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BARROSO, João (1996). O estudo da autonomia da escola: da autonomia decretada à autonomia construída. In: João Barroso, org. O Estudo da Escola. Porto: Porto Editora, pp. 167-189.

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Abstract

Introdução Uma das influências mais significativas do estudo da escola na tomada de decisão política diz respeito ao modo como têm sido apropriados alguns dos resultados da investigação produzida sobre os "efeitos da escola" e das "escolas eficazes". Uma interpretação normativa de muitos desses estudos tem servido para legitimar, em vários países, medidas de política educativa que visam generalizar, por via administrativa, as características identificadas nas chamadas "escolas eficazes". Entre essas medidas destacam-se as que procuram desenvolver a autonomia da escola na alocação e distribuição de recursos, reforçar o "sentido de gestão" no desempenho dos diversos cargos, aumentar a participação local no governo da escola. e desenvolver dispositivos de avaliação externa. Em alguns países anglo-saxônicos (com particular incidência no Reino Unido, na Austrália. na Nova Zelândia, nos Estados Unidos) estas medidas aparecem integradas em reformas globais da administração e gestão das escolas. designadas por school based management (ou local management of schools). De um modo geral (e embora a situação varie bastante de país para país), estas reformas associam às medidas atrás enunciadas outras medidas mais amplas, com claro sentido I de introduzir a concorrência no sector público educativo. Entre essas medidas destaca-se.a "desectorização", ou seja, a possibilidade de os pais poderem escolher livremente a escola em que matriculam os seus filhos. A investigação que tem sido realizada sobre as escolas abrangidas por estas reformas e sobre as políticas que as inspiram, se não tem sido conclusiva quanto aos seus resultados (nomeadamente no que diz respeito às aprendizagens dos alunos), deu lugar, contudo. ao aparecimento de uma corrente profundamente crítica dos princípios e critérios de racionalidade subjacentes às medidas de "gestão centrada na escola". Esta perspectiva crítica, predominantemente sociológica, desenvolve uma abordagem sociopolítica. ideológica e cultural das medidas ligadas ao school based management, questionando-as em dois pontos essenciais:  (...) políticas neoliberais que visam promover um "mercado da educação " através de modalidades encobertas de privatização da escola pública;  a introdução, sob pretexto de aumentar a "eficácia" e a "eficiência" da escola, de uma outra tecnologia de controlo e dominação, através das estruturas organizativas e modos de gestão que são postos em prática. O impacto que esta corrente crítica tem tido na literatura sobre as organizações e administração educativas (dominada por autores de língua inglesa) é bastante acentuado e estendeu-se a países onde o contexto político e educativo é bastante diferente dos países de que são oriundos os seus autores originais. No que se refere ao estudo da escola, esta abordagem critica permitiu fazer a ruptura teórica e metodológica, com o paradigma científico-racional que tradicionalmente dominava a análise da sua organização c administração. As escolas passam a ser vistas como construções sociais. É valorizado, na sua análise, o papel dos indivíduos e o contexto social c histórico da sua ação. São abandonadas as metodologias "positivistas" e desenvolvem-se os estudos "etnográficos". São postos em causa os princípios da racionalidade administrativa c defende-se o "primado dos valores sobre os factos", na gestão das organizações educativas. A adoção de uma perspectiva crítica no estudo da autonomia da escola obriga, por isso, a distinguir as várias lógicas presentes no processo de devolução de competências aos órgãos de governo da escola, separando dois níveis de análise: a autonomia decretada e a autonomia construída. No primeiro caso, trata-se de desconstruir os discursos legitimadores das políticas de descentralização e de autonomia das escolas, interpretando as formas e fundamentos das medidas que são propostas e, ao mesmo tempo, confrontando-as com as estruturas existentes e as contradições da sua aplicação prática. No segundo caso, trata-se de reconstituir os "discursos" das práticas, através de um processo de reconhecimento das formas de autonomia emergentes no funcionamento das escolas, nas estratégias e na acção concreta dos seus actores.
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BARROSO, João. O estudo da autonomia da escola: da autonomia decretada à autonomia
construída. In BARROSO, João. O estudo da Escola. Porto: Porto Ed., 1996.
O ESTUDO DA AUTONOMIA DA ESCOLA:
DA AUTONOMIA DECRETADA À AUTONOMIA CONSTRUÍDA.
João Barroso
Introdução
Uma das influências mais significativas do estudo da escola na tomada de decisão política diz respeito ao
modo como têm sido apropriados alguns dos resultados da investigação produzida sobre os "efeitos da escola" e das
"escolas eficazes".
Uma interpretação normativa de muitos desses estudos tem servido para legitimar, em vários países,
medidas de política educativa que visam generalizar, por via administrativa, as características identificadas nas
chamadas "escolas eficazes".
Entre essas medidas destacam-se as que procuram desenvolver a autonomia da escola na alocação e
distribuição de recursos, reforçar o "sentido de gestão" no desempenho dos diversos cargos, aumentar a participação
local no governo da escola. e desenvolver dispositivos de avaliação externa.
Em alguns países anglo-saxônicos (com particular incidência no Reino Unido, na Austrália. na Nova
Zelândia, nos Estados Unidos) estas medidas aparecem integradas em reformas globais da administração e gestão
das escolas. designadas por school based management (ou local management of schools).
De um modo geral (e embora a situação varie bastante de país para país), estas reformas associam às
medidas atrás enunciadas outras medidas mais amplas, com claro sentido I de introduzir a concorrência no sector
público educativo. Entre essas medidas destaca-se.a "desectorização", ou seja, a possibilidade de os pais poderem
escolher livremente a escola em que matriculam os seus filhos.
A investigação que tem sido realizada sobre as escolas abrangidas por estas reformas e sobre as políticas
que as inspiram, se não tem sido conclusiva quanto aos seus resultados (nomeadamente no que diz respeito às
aprendizagens dos alunos), deu lugar, contudo. ao aparecimento de uma corrente profundamente crítica dos
princípios e critérios de racionalidade subjacentes às medidas de "gestão centrada na escola".
Esta perspectiva crítica, predominantemente sociológica, desenvolve uma abordagem sociopolítica.
ideológica e cultural das medidas ligadas ao school based management, questionando-as em dois pontos essenciais:
(...) políticas neoliberais que visam promover um "mercado da educação " através de modalidades
encobertas de privatização da escola pública;
a introdução, sob pretexto de aumentar a "eficácia" e a "eficiência" da escola, de uma outra tecnologia de
controlo e dominação, através das estruturas organizativas e modos de gestão que são postos em prática.
O impacto que esta corrente crítica tem tido na literatura sobre as organizações e administração educativas
(dominada por autores de língua inglesa) é bastante acentuado e estendeu-se a países onde o contexto político e
educativo é bastante diferente dos países de que são oriundos os seus autores originais.
No que se refere ao estudo da escola, esta abordagem critica permitiu fazer a ruptura teórica e
metodológica, com o paradigma científico-racional que tradicionalmente dominava a análise da sua organização c
administração. As escolas passam a ser vistas como construções sociais. É valorizado, na sua análise, o papel dos
indivíduos e o contexto social c histórico da sua ação. São abandonadas as metodologias "positivistas" e
desenvolvem-se os estudos "etnográficos". São postos em causa os princípios da racionalidade administrativa c
defende-se o "primado dos valores sobre os factos", na gestão das organizações educativas.
A adoção de uma perspectiva crítica no estudo da autonomia da escola obriga, por isso, a distinguir as
várias lógicas presentes no processo de devolução de competências aos órgãos de governo da escola, separando dois
níveis de análise: a autonomia decretada e a autonomia construída.
No primeiro caso, trata-se de desconstruir os discursos legitimadores das políticas de descentralização e de
autonomia das escolas, interpretando as formas e fundamentos das medidas que são propostas e, ao mesmo tempo,
confrontando-as com as estruturas existentes e as contradições da sua aplicação prática.
No segundo caso, trata-se de reconstituir os "discursos" das práticas, através de um processo de
reconhecimento das formas de autonomia emergentes no funcionamento das escolas, nas estratégias e na acção
concreta dos seus actores.
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O presente texto pretende ser um contributo inicial para a uma reflexão sobre a "autonomia da escola" que
tenha em conta a articulação entre estes dois registros. Esta articulação é necessária, não só ao nível da investigação,
para uma correcta configuração da "autonomia" como ohjecto de estudo, mas também ao nível da acção política,
para que a "regulamentação legal da autonomia das escolas" seja entendida, mais como destinando-se - a criar
espaços de possibilidades e de indagação, do que uma forma de impor respostas fechadas a problemas que não são
os reais problemas das escolas.
