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Perfil dos pesquisadores da Saúde Coletiva
no Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico
| 1Suelleng Maria Cunha Santos, 2Leonardo Santos Lima, 3Daniella Reis Barbosa Martelli,
4Hercílio Martelli-Júnior |
Resumo: Pesquisadores brasileiros têm demonstrado
aumento na produção científica associada à publicação de
trabalhos na literatura corrente. O objetivo deste estudo foi
avaliar o perfil dos bolsistas de produtividade científica da área
de Saúde Coletiva no Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico. Foram analisados os currículos Lattes
de todos os pesquisadores da área de Saúde Coletiva no
triênio 2004-2006. As variáveis estudadas foram: gênero,
categoria do bolsista, instituição de origem, tempo de
conclusão do doutorado, artigos nacionais e internacionais com
o respectivo Qualis, publicação de livros e capítulos,
orientações de iniciação científica, mestrado e doutorado e os
periódicos utilizados para publicação. Entre os pesquisadores,
houve similaridade de gêneros masculino e feminino (1,03:1),
com a maioria dos bolsistas na categoria 2 (48,39%),
distribuídos por 12 estados da federação, com predomínio de
Rio de Janeiro e São Paulo. Do total, 73,54% dos bolsistas
encontram-se vinculados a universidades e 66,45% deles
concluíram o doutorado entre 5 a 15 anos. Na produção
científica, verifica-se prevalência de artigos internacionais Qualis
A e C e nacional B. A publicação de capítulos de livros foi
2,91 vezes superior ao de livros. Quanto à orientação, verifica-
se prevalência na formação de mestres, seguida de doutores e
de iniciação científica. Os periódicos que concentraram maior
parte das publicações foram Cadernos de Saúde Pública e
Revista de Saúde Pública, respectivamente. Estudos em outras
áreas com metodologias similares possibilitarão melhor
conhecimento da produção científica nacional e definição de
estratégias de demandas induzidas de pesquisa.
h Palavras-chavePalavras-chave
Palavras-chavePalavras-chave
Palavras-chave: produção científica; Saúde Coletiva; currículo
Lattes; Qualis.
1 Programa de Pós-Graduação
em Ciências da Saúde da
Universidade Estadual de
Montes Claros (Unimontes),
Montes Claros-MG.
2 Curso de Medicina,
Universidade Estadual de
Montes Claros.
3 Curso de Medicina,
Universidade Estadual de
Montes Claros.
4 Programa de Pós-Graduação
em Ciências da Saúde da
Universidade Estadual de
Montes Claros. Endereço
eletrônico:
hmjunior2000@yahoo.com.
Recebido em: 25/09/2008.
Aprovado em: 18/05/2009.
| Suelleng Maria Cunha Santos et al. |
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Introdução
Ciência e tecnologia (C&T) e educação qualificada são atividades cada vez mais
reconhecidas como componentes fundamentais para o desenvolvimento econômico,
vale dizer, tecnológico e industrial das nações. Indissociavelmente associadas nos
países desenvolvidos e também naqueles com desenvolvimento recente, educação
e C&T compõem as bases essenciais de um ciclo virtuoso que subsidia o crescente
progresso socioeconômico desses países (GUIMARÃES, 2004).
A pesquisa científica é uma atividade que deve satisfazer a três características
básicas: ser socialmente relevante, ou seja, seus resultados devem encontrar cedo
ou tarde aplicação na solução de problemas humanos; ser ética, ou seja, acima dos
interesses científicos deve estar a preservação da dignidade humana; e ser pautada
no mérito, isto é, ser conduzida com rigor metodológico para que produza
conhecimentos verdadeiros (MALFORMS et al., 2000; RASSIAN et al., 2003;
GREENHALG, 2005). A produção de conhecimentos verdadeiros depende da
correta aplicação do método, mas também do julgamento entre pares, ou seja, a
verdade é construída no interior da comunidade da qual o cientista faz parte
(RASSIAN et al., 2003).
