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Resumo
Este artigo insere-se nos estudos de políticas públi-
cas e gestão ambiental municipal. Tem por objetivo
discutir como o uso da percepção ambiental pode
ser relevante para a gestão ambiental municipal. O
caso de estudo escolhido para guiar esta discussão
foi o Distrito de Paranapiacaba e Parque Andreen-
se, Município de Santo André-SP. A metodologia
utilizada envolveu aplicação de questionário quali-
quantitativo junto à população local, buscando
coletar a percepção acerca do meio ambiente e de
instrumentos da gestão ambiental local. Os resul-
tados indicaram que o uso da percepção da comu-
nidade pode atuar como uma ferramenta de apoio à
gestão do meio ambiente, e subsidiar um processo
participativo para uma gestão compartilhada entre
poder público e sociedade.
Palavras-chave: Gestão ambiental; Instrumento;
Políticas públicas; Percepção; Santo André.
Mariana Lima Rodrigues
Química Ambiental e Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de
Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Endereço: Av. Dr. Arnaldo, 715, Cerqueira César, CEP 01246-904,
São Paulo, SP, Brasil.
E-mail: maryrodriguesqa@yahoo.com.br
Tadeu Fabrício Malheiros
Engenheiro Civil e Ambiental. Doutor em Saúde Pública. Professor
da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São
Paulo.
Endereço: Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 CP 359, CEP 13566-
590, São Carlos, SP, Brasil.
E-mail: tmalheiros@usp.br
Valdir Fernandes
Cientista Social, Doutor em Engenharia Ambiental, Professor da
FAE e da Universidade Positivo (UP).
Endereço: Av. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300. CEP
81280-330, Curitiba, PR, Brasil.
E-mail: vfernandes@up.edu.br
Taiane Dagostin Darós
Pedagoga e Mestre em Organizações e Desenvolvimento pela FAE
– Centro Universitário Franciscano.
Endereço: Rua 24 de Maio, 135 – Centro, CEP 80230-080, Curitiba,
PR, Brasil.
E-mail: taiane_daros@hotmail.com
1 Os autores agredecem a FAPESP - Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo, o apoio recebido por meio do
Edital PPP7.
A Percepção Ambiental Como Instrumento de
Apoio na Gestão e na Formulação de Políticas
Públicas Ambientais1
Environmental Awareness as a Support Tool in the
Management and Formulation of Environmental Public
Policies
96 Saúde Soc. São Paulo, v.21, supl.3, p.96-110, 2012
Abstract
This article is part of the studies on public policies
and municipal environmental management. It aims
to discuss how the use of environmental percep-
tion may be relevant to municipal environmental
management. The case study chosen to lead this
discussion was the Distrito de Paranapiacaba e
Parque Andreense, Municipality of Santo André-
SP. The methodology involved the application of
qualitative and quantitative survey among the local
population, seeking to gather their perception about
the environment and local environmental mana-
gement tools. Results indicate that the use of the
community perception can be a tool for supporting
environmental management, and facilitate a parti-
cipatory process leading to a shared management
between government and society.
Keywords: Environmental Management; Tool; Public
Policies; Perception; Santo André.
Introdução
As discussões mundiais sobre o meio ambiente foram
precursoras da inserção das questões ambientais
nas políticas públicas no Brasil.A criação e posterior
aprimoramento do aparato legal-institucional que
viabilizou a política ambiental nacional, resultou em
um sistema com características descentralizadas,
que responsabiliza União, Estados e Municípios pela
gestão ambiental. É nesse contexto de descentraliza-
ção política para a gestão do território que o poder
público local deve planejar suas ações, que devem
atender aos seguintes requisitos: estar alinhadas
à União e ao Estado; respeitar os princípios do de-
senvolvimento sustentável; incorporar a sociedade
nas tomadas de decisão para uma gestão municipal
compartilhada do meio ambiente, entendido confor-
me a definição de Coimbra (1985, p. 21):
Meio Ambiente é o conjunto dos elementos físico-
químicos, ecossistemas naturais e sociais em que
se insere o Homem, individual e socialmente, num
processo de interação que atenda ao desenvolvi-
mento das atividades humanas, à preservação dos
recursos naturais e das características essenciais
do entorno, dentro de padrões de qualidade defi-
nidos.
Segundo Maglio (2000) a gestão ambiental no
setor público é tradicionalmente associada à imple-
mentação da política ambiental pelos governos.
Do ponto de vista normativo, município é a deno-
minação geopolítica do espaço do qual a população
faz parte e sobre o qual suas ações podem incidir
diretamente. O município é aonde se constrói a
territorialidade2 local. Neste sentido, autores como
Banunas (2003) e Maglio (2000) expressam aquilo
que é consenso na literatura sobre a gestão ambien-
tal: que os princípios globalmente estabelecidos,
incorporados pelas nações e normatizados em seus
estados, encontram nos municípios o locus de sua
aplicação. É no poder municipal que está a possibi-
lidade de adequá-los às suas especificidades para
que seja alcançada a plenitude global da qualidade
do meio ambiente.