Assim, numa primeira parte, procurarei fazer uma breve síntese dos pressupostos e estratégias subjacentes
às medidas políticas que têm tentado impor pela via administrativa uma "certa" autonomia às escolas, tomando
como exemplo"a gestão centrada na escola" tal como vem sendo posta em prática em alguns países anglo-saxônicos.
Nesse sentido, depois de caracterizar, com base nas experiências desses países, o que o school based
management, irei pôr em evidência os pressupostos em que se baseia! estas políticas, distinguindo dois tipos de
fundamentações: científico-pedagógica e político-gestionária.
Importa, contudo, ressalvar, desde já, que esta análise não deve ser extrapolada acriticamente para a
realidade de outros países (com contextos políticos e econômicos diferentes como é o caso de Portugal), embora
possa fornecer alguns indícios interessantes para interrogar as medidas que, também aí, vêm sendo tomadas sobre a
"autonomia das escolas".
Numa segunda parte. tentarei enunciar alguns dos princípios que sustentam este conceito de "autonomia
construída", mostrando as suas implicações para a construção de uma política adequada às exigências pedagógicas e
profissionais da organização e administração da escola.
A "autonomia decretada"
Desde os finais da década de 80 que se tem assistido em vários países a uma alteração significativa do
papel do Estado nos processos de decisão política e de administração da educação.
De um modo geral, pode dizer-se que essa alteração vai no sentido de transferir poderes e funções do
nível nacional e regional para o nível local, reconhecendo a escola como um lugar central de gestão e a comunidade
local (em particular os pais dos alunos) como um parceiro essencial na tomada de decisão.
Esta alteração afecta países com sistemas políticos e administrativos bastante distintos e tem no reforço da
autonomia da escola uma das expressões mais significativas.
Embora esta tendência para o reforço da autonomia da escola seja geral, importa
assinalar que ela se traduz de modos e com graus muito diferentes, conforme a realidade política
e a tradição administrativa dos diversos países.
O SCHOOL BASED MANAGEMENT
Um dos exemplos mais significativos deste movimento tem ocorrido em vários países de língua inglesa
(em particular nos Estados Unidos, algumas províncias do Canadá, na Inglaterra e País de Gales, na Austrália e na
Nova Zelândia) e tem sido designado por School Based Management (ou school self-management ou local
management of schools).
Existe hoje, nesses países, uma abundante literatura que toma como objecto de descrição e de análise as
transformações introduzidas na gestão do sistema e das escolas pelo School Based Management e que faz deste tema
uma das linhas de investigação mais activas, no domínio da administração educacional (ver, entre outros, Brown,
1990, HilI, Smith e Spinks, 1990, Caldwell e Spinks, 1992, Smyth, 1993, Sackney e Dibski, 1994, Levacic, 1995).
Grande parte destas medidas foi tomada no contexto de reformas educativas mais vastas, de que a mais
conhecida é o Education Reform Act de 1988, na Inglaterra e País de Gales, mas em que a mais "radical" (do ponto
de vista das mudanças introduzidas) é reforma da Nova Zelândia executada na seqüência do relatório da Task Force
to Review Education Administration, dirigido pelo Professor Picot, em 1988, e cujas principais propostas foram
adoptadas pelo Governo e publicadas no livro Tomorrow’s Schools (New Zealand, Ministry of Education, 1988).
Nos Estados Unidos, o movimento tem atingido de maneira diferente os vários "distritos escolares" e
aparece ultimamente associado (a partir dos anos 90) a um outro movimento que dá pelo nome de charters schools.
Apesar de existirem grandes diferenças no tipo e grau de poderes que são transferidos para as escolas,
bem como nos órgãos que são destinatários desses poderes (director ou conselho da escola), pode dizer-se que, no
domínio dos princípios, as medidas tomadas em vários países tendentes a introduzir o School Based Management se
integram na definição dada por Brown (1990) a partir da investigação que realizou em vários distritos escolares
americanos e províncias canadenses onde decorriam experiências deste tipo:
"Como manifestação de descentralização, significa simplesmente que as escolas têm dinheiro suficiente
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para prover as suas necessidades em abastecimentos e equipamentos, pessoal, manutenção e
eventualmente outros serviços, de acordo com a sua própria avaliação do que é mais adequado. A
autoridade para as escolas poderem tomar decisões sobre esta matéria não é compatível com as práticas
estandardizadas, em vigor na maior parte dos distritos escolares que exigem que decisões deste tipo sejam
tomadas a nível central. Uma mudança em direcção ao School Based Management implica um aumento
da flexibilidade do processo de decisão, mudanças na prestação de contas (principalmente por parte do
chefe do estabelecimento de ensino) e o reforço do potencial de produtividade da escola" (p. vii).
Um dos elementos centrais deste tipo de gestão consiste, como assinala Caldwell (1993), na possibilidade
de as escolas poderem decidir da alocação de recursos (conhecimento, tecnologia, poder, materiais, pessoas, tempo e
dinheiro) em função de parâmetros definidos centralmente e cuja execução é controlada por um sistema de
"prestação de contas" à autoridade central.
Mas, além desta autonomia na gestão dos recursos, o School Based Management integra, muitas vezes,
outros elementos, como por exemplo: descentralização e desburocratização dos processos de controlo; a partilha de
decisões no interior da escola; o aumento da influência dos pais no processo de tomada de decisões na escola; e. em
alguns casos, a possibilidade dos pais poderem escolher livremente a escola onde querem colocar os seus filhos,
com o fim de lançar a concorrência entre as escolas.
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Para Levacic (1995), as diferentes formas de que se reveste o School Based Management definem-se em
função da configuração que é dada aos seguintes elementos-chave:
- os órgãos para quem o poder de decisão e responsabilidade são descentralizados (directores, professores,
pais, comunidade local e sector econômico);
- os domínios de gestão em que esse poder descentralizado pode ser exercido (orçamento, recursos físicos,
professores, recrutamento de estudantes, currículo);
- as formas de regulação através das quais se exerce o controlo sobre os decisores locais ("usos de recursos" -
auditoria financeira, qualificação e salário dos professores, leis de trabalho, dimensão das turmas, normas de
construção; "especificação de produtos" - currículo nacional, testes nacionais e indicadores de qualidade,
inspecção: "condições de mercado" - saídas e entradas de alunos; admissão de alunos; publicação de
informação acerca da performance da escola).
Os pressupostos em que assenta o School Based Management nos países em que tem sido aplicado podem
resumir-se nas seguintes permissas (ver Sackney e Dibski. 1994):
- o principal problema que afecta as escolas, hoje em dia, é provocado pelo centralizado e burocratizado
sistema de controlo que se exerce sobre elas. Este sistema é incompatível com a existência de organizações
profissionais;
- o School Based Management é apresentado como uma proposta de desburocratização do sistema de
controlo e como uma forma de tomar a escola mais adaptada (flexiva) às necessidades dos seus clientes.
Mas o School Based Management é visto, também, como uma forma de racionalização da gestão das
escolas, como é possível reconhecer na descrição que Levacic (1995) faz do que ele considera ser "uma boa prática
deste tipo de gestão":
"Num tal modelo a escola é gerida através de orientações racionais com o conselho de escola (governing
body) a assegurar um papel de liderança na articulação entre metas e objectivos. O conselho de escola
actua ao nível da gestão estratégica utilizando as informações fornecidas pelo director.
Com base nestas informações, o conselho de escola e os gestores de topo desenvolvem o planejamento
estratégico, em que o orçamento constitui um elemento essencial. O orçamento é determinado em função
dos ohjectivos educacionais que devem ser assegurados. A execução do orçamento e de outras políticas é
monitorada e avaliada pelo conselho de escola utilizando a informação fornecida pelo director da escola.
Por sua vez, o director assegura que os professores estão devidamente envolvidos no processo de decisão,
o que permite aumentar a qualidade da informação obtida, promover uma cultura escolar integrativa e
assegurar o apoio necessário à realização das metas, objectivos e políticas da escola.
Deste modo, uma boa prática do School Based Managemen utiliza os três grandes modelos de decisão na
escola: o racional, o hierárquico ou burocrático e o colegial ou colaborativo."' (p. 111)
Esta preocupação pela racionalização da gestão é visível, igualmente, na descrição que HiII, Smith e
Spinks (1990) fazem das práticas e processos de self-management introduzidas em muitas escolas da Austrália,
Nova Zelândia e Reino Unido:
"School Self-Management implica uma abordagem sistemática do processo de decisão. Ele permite, além
disso, uma adequada participação, como 'governadores', dos pais, alunos, professores e outras partes interessadas.
