Nota prévia A experiência histórica de Maringá, fundada em 1947 e emancipada politicamente em 1951, tem sido objeto de rica e diversificada bibliografia acadêmica. Fruto da lavra de pesquisadores vinculados à Universidade Estadual de Maringá 1 ou a outras instituições científicas locais e de outros quadrantes, tal produção se estende às várias áreas do conhecimento: A gênese da bibliografia sobre Maringá remete, entretanto, a um título não acadêmico, produzido em 1957 e publicado em 1961, intitulado Terra crua 2 , de autoria de um agente político local, o advogado e ex-vereador Jorge Ferreira Duque Estrada. Esse livro pode ser considerado tanto o primeiro a ser escrito em Maringá quanto o primeiro a versar sobre sua história. Nele acham-se amalgamados diversos gêneros literários. Páginas autobiográficas mesclam-se com descrições da ordem social e política numa frente de colonização norte-paranaense. Pequenos ensaios de caracterização psicológica de alguns indivíduos justapõem-se a tentativas de tipologias coletivas um tanto ambiciosas. Tudo percorrido, nem sempre de forma explícita, por uma busca do sentido da própria existência em meio à busca pelo significado da existência de todos em uma pequena, mas frenética, cidade de fronteira. Este artigo dedica-se a analisar o livro Terra crua. O interesse não decorre, porém, apenas de seu pioneirismo. A motivação foi gerada por três fatores. Primeiro, suas características fogem do padrão de crônicas sobre experiências de frentes pioneiras consideradas bem-sucedidas, regra geral comprometidas com a sedimentação de uma memória homogeneizadora e asséptica. Segundo, direta ou indiretamente, exerceu comprovada influência na produção posterior, incluindo a acadêmica. Terceiro, não obstante suas ressonâncias, suas estruturas internas e narrativas não foram objeto de uma análise sistemática.