sis-
tema de Contas Nacionais (Handbook on
Nonprofit Institutions in the System of Natio-
nal Accounts). Este Manual propõe às agên-
cias e institutos estatíticos em todo o mundo
a formulação de uma “conta satélite” sobre
instituições não lucrativas como parte do
seu processo regular de recolha e dissemi-
nação de informação. O Instituto Nacional
de Estatística (INE) devia ser encorajado a
implementar este Manual em Portugal de
forma a assegurar a visibilidade continuada
deste sector fundamental e a acompanhar o
seu desenvolvimento futuro de uma forma
sistemática.
FORTALECER O ENQUADRAMENTO
LEGAL
A reforma democrática introduzida após a
revolução de 1974 criou um ambiente pro-
pício ao desenvolvimento da actividade as-
IV. QUESTÕES-CHAVE NO SECTOR NÃO LUCRATIVO EM PORTUGAL
29
sociativa. Porque tanto as antigas como as
novas associações forneciam serviços rele-
vantes para a comunidade, muitas vezes em
substituição do Estado, foi decidido que o
movimento associativo deveria ser encora-
jado. Assim introduziu-se, por exemplo, a
figura das pessoas colectivas privadas de uti-
lidade pública de forma a proporcionar às
organizações os meios para melhorarem e
expandirem a sua actividade.28
Com a rápida expansão do sector da socie-
dade civil, que ocorreu nos últimos 30 anos,
as leis que o governam aumentaram em nú-
mero e complexidade. Da combinação da
legislação corrente e da lei fundamental – a
Constituição -, Portugal tem actualmente
pessoas colectivas de utilidade pública, Insti-
tuições Particulares de Solidariedade Social,
pessoas colectivas de utilidade pública admi-
nistrativa, e organizações não governamentais
de cooperação para o desenvolvimento a mere-
cerem tratamento especial da parte do Esta-
do. Ainda, o Código Civil inclui orientações
gerais respeitantes às pessoas colectivas, fa-
zendo referências específicas às associações e
às fundações. Tudo isto produz um corpo le-
gal difuso e confuso, a governar a formação
e actividade dos diferentes tipos de organiza-
ções do sector da sociedade civil português.
Isto provoca confusão e uma dificuldade de
compreensão do enquadramento legal, di-
minuindo o impacto do sector não lucrativo
em Portugal.
Para fazer face a esta situação, Portugal po-
deria levar a cabo alguma consolidação da
estrutura legal do sector da sociedade civil.
Isto poderia envolver uma sistematização
das formas legais que as organizações po-
dem adoptar, e uma maior consistência no
tratamento fiscal destas organizações e das
doações ao sector. Estas medidas ajudariam
a dar novas garantias aos doadores, a simpli-
ficar a aplicação das leis, e potencialmente a
encorajar uma maior transparência e capa-
cidade de prestar contas por parte das orga-
nizações.
MELHORAR A CAPACIDADE DO
SECTOR DA SOCIEDADE CIVIL
A percepção dos trabalhadores remunerados
das organizações não lucrativas como “mis-
sionários” ou “voluntários profissionais” é
usada como justificação para os baixos sa-
lários e longas horas de trabalho, especial-
mente nas Instituições Particulares de Soli-
dariedade Social. Isto conduz a uma baixa
retenção dos trabalhadores procurando mui-
tos dos mais qualificados ingressar em or-
ganizações públicas ou privadas lucrativas.
Numa época de considerável dependência
de subsídios estatais e de apoios da União
Europeia, um número crescente de organi-
zações da sociedade civil em Portugal estão
cada vez mais conscientes da necessidade de
profissionalizarem a gestão das suas institui-
ções de forma a garantirem o melhor serviço
possível aos seus beneficiários.
Outros países responderam a este problema
estabelecendo programas de formação aca-
démica ou não académica para os gestores
das organizações da sociedade civil. Esses
programas podem utilmente potenciar a
capacidade das organizações da sociedade
civil, melhorando a sua gestão, e contribuin-
do assim para o alcance de importantes be-
nefícios públicos. Um número limitado de
organizações não lucrativas portuguesas
iniciaram programas de “melhoria de capa-
cidades” (capacity-building), algumas com o
objectivo de se candidatarem a certificação
por normas internacionais de qualidade. En-
quanto elas constituem apenas uma pequena
parcela do sector, o sem dúvida exemplos a
seguir pelo sector.
28 Ver Decreto-Lei nº 460/77.
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
30
MELHORAR AS RELAÇÕES
GOVERNO–ORGANIZAÇÕES
NÃO LUCRATIVAS
Tendo sido ao longo da história de Portugal
ambígua a relação entre as organizações da
sociedade civil e o Estado, talvez não cons-
titua surpresa o facto do apoio do Estado ao
sector ser inferior ao que se observa noutras
nações da Europa Ocidental. O que é notá-
vel no sector da sociedade civil português é
que foi capaz de atingir a escala que tem com
um nível de apoio público bem inferior ao
observado na maioria dos outros países da
Europa Ocidental.
Felizmente, a relação entre o Estado e o
sector da sociedade civil melhorou drastica-
mente desde o derrube do regime autoritá-
rio. Ao mesmo tempo, parece permanecer
alguma ambiguidade acerca das funções que
o Estado deveria não só financiar como levar
a cabo, e acerca das funções que deveria con-
fiar às organizações da sociedade civil com
o apoio do Estado. De forma semelhante,
permanecem algumas incertezas da parte
do sector da sociedade civil e do público em
geral sobre a cooperação apropriada da so-
ciedade civil com o Estado, e sobre a forma
como preservar algum grau de autonomia
da sociedade civil enquanto que se persegue
a cooperação entre o Estado e os grupos da
sociedade civil.
