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PEDIATRIA (SÃO PAULO) 2008;29(4):286-296
■REVISÕES E ENSAIOS
Resumo
Objetivo: discutir a racionalidade científica do
modelo homeopático e sua aplicação no trata-
mento dos distúrbios emocionais e comporta-
mentais da infância e da adolescência. Fontes dos
dados: revisões, artigos e livros que abordam os
temas citados. Síntese dos dados: otratamento
homeopático das doenças aplica um princípio de
cura que estimula o organismo a reagir contra
seus próprios distúrbios (princípio da similitu-
de), administrando aos doentes doses infinitesi-
mais de substâncias que apresentam a proprieda-
de patogenética intrínseca de despertar, em
pessoas sadias, sintomas semelhantes aos que se
desejam curar.Empregando uma semiologia glo-
balizante, incorpora os múltiplos aspectos do bi-
nômio doente-doença na seleção do medicamen-
to individualizado, propiciando uma terapêutica
de baixo custo, isenta de efeitos colaterais e que
incrementa a resolutividade clínica das doenças
crônicas em geral. Conclusões: valorizando as
manifestações emocionais e psíquicas descritas
na experimentação das substâncias medicinais
em indivíduos sadios (experimentação patogené-
tica homeopática), a homeopatia pode atuar de
forma específica no tratamento dos transtornos
comportamentais humanos, modulando as susce-
tibilidades individuais.
Descritores: Homeopatia. Pesquisa homeopática
básica. Mecanismo de ação do medicamento ho-
meopático. Pesquisa biomédica. Pediatria. Sinto-
mas afetivos. Sintomas comportamentais.
Abstract
Objective:
to discuss the scientific rationality of
the homeopathic model and it’s application in the
treatment of the emotional and behavioral disturb-
ances of childhood and the adolescence.
Data
source:
literature reviews, studies and books that
approach the mentioned themes.
Data synthesis:
the homeopathic treatment of the diseases applies a
principle of curethat stimulates the organism to re-
act against their own disturbances (similitude prin-
ciple), administering to the patients infinitesimal
doses of substances that present the intrinsic patho-
genetic property of waking up, in healthy people,
similar symptoms to the that one want to cure. Us-
ing a global semiology homoeopathy incorporates
the aspects of the binomial sick-disease in the selec-
tion of the individualized medicine, propitiating a
treatment of low cost, without side effects, that in-
creases the clinical resolution of chronic diseases in
general.
Conclusions:
valuing the emotional and
psychic manifestations described in the experimen-
tation of the medicinal substances in healthy indi-
viduals (homeopathic pathogenetic experimenta-
■REVISÕES E ENSAIOS
TTrraattaammeennttoo hhoommeeooppááttiiccoo ddooss ddiissttúúrrbbiiooss eemmoocciioonnaaiiss
ee ccoommppoorrttaammeennttaaiiss ddaa iinnffâânncciiaa ee ddaa aaddoolleessccêênncciiaa
Homeopathic treatment of emotional and behavioral
disturbances of the childhood and the adolescence
Tratamiento homeópata de las perturbaciones emocionales
y conductuales de la niñez y de la adolescencia
Marcus Zulian Teixeira1
Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
1Doutorando do Departamento de Clínica Médica da FMUSP. Coordenador da Disciplina
“Fundamentos da Homeopatia” (MCM0773) da FMUSP
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TRATAMENTO HOMEOPÁTICO DOS DISTÚRBIOS EMOCIONAIS E COMPORTAMENTAIS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA
tion), the homeopathy can act in a specific way in
the treatment human behavior disturbs, modulating
the individual susceptibilities.
Keywords:
Homeopathy. Basic homeopathic re-
search. Action mode of homeopathic drugs. Biome-
dical research. Pediatrics. Affective symptoms. Be-
havioral symptoms.
Resumen
Objetivo:
discutir la racionalidad científica del
modelo homeópata y su aplicación en el tratamien-
to de las perturbaciones emocionales y conductua-
les de la niñez y de la adolescencia.
Fuente de los
datos:
revisiones de la literatura, artículos y libros
que se acercan los temas mencionados.
Síntesis de
los datos:
el tratamiento homeópata de las enfer-
medades aplica un principio de cura que estimula el
organismo para reaccionar contra sus propias per-
turbaciones (el principio de similitud), adminis-
trando a los pacientes las dosis infinitesimales de
substancias que presentan la propiedad patogenéti-
ca intrínseca de despertarse, en las personas salu-
dables, los síntomas similares al que uno quiere cu-
rar. Usando una semióloga global incorpora los
múltiplos aspectos de lo binomio enfermo-enferme-
dad en la selección de la medicina individualizada,
mientras propiciando un tratamiento de costo bajo,
exenta de efectos laterales y eso aumenta la resolu-
ción clínica de las enfermedades crónicas en gene-
ral.
Conclusiones:
valorando las manifestaciones
emocionales y psíquicas descritas en la experimen-
tación de las substancias medicinales en los indivi-
duos saludables (experimentación patogenética ho-
meópata), la homeopatía puede actuar de una
manera específica en el tratamiento de los trastor-
nos de la conducta humana, mientras modulando
las susceptibilidades individuales.