O aumento da produção científica brasileira, de forma geral, não é apenas
numérico absoluto, mas também se observa elevação percentual em relação a outros
países, como confirmado por dados do ISI (Institute for Scientific Information) e
SciELO (The Scientific Electronic Library Online) (SOUZA, 2002). Um dos
responsáveis por esse aumento da produção científica nacional é o sistema de pós-
graduação, que por intermédio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes), prioriza o número de artigos publicados para conceituar
os programas nacionais (VOLPATO; FREITAS, 2003). Assim, com a expansão da
produção científica e da formação de recursos humanos, através da pós-graduação,
há expressivo aumento na demanda por recursos de financiamento a projetos de
investigação e bolsas de produtividade em pesquisa, bem como solicitação de bolsas
de pós-doutorado e bolsas “sanduíche”, junto à Capes. Com o crescimento constante
observado na área de Saúde Coletiva, a proporção de bolsistas de produtividade
científica no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) tende a representar parcela cada vez menor no conjunto de pesquisadores,
e a pressão por bolsas de produtividade tende a aumentar levando à adoção de
critérios cada vez mais restritivos (BARATA; GOLDBAUM, 2003). Baseado no
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aumento da produção científica brasileira, este estudo tem como objetivo descrever
o perfil dos pesquisadores em Saúde Coletiva, com bolsas de produtividade científica,
no CNPq, no triênio de 2004 a 2006.
Metodologia
O presente estudo foi de caráter transversal e descritivo. Para sua realização, utilizou-
se a relação dos bolsistas de produtividade do CNPq, na área de Saúde Coletiva
(CNPq, 2008), com bolsas ativas no triênio de 2004 a 2006. A partir da identificação
dos bolsistas de produtividade científica, foram consultados os currículos Lattes de
todos os pesquisadores para cada uma das categorias vigentes no CNPq, 2, 1 D, 1 C,
1 B, 1 A e sênior. Pesquisador 2 é aquele que apresenta, no mínimo, dois anos de
doutorado completo por ocasião da análise da proposta pelo Comitê de
Assessoramento, enquanto o pesquisador 1 possui no mínimo cinco anos de doutorado
completo e o pesquisador sênior deve possuir no mínimo 15 anos de bolsa de
produtividade científica na categoria 1, nível A ou B. Para as categorias 2 e sênior, há
apenas o enquadramento sem especificação de nível, enquanto que, para a categoria
1, o pesquisador será enquadrado em quatro diferentes níveis (A, B, C e D) em
decorrência de sua produção científica, formação de recursos humanos e sua
contribuição para a área, estabelecido por comparação com seus pares (CNPq, 2008).
Foram excluídos dessa análise pesquisadores que se encontravam com bolsas suspensas,
como nos casos de realização de pós-doutorado no exterior.
A partir dos currículos Lattes, acessados na plataforma Lattes do CNPq (CNPq,
2008), foi construído um banco de dados com informações relativas à distribuição
dos pesquisadores por categoria e nível (2, 1 D, 1 C, 1 B, 1 A e sênior), área de
formação, distribuição geográfica e institucional, tempo de conclusão do curso de
doutorado, produção científica no triênio citado (artigos científicos, livros e capítulos
de livros nacionais e internacionais) e formação de recursos humanos (orientação
de iniciação científica, mestrado e doutorado).
Todos os parâmetros analisados corresponderam ao período de 2004 a 2006,
e para a classificação dos artigos científicos foi adotada a padronização da Capes,
pelo Sistema Qualis (CAPES, 2008). As consultas aos currículos Lattes foram
realizadas entre os meses de abril e agosto de 2007, período suficiente para as
atualizações dos pesquisadores.
| Suelleng Maria Cunha Santos et al. |
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Resultados
O universo dos pesquisadores de produtividade científica do CNPq no triênio
2004-2006 foi de 155 bolsistas ativos, sendo 79 (50,96%) do gênero masculino
e 76 (49,03%) do feminino, distribuídos nas duas categorias de bolsistas do CNPq
(2 e 1). Observa-se que não houve pesquisadores bolsistas na classe sênior no
período analisado. A maior concentração de bolsistas está na classe 2 (48,39%),
representando aproximadamente metade dos pesquisadores na área de Saúde
Coletiva (tabela 1). Com relação à faixa etária dos bolsistas, não há menção no
currículo Lattes, não possibilitando a aferição dessa variável. A tabela 2 mostra a
distribuição geográfica dos pesquisadores por ordem decrescente. Pode-se verificar
que 61,29% dos bolsistas encontram-se nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
Quanto ao vínculo institucional, observou-se a existência de 28 diferentes
instituições citadas pelos bolsistas, incluindo instituições de educação superior,
institutos de pesquisa, hospitais e fundações. Dos 155 bolsistas de produtividade,
115 (74,19%) encontram-se vinculados a universidades e 40 (26,80%) a demais
instituições (institutos de pesquisa, hospitais e fundações). Com relação às
formações acadêmicas dos pesquisadores do CNPq, na área da Saúde Coletiva,
observa-se a diversidade na formação de graduação. Ocorre predomínio da Medicina
(66,45%) e Ciências Sociais (5,80%). Em relação ao tempo médio de conclusão e
obtenção do título de Doutor, a maior concentração de pesquisadores situa-se,
respectivamente, entre 10 a 15 anos (42,58%) e 5 a 10 anos (23,87%). Por outro
lado, a menor presença de bolsistas se dá abaixo dos cinco anos de obtenção do
doutoramento (2,58%) (tabela 3).