Felizmente ainda, existe uma experiência
considerável na Europa sobre estas questões,
a qual os políticos, líderes da sociedade civil
e investigadores podem examinar. Funda-
mentalmente, existe a necessidade de repen-
sar de forma séria as actividades do Estado
para se determinar quais deverão ser levadas
a cabo de forma mais flexível e eficaz atra-
vés de uma cooperação público- privada sem
fins lucrativos em alternativa a uma acção
isolada do Estado.
31
C O N C L U S Õ E S EIMPLICAÇÕES
Este
estudo é o primeiro do género
que fornece um retrato abrangente do sector
da sociedade civil em Portugal, e que torna
possível, de uma forma sistemática, a com-
paração das realidades da sociedade civil
portuguesa com a de outros países de uma
forma sistemática. Embora, neste retrato,
possam existir algumas lacunas, sobretudo
devido a limitações de dados, a cobertura é
extraordinariamente ampla, abarcando uma
grande diversidade de instituições, desde as
associações mutualistas a algumas coopera-
tivas, a sindicatos, associações profissionais
e empresariais, organizações comunitárias,
organizações prestadoras de serviços sociais,
instituições de educação, e organizações de
ajuda mútua.
A imagem que emerge é a de um sector da
sociedade civil que, embora pequeno para
os padrões da Europa Ocidental, é, apesar
de tudo, uma força económica significati-
va. Existem razões históricas para o relativo
sub-desenvolvimento do sector da sociedade
civil em Portugal, as maiores das quais serão
a presença de instituições paternalistas e os
quarenta anos de governação ditatorial que
suprimiram o movimento mutualista e a par-
ticipação pública em geral. Por estas razões, o
ponto de comparação apropriado para o sec-
tor da sociedade civil português poderá não
ser o conjunto dos países da Europa Ociden-
tal, mas os seus vizinhos da Europa do Sul,
Espanha e Itália, que partilham influências
similares da Igreja e de tradições de solida-
riedade social, bem como os países da Euro-
pa Central e de Leste por constrangimentos
políticos semelhantes. Enquanto a dimensão,
composição, e financiamento do sector da
sociedade civil em Portugal estão a par da vi-
zinha Espanha e de Itália, distanciam-se dos
países da Europa Central e de Leste por uma
margem substancial. Isto reflecte o eviden-
te progresso que o sector da sociedade civil
em Portugal alcançou desde a restauração da
democracia em 1974 e a adesão à União Eu-
ropeia em 1986. Esta comparação também
salienta a maior força por detrás deste cresci-
mento – o apoio do governo na forma de par-
cerias entre os sectores público e da sociedade
civil para a prestação de serviços.
Assim, uma implicação-chave deste estudo
no sentido do fortalecimento do sector da so-
ciedade civil em Portugal é a necessidade de
construir e melhorar a parceria entre as orga-
nizações não lucrativas e o governo. Essa par-
ceria já foi incentivada por políticas da União
Europeia, mas poderia ainda ser potenciada.
Igualmente necessária, contudo, é uma maior
consciência de si próprio por parte do sector
da sociedade civil, bem como um esforço mais
consciente para estimular a participação pú-
blica no trabalho do sector. Ambos os factores
requerem que se tenham em conta as capacida-
des das organizações da sociedade civil, através
de esforços sérios de reforço de competências
e uma combinação de esforços de recolha de
informação de que este projecto é exemplo.
Portugal tem demonstrado um profundo
comprometimento com os desafios da mu-
tualidade, da solidariedade social e da cari-
dade privada. O seu sector da sociedade ci-
vil, liberto do paternalismo do passado, está
agora posicionado para ocupar o seu lugar
entre os mais vibrantes da Europa. Temos
esperança de que a informação gerada por
este projecto ajude a encorajar este processo.
33
is
important research project
is the result of the combined and tireless
efforts of researchers, data compilers, and
analysts over two years, to understand the
history, dimensions, and influence of the
nonprofit sector (NPS) in Portugal. e
project emerged through the combined vi-
sion and funding provided by four leading
Portuguese foundations, which understood
that the contribution of this vast sector to
the social, economic, and political develo-
pment of Portugal was largely unknown,
and its potential greatly undervalued. e
constructive forces of a vibrant nonprofit
sector are essential to the balanced develo-
pment of modern societies. is study will
finally bring these forces to light, to be un-
derstood, fairly valued, and to be nurtured
and reinforced for greater societal benefits
than ever before.
We four foundations, the Calouste Gul-
benkian Foundation, the Luso-American
Foundation, the Ilídio Pinho Foundation,
and the Aga Khan Foundation, are proud
that we helped make this research a reality.
e respect we share for the Center for Civil
Society Studies of Johns Hopkins Univer-
sity in the United States, and its Director,
Lester Salamon, who developed the resear-
ch methodology, applied in many countries
both inside the European Union and glo-
bally, gave confidence that this work would
result in innovative, reliable, and valuable
conclusions on the economic and social im-
pact of the sector in Portugal.
e challenge for responsible leadership is
now to understand how these findings and
conclusions should be used to advantage,
how to unleash the forces of the voluntary
sector, and how to mobilize and motivate
towards greater public involvement in the
nonprofit community. Furthermore, it is
incumbent on us to continue to chart the
growth of the NPS and institutionalize the
collection of data as part of the national
statistics collection process.
Our words of praise go to the work of the
Project Coordinator, Raquel Campos Fran-
co, and her team at the Faculty of Econo-
mics and Management at the Portuguese
Catholic University in Porto. Her steadfast,
professional commitment to this challenge,
her knowledgeable guidance, and untiring
persistence was our guarantee of full suc-
cess in this project. We also wish to ackno-
wledge the important contributions made
by the team at Johns Hopkins, particular-
ly Dr. S. Wojciech Sokolowski and Eileen
Hairel. We are grateful to all of them.
Calouste Gulbenkian Foundation
Luso-American Foundation
Ilídio Pinho Foundation
Aga Khan Foundation
PREFACE
33
GRUPO 1:
CULTURA E LAZER/RECREAÇÃO
1 100 Cultura e Artes
Media e comunicações. Produção e disse-
minação de informação e comunicação;
inclui estações de rádio e televisão; publi-
cação de livros, revistas, jornais e newslet-
ters; produção de filmes; e bibliotecas.
