Article

Socialização de Gênero na Educação Infantil

Authors:
To read the full-text of this research, you can request a copy directly from the author.

Abstract

FEUSP) Educação Infantil; Gênero; Corpo ST 10 – Educação Infantil e relações de Gênero Introdução Este trabalho, que apresenta resultados de minha pesquisa de doutorado em andamento, tem como base o conceito de gênero para analisar as interações adulto-criança e criança-criança no espaço coletivo e público da pré-escola. Parte da perspectiva sócio-cultural, que permite centrar o olhar nas formas de controle dos corpos infantis, processo este social e culturalmente determinado, permeado por um controle sutil, muitas vezes por nós desapercebido. Busca investigar como as práticas educativas constroem e reforçam as diferenças determinadas pelo seu sexo. O estudo de caráter etnográfico enfocou as relações de gênero entre meninos e meninas de 4 a 6 anos, e entre adultos e crianças de uma Escola Municipal de Educação Infantil Paulistana. Utilizou como procedimentos metodológicos registros em cadernos de campo, registros fotográficos e entrevistas semi-estruturadas com a equipe de professoras. Atrelar gênero e infância oferece pistas para uma outra formação docente que problematize a origem das desigualdades. Percebeu-se que é necessário discutir as teorias de gênero enquanto fundantes da análise das relações entre crianças e entre adultos e crianças e para a construção de práticas educativas atentas às diferenças e que combata a desigualdade. A utilização do gênero como categoria de análise implica em conhecer, saber mais sobre as diferenças sexuais. Compreender como são produzidas pelas culturas e sociedades nas relações entre homens e mulheres. Portanto, como nos diz Scott (1995), gênero pode ser entendido como a "organização social da diferença sexual". Gênero, segundo Scott, é um elemento constitutivo das relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, que fornece um meio de decodificar o significado e de compreender as complexas conexões entre as várias formas de interação humana. É a construção social que uma dada cultura estabelece ou elege em relação a homens e mulheres. Optar por tal conceito constituiu-se em um desafio que aceitei por acreditar em uma educação que respeite a criança na construção de sua identidade e que favoreça, desde as primeiras relações, a constituição de pessoas sem práticas sexistas. Gênero, desse modo é um conceito relevante, útil e apropriado para as questões sobre a educação da infância.

No full-text available

Request Full-text Paper PDF

To read the full-text of this research,
you can request a copy directly from the author.

... Apesar de incentivada e ressaltada como uma prática importante ao longo dos anos devido aos benefícios que poderia trazer, como a ênfase no aspecto lúdico, no desenvolvimento de habilidades corporais ou o acesso a conhecimentos e práticas da cultura corporal de movimento, a Educação Física nas escolas de Educação Infantil no Brasil, enquanto área específica de conhecimento, nunca foi obrigatória. No entanto, diversas escolas particulares e públicas em alguns municípios brasileiros, como aquele em que foi desenvolvida esta pesquisa, contratam docentes de Educação Física para atuar na Educação Infantil. 1 Gênero tem sido apontado como um importante marcador social de diferenças nas práticas pedagógicas de Educação Física escolar (Altmann, 2015;Clark, Paechter, 2007;Jacó, 2012;Thorne, 1993;Uchoga, 2012;Wenetz et al., 2006) e da Educação Infantil (Faria, 2006;Finco, 2008;Vianna;Finco, 2009). Neste artigo, ele é empregado para analisar relações estabelecidas em práticas de Educação Física no âmbito da Educação Infantil. ...
... Apesar de incentivada e ressaltada como uma prática importante ao longo dos anos devido aos benefícios que poderia trazer, como a ênfase no aspecto lúdico, no desenvolvimento de habilidades corporais ou o acesso a conhecimentos e práticas da cultura corporal de movimento, a Educação Física nas escolas de Educação Infantil no Brasil, enquanto área específica de conhecimento, nunca foi obrigatória. No entanto, diversas escolas particulares e públicas em alguns municípios brasileiros, como aquele em que foi desenvolvida esta pesquisa, contratam docentes de Educação Física para atuar na Educação Infantil. 1 Gênero tem sido apontado como um importante marcador social de diferenças nas práticas pedagógicas de Educação Física escolar (Altmann, 2015;Clark, Paechter, 2007;Jacó, 2012;Thorne, 1993;Uchoga, 2012;Wenetz et al., 2006) e da Educação Infantil (Faria, 2006;Finco, 2008;Vianna;Finco, 2009). Neste artigo, ele é empregado para analisar relações estabelecidas em práticas de Educação Física no âmbito da Educação Infantil. ...
