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Uso e conservação da negramina (Siparuna guianensis Aubl.) em Bom Sucesso,
Várzea Grande-MT*
Negramina (Siparuna guianensis Aublet.) use and conservation in Bom Sucesso,
Várzea Grande-MT
Utilisation et conservation de la negramina (Siparuna guianensis Aubl.) dans Bom
Sucesso, Várzea Grande-MT
Uso y conservación del negramina (Siparuna guianensis Aublet.) en Bom Sucesso, Várzea
Grande-MT
Carla Maria Abido Valentini**
Maria de Fátima Barbosa Coelho***
Carmen Eugenia Rodríguez Ortíz**
Juliane Dias de Almeida**
Recebido em 10/8/2008; revisado e aprovado em 18/12/2008; aceito em 18/5/2009
Resumo: Este trabalho teve como objetivo realizar um estudo da espécie medicinal Siparuna guianensis (negramina),
na comunidade ribeirinha de Bom Sucesso, localizada no município de Várzea Grande - MT. Foi usada a entrevista
semiestruturada com questões fechadas e/ou abertas e concluiu-se que sua principal forma de preparo é a decocção
das folhas, utilizada na forma de banho para alívio da gripe, febre e dores no corpo, e que este conhecimento não está
sendo repassado às novas gerações do local.
Palavras-chave : Plantal medicinal. Multidisciplinaridade. Conhecimento local.
Abstract: This work aimed to achieve an study of medicinal specie Siparuna guianensis (negramina) in the riverside
community of Bom Sucesso, located in Varzea Grande-MT city. Using the semi-structured interview with closed
questions and / or open, and concluded that its main form of preparation is a decoction of the leaves, used as a bath
to relieve flu, fever and pain in the body, and that this knowledge is not being passed to new generations of the site.
Key-words: Medicinal plant. Multidisciplinary. Local knowledge.
Résumé: Ce travail a eu comme objectif réaliser une étude de l’espèce médicinale Siparuna guianensis (negramina),
dans la communauté marginale de Bom Sucesso, localisée dans la ville de Várzea Grande-MT. S’est utilisée l’entrevue
semi-estruturada avec des questions fermées et/ou ouvertes, et s’est conclue que sa principale forme de préparation
est la décoction des feuilles, utilisée dans la forme de bain pour soulagement de la grippe, de la fièvre et des douleurs
dans le corps, et que cette connaissance n’est pas repassée aux nouvelles générations du lieu.
Mots-clés: Plantal médicinale. Muldisciplinaridade. Connaissance locale.
Resumen: Este trabajo tenía como objetivo para llevar con un estudio de la especie medicinal Siparuna guianensis
(negramina), en la comunidad marginal Bom Sucesso, situada en la ciudad de Várzea Grande-TM. La entrevista de
la mitad-structuralized fue utilizada con las preguntas cerradas y/o abiertas, y fue concluido que su forma principal
de preparación es el decoction de leves, usado bajo la forma de baño para la relevación del grippe, de la fiebre y de los
dolores en el cuerpo, y que no está siendo este conocimiento repassed a las nuevas generaciones del lugar.
Palabras clave : Plantal medicinal. Muldisciplinaridade. Conocimiento local.
*
Parte da Tese de Doutorado da primeira autora no Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical da UFMT.
** UFMT, Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical/FAMEV. Av. Fernando Correa da Costa, s/n,
Cuiabá, MT. CEP 78.060-900, E-mail: valentini@quimica.cefetmt.br.
*** UFERSA, Universidade Federal Rural do Semi-árido, Departamento de Ciências Vegetais, Programa de Pós-
graduação em Fitotecnia, Km 47 da BR 110, Pres. Costa e Silva, CEP 59625-900, Mossoró, RN. Autora para
correspondência: E-mail:coelhomfstrela@gmail.com.
INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 10, n. 2, p. 195-206, jul./dez. 2009.
