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Pellegrinetti B, Magna LA
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(RIS), evoluindo-se para os denominados
“picture archives and communication sys-
tems” (PACS) e o mais recente “digital im-
aging and communications in medicine”
(Dicom), e ainda uma quantidade de “soft-
wares” proprietários, específicos ou gerais,
de diversos desenvolvedores(1–3).
No entanto, os sistemas, pacotes, pro-
gramas, os “hardwares” e “softwares” com-
plexos, ou ainda o alto custo de implanta-
ção, podem não satisfazer a necessidade de
um usuário final, com capacidade, tendên-
cias e condições mais modestas, nem tor-
nar prática a possibilidade de que o médi-
co solicitante possa também trabalhar so-
bre estas imagens, mantê-las sob a forma
de arquivos eletrônicos disponíveis, já que
ele recebe apenas, usualmente, uma cópia
em foto “Polaroid”, foto brilhante, papel
térmico, filme radiológico ou outro meio
similar(4).
A disseminação dos recursos computa-
cionais em nível pessoal, e a possibilidade
de sua interligação em rede e por meio da
“internet”, apontam um caminho natural.
O grande fator que contribui, negativa-
mente, para o uso dessas ferramentas, no
entanto, é o custo a elas associado, uma
vez que os equipamentos necessários
(computadores e seus periféricos) e os pro-
gramas que o colocam em funcionamento,
os “softwares”, atingiram um ritmo tão alto
de mudanças e evolução que praticamente
SOBRE UMA METODOLOGIA DE APRESENTAÇÃO DE IMAGEM
MÉDICA*
Biancamano Pellegrinetti1, Luís Alberto Magna2
Este trabalho demonstra os resultados preliminares, parciais, da experimentação e aceitação de uma meto-
dologia para apresentação de imagens médicas, que utiliza programas simples, sem custo por serem free-
wares, que podem ser utilizados em plataformas computacionais medianas, normalmente subutilizadas,
não sendo necessários programas extensos, de alto custo, aprendizado dificultado pela sofisticação, tor-
nando mais simples e acessível a possibilidade de visualização, apresentação, impressão, documentação,
arquivamento, transmissão eletrônica e disponibilidade para consulta de uma gama de imagens médicas.
Unitermos: Imagens médicas; Programas freeware; Ultra-som.
About a method for displaying medical images.
We present the preliminary results of testing and acceptance of a method for displaying medical images
that employs simple computer freewares that can be run in unsophisticated computational platforms, which
are commonly underutilized. This method allows easy and accessible visualization, printing, documenting,
archiving, consulting and electronic transmission of a wide range of medical images without the need of
expensive, complex and difficult to learn softwares.
Key words: Medical images; Freeware; Ultrasound.
Resumo
Abstract
* Trabalho realizado no Departamento de Ecografia da Mater-
nidade de Campinas e Núcleo de Informática Biomédica da Uni-
versidade Estadual de Campinas (NIB-Unicamp), Campinas, SP.
1. Ultra-sonografista, Membro Titular do Colégio Brasileiro de
Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR).
2. Professor Titular do Departamento de Genética Médica da
Unicamp, Vice-Coordenador do NIB-Unicamp.
Endereço para correspondência: Dr. Biancamano Pellegrinetti.
Rua Coronel Quirino, 1169, 1º andar, Cambuí. Campinas, SP,
13025-002. E-mail: biancamano@dglnet.com.br
Recebido para publicação em 7/7/2003. Aceito, após revisão,
em 11/7/2003.
torna impossível a manutenção de sua
atualização(1,4).
A conseqüência desse fato é a subutili-
zação e sucateamento de equipamentos já
existentes, os quais, comumente, não man-
têm capacidade de executar os programas
mais atualizados, dados os requisitos mí-
nimos para o adequado funcionamento
impostos pelos novos “softwares”.
Essa seqüência de eventos e o custo que
os acompanha não devem, contudo, cons-
tituir a prática usual na utilização dos re-
cursos da informática no plano pessoal. Ao
contrário, os muitos equipamentos, já hoje
subutilizados, podem voltar a desempe-
nhar papel de relevância se alimentados
com programas adequados e corretamente
dimensionados.
