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Avaliação do processamento fonológico e da compreensão em crianças com phda

Authors:
  • University of Porto - FCNAUP
PSICOLOGIA,SAÚDE & DOENÇAS, 2013, 2013, 14(3), 420-436
EISSN - 2182-8407
Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde - SPPS - www.sp-ps.com
420
AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO FONOLÓGICO E DA
COMPREENSÃO EM CRIANÇAS COM PHDA
Micaela Guardiano
1
, Linda Candeias
2
, Júlia Eça Guimarães
3
, Victor Viana
1,4
, Paulo
Almeida
1,5
1-Hospital Pediátrico Integrado, Centro Hospitalar de São João, EPE; 2- Centro da Criança e do Adolescente,
Hospital CUF Porto, Porto, Portugal; 3-Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Porto, Portugal; 4-
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação, Universidade do Porto; 5-Instituto Superior da Maia.
_____________________________________________________________________
RESUMO- A vasta comorbilidade associada à Perturbação de Hiperatividade com
Défice de Atenção (PHDA) implica a reavaliação da metodologia de avaliação de
crianças com este diagnóstico, com inclusão do rastreio de perturbações
neuropsicológicas associadas, especialmente no âmbito da linguagem. Esta investigação
teve como objetivo avaliar o impacto da PHDA na linguagem. As áreas avaliadas dizem
respeito ao processamento fonológico e compreensão. Outro objetivo consistiu na
avaliação da utilidade clínica e do poder discriminativo de algumas provas da Bateria de
avaliação da linguagem e da afasia em português (PALPA-P), na avaliação de crianças
com PHDA. Comparou-se o desempenho de 37 crianças com PHDA com 67 crianças de
um grupo controlo, em provas selecionadas da PALPA-P. Os resultados permitiram
verificar que crianças com PHDA apresentam défices significativos em tarefas de
linguagem, no domínio do processamento fonológico e da compreensão. Este é o
primeiro estudo realizado em Portugal que utilizou a bateria PALPA-P para a avaliação
de crianças com PHDA. Os resultados evidenciam a utilidade clínica e o poder
discriminativo das provas do PALPA-P utilizadas, na avaliação complementar de crianças
com este diagnóstico.
Palavras-chave- PHDA, PALPA-P, Perturbações da Linguagem, Dificuldades de
Aprendizagem, processamento fonológico, compreensão.
________________________________________________________________
PHONOLOGICAL PROCESSING AND COMPREHENSION
ASSESSMENT OF CHILDREN WITH ADHD
ABSTRACT- The vast number of comorbid disorders associated with Attention Deficit
Hyperactivity Disorder (ADHD) sheds a light over the need to reconsider the assessment
protocols of children with this diagnosis, in what comorbid neuropsychological disorders,
and language difficulties are concerned. This investigation aimed to assess ADHD’s
impact on language, on the phonological processing and comprehension domains, using
the portuguese version of the Psycholinguistic Assessments of Language Processing in
Aphasia (PALPA-P). Its usefulness in clinical practice and discriminative power were
also assessed. Thirty-seven ADHD children were compared to 67 children from a control
group, in terms of their performance in selected PALPA-P subtests. The results suggest
A correspondência deve ser enviada para: Micaela Guardiano, Hospital Pediátrico Integrado, Centro
Hospitalar de São João, EPE, Alameda Professor Hernâni Monteiro, 4202-451 Porto. Tel.: +351 918 721 448;
E.mail: mguardiano@hotmail.com
Processamento fonológico e compreensão na PHDA
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that ADHD children show greater deficits in language tasks, particularly on phonological
processing and comprehension tasks. This is a pioneer study in Portugal, on ADHD
children assessment, using the PALPA-P test battery. The results show the test battery’s
clinical value, as well as its discriminative power, for the comprehensive assessment of
these children.
Keywords- ADHD, PALPA-P, Learning Disabilities, Language Impairments,
phonological processing, comprehension.
_____________________________________________________________
Recebido em 19 de Fevereiro de 2013/ Aceite em 14 de Outubro de 2013
A Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA) é o distúrbio
neuropsiquiátrico mais frequentemente diagnosticado na infância, estimado em 3 a 7% das
crianças em idade escolar, mais frequente em rapazes do que em raparigas, na relação de 3:1,
de acordo com o DSM-IV-TR (American Psychiatric Association, APA, 2002).
A PHDA caracteriza-se por um padrão persistente de falta de atenção e/ou impulsividade-
hiperatividade, com uma intensidade superior à observada habitualmente em indivíduos com
um nível semelhante de desenvolvimento (APA, 2002). As características desatenção,
agitação psicomotora e impulsividade podem variar em maior ou menor grau, de acordo com
o subtipo: predominantemente desatento, predominantemente hiperativo/ impulsivo ou
combinado (APA, 2002).
A comorbilidade entre a PHDA e outros distúrbios neuropsiquiátricos está bem
documentada (Pliszka, 1998), como é o caso da presença de alterações da linguagem em
crianças com PHDA (Cantwell, 1996; Love & Thompson, 1988; Miranda-Casas, Ygual-
Fernández, Mulas-Delgado, Roselló-Miranda, & Bó, 2002; Smalley, 1997; Tannock &
Schachar, 1996).