Palabras clave:
Homeopatía. Investigación homeo-
pática básica. Mecanismo de acción del medicamen-
to homeopático. Investigación biomédica. Pediatría.
Síntomas afectivos. Síntomas conductuales.
Introdução
Valorizando os diversos aspectos da indivi-
dualidade enferma, segundo abordagens antro-
pológica e semiológica globalizantes, a homeo-
patia é um modelo terapêutico que se propõe a
tratar o ser humano de forma integrada, desper-
tando o interesse crescente da população e da
classe médica mundialmente1-2.
Reconhecida como especialidade médica pelo
Conselho Federal de Medicina (CFM) desde
1980, com título de especialista conferido pela
Associação Médica Brasileira (AMB) desde 1990,
desenvolve suas atividades de forma paralela ao
movimento científico acadêmico, divulgando
sua racionalidade teórico-prática em cursos de
pós-graduação lato sensu (extensão universitária;
1.200 horas-aula) oferecidos por entidades for-
madoras vinculadas à Associação Médica Ho-
meopática Brasileira (AMHB).
A partir de 1985, a homeopatia passou a ser
oferecida em ambulatórios de hospitais e postos
de saúde da rede pública (SUS), disponibilizan-
do à população brasileira, ainda que de forma tí-
mida e insuficiente, uma alternativa terapêutica
ao tratamento das doenças crônicas, aumentan-
do a resolutividade clínica e diminuindo os cus-
tos e os efeitos iatrogênicos da terapêutica farma-
cológica clássica, através de um modelo de
medicina humanizada que valoriza a relação mé-
dico-paciente e a complexidade humana enferma
em seus aspectos espirituais, psíquicos e físicos3.
Iniciativas na educação médica mundial co-
meçam a viabilizar o ensino dos pressupostos
homeopáticos nas faculdades de medicina, in-
corporando disciplinas eletivas ao currículo fun-
damental, permitindo que a informação respal-
dada pelas evidências científicas e pelas práticas
vivenciadas possam dissolver o preconceito ar-
raigado à cultura médica4.
Embasada em princípios pouco ortodoxos e
distintos dos conceitos hegemônicos da ciência
cartesiana (princípio da similitude, experimenta-
ção patogenética homeopática e medicamento
dinamizado), a racionalidade e a prática médica
homeopáticas são utilizadas há mais de duzentos
anos em inúmeros países, auxiliando a minimi-
zar o sofrimento de pacientes portadores dos
mais diversos tipos de mazelas. Afastada do esta-
fe acadêmico-científico, dificilmente conseguiria
sobreviver ao passar dos séculos incólume às crí-
ticas de que é alvo periodicamente se não apre-
sentasse eficácia e efetividade clínicas confirma-
das e difundidas pela experiência popular.
O modelo de tratamento homeopático empre-
ga o princípio de cura pela similitude, adminis-
trando doses infinitesimais de substâncias que, ao
serem experimentadas previamente em indiví-
duos sadios, apresentaram sintomas semelhantes
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aos dos indivíduos enfermos. Para se tornar um
medicamento homeopático, a substância deve
ser experimentada em indivíduos humanos se-
gundo um protocolo de experimentação patoge-
nética e ter seus efeitos primários (psíquicos, ge-
rais e físicos) descritos na Matéria Médica
Homeopática (MMH).
Considerando o ser humano uma entidade
complexa, a concepção antropológica homeopá-
tica atribui ao corpo biológico uma natureza di-
nâmica físico-vital, na qual os pensamentos e os
sentimentos interagem com os sistemas orgâni-
cos e suas funções fisiológicas, tornando a indi-
vidualidade mais ou menos suscetível aos agen-
tes etiológicos. Resultante desta concepção
holística do processo de adoecimento, a semiolo-
gia homeopática valoriza os múltiplos aspectos
do indivíduo enfermo, compondo um quadro
sintomático que englobe as características pecu-
liares das diversas esferas humanas (biológica,
psíquica, social e espiritual) para realizar o diag-
nóstico medicamentoso individualizado.
Visando restabelecer este equilíbrio orgânico-
vital, a arte homeopática de curar deve ser capaz
de identificar as suscetibilidades mórbidas indi-
viduais, reconhecidas através da totalidade dos
sintomas característicos manifestos no enfermo,
a fim de escolher um medicamento que desper-
tou um conjunto de sintomas semelhantes no ser
humano sadio.
Em vista de o modelo homeopático valorizar os
sintomas emocionais e psíquicos como aspectos de
alta hierarquia no conjunto das características hu-
manas, seja na experimentação patogenética ho-
meopática ou na compreensão da etiopatogenia
dos distúrbios orgânicos de qualquer natureza,
estas classes de manifestações fazem parte do
ideal de cura do médico homeopata. Medica-
mentos que suprimam as manifestações clínicas
indesejáveis sem propiciarem melhoras emocio-
nais e psíquicas proporcionais devem ser antido-
tados segundo a concepção homeopática do pro-
cesso saúde-doença.