... Ao pesquisar as relações de gênero entre adulto e crianças e entre as próprias crianças em uma escola municipal de Educação Infantil paulistana, Finco (2008) diz que as filas, apesar de serem justificadas pelas professoras como facilitadoras na hora de organizar e locomover o grupo, são também uma forma de mostrar os meninos, que são estigmatizados como agitados, bagunceiros e aqueles que não prestam atenção, contrastando com o bom exemplo dado pelas meninas na organização. A mesma autora ainda completa que a prática educativa de separar as "filas de meninas" e "filas de meninos", realizadas repetidas vezes e cotidianamente, vai confinando os comportamentos das meninas para que sejam mais responsáveis, dedicadas, comunicativas, estudiosas, interessadas e sensíveis (Finco, 2008:3). ...
Article
Full-text available
The article deals with gender relations in Physical Education classes in Early Childhood Education. The methodology involves performing class observations and interviews with a male teacher and a female teacher, who teach at public schools in a municipality of the Metropolitan Region of Campinas, SP, Brazil. Expectations and teachers incentives, when expressed in a polarized manner, produce gender inequalities. Less polarized interventions produced less hierarchical and unequal gender relations, forming boys and girls as being capable of learning and experiencing the body and gestures in a broad and diversified way.
... As falas com comentários sobre a aparência das crianças, por meio de elogios ou a falta deles reforçam estereótipos de masculinidade e feminilidade (meninas: magras, cuidadosas, delicadas, cabelos longos, arrumadas, gostam de maquiagem; meninos: sofrem com cabelo comprido, necessitam ser controlados). Finco (2008) Portanto, aprendemos pelo corpo, de acordo com Bourdieu (2001). Antes do intelecto, a ordem social se inscreve nos corpos, através da ação pedagógica cotidiana e nos ritos da instituição, exercidos muitas vezes pela emoção e pelo sofrimento: ...
Article
Este artigo trata da socialização de gênero de crianças pequenas em um Centro Municipal de Educação Infantil, da cidade de Curitiba, a partir das relações entre docência e religião. Os dados da pesquisa foram coletados a partir de questionários, observação e entrevista com professoras entre os meses de agosto e dezembro de 2018. Objetivou-se verificar se a vivência religiosa das professoras influencia nas decisões cotidianas. A análise ocorreu a partir de Pierre Bourdieu e Gimeno Sacristán, para as noções de socialização, habitus e docência, além de estudos do campo de gênero na educação (Louro, Vianna e Finco). Os resultados indicam que algumas ações são realizadas por hábito e outras decorrem das falas das professoras sobre corpos e aparência das crianças, de modo que há o reforço de estereótipos masculinos e femininos. Por outro lado, as crianças trazem do seu cotidiano informações sobre gênero frente às quais foi detectado o silenciamento das professoras, o que também contribui para reforçar os estereótipos. Por fim, há ainda, as ações vindas diretamente das professoras, definindo o “lugar” de meninos e meninas. A realização de formação das professoras se faz necessária diante do quadro atual para que reflitam e rompam com essas práticas, contribuindo no processo de socialização profissional.
... Para Finco (2003Finco ( , 2008, a escola participa sutilmente da construção da identidade de gênero e essa construção tem início desde as primeiras relações da criança no ambiente coletivo da educação infantil. Finco (2003) buscou investigar como as práticas educativas constroem e reforçam as diferenças determinadas pelo seu sexo e nos esclarece que, quando são proporcionadas opções de brinquedos e de brincadeiras em determinados espaços, eles são ocupados por meninos e meninas indiscriminadamente. ...