Os objectos específicos que se pretendem alcançar através do School Self-Managemen são os seguintes:
1. Proporcionar uma abordagem da gestão da escola claramente centrada na aprendizagem e no ensino, que
são a sua razão de ser.
2. Facilitar a partilha do processo de decisão e o envolvimento de todos os possíveis participantes, através das
modalidades mais adequadas.
3. Identificar com clareza as tarefas de gestão, facilitar a ligação entre elas e fornecer informação directa e
acessível sobre as mesmas.
4. Identificar com clareza as responsabilidades sobre a tomada de decisão e o desenvolvimento das diferentes
actividades e identificar domínios de prestação de contas.
5. Fornecer os meios necessários à alocação de recursos para todo o tipo de prioridades de aprendizagem para
os estudantes.
6. Facilitar a aplicação de processos de avaliação e de revisão com a finalidade de proporcionar melhores
oportunidades para os estudantes.
7. Simplificar a documentação que deve ser produzida de modo a que ela possa ser preparada facilmente pelos
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que já se encontram envolvidos em outras tarefas, decorrentes do seu trabalho corrente.
A concretização destes objectivos deve ser alcançada através das seguintes orientações:
1. “Os objectivos de aprendizagem para os alunos devem ser definidos com base em necessidades
identificadas, de acordo com as características da comunidade escolar e com as crenças e valores
partilhados pela escola. Eles devem resultar de uma visão partilhada.
2. As políticas que compreendem os objectivos a serem realizados e as orientações gerais para a sua
execução devem ser formulados em termos de resultados e estarem relacionados com as metas a
atingir. As prioridades para as aprendizagens a realizar pelos estudantes devem ser definidas no
interior destas políticas.
3. O planeamenlo estratégico e as programações anuais devem ser preparados em função destas políticas
e destas prioridades.
4. O planeamento do currículo é resultado da programação anual que foi elaborada e inclui quer o
desenho dos cursos quer a planificação da sua realização.
5. O planeamento e programação realizada devem servir para a afectação de recursos. As propostas de
alocação de recursos devem ser aprovadas com base nas prioridades de aprendizagem que foram
definidas.
6. Os programas de aprendizagem devem ser aplicados com base nos planos aprovados com a
garantia dos recursos necessários.
7. Os programas de aprendizagem devem ser avaliados em função dos seus resultados e métodos com o
fim de permitir a revisão das metas, objectivos, necessidades, políticas, prioridades e planeamento.
8. Deve ser criado nas escolas um 'grupo político'. constituído por professores, pais e estudantes. com a
função de determinar as metas, definir as políticas e prioridades. avaliar programas e políticas.
9. O planeamento curricular, a execução dos programas e a avaliação da aprendizagem são da
responsabilidade dos professores, nas áreas profissionais respectivas” (pp. 42-43)
Apesar do esforço de racionalização patente deste modelo, a análise das práticas de School Based
Management vem demonstrar, muitas vezes, que elas se afastam dos objectivos atrás descritos e que os seus efeitos
sobre a “eficácia” e “qualidade” da escola (uma das finalidades essenciais para os seus promotores) estão longe de
serem adquiridos.
Muitos dos estudos e das investigações que têm sido realizados nas escolas onde foi introduzido este
"modelo" de gestão (para uma síntese, ver Wohlstetter e Odden, 1992 e Sackney e Dibski, 1994) têm mostrado que
os resultados se afastam das expectativas iniciais que estiveram na base da sua aplicação.
Na análise que Wohlstetter e Odden (1992) fazem da literatura produzida sobre o School Based
Management consideram que para este modelo ser mais eficaz torna-se necessário que ser:
- facultado às escolas um real poder de decisão sobre o pessoal e os recursos materiais;
- aplicado um agressivo processo de desenvolvimento dos administradores e dos professores em geral,
através do qual eles possam adquirir novos conhecimentos e competências adequados a este tipo de gestão;
- produzido um sistema de informação eficaz para mostrar a correcção do funcionamento da escola;
- introduzido um novo sistema de compensação do trabalho dos professores baseado nos conhecimentos e
competências demonstrados.
Outros autores consideram que as dificuldades que se deparam à aplicação do School Based Management
não resultam. como pretendem Wohlstelter e Odden, de ele não ser levado às últimas conseqüências, mas antes de se
basear numa pretensa "racionalidade" de gestão que a prática revela ser inexistente. Estes autores consideram que
este sistema normativo de gestão ignora as implicações da "micropolítica da escola" e da sua "ambigüidade
organizacional".
Devido ao facto de o processo de desenvolvimento do School Based Management ainda estar no início e
serem necessários vários anos para apurar dos seus reais efeitos sobre as escolas, a investigação realizada ainda não
é totalmente conclusiva sobre as vantagens e inconvenientes deste modelo de gestão (ver, por exemplo, Bush,
Coleman e Glover, 1993).
Contudo, tem-se desenvolvido desde o início uma perspectiva critica dos seus fundamentos que é
importante ter em conta no estudo desta “autonomia decretada”.
Entre esses fundamentos é possível distinguir dois grandes tipos:
- os que se situam num registo científico-pedagógico e buscam a legitimação destas medidas nos resultados
da investigação sobre as "escolas eficazes";
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- os que se situam num registo político-gestionário e buscam essa legitimação "nas leis do mercado" e nas
"técnicas de gestão empresarial".
FUNDAMENTAÇÃO CIENTÍFICO-PEDAGÓGICA
Um dos principais fundamentos em que se baseiam as políticas de school based management pode
encontrar-se, segundo os seus os promotores e defensores, na tentativa de aplicar os resultados obtidos com a
investigação sobre as "escolas eficazes".
Nesta investigação há a considerar "duas gerações" de trabalhos que remetem para paradigmas e
metodologias diferentes.
A primeira geração de estudos é marcada pela tentativa de medir os efeitos reais dos programas de
democratização e de integração racial levados a cabo nos Estados Unidos a partir dos finais dos anos 50.
Como se sabe, o documento fundador deste movimento é o conhecido Relatório Coleman (de 1966)
intitulado Inequality of Educational Oportunity. É importante assinalar que o objectivo deste "macroestudo" (645
000 alunos e 3000 escolas primárias e secundárias) não era avaliar os "efeitos da escola", nem as suas diferenças,
mas sim os efeitos da alocação de recursos escolares sobre o rendimento dos alunos.
Como sintetiza Bosker (1994):
"Para Coleman, a aprendizagem ou o rendimento de um aluno era, ao mesmo tempo, função da escola
freqüentada e de causas externas desconhecidas (...) [ou seja) o seu objectivo foi medir a proporção do
rendimento dos alunos que se podia atribuir à escola freqüentada e a proporção de rendimento dos alunos
que é preciso imputar a outras causas," (p. 11)
Com base neste quadro conceptual, não admira que a investigação conduzida por Coleman (bem como as
que se seguiram nesta primeira geração) adoptasse o modelo input-output. Como sublinha Bressoux (1994):
"Neste tipo de abordagem a escola é estudada como se fosse uma unidade de produção, unidade que, por
meio de recursos humanos, materiais e financeiros, tem por finalidade transformar os indivíduos de um
determinado valor em indivíduos de um valor superior. Os investigadores estudam em que medida as
variações nos inputs, caracterizados pelo meio extra-escolar dos alunos, os recursos da escola e as
características globais do público de alunos podem determinar variações nos outputs caracterizados pelas
aquisições cognitivas dos alunos, geralmente medidas por testes de inteligência." (p. 109)
Os resultados desta e de outras investigações que utilizaram o mesmo modelo e metodologia foram, como
se sabe, bastante desanimadores quanto à influência que os "factores escolares" (medidos pelos recursos utilizados)
podiam exercer nos resultados dos alunos.
Por exemplo, o Relatório Coleman atribuía às variáveis directamente ligadas aos alunos (estatuto
sócioeconómico e à raça) a responsabilidade por cerca de 65% a 85% do sucesso escolar dos alunos. Em
contrapartida, só 15% a 35% deste sucesso podia ser explicado pela variação de recursos de uma escola para outra.
Por outro lado, os factores escolares propriamente ditos, como a dimensão das escolas, o orçamento por aluno, as
características do currículo não explicariam mais do que 6% (para os negros) e 2% (para os brancos) das diferenças
de rendimento verificadas.
Estes dados levam os seus autores a considerar que a escola parece impotente para exercer influências
próprias e para tornar o sucesso menos dependente da herança familiar (citado por Bressoux, 1994, p. 109).