Assim sendo, todo tratamento homeopático
individualizado e bem conduzido deve atuar de
forma integrada, tanto nos distúrbios emocio-
nais e psíquicos quanto nos distúrbios gerais e
orgânicos, propiciando “um estado de completo
bem-estar físico, mental, social e espiritual, e não
apenas a ausência de doenças”.
Neste trabalho, junto com uma síntese dos as-
pectos da racionalidade científica que respaldam a
aplicação dos pressupostos homeopáticos segun-
do as pesquisas básica e clínica5-7, iremos discor-
rer sobre algumas das inúmeras indicações do tra-
tamento homeopático nos distúrbios emocionais
e comportamentais da infância e da adolescência.
Princípio da similitude
Samuel Hahnemann, fundador da homeopatia,
embasado no estudo das propriedades farmacoló-
gicas de dezenas de substâncias medicamentosas
de sua época, nas quais observou uma reação se-
cundária (efeito indireto) do organismo após a
ação primária (efeito direto) de drogas das mais di-
versas classes, enunciou um aforismo para a ação
dos medicamentos na constituição humana:
Toda força que atua sobre a vida, todo medica-
mento afeta, em maior ou menor escala, a for-
ça vital, causando certa alteração no estado de
saúde do Homem por um período de tempo
maior ou menor. A isso se chama ação primá-
ria.[...] A essa ação, nossa força vital se esfor-
ça para opor sua própria energia. Tal ação
oposta faz parte de nossa força de conservação,
constituindo uma atividade automática da
mesma, chamada ação secundária ou reação.8
Ilustrando esta lei natural,descreve a ação
primária dos medicamentos, promotora de alte-
rações nos diversos sistemas orgânicos e a conse-
qüente ação secundária do organismo (reação vi-
tal ou força de conservação) que se manifesta no
sentido de neutralizar os distúrbios primários
promovidos pelos fármacos, na tentativa de re-
tornar ao equilíbrio do meio interno anterior à
intervenção medicamentosa:
[...] À ingestão de café forte, segue-se uma su-
perexcitação (ação primária); porém, um gran-
de relaxamento e sonolência (reação, ação se-
cundária) permanecem por algum tempo se
não continuar a ser suprimido através de mais
café (paliativo, de curta duração). Após o sono
profundo e entorpecedor produzido pelo ópio
(ação primária), a noite seguinte será tanto
mais insone (reação, ação secundária). Depois
da constipação produzida pelo ópio (ação pri-
mária), segue-se a diarréia (ação secundária) e,
após purgativos que irritam os intestinos (ação
primária), sobrevêm obstrução e constipação
por vários dias (ação secundária). Assim, por
toda parte, após a ação primária de uma potên-
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TRATAMENTO HOMEOPÁTICO DOS DISTÚRBIOS EMOCIONAIS E COMPORTAMENTAIS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA
cia capaz de, em grandes doses, transformar
profundamente o estado de saúde do organis-
mo sadio, é justamente o oposto que sempre
ocorre na ação secundária, através de nossa
força vital. (Organon, § 65)
Utilizando uma racionalidade científica fun-
damentada na lógica aristotélica, Hahnemann
estipula o tratamento pelos semelhantes ou prin-
cípio da similitude curativa (similia similibus cu-
rentur), administrando aos indivíduos enfermos
substâncias que haviam despertado sintomas se-
melhantes em indivíduos sadios, com o objetivo
de estimular uma reação homeostática curativa,
induzindo o organismo a reagir contra os seus
próprios distúrbios. Descrito em 1860 pelo fisio-
logista da Sorbonne, Claude Bernard, como fixi-
té du milieu intérieur, o termo homeostase foi cu-
nhado em 1929 pelo fisiologista de Harvard,
Walter Bradford Cannon, significando, a tendên-
cia ou a habilidade dos organismos vivos em
manter a constância do meio interno, através de
auto-ajustes nos processos fisiológicos.
Citado por Hipócrates e outros expoentes ao
longo da história da medicina, este princípio da
similitude (reação homeostática) encontra fun-
damentação científica no “efeito rebote” ou “rea-
ção paradoxal” do organismo, observado após a
suspensão ou a alteração das doses de diversas
classes de drogas que atuam de forma contrária
(antagônica, enantiopática, oposta ou paliativa)
aos sintomas das doenças e confirmado em estu-
dos da farmacologia experimental9-10.
Exemplificando o efeito rebote em três clas-
ses de drogas antagônicas de grande utilização
atual, temos que medicamentos anticoagulantes
(argatroban, bezafibrato, heparina, salicilatos,
warfarina), empregados por sua ação primária na
profilaxia da trombose sanguínea, promovem
complicações trombóticas como efeito rebote;
broncodilatores (adrenérgicos, cromoglicato dis-
sódico, epinefrina, ipatrópio, nedocromil), pro-
motores primários da dilatação dos brônquios,
despertam broncoconstrição severa como reação
paradoxal; antidepressivos (inibidores da MAO,
tricíclicos), utilizados primariamente para dimi-
nuir os sintomas da depressão, exacerbam os
sintomas depressivos após a suspensão, em pata-
mares superiores aos suprimidos inicialmente.