A associação entre PHDA e problemas da linguagem tem sido abordada em vários estudos
e sob várias perspetivas. Alguns estudos sugerem que as crianças com PHDA apresentam um
atraso na aquisição da linguagem, em 30 a 35% dos casos (Barkley, 2006). Para outros
autores a percentagem de crianças com problemas ao nível da linguagem é de 35 a 50%
(Baker & Cantwell, 1992; Beitchman, et al., 2001; Tannock & Schachar, 1996). Por outro
lado, o estudo de Snowling, Bishop, Stolhard, Chipcase e Kaplan (2006) demonstrou uma
maior incidência de défice de atenção e problemas de interação social em adolescentes com
antecedentes de atraso da linguagem, à data do ingresso na escolaridade.
De facto, a presença de sintomas de PHDA, na idade pré-escolar, pode ter um impacto
negativo em vários aspetos do desenvolvimento da linguagem, nomeadamente ao nível da
consciência fonológica, como revela um estudo de Agapitou e Andreou (2008), dificuldades
que constituem um precursor da Dificuldade Específica de Aprendizagem da Leitura, em
idade escolar.
O elevado número de comorbilidades na PHDA obriga a uma reavaliação da prática
clínica, quanto à metodologia de avaliação das crianças com PHDA e ao rastreio de
perturbações neuropsicológicas associadas, nomeadamente no âmbito da linguagem. Neste
sentido, face à necessidade premente de desenvolver estudos sobre as competências e défices
da linguagem em crianças portuguesas com diagnóstico de PHDA, o presente trabalho teve
como objetivos: (a) avaliar o impacto que esta perturbação tem ao nível da linguagem, na área
do processamento fonológico e da compreensão; (b) avaliar a utilidade clínica e o poder
Micaela Guardiano, Linda Candeias, Júlia Guimarães, Victor Viana & Paulo Almeida
422
discriminativo das provas utilizadas da Bateria PALPA-P, na avaliação de crianças com
PHDA.
MÉTODO
Participantes
A amostra de crianças com diagnóstico de PHDA é uma amostra não probabilística por
conveniência e foi selecionada a partir da consulta de processos clínicos, das crianças em
seguimento na Consulta de Neurodesenvolvimento da Unidade Autónoma de Gestão da
Mulher e da Criança, do Centro Hospitalar de São João (CHSJ), no período de 1 de Janeiro a
31 de Dezembro de 2010.
Foram selecionadas 37 crianças com PHDA, com idades compreendidas entre os seis e os
11 anos. Todas as crianças com PHDA cumpriam critérios de diagnóstico de acordo com a
DSM IV-TR. Foi considerado critério de exclusão, no grupo com PHDA, o início de
medicação específica mais de 12 meses e a coexistência de outros comprometimentos
clínicos tais como, défice auditivo, défice visual sem correção, deficiência mental e outras
patologias psiquiátricas e/ou neurológicas. O grupo controlo é constituído por 67 crianças sem
PHDA. Estas crianças frequentavam uma escola do distrito do Porto, com nível de
escolaridade do primeiro ao quarto ano.
A amostra foi constituída por 104 crianças do Distrito do Porto, todas elas provenientes de
meios urbanos, das quais 37 (35,6%) apresentavam diagnóstico clínico de PHDA e 67
(64,4%) constituíram o grupo controlo e foram recrutadas numa escola do ensino básico, não
apresentando qualquer patologia. As crianças tinham idades compreendidas entre os seis e os
11 anos (8,03±1,19), sendo que 53 (51%) pertencem ao sexo masculino e 51 (49%) ao sexo
feminino. No que concerne à escolaridade, foram avaliadas crianças entre o ano e o ano
de escolaridade. A distribuição das crianças pelos vários grupos sociodemográficos pode ser
consultada no Quadro 1.
Processamento fonológico e compreensão na PHDA
423
A idade da mãe (38,69±4,09) e do pai (41,16±4,99) também foram consideradas, bem
como a sua escolaridade e consequente nível sociocultural de cada família. Estes dados
podem ser consultados no Quadro 2.
Quadro 2
Idade e escolaridade dos pais de acordo com os grupos.
Grupo PHDA
(n=37)
n (%)
Grupo controlo
(N=67)
n (%)
Idade
Mãe
Pai
Pai
30 35 anos
13 (12,55%)
7 (6,9%)
4 (3,9%)
36 40 anos
15 (14,4%)
12 (11,8%)
27 (26,5%)
41 45 anos
6 (5,8%)
12 (11,8%)
21 (20,6%)
46 50 anos
3 (2,9%)
4 (28,6%)
10 (9,8%)
51 55 anos
0 (0%)
2 (2,0%)
2 (2,0%)
56 60 anos
0 (0%)
0 (0%)
1 (1,0%)
Total
37 (35,6%)
37 (36,3%)
65 (63,7%)
a)
Escolaridade
1º - 4º ano
6 (5,8%)
5 (4,9%)
1 (1,0%)
5º - 6º ano
7 (6,8%)
9 (8,7%)
6 (5,8%)
7º - 9º ano
8 (7,8%)
16 (15,5%)
10 (9,7%)
10º - 12º ano
10 (9,7%)
5 (4,9%)
18 (17,5%)
Bacharelato
0 (0%)
0 (0%)
2 (1,9%)
Licenciatura
4 (3,9%)
1 (1,0%)
22 (21,4%)
Mestrado
1 (1,0%)
1 (1,0%)
6 (5,8%)
Doutoramento
0 (0%)
0 (0%)
1 (1,0%)
Total
36 (35,6%)
a)
37 (35,9%)
66 (64,1%)
a)
Uma omissão.