Não admira purtanto (que esta primeira geração de estudos sobre "os efeitos de escola" nas aprendizagens
dos alunos tenha sido marcada por aquilo que se pode designar por escolacépticos: não vale a pena fazer reformas
para melhorar os recursos das escolas em pessoal e equipamento, pois isso é insuficiente para reduzir as
desigualdades escolares. Ou como diz Hodson, numa fórmula provocante: Schools make no difference!
A segunda geração de estudos sobre este domínio constitui uma reacção a este "cepticimo" e tem por
base uma revisão crítica dos resultados alcançados na fase anterior. As críticas dirigem-se principalmente ao tipo de
medida utilizada (testes de inteligência de raciocínio verbal) e ao tipo de abordagem (input-output que ignorava os
processos escolares).
Os trabalhos dirigidos por Broukover (1979), Rulter (1979), Edmonds (1979), Purkey e Smilh (1983),
Mortimore (1988), entre muitos outros, decidem "entrar no interior" da escola, entendida já não como uma “unidade
de produção”, mas como organização social, e pela análise dos seus processos internos ("clima",liderança. gestão
do tempo, etc,) mostrar que as escolas podem fazer a diferença.
Começa então a "corrida" aos "indicadores" para a identificação dos "factores de eficácia" das escolas,
através de estudos de tipo monográfico, que levam à identificação de sucessivos "retratos-robot " do que os seus
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autores classificam de "escolas eficazes". Estes resultados da investigação são interpretados, muitas vezes
apressadamente, pela administração (nos Estados Unidos e Inglaterra, principalmente) como "quase protótipos da
escola ideal" e rapidamente promovidos a modelos de programas de "desenvolvimento das escolas".
As listas dos factores de eficácia que são apresentadas nas várias investigações variam muito, quer em
função do quadro teórico em que se situam os seus autores, quer em função do tipo de escolas que são estudadas e
do meio a que pertencem e, evidentemente, do país em que são realizadas. Esta variação devia evitar a generalização
apressada destes factores, o que nem sempre é tido em conta por aqueles que querem inferir "dos efeitos" verificados
em certas escolas, para a definição de "critérios gerais de eficácia" aplicáveis a um modelo de "escola eficaz".
A título indicativo basta dizer, por exemplo, que na síntese que Edmonds (1979) faz dos trabalhos
realizados neste domínio durante a década de 70, identifica, para as escolas elementares de meios urbanos
desfavorecidos, os seguintes factores normalmente associados à obtenção de melhores resultados:
- uma liderança forte;
- expectativas elevadas em relação às performances dos alunos;
- um clima disciplinado, sem ser rígido;
- uma prioridade no ensinos de saberes fundamentais (leitura, escrita e matemática);
- avaliações e controlos freqüentes dos progressos dos alunos.
Esta lista podia ser acrescentada com muitos outros itens se entrarmos em consideração com as sínteses
propostas por Purkey e Smith (1983), ou Miles e Ekholm (1985). Em todas elas, pese embora a variedade de
factores identificados, é possível reconhecer elementos que resultam do modo como as escolas são administradas,
em particular no que se refere ao estilo e modos de liderança exercida pelo director da escola e ao apoio dado pelos
pais e comunidade em geral.
É nestas características que residem muitas das razões invocadas pelos defensores do school based
management para reforçarem a autonomia das escolas, aumentarem as competências gestionárias dos seus directores
e institucionalizarem formas mais efectivas de participação dos pais e outros elementos da comunidade no governo
da escola. Contudo, esta transformação apressada de resultados de investigação em normas de acção ignora, muitas
vezes, os próprios limites das investigações efectuadas e as reservas que muitos investigadores colocam à sua
generalização.
Vejamos quais são esses limites.
De um modo esquemático é possível dizer que existem hoje elementos suficientes, com base nos mais
diversos resultados obtidos com a investigação sobre a "eficácia das escolas", que permitem concluir que existe uma
variação significativa entre as escolas, no que diz respeito aos resultados escolares obtidos pelos alunos. bem como
a existência de um certo número de características próprias das escolas eficazes (Good e Weinstein, 1992). Ou seja.
nem tudo se joga no meio familiar e as características da escola e os modos de trabalho dos professores
desempenham um papel sobre as aprendizagens dos alunos.
Contudo. a generalidade dos autores adverte que, apesar de 30 anos de investigação, ainda estamos no
começo da constituição de um saber sobre os factores que influenciam as aquisições dos alunos.
Em primeiro lugar, é preciso ter em conta que, do ponto de vista teórico, ainda não existe um modelo
explicativo de eficácia escolar que dê conta da complexidade e variedade de factores que estão implicados no
processo de aquisição de conhecimentos pelos alunos, quer ao nível da sala de aula quer ao nível da escola no
seu conjunto.
Em segundo lugar, é preciso sublinhar que as análises empíricas que têm sido realizadas ainda o
bastante limitadas em relação a questões fundamentais como: a causalidade entre os critérios identificados e os
resultados obtidos, uma vez que os modelos de análise se baseiam unicamente em correlações; a influência dos
contextos em que se situam as escolas: a variação dos resultados no tempo; a variação dos resultados por diferentes
tipos de alunos; etc. (ver, entre outros, (Good e Weinstein, 1992; Bosker e Scheerens, 1992; Scheerens, 1992;
Reynolds e Cuttance, 1992; Bressoux, 1994).
Em terceiro lugar, é preciso relalivizar algumas das conclusões apressadamente tiradas das investigações
produzidas e que, hoje, já não é possível sustentar, como advertem Reynolds e Cuttance (1992), numa obra recente
onde fazem o balanço da investigação realizada nos Estados Unidos, Reino Unido, Países Baixos e Austrália, neste
domínio.
Entre essas "falsas evidências" destacam-se:
- A dimensão dos efeitos da escola que é muito mais reduzida do que se pensava (eles explicam unicamente
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entre 8 e 15% dos resultados escolares).
- Contrariamente ao que se julgava, os efeitos de escola (enquanto organização) não podem ser dissociados
dos efeitos da turma e do professor, uma vez que a maior parte dos estudos mais recentes que utilizam
modelos de multivariáveis mostram que a maior parte das diferenças entre as escolas se devem a variações
que se passam ao nível das turmas.
- Contrariamente ao que se julgava, a "eficácia" ou não "eficácia" de uma escola pode variar em períodos de
tempo muito mais curtos (2 a 3 anos, contra os 5 a 7 de investigações anteriores).
- A antiga crença de que as escolas eram eficazes para todos os tipos de alunos que as freqüentavam é posta
em causa pela evidência de investigações mais recentes que mostram que na mesma escola pode haver
diferentes efeitos em função do grupo étnico ou do estatuto socioeconómico dos alunos.
- As investigações mais recentes mostram igualmente que não é sustentável a idéia de que era possível
dispor de um conjunto fixo de factores de eficácia que eram independentes da "história" da escola, do seu
contexto, ou das pessoas que a freqüentavam, e que podiam servir de referência para todo o tipo de escolas e
de situações.
- Finalmente, a comparação que tem sido feita entre estudos sobre a eficácia das escolas realizados em
diferentes países mostra que não há acordo nesta matéria. E que o que nuns casos é indicado como factor de
eficácia, em outros não o é (por exemplo,a importância da liderança pedagógica pelo director da escola que
é um dos factores confirmados de eficácia, nos Estados Unidos; não o é na maior parte dos estudos
desenvolvidos nos Países Baixos).
Como se vê, são muitos os desafios que estes resultados produzidos pelo que se poderia chamar da "3a.
geração" da investigação sobre a eficácia da escola levantam. E eles deviam refrear os ímpetos dos que querem
adaptar a técnica de colonagem para promover a qualidade das escolas e do ensino. Como se se pudesse reproduzir
em "papel químico” um qualquer "modelo de escola eficaz" (ou de "excelência" ou de "qualidade").
Além disso, como diz Bressoux (1994):
preciso evitar passar do 'determinismo sociológico' à 'ilusão pedagógica'. Apesar de os efeitos dos
factores escolares serem significativos, a maior parte das diferenças de aquisições ainda é de origem extra
escolar," (p. 128)
FUNDAMENTAÇÃO POLlTICO-GESTIONÁRIA
Um outro registo em que se desenvolve a argumentação a favor do school based management tem a ver,
como já assinalei, com razões políticas e gestionárias.