Article
Full-text available
O artigo apresenta uma pesquisa que teve por objetivo compreender os significados e os sentidos que as crianças de um Centro Municipal de Educação Infantil de Curitiba atribuem aos espaços da instituição educativa que frequentam. Para tanto, os referenciais teóricos e metodológicos utilizados foram: Forneiro (1998), Horn (2004), Carvalhoe Rubiano (2007), Faria (2007) e Santos (2008), sobre o espaço e o espaço na instituiçãode educação infantil; documentos que orientam sobre a organização dos espaços nos Centros Municipais de Educação Infantil; Demartini (2002), Cerisara (2004), Gobbi (2002,2009), sobre pesquisas com crianças; Lessard-Hébert, Goyett e e Boutin (1990), sobre a pesquisa qualitativa. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram observação participante, entrevista semiestruturada, desenhos comentados e visita monitorada. Na análise dos dados, utilizou-se como encaminhamento teórico-metodológico a constituição de núcleos de significação, inspirada na metodologia proposta por Aguiar e Ozella (2006) e empregada por Moro (2009). Apoiada nos estudos de Vygotsky (1991, 2001a, 2001b) sobre a linguagem e o pensamento, esta pesquisa concluiu que os significados e os sentidos que as crianças atribuíram aos espaços foram construídos e reelaborados por elas à medida que falavam sobre eles. A análise dos núcleos de significação levou a pensar que a ludicidade, a afetividade, o reconhecimento das regras de convivência social, a curiosidade e a imaginação podem ser considerados elementos constitutivos da infância, por meio dos quais as crianças atribuem significados e sentidos ao espaço institucional que frequentam.
Article
Full-text available
O artigo objetiva analisar o planejamento da prática pedagógica, bem como as estratégias e recursos pedagógicos utilizados por professores em formação inicial de Educação Física no Estágio Supervisionado de Educação Infantil. Participaram dessa pesquisa quatro professores em formação do curso de Licenciatura em Educação Física de uma Universidade Federal localizada na Zona da Mata Mineira. O instrumento de produção dos dados foi uma entrevista semiestruturada. A técnica para análise de dados utilizada foi a Análise de Conteúdo. Os resultados apontaram que os participantes deste estudo consideravam o planejamento pedagógico, a inclusão educacional e o trabalho em conjunto como aspectos essenciais para ressignificação e contribuição na prática docente. Percebeu-se que as estratégias de ensino com caráter lúdico e que os recursos audiovisuais foram as ferramentas pedagógicas mais mencionadas dentre os professores em formação. Concluiu-se que, apesar de estarem no primeiro Estágio, os professores em formação demonstraram grande investimento pedagógico e que é preciso compreender as demandas, necessidades e anseios destes professores em formação.
Article
Full-text available
Este artigo trata da problematização da escrita dos pareceres descritivos de crianças pequenas em relação à questão de gênero em um Centro Municipal de Educação Infantil, da cidade de Curitiba, a partir das relações entre docência e religião. Os dados da pesquisa foram coletados a partir de questionários, observação, entrevista e análise dos pareceres entre os meses de agosto e dezembro de 2018. Objetivou-se verificar se a vivência religiosa das professoras influencia nas decisões sobre as escritas. A análise ocorreu a partir de Pierre Bourdieu e Gimeno Sacristán, para as noções de socialização, habitus e docência, além de estudos do campo de gênero na educação e da sociologia da religião. As escritas dos pareceres foram divididas em: ações, preferências e personalidades de meninos e meninas. Os resultados indicam que as noções de gênero internalizadas pelas professoras orientam sua escrita e a concepção binária de gênero tradicionalmente aceita pela sociedade foi mais evidente nas professoras com uma vivência mais institucionalizada com a religião. Por fim, a visão dos papeis de mulheres e de homens, influenciada pela religião, interfere nas visões de como enxergam as meninas e os meninos na instituição e precisam ser reveladas para contribuir nesse processo de socialização profissional.
Article
Este texto apresenta uma experiência formativa junto as professoras de escolas comunitárias da PenínsulaItapagipana de Salvador/BA no âmbito de um projeto de intervenção, produto do curso de especializaçãoem Gênero e Sexualidade na Educação ofertado pela Universidade Federal da Bahia. Estaformação teve como tema central as discussões sobre gênero e sexualidades na Educação Infantil.Os aportes teóricos utilizados se centram nas discussões sobre os feminismos negros e a interseccionalidade(ASSIS, 2009). Nos encontros com as professoras buscamos refletir com elas as concepçõespessoais e profissionais acerca de gênero e sexualidade em suas vidas a fim de rompermos osestereótipos de gênero e sexualidade presente na sociedade e nas práticas pedagógicas e elegermospedagogias outras que favoreçam o respeito às diferenças.As abordagens metodológicas utilizadas na formação foram orientadas a partir dos estudosde Virgínia Kastrup (1999; 2005) e Amanaiara Conceição Miranda (2018), trazendo uma discussãosobre aprendizagem inventiva, evidenciando os deslocamentos, as desaprendizagens e problematizaçõesnuma ação pedagógica transgressora de um fazer junto as crianças pequenas. Formações deprofessoras como a apresentada neste texto podem contribuir para que as crianças pequenas vivamsuas vidas permeadas pelo afeto e respeito as suas escolhas cotidianas.