Material
A utilização de questionários de comportamento, como complemento ao processo de
diagnóstico da PHDA, é um procedimento recomendado por entidades internacionais de
referência na PHDA, como por exemplo, a American Academy of Child and Adolescent
Psychiatry (2007) e o European Network for Hyperkinetic Disorder (Taylor, et al., 2004).
Para o efeito, foi utilizado no estabelecimento do diagnóstico o Questionário de Conners
Revisto (EC-R), versões para pais e professores (Rodrigues, 2000).
O potencial intelectual das crianças com PHDA foi avaliado com recurso à adaptação
portuguesa da WISC-III (Simões, Rocha, & Ferreira, 2003) ou, noutros casos, às Matrizes
Progressivas Coloridas de Raven (MPCR). Todas as crianças com PHDA apresentaram
resultado nas MPCR igual ou superior ao percentil 25 (Simões, 2000) ou QI na Escala WISC-
III igual ou superior a 85.
Para avaliação da linguagem, foram aplicadas provas selecionadas da bateria de avaliação
da linguagem e da afasia em português (PALPA-P), incluídas nos subgrupos de
Micaela Guardiano, Linda Candeias, Júlia Guimarães, Victor Viana & Paulo Almeida
424
processamento fonológico e compreensão, a todas as crianças. Não existem estudos no nosso
país com utilização desta bateria em indivíduos com PHDA. A PALPA-P descende da
PALPA, “Psycholinguistic Assessments of Language Processing in Aphasia”, em que o
processamento da linguagem é examinado em inglês. Tem subjacente o modelo
neuropsicológico de linguagem definido por Kay, Lesser e Coltheart (1992).
A PALPA-P reúne um conjunto de 60 tarefas, para avaliar fina e diferenciadamente quatro
aspetos principais da linguagem: (a) processamento fonológico; (b) leitura e escrita; (c)
compreensão de frases; e (d) semântica de palavras e imagens. De todas as provas da bateria
PALPA-P, foi selecionado um grupo de provas, passíveis de serem aplicadas a crianças com
as idades definidas neste estudo e que permitissem a avaliação do processamento fonológico
(provas 5 Decisão Lexical Auditiva, Imaginabilidade e Frequência ; 8 - Repetição de
Pseudopalavras; e 13 - Amplitude de Memória de Dígitos) e da compreensão (provas 47 -
Emparelhamento Palavra Falada-Imagem; 58 - Compreensão Oral de Relações Locativas; e
60 - Amplitude de Memória de Sequências Substantivo-Verbo).
Procedimento
Foi obtida a aprovação da Comissão de Ética do CHSJ para a realização desta investigação
e todos os pais das crianças que participaram no estudo assinaram depois o Termo de
Consentimento Livre e Informado. No que se refere às crianças com PHDA, o contacto foi
efetuado via telefónica, tendo sido apresentada uma explicação sucinta dos objetivos da
investigação e agendada a avaliação. Foi solicitado que, nesse dia, as crianças não fossem
medicadas com o psicoestimulante prescrito. O questionário sociodemográfico foi preenchido
pelos pais das crianças com PHDA, no dia da avaliação hospitalar.
Quanto ao grupo de controlo, após a seleção da escola, os professores das turmas dos
alunos que seriam incluídos foram contatados e foi apresentada a investigação, tendo sido
entregue o EC-R: versão para professores. No primeiro encontro com os alunos, foram
entregues o questionário sociodemográfico e o EC-R: versão para pais. O EC-R foi
respondido por pais e professores de todas as crianças, incluindo as do grupo controlo, a fim
de evitar a inclusão de crianças com PHDA não diagnosticadas. As crianças com PHDA
apresentaram pontuação igual ou superior a um desvio-padrão no Índice de PHDA
(equivalente ao Percentil 85), simultaneamente nas versões para pais e professores.
Todos os testes foram aplicados pela investigadora principal (pediatra do
Neurodesenvolvimento) e pelos psicólogos envolvidos no projeto. O grupo de crianças com
PHDA foi avaliado em consultas hospitalares de Psicologia ou Neurodesenvolvimento. As
crianças do grupo controlo foram avaliadas no seu estabelecimento de ensino, em sala
destinada ao efeito, individualmente e em ambiente tranquilo.
As escolaridades foram agrupadas de acordo com o nível expectável das aprendizagens.
Assim, as crianças com o e ano de escolaridade constituem um grupo e as crianças com
o 3º, e 5º ano constituem outro. O nível sócio-cultural (NSC) da amostra foi calculado com
base na média de escolaridade dos pais (do 4º ao ano - NSC baixo; de 10º ano a
Bacharelato - NSC médio; Licenciatura/Doutoramento - NSC alto).
A análise estatística foi realizada através do software Statistical Package for Social
Sciences (SPSS). A comparação dos resultados obtidos, nas provas de linguagem aplicadas,
foi efetuada com recurso aos procedimentos estatísticas adequados. O teste t, utilizado para
Processamento fonológico e compreensão na PHDA
425
comparar variáveis paramétricas, foi utilizado para calcular as diferenças entre o grupo PHDA
e o grupo controlo. As diferenças foram consideradas significativas a um intervalo de
confiança de 95% (nível de significância de 5%) com uma probabilidade de erro (p) inferior a
0,05.