Do ponto de vista político, a promoção do school based management, associada à defesa da sua
"qualidade", "eficácia" e "eficiência", bem como à tentativa de imposição de lógicas de competição e concorrência
na melhoria do funcionamento das escolas e dos seus resultados. procura corresponder três objectivos essenciais:
- Um primeiro objectivo consiste na tentativa de conciliar a eficiência e a equidade no funcionamento do sistema
educativo. Por um lado. como assinala Davies (1990), espera-se que as escolas melhorem simultaneamente a sua
"eficiência externa" ao serviço da economia do país e a sua "eficiência interna" de modo a justificarem o dinheiro
que se investe nelas.
Por outro lado, a educação é suposta ser eqüitativa, ao fornecer "iguais oportunidades" a toda a população
escolarizável, em particular no que se refere à distribuição de recursos.
Neste sentido, a definição de padrões de qualidade que as escolas devem respeitar e o seu controlo são
legitimados pela necessidade de respeitarem estes dois princípios aparentemente consensuais.
- Um segundo objectivo diz respeito à tentativa de reduzir o "monopólio público da educação" (Ball, 1994) e
introduzir no funcionamento do sistema educativo uma lógica de mercado.
Como assinala Dale (1994): Em termos muitos gerais os principais objectivos da Nova Direita em educação são
retirar os custos e responsabilidades ao Estado e, simultaneamente, aumentar a eficiência e capacidade de resposta
- e conseqüentemente a qualidade - do sistema educativo (pp. 109-110).
As razões apontadas pelos defensores desta "lógica de mercado" baseiam-se
genericamente nas seguintes premissas (ver Ball, 1994, p. 103):
a) o financiamento público através dos impostos não está directamente ligado à satisfação dos clientes;
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b) a ausência de lucro ou de outro tipo de ganhos faz com que os gestores utilizem métodos, conservadores,
rninimalistas e centrados no proveito próprio;
c) a tomada de decisão na escola é dominada por interesses corporativos;
d) o monopólio do Estado sobre a escola gera a ineficiência e a burocracia, encoraja os desperdícios e inibe a
responsabilização perante os pais;
e) tudo isto contribui para baixar os padrões de "qualidade" e inibe a pressão para a "excelência",
Como se vê, nesta lógica de "construção de um mercado da educação" a escola deve ser "libertada" do
Estado e gerida como uma empresa, no quadro de um sistema de concorrência em que a satisfação do consumidor
decide da sua rentabilidade e eficácia.
A livre escolha da escola pelos pais constitui um dos instrumentos essenciais desta política, introduzindo
um mecanismo de competição entre as escolas e um sistema de regulação da qualidade do próprio funcionamento do
sistema educativo.
No quadro desta lógica, definir e controlar "padrões de qualidade" para as escolas é, acima de tudo, um
processo de aferir critérios de alocação de recursos, criar um referencial de competitividade e instituir um
mecanismo de selecção pelos "consumidores".
- Um terceiro objectivo corresponde à necessidade de o Estado, mesmo no quadro da criação de "um mercado
educativo", preservar algum controlo sobre o sistema, cuja importância vital para a sociedade continua a ser
reconhecida.
Esta é uma situação de certo modo paradoxal (o Estado cria o mercado, mas não confia totalmente nele)
que vários autores têm analisado no quadro do que definem ser um "sislema escolar como um sistema de economia
mista" (ver a este propósito Thomas, 1994). Isto é, um sistema em que se procura conciliar as "chamadas" vantagens
do mercado (a competição e a racionalidade econômica) com as vantagens do não-mercado (facilidade do controlo e
de subordinação a certas normas), permitindo assim, no dizer dos seus defensores satisfazer, simultaneamente, os
"interesses individuais" e os "interesses colectivos".
Neste contexto, o reforço dos mecanismos de avaliação externa, de prestação de contas e de "controlo da
qualidade" que aparecem associados à concessão de uma maior autonomia à escola, no quadro do school based
management, acabam por constituir uma expressão de uma política de normalização e de imposição de modelos que
limita a retórica da autonomia e do livre arbítrio, tão cara ao discurso neoliberal.
Mas, além destas preocupações de introdução de uma lógica de mercado no funcionamento do sistema
educativo que, segundo os seus críticos, está presente nas medidas de school based management, nos países já
referidos, existem também preocupações de tipo "gestionário " que se caracterizam pela tentativa de resolver os
problemas da qualidade de educação por "técnicas de gestão empresarial" do tipo das que são ensaiadas nas
empresas de produção e serviços.
Um exemplo claro da denúncia deste tipo dc preocupações pode ler-se em Lima (1995):
"Ao eleger a racionalidade económica e a razão técnica da optimização, da eficácia e da eficiência, como
elementos essenciais, os programas de modernização tomam por referência privilegiada a actividade
económica, a organização produtiva e o mercado, exportando a idéia da empresa para o seio da
administração pública. A empresa significa, neste contexto, um modelo a seguir em termos de capacidade
de resposta e de adaptação às pressões do mercado, um exemplo da capacidade de inovação. Mesmo as
empresas mal sucedidas constitutem um bom exemplo para as organizações públicas no sentido em que
fica mais claro que quem não é eficaz não sobrevive. Entretanto, o exemplo da empresa parece ignorar as
tensões entre capital e trabalho, superiores e subordinados, direcção e execução, em parte porque a
empresa moderna se apresenta como um modelo consensual e racional também na gestão de conflitos,"
(p. 27)
Apesar da especificidade que a actua lógica de mercado dá a este processo de racionalização gestionária,
é importante, registar, contudo que ele não é unicamente motivado por ela.
Na verdade, esta aplicação dos modelos empresariais de "gestão da qualidade" às escolas vem na
continuidade dos processos de taylorização da organização e administração das escolas que se desenvolveram,
principalmente, na primeira metade do século XX (ver, a este propósito, Barroso, 1995). O que mudou foram os
métodos e as receitas e não os critérios que serviram de base.
Num tempo e noutro, a base da transferência é a mesma, ou seja, considerar que a escola é uma fábrica e
o aluno um produto manufacturado. Veja-se, a título de exemplo, um dos muitos textos que pretendiam legitimar a
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organização científica do trabalho escolar, no princípio deste século (Cubberly, 1916, citado por Barroso, 1995, p.
476): "As nossas escolas são, neste sentido, fábricas em que a matéria-prima (as crianças) irão ser
transformadas em produtos para satisfazer as diferentes exigências da vida. As especificações de fabrico
vêm das exigências da civilização do século XX, e a tarefa da escola é construir estes alunos de acordo
com as especificações que tiverem sido definidas. Este processo exige boas ferramentas, maquinaria
especializada, medição contínua dos produtos para ver se estão de acordo com as especificações,
eliminação dos desperdícios da manufactura e um amplo sortido nos produtos"
Mas não se julgue que este era um discurso isolado, pois ele foi paradigmático do modelo de
administração escolar prevalecente até aos anos 50 e cujo principal objectivo era a racionalização da empresa
escolar e a normalização das técnicas de ensino, como escrevia Planchard, um dos defensores do taylorismo em
Portugal, em 1960 (ver Barroso, 1995, p. 477).
Contudo, nos tempos actuais, o que é mais significativo nesta preocupação gestionária não é a
importância que é dada à gestão, mas sim o facto de se pretender reduzir os problemas das escolas a problemas de
gestão, como forma de escamotear a complexidade da escola enquanto organização e a conflitualidade ideológica,
política e social a ela inerentes.
O que está em causa não é a vantagem de utilizar nas escolas modelos e técnicas de gestão que vêm sendo
praticados em empresas, no quadro das profundas mudanças que estão a ocorrer nos processos de organização do
trabalho e da gestão, como a gestão por objectivos, os círculos de qualidade, o desenvolvimento organizacional, a
auto-avaliação, o projecto da empresa, etc.
O que está em causa, nas escolas como nas empresas, é o processo de tecnização da mudança
organizacional,como chama Friedberg (1994) à adopção de soluções técnicas "pronto-a-usar" para aplicar a
problemas que são definidos fora do contexto humano (p. 329).
Isto não significa, como adianta este soció1ogo das organizações, negar o interesse que estas "tecnologias
da mudança" podem ler, em si mesmas. enquanto soluções que podem ser ajustadas a uma intervenção técnica nas
organizações. Mas o que os seus promotores muitas vezes esquecem é que a mudança nas organizações, mesmo
quando é mediatizada por considerações e objectos técnicos, comporta sempre conseqüências mais amplas que
ultrapassam o domínio limitado da simples técnica.
Por isso, acrescenta Friedherg (1994), é preciso estar de sobreaviso à tentativa de reificar tais
procedimentos e sublinhar a necessidade de os contextualizar ligando-os às características e capacidades concretas
dos sistema humanos que deverão executá-los e que são os únicos que lhes podem dar vida (p. 331).