2 Territorialidade é entendida neste artigo como associada à ideia de integração de uma área efetivamente ocupada pela população, pela
economia, pela produção, pelo comércio, incluindo transportes, fiscalização, onde se dão as relações, objetivas e subjetivas, formais e
informais.
Saúde Soc. São Paulo, v.21, supl.3, p.96-110, 2012 97
Cada nível de governo (Federal, Estadual, Muni-
cipal) exerce diferentes papéis no que diz respeito
à execução da gestão pública ambiental, que deve
ser baseada em um sistema de gestão que articule
os aspectos institucionais, legais e técnicos para
atingir os objetivos e metas da política ambiental
formulada (Maglio, 2000). No âmbito municipal,
a Figura 1 reflete o arranjo político organizacional
para a execução da gestão ambiental.
Figura 1 - Arranjo político organizacional da gestão ambiental municipal.
Nos municípios, a implantação de um sistema
municipal de meio ambiente (SISMUMA) provê o
arranjo institucional e administrativo responsável
pela gestão ambiental. Conforme o Plano Nacional
de Capacitação para Gestores Ambientais o SIS-
MUMA deve dispor de vários instrumentos que se
integram e se articulam para subsidiar o sistema
de gestão ambiental, a saber: educação ambiental,
geração de informações, participação popular, le-
gislação local, execução de projetos, fiscalização,
monitoramento da qualidade ambiental e recursos
financeiros (Ibama, 2006).
Em se tratando dos agentes sociais referenciados
por Lanna, são estes principalmente poder público e
sociedade, podendo ainda estar aderidas ao processo
político, instituições privadas, e organizações não
governamentais. Nesse sentido, considerando o
caráter difuso e coletivo das questões ambientais, a
participação popular é um dos instrumentos intrín-
secos à execução da gestão ambiental; no Brasil, os
conselhos são as aberturas políticas instituciona-
lizadas para que haja a participação da sociedade
nos processos de decisão por meio de representação
(Milani, 2006).
Entretanto, considerando que o município é
o nível de governo mais próximo da população, a
participação deve ir além daquela representativa
nos conselhos. Há inúmeros outros canais por meio
dos quais os munícipes podem acompanhar e parti-
cipar da gestão municipal. Câmara de Vereadores,
Associações de moradores, Fóruns Locais, e outras
entidades não-governamentais podem atuar junta-
mente com o poder público para o cumprimento da
política local de proteção ao meio ambiente.
Por outro lado, os gestores públicos e formula-
dores de políticas, também dispõem de inúmeros
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mecanismos, técnicas e informações que podem
contribuir para uma leitura mais aproximada da
realidade local, dos problemas sociais e das formas
de interação entre sociedade e meio ambiente, as-
sim como sobre as próprias políticas municipais
implementadas.
Nesse contexto de gestão ambiental comparti-
lhada, a percepção da população se torna impor-
tante aliado para o poder público quanto à leitura
da realidade social, configurando-se como meio de
apoio aos instrumentos e ferramentas do sistema
de gestão do meio ambiente.
A compreensão da percepção da sociedade so-
bre os problemas e sobre as ações governamentais
no processo de gestão pode aproximar o gestor do
que a população entende por sua realidade local,
ou ainda indicar lacunas existentes no modelo de
gestão ambiental. Este artigo objetiva discutir a
relevância da percepção da população como base
de informação para a gestão ambiental municipal
a partir de um estudo de caso realizado no Distrito
de Paranapiacaba e Parque Andreense, Município
de Santo André-SP.
Nessa perspectiva, os fundamentos da percepção
serão abordados pela óptica de autores de diversas
áreas do conhecimento, onde, segundo Castoriadis
(1982), as diferentes veias interdisciplinares desen-
volvem e aproximam os argumentos teóricos.
Fundamentos e Aplicabilidade da
Percepção
A descrição ou mensuração do comportamento
manifesto pelo homem, subordinado a atividades
intrínsecas – sentir, perceber, pensar – caracteriza
o vínculo entre a Psicologia e outras áreas de estu-
do (Misiak, 1964). Neste contexto, o diálogo entre
autores constitui em um elemento fundamental no
esclarecimento de questões específicas, no avanço
das discussões e na construção de relações. (Leff,
2007). Cada contexto pertence a diversas raízes
epistemológicas que se inter-relacionam sem
se excluírem. Desta forma, é por meio de uma
percepção interdisciplinar dos fatos que o homem
contemporâneo visualiza sua “realidade” (Barros,
[s.d.]). Os estudos da percepção humana iniciaram-se
em 1879, quando o então conhecido pai da psicologia
experimental, Wilhelm Wundt (1832-1920) fundou,
em Leipzig, o primeiro laboratório experimental
com foco no desenvolvimento de estudos nessa te-
mática (Simões e Tiedemann, 1985). Desde então, o
interesse em promover estudos nessa área norteou a
formação posterior de movimentos, escolas e teorias
que aprofundaram o conceito.