Foi testado um modelo de regressão logística, tendo a presença ou ausência de PHDA
como variável dependente, em que foram incluídas todas as co-variáveis com significância
estatística na análise univariada. A regressão logística cria um modelo que explica a relação
entre duas variáveis e permite estimar o risco de um indivíduo apresentar determinada
patologia ou dificuldade (Kleinbaum & Klein, 2010). Para avaliar a capacidade do modelo
prever o diagnóstico, realizou-se o teste de Hosmer-Lemeshow (goodness-of-fit).
Também foi utilizada a curva Receiver Operating Characteristic (ROC), procedimento que
permite avaliar a qualidade diagnóstica de determinado instrumento ou teste. Este avalia a
eficácia de uma medida para discriminar entre diferentes categorias de sujeitos (Pintea &
Moldovan, 2009). Este procedimento dá origem a um valor designado “área sob a curva”, que
deve estar acima de 0,50. Quanto mais alto este valor, maior o poder discriminativo da
medida (Pintea & Moldovan, 2009; Streiner & Cairney, 2007).
RESULTADOS
Diferenças entre o Grupo PHDA e o Grupo de Controlo
As diferenças entre o grupo PHDA e o grupo controlo foram analisadas. Os resultados são
apresentados no Quadro 3.
Micaela Guardiano, Linda Candeias, Júlia Guimarães, Victor Viana & Paulo Almeida
426
Como se pode verificar, foram encontradas diferenças significativas entre os dois grupos,
para a maioria das provas aplicadas. Pela análise das médias de erro em cada grupo (cf.
Quadro 3 e Figura 1), verifica-se que aquelas que correspondem a crianças com PHDA são
geralmente mais altas, comparativamente às do grupo controlo. Tal não acontece para as
provas 13 e 60 uma vez que, neste caso, são contabilizados os acertos.
Na prova 5, cujos resultados são apresentados em termos de médias percentuais de erros,
apesar de, globalmente, as crianças com PHDA errarem mais frequentemente do que o grupo
controlo em todos os subtestes, é no reconhecimento de palavras de baixa imaginabilidade
bem como na identificação de “não palavras” como tal que se verifica um desempenho
significativamente inferior no grupo com PHDA. Na prova 8, cujos resultados são
apresentados em termos de médias percentuais de erros, o grupo com PHDA apresentou pior
desempenho na repetição de pseudopalavras, independentemente da sua extensão. Na prova
13, cujos resultados são apresentados em termos de total de acertos (amplitude), as crianças
com PHDA demonstraram dificuldades significativamente superiores quer a repetir
sequências de dígitos quer em reconhecer duas sequências apresentadas como iguais ou
diferentes. Na prova 47, cujos resultados são apresentados em termos de médias percentuais
de erros, as crianças com PHDA, mostraram mais “confusão” em imagens que representam
conceitos semânticos com relação, mas “distante”. Relativamente aos erros semânticos
próximos ocorreram em todas as crianças, quer grupo com PHDA quer grupo controlo. Por
outro lado ocorreram menos erros em todas as crianças no caso dos distratores visuais e sem
relação. A prova 58, permitiu demonstrar maior dificuldade das crianças com PHDA na
compreensão de preposições e advérbios de lugar em frases (resultados apresentados em
termos de médias percentuais de erros). A prova 60, cujos resultados são apresentados em
termos de total de acertos (amplitude), demonstrou menor número de respostas certas para as
crianças com PHDA, na identificação de sequências de palavras faladas, apontando imagens
correspondentes.
Neste sentido, crianças com PHDA tendem a apresentar mais dificuldades em tarefas de
processamento fonológico e de compreensão (cf. Figura 1 e Figura 2).
Processamento fonológico e compreensão na PHDA
427
Legenda: 5T total de erros PALPA 5; 5AF total de erros PALPA 5 alta frequência; 5AI total de erros PALPA 5 alta
imaginabilidade; 5BF total de erros PALPA 5 baixa frequência; 5BI total de erros PALPA 5 baixa imaginabilidade; 5PP
total de erros PALPA 5 pseudopalavras; 8-1S total de erros PALPA 8 palavras com 1 sílaba; 8-2S total de erros PALPA 8
palavras com 2 sílabas; 8-3S total de erros PALPA 8 palavras com 3 sílabas; 13AR PALPA 13 amplitude de repetição;
13AE PALPA 13 amplitude de emparelhamento
Figura 1
Resultados médios nas provas de Processamento Fonológico obtidos pelo grupo com PHDA
e pelo grupo de controlo.
Legenda: 47T total de erros PALPA 47; 47SP total de erros PALPA 47 semânticos próximos; 47SPV total
de erros PALPA 47 semânticos próximos visuais; 47SD total de erros PALPA 47 semânticos distantes; 47V total
de erros PALPA 47 visuais; 47SR total de erros 47 sem relação; 58T total de erros PALPA 58; 58Ani total de
Micaela Guardiano, Linda Candeias, Júlia Guimarães, Victor Viana & Paulo Almeida
428
erros PALPA 58 animados; 58Abs total de erros PALPA 58 abstratos; 58I total de erros PALPA 58 inanimados;
58Inv total de erros PALPA 58 invertidos; 58O total de erros PALPA 58 outros; 60T total de acertos PALPA
60.