Introdução
O termo “populações tradicionais”
vem sendo cada vez mais utilizado nos meios
acadêmicos e políticos, não mais com uma
conotação pejorativa, vinculada à noção de
atraso e subdesenvolvimento, como ocorria
há algumas décadas, mas como baluarte de
um pretenso “novo paradigma da moder-
nidade: o desenvolvimento sustentável”
(FLEURY e ALMEIDA, 2007).
Segundo afirma Diegues (2003), pode-
mos entender o conceito de culturas tradicio-
nais como aquelas associadas a modos de
produção pré-capitalistas, ou seja, socieda-
des em que o trabalho ainda não se tornou
uma mercadoria; nas quais há grande depen-
dência dos elementos naturais e dos ciclos
INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 10, n. 2, p. 195-206, jul./dez. 2009.
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Carla Maria Abido Valentini; Maria de Fátima Barbosa Coelho;
Carmen Eugenia Rodríguez Ortíz; Juliane Dias de Almeida
da natureza. A dependência do mercado
existe, porém não é total:
as sociedades desenvolveram formas parti-
culares de manejo dos recursos naturais que
não visam diretamente o lucro, mas a repro-
dução social e cultural, como também per-
cepções e representações em relação ao mun-
do natural marcadas pela idéia de associa-
ção com a natureza e dependência de seus
ciclos. (DIEGUES, 2003, p. 82)
Ao longo das muitas gerações, tais po-
pulações acumularam conhecimentos de sua
natureza próxima, vivenciada, desenvolven-
do capacidade ímpar de interferir no am-
biente de forma sustentável (NORDI et al.,
2001). Dessa forma, a diversidade biológica
foi sendo mantida de forma conjunta com a
diversidade cultural dessas populações.
As comunidades tradicionais, em fun-
ção da forte influência do meio natural, apre-
sentam modos de vida e cultura diferen-
ciadas, e seus hábitos estão diretamente sub-
metidos aos ciclos naturais. A forma como
apreendem a realidade e a natureza é basea-
da não só em experiência e racionalidade,
mas em valores, símbolos, crenças e mitos
(MONTELES e PINHEIRO, 2007).
A etnobotânica desponta como o cam-
po interdisciplinar que compreende o estudo
e a interpretação do conhecimento, signifi-
cação cultural, manejo e usos tradicionais
dos elementos da flora (CABALLERO, 1992),
buscando, portanto, resgatar e preservar os
conhecimentos tradicionais das pessoas em
relação às espécies, seus usos, manejos e re-
lações com o ambiente. Compreende então
o estudo das sociedades humanas, passadas
e presentes, e suas interações ecológicas, ge-
néticas, evolutivas, simbólicas e culturais com
as plantas (HEIDEN, 2006; FONSECA-
KRUEL e PEIXOTO, 2004; ALVES et al.,
2007). De acordo com Hanazaki (2003), a
etnobotânica pode ser compreendida como
o estudo das interações entre pessoas e plan-
tas, revelando a grande importância dos re-
cursos vegetais para a sobrevivência e ma-
nutenção de populações locais. Nesse senti-
do a etnobotânica da negramina (Siparuna
guianensis Aubl.) – Siparunaceae compreen-
de as interações estabelecidas pelas popula-
ções tradicionais com esta espécie, ao longo
das diversas regiões em que ocorre, refletindo
o conhecimento local acumulado.
Segundo Renner & Hausner (2005),
em muitos países da América, a decocção
de folhas da S. guianensis é usada como uma
bebida contra as desordens estomacais. As
folhas são usadas também em compressas
ou cataplasmas contra dor de cabeça e reu-
matismo. No Panamá e Guiana, extratos são
usados para matar insetos daninhos ou
como inseticidas. Na Guiana, suas folhas são
também usadas para preparar armadilhas
para peixes devido ao típico odor de sua es-
pécie, que disfarça o cheiro humano. Nas vi-
zinhanças do Suriname, o decocto feito das
folhas é usada como uma bebida ou para
um banho depois do parto. Vigneron et al.