Artes visuais, arquitectura, arte cerâmica.
Produção, disseminação e mostra de artes
visuais e arquitectura; inclui escultura, so-
ciedades de fotografia, pintura, desenho,
centros de design, e associações de arqui-
tectura.
Artes performativas. Centros de artes per-
formativas, companhias e associações;
inclui teatro, ballet, ópera, orquestras, co-
rais, e ensembles musicais.
Sociedades históricas, literárias e huma-
nísticas. Promão e apreciação das hu-
manidades, conservação de artefactos
históricos, e comemoração de eventos
históricos; inclui sociedades históricas,
sociedades de poesia e literárias, associa-
ções de línguas, promoção da leitura, me-
moriais de guerra, e fundos e associações
comemorativas.
Museus. Museus gerais e especializados
sobre arte, história, ciências, tecnologia e
cultura.
Jardins zoológicos e aquários.
1 200 Desporto
Desporto Amador, treino, fitness, eventos
e serviços ligados ao desporto de compe-
tição; inclui centros de fitness e bem es-
tar.
1 300 Outros clubes de lazer/recreação
e sociais
Clubes de lazer/recreação e sociais. Instala-
ções e serviços de recreação para indivídu-
os e comunidades; inclui “country clubs”,
clubes de homens e de mulheres, “clubes
de viagem”, e clubes de lazer.
Clubes de serviço. Organizações de mem-
bros que fornecem serviços aos membros e
a comunidades locais, como por exemplo:
Lions, Zonta International, Rotary Club,
e Kiwanis.
GRUPO 2:
EDUCAÇÃO E INVESTIGAÇÃO
2 100 Educação Primária e Secundária
Educação Elementar, Primária e Secundá-
ria. Educação ao nível elementar, primá-
rio e secundário; inclui organizações do
pré-escolar.
2 200 Educação Superior
Educação Superior. Ensino Superior, for-
necendo graus académicos; inclui univer-
sidades, escolas de Negócios, escolas de
Direito, escolas de Medicina.
ANEXOA
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS
ORGANIZAÇÕES NÃO LUCRATIVAS
INTERNATIONAL CLASSIFICATION OF NONPROFIT ORGANIZATIONS (ICNPO)
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
34
2 300 Outra Educação
Escolas Vocacionais/Profissionais. Forma-
ção técnica, profissional e vocacional es-
pecificamente concebida para incrementar
a empregabilidade; inclui escolas comer-
ciais, de formação para-jurídica, escolas
de secretariado.
Educação de Adultos/Formação Contínua.
Instituições dedicadas à educação e for-
mação complementar ao sistema formal de
educação; inclui escolas para continuação
dos estudos, escolas por correspondência,
escolas nocturnas, programas financiados
de alfabetização.
2 400 Investigação médica
Investigação médica. Investigação no cam-
po da medicina; inclui investigação sobre
doenças específicas, desordens, ou no âm-
bito de especialidades médicas.
Ciência e tecnologia. Investigação sobre as
ciências da vida, e engenharia e tecnologia.
Ciências sociais, estudos políticos. Investiga-
ção e análise nas áreas das ciências sociais
e políticas.
GRUPO 3:
SAÚDE
3 100 Hospitais e Reabilitação
Hospitais. Cuidados médicos primários.
Reabilitação. Cuidados de internamento e
terapia de reabilitação de indivíduos que
sofrem de deficiências físicas devidas a
acidente, defeito genético, ou doença que
exijam fisioterapia de forma intensiva ou
formas de tratamento similares.
3 200 Lares
Lares. Cuidados de convalescença em in-
ternamento, cuidados residenciais, assim
como cuidados primários; inclui lares
para os idosos dependentes e lares para de-
ficientes graves.
3 300 Saúde mental e intervenção em crise
Hospitais psiquiátricos. Cuidados de inter-
namento para os doentes mentais.
Tratamento da saúde mental. Tratamento
ambulatório para doentes mentais; inclui
centros de saúde mental comunitários, e
lares de transição.
Intervenção em crise. Tratamento ambu-
latório e aconselhamento em situação de
saúde mental aguda; inclui prevenção do
suicídio e apoio a vítimas de assaltos e
abusos.
3 400 Outros serviços de saúde
Saúde blica e educação para o bem-estar.
Promoção da saúde pública e educação para
a saúde; inclui rastreios de potenciais doen-
ças, serviços e formação em primeiros so-
corros, e serviços de planeamento familiar.
Tratamentos de saúde, primeiramente exte-
riores. Organizações que fornecem serviços
de saúde primeiramente exteriores, como
por ex. clínicas de saúde, centros de vaci-
nação.
Serviços médicos de reabilitação. Cuidados
terapêuticos sem internamento; inclui
centros de medicina natural, clínicas de
yoga, e centros de fisioterapia.
Serviços de Emergência médica. Serviços a
pessoas com necessidade de cuidados ime-
diatos; inclui serviços ambulatórios e cuida-
dos paramédicos de emergência, programas
de choque/trauma, serviços de ambulância.
ANEXO A: CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS ORGANIZAÇÕES NÃO LUCRATIVAS
35
GRUPO 4:
SERVIÇOS SOCIAIS
4 100 Serviços Sociais
Bem-estar na infância, serviços à infância e
cuidados de dia. Serviços à infância, adop-
ção, centros de desenvolvimento infantil,
inclui creches e jardins infantis.
Bem-estar na juventude e serviços à juven-
tude. Serviços à juventude, inclui serviços
de prevenção da delinquência, prevenção
da gravidez na adolescência, prevenção do
abandono escolar, centros e clubes para a
juventude; programas de emprego para a ju-
ventude; inclui Escuteiros, Guias, YMCA,
YWCM Big Brothers/Big Sisters.
