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Projeto Simultâneo na Construção de Edifícios

Authors:
MÁRCIO MINTO FABRICIO
PROJETO SIMULTÂNEO
NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS
Tese apresentada à Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo para
obtenção do Título de Doutor em
Engenharia
São Paulo
2002
MÁRCIO MINTO FABRICIO
PROJETO SIMULTÂNEO
NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS
Tese apresentada à Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo para
obtenção do Título de Doutor em
Engenharia
Área de Concentração:
Engenharia de Construção Civil e Urbana
Orientador:
Professor Livre-Docente
Silvio Burrattino Melhado
São Paulo
2002
i
Aos meus país Cantídio e Thereza e
a meu irmão Tárcio, pelo suporte e
carinho durante os anos de estudo.
ii
Agradecimentos
Ao Silvio que com uma orientação segura e competente se tornou um amigo e
parceiro de trabalho.
Aos membros da banca de qualificação, Dr. Paulo R. Andery e Dr. Celso C. Novaes
e ao colega da EESC-USP professor Azael R. Camargo pela leitura atenciosa da
qualificação e pelas importantes críticas, sugestões e suprimento de referências
bibliográficas.
A Adriano G. Vivancos por me abrigar ocasionalmente em sua casa, pela leitura e
revisão da qualificação e pela parceria em diversos trabalhos.
Às empresas que permitiram a realização dos estudos de caso: Companhia
Habitacional de Desenvolvimento Habitacional e Urbano –, DWG arquitetura e
sistemas, Líder Engenharia, Projecon Projetos, Racional Engenharia, Rossi
Residencial. E aos profissionais destas empresas que me atenderam nas entrevistas e
visitas: Arq. Lucy Yagura, Arq. Rita Cristina Ferreira, Eng. Antônio Rodrigues
Martins, Eng. Frederico Martineli, Arq. Patrícia Valadares, Enga. Giani, Eng. Márcio
Grossman, Eng. Roberto Gennaro, dentro outros.
À Maria Angélica Covelo Silva que me possibilitou acompanhar o curso de
capacitação em gestão da qualidade para empresas de projeto do Núcleo de Gestão e
Inovação (NGI) durante os anos de 1998-1999.
A Alexandre Petersen que me emprestou seu escritório para redação desse trabalho e
teve paciência em conviver com pilhas de teses, livros e artigos espalhados pela sala.
Ao amigo e anfitrião Marcelo G. Nogueira pela acolhida em sua casa em Campinas,
parada intermediária de muitas jornadas a São Paulo.
A Júlio e Edson, colegas de república durante a minha estada em São Paulo.
Aos colegas da pós-graduação no PCC, Fred Borges, Maria Júlia Mesquita,
Leonardo Masseto, Leonardo Grilo, Josaphat Baía, pela parceria em diversos
trabalhos e publicações.
Ao Guilherme e ao Luiz Otávio, pelas caronas e companhia nas viagens do interior
para São Paulo.
Aos colegas professores do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, em especial a
Ricardo Martucci, Admir Basso, Manoel R. Alves, David Sperling, Joubert José
Lancha, parceiros em disciplinas de graduação que souberam compreender minhas
eventuais ausências para desenvolver a tese e a minha colega de sala Profa. Rosana
M. Caran.
iii
Aos colegas professores, bolsistas e ex-bolsistas do grupo de pesquisa ARCHTEC,
pela convivência e pelo rico ambiente de trabalho.
Ao professor Francisco F. Cardoso pelos ensinamentos durante sua disciplina de pós.
Aos professores Luiz Sérgio Franco, Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, Hermes
Fajersztajn, e Jonas Silvestre Medeiros meus supervisores de estágios PAE
(Programa de Aperfeiçoamento de Ensino) durante os quais pude aprender o que é
ser professor, a Mércia Barros e aos demais professores do GEPE-TGP pela
qualidade do ambiente acadêmico e de pesquisa.
À Professora da Universidade Federal de Santa Maria, Margaret S. Jobim, pelos
comentários e sugestões bibliográficas.
À Fátima Regina pela atenção e auxílio com as questões institucionais e operacionais
do programa de pós-graduação.
À Dulce Picolli pela ajuda nas correções de português.
À Adriana Romanini pela revisão do inglês do
Abstract
.
À arquiteta Patrícia Schultz pela ajuda na formatação da lista de bibliografias.
À Elena Luiza P. Gonçalves, funcionária da biblioteca da Escola de Engenharia de
São Carlos, pela revisão da formatação da lista de bibliografias.
Aos funcionários do departamento de arquitetura e urbanismo da EESC-USP,
Antonio João Tessarin, Fátima Maria N.L.L. Mininel, Sérgio Celestini, Marcelo
Celestini, Paulo Borges e Lucinda B. Torres pelos inumeros prestimos.
À Vanessa Montoro Taborianski, Rubenio Simas, Eliane Taniguchi, Ana Lucia
Souza, Luciana Leonel, Eduardo Fontenelle, Palmyra Reis, Yêda Vieira Povoas,
Maurício Keiji, Artemária C. Andrade, Sérgio E. Zordan, Rolando R. Vilato, Cynara
T. Bono, André Wakamatsu, Sofia Zegarra, Claudia, e demais colegas
contemporâneos do programa de pós-graduação.
À Arlete M. Francisco pelo desvelo e por me incentivar a ingressar no programa de
doutorado.
À Adriana Becker pelo carinho e pela ajuda na encadernação e envio da qualificação.
Aos amigos Patrícia Piquet, Alexandre e Adriana Damberg pelo companherismo na
comemoração da qualificação.
Aos amigos, Alessandra, Augusto Celso e Josefa, Fernando, Cristina e Luiza, Danila
Alencar, Dório e Maria, Fabiano Volpini, Geni Joioso, Gilberto e Valeria , Josiane e
Ana Cláudia Bueno, Marcela e Rogério, Mirela Godoy, Mirian e Ana C., Nélida,
Nina Rosa Costa, Renata e Guido, Rogério DeLucca, Sandra Oda por me escutarem
falando sobre a tese e as dificuldades do trabalho e pelo apoio.
iv
Aos parentes que me incentivaram: Florentina, Eugenio, Anísia, João, Tiana,
Toninho e Janete, José e Áurea, Rubens e Dina, Rogério e Patrícia, Ana L. e Beto,
Marcelo e Cristina, Ricardo e Rita, Igor, Egle, Matheus, Ana Clara, João Pedro, Rau,
Maria Eduarda, Marcela, Cristian, Thiago, Lucas e Bruna.
Aos meus alunos do curso de graduação em arquitetura e urbanismo da Escola de
Engenharia de São Carlos pelo muito que pude aprender com eles.