Article
Full-text available
Esta pesquisa bibliográfica tem como objetivo expor, analisar e compreender a atribuição de papéis de gênero. Desde a infância, o processo de socialização e a manifestação de sua identidade de gênero são obstruídos às pessoas. Fundamenta-se na bibliografia eleita, explorando os estudos e pesquisas pertinentes às temáticas de gênero e de formação de identidade. Resgatou-se o contexto sócio-histórico da atribuição de papéis sociais, que constituem o gênero humano, por meio do dispositivo dicotômico sexo/gênero nas sociedades, com a própria his-toricidade do conceito de gênero, problematizando a educação empregada pela família e pela escola, assim como outras instituições e grupos sociais, sobre as iniquidades cotidianas entre meninas e meninos, isto é, os empecilhos sociais em torno da expressão plena de sua identidade. Partindo-se do pressuposto de que a norma social vigente, a heteronormatividade, penetra no ambiente escolar e familiar e restringe quaisquer manifestações da diversidade humana de gênero e sexualidades, a pesquisa pôde compreender que os indivíduos apresentam inúmeras identida-des de gênero construídas e, ao mesmo tempo, intrínsecas a eles: meninos que gostam de rosa, meninas que gostam de azul, assim como meninos que gostam de brincar de bonecas e meninas que não gostam de brincar de carrinho, a contraponto daqueles meninos e meninas que preferem os dois. Todavia, a heteronormatividade aglutina essas identidades em um binarismo de expressão de gênero, a partir de seu sexo biológico, de matriz heterossexual.
Article
Full-text available
Pretendemos, no presente artigo, refletir sobre a relação da ideologia, socialização e a masculinidade. Nosso referencial teórico para o conceito de ideologia se apoia em Marx, Mészáros e Lukács; é a partir destes pensadores que pretendemos dialogar com os estudos sobre o feminismo, a masculinidade e os gêneros em geral, pois pensamos que a influência destes três elementos pode assumir aspectos mais danosos para as mulheres e outros gêneros nas populações mais carentes da sociedade. Com referências a estatísticas sobre violência contra mulher e pesquisas qualitativas sobre sexualidade, paternidade e violência, pretendemos confirmar que o resultado de tal analise é de que a baixa instrução e a desigualdade social acentuada (principalmente no Brasil) representam um perigo para os gêneros dominados. Dessa forma também será possível reafirmar que o conceito de masculinidade marginalizada pode ser observado na sociedade, permitindo uma melhor apreensão dos diferentes tipos de masculinidades possíveis na nossa cultura e em tantas outras
Article
This paper analyzes the relations between gender and movement in the early childhood education through of two researches realized in institutions of early childhood education of distinct Sao Paulo cities State. At both it was done look out ethnographical and interview. The first, realized at Campinas city, search into how the body and movement`s child was deal during at scholar routine. The second, realized at Vinhedo city, searched the gender`s relationship in the physical education classes. We analyzing here, how the contrast interventions form of the teachers, fetch differents gender relationship during their classes. We conclude that different forms or intervention can incite or not the segregation between girls and boys this places. Keywords: Early Childhood Education. Gender. Movement. Physical Education.
Article
Full-text available
O corpo, em sua materialidade, pode ser trazido à cena como possibilidade para se pensar a vida humana e toda a complexidade de suas interações. Circuncrito em quadros relacionais bem precisos, é capaz de esclarecer um mundo (Vigarello, 2003, p. 4). Território construído por liberdades e interdições, é revelador de sociedades inteiroas, o corpo pode ser tomado como síntese visível da inegável inter-relação entre natureza e cultura. Seus múltiplos sentidos, assim, pedem múltiplos olhares para que dele se fale. O corpo, portanto, é também expressão do traço esculpido na pedra, no concreto, nos grãos de areia, contém esta memória e é, também, memória. Sua educação dá-se na relação com a materialidade do mundo. As implicações disso são claras quando se trata de pensar no papel da arqueitetura nesta educação.