Serviços às famílias. Serviços às famílias; in-
clui educação para a vida familiar/pais; or-
ganizações de apoio a pais solteiros, e abri-
gos e serviços para vítimas de violência.
Serviços para os deficientes. Serviços aos de-
ficientes; inclui lares, transportes, lazer/re-
creação, e outros serviços especializados.
Serviços aos idosos. As organizações que for-
necem cuidados de geriatria; inclui serviços
ao domicílio, transporte, lazer/recreação,
programas de refeições, e outros serviços
dirigidos aos cidadãos idosos. (Não inclui
lares residenciais)
Auto-ajuda e outros serviços sociais. Progra-
mas e serviços de auto-ajuda e desenvolvi-
mento pessoal; inclui grupos de apoio, acon-
selhamento pessoal, serviços de gestão de
dinheiro e de aconselhamento de crédito.
4 200 Emergência e Socorro
Prevenção e controlo de desastres/emergências.
Organizações que trabalham para preve-
nir, prever, controlar, e aliviar os efeitos de
desastres, educar ou de outras formas de
preparar os indivíduos a fazer face aos efei-
tos de desastres, proporcionar assistência a
vítimas de desastres; inclui associações de
bombeiros, serviços de socorros a náufra-
gos, etc.
Abrigos temporários. Organizações que pro-
porcionam abrigos temporários aos sem-
abrigo; incluindo ajuda a viajantes e habi-
tação temporária.
Assistência a refugiados. Organizações que
fornecem alimentação, roupa, abrigo e ser-
viços a refugiados e a imigrantes.
4 300 Apoio ao rendimento e manutenção
Apoio ao rendimento e manutenção. Orga-
nizações que dão assistência monetária e
outras formas de serviços directos a pessoas
incapazes de se sustentar.
Assistência material. Organizações que forne-
cem alimentação, roupa, transporte e outras
formas de assistência, incluindo bancos ali-
mentares e centros de distribuição de roupa.
GRUPO 5:
AMBIENTE
5 100 Ambiente
Prevenção e controlo da poluição. Organiza-
ções que promovem o ar limpo, água limpa,
redução e prevenção de poluição sonora,
controlo de radiação, tratamento de subs-
tâncias perigosas e tóxicas, gestão de resídu-
os sólidos e programas de reciclagem.
Conservação e protecção dos recursos na-
turais. Conservação e preservação de re-
cursos naturais, incluindo a terra, água,
energia, e outros recursos para uso geral e
fruição do público.
Embelezamento ambiental e de espaços aber-
tos. Jardins botânicos, arvoredo, progra-
mas de horticultura e serviços rela
cionados
com a paisagem; organizações promotoras
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
36
de campanhas contra o lixo; programas para
a preservação de parques, espaços verdes, e
espaços abertos em zonas rurais ou urbanas;
programas de embelezamento das cidades e
auto-estradas.
5 200 Protecção dos animais
Bem-estar e promoção dos animais. Serviços
de bem-estar e protecção dos animais; inclui
abrigos para os animais e sociedades protec-
toras.
Conservação e protecção da vida selvagem.
Conservação e protecção da vida selvagem;
inclui santuários e refúgios.
Serviços de veterinária. Hospitais de animais
e serviços de cuidados a animais domésticos
e de quinta.
GRUPO 6:
DESENVOLVIMENTO E HABITAÇÃO
6 100 Desenvolvimento Económico, So-
cial e Comunitário
Organizações comunitárias e de vizinhança.
Organizações promotoras da qualidade de
vida nas comunidades, ex. associações de
ocupantes ilegais de terras, organizações de
desenvolvimento local, cooperativas de pes-
soas pobres.
Desenvolvimento económico. Programas e
serviços de melhoria da infra-estrutura e ca-
pacidade económica; inclui infra-estruturas
como estradas; e serviços financeiros como
associações de crédito e poupança, progra-
mas de empreendedorismo, consultadoria
técnica e de gestão, assistência ao desenvol-
vimento rural.
Desenvolvimento social. Organizações que
trabalham para melhorar a infra-estrutura
institucional e a capacidade de aliviar os
problemas sociais e melhorar o bem-estar
público geral.
6 200 Habitação
Associações de habitação. Desenvolvimento,
construção, gestão, leasing, financiamento e
recuperação de habitações.
Assistência à habitação. Organizações que
ajudam na procura de casa, serviços legais,
e assistência relacionada.
6 300 Emprego e Formação
Programas de formação profissional. Organi-
zações que fornecem e apoiam programas de
estágio, formação no local de trabalho e ou-
tros programas de formação.
Aconselhamento e orientação profissional.
Aconselhamento e orientação profissional,
aconselhamento de carreira, testes, e servi-
ços relacionados.
Reorientação vocacional. Organizações que
promovem a auto-suficiência e a geração de
rendimento através de formação profissional
e emprego.
GRUPO 7:
LEI, ADVOCACIA/DEFESA DE CAUSAS
E POLÍTICA
7 100 Organizações cívicas e de defesa de
causas
Organizações de advocacia/defesa de causas.
Organizações que protegem os direitos e
promovem os interesses de grupos específi-
cos de pessoas, por ex. dos deficientes físicos,
dos idosos, das crianças e das mulheres.
Associações de direitos civis. Organizações
que trabalham para proteger ou preservar as
liberdades individuais e os direitos humanos.
ANEXO A: CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS ORGANIZAÇÕES NÃO LUCRATIVAS
37
Associações étnicas. Organizações que pro-
movem os interesses ou fornecem serviços
a membros que pertencem a uma herança
étnica especifica.
Associações cívicas. Programas e serviços
que encorajam e difundem a consciência
cívica.
7 200 Lei e Serviços legais
Serviços legais. Serviços legais, aconselha-
mento e assistência na resolução de dispu-
tas e em assuntos judiciais.