Ao curso de graduação em engenharia civil da Universidade Federal de São Carlos
pela formação e por me despertar para o problema da gestão na indústria da
construção.
À USP em especial à Escola Politécnica e à Escola de Engenharia de São Carlos pela
oportunidade de participar de seus quadros como aluno e funcionário.
Ao laboratório de Midimagem do departamento de arquitetura e urbanismo da
EESC-USP e aos técnicos Paulo V. Ceneviva e José Eduardo Zanardi pelo auxílio na
impressão da tese e preparação da apresentação.
Ao CNPq Conselho Nacional de Pesquisa pela bolsa concedida para realização do
trabalho.
v
PROJETO SIMULTÂNEO NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS
(Tese de doutorado apresentada à Escola Politécnica da USP)
Márcio Minto Fabricio
São Paulo, 2002
RESUMO
O trabalho apresenta uma reflexão sobre a gestão de projetos na construção de
edifícios, desenvolve o conceito de Projeto Simultâneo e propõe diretrizes para sua
aplicação.
Para desenvolver a pesquisa foram realizados estudos bibliográficos sobre a
realidade contemporânea da construção de edifícios brasileira e sobre a 'Engenharia
Simultânea' no desenvolvimento de produtos nas indústrias tecnologicamente de
ponta. Também foram feitos estudos de caso, envolvendo diversas empresas de
construção com atuação em diferentes mercados (incorporação-construção,
promoção pública, obras sob encomenda), visando caracterizar o processo de projeto
de edifícios.
Como resultado são apresentados: uma análise da pertinência e das dificuldades para
introdução de práticas baseadas na Engenharia Simultânea na gestão de projetos de
edifícios; a formulação do conceito de Projeto Simultâneo como uma adaptação ao
setor de metodologias mais evoluídas para a gestão de projetos; são feitas análises
das tendências de modernização na gestão dos projetos em diferentes estudos de caso
e das dificuldades para caracterização de um Projeto Simultâneo nos diferentes tipos
de empreendimento considerados. Por fim, são desenvolvidas e apresentadas
diretrizes para aplicação do Projeto Simultâneo como forma de melhorar o
desempenho do processo de projeto e a qualidade ao longo do ciclo de vida dos
edifícios.
Palavras-chaves: projeto simultâneo, engenharia simultânea, processo de projeto,
gestão da qualidade, construção de edifícios.
vi
CONCURRENT DESIGN IN BUILDING CONSTRUCTION
(Phd. thesis presented at Escola Politécnica – USP)
Márcio Minto Fabricio
São Paulo, 2002
ABSTRACT
This thesis presents a reflection on the design management in building construction,
develops a concept of concurrent design and suggests guidelines for its application.
In order to develop this research, bibliography studies on the current situation of
building construction in Brazil and on ‘Concurrent Engineering’ were conducted.
Case studies involving several building companies acting in different markets (real
estate development, public housing, building under request), aiming to describe the
process of building design were also carried out.
As a result, we present: an analysis of the importance of and the difficulties in
introducing practices based on Concurrent Engineering in the building design
management field; the formulation of the Concurrent Design concept as an
adaptation of state-of-the-art methodologies in design management; the analysis of
the modernizing tendencies in design management through different case studies and
the difficulties in characterizing a Concurrent Design in the different kinds of
projects taken into consideration. Finally, the guidelines for the application of
Concurrent Design are developed and presented as a way to improve the
performance of design process and the quality along the life cycle of buildings.
Key words: concurrent design, concurrent engineering, design process, quality
management, building construction.
vii
CONCEPTION CONCURRANTE DANS LES BÂTIMENTS
(These de doctorat présentée à l École Polytechnique de l’USP)
Márcio Minto Fabricio
São Paulo, 2002
RÉSUMÉ
Ce travail présente une réflexion sur la gestion du processus de conception dans le
Bâtiment, développe le concept de conception concourante et propose des
orientations pour sa mise en œuvre.
Des études bibliographiques et études de cas ont été réalisées pour développer la
recherche. Les premiers concernent la réalité contemporaine de la construction de
bâtiments au Brésil et l’approche de l’ingénierie concourante pour le développement
de produits dans les industries de pointe. Les études de cas, comprenant diverses
entreprises de construction présentes sur différents marchés (promotion privée,
maîtrise d’ouvrage publique, des ouvrages à la commande), ont envisagé de
caractériser le processus de conception des bâtiments.
Les résultats sont: une analyse de la pertinence et des difficultés pour la mise en
œuvre de pratiques basées sur l’ingénierie concourante dans la gestion de projets de
bâtiment, ainsi que la présentation du concept de Conception Concourante comme
une adaptation au secteur de méthodologies plus évoluées pour la gestion du
processus de conception, fondées sur l’analyse des tendances de modernisation pour
la gestion de projet et sur l’examen des difficultés pour la caractérisation d’une
conception concourante dans les différents genres de projets considérés. En dernier
lieu sont aussi formulées et proposées des directives pour la mise en œuvre de la
conception concourante comme un moyen d’améliorer le développement du
processus de conception et la qualité au long de la production et de l’utilisation des
bâtiments.
Mots-clés: bâtiments, ingénierie concourante, conception concourante, processus de
conception, management de la qualité.