(2005), num estudo na Guiana Francesa com
diferentes grupos e nacionalidades (Criolos,
Palikur, Galibi, Brasileiros, e Europeus),
encontraram que as folhas de Siparuna
guianensis combinadas com folhas de
Campomanesia spp. são usadas como
remédio antimalária.
No Amazonas, região das Guianas, as
folhas são preparadas como chá e tomadas
para febres, pressão arterial alta, para doen-
ças reumáticas e também contra cólicas
(PRANCE, 1972; SANTOS e PEIXOTO,
2001). A tintura da folha é muito apreciada
para tratar machucados e inchaços. Os ín-
dios Palikur usam externamente as folhas
moídas com sal para o preparo de um cata-
plasma anti-inflamatório, ou o seu decocto
para uso na forma de banho durante o parto.
Os índios de Wayãpi no Amazonas tomam
um decocto das folhas e da casca do caule
para frios, gripe e febre, administrando-o
oralmente em pequenas quantidades, mas
principalmente na forma de banhos
(LORENZI, 2002).
Ainda no Amazonas, os índios Tikuna
comem os frutos para dispepsia e indiges-
tão; os Kubeo usam as folhas para morde-
dura de serpente e fazem um chá das frutas
para aliviar congestão nasal e frios; os
Waorani esmagam as frutas e folhas para
fazer uma mistura pungente que é esfregada
no rosto e cabeça para tratar “dor de cabeça
de febre”, e uma infusão das folhas é em-
pregada como febrífugo (LORENZI, 2002).
Os índios Tacana, grupo étnico boliviano do
Amazonas, usam uma decocção das folhas
como uso externo para gripe (BOURDY et
al. 2000). Os índios Yanomami cheiram as
INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 10, n. 2 p. 195-206, jul./dez. 2009.
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Uso e conservação da negramina (Siparuna guianensis Aubl.) em Bom Sucesso,
Várzea Grande-MT
folhas amassadas, e esfregam em suas cabe-
ças e corpos para vertigem (MILLIKEN e
ALBERT, 1996).
O uso de S. guianensis tem sido relata-
do com frequência em diversos estados bra-
sileiros. Rodrigues et al. (2002), citam o uso
da espécie pela população de Luminárias,
Minas Gerais, como tendo poderes sobrena-
turais, em banho de descarrego e, no merca-
do de Madureira-RJ, segundo Arjona et al.
(2007), a espécie também é vendida para esta
finalidade.
Na comunidade Mumbuca, em
Jalapão, no Tocantins, faz-se o uso de sua
infusão como analgésico (ROCHA-COE-
LHO e SANTOS, 2008). Na região do Alto
do Rio Grande, em Minas Gerais, faz-se uso
do decocto ou infusão de toda a planta como
anti-inflamatório, carminativo, estimulante,
na cefalalgia, nas gripes, resfriados e sua
cataplasma, compressa ou banho é usada
para reumatismo (RODRIGUES e CARVA-
LHO, 2001). Souza & Felfili (2006), também
citam seu uso pela população de Alto Paraíso
de Goiás para coluna, reumatismo e artrite.
Em estudos nas comunidades rurais limítro-
fes à Reserva Biológica de Poço das Antas,
no Rio de Janeiro, faz-se uso de seu caule
como combustível. Nessas comunidades, o
caule fornece a lenha para alimentação dos
fogões, fornos e tachos para o beneficiamento
de produtos agrícolas (CHRISTO et al. 2001;
PINTO SOBRINHO, 2007).
No estado de Mato Grosso foram reali-
zados alguns estudos etnobotânicos com a
espécie, e neles ela é citada pelo nome popu-
lar de negramina. Carmona e Guarim Neto
(2001) relataram que no leste do estado as
folhas da espécie são utilizadas na forma de
banho para sinusite. Souza (1992) também
relata em sua pesquisa com moradores da
comunidade ribeirinha do Coxipó do Ouro
o uso das folhas em banho para dores no
corpo. No Alto Coité, em Poxoréo, as pessoas
utilizam um semonte – folhas secas junto ao
fogo, moídas e misturadas ao fumo ou pu-
ras, para cheirar e uso tópico – para curar
“malina”, que é descrita como uma dor de
cabeça causada pela exposição demasiada
ao sol, que provoca corrimento de sangue
nasal (SOMAVILLA, 1998). No Vale do
Aricá, município de Cuiabá, as folhas são
utilizadas na forma de chá e banhos para
fraqueza e também para malina (PASA,
1999), e na Aldeia Pakueran, em Parana-
tinga, as folhas são fervidas e utilizadas em
banho para febre e “quentura” na cabeça,
espécie de enxaqueca (SCHIMOLLER, 1997).