Na tabela 4, observa-se a produção científica nacional e internacional em
periódicos e livros. A citação dos artigos científicos nacionais e internacionais teve
como referência o Sistema Qualis da Capes (CAPES, 2008). Observa-se a média
trienal de artigos científicos nacionais e internacionais gerados por cada categoria
e nível dos pesquisadores. Verifica-se, de maneira geral, predomínio de artigos
nacionais Qualis B, comparados a Qualis A e C, respectivamente. Quando se
analisa a publicação de artigos internacionais, é nítido o predomínio de periódicos
Qualis A. Ainda no indicador produção científica, verifica-se que a publicação de
capítulos de livros foi 2,91 vezes maior que a de livros. Outro importante parâmetro
na atividade científica dos bolsistas pode ser ilustrado ainda na tabela 4. Refere-se
à formação de recursos humanos por parte dos pesquisadores, ou seja, a orientação
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e formação de alunos em nível de iniciação científica, mestrado e doutorado. Verifica-
se que no triênio analisado houve prevalência na formação de mestres, seguida,
respectivamente, de doutores e alunos de iniciação científica. A tabela 5 ilustra os
principais periódicos de origem nacional e internacional onde os pesquisadores do
CNPq publicaram os artigos científicos. Esta tabela representa apenas os cinco
periódicos de origem nacional e internacional responsáveis, respectivamente, por
861 e 123 artigos científicos de um montante, entre nacional e internacional, no
triênio de 2.327 artigos científicos.
Discussão
Há indicadores bibliométricos que sinalizam mudanças dramáticas no panorama
da pesquisa científica nos últimos 10-15 anos. Se, por um lado, mais de 70% da
produção mundial pertence ao eixo Estados Unidos/Comunidade Europeia/Japão,
há crescimentos espetaculares em alguns países em especial, como China e Irlanda,
os mais significativos, e declínio em outros (Grã-Bretanha) (GLANZEL et al.,
2006). Invariavelmente, a expansão na produção científica internacional e brasileira
leva a um aumento considerável na disputa por recursos para pesquisa e diminuição
de recursos públicos para tanto (COIMBRA JR, 2003). Uma parcela representativa
da produção científica brasileira é oriunda dos pesquisadores do CNPq. Assim,
este estudo avaliou diferentes parâmetros referentes ao perfil dos bolsistas de
produtividade em Saúde Coletiva, no triênio 2004-2006.
Foram avaliados os currículos Lattes de 155 pesquisadores da área de Saúde
Coletiva, observando-se similaridade entre os gêneros masculino e feminino
(1,03:1). Verificou-se também maior densidade de pesquisadores na categoria 2
(48,39%) e distribuição similar entre os níveis 1C e 1B. No período analisado
(2004-2006), não havia pesquisador sênior na classificação dos bolsistas (tabela
1). Cavalcante et al. (2008) encontraram na área de Odontologia resultados similares
ao presente estudo. Mostraram prevalência de bolsistas do gênero masculino,
comparado ao feminino (1,8:1), maior concentração de bolsistas na categoria 2
(42,42%) e bastante equilíbrio entre os níveis 1D, 1C, 1B e 1A.