viii
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................... V
ABSTRACT................................................................................................. VI
RÉSUMÉ ................................................................................................... VII
SUMÁRIO................................................................................................. VIII
LISTA DE FIGURAS ................................................................................. XIII
LISTA DE GRÁFICOS .............................................................................. XVI
LISTA DE TABELAS................................................................................ XVII
LISTA DE QUADROS ............................................................................. XVIII
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..................................................... XIX
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................1
1.1 Apresentação ......................................................................................1
1.2 Problemática da tese...........................................................................3
1.3 Objetivos .............................................................................................7
1.4 Metodologia.........................................................................................8
1.4.1 Considerações metodológicas....................................................... 8
1.4.2 Estruturação da pesquisa.............................................................. 8
1.4.3 Montagem e instrumentação da pesquisa..................................... 9
1.4.4 Etapas da pesquisa ..................................................................... 13
1.5 Estrutura do trabalho.........................................................................15
1.5.1 Estruturação dos capítulos e elementos de redação do trabalho 16
2 TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS E COMPETITIVIDADE NA
INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS ........................................18
2.1 Globalização na indústria nacional ....................................................21
ix
2.2 A construção na economia nacional ..................................................26
2.3 Evidências da globalização na economia da construção ...................31
2.4 Globalização e os serviços de projeto e engenharia..........................34
2.5 Fatores internos de modernização do setor de construção................36
2.6 Conclusões .......................................................................................41
3 O EMPREENDIMENTO DE CONSTRUÇÃO E A IMPORTÂNCIA DO
PROJETO...................................................................................................45
3.1 O empreendimento............................................................................45
3.1.1 A dimensão fundiária do empreendimento .................................. 49
3.1.2 O mercado e a dimensão financeira............................................ 51
3.1.3 A dimensão de uso e manutenção .............................................. 53
3.1.4 O promotor e a montagem da operação...................................... 55
3.1.5 A execução e seus agentes......................................................... 56
3.1.6 Fornecedores de materiais e componentes ................................ 63
3.1.7 Os usuários ................................................................................. 66
3.1.8 Projetistas e consultores.............................................................67
3.2 A importância da concepção e do projeto no empreendimento..........69
3.3 Conclusões .......................................................................................73
4 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO NA CONSTRUÇÃO DE
EDIFÍCIOS..................................................................................................74
4.1 Desenvolvimento e projeto de empreendimentos de edifícios ...........74
4.2 O processo de projeto do empreendimento.......................................76
4.2.1 Concepção do programa.............................................................79
4.2.2 Projeto do produto ....................................................................... 83
4.2.3 Projeto para produção ................................................................. 87
4.3 Etapas e seqüência do processo de projeto ......................................89
4.4 O processo de projeto, normas e legislações ....................................94
x
4.5 Conclusões .......................................................................................96
5 ANÁLISE DO PROCESSO DE PROJETO NA INDÚSTRIA DA
CONSTRUÇÃO ..........................................................................................98
5.1 Desenvolvimento histórico do processo de projeto ............................99
5.2 Definição e abrangência do projeto .................................................113
5.3 O projeto como processo intelectual................................................117
5.3.1 A criação e o desenvolvimento intelectual do projeto.................122
5.4 O projeto como um processo social.................................................126
5.4.1 As dimensões do projeto na construção de edifícios..................130
5.4.2 Integração contratual dos projetos .............................................140
5.5 A qualidade no processo de projeto ................................................143
5.5.1 Deficiências na gestão do projeto...............................................149
5.6 Conclusões .....................................................................................151
6 ENGENHARIA SIMULTÂNEA: NOVO PARADIGMA DE GESTÃO DE
PROJETOS ..............................................................................................153
6.1 Introdução .......................................................................................153
6.2 Origens e conceitos.........................................................................155
6.3 Elementos da ES.............................................................................158
6.3.1 Valorização do projeto................................................................160
6.3.2 Seqüência das atividades de projeto..........................................160
6.3.3 Times multidisciplinares de projeto.............................................162
6.3.4 Estrutura organizacional e interatividade nas equipes de projeto....
...................................................................................................163
6.3.5 Tecnologia da informação..........................................................165
6.3.6 Coordenação de projetos ...........................................................166
6.3.7 Satisfação do cliente..................................................................166
6.3.8 Metas e objetivos da ES.............................................................167
xi
6.4 Vantagens da ES sobre o desenvolvimento seqüencial de produtos167
6.5 Conclusões .....................................................................................172
7 PROJETO SIMULTÂNEO DE EMPREENDIMENTOS DE EDIFÍCIOS .....
........................................................................................................174
7.1 Referências .....................................................................................174
7.2 Aplicação da ES na construção de edifícios ....................................176
7.3 Equipe e organização do projeto .....................................................182
7.4 Fatores de competitividade e gestão do projeto ..............................185
7.4.1 Redução dos prazos de projeto..................................................188
7.4.2 Introdução de inovações............................................................189
7.4.3 Qualidade e atendimento aos clientes........................................197
7.4.4 Integração entre sistemas de gestão da qualidade no âmbito dos
empreendimentos .......................................................................................199
7.4.5 Construtibilidade.........................................................................201
7.5 Definição de
Projeto Simultâneo
na construção de edifícios............202
7.6 Diretrizes para implementação do projeto simultâneo no processo de
projeto de edifícios....................................................................................205
7.6.1 Transformações culturais...........................................................206
7.6.2 Transformações organizacionais................................................213
7.6.3 Transformações tecnológicas.....................................................217
7.7 Interfaces do processo de projeto....................................................226
7.7.1 Interface com o cliente (i1) .........................................................230
7.7.2 Coordenação de projetos (i2) .....................................................232
7.7.3 Projeto para Produção (i3)..........................................................243
7.8 Planejamento do processo de projeto..............................................255
8 PROJETO SIMULTÂNEO EM DIFERENTES EMPREENDIMENTOS DE
CONSTRUÇÃO: ESTUDOS DE CASO.....................................................261
8.1 Critérios de seleção das empresas..................................................261
xii
8.2 Apresentação dos estudos de caso.................................................265
8.2.1 Construção-incorporação ...........................................................265
8.2.2 Obras sob encomenda ...............................................................276
8.2.3 Obras públicas............................................................................279
8.3 Casos estudados e a filosofia de Projeto Simultâneo ......................287
8.4 Conclusões .....................................................................................293
9 CONCLUSÕES ..................................................................................296
9.1 Desenvolvimento histórico do processo de projeto ..........................296
9.2 Projeto Simultâneo ..........................................................................297
9.3 Estudos de Caso.............................................................................299
9.4 Constatações ..................................................................................302
9.5 Pesquisas complementares.............................................................303
ANEXO A: ROTEIRO DE ENTREVISTA DE ESTUDO DE CASO ...304
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................307
xiii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Etapas de Pesquisa...................................................................... 14
Figura 2. Principais etapas de um empreendimento de construção ............ 48
Figura 3. Os principais participantes de um empreendimento de construção
.................................................................................................... 49
Figura 4. Macrocomplexos da economia, grandes cadeias e principais
produtos do Macrocomplexo Construção Civil............................ 65
Figura 5. Principais áreas de conhecimento e serviços de apoio ao
desenvolvimento de empreendimentos de construção de edifícios
.................................................................................................... 68
Figura 6. Origem de patologias e mau funcionamento das edificações....... 70
Figura 7. Evolução da responsabilidade sobre a qualidade dos produtos na