Figura 2
Resultados médios nas provas de Compreensão obtidos pelo grupo com PHDA e
pelo grupo controlo.
Como é possível constatar no Quadro 4, as provas de processamento fonológico e
compreensão significativamente preditivas das competências linguísticas de crianças com
PHDA são a 5 baixa imaginabilidade, a 8 (1 e 3 sílabas), 13 amplitude de repetição, 47
semânticos distantes e 58 (inanimados e outros). Assim, a cada aumento no número de erros
nestas provas, associa-se um aumento da probabilidade do diagnóstico ser, efetivamente,
PHDA.
Para avaliar a capacidade de estas provas preverem o diagnóstico, é necessário atentar nos
testes de ajustamento do modelo. Assim, de acordo com o teste Wald, verifica-se que o valor
do teste p é significativo para todas provas.
Para avaliar a capacidade do modelo prever o resultado do diagnóstico, realizou-se o teste
de Hosmer-Lemeshow. Neste caso, obtivemos um valor de p não significativo (p=0,738),
sugerindo que o modelo em questão parece ser adequado (as pontuações nas referidas provas
do PALPA-P são adequadas para prever o diagnóstico).
Pela análise da curva ROC (cf. Figura 3), é possível inferir a capacidade de discriminação
do modelo, sendo que o modelo em questão apresenta uma capacidade discriminativa
aceitável (área sob a curva=0,90).
Processamento fonológico e compreensão na PHDA
429
Figura 3
Capacidade de discriminação das provas de processamento fonológico e compreensão, de
acordo com a curva ROC.
DISCUSSÃO
A co-ocorrência entre PHDA e défices ao nível da linguagem é bem conhecida e o seu
estudo tem vindo a intensificar-se, nos últimos anos, principalmente no que diz respeito às
suas repercussões neuropsicológicas. De facto, já há muito que a PHDA deixou de ser
considerada uma mera perturbação do comportamento, para ser vista como uma perturbação
que implica vários défices neuropsicológicos (Carte, Nigg, & Hinshaw, 1996). Assim, parece
lógica a avaliação das funções neuropsicológicas destas crianças, particularmente no que
concerne àquelas que regulam a linguagem, uma área de funcionamento ainda pouco clara.
A necessidade deste estudo torna-se ainda mais proeminente quando se considera que a
linguagem das crianças portuguesas com PHDA não tem sido alvo de avaliação e
caracterização.
No presente estudo, verificou-se que crianças com PHDA têm mais dificuldades nas
provas 5 (palavras com baixa imaginabilidade e pseudopalavras), 8 (repetição de 1, 2 e 3
sílabas), 13 (repetição e emparelhamento), 47 (erros semânticos distantes), 58 (animados,
abstratos, inanimados, invertidos e outros) e 60.
Com a prova 5, procurou-se avaliar a decisão lexical auditiva, que exige a intervenção do
loop fonológico
1
na identificação e discriminação de conjuntos de cadeias de sons, que depois
1
O loop fonológico consiste no armazenamento temporário dos fonemas (Gathercole, 2009).
Micaela Guardiano, Linda Candeias, Júlia Guimarães, Victor Viana & Paulo Almeida
430
serão avaliados pelo conhecimento lexical, para identificar a cadeia de sons como palavra ou
pseudopalavra. Estudos demonstraram que este tipo de prova sofre um efeito da escolaridade,
ainda que ligeiro (Naito, Uessugue, Cabral, Radanovic, & Mansur, 2008). Na prova 5,
esperavam-se mais erros nas palavras com baixa frequência e baixa imaginabilidade, erros
mais frequentes em crianças pequenas e com escolaridade mais baixa. No caso do presente
trabalho, encontraram-se, diferenças estatisticamente significativas nos grupos
PHDA/controlo ao nível da baixa imaginabilidade, ou seja na identificação de palavras mais
subjetivas e que portanto será mais difícil para a criança reconhecer pelo significado, uma vez
que estão na dependência da aquisição de um léxico abstrato (Crutch & Warrington, 2005). A
imaginabilidade está correlacionada com a idade de aquisição, ou seja, palavras abstratas são
aprendidas numa fase mais tardia da vida, ao contrário de palavras concretas (Ralph & Ellis,
1997). O facto de não se encontrarem diferenças ao nível da baixa frequência terá relação com
a idade e nível de escolaridade de todas as crianças, que implica um desconhecimento natural
de um número considerável de palavras apresentadas.
No que se refere à prova 8, sabe-se que as dificuldades na repetição de pseudopalavras
podem dever-se a défices no buffer fonológico
2
de saída e/ou na discriminação e análise
auditiva. Como a repetição de pseudopalavras pode depender da memória fonológica a curto
prazo, podem também notar-se dificuldades em circunstâncias que a comprometam.
Observam-se melhores resultados com o aumento da idade. O pior desempenho do grupo com
PHDA na repetição de pseudopalavras, independentemente da sua extensão, realça a
dificuldade destas crianças em manter a atenção sustentada numa tarefa bem como a menor
capacidade de recodificação fonética na memória de trabalho (Roth & Schneider, 1998).