Até o ano de 1985, mais de 40% dos doutores brasileiros tinham obtido seu
título em instituições estrangeiras. Em anos recentes, verificou-se evolução
significativa do número de titulações emitidas no próprio país, em decorrência da
expansão e descentralização da oferta de cursos na década de 90. A política que
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deu prioridade à formação de doutores no país alcançou seus objetivos, de forma
que, na década de 90, apenas um em cada cinco títulos foi obtido no exterior,
além de se verificar expressivo crescimento de programas de pós-graduação em
diversas regiões brasileiras e constituição e consolidação de grupos de pesquisas
(CNPq, 2008; CAPES, 2008; MARCHELLI, 2005). A tabela 2 mostra a
distribuição dos 155 bolsistas de produtividade pelo país, em 12 estados da
Federação, percebendo ainda importante concentração nas regiões Sudeste
(70,96%) e Sul (14,19%), com destaque para Região Nordeste, com 12,25%
dos pesquisadores bolsistas, particularmente o Estado da Bahia, com parcela
expressiva de bolsistas (9,03%). Ainda no tocante à distribuição geográfica e
institucional, observou-se ampla concentração de vínculo trabalhista com
universidades. Esta responde por 73,54% dos bolsistas (respectivamente,
instituições federais, estaduais e privadas). Os demais bolsistas (26,45%)
encontram-se em institutos de pesquisa (destaca-se a Fundação Oswaldo Cruz),
hospitais e fundações. Tais aspectos corroboram as observações do longo caminho
ainda existente entre ciência e tecnologia no Brasil, embora seja nítido o progresso
brasileiro em produção científica e no crescimento da participação no setor privado
na pesquisa (CONTINI; SÉCHET, 2005).
Recentemente, Martelli-Júnior et al. (2007) mostraram expressiva
participação na área de Saúde Coletiva em projetos de pesquisas financiados
no Estado de Minas Gerais, em Editais Universais, no período de 1986-2006.
Observou-se, contudo, restrita atuação multi e interdisciplinar nesses projetos
fomentados. No presente estudo, pelo caráter interdisciplinar da Saúde Coletiva,
observou-se ampla diversidade nas áreas de atuação dos profissionais bolsistas.
Embora com nítida concentração das profissões da área da Saúde, destaca-se a
participação das áreas Humanas, Sociais e Aplicadas, assim como das áreas de
Ciências Exatas. Em relação ao período de conclusão do doutorado, a tabela 3
mostra que os períodos mínimo (até 5 anos) e máximo (acima de 30 anos)
foram os menos frequentes, observando equilíbrio entre os intervalos de 15-
20 anos e 20-30 anos. Os intervalos mais comumente encontrados foram de
10 a 15 anos de conclusão do doutorado (42,58%). Na área de Odontologia,
os intervalos mais observados são similares aos da Saúde Coletiva, havendo
maior ocorrência de doutores com 10 a 15 anos (32,57%) e de 5 a 10 anos
(25%) (CAVALCANTE et al., 2008).
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Os artigos científicos constituem uma instância privilegiada para compreender
como comunidades de pesquisadores se organizam, interagem e se reproduzem
(SANTOS, 2007). Há todo um ramo na ciência contemporânea voltada para o
tema, crescentemente desenvolvendo arcabouços teórico-metodológicos próprios.
Os trabalhos científicos evidenciam, no interior da Saúde Coletiva, a existência de
comunidades com características particulares de produção e reprodução do
conhecimento (SANTOS, 2007). Assim, a publicação dos resultados das pesquisas
em periódicos científicos busca cumprir uma dupla função: submeter os
conhecimentos produzidos ao julgamento dos pares e criar uma comunidade de
interesses em torno de determinado objeto de investigação (BARATA, 2007). Para
cumprir esses objetivos, os periódicos necessitam contar com um sistema adequado
de peer-review e possibilitar a divulgação ampla de resultados, facilitando desta
forma a apropriação pelos outros membros da comunidade (RASSIAN et al., 2003).
Verifica-se, na comunidade científica, uma busca continuada pela publicação
científica em periódicos indexados, sobretudo aqueles com Qualis A e B, nacionais
e internacionais (CAVALCANTE et al., 2008). Aqui, os resultados ratificaram
essa afirmação. A tabela 4 apresenta a síntese da produção científica dos
pesquisadores bolsistas, em periódicos nacionais, internacionais e livros. São mais
expressivas as publicações nos periódicos Qualis A e C internacionais e Qualis B
nacional. Quando se analisa por classe e nível dos pesquisadores, 2 e 1 B foram
os que apresentaram maior produção em periódicos nacionais, enquanto 1 A e 1
B predominaram na produção de artigos científicos internacionais. Cabe ressaltar
a parcela expressiva dos pesquisadores 1 A nos artigos Qualis A internacional.
