Ao Dr. Lauro Junkes, que sabe das dificuldades que envolvem a literatura catarinense. I — Se fosse possível fazer uma introdução... Estamos vivendo tempos de pós-modernidade, globalização, narcisismos autofágicos e inúmeras outras mazelas — todas devidamente classificadas pela teoria. Apesar disso, a situação envolve tal confusão que poucos conseguem discernir se "as idéias estão fora do lugar" ou se é "a hora e a vez do discurso competente e outras falas". Anuário de Literatura 10, 2002, p. 135-152. 136 Uma introdução à literatura Do seu confortável posto de observação, onde está encastelado, o crítico entende — e teoriza para a posteridade — que a arte está se transformando em algo muito além de suas preocupações usuais. Há rumores e descompassos — talvez ainda não seja o material adequado para compor um novo ritmo musical, mas vigora a certeza de que o barulho é suficiente para inquietar. Utilizando uma dessas metáforas-clichês que emolduram a estética, é possível intuir que a arte se transformou em uma espécie de parede: superfície branca, plana, triste, anódina, isolante. E, dentro deste raciocínio, não seria inadequado afirmar que há quem use dessas paredes para pendurar quadros. Paisagens, principalmente. Esse tipo de indivíduo, consoante com o tempo em que está vivendo, estabelece como meta existencial o artificial ou o simulacro. Ideologicamente, defende, como valor permanente, uma estética decorativa em substituição à ética social. É como se dissesse: estou de um lado e a luz, do outro. E, para compensar a penumbra, aciona o interruptor, acende lâmpadas.