Durkheim (2009) interpreta a percepção como
um modo de representação social. Penna (1982, p.
11) afirma que “perceber é conhecer”, e sugere que,
quando a distância no espaço ou ainda limitação
informativa possam excluir o ato perceptual, este
seria limitado somente a uma situação de pensar
ou imaginar.
Forgus (1971, p. 1, 2) define percepção “como o pro-
cesso de extrair informação”, a partir da “recepção,
aquisição, assimilação e utilização do conhecimen-
to”, no qual estão subordinados a aprendizagem e o
pensamento. Para Morin (2000, p. 20), “[...] todas as
percepções são, ao mesmo tempo, traduções e recons-
truções cerebrais com base em estímulos ou sinais
captados e codificados pelos sentidos”. Desta manei-
ra, o nosso sentido “mais confiável” – a visão – torna
possível os inúmeros erros da percepção. Nesse con-
texto, Ferreira (1997) explica que existem dois tipos
de percepção: a percepção visual, que são as atitudes
que não consideram as conseqüências, e a percepção
informacional, que são as ações refletidas.
Piaget (1967) define percepção à medida que a
diferencia de inteligência, e também aborda a dis-
tância como um de seus condicionantes. Na teoria
Skinneriana, o conceito de percepção é explicado
por meio do comportamento perceptivo, descrito
como um comportamento complexo e que se inter-
relaciona com muitos outros. Skinner aponta a
Teoria da Cópia como alternativa para explicar a
percepção, na qual a interpretação proveniente do
contato com o mundo real implica em uma “cópia
mental” (Skinner, 1957). Em contrapartida, Merleau-
Ponty resume a concepção de comportamento à
consciência perceptiva, na qual teorias do compor-
tamento e da percepção estão inteiramente interli-
gados, existindo uma reciprocidade. Assim sendo, a
percepção é o componente fundamental em estudos
das funções sociais e abrange os ônus de vivência
de cada elemento com o fenômeno abordado e só
pode ser elencado em contato direto com o mesmo
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(Merleau-Ponty, 1990; 1999). Para Tuan (1980, p.
04), a percepção “é tanto a resposta dos sentidos aos
estímulos externos, como a atividade proposital em
que certos fenômenos são claramente registrados
enquanto outros são bloqueados”.
Em meados dos anos 60, as análises da percepção
começaram a ser discutidas também na área do meio
ambiente. Com este enfoque, Holtzer (1993) aponta
os principais autores humanistas e suas abordagens
teóricas sobre percepção ambiental: Kevin Lynch,
de cunho antiurbanista, estudou a percepção com
ênfase no indivíduo e sua imagem ambiental como
fator de equilíbrio da relação entre o homem e o meio
ambiente, excluindo as raízes sociais e históricas;
Hugh Prince, autor da corrente epistemológica da
percepção ambiental, tinha na literatura, na arte e
na ciência suas formas de abordagem, e percebia a
dificuldade da geografia em relacionar “os aspectos
subjetivos da arte e da descrição com a explicação,
na qual a visão subjetiva não tinha lugar”; Willian
Kirk, apresentava sua abordagem comportamental
e fenomenológica da realidade “como forma de unir
a visão subjetiva à objetiva na ciência geográfica”;
Lukermann dava ênfase ao contexto cultural e histó-
rico do homem nos estudos dos lugares, ou seja, seu
conceito era de que a análise empírica da verdade
só poderia ser obtida por meio da valorização do
“lugar”; Leonard Guelke criticava a geografia nomo-
tética comportamental e analítica a partir da percep-
ção ambiental e cultural, na qual “a descoberta de
muitas leis do comportamento humano não garantia
a resolução dos problemas da geografia humana”;
Roger Downs se baseava na geografia analítica e na
percepção ambiental para explicar a existência de
três formas de aproximação para o comportamento
espacial: “estrutural, que se refere à identidade e
estruturação da percepção do espaço; avaliativa, que
procura estimar os fatores ambientais valorizados
pelas pessoas; da preferência, que procura diferen-
ciar espacialmente os objetos a partir da escala de
preferência” (Holtzer, 1993, p. 115-121). A evolução
dos estudos em percepção ambiental ampliou as
iniciativas de aplicação deste conceito. Um exemplo
foi a criação pela UNESCO, em 1973, do Projeto 13,
“Percepção de Qualidade Ambiental”, que destacou
a importância da pesquisa em percepção ambiental
para planejamento do meio ambiente. As diferentes
percepções dos valores, mencionados anteriormen-
te, apresentam-se como dificuldades para a proteção
dos ambientes naturais, visto que os indivíduos de
diferentes culturas ou posições sócio-econômicas
desempenham funções distintas no plano social,
nesses ambientes (Fernandes e col., 2004).