Embora esta reação paradoxal se manifeste numa
pequena proporção dos indivíduos, em vista do
seu caráter idiossincrásico, evidências recentes
alertam para a ocorrência de eventos iatrogêni-
cos fatais em decorrência deste efeito rebote do
organismo. Após o emprego de fármacos de se-
gunda geração (ação enantiopática mais potente)
de mesmas classes de drogas, ocorre reação se-
cundária diretamente proporcional à intensidade
do efeito primário paliativo: antiinflamatórios
seletivos e não-seletivos da COX-2 levam a trom-
boses fatais (IAM, AVE), em decorrência do seu
efeito primário anticoagulante; broncodilatado-
res de longa duração causam broncoespasmos ir-
reversíveis; antidepressivos inibidores da recap-
tação de serotonina despertam comportamentos
suicidas11-13. De forma análoga aos medicamen-
tos homeopáticos, o efeito rebote dos fármacos
modernos poderia ser utilizado de forma curati-
va, estimulando reações orgânicas favoráveis
(p.ex. anticoncepcionais podem promover ovula-
ção e gravidez rebote em mulheres com esterilida-
de funcional; imunossupressores podem desper-
tar imunoestimulação paradoxal em indivíduos
imunossuprimidos etc.)14.
Estudos no campo da pesquisa básica eviden-
ciam a ação das ultradiluições na indução da res-
posta terapêutica homeostática, testando os efei-
tos protetores ou curativos das preparações
homeopáticas de diversas toxinas (arsênico, mer-
cúrio, cobre, chumbo etc.) em modelos laborato-
riais submetidos à intoxicação experimental com
as mesmas substâncias15.Em outras áreas do co-
nhecimento científico moderno, a reversão da
ação tóxica de inúmeros agentes (inclusive irra-
diações) é observada no emprego terapêutico
destes mesmos agentes em doses infinitesimais,
com o intuito de despertar o fenômeno de com-
pensação orgânica ou homeostática16.
Experimentação patogenética homeopática
Para adquirir o conhecimento das proprieda-
des curativas das substâncias que permitam a
aplicação do princípio da similitude, a homeopa-
tia utiliza a experimentação patogenética ho-
meopática (experimentação no homem são)
como modelo de pesquisa clínica farmacológica
(semelhante aos modernos testes clínicos fase
1), valorizando todas as classes de manifestações
sintomáticas despertadas pelas substâncias me-
dicinais nos indivíduos humanos (mentais, ge-
rais e físicas), sejam em doses ponderais ou infi-
nitesimais, denominados pela farmacologia
como efeitos terapêuticos, adversos ou colaterais
das drogas modernas:
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Todos os efeitos patogenéticos de cada medica-
mento precisam ser conhecidos, isto é, todos os
sintomas e alterações mórbidas da saúde que
cada um deles é capaz de provocar no homem
sadio devem ser primeiramente observados an-
tes de se encontrar e escolher, entre eles, o meio
de cura homeopático adequado para a maioria
das doenças naturais. (Organon, § 106)
Seguindo as premissas estipuladas por Hah-
nemann (Organon, § 105-145), milhares de
substâncias foram experimentados em todo o
mundo ao longo destes duzentos anos de ho-
meopatia, segundo protocolos diversos de expe-
rimentação patogenética17, a fim de se adquirir o
“conhecimento dos instrumentos destinados à
cura das doenças naturais”, averiguando-se o
“poder patogenético dos medicamentos, a fim de
que, quando precisar curar, possa-se escolher,
entre eles, um cujas manifestações sintomáticas
possam constituir uma doença artificial tão se-
melhante quanto possível à totalidade dos sinto-
mas principais da doença natural a ser curada”.
Todos os sintomas observados nas experi-
mentações patogenéticas dos diversos medica-
mentos homeopáticos são compilados para a
Matéria Médica Homeopática (MMH), seguindo
uma sistematização anatômico-funcional (men-
te, cabeça, olho, ouvido, nariz, face, boca, gar-
ganta, estômago, abdome etc.). Na prática clíni-
ca, o médico homeopata utiliza também o
Repertório de Sintomas Homeopáticos (RSH),
no qual todos os medicamentos homeopáticos
que despertaram o mesmo sintoma nas experi-
mentações patogenéticas são agrupados numa
mesma rubrica, facilitando a seleção do medica-
mento homeopático que englobe a totalidade de
sintomas característicos do paciente.
A importância dedicada à observação de ma-
nifestações mentais e psíquicas nas experimenta-
ções patogenéticas das diversas substâncias medi-
cinais, valorizadas pela concepção homeopática
do processo de adoecimento humano, permite
que possamos atuar, segundo o princípio da simi-
litude terapêutica, nos diversos distúrbios emo-
cionais e comportamentais da infância e da ado-
lescência, como veremos adiante.
Medicamento dinamizado
Principal alvo das críticas do pensamento car-
tesiano ao modelo homeopático, o emprego de
substâncias ultradiluídas, em concentrações in-
feriores ao número de Avogadro (10-24 M), con-
traria o modelo farmacológico bioquímico e
dose-dependente, despertando ceticismo no
meio científico a hipótese de que estas doses in-
finitesimais possam causar efeitos em sistemas
biológicos ou seres vivos.