Diferentes estudos anteriores realçam o comprometimento de vários domínios da atenção. De
entre os domínios mais referidos, os défices na atenção sustentada parecem ser os mais
pronunciados e caracterizar a maior parte das crianças com PHDA (Johnson, et al., 2007;
López-Campo, Gómez-Betancur, Aguirre-Acevedo, Puerta, & Pineda, 2005). Os défices na
atenção sustentada traduzem-se num padrão de resposta mais lento e caracterizado por um
maior número de erros e lacunas.
No que concerne à prova 13, dificuldades nestas tarefas podem dever-se a problemas no
buffer fonológico de entrada ou de saída. Nesta prova, as crianças com PHDA demonstraram
dificuldades significativamente superiores quer a repetir sequências de dígitos quer em
reconhecer duas sequências apresentadas como iguais ou diferentes. Os défices ao nível da
memória de trabalho e de atenção sustentada podem explicar as maiores dificuldades
observadas nestas tarefas. De facto, a capacidade para reter informação na memória a curto
prazo depende da idade, sendo que, em média, uma criança de sete anos e um adulto
conseguem reter sete fragmentos de informação (Ringoen, 1999a). Problemas ao nível desta
competência parecem causar dificuldades comportamentais e de aprendizagem,
nomeadamente para a leitura (Ringoen, 1999a). Isto acontece porque a fonética constitui um
sistema de aprendizagem auditiva, sendo necessária memória auditiva a curto prazo suficiente
para a aprendizagem, utilização e compreensão da leitura, através do método fonético
2
O buffer fonológico contém o conhecimento das regras que relacionam os grafemas com um ou
mais fonemas. O buffer também é a origem dos outputs fonológicos que são transmitidos ao
mecanismo articulatório e atua como mediador na conversão do fonema para o grafema, com base
no buffer ortográfico (conhecimento sobre as letras e sua sequenciação) (Brown, 1991).
Processamento fonológico e compreensão na PHDA
431
(Ringoen, 1999b). Para que seja capaz de utilizar realmente a fonética, em vez de memorizar
apenas alguns sons individuais, a criança deve ter uma amplitude de memória auditiva a curto
prazo de seis. Caso contrário, a criança poderá ser capaz de expressar o som dos fonemas e
juntar alguns para formar palavras, mas terá dificuldade em compreender o que leu (Ringoen,
1999b). Por outro lado, em crianças com PHDA, o fator atenção tem também um papel
limitativo no desempenho.
Quanto à prova 47 (emparelhamento de palavra falada e imagem), era esperado um maior
número de erros na identificação dos distratores semânticos próximos e semânticos próximos
visuais. Erros semânticos próximos indicam um défice semântico relativamente específico
(exemplo: cão/gato); erros semânticos distantes sugerem um défice semântico mais
generalizado (exemplo: lua/estrela); se predominarem erros semânticos com parecença visual
tal indica que o défice pode ter uma componente percetiva. Outro indicador de possíveis
problemas percetivos é a tendência para escolher distratores visuais (exemplo:
mangueira/cobra). As crianças com PHDA, mostraram mais “confusão” em imagens que
representam conceitos semânticos com relação, mas “distante” o que sugere que estas crianças
têm dificuldades em aceder à informação semântica, de forma generalizada, quando a
informação é recebida de forma auditiva. A impulsividade nas respostas e o impacto da
desatenção no processamento da informação recebida poderão justificar as dificuldades
observadas no grupo com PHDA.
Na prova 58 (compreensão oral de relações locativas), o grupo com PHDA demonstrou, de
forma geral, maior dificuldade na compreensão de preposições e advérbios de lugar inseridos
em frases. Uma vez que para cada frase enunciada são apresentadas quatro imagens possíveis,
a dispersão da atenção e a impulsividade nas respostas poderão justificar as diferenças
encontradas entre os grupos PHDA e controlo. A presença de défices em medidas de
avaliação da memória visuo-espacial a curto prazo foi igualmente observada noutras
investigações como é o caso do estudo de Jakobson e Kikas (2007).
Por fim, a prova 60 avalia a compreensão e a capacidade de armazenamento fonológico a
curto prazo e permite identificar dificuldades na memória a curto prazo e atenção sustentada,
nas crianças com PHDA. De facto, esta prova como as anteriores provas 8 e 13 permitem
identificar défices na memória verbal e visual a curto prazo. Pineda, Ardila e Rosselli (1999),
em testes de avaliação da memória verbal e não-verbal, encontraram também diferenças entre
os desempenhos de 62 crianças com PHDA, com idades compreendidas entre os sete e os 12
anos, e os controlos, no número de ensaios necessários para reter a informação, sugerindo que
os problemas de memória na PHDA não se situam ao nível do armazenamento ou evocação,
mas na fase inicial de memorização (retenção), fase essa em que a atenção tem um papel
fundamental.
Em resumo, pela observação do Quadro 5, constata-se que as provas utilizadas da bateria
PALPA-P possuem grande potencial na identificação de dificuldades específicas na PHDA.
Este facto foi corroborado através dos resultados da regressão logística. Através desta, foi
possível identificar as provas com maior poder discriminativo das dificuldades de crianças
com PHDA, que podem ser utilizadas para identificar défices específicos e reforçar o
diagnóstico.
Micaela Guardiano, Linda Candeias, Júlia Guimarães, Victor Viana & Paulo Almeida
432
Quadro 5
Dificuldades demonstradas pelas crianças com PHDA nas tarefas da PALPA-P.