No Brasil, o destaque para o desenvolvimento de
trabalhos pertinentes a essa área do conhecimento
ocorreu a partir dos anos 70, e no ano de 2002 o curso
de Engenharia de Produção Civil da Faculdade Brasi-
leira, localizada no Estado do Espírito Santo, criou o
Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental – NEPA,
que vem desenvolvendo pesquisas com segmentos
da sociedade (Filho, 2009).
Os estudos que se baseiam na percepção am-
biental propõem que não só a relação entre homem
e meio ambiente seja estudada, mas também que
perspectivas em pesquisas científicas, sociais ou
políticas sejam elucidadas através da utilização
deste conceito (Pacheco e Silva, 2006), promovendo
inclusive a sensibilização e compreensão do meio
ambiente a partir do desenvolvimento de um siste-
ma de percepção (Faggionato, 2009). A percepção
ambiental é a precursora do sistema que estimula a
conscientização do sujeito em analogia às realidades
ambientais contempladas (Macedo, 2000). Merleau-
Ponty (1999) afirma que a análise não é realizada
sobre o que as pessoas percebem dos espaços, mas
como os espaços são percebidos pelas pessoas.
Para Davidoff (1993), a percepção implica em
interpretação, ou seja, é um processo de organização
e interpretação das sensações recebidas para que
a consciência do ambiente se desenvolva pelo que
nos cerca. Complementando, Soulé (1997) aponta
que o envolvimento com o meio ambiente é funda-
mental no entendimento de como a mente percebe
a natureza, e o fato de cada indivíduo possuir uma
“lente” própria lapidada por sua cultura, educação
e temperamento as percepções são as mais diversas
possíveis, o que permite o compartilhamento do
mesmo ambiente de modo pacífico. Segundo Corson
(1993), essa característica é imprescindível, uma vez
que se todos partilhassem das mesmas percepções,
a competição pelos mesmos recursos tornaria a vida
em sociedade inexequível. Tuan (1983) acrescenta
que essa relação com o meio ambiente se manifesta
por meio de nossas ações, no entanto, é dispensável
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generalizar normas, justamente pelas diferenças
culturais que influenciam a interpretação de cada
sujeito em relação ao meio ambiente. Para Simão
e Tiedemann (1985) “[...] a correta interação do ser
humano com o ambiente em que habita depende
tanto da percepção dos estímulos nele existentes
quanto do preciso julgamento da posição e condições
de seu próprio corpo” (Simão e Tiedemann, 1985, p.
51). Neste sentido, Tuan (1980, p. 05) apresenta seu
conceito de “topofilia”, “o elo afetivo entre a pessoa e
o lugar ou ambiente físico”. Para o autor, percepção,
atitudes, valores e suas conseqüências – a visão de
mundo – devem ser o foco no entendimento da rela-
ção homem x natureza e seus respectivos reflexos.
Pacheco e Silva (2006) colocam a percepção
ambiental como um conceito permeável entre a
psicologia e a geografia, e que essa aproximação da
Psicologia às ciências ambientais é extremamente
útil e até indispensável como forma de promover a
escuta da complexidade dos valores e das expecta-
tivas das comunidades inseridas num determinado
ambiente.
O termo psicologia ambiental passou a ser
utilizado a partir de 1943, quando Brunswik argu-
mentava que os estímulos ambientais transmitidos
eram mais complicados do que pareciam na época.
Neste ínterim, Kurt Lewin destacou a relevância
de considerar a dimensão ambiental na psicologia
(Gifford, 1997).
A psicologia ambiental se consolida nos anos
70 com o intuito de analisar a conexão entre os am-
bientes físicos, os problemas ambientais e os seres
humanos (Bassani, 2004). Nos anos 90, o interesse
da psicologia ambiental passa a ser a interação das
pessoas com o ambiente sociofísico (Bomfim, 2003).
Ferreira (1997) acrescenta que essa transição acon-
teceu devido à incorporação de forma adaptada de
estudos básicos da psicologia, do estabelecimento de
elos com outras áreas de estudos e sua gradual inter-
relação com o meio ambiente, como ocorreram, por
exemplo, com as análises de percepção ambiental.
Portanto, a psicologia ambiental é precisamente um
campo interdisciplinar.
Intelectuais que se voltam principalmente para
os estudos na área das ciências ambientais (geo-
grafia, ecologia, zoologia e biologia), acreditam que
“os estudos das percepções ambientais dos homens
de hoje constituem a última e decisiva fronteira no
processo de uma gestão mais eficiente e harmoniosa
do meio ambiente” (Filho, 2009). Dessa maneira,
considerar a participação social como proposta para
identificar os problemas ambientais e planejar ações
a partir da percepção que o homem tem de seu meio
pode “fornecer aos órgãos dirigentes orientações
mais adequadas para as decisões em nível político,
socioeconômico e de desenvolvimento” (Del Rio e
Oliveira, 1996, p. 237).