Em Nova Xavantina, o sumo de suas folhas
com mastruz (Chenopodium ambrosioides) é
relatado como medicinal para pós-operató-
rio. Suas folhas são utilizadas como repelen-
tes nos galinheiros para piolho de galinha, e
também para uso em rituais espirituais
(DUARTE, 2001). Fontelle (2001) relatou as
indicações de raizeiros, que recomendam o
uso da folha na forma de decocto e infuso
para malina, resfriado e banho de descarre-
go para mau-olhado, podendo para isso ser
associada à quina, assim como para
hipetermia e hemoptise.
Muitas sociedades tradicionais possu-
em uma vasta farmacopéia natural, prove-
niente dos recursos vegetais encontrados nos
ambientes naturais e, atualmente, é impor-
tante avaliar a interação destas populações
com os recursos naturais de que dispõem
(AMOROZO, 2002). Assim, o objetivo deste
estudo foi verificar o interesse, a forma de
exploração e uso da S. guianensis por mora-
dores de uma comunidade ribeirinha, em
Bom Sucesso, no município de Várzea
Grande, estado de Mato Grosso.
Materiais e Métodos
Área de estudo
A comunidade ribeirinha Bom Sucesso
(15°42’54,23"S e 56°06’21,64"O) é um dos
distritos do município de Várzea Grande-
MT criado pela lei n. 126, no dia 23 de de-
zembro de 1948, e confirmada por lei 9.583
no dia 24 de dezembro de 1948, situada às
margens do rio Cuiabá, a 152 m metros aci-
ma do nível do mar (Figura 1).
O município de Várzea Grande, com
extensão territorial de 949,53km
2
, está loca-
lizado no Estado de Mato Grosso, fazendo
limites com as cidades de Cuiabá, Acorizal,
Jangada, Santo Antônio do Leverger e Nossa
Senhora do Livramento, tendo sido designa-
da pelo Projeto Radambrasil (1982) como
uma região da Depressão Cuiabana.
A estimativa da população de Várzea
Grande, segundo o Instituto Brasileiro de
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Carla Maria Abido Valentini; Maria de Fátima Barbosa Coelho;
Carmen Eugenia Rodríguez Ortíz; Juliane Dias de Almeida
Geografia e Estatística, (IBGE) para 2004, foi
de 242.674 habitantes, e para Bom Sucesso,
de 2.757 habitantes, sendo 2.211 na zona
rural e 546 na zona urbana.
Figura 1 - Localização do Distrito de Bom
Sucesso no Município de Várzea Grande-MT.
Fonte: http://maps.google.com.br (modificado).
Do ponto de vista geomorfológico, a
região possui a topografia rebaixada em tor-
no de 150 a 200m de altitude, sendo carac-
terizada por relevo de planície, desenvolvido
sobre rochas pré-cambrianas fortemente de-
formadas (FUNASA, 2007).
O clima de Várzea Grande está na ca-
tegoria Aw da classificação de Köppen, tro-
pical semi úmido. Caracteriza-se por apre-
sentar duas estações bem definidas: a seca,
que vai de abril a outubro, e a chuvosa, que
vai de novembro a março. A pluviometria
média anual da região oscila em torno de
1.350mm, com sazonalidade marcada por
dois períodos bem distintos: no verão, verifi-
cam-se os maiores índices pluviométricos,
que oscilam entre 1.000 e 1.500mm e na, es-
tação seca, a precipitação chega a ser quase
nula. (INMET, 1996, p. 1997).