indústria japonesa....................................................................... 71
Figura 8. Capacidade de influenciar o custo final de um empreendimento de
edifício ao longo de suas fases................................................... 72
Figura 9. Relação situação de maior “investimento” na fase de projetos X
práticas convencionais................................................................ 72
Figura 10. Processo de desenvolvimento tradicional de empreendimentos
de construção ............................................................................. 78
Figura 11. Etapas de concepção do empreendimento de construção ......... 79
Figura 12. ‘Organograma’ genérico da equipe tradicional de projeto........... 84
Figura 13. Esquema genérico de um processo seqüencial de
desenvolvimento do projeto de edifícios – participação dos
agentes ao longo do processo....................................................86
Figura 14. Fluxo resumido das etapas de projeto........................................ 91
Figura 15. Etapas e seqüência de projeto ................................................... 93
Figura 16. Foto da cúpula da catedral
Santa Maria del Fiore
em Florença 106
Figura 17. Processo sócio-técnico de projeto.............................................117
xiv
Figura 18. Processo intelectual de projeto..................................................118
Figura 19. Habilidades intelectuais ao longo do projeto..............................120
Figura 20. Espiral de projeto.......................................................................127
Figura 21. Dimensões de Concepção do empreendimento de edifício.......131
Figura 22. Integração seqüencial das dimensões do empreendimento......140
Figura 23. O processo de projeto segundo a ótica da gestão da qualidade
...................................................................................................148
Figura 24. Engenharia Seqüencial X Engenharia Simultânea ....................161
Figura 25. Representação esquemática das interações entre os principais
participantes de uma equipe multidisciplinar genérica de ES ....162
Figura 26. Representação de uma estrutura organizacional funcional-
hierárquica .................................................................................164
Figura 27. Estrutura matricial genérica .......................................................165
Figura 28. Comparação do desenvolvimento de produto em Engenharia
Seqüencial e em ES...................................................................168
Figura 29. Distribuição no tempo das atividades de desenvolvimento de
novos produtos na indústria automobilística americana, européia e
japonesa ....................................................................................170
Figura 30. Características do empreendimento em várias indústrias .........179
Figura 31. Ciclo da qualidade na construção: (a) as implicações do projeto
no ciclo da qualidade; (b) agentes e etapas a serem considerados
no desenvolvimento da qualidade durante o projeto..................200
Figura 32. Eixos de transformações para implantação do Projeto Simultâneo
...................................................................................................205
Figura 33. Convergência dos esforços de projeto.......................................214
Figura 34. Linhas de comunicação no projeto ao longo do ciclo de vida do
empreendimento ........................................................................223
Figura 35. Interfaces do processo de desenvolvimento de produto na
construção de edifícios..............................................................229
Figura 36. Equipe multidisciplinar de projeto ..............................................236
Figura 37. Relação projeto do produto, projeto para produção e
procedimentos de execução. .....................................................248
xv
Figura 38. O processo de projeto de edificações: da “caixa preta” à “caixa
transparente”..............................................................................256
Figura 39. Possibilidades de relação entre duas tarefas de projeto............258
Figura 40. Modelo genérico para organização do processo de projeto de
forma integrada e simultânea.....................................................260
Figura 41. Tipos de empreendimento de construção considerados segundo o
agente da promoção ..................................................................263
Figura 42. Processo de desenvolvimento e tomada de decisão de um novo
negócio (empresa A2)................................................................271
Figura 43. Processo de desenvolvimento de novos empreendimentos
(segundo empresa C1) ..............................................................284
Figura 44. Organização e fluxo de informações dos projetos nos casos
estudados ..................................................................................290
xvi
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Exportações mundiais e comparação da taxa de variação do PIB e
das exportações mundiais na década de noventa ...................... 22
Gráfico 2. Evolução do comércio exterior brasileiro (1950-1999). ............... 24
Gráfico 3. Evolução dos investimentos diretos estrangeiros na economia de
países em desenvolvimento selecionados.................................. 25
Gráfico 4. Evolução da participação relativa da construção civil no PIB
brasileiro.....................................................................................27
Gráfico 5. Índice de encadeamento por setor em 1995 (Trevisan
Consultores, 1998)...................................................................... 28
Gráfico 6. População ocupada na construção civil e participação relativa do
setor na população ocupada brasileira.......................................29
Gráfico 7. Participação relativa de setores selecionados na captação de
investimentos externos diretos em 1999..................................... 33
Gráfico 8. Produção habitacional no país e financiamentos habitacionais
concedidos pelo SFH em períodos selecionados ....................... 37
Gráfico 9. Evolução dos empreendimentos concedidos pelo SFH .............. 38
xvii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Remuneração média em diferentes indústrias em São Paulo ..... 30
Tabela 2. Participação relativa (em %) da indústria da construção civil na
pauta de importações brasileiras de 1991 a 1997 ...................... 30
Tabela 3. Número e importância econômica de empresas de construção com
participação estrangeira no capital.............................................31
Tabela 4. Fluxo de investimentos estrangeiros diretos em dólares
americanos por setores selecionados (1996 a 2000) ................. 32
Tabela 5. Número de empresas de construção civil no país por tamanho
(número de empregados)............................................................ 56
Tabela 6.Vantagens obtidas por empresas norte-americanas que
implantaram programas de ES - Schneider (1995) apud Takahashi
(1996).........................................................................................171
Tabela 7. Exemplos de vantagens obtidas por meio da Engenharia
Simultânea na gestão do processo de projeto de novos produtos
industriais...................................................................................172
Tabela 8. Tipos de contratantes dos serviços empresa A3 ........................274
Tabela 9. Momento do empreendimento em que são contratados os serviços
da empresa A3...........................................................................274
Tabela 10. Aproveitamento da compatibilização e do projeto para produção
pelas construtoras......................................................................274
xviii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Principais serviços e atividades do processo de projeto de
empreendimentos de edificações ............................................... 76
Quadro 2. Componentes da qualidade do projeto ......................................147
Quadro 3. Características e conceitos de Engenharia Simultânea segundo
vários autores ............................................................................159
Quadro 4. Síntese das principais discrepâncias entre o ambiente de projeto
na construção de edifícios e na indústria de manufaturados em
série ...........................................................................................181
Quadro 5. Novas Formas de Racionalização da Produção – NFRP
identificadas na construção de edifícios por Cardoso (1996).....187
Quadro 6. Correntes de modernização empresarial e operacional e as
parcerias com os fornecedores..................................................209
Quadro 7. Vantagens e desvantagens do uso de extranets na coordenação
de projetos .................................................................................225
Quadro 8. Atividades presentes na coordenação de projeto .....................234
Quadro 9 Vantagens e desvantagens conforme o perfil do coordenador de
projetos ......................................................................................238
Quadro 10. Potenciais projetistas para produção, vantagens e limitações.253
Quadro 11. Serviços de projetos potencialmente contratados pela empresa
A2 em função de cada empreendimento ...................................272
xix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABECE Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria
Estrutural
AsBEA Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura
ANTAC Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente
Construído
BCB Banco Central do Brasil
BNH Banco Nacional da Habitação
CB-25 Comitê Brasileiro da Qualidade da ABNT
CBIC Câmara Brasileira da Indústria da Construção
CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do
Estado de São Paulo
CEF Caixa Econômica Federal
CIB
International Council for Research and Innovation in
Building and Construction
CII
Construction Industry Institute
CONDEPHAAT Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e
Antropológico
EPUSP Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
ES Engenharia Simultânea
FGV Fundação Getúlio Vargas
GEP-TGP Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia e
Gestão da Produção na Construção Civil
GEMAP
Groupe de Réflexion sur le Management de Projets
IAB Instituto dos Arquitetos do Brasil
IBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IE Instituto de Engenharia
INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial
ISO
International Organization for Standardization
PBQP-H Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do
Habitat
PCA
Plan Construcion et Architecture
PCC Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo
PIB Produto Interno Bruto
PS Projeto Simultâneo
QUALIHAB Programa da Qualidade na Construção Habitacional do
Estado de São Paulo
SCPD
Society of Concurrent Product Development
SECOVI-SP Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e
Administração de Imóveis e dos Edifícios em Condomínios
Residenciais e Comerciais do Estado de São Paulo
SFH Sistema Financeiro da Habitação
SGQ Sistema de Gestão da Qualidade
Sinaenco Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e
Engenharia Consultiva
Sinduscon-SP Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de
São Paulo
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 A
PRESENTAÇÃO
A indústria de maneira geral (incluindo o setor de construção) passa por um
momento de intenso dinamismo e competição. No cerne deste
processo,
as crescentes
exigências dos agentes sociais e a instabilidade dos mercados demandam, das
empresas, novas competências ligadas aos modos de produção e ao atendimento aos
clientes e usuários.