A percepção é inerente a cada ser humano, que
percebe, reage e responde de forma diferente tanto
às relações interpessoais quanto às ações sobre o
meio (Faggionato, 2009). São os valores presentes
nas manifestações resultantes da percepção – cul-
tura, história, religião, classe social e uma série de
outros – que influenciam diretamente no processo, o
que explica que indivíduos atuantes em um mesmo
grupo social expressem atitudes e pensamentos
distintos (Piovesan, 1970; Melazo, 2005; Ribeiro,
2003; Simões e Tiedemann, 1985; Okamoto, 2002).
Portanto, o reconhecimento das percepções torna-se
extremamente relevante para fornecer subsídios
ao processo de gestão e formulação de políticas
públicas.
Caracterização e Resultados do
Estudo: a percepção ambiental
como apoio à gestão e à
formulação de políticas públicas
O estudo de caso ocorreu no Distrito de Paranapia-
caba e Parque Andreense, localizado no Município
de Santo André-SP, Região Metropolitana de São
Paulo. Esta é uma área de Proteção e Recuperação
de Mananciais que compreende 55% do território
municipal, com apenas 2% de população residente
(6.399 habitantes segundo o censo realizado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE
em 2000). Na ocasião deste estudo, de 2007 a 2009, a
gestão do território era realizada pela Subprefeitura
de Paranapiacaba e Parque Andreense.
A disposição geográfica dos loteamentos que
compõem o Distrito remete a uma região com ca-
racterísticas próprias, como pode ser verificado na
Figura 2.
Saúde Soc. São Paulo, v.21, supl.3, p.96-110, 2012 101
3 Addison (2003); Fonseca e Martins (1996); Silva (2001).
Os dados, quali e quantitativos, foram obtidos
por meio de aplicação de questionários, seguindo a
metodologia de entrevistas estruturadas, em que “as
perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas”
(Lakatos e Marconi, 2008, p. 279).
Os questionários foram organizados segundo
a “técnica do funil” definida por Gil (1999, p. 134)
como “a ordenação segundo a qual cada questão
deve relacionar-se com a questão antecedente e apre-
sentar maior especificidade” e dividido em blocos:
Perfil (questões para classificação do perfil do res-
pondente: sexo, idade, renda mensal familiar, etc.),
Meio Ambiente (questões que captem a percepção
ambiental) e Políticas Públicas Ambientais (ques-
tões para identificar sua visão com relação às ações
e políticas públicas locais executadas pelo poder
público municipal, com foco nas ambientais).
Foram realizadas 230 entrevistas com moradores
maiores de 18 anos de idade. O número de entrevis-
tas foi determinado segundo critérios estatísticos
de amostragem probabilística3. A pesquisa cobriu
toda a região administrativa da Subprefeitura de
Paranapiacaba e Parque Andreense.
Do total de entrevistados, 56% são do sexo femi-
nino e 44% do sexo masculino; a maior frequência
de idade ocorreu no intervalo de 31 a 45 anos (33%),
seguido pela faixa de 46 a 60 anos (29%), 18 a 30
anos (21%), 61 a 75 anos (16%) e mais de 76 anos (1%).
A ocupação dos entrevistados está representada na
Figura 3.
Figura 3 - Proporção (%) dos entrevistados segundo
ocupação
50%
37,5%
25,0%
12,5%
0%
Figura 2 - Loteamentos do Distrito de Paranapiacaba e Parque Andreense
102 Saúde Soc. São Paulo, v.21, supl.3, p.96-110, 2012
O perfil dos entrevistados segundo a escolarida-
de compreende maiores percentuais para os níveis
de ensino infantil, fundamental e médio (com 23%,
30% e 34% respectivamente). É reduzido o número
de entrevistados que possuem ensino superior (8%)
e 4% disseram nunca haver estudado.
O tempo de residência na região para 66% dos
entrevistados é superior a 10 anos e 51% dos entrevis-
tados possui renda mensal familiar de até 3 salários
mínimos.
Em relação à infraestrutura local, 94% dos en-
trevistados têm sistema de coleta domiciliar do lixo
e 5% disseram que o lixo é colocado em caçamba. A
fonte de abastecimento de água para a maioria da
população (54%) é proveniente de poço artesiano
individual; 21% provém de caminhão-pipa e apenas
17% têm acesso à água encanada por meio da rede de
abastecimento regular. 51% do esgoto são coletados
em fossa séptica, 19% em fossa negra ou rudimentar
e 13% em rede de esgoto não identificada.
As perguntas realizadas inicialmente (Quadro 1)
abordavam o tema meio ambiente com o objetivo de
identificar a percepção ambiental do entrevistado.
Quadro 1 - Perguntas relacionadas ao meio ambiente
1 - Qual a primeira palavra que vem à sua cabeça quando o
assunto é meio ambiente?