Prevenção do crime e política pública. Pre-
venção do crime para promoção da segu-
rança e de medidas de precaução junto dos
cidadãos.
Reabilitação de ofensores. Programas e
serviços para a reintegração de ofensores;
inclui casas de transição, programas de li-
berdade vigiada, e de liberdade condicio-
nal, prisões alternativas.
Apoio a vítimas: Serviços e aconselhamen-
to a vítimas de crime.
Associações de protecção dos consumidores.
Protecção dos direitos dos consumidores
e melhoria do controlo e qualidade dos
produtos.
7 300 Organizações políticas
Partidos e organizações políticas. Activida-
des e serviços de apoio à colocação de can-
didatos em lugares políticos; inclui disse-
minação de informação, relações públicas
e angariação de fundos.
GRUPO 8:
INTERMEDIÁRIOS FILANTRÓPICOS
E PROMOÇÃO DO VOLUNTARIADO.
8 100 Intermediários filantrópicos e
Promoção do voluntariado
Fundações “Grant-making”. Fundações
privadas; incluindo fundações empresa-
riais, fundações comunitárias e fundações
independentes de direito público.
Promoção e apoio ao voluntariado. Organi-
zações que recrutam, treinam e colocam
voluntários e promovem o voluntariado.
Organizações angariadoras de fundos. Or-
ganizações federadas, colectivas; inclui
lotarias.
GRUPO 9:
INTERNACIONAL
9 100 Actividades internacionais
Programas de intercâmbio/amizade/cul-
turais. Programas e serviços desenhados
para encorajar o respeito mútuo e a amiza-
de internacionalmente.
Associações de assistência ao desenvolvimen-
to. Programas e projectos que promovem
o desenvolvimento social e económico no
estrangeiro.
Organizações de assistência internacional
a situações de desastre. Organizações que
recolhem, encaminham e proporcionam
apoio a outros países em situações de de-
sastre ou emergência.
Organizações internacionais promotoras dos
direitos humanos e da paz. Organizações
que promovem e monitorizam internacio-
nalmente os direitos humanos e a paz.
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
38
GRUPO 10:
RELIGIÃO
10 100 Congregações e associações re-
ligiosas
Congregações. Igrejas, sinagogas, templo,
mesquitas, capelas, mosteiros, seminários
e organizações semelhantes que promo-
vem as crenças religiosas e levam a cabo
serviços e rituais religiosos.
Associações de congregações. Associações
e auxiliares de congregações religiosas e
organizações apoiantes e promotoras de
crenças religiosas, serviços e rituais.
GRUPO 11:
ASSOCIAÇÕES EMPRESARIAIS
E PROFISSIONAIS, E SINDICATOS
11 100 Associações Empresariais e Pro-
fissionais e Sindicatos
Associações empresariais. Organizações que
promovem, regulam e protegem os inte-
resses de ramos especiais dos negócios,
como por ex. associações de industriais,
associações de agricultores, associações de
bancos.
Associações profissionais. Organizações que
promovem, regulam e protegem interesses
profissionais, como por ex. associações de
advogados, associações de médicos.
Sindicatos. Organizações que promovem,
protegem e regulam os direitos e interesses
dos empregados.
GRUPO 12:
OUTROS
12 100 outros não especificados
39
is
important research project
is the result of the combined and tireless
efforts of researchers, data compilers, and
analysts over two years, to understand the
history, dimensions, and influence of the
nonprofit sector (NPS) in Portugal. e
project emerged through the combined vi-
sion and funding provided by four leading
Portuguese foundations, which understood
that the contribution of this vast sector to
the social, economic, and political develo-
pment of Portugal was largely unknown,
and its potential greatly undervalued. e
constructive forces of a vibrant nonprofit
sector are essential to the balanced develo-
pment of modern societies. is study will
finally bring these forces to light, to be un-
derstood, fairly valued, and to be nurtured
and reinforced for greater societal benefits
than ever before.
We four foundations, the Calouste Gul-
benkian Foundation, the Luso-American
Foundation, the Ilídio Pinho Foundation,
and the Aga Khan Foundation, are proud
that we helped make this research a reality.
e respect we share for the Center for Civil
Society Studies of Johns Hopkins Univer-
sity in the United States, and its Director,
Lester Salamon, who developed the resear-
ch methodology, applied in many countries
both inside the European Union and glo-
bally, gave confidence that this work would
result in innovative, reliable, and valuable
conclusions on the economic and social im-
pact of the sector in Portugal.
e challenge for responsible leadership is
now to understand how these findings and
conclusions should be used to advantage,
how to unleash the forces of the voluntary
sector, and how to mobilize and motivate
towards greater public involvement in the
nonprofit community. Furthermore, it is
incumbent on us to continue to chart the
growth of the NPS and institutionalize the
collection of data as part of the national
statistics collection process.
Our words of praise go to the work of the
Project Coordinator, Raquel Campos Fran-
co, and her team at the Faculty of Econo-
mics and Management at the Portuguese
Catholic University in Porto. Her steadfast,
professional commitment to this challenge,
her knowledgeable guidance, and untiring
persistence was our guarantee of full suc-
cess in this project. We also wish to ackno-
wledge the important contributions made
by the team at Johns Hopkins, particular-
ly Dr. S. Wojciech Sokolowski and Eileen
Hairel. We are grateful to all of them.
Calouste Gulbenkian Foundation
Luso-American Foundation
Ilídio Pinho Foundation
Aga Khan Foundation
PREFACE
39
ANEXOB
METODOLOGIA DO INQUÉRITO SOBRE
DOAÇÕES E VOLUNTARIADO
I. OBJECTIVO
O objectivo deste inquérito foi o de reco-
lher informação sobre doações, voluntaria-
do e outras formas de apoio a organizações
não lucrativas.
II. UNIVERSE
O universo é o dos residentes em Portugal
Continental, com 15 ou mais anos. As po-
pulações das Ilhas não foram incluídas.