O acirramento da concorrência e a globalização econômica têm colocado o cliente no
centro das estratégias empresariais e do processo econômico. Além disso, as pessoas,
as ONGs (Organizações Não Governamentais) e os governos têm ampliado a pressão
pela sustentabilidade dos processos industriais e pela qualidade e durabilidade dos
produtos, impondo novas restrições e exigências de desempenho para os processos
produtivos e para os produtos.
Para responder ao crescimento da concorrência, a indústria contemporânea cada vez
mais se confronta com as necessidades de ampliar a produtividade, reduzir custos e,
sobretudo, melhorar o atendimento aos clientes e a qualidade dos produtos, ao
mesmo tempo em que reduz os impactos ambientais dos produtos e processos.
Além disso, a velocidade das transformações tecnológicas, sociais e econômicas tem
obrigado as empresas a se manterem flexíveis e ágeis frente a novos desafios. O
antigo paradigma de produção em massa (taylorista-fordista) é substituído pelas
premissas da produção enxuta (Ohno, 1988; Womack et al., 1990) e por novos
métodos de gestão da produção mais adaptáveis às escalas de produção e às
mudanças de mercado.
Num contexto de incremento das exigências frente aos produtos e aos processos, as
empresas têm buscado novos métodos, mais ágeis e mais competentes, para
desenvolver produtos e serviços que respondam às crescentes exigências e mudanças
do mercado e da sociedade.
2
A capacidade competitiva das empresas, em muitas indústrias, surge
fundamentalmente da sua capacidade de desenvolver novos produtos que atendam às
demandas dos clientes, e o desenvolvimento de produtos situa-se na interface entre a
empresa e o mercado (Toledo, 1993, p. 139).
Várias empresas, em especial aquelas que produzem produtos complexos ligados às
indústrias automobilística, aeroespacial, micro-eletrônica, etc., têm conseguido
ampliar e agilizar sua capacidade de amadurecer novas tecnologias e transformá-los
em novos produtos de qualidade, por meio da implantação e da utilização do
processo de
Engenharia Simultânea (ES)
nas fases de concepção e desenvolvimento
de produto. A realização de projetos utilizando ES parte da premissa de que os
produtos devem ser desenvolvidos considerando-se precocemente (durante a
concepção e o projeto) o seu ciclo de vida e as demandas dos clientes internos
(trabalhadores e fornecedores envolvidos no processo de produção) e externos
(compradores, usuários e pessoas atingidas indiretamente pelo produto)
1
.
Na construção, os ciclos de vida dos empreendimentos são bastante longos (da ordem
de décadas) e compreendem diversas fases, que vão da montagem das operações
(concepção e promoção do empreendimento) ao descarte (demolição) ou reabilitão
(recuperação das condições de uso) das edificações, passando pelas fases de projeto,
construção, uso e manutenção. Durante essas diversas fases atuam ou estão
envolvidos no empreendimento diversos agentes independentes, com diferentes
papéis e objetivos junto ao empreendimento.
Essa complexidade temporal e de intervenientes envolvidos no empreendimento traz
dificuldades e limitações características para o preceito básico da ES de integrar na
concepção do produto todos os agentes envolvidos ao longo do ciclo de vida.
Apesar disso, na construção as etapas iniciais do empreendimento (programa e
projeto) são também as que apresentam as maiores oportunidades de intervenção e
agregação de valor ao empreendimento.
1
A caracterização pormenorizada da Engenharia Simultânea é desenvolvida no capítulo 6.
3
Dessa forma, os processos de concepção e projeto são estratégicos para a qualidade
do edifício ao longo do seu ciclo de vida. E a busca de novos métodos e processos
que possam considerar precocemente a totalidade das questões envolvidas no projeto
é de extrema relevância para o sucesso dos empreendimentos e para o progresso do
setor de construção.
1.2 PROBLEMÁTICA DA TESE
Engajados na investigação e no fomento às transformações sócio-técnicas que
atingem a indústria de construção civil brasileira, uma série de trabalhos
desenvolvidos por professores, pós-graduandos e pesquisadores vinculados ao Grupo
de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia e Gestão e Processos (GEPE: TGP)
do departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo (PCC-EPUSP) tem procurado caracterizar as mudanças
recentes nesta indústria e subsidiar o processo de transformação com modernas e
racionalizadas técnicas construtivas e novas práticas de gestão e metodologias
organizacionais.
Esta tese em particular vincula-se à linha de pesquisa do GEPE:TGP de gestão da
produção na construção, enfocando, particularmente, a gestão do processo de
concepção e projeto do empreendimento.
Imbuído das premissas de pesquisa do GEPE:TGP e da problemática de modelos
organizacionais adaptados às características da instria de constrão de edicios, o
trabalho de tese proposto assume, como objeto de pesquisa, o processo de projeto de
novos empreendimentos de construção de edifícios e os agentes envolvidos neste
processo.
O trabalho segue na linha de pesquisas recentes do GEPE:TGP que abordam a
qualidade e a coordenação de projetos - Melhado (1994), Novaes (1996), Baía
(1998), Melhado (2001), apontando a necessidade de uma maior articulação entre os
projetos e propondo modelos de gestão do projeto voltados à coordenação entre
especialidades e à integração projeto - produção.