2 - O que você entende por meio ambiente?
3 - Quais dos elementos a seguir fazem parte do meio
ambiente?
Mais de 50% dos entrevistados consideram meio
ambiente como os elementos da natureza (florestas,
rios, animais, etc.) e ações do homem sobre os recur-
sos naturais (conservação, preservação, desmata-
mento, etc.). A figura 4 ilustra esta relação por meio
das palavras associadas ao meio ambiente.
Figura 4 - Proporção (%) de entrevistados segundo elementos que fazem parte do meio ambiente
Saúde Soc. São Paulo, v.21, supl.3, p.96-110, 2012 103
Verifica-se que apesar do meio ambiente ser
interpretado fortemente pelos entrevistados como
natureza, imaginando-se por ser essa a característi-
ca do local onde vivem (contexto de Área de Proteção
e Recuperação de Mananciais), há indícios de uma
visão dissociada do ser humano com seu espaço de
inserção, principalmente porque menos de 50%,
consideram a cidade e as favelas elementos parte
do meio ambiente.
Porém, ao se questionar sobre quem é respon-
sável pelo meio ambiente local, 68% das respostas
atribuem uma responsabilidade compartilhada en-
tre subprefeitura e população na gestão do meio am-
biente. Por outro lado, as pessoas se vêem forçadas
as construir relações entre o contexto no qual estão
inseridas, uma região de mananciais, e suas ativida-
des sociais, pois 56% afirmam que morar numa área
como esta reflete em uma postura mais responsável
com o meio ambiente. Para 17% das respostas das
pessoas entrevistadas o fato de viver numa área de
proteção de mananciais não muda nada em suas
vidas, pois afirmam que a responsabilidade com o
meio ambiente deve existir independente do contex-
to de inserção, embora um percentual considerável
(28%) considere que isto limita a liberdade.
Essa proximidade dos residentes com grandes
áreas naturais pode ter alavancado o perfil de res-
postas quanto ao entendimento do meio ambiente,
indicando a distância no espaço como um dos con-
dicionantes para a percepção apresentada.
É fundamental que a educação ambiental, impor-
tante instrumento de gestão ambiental, seja molda-
da para a realidade local, porém provendo conheci-
mento à comunidade sobre a questão ambiental sob
um enfoque global. E utilize da percepção dotada
pelos cidadãos como uma ferramenta para referen-
ciar as debilidades apresentadas pelo programa de
educação ambiental implantado bem como permitir
o acompanhamento dos ajustes realizados.
No que se refere à percepção sobre o que são
problemas ambientais (Figura 5), verifica-se que
esta não é resultado apenas do contexto local se-
não devido à identificação de alguns problemas de
escala global.
Figura 5 - Proporção (%) de entrevistados segundo problemas ambientais gerais e locais
104 Saúde Soc. São Paulo, v.21, supl.3, p.96-110, 2012
Parece-nos que a percepção dos entrevistados
não se vincula à distância no espaço em relação ao
objeto questionado, pois a percepção, neste caso,
não está condicionada à existência do problema no
contexto em que a população entrevistada está inse-
rida, demonstrando que há parcial entendimento do
conceito em questão - problema ambiental.
Outro fator condicionante da percepção social
dos problemas ambientais locais pode ser a motiva-
ção, ou seja, o objeto que desperta maior interesse é
mais percebido. Para verificar esta relação pergun-
tou-se ao entrevistado quais problemas ambientais
globais ele considerava preocupante (Figura 6).
Figura 6 - Proporção (%) de entrevistados segundo problemas ambientais globais considerados preocupantes
A relação entre os problemas ambientais, repre-
sentados percentualmente nas figuras 5 e 6, indica
que a percepção acerca dos problemas globais inde-
pende da ocorrência local de um problema ambien-
tal. Isto nos leva a concluir que não se trata apenas
de percepção, mas de uma representação social,
construída a partir da tomada de conhecimento
destes problemas por meio da mídia, da educação
ambiental, ou mesmo de outras pessoas; estas infor-
mações já vêm carregadas de julgamentos de valor,
de posicionamentos ideológicos e de conhecimento
científico que são apropriados pelos veículos de
comunicação, professores ou agentes sociais.
O fator tempo também pode condicionar a per-
cepção, remetendo ao cruzamento das variáveis:
problemas ambientais locais x tempo de residência
na região, apresentado na Figura 7.