III. AMOSTRA
1. O objectivo para a amostra era de 1400
questionários. Foi possível obter 1361 ques-
tionários válidos.
2. A amostra foi estratificada por 19 unida-
des administrativas (freguesias).
3. As unidades administrativas foram selec-
cionadas aleatoriamente em cada região do
Continente (NUTs II) tendo em consideração
a sua dimensão e carácter (rural ou urbano).
4. A unidade de sondagem foi o agregado
familiar. De forma a garantir aleatoriedade,
a selecção dos entrevistados foi feita através
da pessoa do agregado familiar que era a
próxima a celebrar aniversário.
IV. QUESTIONÁRIO
O instrumento de recolha da informação
foi um questionário estruturado, com per-
guntas fechadas.
V. ENTREVISTADORES
As entrevistas foram realizadas por 71
estudantes universitários, colaboradores
usuais do Centro de Estudos e Sondagens de
Opinião, que receberam formação especí-
fica para este trabalho, tendo sido supervi-
sionados por 23 coordenadores.
VI. DATA DE REALIZAÇÃO
As entrevistas foram realizadas entre 14 e
29 de Fevereiro de 2004.
VII. ERRO DE AMOSTRAGEM
O máximo erro da amostra com um
intervalo de confiança de 95% é de
±2.7%.
VIII. REPRESENTATIVIDADE
DA AMOSTRA
As tabelas seguintes avaliam a representa-
tividade da amostra em termos da distri-
buição por região, género e idade.
População Amostra Desvio
Urbano
Rural Total
Urbano
Rural Total
Urbano
Rural Total
Norte 18.9% 18.2% 37.1% 18.6% 14.7% 33.3% -0.3% -3.5% -3.8%
Centro 7.8% 10.7% 18.5% 7.6% 11.7% 19.3% -0.1% 1.0% 0.8%
Lisboa e Vale
do Tejo 30.3% 4.8% 35.1% 31.7% 4.4% 36.1% 1.4% -0.4% 1.0%
Alentejo 2.5% 3.0% 5.5% 3.2% 3.3% 6.5% 0.8% 0.3% 1.0%
Algarve 2.9% 0.9% 3.8% 3.2% 1.6% 4.8% 0.3% 0.7% 1.0%
Total 62.3% 37.7% 64.3% 35.7% 2.0% -2.0%
REGIÃO:
O SECTOR NÃO LUCRATIVO PORTUGUÊS NUMA PERSPECTIVA COMPARADA
40
Género População Amostra Desvio
Masculino 47.6% 42.1% -5.5%
Feminino 52.4% 57.9% 5.5%
GÉNERO:
Grupos etários População Amostra Desvio
15-24 anos 16.5% 15.2% -1.3%
25-34 anos 17.6% 17.2% -0.3%
35- 44 anos 17.1% 17.6% 0.5%
45-54 anos 15.5% 16.4% 0.9%
55-64 anos 13.2% 15.7% 2.4%
65 e mais anos 20.1% 17.8% -2.2%
IDADE:
41
is
important research project
is the result of the combined and tireless
efforts of researchers, data compilers, and
analysts over two years, to understand the
history, dimensions, and influence of the
nonprofit sector (NPS) in Portugal. e
project emerged through the combined vi-
sion and funding provided by four leading
Portuguese foundations, which understood
that the contribution of this vast sector to
the social, economic, and political develo-
pment of Portugal was largely unknown,
and its potential greatly undervalued. e
constructive forces of a vibrant nonprofit
sector are essential to the balanced develo-
pment of modern societies. is study will
finally bring these forces to light, to be un-
derstood, fairly valued, and to be nurtured
and reinforced for greater societal benefits
than ever before.
We four foundations, the Calouste Gul-
benkian Foundation, the Luso-American
Foundation, the Ilídio Pinho Foundation,
and the Aga Khan Foundation, are proud
that we helped make this research a reality.
e respect we share for the Center for Civil
Society Studies of Johns Hopkins Univer-
sity in the United States, and its Director,
Lester Salamon, who developed the resear-
ch methodology, applied in many countries
both inside the European Union and glo-
bally, gave confidence that this work would
result in innovative, reliable, and valuable
conclusions on the economic and social im-
pact of the sector in Portugal.
e challenge for responsible leadership is
now to understand how these findings and
conclusions should be used to advantage,
how to unleash the forces of the voluntary
sector, and how to mobilize and motivate
towards greater public involvement in the
nonprofit community. Furthermore, it is
incumbent on us to continue to chart the
growth of the NPS and institutionalize the
collection of data as part of the national
statistics collection process.
Our words of praise go to the work of the
Project Coordinator, Raquel Campos Fran-
co, and her team at the Faculty of Econo-
mics and Management at the Portuguese
Catholic University in Porto. Her steadfast,
professional commitment to this challenge,
her knowledgeable guidance, and untiring
persistence was our guarantee of full suc-
cess in this project. We also wish to ackno-
wledge the important contributions made
by the team at Johns Hopkins, particular-
ly Dr. S. Wojciech Sokolowski and Eileen
Hairel. We are grateful to all of them.