A autonomia construída
A análise crítica das medidas políticas que, em vários países, têm consagrado, do ponto de vista legal,
uma gestão local do estabelecimento de ensino e o reforço das competências dos seus órgãos de governo não pode
ignorar que, para além desta autonomia decretada, as escolas desenvolvem (e sempre desenvolveram) formas
autônomas de tomada de decisão, em diferentes domínios, que consubstanciam aquilo que pode ser designado por
autonomia construída.
Esta autonomia construída corresponde ao jogo de dependências e de interdependências que os membros
de uma organização estabelecem entre si e com o meio envolvente e que permitem estruturar a sua acção organizada
em função de objectivos colectivos próprios.
Como assinala, a este propósito, Berta Macedo (1995):
"A escola aumenta a sua autonomia através das múltiplas dependências-interacções que estabelece com
os outros sistemas, tendo em conta as necessidades e finalidades que identifica.
É na multiplicidade de dependências, de inter-relações, que se criam condições favoráveis à integração da
escola no processo de desenvolvimento da sociedade.
A variedade das dependências que desenvolve produz diferença. A gestão destas dependências é
autonomia de escola." (p. 87)
Neste sentido, a "autonomia da escola" resulta, sempre, da confluência de várias gicas e interesses
(políticos, gestionários, profissionais e pedagógicos) que é preciso saber articular, através de uma abordagem que
podemos designar de "caleidoscópica". A autonomia da escola não é a autonomia dos professores, ou a autonomia
dos pais, ou a autonomia dos gestores. A autonomia, neste caso, é o resultado do equilíbrio de forças, numa
determinada escola, entre diferentes detentores de influência (externa e interna), dos quais se destacam: o governo e
os seus representantes, os professores, os alunos, os pais e outros membros da sociedade local.
Deste modo, a autonomia afirma-se como expressão da unidade social que é a escola e não preexiste à
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acção dos indivíduos. Ela é um conceito construído social e politicamente, pela interacção dos diferentes actores
organizacionais numa determinada escola.
Isto significa que não existe, verdadeiramente, uma "autonomia decretada", contrariamente ao que está
subjacente às mais diversas estratégias "reformistas" neste domínio. O que se pode decretar são as normas e regras
formais que regulam a partilha de poderes e a distribuição de competências entre os diferentes níveis de
administração, incluindo o estabelecimento de ensino. Essas normas podem favorecer ou dificultar a "autonomia da
escola", mas são, só por si (como a experiência nos demonstra todos os dias), incapazes de a criar ou a destruir.
Esta perspectiva retira sentido à tentativa de encontrar, a partir das chamadas "escolas eficazes",
estruturas e modalidades de gestão que funcionem como padrão da autonomia para todas as escolas.
Neste caso, a imposição de normas-padrão de eficácia e de eficiência, como base da concessão de uma
maior "autonomia" às escolas, constitui não uma alternativa à racionalidade burocrática que supostamente se
pretende eliminar, mas, simplesmente, a sua "modernização".
Esta visão da autonomia da escola como autonomia construída tem evidentes conseqüências no domínio
da decisão política.
A principal ilação a tirar é que não há "autonomia da escola" sem o reconhecimento da "autonomia dos
indivíduos" que a compõem. Ela é, portanto, o resultado da acção concreta dos indivíduos que a constituem, no uso
das suas margens de autonomia relativa (ver a este propósito Crozier e Friedberg, 1977). Não existe uma
"autonomia" da escola em abstracto fora da acção autónoma organizada dos seus membros.
Contudo, nem sempre a "autonomia" dos indivíduos vai no sentido de reforçar a "autonomia" formal da
organização. Muitas vezes a persistência de.sistemas burocráticos (e essa é uma das suas mais conhecidas
perversões, como o demonstrou Crozier, 1963) contribui para aumentar as "zonas de incerteza" organizacionais e,
conseqüentemente, alargar as margens de autonomia individual dos seus actores.
No caso das escolas, as dificuldades que existem para dar um sentido colectivo às diversas "autonomias"
individuais são agravadas pelas próprias condições quer de isolamento interno em que, tradicionalmente, se exerce o
trabalho docente, quer de isolamento externo entre a escola e a comunidade, bem como pelo facto de as escolas
funcionarem como sistemas debilmente articulados (Weick, 1976), isto é, com difíceis conexões entre os seus
diversos elementos.
Por isso, para que a autonomia individual seja colocada ao serviço de determinados
objectivos organizacionais e se transforme num processo colectivo de mudança, torna-se
necessário desenvolver três tipos de intervenção:
- Promover na escola "uma cultura de colaboração e de participação entre todos os que asseguram o seu
funcionamento, incluindo a própria definição e a realização dos objectivos organizacionais.
Entre estes destacam-se naturalmente os professores que constituem uma força de trabalho especializada e
qualificada que em muitos casos se aproxima de um corpo profissional e os alunos, vistos não como consumidores
ou clientes, mas como trabalhadores (isto é, co-produtores do próprio acto educativo).
Além destes, há que contar igualmente com os outros trabalhadores que exercem sua actividade na escola
e com os pais dos alunos. Estes devem ser vistos quer como cidadãos que devem poder exercer formas de "controlo
democrático" sobre o serviço público que a escola assegura aos seus filhos, quer como co-educadores em parceria
com a escola.
- Desenvolver nas escolas formas diversificadas (individuais e colectivas) de liderança, sem a qual não se
podem empreender os difíceis e complexos processos de coesão necessários a que a escola se constitua
como um sujeito social coerente e encontre o justo equilíbrio entre as diversas referências que podem
inspirar a acção educativa (para citar Derouet, 1992, para quem o funcionamento da escola é,
essencialmente uma questão de "justeza" e de "justiça").
- Aumentar o conhecimento, por parte dos próprios membros da organização, dos seus modos de
funcionamento e das regras e estruturas que a governam. Esta aprendizagem organizacional (da e pela
organização) constitui um instrumento necessário para que os actores de uma organização conheçam o seu
próprio campo de autonomia e o modo como está estruturado.
É no contexto destas intervenções que a construção da autonomia pela escola pode constituir um processo
de mobilização social (na acepção dada na sociologia política) "enquanto forma de reunião de um núcleo de actores
com o fim de empreenderem uma acção colectiva”.
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... Em primeiro lugar, o hiato que possa existir entre a aceitação formal do processo num concelho e a sua concretização efetiva. Retomamos a observação de João Barroso (1996) quando distinguiu autonomia "decretada" de autonomia "construída" das escolas, e replicamo-la para o atual contexto da transferência de competências para os municípios, colocando a hipótese de que é necessário tempo para que sejam construídas entre os atores locais novas dinâmicas relativamente à distribuição dos papéis atribuídos aos velhos agentes. O segundo aspeto refere-se exatamente às razões pelas quais designamos as CM e CIM como velhos agentes. ...
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Concretizada a obrigatoriedade da transferência de competências educativas para os municípios, importa analisar se há diferenças entre os que aceitaram integrar os projetos piloto implementados desde há vários anos, ganhando assim experiência, e os que recusaram esse processo até ele se tornar obrigatório em 2019. Será que essa experiência ajuda a compreender os diferentes posicionamentos dos intervenientes locais? Para responder a esta questão mobilizámos a informação recolhida no âmbito de um projeto de elaboração de cartas educativas abrangendo um distrito do país, utilizando uma metodologia mista com o objetivo de contribuir para a reflexão sobre este processo. Para além de se ter verificado a emergência das CIM (comunidades intermunicipais) como agente estratégico de planeamento educativo regional, o que vem acrescentar complexidade ao processo, foi possível observar que entre os concelhos com experiências prévias no processo de transferência de competências se identifica uma maior propensão para encarar sem grandes problemas a autarquia enquanto promotora de uma estratégia concelhia, enquanto nos outros concelhos se destaca a ideia de que ela não pode ser mais do que parceira das escolas.
... À luz desse entendimento, o efeito escola é um termo que se concebe por meio de diversos fatores escolares que contribuem para o alto desempenho dos alunos numa determinada escola, comparativamente ao que ele teria em outra com perfil discente semelhante (IDEM). Nóvoa (1995), Barroso (1996) e Lück et al. (1998 sugerem que elementos da organização e gestão escolar interferem no sucesso escolar dos alunos, de modo que a maneira como funciona uma escola faz diferença em relação aos resultados escolares obtidos do alunado. Essa visão se coaduna com as dimensões intraescolares da qualidade da educação (DOURADO; OLIVEIRA, 2009), as práticas de organização e de gestão da escola e efeitos na aprendizagem (LIBÂNEO, 2018), além dos processos internos da escola como influenciadores da eficácia escolar (SOARES, 2002;2004;TEDDLIE, 2008;SAMMONS, 2008). ...