Considerando somente o aspecto custo
dos programas, este item já consome, hoje,
mais da metade do custo final de uma con-
figuração completa utilizável (“hardware-
software”), sendo essa uma das prováveis
razões da disseminação, em todas as cul-
turas, da utilização de cópias ilegais ou não
autorizadas de programas computacionais
comerciais(2,4).
Graças à popularização da “internet”,
no entanto, a disponibilização de progra-
mas de computador voltados à execução
de determinadas tarefas, chamados, por
isso mesmo, de aplicativos, ganhou dimen-
sões antes nunca vistas.
Nota Técnica
INTRODUÇÃO
A documentação de imagens médicas,
com o correr do tempo e conseqüente evo-
lução tecnológica, conta com imensa va-
riedade de possibilidades e técnicas, de-
pendentes, principalmente, do processo
envolvido na sua obtenção.
As soluções, porém, nem sempre são as
mais adequadas à relação custo-benefício,
conquanto necessitamos contemplar desde
centros universitários, centros de pesquisa,
serviços públicos, clínicas privadas, servi-
ços particulares, convênios e, também, ser-
viços que atendem gratuitamente.
Devemos, mais ainda, caracterizar e
considerar a praticidade, qualidade, custo
envolvido e, principalmente, procurar nor-
mas de padronização factíveis e também a
fundamental aceitação dos métodos por
parte dos médicos solicitantes.
Historicamente, começa-se com o de-
nominado “radiology information system”
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Sobre uma metodologia de apresentação de imagem médica
Esses programas têm algumas caracte-
rísticas que os tornam bastante atraentes,
das quais uma das mais importantes é o fato
de serem de tamanho reduzido, quando
comparados aos programas congêneres
ditos comerciais, e, como conseqüência,
são pouco “vorazes”, isto é, demandam re-
cursos de “hardware” não exagerados,
ocupam pouco espaço na memória perma-
nente no disco rígido, requerem poucos re-
cursos adicionais de memória volátil e, por-
tanto, são capazes de serem executados
com facilidade, numa gama grande de con-
figurações de “hardware”, incluindo aque-
las que se encontram subutilizadas.
Um dos aspectos mais importantes as-
sociados a tais programas é o seu custo
reduzido, ou mesmo ausente. Os progra-
mas disponibilizados por seus desenvolve-
dores na “internet” podem aparecer sob
duas formas principais:
1. “Shareware”: programa aplicativo
cuja licença de uso é cobrada (a preços
bem inferiores ao praticado pelos desen-
volvedores de programas comerciais) e que
estão disponíveis para uso, pelo usuário
final, por prazo determinado ou apresen-
tam algumas funcionalidades não ativadas
até que o usuário final solicite sua licença
e pague a respectiva taxa.
2. “Freeware”: programa aplicativo cuja
licença de uso e reprodução é livre de qual-
quer taxa, podendo ser utilizado livremen-
te e instalado em quantos computadores o
usuário final considere pertinente.
Objetiva este trabalho a demonstração
de que, com a utilização de técnicas sim-
ples, rápidas, eficazes e de pouco dispên-
dio, pode-se trabalhar sobre imagens mé-
dicas, tornando-as passíveis de apresenta-
ção, impressão, documentação, arquiva-
mento, transmissão eletrônica, disponibi-
lidade para consulta, além de facilitar sua
interpretação. O que se coloca neste traba-
lho são as conclusões decorrentes dos re-
sultados parciais obtidos, focando-se, prin-
cipalmente, a aceitação de um método vol-
tado para esta finalidade, além de visar a
uma maior discussão sobre o assunto.
MATERIAIS E MÉTODOS
Inicialmente, buscaram-se e “baixaram-
se” inúmeros programas de tratamento de
imagem disponibilizados na “internet”.
Cada um deles foi testado exaustivamente,
em diversas plataformas computacionais,
e os programas foram classificados, tendo
sido escolhidos, entre dezenas deles, dois
“freewares” para tratamento de imagens:
um visualizador de imagens com alguns re-
cursos de filtros e o outro, com recursos
avançados, sendo estes, respectivamente,
o IrfanView 32 bits versão 3.3, desenvol-
vido por Irfan Skiljan, Viena, Áustria, e o
PhotoStudio versão 2.02SE da ArcSoft,
Inc., EUA.