4
Partindo do entendimento de Melhado (1994) de que a qualidade e coordenação dos
projetos não dependem somente dos projetistas, mas exigem uma valorização do
projeto e o engajamento de outros agentes do empreendimento e da convicção de
que, apesar da existência de metodologias de coordenação de projeto bem
desenvolvidas, que acabam não se concretizando plenamente nas práticas projetuais
do setor, a motivação inicial do trabalho era investigar os gargalos na coordenação de
projetos e, particularmente, as limitações da relação entre os principais agentes do
projeto (empreendedor, projetistas e construtores), como fonte importante das
deficiências de coordenação e qualidade do projeto.
Como caminho para o progresso na gestão do processo de projeto foi considerada,
inicialmente, a necessidade de
parcerias
entre empreendedor, projetistas e
construtores, visando criar equipes mais perenes de projeto que pudessem investir na
integração entre projetistas de diferentes especialidades, incluindo a de projetos para
produção, de forma a melhorar continuamente a colaboração intra-equipe, à medida
que os profissionais envolvidos fossem conhecendo as realidades e as necessidades
dos outros e ganhando confiança e traquejo no trabalho em equipe.
Com o prosseguimento da pesquisa foi constatado que a questão crucial a ser tratada
não é somente a relação entre os agentes do projeto, mas também a forma de
integração destes agentes e o modelo de colaboração vigente. Ou seja, o que está em
discussão é o paradigma de desenvolvimento de produtos na construção de edifícios.
Na construção, o processo de produção se articula em torno de empreendimentos
individuais e relativamente únicos e o setor é bastante complexo e heterogêneo,
sendo importante considerar diferentes tipos de empreendimentos, pois o papel e a
atuação dos agentes variam significativamente de um empreendimento para outro (no
capítulo 8 são apresentados e justificados a tipificação de empreendimentos adotada
no trabalho e os critérios para formulação destes tipos) e as possibilidades de
cooperação e parceria são distintas conforme a tipologia e o arranjo particular de
cada empreendimento.
O trabalho assume como ponto central de investigação as possibilidades e os
modelos de
colaboração
entre os agentes do projeto, partindo da premissa defendida
5
por Jouini; Midler (1996) Jouini; Midler (2000) e Melhado (1999) de que a
concepção do negócio e do programa de necessidades, a concepção arquitetônica e
técnica do produto e o projeto da produção são diferentes olhares sobre a mesma
questão,
conceber e desenvolver novos empreendimentos de edifícios.
Portanto, mais do que tratar de modelos e metodologias de coordenação entre
especialidades de projeto, nesta tese, propõe-se avançar a investigação na direção da
integração entre distintas interfaces e agentes relacionados ao processo de projeto,
considerando diferentes tipos de empreendimentos.
Dessa maneira, o trabalho investiga a fronteira entre o processo de projeto e o
processo do empreendimento e, ao invés de abordar exclusivamente os
procedimentos necessários para coordenar projetos de especialidades de produto,
explora (i)
o que é preciso num determinado tipo de empreendimento de construção
de edifício para que os agentes envolvidos colaborem entre si durante a concepção e
o projeto
? Mais do que isso, (ii)
quais são as premissas que devem nortear essa
colaboração
?
Para responder à questão (i), diante dos conflitos e reclamações mútuas entre os
vários agentes do projeto (Fabricio et al., 1999a), ficou clara a necessidade de
investigar a organização do processo de concepção e projeto, o papel e o poder de
barganha dos agentes envolvidos, os “gargalos” no processo e as correspondentes
limitações na sua gestão, além das possíveis alterações organizacionais e culturais
que permitam gerenciar as contradições implícitas ao processo de projetos do setor -
fragmentado em diferentes agentes, com formações e objetivos distintos.
a segunda questão é mais ampla e possibilita diferentes abordagens. Como
caminho para respondê-la, considerou-se que as experiências de gestão de projeto de
outras indústrias poderiam servir como referência de partida para modernização do
processo de projeto no setor. Assumiu-se que a concepção e projeto de um novo
empreendimento de construção é um processo análogo ao desenvolvimento de um
novo produto na indústria de transformação, conforme argumentam Jobim et al.
(2000); Bobroff (1998).
6
A partir dessa analogia surge a indagação de como se o processo de concepção de
novos produtos na indústria manufatureira de ponta, quais são as metodologias de
‘projeto’ aplicadas em outros setores e qual sua utilidade na atividade de construção
de edifícios.
Assim, a formulação da problemática da tese se completou com os questionamentos
sobre: (iii)
Como as empresas de outros setores industriais mais dinâmicos
desenvolvem seus produtos?
E (iv)
como se coloca o projeto do edifício frente às
práticas mais modernas de desenvolvimento de produto?
A principal referência encontrada para responder à pergunta (iii) diz respeito à
prática da
Engenharia Simultânea
empregada em vários setores industriais como
forma de ampliar a eficiência do processo de projeto, reduzindo prazos e custos de
projeto e melhorando a qualidade dos produtos gerados.
A Engenharia Simultânea, conforme o que foi discutido no capítulo 6, tem como uma
das principais características a colaboração precoce e concorrente entre os projetistas
do produto, projetistas da produção, fornecedores e clientes, no desenvolvimento de
novos produtos.
Dessa maneira, no estudo da gestão dos projetos e dos agentes do desenvolvimento e
concepção do empreendimento de construção, a
Engenharia Simultânea
foi tomada
como uma alternativa de modernização.
Em contraponto, o questionamento (iv) demanda a consideração das características
próprias do setor que não permitem apropriações diretas de práticas de gestão de
outras indústrias e demanda a investigação da pertinência e das adaptações
necessárias para que a Engenharia Simultânea possa ser aplicada no desenvolvimento
de empreendimentos de edifícios.
Assim, as referências externas ao setor devem ser relativizadas com as análises e
conhecimentos acumulados nas pesquisas sobre o setor de construção e pela
realização de estudos de caso envolvendo empreendimentos de edifícios e seus
principais agentes, de forma a considerar as práticas setoriais e as suas dinâmicas de
desenvolvimento.
7
1.3 OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivo principal identificar a possibilidade e propor
diretrizes para o estabelecimento de práticas deProjeto Simultâneo
2
, derivadas da
Engenharia Simultânea, no desenvolvimento de novos empreendimentos de
construção de edifícios.
