Século XXI. Um século de contradições assentes. Ainda se constata a ocorrência de crimes famélicos (os populares roubos de galinha e afins), que eram punidos de maneira incisiva até o último quartil do século passado (embora, ainda haja quem os persiga com rigor, nos dias atuais). De maneira paralela, esses crimes decorrentes da pobreza coexistem com novas modalidades, como os furtos de centavos em contas de pessoas comuns ou empresas, que, ao fim, somam milhares ou milhões, gerando danos individuais imperceptíveis que, coletivamente, representam um mal gravíssimo à coletividade. As armas brancas, transmutadas em armas de fogo (cada vez mais presentes nas vidas comuns), hoje, concorrem com mouses, tablets e smartphones, igualmente utilizados como instrumentos criminosos, nas mãos de especialistas. As fronteiras, anteriormente defendidas a ferro e fogo por uma ideia de legalidade e um espírito de nacionalidade (ainda, utilizado em muitos discursos políticos), se encontram, cada vez mais, fragilizadas pela capacidade de interconexão, que promove trocas de saberes e práticas que, certamente, revolucionam o crime local e, dessa forma, minam a capacidade de controle e combate por parte dos órgãos de segurança pública ainda presos em seus limites territoriais. A sociedade mudou. O crime também. Por essa simples razão, os órgãos de segurança e cientistas da área também devem mudar. Novas pesquisas não são somente necessárias, mas, fundamentais à reconstrução da capacidade do Estado em reagir às novas ameaças. Compreender a segurança de maneira mais ampla e abrangente, bem como, observá-la diante de inúmeros fenômenos para além do crime, é essencial a esse movimento. Nesse sentido, a presente obra engloba um conjunto de estudos, desenvolvidos por pesquisadores brasileiros, voltados à construir breves contribuições à (re)construção da ideia de segurança pública no Brasil. Espera-se que a mesma seja uma semente. Que frutifique, pois! Que seja uma instigação a (novos ou não) pesquisadores, no sentido de multiplicar pesquisas, sempre, na busca pela compreensão de problemas e construção de um mundo melhor. Os autores.