Com o objetivo inicial de evitar as intoxicações
e as agravações medicamentosas que as substân-
cias aplicadas segundo o princípio da similitude
causavam nos pacientes, Hahnemann propôs um
método farmacotécnico para a preparação dos me-
dicamentos homeopáticos denominado dinamiza-
ção,no qual as substâncias eram diluídas e agita-
das sucessivamente (medicamento dinamizado),
observando que estas preparações infinitesimais
apresentavam atividade biológica nas diversas es-
feras da individualidade humana. A capacidade da
informação contida nestas substâncias ultradiluí-
das em promover alterações nos sistemas orgâni-
cos, de forma análoga às doses ponderais, tem sido
evidenciada em modelos físico-químicos ou bioló-
gicos de pesquisa experimental.
Algumas hipóteses fundamentadas em mode-
los experimentais físico-químicos buscam uma
explicação científica para o fenômeno de trans-
missão da informação dos efeitos primários das
substâncias através destas doses infinitesimais.
Dentre elas, citamos as pesquisas que estudam as
modificações de natureza eletromagnética da
água segundo a eletrodinâmica quântica, na qual
a matéria não representaria um aglomerado iner-
te de moléculas e sim um meio dinâmico, capaz
de selecionar e catalisar as reações moleculares de
acordo com os diversos campos eletromagnéticos
que ocorrem em seu interior. Através de modelos
matemáticos e experimentais, especula-se que o
campo eletromagnético de um soluto pode gerar
certos domínios de coerência estável no solvente
(com estruturas e vibrações específicas), produ-
zindo aglomerados ou clusters de moléculas de
água (com tamanhos e geometrias próprios),
como uma assinatura eletromagnética da subs-
tância na água.Desta forma, a organização da
água seria um processo coerente, reprodutível e
associado a interações eletromagnéticas de longo
alcance e baixíssima intensidade, transmitindo a
informação do soluto inicialmente diluído e agi-
tado pelo processo da dinamização18-21.
Numa outra linha de pesquisa, as ultradilui-
ções são testadas em modelos biológicos (cultu-
ra de células, animais, vegetais etc.), constatan-
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TRATAMENTO HOMEOPÁTICO DOS DISTÚRBIOS EMOCIONAIS E COMPORTAMENTAIS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA
do-se que as substâncias dinamizadas despertam
efeitos semelhantes aos das substâncias ponde-
rais em diversos sistemas fisiológicos22-25.
Individualização do
medicamento homeopático
Encarando o processo de adoecimento como
um enfraquecimento dos mecanismos fisiológi-
cos normais de adaptação e compensação, Hahne-
mann correlaciona qualquer desequilíbrio interior
às diversas manifestações sintomáticas indivi-
duais, e utilizou a totalidade de sinais e sintomas
como o único referencial para diagnosticar o
“padecimento da força vital” (predisposição in-
dividual, suscetibilidade mórbida ou desequilí-
brio homeostático), e para prescrever os medica-
mentos homeopáticos mais semelhantes à
individualidade enferma:
[...] a totalidade de seus sintomas, esse quadro
do ser interior da doença que se reflete no ex-
terior, isto é, do padecimento da força vital,
deve ser o principal ou o único através do qual
a doença dá a conhecer o meio de cura de que
ela necessita, o único que pode determinar a
escolha do meio de auxílio adequado – em
suma, a totalidade dos sintomas deve ser, para
o artista da cura, a coisa principal, senão a úni-
ca que ele, em cada caso de doença, necessita
conhecer e afastar através de sua arte, a fim de
que a doença seja curada e transformada em
saúde. (Organon, § 7)
No conjunto de sinais e sintomas manifestos,
a semiologia homeopática seleciona os mais pe-
culiares e característicos a cada caso, desprezan-
do os sintomas comuns pela ausência de poder
individualizante nos mesmos. Dentre esta totali-
dade de sintomas característicos, classifica as
manifestações mentais e psíquicas (emocionais,
comportamentais etc.) como aspectos de alta
hierarquia, reiterando a importância e a comple-
xidade da individualização no êxito do tratamen-
to para qualquer tipo de doença:
“Por conseguinte, jamais se poderá curar de
acordo com a natureza, isto é, homeopatica-
mente, se não se observar, simultaneamente,
em cada caso individual de doença, mesmo
nos casos de doenças agudas, o sintoma das al-
terações mentais e psíquicas, e se não se esco-
lher, para alívio do doente, entre os medica-
mentos, uma tal potência morbífica que, a par
da semelhança de seus outros sintomas com os
da doença, também seja capaz de produzir por
si um estado psíquico ou mental semelhante”.
(Organon, § 213)
Assim sendo, o tratamento homeopático ade-
quado deve priorizar a individualização do me-
dicamento, valorizar os aspectos mais caracterís-
ticos do paciente, permitindo que para uma
mesma doença cada indivíduo possa vir a rece-
ber medicamentos distintos, conforme as suas
suscetibilidades físicas, psíquicas, emocionais,
alimentares, climáticas etc.26 Ensaios clínicos
controlados que respeitaram estas premissas de-
monstraram maior eficácia do tratamento ho-
meopático perante o placebo27-30, ao contrário
daqueles que estipularam uma mesma prescrição
para todos os portadores de uma mesma doen-
ça31-33, desprezando a totalidade sintomática ca-
racterística individual.