A hipótese central que norteia o desenvolvimento da pesquisa é que:
As premissas da Engenharia Simultânea para o desenvolvimento de novos produtos e
serviços são válidas para modernizar as práticas de gestão de projetos no setor de
construção de edifícios; com base nestas premissas e na análise das características do
processo de produção e do processo de projeto próprios da construção de edifícios
pode-se postular um novo paradigma de “Projeto Simultâneo” para gestão do
processo de projeto de empreendimentos de edifícios.
Partindo dessa formulação inicial, pode-se identificar uma série de etapas parciais de
desenvolvimento do trabalho a serem cumpridas a fim de demonstrar e refinar a
hipótese lançada:
A premissa de colaboração intensa e precoce entre os agentes do projeto,
implícita na Engenharia Simultânea, pode ser buscada no setor por meio do
estabelecimento de parcerias entre os agentes do empreendimento;
A implantação do Projeto Simultâneo no setor passa por alterações na estrutura
organizacional dos empreendimentos, na cultura das empresas e profissionais
envolvidos e pela intensificação da utilização das novas tecnologias da
informática e telecomunicações;
Diferentes tipos de empreendimentos de edifícios (empreendimentos de
construção-incorporação, sob encomenda e obras públicas)
3
têm potencialidades
2
Sobre o termo “Projeto Simultâneo” ver item 6.5.
3
A caracterização dos tipos de empreendimento e a justificativa da escolha estão no item 8.
8
e dificuldades próprias para estabelecimento do desenvolvimento simultâneo de
projetos.
1.4 METODOLOGIA
1.4.1 Considerações metodológicas
O objeto da pesquisa é a gestão do processo de projeto de novos empreendimentos e
as relações entre promotores, projetistas e construtores. Trata-se de uma pesquisa que
demanda uma abordagem sócio-técnica da concepção do empreendimento e da
realização dos projetos, envolvendo não os conhecimentos técnicos de cada
agente, mas, principalmente, as relações organizacionais e as tecnologias que
incidem sobre o processo de produção do projeto e do empreendimento de edifícios.
A abordagem sócio-técnica que norteia a pesquisa implicou o tratamento de dois
conjuntos de temas, relativos:
aos conhecimentos técnicos e tecnológicos, incluindo a base científica e
sistematização do saber empírico, envolvidos nos projetos e nos processos
produtivos e, principalmente,
aos critérios de natureza social, econômica, jurídica e cultural que pautam as
inter-relações entre os diversos agentes envolvidos no processo de produção de
edifícios.
A complexidade do tratamento das relações organizacionais obrigou, ainda, uma
abordagem multidisciplinar do tema, envolvendo, além dos conhecimentos
provenientes da engenharia, a busca de conceitos e interpretações complementares de
outras áreas, como arquitetura, administração, psicologia, etc.
1.4.2 Estruturação da pesquisa
Diante das ponderações anteriores, a metodologia de pesquisa foi estruturada a partir
de dois vetores de investigação fenomenológica que buscam caracterizar: a
9
construção de edifícios e o processo de gestão de projeto do empreendimento (vetor
1); e os novos paradigmas de gestão de projetos na indústria em geral (vetor 2).
O primeiro vetor é desenvolvido por meio do estudo da literatura de gestão na
construção e de dados empíricos, obtidos em estudos de caso realizados com
entrevistas e visitas aos agentes envolvidos na concepção e na coordenação de
projeto de diferentes tipos de empreendimentos de edifícios.
Este primeiro vetor de investigação tem como objeto identificar as transformações
em curso na gestão do processo de produção de edifício e as novas demandas para
gestão do projeto do edifício.
O segundo vetor, baseado em uma extensa revisão bibliográfica, investiga o
paradigma de gestão do processo de concepção e desenvolvimento de novos produtos
na indústria contemporânea e tem como mote” a busca de referências para a
modernização do projeto de empreendimentos de edifícios.
Da soma desses dois vetores de investigação, a tese se desenvolve pelo confronto da
gestão de projeto em diferentes tipos de empreendimentos de construção de edifícios
(vetor 1), face às transformações em curso nas práticas de gestão em vários setores
industriais (vetor 2), analisando a aplicabilidade dessas novas práticas de projeto,
baseadas na Engenharia Simultânea, na concepção e desenvolvimento de projetos de
edifícios, e propondo adaptações e diretrizes que permitam sua utilização em
diferentes tipos de empreendimento de construção (resultando no vetor 3).
1.4.3 Montagem e instrumentação da pesquisa
A seleção de bibliografia a respeito da gestão do processo de projeto na construção
teve como critério privilegiar os títulos e pesquisas nacionais dado que a cultura e o
ambiente que suporta a organização dos processos de projeto e a articulação dos
agentes envolvidos são muito particulares de um contexto produtivo e da realidade
nacional, principalmente num setor pouco globalizado como a construção de
edifícios (ver discussão no capítulo 2). Assim, o uso de bibliografia estrangeira a
respeito dos modelos de gestão deve ser muito bem contextualizado na cultura de
10
origem do trabalho, o que demanda um conhecimento mínimo desta cultura e das
práticas do setor de construção no país de origem.
Apesar destes limites, vários trabalhos estrangeiros foram considerados. Trabalhos de
origem francesa foram muitas vezes tomados como contraponto de modelo de gestão
no setor, o que foi possível uma vez que o orientador da pesquisa tinha grande
conhecimento da realidade daquele país e podia balizar e ajudar a contextualizar as
referências. Em outros campos de investigação de caráter mais técnico e histórico
(que aparecem particularmente no capítulo 5), nos quais a realidade cultural e
organizacional não é tão determinante, foram utilizadas trabalhos de diferentes
origens, principalmente em língua inglesa e francesa. No capítulo 6, que trata da
Engenharia Simultânea, também foram consideradas bibliografias de diferentes
origens, uma vez que este paradigma de desenvolvimento de produtos tem origem no
exterior e em outros setores mais globalizados.
Para desenvolver a revisão bibliográfica foram realizadas pesquisas e seleção de
materiais nos acervos das seguintes bibliotecas: da Escola Politécnica da USP; da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (São Paulo); da Escola de Engenharia
da USP São Carlos; da Faculdade de Economia e Administração da USP; da
Universidade Federal de São Carlos-SP (UFSCar).
Referências bibliográficas também foram buscadas em anais de congressos e revistas
disponíveis na Internet nas bases de revistas disponíveis em
«www.periodicos.capes.gov.br».