Essa escolha se deu em função da faci-
lidade de instalação e manuseio desses
programas, predicados com os quais os au-
tores sentiram-se perfeitamente confortá-
veis para aplicá-los na prática diária, e a
partir desta premissa supor que esta facili-
dade e com os preceitos de “freeware”
pudessem atingir uma gama maior de adep-
tos ao seu uso, possibilitando que as ima-
gens capturadas no momento do exame,
digitalmente, assim fossem fornecidas ao
solicitante do exame, e que usando os re-
feridos programas a eles disponibilizados,
pudessem visualizar, tratar, arquivar, impri-
mir, demonstrá-las aos pacientes, padroni-
zando assim sua distribuição.
Em função da especialidade de um dos
autores (ultra-sonografia), a avaliação se
deu apenas neste campo de produção de
imagem; contudo, seus atributos podem
também, muito provavelmente, ser expan-
didos para outras metodologias de obten-
ção de imagens médicas.
Conquanto a aplicabilidade do método
fosse testada pelos autores, inferiu-se que
seria necessária uma experimentação “em
campo”, com a utilização da denominada
versão beta do sistema, para que, dessa
forma, os dados tabulados pudessem ates-
tar a praticidade, confiabilidade, validade
e, especialmente, a aceitação do método
Foram convidados, para testar os pro-
gramas, profissionais médicos que consti-
tuíram duas amostras de populações: uma
de usuários finais (ginecologistas e obste-
tras, já que as imagens utilizadas eram afei-
tas a estas especialidades) e outra de usuá-
rios de sistemas de imagens (médicos ul-
tra-sonografistas).
Foram convidados 25 profissionais,
cuja especialidade é ginecologia e obste-
trícia, médicos que solicitam o exame eco-
gráfico e recebem os laudos e documenta-
ção na forma convencional, denominado
grupo de solicitadores. Igualmente foram
convidados dez profissionais que têm
como especialidade, única ou secundária,
a realização de exames ecográficos com
emissão, por eles próprios, de laudos e
documentação, na forma convencional,
denominado de grupo de ecografistas.
Cada um deles foi abordado diretamen-
te, pessoalmente ou por contato telefônico,
para a anuência e interesse em participar
do estudo, tendo havido aquiescência e
estímulo por parte de todos os convidados,
não tendo sido incluídos os médicos con-
tatados que apresentaram desinteresse para
tal, já que sua participação era voluntária.
Os endereços profissionais foram verifi-
cados e organizados e o material para ava-
liação foi enviado por meio postal e cons-
tou de carta de agradecimento, disquetes
de computador com os programas, instru-
ções para instalação e manuseio destes, e
uma coletânea de imagens a serem testadas.
Em cada caso foi enviado um questionário
que deveria ser respondido com data limite
específica, com tempo suficiente para ava-
liação da aplicabilidade e uso dos sistemas,
além de outros dados gerais.
Na primeira semana após a postagem do
material de avaliação foram já recebidos
alguns questionários totalmente respondi-
dos; ao todo foram recebidos nove ques-
tionários, seis do grupo de solicitadores e
três do grupo de ecografistas.
Procedeu-se, então, a outro contato,
com outro questionário, o qual continha
perguntas específicas, buscando-se justifi-
cativa para tão baixo retorno de questio-
nários e interesse despertados, consoante
a inicial anuência e interesse em participar
do estudo, tendo havido aquiescência e
estímulo por parte de todos os convidados.
RESULTADOS
Os dados dos primeiro e segundo ques-
tionários são adiante apresentados.
Consideremos primeiramente os profis-
sionais que avaliaram os programas e que
referiram:
• A mídia de distribuição foi conside-
rada adequada e prática em todos os ques-
tionários respondidos;
• as instruções para instalação foram
consideradas claras em todos os questio-
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nários, suficientes em oito e insuficientes
em um questionário;
• não houve problemas na instalação
dos programas em oito questionários, um
alegando falta de conhecimento em infor-
mática;
• não se notou nenhuma alteração na
configuração original do computador uti-
lizado na totalidade dos questionários;
• com relação ao espaço ocupado no
disco rígido pelos programas, seis o refe-
riram como pequeno e três não souberam
avaliar;
• as instruções para utilização dos pro-
gramas foram claras para a totalidade dos
questionários, suficientes em oito e insufi-
cientes em um caso;
• a interface dos programas foi consi-
derada amigável e intuitiva em seis ques-
tionários, nem amigável nem intuitiva em
um, e dois nada responderam;
• a avaliação sobre o grau de dificuldade
no uso dos programas foi tomado como fá-
cil em seis respostas, alguma dificuldade
em duas e muito fácil em uma;
• o tempo médio de familiarização com
os programas foi de uma hora;
• as imagens que acompanhavam os
programas estavam em condições de serem
visualizadas e tratadas em sete questioná-
rios, um respondeu poderem ser visualiza-
das mas não tratadas por falta de informa-
ção, e um, visualizadas, não respondendo
se possíveis de serem tratadas;
• com o uso dos filtros as imagens me-
lhoraram para sete participantes, não se
alterando na opinião de dois;
• a acuidade diagnóstica com a utiliza-
ção dos filtros, comparativamente, melho-
rou em cinco respostas e não se alterou em
quatro.