Article
Full-text available
Problematiza-se, neste trabalho, o movimento de afirmação de uma nova cultura escolar em Belo Horizonte nas duas primeiras décadas do século XX, especialmente após a reforma do Ensino Primário promovida pelo governo mineiro em 1906. Nela, depositou-se a esperança de realizar uma "revolução de costumes" nas crianças, especialmente as filhas de populações pobres, procurando, ao mesmo tempo, destruir seus hábitos de origem e implantar-lhes maneiras consideradas civilizadas. Mais que instruir, era preciso educar. Educação que se traduziu também como cultivo dos corpos: muitos foram os dispositivos mobilizados para realizar uma pretendida "educação physica" das crianças, presentes na legislação do ensino; nas maneiras de organizar e ocupar os espaços; na distribuição dos tempos escolares; nas diferentes disciplinas dos programas de ensino; na obsessão pela higiene; na inspeção médica; nos rituais escolares; na aproximação com as práticas de trabalho; e, ainda, nos muitos cuidados que lhes dedicavam as Diretoras e professoras. Acompanhando mais detidamente o enraizamento escolar da "Gymnastica", a partir dos ordenamentos legais prescritos no período e dos relatórios produzidos pelos agentes escolares, buscou-se evidências do processo de instituição de seu campo disciplinar, indicando-se que seu ensino foi representado e orientado sob o primado da correção e constituição dos corpos das crianças, tidos como disformes e desalinhados. Os impasses e precariedades desse processo não impedem de ver, no entanto, o investimento de uma época sobre o corpo das crianças, no âmbito da escola.
Article
Full-text available
Gênero, Gram. Categoria que indica por meio de desinência uma divisão dos nomes baseada em critérios tais como sexo e associações psicológicas. Há gêneros masculino, feminino e neutro. Novo Dicionário da Língua Portuguesa (Aurélio B. de Hollanda Ferreira). Aqueles que se propõem a codificar os sentidos das palavras lutam por uma causa perdida, porque as palavras, como as idéias e as coisas que elas significam, têm uma história. Nem os professores de Oxford, nem a Academia Francesa foram inteiramente capazes de controlar a maré, de captar e fixar os sentidos livres do jogo da invenção e da imaginação humana. Mary Wortley Montagu acrescentava a ironia à sua denúncia do "belo sexo" ("meu único consolo em pertencer a este gênero é ter certeza de que nunca vou me casar com uma delas") fazendo uso, deliberadamente errado, da referência gramatical. Ao longo dos séculos, as pessoas utilizaram de forma figurada os termos gramaticais para evocar traços de caráter ou traços sexuais. Por exemplo, a utilização proposta pelo Dicionário da Língua Francesa de 1879 era: "Não se sabe qual é o seu gênero, se é macho ou fêmea, fala-se de um homem muito retraído, cujos sentimentos são desconhecidos". E Gladstone fazia esta distinção em 1878: "Atenas não tinha nada do sexo a não ser o gênero, nada de mulher a não ser a fama". Mais recentemente – recentemente demais para encontrar seu caminho nos dicionários ou na enciclopédia das ciências sociais – as feministas começaram a utilizar a palavra "gênero" mais seriamente, no sentido mais literal, como uma maneira de referir-se à organização social da relação entre os sexos. A conexão com a gramática é ao mesmo tempo explícita e cheia de possibilidades inexploradas. Explícita, porque o uso gramatical implica em regras que decorrem da designação do masculino ou feminino; cheia de possibilidades inexploradas, porque em vários idiomas indo-europeus existe uma terceira categoria – o sexo indefinido ou neutro. Na gramática, gênero é compreendido como um meio de classificar fenômenos, um sistema de distinções socialmente acordado mais do que uma descrição objetiva de traços inerentes. Além disso, as classificações sugerem uma relação entre categorias que permite distinções ou agrupamentos separados. No seu uso mais recente, o "gênero" parece ter aparecido primeiro entre as feministas americanas que queriam insistir na qualidade fundamentalmente social das distinções baseadas no sexo. A palavra indicava uma rejeição ao determinismo biológico implícito no uso de termos como "sexo" ou "diferença sexual". O "gênero" sublinhava também o aspecto relacional das definições normativas de feminilidade. As que estavam mais preocupadas com o fato de que a produção dos estudos femininos centrava-se sobre as mulheres de forma muito estreita e isolada, utilizaram o termo "gênero" para introduzir uma noção relacional no nosso vocabulário analítico. Segundo esta opinião, as mulheres e os homens eram definidos em termos recíprocos e nenhuma compreensão de qualquer um poderia existir através de estudo inteiramente separado. Assim, Nathalie Davis dizia em 1975: "Eu acho que deveríamos nos interessar pela história tanto dos homens quanto das mulheres, e que não deveríamos trabalhar unicamente sobre o sexo oprimido, da mesma forma que um historiador das classes não pode fixar seu olhar unicamente sobre os camponeses. Nosso objetivo é entender a importância dos sexos, dos grupos de gêneros no passado histórico. Nosso objetivo é descobrir a amplitude dos papéis sexuais e do simbolismo sexual nas várias sociedades e épocas, achar qual o seu sentido e como funcionavam para manter a ordem social e para mudá-la".