Ainda no indicador produção científica, verificou-se nítida predominância na
publicação de capítulos de livros comparada a livros (2,9:1), no triênio analisado.
A classe 1 A foi a que publicou mais capítulos de livros, enquanto a 1 B foi a que
publicou mais livros no triênio avaliado.
Outro importante referencial na produção científica e tecnológica refere-se à
formação de recursos humanos qualificados, ou seja, orientação e formação de
alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado. A tabela 4 destaca a maior
frequência, no triênio analisado, na formação de mestres, seguido, respectivamente,
de doutores e alunos de iniciação científica. Na categoria iniciação científica, observa-
se que os bolsistas de produtividade categoria 2 foram os que mais realizaram esta
modalidade de orientação (fato observado pelos pesquisadores bolsistas na área de
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Odontologia) (CAVALCANTE et al., 2008), enquanto 1 A foram os menos
envolvidos com este nível de orientação. Com relação à orientação de mestres,
novamente a categoria 2 foi a mais ativa, seguida dos níveis 1 B e 1 D. Na
modalidade doutor, o nível 1 B foi o mais ativo nesta modalidade de orientação e
a categoria 2 teve os menores índices de orientação.
Guimarães (2004) observa que os processos de capacitação de recursos humanos
em C&T alimentam a formação e consolidação dos grupos de pesquisa, formando,
no conjunto, um eficiente ciclo virtuoso executado predominantemente nas
universidades públicas a partir de meados dos anos 60. Uma relação inesperada é
apresentada pela comparação do número de pesquisadores doutores do Diretório
de Grupos de Pesquisa (CNPq) com o número de docentes com doutorado nos
programas de pós-graduação. Enquanto na Medicina e na Odontologia esta relação
tem variação muito pequena (2.482 versus 2.317 na Medicina, e 966 versus 826
na Odontologia), na Saúde Coletiva e no conjunto da área biomédica a variação
chega a 78% e 66% nas duas áreas (1.018 versus 571 e 9.224 versus 5.559),
respectivamente. Enquanto na Saúde Coletiva tal discrepância pode indicar
existência de número considerável de pesquisadores-doutores atuando em projetos
de pesquisa desvinculados da área acadêmica, na área biomédica, reflete seguramente
um elevado contingente de jovens doutores sem vínculo empregatício com
instituições de ensino e pesquisa, constituindo seu mercado genuíno de trabalho
formal (GUIMARÃES, 2004).
Gomes e Santos (2001), referindo outros autores, informam que os periódicos
científicos possuem três funções principais: o registro público do conhecimento;
conferir prestígio e conhecimento tanto aos autores quanto aos editores, referees e
assinantes; e disseminação da informação. Assim, é cabível encarar um artigo
científico sob a ótica sociológica da dinâmica das comunidades científicas, como
resultado de uma linha de investigação que, ao lado de sua produção científica,
também gera capitais simbólicos (CASTIEL et al., 2007). No tocante ainda aos
periódicos científicos, a tabela 5 apresenta os cinco periódicos científicos de origem
nacional e internacional mais utilizado pelos bolsistas para suas publicações. No
triênio analisado (2004-2006), os pesquisadores bolsistas produziram 2.327
artigos, sendo que 861 (37% do total) foram divulgados nos principais periódicos
de origem nacional, na área da Saúde Coletiva. Esses periódicos apresentam
importante destaque na área de Saúde Pública (BARATA, 2007). Por outro lado,
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123 (5,28% do total) artigos científicos foram publicados nos cinco periódicos de
origem internacionais mais encontrados no presente estudo.
É importante ressaltar a tendência para publicação em periódicos escritos em
língua inglesa. Dois estudos realizados na Argentina que verificaram a produção
odontológica, em intervalos temporais distintos, evidenciaram a tendência dos
autores para privilegiar periódicos internacionais (COLLET et al., 1997, 2006).
Mesmo quando a publicação de escolha for nacional, a indexação internacional,
que muitas vezes é sinonímia de publicação em inglês, é um fator atrativo para
os autores (LELES et al., 2006).