A temperatura média anual é de 26ºC,
com temperaturas mínimas próximas a 15º
C, em julho e, máximas superiores a 32º C,
em outubro. A umidade relativa do ar varia
muito, com a média anual em torno de 74%
(FUNASA, 2007).
O solo é classificado como argissolo ver-
melho amarelo distrófico, de textura areno-
sa/média (MACHADO et al., 2009). A
vegetação é composta por savana arbórea
aberta (cerrado), capoeira e mata ciliar
(OLIVEIRA, 2008).
Bom Sucesso está situada a 15 quilô-
metros do centro de Várzea Grande, é um
lugarejo formado por ruas estreitas, com sua
rua principal, paralela ao rio, com mais de
um quilômetro de extensão, calçada com blo-
cos de cimento e ladeada por casas, geral-
mente próximas umas das outras, com pou-
cas cercas ou muros, quintais grandes e arbo-
rizados, e portas que se abrem no passeio,
onde as pessoas costumam sentar (CAMPO,
2006).
Nessa rua principal, podem-se ver as
peixarias e os engenhos e, sobre as fornalhas,
grandes tachos de cobre nos quais fazem
rapadura. Vê-se mais: bois pastando nos es-
paços verdes e, ao fundo, o rio Cuiabá e seus
pescadores em suas estreitas canoas, vê-se a
mata ciliar, ainda preservada (CAMPO,
2006).
O distrito, hoje, tornou-se rota turísti-
ca, porque os restaurantes instalados à beira
do Rio Cuiabá servem os peixes da cozinha
tradicional, verdadeira atração turística de
toda a região, além das rapaduras ali fabrica-
das que são também atrativos de Bom Su-
cesso.
Coleta de dados
Os dados foram coletados nos meses
de outubro e novembro de 2008, sendo apli-
cada a técnica de entrevistas semiestrutu-
radas (ALBUQUERQUE et al., 2008), cujas
questões compreenderam os aspectos socioe-
conômicos, culturais, conhecimento e uso da
negramina (S. guianensis), gravadas em fita
microcassete (Gravador Olympus mod.
Pearlcorder S701) com a permissão dos en-
trevistados, escolhidos primeiramente ao
acaso, com questões fechadas e/ou abertas
(Anexo 1), e depois intencionalmente, para
que se tivesse uma abrangência das diferen-
tes faixas etárias da comunidade, de forma
a investigar a transmissão do saber local dos
mais velhos para os mais novos.
Resultados e Discussão
Aspectos socioeconômicos
Foram entrevistadas 24 pessoas da co-
munidade; 13 homens e 11 mulheres, sendo
20 deles nascidos e criados em Bom Sucesso,
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Uso e conservação da negramina (Siparuna guianensis Aubl.) em Bom Sucesso,
Várzea Grande-MT
dois nascidos em outras comunidades da
Várzea Grande (Engordador e Pai André),
um em Cáceres-MT, e outro em Cuiabá-MT,
porém esses que não nasceram moram no
local desde que se casaram ou foram criados
lá. Segundo Coradini (2006), em Bom
Sucesso, a construção da identidade se dá
nas relações de acontecimentos passados im-
portantes para essas pessoas. Segundo
Gimènez (2000) esta seria a identidade his-
tórica e patrimonial, pois os moradores, em
sua grande maioria, são todos nascidos nes-
ses lugares, assim são poucos os “estranhos”,
como são chamadas as pessoas que não nas-
cerem nas comunidades, prevalecendo os
laços de consanguinidade, que aliados a ou-
tros fatores, consolidaram práticas sociais e
culturais que foram passadas de geração em
geração e que ainda fazem parte da vida das
pessoas.