Provas PALPA-P
Défices observados
5
Decisão Lexical Auditiva,
Imaginabilidade e Frequência
Loop fonológico
Memória de trabalho
Identificação e discriminação de sons
Decisão lexical auditiva
Atenção sustentada
8
Repetição de Pseudopalavras
Buffer fonológico de saída
Discriminação auditiva
Atenção sustentada
Memória fonológica a curto prazo
Recodificação fonética na memória de
trabalho
13
Amplitude de Memória de Dígitos
Buffer fonológico de entrada e/ou de saída
Atenção sustentada
Memória de trabalho
47
Emparelhamento Palavra Falada-
Imagem
Atenção/impulsividade
Défice perceptivo
Défice semântico generalizado
58
Compreensão Oral de Relações
Locativas
Atenção sustentada
Orientação visuo-espacial
Compreensão de relações locativas
60
Amplitude de Memória de
Sequências Substantivo-Verbo
Atenção sustentada
Memória de trabalho
Armazenamento fonológico a curto prazo
Como não existem exames imagiológicos ou laboratoriais que permitam confirmar o
diagnóstico de PHDA, diversos autores têm investigado os défices neuropsicológicos desta
população, com vista à definição de um perfil de desempenho cognitivo caracterizador destas
crianças que, uma vez encontrado, permitiria validar o diagnóstico clínico.
No entanto, os testes neurocognitivos utilizados no exame da PHDA parecem ser dotados
de forte sensibilidade, mas de reduzida especificidade (Pineda, et al., 2007), pelo que a
validade discriminativa das provas cognitivas na PHDA é significativamente inferior à que se
obtém com questionários de comportamento (Jakobson & Kikas, 2007; López-Campo, et al.,
2005; Pineda, et al., 1999). No estudo de Pineda e colaboradores (1999), os questionários de
comportamento permitiram classificar corretamente 100% dos participantes, enquanto as
medidas neuropsicológicas apenas classificaram corretamente cerca de 85% dos mesmos.
Ainda assim, é inegável o importante papel que a avaliação neuropsicológica desempenha ao
identificar áreas de maior e menor dificuldade de cada indivíduo permitindo, com base nessa
informação, delinear estratégias de intervenção mais individualizadas e ajustadas às
características identificadas (Pineda, et al., 2007).
Bruce, Thernlund e Nettelbladt (2006) havia afirmado que alterações da linguagem e da
comunicação estão associadas às características centrais da PHDA. Esta associação é tão forte
Processamento fonológico e compreensão na PHDA
433
que certos autores afirmam que talvez seja útil a constituição de um novo subgrupo subjacente
à PHDA, em que os critérios das duas perturbações estão incluídos (Riccio & Jemison, 1998).
Em conclusão, os resultados obtidos no presente trabalho permitiram verificar que crianças
com PHDA apresentam défices significativos em tarefas de linguagem no domínio do
processamento fonológico e da compreensão. A integração destas áreas no protocolo de
avaliação de crianças com diagnóstico de PHDA é de extrema importância, dado que
dificuldades deste tipo poderão contribuir para as dificuldades de aprendizagem muitas vezes
apresentadas por estas crianças.
Este é o primeiro estudo realizado em Portugal que utilizou provas da bateria PALPA-P
para a avaliação de crianças com PHDA. Os resultados evidenciam a utilidade clínica e o
poder discriminativo das provas da PALPA-P, na avaliação complementar de crianças com
PHDA. Verificou-se que algumas provas utilizadas são suficientes para prever a
probabilidade de o diagnóstico ser, efetivamente PHDA. No entanto, não se aconselha a
utilização destas provas, por si só, para fazer um diagnóstico. Estas podem, sim, ser utilizadas
para complementar um diagnóstico realizado, seguindo o protocolo estabelecido. Permite-
se, assim, a complementação da avaliação compreensiva da criança com PHDA.
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... Language, in this context, results from its innate abilities (presence of a network and integral structure for the language) and the internalization of the "languages" perceived around it. Little is known yet whether ADHD affects more innate or acquired language, but in several comparative studies associating both conditions, it appears that ADHD influences the appearance of language disorders (LDs) much more than the opposite [14,15]. There are sufficient data demonstrating that, in groups of children with LD, there are proportionally fewer children with ADHD than when evaluating groups of ADHD seeking to verify the presence of LD [16]. ...
... The adequate construction and the full development of language structuring processes in childhood depend heavily on attentional, executive, and working memory processes. The union of all these factors in the construction of language can be understood by several psychological theories and theoretical constructs, but it is well summarized in the phonological buffer [15,17,18]. In language science, the phonological buffer is a neurobiological and cognitive mechanism of language composed of skills that align and influence each other as a dynamics of weights and balances for the perception, memorization, and integration of linguistic sensory stimuli contributing to the development and consolidation, in memory, of processes associated with language structures in a coherent way. ...
Chapter
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The language problem in ADHD could be expressed in any age, in different intensity levels, that could bring negative effects in all daily activities and learning process, which depends on the right language acquisition during the child’s development. Among the most common comorbidities in ADHD, the abnormalities in language result in greater unsatisfactory evolution and many problems in verbal and nonverbal abilities, and even more in academic life, as a result of losses in reading and writing appropriation.