Article
Full-text available
Com o objetivo de iniciar a descrição de um estado da arte este texto reúne pesquisas até então esparsas da área da educação infantil (primeira etapa da educação básica) que analisam as relações de poder entre meninas e meninos de 0 a 6 anos que freqüentam, por longas horas do dia, creches e pré-escolas; entre elas e eles e as profissionais predominantemente do sexo feminino, por opção de suas mães (e às vezes também de seus pais) e investigam também as relações de poder entre essas mulheres adultas. O texto mostra que também por trazer a criançada, principalmente as pequenas, para assumir seu papel na construção da realidade, a luta feminista é grande responsável pelas modificações sociais da gestão do tempo cotidiano.
Article
Full-text available
RESUMO: Este artigo examina a inclusão da perspectiva de gênero na educação infantil e no ensino fundamental, no período de 1988 a 2002, com ênfase no Referencial Curricular Nacional para a Edu-cação Infantil (RCNEI) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental (PCN). Conclui que, embora esses documentos constituam importantes instrumentos de referência para a construção de políticas públicas de educação no Brasil, a partir da ótica de gê-nero, contribuindo com a formação e com a atuação de professoras e professores, essas políticas não são devidamente efetivadas pelo Esta-do. Não existem estudos sistematizados sobre a efetividade dessas proposições e sobre possíveis mudanças na prática pedagógica de educadoras(es). Desse modo, sua legitimidade fica prejudicada, assim como a proposição de uma política que pretende garantir condições igualitárias de qualidade para o sistema de ensino e para a formação docente, a partir de um currículo nacional. ABSTRACT: This paper explores the inclusion of a gender per-spective in pre-school and basic education in Brazil during 1988-* Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), professora da Faculdade de Educação da mesma Instituição e coordenadora do GT "Movimentos Sociais e Educação" da ANPEd.
Article
1-PRIMEIROS OLHARES SOBRE A ESCOLA Analisar a escola como espaço sócio-cultural significa compreendê-la na ótica da cultura, sob um olhar mais denso, que leva em conta a dimensão do dinamismo, do fazer-se cotidiano, levado a efeito por homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras, negros e brancos, adultos e adolescentes, enfim, alunos e professores, seres humanos concretos, sujeitos sociais e históricos, presentes na história, atores na história. Falar da escola como espaço sócio-cultural implica, assim, resgatar o papel dos sujeitos na trama social que a constitui, enquanto instituição. Este ponto de vista expressa um eixo de análise que surge na década de 80. Até então, a instituição escolar era pensada nos marcos das análises macro-estruturais, englobadas, de um lado, nas teorias funcionalistas (Durkheim, Talcott Parsons, Robert Dreeben, entre outros), e de outro, nas "teorias da reprodução" (Bourdieu e Passeron; Baudelot e Establet; Bowles e Gintis; entre outros). Essas abordagens, umas mais deterministas, outras evidenciando as necessárias mediações, expõem a força das macro-estruturas na determinação da instituição escolar. Em outras palavras, analisam os efeitos produzidos na escola, pelas principais estruturas de relações sociais, que caracterizam a sociedade capitalista, definindo a estrutura escolar e exercendo influências sobre o comportamento dos sujeitos sociais que ali atuam. A partir da década de 80, surgiu uma nova vertente de análise da instituição escolar, que buscava superar os determinismos sociais e a dicotomia criada entre homem-circunstância, ação-estrutura, sujeito-objeto. Essa vertente se inspira num movimento existente nas ciências sociais, direcionado por um paradigma emergente que,no dizer de Boaventura (1991), tem como característica a superação do conhecimento dualista, expresso na volta do sujeito às ciências: "o sujeito, que a ciência moderna lançara na diáspora do conhecimento irracional, regressa investido da tarefa de fazer erguer sobre si uma nova ordem científica (p.43)". O reflexo desse paradigma emergente é um novo humanismo,que coloca a pessoa, enquanto autor e sujeito do mundo, no centro do conhecimento, mas, tanto a natureza, quanto as estruturas, estão no centro da pessoa, ou seja, a natureza e a sociedade são antes de tudo humanas.