Calouste Gulbenkian Foundation
Luso-American Foundation
Ilídio Pinho Foundation
Aga Khan Foundation
PREFACE
41
ANEXOC
CLUSTERS DE PAÍSES
Anglo-Saxónicos
Austrália América Latina
Estados Unidos Argentina
Reino Unido Brasil
Colômbia
Estados Providência Nórdicos México
Finlândia Perú
Noruega
Suécia África
Quénia
Parceria Welfare / Bem estar
Estilo Europeu África do Sul
Alemanha Tanzânia
Áustria Uganda
Bélgica
Canadá Europa Central e de Leste
Espanha Eslováquia
França Hungria
Holanda Polónia
Irlanda República Checa
Israel Roménia
Itália
Portugal Outros em Desenvolvimento
Egipto
Ásia Industrializada Filipinas
Japão India
República da Coreia Marrocos
Paquistão
... En todos estos antecedentes emerge un argumento en favor de una cierta unidad de Sur de Europa, a raíz de las parecidas respuestas que dan los autores de estos países a la importante investigación comparativa internacional promovida por los norteamericanos Lester Salmon y Helmut Anheier sobre el tercer sector, primero aplicada en doce países y luego extendida a treinta y dos. Archambault (Archambault, 1996) para Francia, Barbetta (Barbetta, 1996), para Italia, Franco (Franco, 2005), para Portugal y Ruiz de Olabuenaga (Ruiz de Olabuenaga, 2000) para España coinciden en explicar que deben modificar algunos de los criterios generales de la investigación para adaptarlos a sus respectivas realidades y dedicar partes consistentes de sus trabajos a la evolución histórica del tercer sector. Y por lo tanto deben incorporar los itinerarios de la evolución de las asociaciones, cooperativas, mutualidades y otras formas de organización colectiva. ...
Article
En este trabajo se analiza de manera comparada la historia de la economía social en el Sur de Europa, con algunas incursiones en Latinoamérica. La matriz geográfica y cultural será el mundo latino donde aparecen convergencias que inciden en la evolución del asociacionismo, del mutualismo y del cooperativismo desde inicios del siglo XIX hasta los años treinta del XX. En una primera parte, más teórica, se plantea la confluencia de una visión crítica de las ciencias sociales y de la historia social con el resurgimiento de la economía social, así como algunos antecedentes y dificultades que ello comporta. En la segunda parte se descubre su uso parecido en Portugal, España, Francia e Italia del concepto de economía social en el XIX; el papel de la ley y la fuerza de los movimientos asociativos populares.
... Throughout the twentieth century, philanthropy operated in Portugal mainly through an alliance between the State, the Church and several rural elites, with a vocation of charity; however, there were significant exceptions, such as the Calouste Gulbenkian Foundation, founded in 1953 (Nóvoa & Ó, 2007). Only after 1974, with the transition to democracy, did civil society organisations begin to emerge, which partly explains why Portugal, at the beginning of the twenty-first century, had a smaller third sector than other Western European countries (Franco, Sokolowski, Hairel, & Salamon, 2005). Nevertheless, recent research has shown that philanthropic foundations in Portugal are increasing in number, they are seeking to withdraw financial or social profits from investments, and they are becoming key players for entrepreneurship and social innovation (Bastos, 2015;Ferreira, 2013). ...
Article
This paper addresses the ways through which new philanthropy in education is being enacted in Portugal, focusing on one of its significant imaginaries: social inclusion. We analyse EPIS (Entrepreneurs for Social Inclusion), a top association dedicated to corporate philanthropy with a growing presence in the education system. Drawing on Popkewitz’s concept of fabrication, it examines EPIS’ programmes and deliverables as technologies that constitute social inclusion as an object of policy, knowledge and practice, targeting students (transforming ‘at-risk’ students into entrepreneurs), teachers and schools (transforming their cultures to become performance-oriented), and the relationship between State and non-State actors (fostering the State’s adoption of a rule-following role, dependent on knowledge generated by non-State actors). This paper suggests that new philanthropies’ social inclusion imaginary enacts a system of reason that promulgates results-oriented and evidence-based approaches to educational policy and knowledge.
... Parente et al. (2012) contrast the Portuguese situation with the international context, underlining the fragility of the national welfare system and the attendant risk of Portuguese young people failing to fully realise their entrepreneurial potential. These authors also stress that Portugal lacks access to philanthropic sources of capital and other non-profit organisations in contrast to countries such as the United States; this is something that increases the need to develop different means of fostering youth entrepreneurialism, which may include initiatives within a potential 'third sector' (also called social economy) involving the state, religious organisations and other welfare entities: this is referred to by Parente et al. (2012: 119) as 'social entrepreneurship' (see Santos, 1993;Ferreira, 1996;Franco et al., 2005). ...
... O terceiro sector tem uma abrangência muito vasta e, leva a que este abarque organizações prestadoras de serviços complementares aos serviços públicos, enquadrados em áreas como a saúde, educação e serviços sociais. Estas organizações disponibilizam instrumentos que permitem aos indivíduos juntarem-se, por forma a colmatarem as necessidades das comunidades, almejando também interesses individuais e de grupo (Franco et al. 2005). ...
Article
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Este artigo estuda o tratamento contabilístico das Entidades do Setor Não Lucrativo, encontrando-se as regras definidas na Norma Contabilística e de Relato Financeiro para as Entidades do Sector Não Lucrativo (NCRF-ESNL). Assim, numa primeira parte deste trabalho faremos um enquadramento das entidades do setor não lucrativo, enquadrando este setor, com os setores privado e público. Posteriormente foi feita uma pequena resenha sobre a evolução da contabilidade em Portugal. Será analisado o preceituado pela NCRF-ESNL, apresentando uma questão, alvo de opiniões diversas e polémicas, defendidas por vários autores: o reconhecimento dos bens do património, histórico, artístico e cultural (BPHAC). De facto, iremos demonstrar que nem sempre, o reconhecimento destes itens, apresenta os requisitos necessários para que os mesmos possam ser considerados como ativos. A problemática deste conceito, é muito simples. Será que os BPHAC, cumprem, em geral o conceito de ativo, devendo ser reconhecidos como tal? Trata-se de um estudo de caso, privilegiando a análise documental, cedida pela entidade alvo deste estudo, uma Associação. Foi feita uma análise comparativa entre as demonstrações financeiras, onde seriam reconhecidos os BPHAC como ativos fixos, e demonstrações financeiras em que os BPHAC não estariam reconhecidos. Concluiu-se que os bens do património, histórico, artístico e cultural devem ser reconhecidos como ativos, pois melhoram a qualidade das demonstrações financeiras, e consequentemente dos seus indicadores financeiros.