Uma análise preliminar (sem o envolvimento de
instrumentos e ferramentas estatísticas) pode levar
a algumas conclusões prévias:
a) Os entrevistados residentes há mais de 10 anos
(barra lilás): percebem mais os problemas recorren-
tes na região, como o aumento de ratos e baratas, e
os menos incidentes, por estarem há mais tempo
residindo no local, tendo, portanto, presenciado
situações que não acontecem corriqueiramente,
como as enchentes.
b) Os entrevistados que residem há menos de 1
ano (barra azul): justamente por serem moradores
recentes, percebem em igual ou maior percentual
que os outros moradores os problemas ambientais
com os quais certamente conviviam em seus locais
de origem, por exemplo trânsito, buzina, e fumaça
de chaminé de indústrias.
c) Os entrevistados que residem entre 1 e 5 anos
(barra vermelha): são os que apresentam maior per-
cepção dos problemas ambientais locais para quase
todas as opções apresentadas. O tempo intermediá-
rio em que residem na região de estudo suscita três
colocações: 1- moradores recentes têm sua atenção
despertada por aqueles objetos que eram incidentes
no lugar em que moravam anteriormente, como
trânsito ou descarte de esgoto em lagos, rios e mares;
2- há também que se considerar que pode acontecer a
percepção de problemas menos incidentes devido a
um maior tempo de contato em relação àqueles que
moram há menos de 1 ano, como a constatação de
enchentes; 3- ou, ainda, sua atenção pode despertar
Saúde Soc. São Paulo, v.21, supl.3, p.96-110, 2012 105
para “novos” problemas com que não tinham convi-
vência anterior, como aumento de ratos e baratas.
d) Para o intervalo de 6 à 10 anos (barra verde), as
afirmações caracterizam-se tal qual as apresentadas
para o intervalo de 1 à 5 anos.
Desta forma, para o caso apresentado, o tempo
e a distância no espaço parecem condicionar a
percepção.
Alguns fatores externos que incidem sobre a per-
cepção dos entrevistados puderam ser identificados
por meio de perguntas relativas às ações do poder
público local, atuando como base de informação para
nortear e avaliar as políticas públicas ambientais
implementadas.
Perguntou-se se o entrevistado conhecia algum
Programa ou Projeto Ambiental que estava sendo
desenvolvido na região em que mora: 76% dos res-
pondentes desconheciam o conteúdo em questão.
Explorando um pouco mais o assunto, foram feitas
perguntas com relação a dois projetos em desen-
volvimento na região e de caráter participativo, a
Regularização Fundiária desenvolvido no Parque
Andreense e o Zoneamento promovido na Vila de
Paranapiacaba. Do total de entrevistados, 70% não
sabiam do que tratavam estes projetos.
Apesar de desconhecerem Programas e Projetos
Ambientais, 77% dos entrevistados afirmaram que o
meio ambiente é uma das diretrizes consideradas no
sistema de gestão local. Quando perguntados sobre
a atuação do poder público em relação às questões
ambientais, o nível de satisfação foi baixo, entre
30% e 40%, mesmo que tenha sido identificado que
depois da saúde (61% afirmaram ser prioridade no
direcionamento das ações), o meio ambiente é a área
em que as ações da subprefeitura são mais expressi-
vas (afirmação feita por 54% dos respondentes).
Apesar do aparente reconhecimento por parte
dos entrevistados acerca da incorporação dos as-
pectos ambientais nas decisões políticas, parece
evidente a desinformação quanto às ações promo-
vidas. Ao mesmo tempo identificou-se também uma
aparente insatisfação com aquelas ações que são
conhecidas.
A explicação para este fato pode estar na falta de
um sistema de informação. Atualmente, o meio de
divulgação utilizado pelo poder público para a comu-
despejo de
esgoto em
lagos, rios
e mares
Figura 7 - Proporção (%) de entrevistados segundo tempo de residência e percepção dos problemas ambientais
locais
106 Saúde Soc. São Paulo, v.21, supl.3, p.96-110, 2012
nicação entre governo local e comunidade baseia-se
prioritariamente na distribuição de panfletos e idas
individuais dos moradores à sede da subprefeitura
para a resolução de problemas. Além de alguns con-
selhos gestores, nos quais o nível de participação é
baixo, não há canais formais de comunicação, e nem
abertura política à participação da comunidade,
no sentido de permitir que a sociedade contribua
para uma gestão compartilhada do meio ambiente
a partir de interesses coletivos.
As questões que avaliam a participação da comu-
nidade nos conselhos locais indicam um panorama
geral de pouca participação. 86% dos entrevistados
afirmaram não participar do Conselho de Repre-
sentantes de Paranapiacaba e Parque Andreense4
(CRPPA), e 71% não participam do Orçamento Parti-
cipativo5 (OP). A conduta participativa está relacio-
nada tanto à comunicação quanto à motivação, que
é normalmente resultado de tomar conhecimento
sobre algum tema de interesse direto. Entretanto,
este interesse direto nem sempre se materializa
como motivação quando se trata de questões cole-
tivas, como é o caso do meio ambiente (Fernandes e
Sant’Anna, 2007). Por esse motivo, um conselho com-
posto por representantes capacitados e engajados
em integrar a comunidade à representação exercida
assegura a veiculação de informação e estimula o
sentimento de pertencimento e responsabilidade
cidadã contribuindo para a postura participativa. Da
mesma forma, o desenvolvimento e a comunicação
de ações do poder público (execução de projetos,
educação ambiental, capacitação, entre outros), com
transparência, podem destituir a imagem negativa
apresentada e ser estímulo para a participação da co-
munidade ao estabelecer uma relação de confiança
(proveniente da transparência de informações) que
impulsione a parceria dos atores civis e públicos na
gestão ambiental.