Conference Paper
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Este artigo tem como objetivo estudar como as práticas de organização e gestão da escola podem influenciar a eficácia escolar. Metodologicamente, realizou-se um estudo de caráter descritivo-analítico, comparativo, por meio de pesquisa bibliográfica. A partir da análise das características-chave de escolas eficazes, obteve-se como resultado sete elementos convergentes: “liderança”; “foco na aprendizagem”; “clima e cultura escolar”; “relação família-escola/comunidade”; “formação do professor”; “monitoramento/avaliação”; “expectativa de alto desempenho”. Nota-se que esses elementos convergentes não são estanques em si mesmos, uma vez que exercem influências – mais ou menos importantes – uns sobre os outros, de modo a influenciar processos de ensino e de aprendizagem na sala de aula, além do desempenho de professores a alunos. Também, os resultados sugerem que a centralidade do fator convergente “foco na aprendizagem”, tende a funcionar como um elo entre várias práticas de organização e gestão da escola e os seus efeitos desejados/pretendidos na aprendizagem. Tendo-se por foco a construção de uma escola eficaz, pensa-se ser coerente a adoção de práticas de organização e gestão da escola baseadas numa perspectiva multidimensional (cultural, política, pedagógica e econômica), mas com especial atenção à uma abordagem de administração educacional para a eficácia pedagógica, a fim de que se desenvolva a própria “competência pedagógica” dos diferentes atores da comunidade escolar. Esse posicionamento paradigmático de administração educacional, inspirado pelo princípio da gestão democrática e o modo de gestão participativo, pode ser um dos passos importantes à busca da qualidade social do ensino, o que, é claro, também deve contemplar a Educação Profissional e Tecnológica.
... Following the introduction of these measures in Portugal-the concept of education, curriculum and schools' and teachers' roles-a discourse began a on school autonomy. Since the Portuguese educational system is traditionally centralised ( Barroso, 1996;Formosinho, 2005), this discourse experienced some difficulties in moving from statement to action. Although the concept of school autonomy was expressed in a legal document in 1989, only in 1998 (Decree law 115 A of 1998) was it clearly stated and, in 2008, reinforced (Decree law 75), with the aim of achieving quality in public education. ...
Article
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Since the end of the 20th century Portugal has witnessed the rise of a movement promoting curriculum changes. In basic and secondary education this has meant the adoption of policies seeking the equality of opportunities to school access and success. This was first stated in the Law 46 of 1986. Since then (predominantly between 1997 and 2008), a number of political measures have been taken to achieve this goal. However, few studies establish a relation between scientific production and curricular policies. This paper aims to answer the question: What is the relationship between educational politicies and the foci of curricular studies?. Accordingly, this paper begins by situating the main features of the curricular policies that have characterised this period, while also considering international policies influences. This constitutes the basis of empirical research developed in three consecutive phases: i) systematisation of the curricular studies produced in Portugal between 1997 and 2008; ii) identification of the studies' foci; iii) establishment of relationships between those foci and curricular political measures. The analysis allowed concluding that the production of studies focusing on the curriculum in Portugal was determined by the curricular political agenda and that the international agenda significantly influences the curricular political agenda.
... Following the introduction of these measures in Portugal-the concept of education, curriculum and schools' and teachers' roles-a discourse began a on school autonomy. Since the Portuguese educational system is traditionally centralised ( Barroso, 1996;Formosinho, 2005), this discourse experienced some difficulties in moving from statement to action. Although the concept of school autonomy was expressed in a legal document in 1989, only in 1998 (Decree law 115 A of 1998) was it clearly stated and, in 2008, reinforced (Decree law 75), with the aim of achieving quality in public education. ...
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Since the end of the 20th century Portugal has witnessed the rise of a movement promoting curriculum changes. In basic and secondary education this has meant the adoption of policies seeking the equality of opportunities to school access and success. This was first stated in the Law 46 of 1986. Since then (predominantly between 1997 and 2008), a number of political measures have been taken to achieve this goal. However, few studies establish a relation between scientific production and curricular policies. This paper aims to answer the question: What is the relationship between educational politicies and the foci of curricular studies?. Accordingly, this paper begins by situating the main features of the curricular policies that have characterised this period, while also considering international policies influences. This constitutes the basis of empirical research developed in three consecutive phases: i) systematisation of the curricular studies produced in Portugal between 1997 and 2008; ii) identification of the studies’ foci; iii) establishment of relationships between those foci and curricular political measures. The analysis allowed concluding that the production of studies focusing on the curriculum in Portugal was determined by the curricular political agenda and that the international agenda significantly influences the curricular political agenda.
... A proposta de se estudar as IES particulares de Curitiba demonstra o interesse em pesquisar um campo permeado por complexidades, adversidades e controvérsias. Conforme enfatiza Barroso (1996), o estudo da escola como organização levou a reformulações teóricas e metodológicas que constituem um campo estimulante do debate científico. Diante dessas questões, esse estudo buscou atender uma demanda de pesquisa desse campo, uma vez que Laderrière (1996) ressalta que estudos sobre a escola como organização devem ser estimulados, visto que se trata de uma realidade organizacional em que modelos explicativos não são facilmente desenvolvidos, e que ainda há muito a se investigar para saber ao certo que políticas e práticas devem ser adotadas nesse contexto. ...
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Este trabalho, procurando uma maior compreensão do modo de fazer estratégias nas organizações e da constituição das relações formadas entre os atores e as redes de governança, contribui para as teorias Redes de Governança, Estratégia como Prática Social, Resultados Estratégicos e Teoria Ator-Rede, por meio do objetivo: delinear como a articulação do strategizing, como o processo de translação, com a teoria das redes de governança, configuram a governança e os resultados estratégicos de cursos de graduação em Administração de Instituições de Ensino Superior (IES) particulares de Curitiba (Paraná, Brasil). Realizou-se um estudo comparativo de cinco casos por meio de vinte e nove entrevistas semiestruturadas e em profundidade, além de observações não participantes e levantamento de dados de documentos. A análise dos dados foi feita em duas fases: (a) Análise de Narrativas; e (b) Análise Qualitativa Comparativa (Qualitative Comparative Analysis [QCA]). Os resultados mostraram que o processo de strategizing e o entrelaçamento de atores humanos e não humanos são essenciais para a compreensão da governança e dos resultados estratégicos das instituições estudadas. Acredita-se que a articulação teórica proposta no trabalho e os achados da pesquisa empírica formam um corpo de conhecimento consistente e elucidam questões atuais relevantes para compreender nuances relativas às redes de governança, à estratégia como prática social, ao fazer estratégia (e seus resultados) e às questões sociomateriais (atores humanos e não humanos).
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Neste trabalho são apresentados resultados parciais da pesquisa “Conhecimentos sobre políticas públicas educacionais na ótica dos professores da educação básica”. Discute-se, aqui, a gestão financeira em escolas públicas e a demanda de conhecimentos específicos sobre o tema, a partir da literatura da área e de dados parciais da referida investigação. Com o objetivo de conhecer o que os professores da educação básica entendem que devem conhecer sobre as políticas educacionais, a pesquisa chega na gestão das escolas de educação básica, que é o lócus de implementação de políticas para este nível de ensino. Como são os professores aqueles que fazem a gestão destas políticas nas escolas, ao tratar o eixo relacionado às políticas de descentralização para o financiamento da educação básica, a formação de docentes para estas atividades de gestão emerge como importante eixo analítico porque ela também produz efeitos no contexto da prática. Ainda que parciais, os resultados já indicam a necessidade de aprofundamento dos estudos sobre a formação inicial e a continuada sobre políticas públicas e a gestão em escolas de educação básica.