Vale ressaltar que este processo de individua-
lização medicamentosa necessita de um período
de acompanhamento regular e variável, em que a
efetividade das diversas hipóteses medicamento-
sas é testada sucessivamente, ajustando-se os
medicamentos, as doses e as potências homeopá-
ticas aos diversos aspectos do paciente. Isso até
que se atinja o status medicamentoso ideal, com
a substituição das drogas alo-enantiopáticas em
uso, desde que imprescindíveis ao equilíbrio das
funções vitais orgânicas, deve ser realizado se-
gundo critérios éticos e seguros, evitando-se ia-
trogenias graves conseqüentes à ausência da
ação terapêutica homeopática34.
Tratamento homeopático dos distúrbios
emocionais e comportamentais
Apesar do DSM-IV (Diagnostic and Statistic
Manual of Mental Disorders) classificar mais de
250 condições que podem cursar com alterações
do comportamento, os distúrbios comportamen-
tais da infância e da adolescência definem-se atra-
vés dos seguintes aspectos:
1. quando houver problemas no rendimento es-
colar não explicados por fatores intelectuais,
sensoriais ou outras incapacidades físicas;
2. quando são observados problemas em estabe-
lecer e manter relações sociais com colegas,
professores ou familiares;
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3. quando são observadas reações comportamen-
tais ou sentimentos inapropriados diante de si-
tuações corriqueiras, ou tristeza e depressão
contínuas;
4. quando há tendência a desenvolver sintomas
físicos ou medos associados a problemas co-
muns”35.
Mais adiante iremos utilizar esta classificação
generalista para ilustrar algumas manifestações
patogenéticas homeopáticas (e seus respectivos
medicamentos), que podem ser utilizadas na ela-
boração da síndrome sintomática destes trans-
tornos comportamentais.
Para a homeopatia, quaisquer características
humanas, desproporcionais em sua expressão
natural e promotora de distúrbios de qualquer
natureza (espiritual, social, familiar, escolar, psí-
quica, emocional, física, climática, alimentar
etc.), são consideradas sintomas homeopáticos,
que integram a suscetibilidade mórbida indivi-
dual e devem estar incorporadas à totalidade sin-
tomática característica do indivíduo enfermo.Se
esta manifestação sintomática estiver descrita
nas experimentações patogenéticas dos milhares
de medicamentos homeopáticos que compõe a
Matéria Médica Homeopática (MMH), podere-
mos modular sua manifestação através da aplica-
ção do princípio da similitude terapêutica.
Assim sendo, apesar do diagnóstico clínico
ou psiquiátrico ser fundamental para situar o
médico homeopata perante a gravidade e o prog-
nóstico do quadro, a semiologia homeopática
utiliza o conjunto de sintomas característicos
(mentais, gerais e físicos) para realizar o diag-
nóstico medicamentoso.
No capítulo “Mental” da Matéria Médica Ho-
meopática (MMH) e do Repertório de Sintomas
Homeopáticos (RSH), encontramos uma infinida-
de de manifestações emocionais e comportamen-
tais humanas que foram descritas nas experimen-
tações patogenéticas dos diversos medicamentos
homeopáticos, habitualmente utilizadas na práti-
ca clínica homeopática para compor a totalidade
sintomática característica de qualquer paciente e
que assumem particular importância no trata-
mento homeopático dos distúrbios comporta-
mentais humanos.
Ilustrando a abrangência da homeopatia nestes
casos, com atuação individualizada nas diversas
manifestações psíquicas e emocionais, direcionan-
do a reação vital ou homeostática para a modulação
de aspectos sutis e específicos da psique humana,
enumeramos alguns dos sintomas mentais passí-
veis de tratamento pela abordagem homeopática,
desde que se manifestem de forma inapropriada e
perturbadora: abandono, agressividade, alheamen-
to social, ansiedade, antecipação, choro, cólera,
companhia (desejo ou aversão), concentração difí-
cil, confusão mental, contradição, crueldade, delí-
rios, desamparo, desconfiança, desorientação, de-
pressão, despersonalização, despotismo, destru-
tividade, distração, embotamento mental, erros no
falar, euforia, excitabilidade, gestos estranhos (ti-
ques), gritos, hipersensibilidade, histeria, humor
alterado, impressionabilidade, impulsividade, inde-
cisão, indiferença afetiva, indignação, indiscrição,
indolência, inquietude, insegurança, introspecção,
irritabilidade, lentidão, loquacidade, mágoa, me-
dos, memória alterada, morder (desejo), nostalgia,
obscenidade, obstinação, pesadelos, pessimismo,
pressa, ressentimento, rudeza, selvageria, sonam-
bulismo, terror noturno, timidez, vergonha, etc.