A faixa etária variou de 15 anos a
mais de 86, mas a faixa de 66 a 75 anos
correspondeu ao maior número de entrevis-
tados (29,2%), conforme verifica-se na Figu-
ra 2. Resultados semelhantes foram encon-
trados em Caruaru-PE, por Florentino &
Albuquerque (2007), onde a idade dos entre-
vistados variou entre 20 e 80 anos.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
15-25 26-35 36-45 46-55 56-65 66-75 76-85 mais de 86
anos
faixa etária
número de entrevistados
A maioria dos entrevistados estudou
em Bom Sucesso, sendo que mais da metade
deles cursou apenas os quatro primeiros
anos escolares .
Dos entrevistados, mesmo os aposen-
tados e os do lar ainda trabalham, ajudando
no sustento da família, fazendo rapadura,
na roça, na criação de animais, na pescaria
de subsistência, fazendo “bicos” nas peixa-
rias do local, ou seja, todos têm uma história
relacionada ao Rio Cuiabá, e as atividades
que construíram no local relacionadas em
torno dele. As atividades de comércio englo-
bam a venda de rapadura (Figura 3).
Figura 2 – Faixa etária dos entrevistados em Bom Sucesso, Várzea Grande-MT.
do lar
aposentado
pescador
lavrador
cerâmica
comércio
apenas estuda
c
Figura 3 – Atividades dos entrevistados em Bom Sucesso, Várzea Grande-MT.
A relação com o rio Cuiabá é de tal
importância que seu Joaquim, conhecido
como Painha, terminou a entrevista dizen-
do em tom de preocupação: “O Rio está mor-
rendo, está no hospital, está na UTI...”
Esse conhecimento, esse saber que os
pescadores desenvolveram ao longo da his-
tória com o meio ambiente, nos dá lições de
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Carmen Eugenia Rodríguez Ortíz; Juliane Dias de Almeida
como transpor a própria sina, pois os homens
e mulheres da pesca artesanal existem e resis-
tem fortalecidos pelo aprendizado de como
conservar e manejar sustentavelmente os
recursos naturais e a biodiversidade, desen-
volvido ao longo de gerações com a natureza
(SILVA, 2007). Por tal importância, e pelas
entrevistas terem permitido que as pessoas
se expressassem sobre o lado histórico e cultu-
ral, a seguir algumas falas que exemplificam
a tristeza que sentem ao comparar o Rio
Cuiabá de ontem e de hoje, e o conhecimento
das causas da morte desse Rio, que não po-
deriam deixar de ser registradas.
[...] peixe: tem poco, poco, poco... Das quatro
da manhã até sete e meia não dá nada... O
Rio manso acabou com o Rio Cuiabá... O Rio
Manso criou seca... O Rio Cuiabá não cria o
peixe, no Rio manso que cria o peixe... Oia
eu pegava peixe aqui... dava demais de pei-
xe, ficava peixe ai que não tinha pra quem
vendê, pra quem dá... (Nhá Dita, 91 anos)
[...] pega agora só piau... Lá no pantaná que
cria o peixe... (D. Genil, 54 anos)
Pesco quando dá folga... Pego pra comê e
vou embora... Na época das água pega pin-
tado... agora piau, geripoca... fechô a barra-
gem lá acabou... (Seu José Narciso, 61 anos)
Aqui relacionam a falta de peixe do rio
Cuiabá com a construção da barragem do
rio Manso, em 1999. Sendo assim, o nível
máximo do Rio Cuiabá a partir desta data
passou a ser determinado pela APM-Manso
e como provável consequência, algumas
áreas deixarão de ser inundadas. O rio Man-
so é o principal formador do Cuiabá, um dos
rios pantaneiros mais importantes. Os peixes
que fossem subir para desovar vão encontrar
na hidrelétrica um obstáculo intransponível.
Conhecimento, uso, manejo e
conservação de S. guianensis
Dos entrevistados 66,7% conhecem e
ainda usam a S. guianensis, 12,5% conhecem,
mas não fazem mais uso, 12,5% já ouviram
falar, mas nunca usaram, e 8,3 nunca nem
ouviram falar. Constatou-se que o conheci-
mento dos mais velhos sobre a S. guianensis,
não está sendo assimilado pela geração mais
jovem que, na sua maioria, alegou não co-
nhecer e nunca ter usado, ou ter abandona-
do o uso da espécie.