Os dados do presente estudo apresentam alguns problemas metodológicos
referentes às informações coletadas. Assim, como as informações foram obtidas
exclusivamente do currículo Lattes dos pesquisadores, pode haver diferenças no
preenchimento das informações pelos bolsistas. Entretanto, como o currículo Lattes
é um dos elementos decisivos no julgamento e avaliação de bolsas, captação de
recursos financeiros em editais de pesquisa, considerou-se que seria a melhor fonte
para caracterização do perfil dos bolsistas (BARATA; GOLDBAUM, 2003;
CAVALCANTE et al., 2008). Outro aspecto a ser pontuado na metodologia do
estudo diz respeito à superestimação relativa da produção científica, pois, em alguns
casos, os mesmos produtos gerados possuem mais de um autor, e dois ou mais
autores podem ser bolsistas (BARATA; GOLDBAUM, 2003).
Considerações finais
O presente estudo avaliou o perfil dos bolsistas de produtividade científica do
CNPq, na área de Saúde Coletiva. Entre os pesquisadores, houve similaridade
quantitativa entre o gênero masculino e feminino (1,03:1) e com a maioria dos
bolsistas na categoria 2 (48,39%). Observou-se ainda que os pesquisadores
encontravam-se distribuídos por 12 estados da federação, com predomínio do Rio
de Janeiro e São Paulo. Dos 155 bolsistas, 73,54% encontravam-se vinculados a
universidades e 66,45% deles concluíram o doutorado entre 5 a 15 anos. Na
produção científica, verifica-se prevalência de artigos internacionais Qualis A e C
e nacional B. A publicação de capítulos de livros foi 2,91 vezes superior ao de
livros. Quanto à orientação, verifica-se prevalência na formação de mestres, seguida
de doutores e de estudantes de iniciação científica.
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Tabela 1: Distribuição dos pesquisadores bolsistas da área de Saúde
Coletiva, segundo gênero e categorização do CNPq, no período 2004-2006
Tabela 2: Distribuição geográfica (estados da federação) dos pesquisadores
com bolsa de produtividade científica no CNPq no triênio 2004-2006
Perfil dos pesquisadores da Saúde Coletiva no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
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Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 19 [ 3 ]: 761-775, 2009
Tabela 3: Distribuição dos pesquisadores bolsistas do CNPq, segundo o
tempo de conclusão do doutorado
Tabela 4: Produção científica média dos pesquisadores bolsistas do CNPq,
em periódicos nacionais, internacionais, livros e capítulos de livros e
formação de recursos humanos (orientação de iniciação científica, mestrado
e doutorado) no triênio 2004-2006
| Suelleng Maria Cunha Santos et al. |
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Tabela 5: Distribuição dos cinco periódicos (nacionais e internacionais)
mais utilizados para publicação pelos pesquisadores do CNPq no triênio
2004-2006
*Os percentuais apresentados são referentes ao total de artigos científicos publicados no triênio
(n=2.327), ou seja, os cinco periódicos de origem nacional e os cinco de origem internacional.
Perfil dos pesquisadores da Saúde Coletiva no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
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Profile of Public Health Researchers in the National
Council for Scientific and Technological Development
Brazilian researchers have shown an increase in scientific
production associated with the publication of studies in the
literature. This study aimed to evaluate the profile of researchers
with scientific productivity grants in the Public Health area at
the National Council for Scientific and Technological
Development. We analyzed the Lattes curricula of all researchers
in the Public Health field in 2004-2006. The variables were:
gender, grant category, affiliation, time of completion of the
doctorate, national and international papers with their
correspondind Qualis, publication of books and book chapters,
guidelines for basic scientific research and master’s and doctorate’s,
and journals used for publication . Among researchers, there was
similarity of male and female (1,03:1), with most scholars in
category 2 (48.39%), spread over 12 states of the federation,
with a predominance of Rio de Janeiro and Sao Paulo . Of the
total, 73.54% of the recipients are linked to universities and
66.45% of them had completed the doctorate 5 to 15 years
before. In scientific literature, there is prevalence of international
papers Qualis A and C, and national B. The publication of book
chapters was 2.91 times that of books. As for orientation, there is
prevalence in the training of masters, followed by doctors and
scientific initiation. The journals that concentrated most of the
publications were Cadernos de Saúde Pública [Reports in Public
Health] and Revista de Saúde Pública [Public Health Journal],
respectively. Studies in other areas with similar methodologies will
enable better understanding of the national scientific production
and definition of strategies of demand-induced research.
h Key words: Key words:
Key words: Key words:
Key words: scientific production; Public Health; curriculum Lattes; Qualis.
Abstract