Consideremos agora as razões referidas
para não utilizarem os programas, não res-
ponderem ao questionário primário, mes-
mo tendo aceito participar do estudo:
• Acusaram não terem recebido o mate-
rial para avaliação dois participantes, e um
refere não se lembrar de tê-lo recebido;
• seis participantes, tendo recebido o
material para avaliação, não o utilizaram
por diversos motivos, alegando falta de
tempo, não habituados com a utilização do
computador, e alguns não mais puderam
ser contatados;
• a idade média dos participantes foi de
46 anos;
• o tempo médio de formatura, gradua-
ção em medicina, foi de 20 anos;
• dos participantes referentes ao uso de
computador, 12% referiram não o usar,
usam-no eventualmente 44% e usam-no
sempre outros 44% dos médicos-alvo;
• em relação a conhecimentos de infor-
mática, 67% dos participantes referem que
são poucos, conhecimentos médios são
referidos por 33% e nenhum deles refere
conhecimentos avançados em informática;
• perguntados sobre a possibilidade de
usar programas como os pesquisados na
prática diária, a resposta, para 16% dos
pesquisados, foi que não viam nenhuma
possibilidade, possibilidade pequena foi a
resposta de 27%, possibilidade mediana
em 11% e possibilidade grande em 44%.
DISCUSSÃO
Os resultados parciais obtidos mostram,
primariamente, que mesmo com interesse
manifesto na aplicabilidade do método,
este não foi utilizado na forma da expec-
tativa dos autores, o que se torna, natural-
mente, um estímulo para a sua discussão e
reordenamento de premissas, posição que
decorre do baixo retorno na participação
voluntariamente aceita (9 de 25, ou 36%).
CONCLUSÃO
Os dados obtidos, embora parciais e não
passíveis de, no momento, serem submeti-
dos a análise estatística, servem como pon-
to de reparo, demandando várias questões:
1. Seria a expectativa dos autores, cer-
tos de que o método é de extrema valia
para a prática diária, em função do apro-
veitamento de sistemas computacionais
comumente encontrados e subutilizados,
inexistente custo de implantação, manejo
fácil e eficiente, frustrada em função de
quais variáveis (da idade, tempo de forma-
do, conhecimentos em informática, interes-
se no assunto, etc.)?
2. Se o público alvo fosse diverso, no
qual a informática já tivesse se arraigado
como prática diária, necessária e dela de-
pendente, os resultados seriam diversos?
De tudo que os resultados preliminares
permitem concluir, o mais provável é que
ainda existe uma natural resistência à uti-
lização da informática, na prática médica
diária do diagnóstico por imagem, tanto
por parte dos médicos ultra-sonografistas
quanto dos usuários, ou solicitadores de
exames, restringindo sua aplicação à ma-
nipulação de cadastro de pacientes e emis-
são de textos de laudos, o que configura
uma subutilização de sistemas computacio-
nais, já que estes podem contribuir positi-
vamente na melhoria do resultado final
desses procedimentos.
REFERÊNCIAS
1. Gondo M. Esse investimento compensa? Jornal da
Imagem, março 2002:33.
2. Arquivos digitais em radiologia. (I) Sistemas digi-
tais em diagnóstico por imagem. Originariamente
em http://www.radiology.com.br/pacs.htm
3. The Dicom standard. Disponível em: http://www.
psychology.nottingham.ac.uk.staff/cr1/dicom.html.
4. Dissertação de mestrado. http://infonib.nib.
unicamp.br/~biancamano/