Article
Resumo: Com o objetivo de compreender os encontros e desencontros do mundo da in- fância no âmbito da educação e da cultura em creche, assim como identificar as concepções do brincar atribuídas à educação infantil para crianças entre Oe 3 anos de idade e contribuir assim para a construção da Pedagogia da Educação Infantil, este artigo busca, no diálogo e no contraponto com a Psicologia, apontar para a necessidade da garantia de oportunidades nas quais essas crianças brasileiras, filhas e filhos de trabalhadoras e trabalhadores, possam ser crianças - vivendo a especificidade infantil, aprendendo a brincar, ensinando suas brin- cadeiras, relacionando-se com outras crianças e com os adultos, criando e recriando cultura, configurando espaços de educação de crianças e também de adultos: espaços de se viver a infância, de se produzir novos conhecimentos sobre e por elas mesmas. Palavras-chave: Educação Infantil, cultura infantil, creche, criança pequenininha Abstract: Having the objective to understand the childhood world issues regarding education and culture in Child Care Centers, and to identify playing concepts that are attributed to Childhood Education between O and 3 year-old-children, this article aims, in the dialogue and the counterbalance to psychology to identity, the necessity to assure opportunities in which these Brazilian children -workers' offspring, both boys and girls -may actually be children, by leaming how to play, by teaching their games, by relating to other children and to adults, by creating and re-creating culture, within the make up a space of children education as well as adults, spaces to live the childhood and to produce new knowledge about them and by themselves, thus contributting to the construction of the Early Childhood Education Pedagogy.
Creche lugar de criança, lugar de infância: um estudo sobre as práticas educativas em um CEMEI. Campinas: Dissertação (mestrado em Educação), Faculdade de Educação da Unicamp
  • Joseane Maria Bufalo
  • Parice
BUFALO, Joseane Maria Parice. Creche lugar de criança, lugar de infância: um estudo sobre as práticas educativas em um CEMEI. Campinas: Dissertação (mestrado em Educação), Faculdade de Educação da Unicamp, 1997.
Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças
  • Zeila Demartini
  • B F De
  • Prado
  • D Patrícia
DEMARTINI, Zeila de B. F.; PRADO, Patrícia D. (orgs.) (2002). Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças. Campinas, SP: Autores Associados.
Corpo, identidade e bom-mocismo: cotidiano de uma adolescência bemcomportada
  • Alex Fraga
  • Branco
FRAGA, Alex Branco. Corpo, identidade e bom-mocismo: cotidiano de uma adolescência bemcomportada. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
A Interpretação das culturas. Rio de Janeiro, Editora Guanabara
  • Cliford Geertz
GEERTZ, Cliford. A Interpretação das culturas. Rio de Janeiro, Editora Guanabara,1989.
Lápis Vermelho é de mulherzinha: desenho infantil, relações de gênero e educação infantil
  • Márcia Gobbi
  • Aparecida
GOBBI, Márcia Aparecida. Lápis Vermelho é de mulherzinha: desenho infantil, relações de gênero e educação infantil. (Dissertação de Mestrado) Faculdade de Educação Unicamp, 1997.
Contrariando a idade: condição infantil e relações etárias entre crianças pequenas da Educação Infantil
  • Patrícia Prado
  • Dias
PRADO, Patrícia Dias. Contrariando a idade: condição infantil e relações etárias entre crianças pequenas da Educação Infantil. (Doutorado em Educação.
I Reunião Anual do PROEFE: por que Educação Física
  • Carmen Soares
  • Lúcia
SOARES, Carmen Lúcia. A educação do corpo e a educação física escolar. "I Reunião Anual do PROEFE: por que Educação Física", realizada na Escola de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais, 2002.
Paredes que domesticam: arqueologia da arquitetura escolar capitalista
  • Andrés Zarakin
ZARAKIN, Andrés. Paredes que domesticam: arqueologia da arquitetura escolar capitalista, São Paulo: Fapesp, 2002.