... FRANCO, R. C. et al. (2005). O Setor Não Lucrativo Português Numa Perspetiva Comparada. ...
Article
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As Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) desempenham um papel fulcral na nossa sociedade, na resposta aos mais significativos problemas sociais vigentes. Tendo em conta a limitação de recursos que as IPSS geralmente dispõem para a prossecução da sua missão social, a otimização dos processos assume um papel fundamental, de entre os quais se poderão incluir os processos aquisitivos. Este artigo tem como objetivo entender a forma como as IPSS do Alto Minho desenvolvem os processos de compra e analisar em que medida recorrem a instrumentos como serviços partilhados ou centrais de compras como forma de otimização de custos no processo aquisitivo. Através da análise a um inquérito por questionário aos responsáveis das organizações, observa-se que estas entidades apesar de disporem de algum conhecimento sobre os conceitos de serviços partilhados e centrais de compras, ainda não encetaram a sua implementação, seja por motivos de desconhecimento ou pela inexistência de respostas no território.
... The term "Social Economy" first appeared in Europe-more specifically in Francein the 19th century (Barros 2015 [4], Bandeira et al., 2020 [2]). Franco (2008) [5] Barros (2015) [4] and Bandeira et al. (2020) [2] attribute the authorship of this expression to Charles Gide (1847-1932), according to whom this sector is like a branch of economic science that brings together three movements-cooperative, mutualist and associativeoriginating from civil society, which aim to imbue the living conditions of the population with initiatives of solidarity and redistributive action of State resources. ...
Article
Full-text available
The development of the non-profit sector (NPS) in Portugal has been gaining relevance in recent times, particularly in the form of institutions whose purpose is to broaden and increase the response to the needs of the most needy and socially vulnerable citizens. The financing of Portuguese non-profit sector entities is essentially made up of income from their activity, donations and public or governmental support. Therefore, these entities face increasing pressure from their funders, users and citizens in general for a greater dissemination of good practices regarding the social impact they have on the community; in particular, they are increasingly required to be transparent in their activities. The main objective of this study was to analyse the level of accountability and transparency of the private social solidarity institutions (IPSS) of the municipality of Porto. To this end, the websites of these institutions were analysed, using a qualitative and quantitative methodology, using the application of the transparency index Enhancement of an Accountability Guide for Learning E-Government, proposed by Santos, Ferreira, Marques and Azevedo (2018). This analysis allowed us to verify that there are still a considerable number of entities that do not have an institutional website, and those that do, have a low level of transparency.
Chapter
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This chapter is part of the book that deals with the evolution of initiatives related to the social and solidarity economy, their political cultures, and educational implications in Southern Europe and Latin America. Using a comparative perspective, the contributors present 11 studies of these trajectories in Argentina, Chile, Portugal, France, Italy, Spain, and Catalonia, aiming to generate familiarity with social tributary practices and projects in the Latin world. As the cyclical crises of capitalism and their consequent inequalities have led to reform proposals and their implementation, certain shared ideological influences and policies have emerged in these societies. In contrast to the interpretative schemes used for the Anglo-Saxon sphere, which have been the usual reference in international research, this volume's geographical and cultural matrix of analysis helps to fill a long-standing gap in this field. The book will be of interest to scholars, educators, and students specializing in the history and political science of the social and solidarity economy sectors, as well as professionals involved in cooperatives, mutual aid societies, and associations.
Book
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This book deals with the evolution of initiatives connected to the social and solidarity economy and their political cultures and educational implications in the south of Europe and in Latin America. Employing a comparative perspective, the contributors present 11 studies of these trajectories in Argentina, Chile, Portugal, France, Italy, Spain, and Catalonia in order to engender familiarity with social tributary practices and projects in the Latin world. As the cyclical crises of capitalism and their resulting inequalities have created proposals of reform and brought them into action, certain shared ideological influences and policies have emerged across these societies. Faced with the interpretative schemes used for the Anglo-Saxon sphere, which have been the usual reference in international research, this volume’s geographical and cultural matrix of analysis helps fill a longstanding gap in this field. The book will be of interest to scholars, educators, and students specialising in the history and political science of the social and solidarity economy sectors, as well as professionals involved in cooperatives, mutual aid societies, and associations.
Chapter
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One of the distinguishing features of the cooperative movement and, in general, initiatives linked to the social and solidarity economy is the importance attributed to education. To the extent that they share the aim of a more or less profound social transformation, they consider that education that improves people's participatory and critical capacity plays a fundamental role. As described below, in recent decades proposals for implementing cooperative learning (CL) in schools have substantially increased in many countries, but the predominant trend is not connected with projects for social change. Such projects do not identify significantly with CL practices that do not fully incorporate cooperative values. Within this general framework, this chapter aims to reflect on the conceptualisation and impact of the Anglo-Saxon concept of “cooperative learning”, which clearly predominates in Spanish and Italian schools that apply cooperation between pupils, and contrast it with the francophone concept of “pédagogies coopératives”. To conclude, it examines areas in which CL could converge with the social and solidarity economy.
Article
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A sustentabilidade é um objetivo inadiável de organizações solidárias, enquadradas no setor da Economia Social. O reduzido nível de intervenção social do Estado e as elevadas desigualdades de rendimento e fragilidade da sociedade civil perpetuam altos níveis de pobreza. Para tornar a sustentabilidade uma meta alcançável, e estribado num estudo de caso múltiplo, o artigo argumenta que as organizações solidárias podem posicionar-se como beneficiárias dos ativos disponibilizados por entidades mercantis, através de programas de cidadania organizacional. Os benefícios potenciais são, porém, acompanhados por riscos de que as organizações solidárias devem estar preparadas para minimizar ou eliminar. Com este quadro em mente, o artigo procura desconstruir o tradicional cisma axiomático entre o universo com fins lucrativos e sem fins lucrativos e propõe que parcerias entre organizações de âmago tão distinto possam ser mutuamente benéficas.
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