Article
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Introduction: Attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) compromises cognitive abilities. Executive functioning is one of the most affected dimensions, particularly working memory. We aimed to assess the impact of ADHD specifically on working memory. Methods: Using selected sub-tests of the Portuguese version of Psycholinguistic Assessments of Language Processing in Aphasia (PALPA), we compared the performance of 37 children with ADHD to 67 children from the control group. Results: Children with ADHD showed statistically significant difficulties in working memory tasks compared to children without this diagnosis on nonword repetition tasks of one (p=0.004), two (p=0.014), and three syllables (p=0.003), as well as digit production (p=0.000), matching span (p=0.004) and pointing span for noun-verb sequences (p=0.001). The results indicate differ
Article
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Marshall and Newcombe (1973) described three forms of acquired dyslexia. Two of them (surface and deep dyslexia) have been the subject of much subsequent discussion, but the third (visual dyslexia) has largely been ignored. We report the case of patient AB, who misread over 40% of words presented to her. The vast majority of her errors bore a close visually similarity to the target words. We present a detailed analysis of AB's acquired dyslexia and consider whether it constitutes a distinct form of peripheral dyslexia or whether it can be accommodated within one of the recognised categories (e.g. neglect dyslexia).
Article
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The Receiver Operating Characteristic (ROC) analysis has been long used in Signal Detection Theory to depict the tradeoff between hit rates and false alarm rates of classifiers. In the last years, ROC analysis has become largely used in the medical community for visualizing and analyzing the performance of diagnostic tests. Our article points out some fundamental aspects of ROC analysis underlying the importance of using ROC analysis in evaluating the diagnostic validity of tests commonly used in clinical psychology. The main statistical programs available for this type of analysis, with their advantages and deficiencies are also discussed. In order to illustrate how ROC analysis works in clinical research, we also describe an application of ROC analysis in evaluating scales generally related to depression.
Article
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The present study examined the impact of preschool ADHD on linguistic and metalinguistic awareness and mental ability. Eight subscales of the Athina Test were administered to ADHD preschoolers and a control group. Results showed that ADHD preschoolers performed significantly lower than the control group in all tasks. The greatest difficulty for ADHD preschoolers was evident in the “phoneme synthesis” subscale, particularly with metalinguistic awareness. These results support previously reported findings that ADHD preschoolers have serious language deficits, which place them at risk for developing poor reading skills in primary school.
Chapter
Research on the acquisition of literacy conducted in the last few years has indicated that phonological awareness without a doubt plays an important role in the acquisition of reading and spelling. (e.g., Goswami & Bryant, 1990; Lundberg, Frost, & Petersen, 1988; Tornéus, 1984; Wagner & Torgesen, 1987). Phonological awareness involves the ability to segment speech into linguistic units such as syllables or phonemes. Available studies propose that it is important for the beginning reader to get insight into the sound structure of language in order to acquire the alphabetic principle.
Book
Recent years have seen tremendous advances in understanding and treating Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD). Now in a revised and expanded third edition, this authoritative handbook brings the field up to date with current, practical information on nearly every aspect of the disorder. Drawing on his own and others' ongoing, influential research - and the wisdom gleaned from decades of front-line clinical experience - Russell A. Barkley provides insights and tools for professionals working with children, adolescents, or adults. Part I presents foundational knowledge about the nature and developmental course of ADHD and its neurological, genetic, and environmental underpinnings. The symptoms and subtypes of the disorder are discussed, as are associated cognitive and developmental challenges and psychiatric comorbidities. In Parts II and III, Barkley is joined by other leading experts who offer state-of-the-art guidelines for clinical management. Assessment instruments and procedures are described in detail, with expanded coverage of adult assessment. Treatment chapters then review the full array of available approaches - parent training programs, family-focused intervention for teens, school- and classroom-based approaches, psychological counseling, and pharmacotherapy - integrating findings from hundreds of new studies. The volume also addresses such developments as once-daily sustained delivery systems for stimulant medications and a new medication, atomoxetine. Of special note, a new chapter has been added on combined therapies. Chapters in the third edition now conclude with user-friendly Key Clinical Points. This comprehensive volume is intended for a broad range of professionals, including child and adult clinical psychologists and psychiatrists, school psychologists, and pediatricians. It serves as a scholarly yet accessible text for graduate-level courses. Note: Practitioners wishing to implement the assessment and treatment recommendations in the Handbook are advised to purchase the companion Workbook, which contains a complete set of forms, questionnaires, and handouts, in a large-size format with permission to photocopy. (PsycINFO Database Record (c) 2012 APA, all rights reserved)(jacket)
Article
Language‐based learning disability and attention‐deficit hyperactivity disorder (ADHD) frequently co‐occur. Theoretical frameworks for understanding the relationship between ADHD and learning disabilities, and particularly reading disability (RD), are reviewed. Attentional factors per se may not result in difficulty attaining basic reading skills; some children with ADHD may also have linguistic deficits and particularly phonological processing deficits. Given the frequency of co‐occurring ADHD and RD, children referred for either condition should be assessed for the other. ADHD frequently occurs with specific language impairment (SLI). A comprehensive assessment must include linguistic factors, particularly phonological processing. Collaboration and consultation of various professionals in the assessment process are necessary. Finally, the implications of this research with an emphasis on the need for appropriate intervention for children with co‐occurring ADHD and problems in acquisition of reading skills are discussed.