Para amenizar o espanto daqueles que ques-
tionam a possibilidade de substâncias medicinais
despertarem esta classe de sintomas em experi-
mentos humanos, algumas destas manifestações
estão citadas na seção de eventos adversos (efei-
tos primários ou patogenéticos) dos fármacos
modernos na farmacopéia americana (United Sta-
tes Pharmacopeia Dispensing Information, USP-DI;
apenas na letra A)36: agressividade (acitretin,
amantadine, succinimide anticonvulsant etc.),
alheamento social (alosetron), ansiedade (abaca-
vir, abiciximab, almotriptan etc.), choro (anphe-
tamines, atomoxetine, atorvastatin etc.), concentra-
ção difícil (almotriptan, amantadine, aminobenzoate
potassium etc.), confusão mental (acetaminophen/
salicylates, acetylcysteine, amiodarone etc.), delí-
rios (acyclovir
, amantadine, amiodarone etc.), deso-
rientação (amantadine, amiodarone, nonsteroidal
anti-inflammatory drugs etc.), depressão (ampre-
navir, nonsteroidal anti-inflammatory drugs, succi-
nimide anticonvulsant etc.), despersonalização
(amantadine, nonsteroidal anti-inflammatory
drugs, atorvastatin etc.), embotamento mental
(atomoxetine, azacitidine etc.), erros no falar (aci-
tretin, amantadine, amphetamines etc.), euforia
(almotriptan, atorvastatin, phenotiazine-derivative
antihistamines etc.), excitabilidade (anticholiner-
gics/antispasmodics, barbiturates, hydantoin anti-
convulsant etc.), gestos estranhos (almotriptan,
amiodarone, antihistamines and decongestants
etc.), histeria (phenotiazine-derivative antihistami-
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TRATAMENTO HOMEOPÁTICO DOS DISTÚRBIOS EMOCIONAIS E COMPORTAMENTAIS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA
nes etc.), humor alterado (alemtuzumab, amioda-
rone, amprenavir etc.), inquietude (almotriptan,
amlodipine, anticholinergics etc.), irritabilidade
(acamprosate, adalimumab, nonsteroidal anti-in-
flammatory drugs etc.), medos (abciximab, antim-
yasthenics, amlodipine/ benazepril etc.), memória
alterada (amantadine, amlodipine/atorvastatin, an-
ticholinergics/antispasmodics etc.), pesadelos (al-
motriptan, succinimide anticonvulsant, antihistami-
nes etc.) etc. Se a notificação dos eventos
adversos das drogas atuais valorizasse estes as-
pectos emocionais e comportamentais, como o
faz a experimentação patogenética homeopática,
certamente teríamos descritos aspectos mais sutis
e idiossincrásicos como efeitos colaterais farma-
cológicos modernos.
Ao reiterar que a semiologia homeopática
deve abranger a totalidade de sintomas caracte-
rísticos do enfermo (sintomas mentais, gerais e
físicos) para realizar o diagnóstico medicamen-
toso correto (medicamento individualizado), se-
gundo uma semiotécnica específica e aplicada
por profissional habilitado, vamos exemplificar
algumas das inúmeras manifestações sintomáti-
cas descritas nas experimentações patogenéticas
homeopáticas (na linguagem do RSH)37-38, com a
abreviatura de alguns dos respectivos medica-
mentos que podem ser utilizados no tratamento
destes distúrbios emocionais e comportamentais
da infância e da adolescência (Tabelas 1 a 4).
Conclusão
Embora marginalizada pelo conhecimento
científico contemporâneo, a homeopatia contribui
de forma barata, segura e efetiva na diminuição do
sofrimento humano e na resolutividade de inúme-
ras doenças crônicas há mais de duzentos anos,
Sintomas mentais descritos nas experimentações patogenéticas Medicamentos homeopáticos
(na linguagem do RSH) (abreviaturas)
Antecipação, antes de exame Aeth, Arg-n, Gels, Sil etc.
Caótico, comportamento confuso Ars, Bell, Bov, Chin etc.
Concentração difícil, estudando, lendo Aeth, Hell, Nux-v, Sil etc.
Embotamento, dificuldade de pensar e compreender Arg-n, Bar-c, Calç-P, Sulph etc.
Erros em cálculos Am-c, Crot-h, Lyc, Nux-v etc.
Erros escrevendo Calç-p, Kali-br, Lyc, Thuj etc.
Escrever, incapacidade para aprender a escrever Caust, Ign, Lyc, Nux-v etc.
Indolência, aversão ao trabalho, preguiça Graph, Nat-m, Pic-ac, Tub etc.
Memória, fraqueza de, para o que leu Hell, Lach, Lyc, Staph etc.
Pensamentos divagantes Acon, Aloe, Arn, Bapt etc.
Sintomas mentais descritos nas experimentações patogenéticas Medicamentos homeopáticos
(na linguagem do RSH) (abreviaturas)
Abusado, crianças insultam seus pais Cina, Lyc, Plat, Tub etc.
Alheio, deslocado, distante de sua família Nat-c, Nat-m, Nit-ac, Sep etc.
Batem, crianças que Cham, Cina, Stram, Tub etc.
Ciúme, crianças predispostas ao Hyosc, Lach, Nux-v, Puls etc.