Finalmente, foi solicitado que o entrevistado
fizesse alguma sugestão para a subprefeitura na
área ambiental, permitindo que outros assuntos fos-
sem abordados, inclusive de forma crítica. O maior
percentual de colocações se ateve à providência
de serviços pela subprefeitura, sendo os recursos
mais apontados pelos entrevistados: saneamento,
transporte, melhoria das vias públicas e canaliza-
ção de água. É interessante observar que alguns
dos entrevistados mencionaram o lazer como um
dos recursos necessários na região e, novamente
colocaram a questão da presença de ratos e baratas,
problema que poderia ser remediado a partir da
limpeza de ruas e matos, de acordo com a opinião
dos entrevistados.
Sendo assim, as considerações feitas pelos en-
trevistados nessa última questão, juntamente com
as outras anteriormente discutidas, permitem o
apontamento de lacunas da gestão ambiental local,
identificadas por meio da percepção da população
entrevistada sobre a atuação da Subprefeitura de
Paranapiacaba e Parque Andreense e, conseqüente-
mente, da prefeitura do município de Santo André-
SP. Entende-se que essa relação pode contribuir para
a avaliação e posterior correção das ações formula-
das e implementadas pela administração pública.
Conclusões
A partir da relação estabelecida entre os instrumen-
tos da gestão ambiental municipal, considerados
nesta pesquisa, e os condicionantes da percepção,
conforme disposto na Figura 8, algumas conclu-
sões podem ser feitas sobre a relevância do uso da
percepção como apoio aos instrumentos de Gestão
Ambiental (GA).
A integração da percepção da comunidade local
como indicador de efetividade de gestão mostra-se
de grande valia para acompanhar sua repercussão
na postura e na vida dos moradores, bem como para
orientar os ajustes necessários ao programa.
A distância no espaço e no tempo são inerentes
ao contexto do ser humano, passíveis de modificação
por um agente externo. Sobre outros condicionantes,
4 Conselho consultivo e deliberativo com atribuições de fiscalização agindo no estímulo ao desenvolvimento regional e ampliação da
democracia na gestão do Distrito de Paranapiacaba e Parque Andreense (Cezare, 2008).
5 Conselho de decisão compartilhada entre governo e sociedade em torno das prioridades orçamentárias do município, e no qual há
representantes do Distrito de Paranapiacaba e Parque Andreense (PONTUAL, P. C. O processo educativo no orçamento participativo:
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Universidade Católica, São Paulo).
Saúde Soc. São Paulo, v.21, supl.3, p.96-110, 2012 107
Figura 8 - Relação entre instrumentos da gestão ambiental municipal e os condicionantes da percepção
porém, medidas externas podem influenciar no ato
perceptivo como, neste caso, as que concernem ao
poder público local.
A limitação de informações pode influenciar
diretamente na percepção das políticas públicas
ambientais localmente promovidas, e inclusive vir
a comprometer a relação entre moradores e poder
público pela forma de comunicação desenvolvida
entre ambos, caracterizando uma imagem segre-
gativa com relação à Subprefeitura. Sendo assim,
a sistematização das informações pertinentes às
ações empreendidas pela administração pública
local poderia ser motivadora de uma postura de
participação da sociedade na gestão ambiental local.
Entretanto, outrora, cabe citar que o uso da inter-
disciplinaridade no desenvolvimento de tais ações
é uma oportunidade de cooperação, de comparti-
lhamento de responsabilidades. O conhecimento da
percepção social atuaria, também, como importante
aliado no monitoramento da qualidade ambiental,
assegurando maior proximidade entre as ações
propostas pelos gestores daquilo que é considerado
prioridade pela comunidade. Trata-se, portanto, de
apoiar-se na percepção de quem vivencia a realida-
de, que pode ser diferente daquela concebida pelos
gestores. Certamente essa condição de aproximação
estimula a parceria entre os atores público e civil
para gerir o meio ambiente.
Isto melhoraria também a percepção dos gestores
acerca de suas próprias ações e seus resultados, pois,
segundo demonstrou a pesquisa, nem sempre aquilo
que o poder público diz estar fazendo é percebido
pela população que deveria estar sendo beneficiada.
Entende-se que a internalização da percepção da po-
pulação na gestão ambiental municipal proporciona
um apoio aos seus instrumentos, e apresenta-se
relevante para subsidiar o ciclo político no que tange
à formulação, implementação e avaliação das polí-
ticas públicas ambientais locais para que lacunas
inerentes ao processo político sejam corrigidas e as
ações redirecionadas.
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