Conference Paper
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Este artigo tem como objetivo caracterizar e analisar o processo de construção das Diretrizes da Avaliação da/para Aprendizagem da Rede Municipal de Ensino de Maceió, desenvolvido pelo Setor de Avaliação Educacional (SAVE), da Secretaria Municipal da Educação, com as escolas e com os demais setores da Rede. Tem por base os apontamentos de uma experiência vivida, coletados por observação – o contato direto com os agentes envolvidos que privilegiou a compreensão e interpretação dos significados presentes nas subjetividades das ações dos indivíduos no seu contexto (Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 1994) –, e registros das contribuições das unidades escolares, via formulário eletrônico desenvolvido pelo SAVE. Da análise destes apontamentos, entre outros aspectos, poder-se-á concluir que o envolvimento colaborativo e participativo dos vários agentes envolvidos na construção dessas Diretrizes consignou-se na criação de dispositivos potencializadores de possíveis (des)construções de conceitos, concepções e orientações sobre a avaliação da aprendizagem e, concomitantemente, para a efetivação das Diretrizes construídas, coletivamente, na base de uma maior apropriação coletiva e conscientização de uma avaliação da/para aprendizagem.
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Esta dissertação trata da descrição e adotada na pesquisa privilegia a escola análise da gestão financeira de uma como objeto de estudo, na condição de Escola Pública da Rede Municipal de uma instituição da sociedade, dona de Ensino de Curitiba, Paraná. A análise uma cultura própria, que interage com os produzida busca observar as formas de elementos da política educacional. O resolução dos problemas financeiros do trabalho buscou levantar os dados estabelecimento, tendo em vista o empíricos no cotidiano escolar, através advento do "Programa de de entrevistas, observações de reuniões e Descentralização: Repasse de Recursos análise de documentos, especialmente Financeiros às Escolas Municipais" atas de reuniões e processos de prestação (PDRF), implantado em agosto de 1997 de contas da instituição escolar. Esses naquele município. A abordagem dados foram analisados à luz de im-portantes estudos sobre reformas educacionais e cultura da escola. O PDRF se soma a várias outras alterações implantadas no início da gestão municipal 1997/2000, sustentadas numa lógica de administração pública bastante similar aos modelos buro-cráticoadministrativos mais comuns no Brasil (e mesmo fora dele) atualmente. Nessa lógica, o binómio centralização/descentralização tem um papel significativo, especialmente no que concerne à educação. As escolas da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, a partir desse novo contexto, tiveram a sua organização bastante alterada, tendo em vista o advento do processo pertinente ao método descentralizado que implica em transferência de responsabilidades e constituição de novas tarefas. Contudo, esta pesquisa não analisa o PDRF apenas como uma (ou mais uma) reforma administrativo-financeira. O principal impacto provocado por esse programa recai sobre o cotidiano das escolas, mais particularmente sobre o processo de gestão e de tomada de decisões, ou ainda, sobre o desenvolvimento da autonomia das escolas. Considerando que o PDRF levou a uma alteração na organização burocrática do sistema educacional, provocando uma revisão nas formas de relacionamento institucional entre a Secretaria da Educação e a Escola Municipal, as conclusões dessa pesquisa apontam para o fato de que a escola não incorpora maciçamente as determinações do programa, e nem, tampouco, as expurga, mas promove uma síntese entre a sua cultura financeira e as exigências do programa. Isto é, a cultura da escola, exatamente pelas características que a constróem e instituem, produz sempre a síntese entre os elementos da sua prática histórica e cotidiana com as influências externas. Dessa forma, a escola adapta-se ao programa, sem abrir mão das suas tradicionais formas de resolver os problemas de ordem financeira.
Conference Paper
O nosso objeto de estudo, suportado no título da nossa tese, funda-se na necessidade de entender a escola, para lá de uma mera dimensão institucional. Considerando o nosso problema, ou seja, sabendo que as escolas integram a administração educativa e se inserem no território educativo do Concelho pretendemos, determinar como se relacionam entre si, sabendo que, a relação Estado - Administração Local – Município - Escola é reinvestida de novos significados. De igual modo, o apelo à realização do nosso estudo empírico a partir de um Estudo de Caso, parte do argumento de que os microfenómenos, embora micro numa perspetiva territorial, não o são numa perspetiva analítica. Uma análise que parte do contexto local, enquanto princípio nuclear de investigação e na convicção de que a territorialização das políticas educativas, constitui-se como princípio fundante de uma autonomia construída
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A review of school effectiveness literature is presented in this paper. Research studies and other literature on this topic are examined, including case studies, surveys and evaluations, studies of program implementations, and organizational theories of schools and other institutions. Emphasis is given to organizational theories and findings concerning small organizations and program implementation, which suggest ways of approaching and understanding efforts to change schools. Attention is also given to identifiable characteristics of schools and school personnel and the way that schools actually operate and change. Effective schools are seen to be characterized by order, structure, purposefulness, a humane atmosphere, and the use of appropriate instructional techniques. It is noted that what appears to be lacking from the literature are suggestions on how to develop these characteristics in the schools. A different approach to school improvement is offered, involving the concept of a school cultural perspective in which schools are viewed as dynamic social systems made up of interrelated factors. In a portrait of an effective school, a description is given of the sustaining characteristics of such a school, including collaborative planning and collegial relationships, sense of community, clear goals and high expectations commonly shared, and order and discipline. A proposed strategy for change is outlined.
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La recherche sur les effets des écoles et des maîtres a connu un essor important dans les pays anglo-saxons, aux Etats-Unis tout d'abord, à partir des années 60, en Grande-Bretagne ensuite à la fin des années 70, pour connaître plus récemment des développements dans d'autres pays tels que les Pays-Bas, le Canada, l'Australie... (MORTIMORE, 1991). Ce type de recherche s'attache, de manière résolument empirique, à l'étude des variations des acquisitions des élèves en fonction de l'école ou de la classe où ils sont scolarisés et à la recherche des facteurs qui sont susceptibles d'expliquer ces variations. Il est postulé que tout ne se réduit pas à une situation unique entre un maître particulier et des élèves particuliers, et qu'il doit être possible de déceler des facteurs qui, dans certains contextes, sont généralement associés à de meilleures acquisitions des élèves. Il ne s'agit pourtant pas de rechercher des lois immuables sur l'enseignement mais plutôt de rechercher des relations dont la stabilité et la généralisabilité sont elles-mêmes objets d'investigation. L'idée sous-jacente est que, si l'on peut déceler des maîtres plus efficaces que d'autres, ou bien des écoles plus efficaces que d'autres, ainsi que les facteurs qui y sont associés, alors l'école n'est pas que le simple révélateur des inégalités sociales de réussite scolaire, mais elle a un poids spécifique, et il est dès lors possible d'améliorer les acquisitions d'un grand nombre d'élèves, en particulier ceux issus des classes sociales défavorisées. Cette note de synthèse n'a pas pour ambition de fournir une liste exhaustive de l'ensemble des travaux réalisés dans le domaine de la recherche sur les effets des écoles et des classes mais plutôt d'en montrer les résultats marquants et également les limites. Nous verrons dans un premier temps les recherches qui ont porté sur les effets-maîtres, puis dans un deuxième temps les recherches qui ont porté sur les effets-écoles. Il peut sembler arbitraire de séparer les effets-écoles et les effets-maîtres, puisque les deux sont intimement liés : les maîtres enseignent dans des écoles et celles-ci reflètent au moins pour partie ce qui se passe dans les classes. Il s'agit cependant de deux courants de recherche distincts, qui se sont développés de façon relativement autonome. La dernière partie sera consacrée à l'étude des limites de ces travaux, notamment en termes de stabilité et de généralisabilité des résultats et aux liens entre effets-écoles et effets-maîtres.
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In contrast to the prevailing image that elements in organizations are coupled through dense, tight linkages, it is proposed that elements are often tied together frequently and loosely. Using educational organizations as a case in point, it is argued that the concept of loose coupling incorporates a surprising number of disparate observations about organizations, suggests novel functions, creates stubborn problems for methodologists, and generates intriguing questions for scholars. Sample studies of loose coupling are suggested and research priorities are posed to foster cumulative work with this concept.
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This article reviews existing literature on school-based management policy and research and highlights several themes related to both why school-based management does not work and how it can be designed to be more effective. The intended purpose is to offer new directions for school-based management policy and research, based on what is already known and where knowledge deficiencies lie. The results from the review suggest that future policy and research ought to expand its purview of school-based management to include more than just delegating budget, personnel, and curriculum decisions to schools and to join school-based management as a governance reform with content (curriculum and instruction) reforms so as to enhance the possibilities for improving educational practice.
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Raises philosophical and theoretical issues (concerning leadership, productivity, change, adequacy, equity) that must be addressed for school-based management to succeed. Structural changes do not always produce increased autonomy for those at lower organizational levels; nor does leadership naturally evolve that empowers others. Most principals use consultative, rather than collegial, style. There is tendency to emphasize managerial over instructional roles. (MLH)
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Research findings reinforce the relevance to pupil performance of the institutional elements of leadership, expectations, and atmosphere. (Author/MLF)