Companhia, aversão a Bar-c, Cham, Nat-m, Staph etc.
Desobediência, intolerância às regras em crianças Caps, Medh, Plumb, Tarent etc.
Egolatria, egotismo Lach, Pall, Plat, Verat etc.
Indiferença pelos entes amados Acon, Fl-ac, Hell, Phos, Sep etc.
Insolentes, crianças Hyosc, Lyc, Plat, Verat etc.
Morder, desejo de Bell, Carbn-s, Hyosc, Stram etc.
Tabela 1. Problemas no rendimento escolar não explicados por fatores intelectuais, sensoriais ou outras
incapacidades físicas
Tabela 2. Problemas em estabelecer e manter relações sociais com colegas, professores ou familiares
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aplicando pressupostos distintos dos convencio-
nalmente propagados pela medicina ortodoxa.
Há carência de pesquisas nas áreas básica e clí-
nica, por motivos que variam desde a ausência da
homeopatia nas faculdades de medicina e nos ser-
viços públicos de saúde, o desinteresse científico
da classe homeopática, a desinformação e o pre-
conceito dos colegas e pesquisadores de outras
áreas, a dificuldade em adaptar as premissas do
modelo homeopático ao paradigma biomédico do-
minante, e a ausência de incentivos pelas entida-
des fomentadoras. O médico homeopata deve re-
tornar ao seu antigo ambiente acadêmico para
dedicar-se ao desenvolvimento de projetos nas
áreas da assistência, do ensino e da pesquisa uni-
versitária, participando mais ativamente na divul-
gação e na expansão da ciência homeopática, a fim
de que o tratamento possa ser disponibilizado nos
diversos setores e segmentos da atenção à saúde.
Em qualquer forma de aplicação clínica, as
premissas intrínsecas ao modelo de tratamento
homeopático não podem ser descartadas (indivi-
dualização na escolha do medicamento, das po-
tências e das doses homeopáticas; tempo de con-
sulta condizente com a proposta semiológica
globalizante; período de tratamento suficiente para
que se possa ajustar o medicamento à complexida-
de enferma; avaliação da resposta global e dinâmi-
ca ao tratamento), com o risco da terapêutica não
apresentar eficácia e efetividade clínicas.
Ao valorizar os aspectos subjetivos da indivi-
dualidade na semiologia e na farmacologia expe-
rimental homeopáticas, a homeopatia consegue
atuar de forma objetiva na modulação das susce-
Sintomas mentais descritos nas experimentações patogenéticas Medicamentos homeopáticos
(na linguagem do RSH) (abreviaturas)
Abandono, sentimento de Aur, Lach, Puls, Psor etc.
Ansiedade por antecipação de um compromisso Ars, Arg-n, Gels, Med etc.
Ansiedade de consciência, como se culpado de um crime Alum, Ars, Aur, Psor etc.
Banho, aversão a lavar-se Am-c, Ant-c, Clem, Sulph etc.
Queixosas, lamurientas, crianças Ars, Cham, Cina, Nit-ac etc.
Cólera por contradição Aur, Ign, Lyc, Sep etc.
Confiança em si mesmo, falta de Bar-c, Carc, Lyc, Sil etc.
Indignação, crianças que não suportam injustiças Caust, Nat-m, Nux-v, Tub etc.
Timidez de aparecer em público Ambr, Gels, Plb, Sil etc.
Tristeza na puberdade Graph, Hell, Lach, Nat-m etc.
Sintomas mentais descritos nas experimentações patogenéticas Medicamentos homeopáticos
(na linguagem do RSH) (abreviaturas)
Medo de animais Bell, Chin, Stram, Tub etc.
Medo de doença iminente Arg-n, Calc, Kali-c, Phos etc.
Medo do escuro Acon, Puls, Phos, Stram etc.
Medo de estar sozinho Arg-n, Ars, Kali-c, Phos etc.
Medo de tempestade com raios e trovões Bor, Bry, Gels, Phos etc.
Transtornos por decepção, desapontamento Aur, Ign, Nat-m, Ph-ac etc.
Transtornos por ciúme Apis, Hyosc, Lach, Nux-v etc.
Transtornos por nostalgia Caps, Clem, Ign, Phos-ac etc.
Transtornos por repreensões Bell, Plat, Staph, Stram etc.
Transtornos por susto Acon, Lyc, Phos, Puls etc.
Tabela 3. Reações comportamentais ou sentimentos inapropriados diante de situações corriqueiras,
ou tristeza e depressão contínuas
Tabela 4. Tendência a desenvolver sintomas físicos ou medos associados a problemas comuns
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TRATAMENTO HOMEOPÁTICO DOS DISTÚRBIOS EMOCIONAIS E COMPORTAMENTAIS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA
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tratamento dos distúrbios comportamentais da
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Endereço para correspondência:
Marcus Zulian Teixeira
Hospital das Clínicas da FMUSP
Serviço de Clínica Geral
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 155 –
4º andar – bloco 6 – São Paulo – SP
Cep: 05403-900
E-mail: marcus@homeozulian.med.br
Enviado para publicação: 16/6/2007
Aceito para publicação: 18/10/2007
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