Dos entrevistados que fazem ou fa-
ziam uso da negramina, todos disseram que
cozinhavam as folhas da planta, esperavam
esfriar e usavam na forma de banho, indica-
do para algumas enfermidades e sintomas
descritos na Figura 4 que também mostra o
número de citações pelas pessoas.
0 1 2 3 4 5 6
gripe
febre
quentura na cabeça
dengue
dor de cabeça
dor no corpo
criança com dente nascendo
suação na cabeça
mau-humor no corpo
reumatismo
sinusite
malina
quando sai sangue do nariz
nariz entupido
machucadura que não cicatriza
número de citações
Figura 4 – Uso medicinal citado pelos entrevistados, em Bom Sucesso, Várzea Grande-MT.
As citações das enfermidades foram
transcritas da forma como foram anotadas
nas entrevistas, e a seguir, alguns trechos des-
sas transcrições relatadas pelas pessoas que
ainda usam S. guianensis. São as pessoas mais
idosas, que são as detentoras das informações
passadas de gerações anteriores, e que for-
mam verdadeiros núcleos de resistência
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Uso e conservação da negramina (Siparuna guianensis Aubl.) em Bom Sucesso,
Várzea Grande-MT
perante as mudanças que se impõem na co-
munidade.
Remédio assim pra banho pra criança, pra
pessoa que sofria de dor de cabeça é ideal.
Folha e galho pra tomar banho, pra beber é
ruim... ruim ruim, ruim mesmo... Pra febre
vai sarar, pra gente que tem quentura na
cabeça...
[...] Tradição, a medicina era difícil, o pri-
meiro socorro era o mato, a gente passa... (Seu
Painha, 78 anos)
Desde menina já pegava pra dar banho no
criança quando tá com gripe... a folha... Vi
minha mãe fazer. (D. Lucinda, 68 anos)
Refresca a cuca, febre.... é bão cozinhá a fo-
lha.... Folha dele com erva de bicho , chá de
frade... tá com gripe muito forte, febre, banho
dele, toma com quarqué comprimido é bom
demais... bebe um bocadinho não tem pro-
blema... Os avó fazia, a gente acompanha a
direção certa... (Seu Cirilo, 73 anos)
Remédio pra tomar banho lavar cabeça de
criança, cheiroso... não usa pra beber, só pra
tomar banho, minha mãe me ensinou... quen-
tura na cabeça, quando tá nascendo dente...
(D. Maria Clara, 71 anos)
Dá banho no criança, assim desde a cabeça,
pra modi febre, as coisas assim que criança
tem... (D. Zulmira, 81 anos)
A folha é bom pra dengue, toma banho... Pra
criança quando tá muito gripada, tá com
nariz entupido, ao invés de fazer aerosol
toma banho com negramina... Eu cozinho
pra dar banho na criança, até mesmo pra
mim... (D. Teonila, 75 anos)
Negramina é bom pra malina, pra dar banho
no criança [...] Malina dá de sol, pessoa que
pega muito sol, dá suação na cabeça. (Nhá
Dita, 91 anos)
[...] cozinha pra fazê banho, pro causa de
gripe, pra lavar cabeça, né... Aprendi usar
com minha mãe... (D. Buguela, 70 anos)
Ela é usada mais pra banho, as vez a pessoa
tem assim um mau-humor no corpo, dor no
corpo, uma espécie assim de um reumatis-
mo... (Seu Fião, 68 anos)
[...] cozinha, deixa ele fria, e depois nois lava
a cabeça que é bom pra malina. (Seu Davi,
58 anos)
Preparo, uso pra tomar banho pra dor na
cabeça, das vez sai sangue do nariz, toma
banho de cabeça [...]. (Seu Arlindo, 59 anos)
Esta predominância de uso tópico em
banho para malina repete-se nos estudos fei-
tos por Carmona e Guarim Neto (2001), no
leste do estado; Souza (1992) no Coxipó do
Ouro; Somavilla, (1998) em Poxoréo; Pasa,
(1999), no Vale do Aricá e Schimoller, (1997)
na Aldeia Pakueran, em Paranatinga.