Outras bases de dados em CD-ROM também foram consultadas: ICONDA -
referências e resumos de artigos, teses, etc., na área de Construção Civil; IBICT
que contém o Catálogo Coletivo Nacional de publicações seriadas referente a 750
bibliotecas brasileiras, faz referência a teses e dissertações defendidas no Brasil e no
exterior por brasileiros, e contém dados sobre congressos, simpósios e demais
eventos realizados no Brasil, nas áreas de ciências e tecnologia; DISSERTATION
ABSTRACTS - contém resumo das dissertações e teses de mais de mil instituições
de ensino e pesquisa americanas; UNIBIBLI - catálogo coletivo de livros e teses
11
existentes no Sistema de Bibliotecas das três universidades estaduais paulistas (USP,
UNICAMP, UNESP).
Para montagem da pesquisa de campo proposta, algumas considerações de caráter
metodológico e prático foram realizadas.
Primeiramente, foi preciso considerar que no processo de projeto de edifícios
participam ou têm interesse indireto os vários agentes envolvidos no
empreendimento que podem ser responsáveis por uma ou mais das seguintes
funções: o empreendedor do negócio, o incorporador do terreno, o agente financeiro,
o poder público por meio das regulamentações financeiras e de ocupação do solo, os
diversos projetistas e consultores contratados, a construtora responsável pela obra, os
subempreiteiros de serviços e mão-de-obra, os fornecedores de materiais e
equipamentos e finalmente os clientes e usuários dos edifícios.
A pesquisa de campo desenvolvida busca levar em conta a multiplicidade de agentes
envolvidos e a variabilidade existente na configuração dos empreendimentos de
construção que são montados por diferentes agentes e cumprem diferentes objetivos.
Contudo, dar conta do mapeamento e da investigação do papel de todos os agentes
envolvidos nos empreendimentos seria uma tarefa muito complexa que levaria a
poucas conclusões claras. Assim, optou-se por restringir a investigação ao principal
agente responsável pela integração dos projetos e, em alguns casos consultar outros
agentes envolvidos no processo de projeto. Esta opção foi feita por se considerar o
coordenador de projetos o agente privilegiado no que tange à relação e à integração
dos profissionais envolvidos no projeto. Nos diferentes casos estudados (capítulo 8) a
coordenação era assumida por distintos agentes, ora pelo promotor, ora pelo arquiteto
da obra, ora por um projetista ou gerenciador contratado especialmente para realizar
a tarefa de coordenação.
Com relação aos usuários, diante da heterogeneidade deles e da dificuldade e
amplitude do trabalho necessário para estabelecer pesquisas de campo que
permitissem capturar, de forma consistente, seu ponto de vista acerca do processo de
projeto, optou-se, neste trabalho, por abordar os interesses do usuário via fontes
secundárias, por meio de revisão bibliográfica. A exceção fica por conta dos
12
empreendimentos em que o usuário se confunde com o empreendedor e que foram
estudados nas pesquisas de campo.
A outra dificuldade metodológica diz respeito à heterogeneidade de cada
empreendimento de construção. Como esclarece Bobroff (1998), cada obra apresenta
características singulares. Além disso, as hipóteses e objetivos da pesquisa (item 1.3)
apresentam um viés por demais explorativo, para serem tratados com métodos
quantitativos e estatísticos. Dessa forma, descartou-se a pretensão de qualquer tipo de
generalização dos dados e resultados do estudo de campo e optou-se pela realização
de pesquisas de caráter qualitativo, junto a um número reduzido de casos que se
mostrassem interessantes.
Assim, apesar da impossibilidade da generalização dos resultados, para cobrir
diferentes realidades e situações de empreendimento e buscando obter uma
perspectiva comparada, consideraram-se, na pesquisa, trêstipos” diferentes de
empreendimentos que contemplam as principais intervenções que ocorrem no
mercado de construção formal de edifícios.
A tipificação de empreendimentos se pautou pelas características e abrangência da
atuação do empreendedor na montagem e desenvolvimento do empreendimento.
Assim, foram elencados inicialmente os seguintes tipos de empreendimentos:
promoção independente, incorporação-construção, obras sob encomenda, definidos
de forma detalhada no capítulo 8.
Dessa forma os dados empíricos foram colhidos fundamentalmente por meio de
estudos de caso junto a coordenadores de projeto de diferentes tipos de
empreendimentos.
É importante salientar que na formatação da investigação de campo foi descartada
qualquer ambição de realização de pesquisa-ação, com intervenção do pesquisador
nas práticas das empresas estudadas, por considerar que, diante da complexidade e
ineditismo da problemática tratada, seria mais seguro e correto a realização de uma
primeira investigação baseada em levantamentos e na caracterização fenomenológica
das práticas de gestão de projetos e inovações em curso neste campo, deixando para
13
futuros trabalhos a missão de desenvolver pesquisas que proponham e avaliem
mudanças dirigidas no processo de projeto de empresas.
Para condução da pesquisa de campo foi montado um roteiro semi-estruturado de
entrevista, contendo os temas-chaves para discussão destinados à investigação dos
principais agentes de diferentes tipos de empreendimento e, a partir do primeiro
levantamento de informações, outros dados foram conseguidos com entrevistas junto
aos agentes, acompanhamento de reuniões de coordenação e visitas às obras.
A opção pela realização de entrevistas semi-estruturadas (ver roteiro no anexo A)
deu-se em função da orientação desta modalidade de pesquisa para realização de
investigações qualitativas, em que se busca explorar a ocorrência e as possibilidades
de um fenômeno ou prática sem se importar com a quantificação do fenômeno e com
a extrapolação dos resultados para um universo maior de situações.
Por fim, a seleção dos empreendimentos e das empresas pesquisadas foi realizada
com base em informações prévias sobre elas e o interesse que tais informações
suscitavam em termos de inovação nos processos de gestão. Por questões práticas,
foram consideradas também a proximidade geográfica dos empreendimentos e das
empresas selecionadas, a disponibilidade e a presteza destas empresas em fornecer
informações e participarem de entrevistas.
1.4.4 Etapas da pesquisa
A partir das considerações metodológicas anteriores estabeleceu-se um planejamento
para realização do trabalho, com as seguintes etapas, desenvolvidas de forma
interativa:
delimitação téorico-conceitual da pesquisa, envolvendo a seleção e estudo da
bibliografia disponível para caracterizar os modelos de gestão do processo de
projeto disponíveis e as particularidades e restrições próprias ao processo de
projeto no setor da construção;
14
delimitação de um roteiro de pesquisa de campo, com o estabelecimento dos
critérios para a seleção dos objetos de estudo de campo (seleção de empresas,
obras e escritórios de projetos), dos pontos a serem “observados” e do
desenvolvimento do instrumental de pesquisa em campo - questionários de
entrevistas, critérios de análise de projetos, roteiros de visitas a construtoras,
escritórios de projetos e obras, seleção e formatação de indicadores, etc.;
realização de pesquisa em empresas responsáveis pela coordenação de