Das pessoas que citaram o banho com
negramina, três recomendaram este banho à
noite, e que, após o mesmo, deve-se fazer dieta,
ou seja, deve-se rebuçar e só sair no outro dia.
Minha mãe fazia com nois... a criança tava
com febre, aquela febre que não cortava, aque-
le que se pegava nele assim, tava com olho
vermelho [...] a mãe fazia o remédio , era esse
aí... fazia o chá de negramina, banho da
negramina, mas não podia pegar vento...
porque ele é quente, dava o banho na crian-
ça, enleava ele, guardava ele, dava um
melhoral infantil, anador, noutro dia a
gurizada tava correndo, cortava febre, cor-
tava dor, cortava tudo [...]. (Seu José, 54 anos)
Cozinha a folha, só que ele é um pouco quen-
te, ai deixa ela amorná, ai fica bem fresqui-
nha... ai vamos supor [...] é melhor tomar
assim num lugar aberto, ai outro dia cedo
não toma banho na água fria, deixa aquilo
passá [...]. (Seu Fião, 68 anos)
Minha mãe ensinou uma amiga a tomar ba-
nho de cabeça inteira, e entrar embaixo de
um pano, pois ela sarou [...] ela tinha muita
dor de cabeça [...] mas tem que ter a dieta,
porque ela é quente [...]. (D. Lucila, 40 anos)
Um dos entrevistados recomendou
cozinhar as folhas da negramina com erva
de bicho e chá de frade para gripe, outro
disse que o banho é melhor se misturar as
folhas de negramina com erva de bicho,
folhas de tamarindo e folhas de eucalipto, e
um terceiro ensinou a usar ela cozida com
um pouco de sal. Apenas dois disseram que
pode beber o chá, mas que é ruim.
Três entrevistados citaram também o
uso da casca dos galhos em vinho branco
para reumatismo:
A casca da madeira, eu já até tomei ele... diz
que pra coluna, no vinho branco... (D.
Lucinda, 68 anos)
Um senhor daqui usa a casca pra por no
vinho... diz que é muito bom pra reumatis-
mo. (D. Teonila, 78 anos)
[...] cunhado pegô pro pessoal de Várzea
Grande... casca põe no vinho pra reumatis-
mo... (Nhá Dita, 91 anos)
INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 10, n. 2, p. 195-206, jul./dez. 2009.
202
Carla Maria Abido Valentini; Maria de Fátima Barbosa Coelho;
Carmen Eugenia Rodríguez Ortíz; Juliane Dias de Almeida
O uso contra o reumatismo, apesar de
não ser frequente, também foi relatado nas
Guianas por Prance, (1972); Santos e
Peixoto, 2001 e por Renner e Hausner (2005).
Mesmo que não utilizem mais a negra-
mina, alguns entrevistados mantêm viva a
memória de seu uso e explicam o que apren-
deram com seus pais e avós:
A negramina, antigamente, o pessoal, minha
mãe, minha avó [...] em uma machucadura,
uma dor de cabeça, naquela época quando a
criança saia pra brincar, e vamos supor ti-
nha uma cortadura que tava demorando pra
cicatrizar, ai fazia a negramina, cozinhava
e lavava com ele, e cicatrizava. Minha mãe
usava muito pra dor de cabeça, assim... pe-
gava a negramina, moiava o pano e punha
na testa aquele pano moiado, dormia, no
outro dia tava bom.Se especialmente mulher
tava com dor de cadeira, dores no corpo, chá
de negramina, e banho com sal, deixava es-
friar, punha o sal, fazia aquela salmora com
negramina, rebuçava a pessoa, no outro dia
a pessoa suava e a febre ia embora. (Seu
José, 54 anos)
Aprendi com minha mãe[...] Cozinha a fo-
lha e dá banho na cabeça, modi falava malina
lá no sitio, pra modi dor na cabeça... (D. Ana
Maria, 47 anos)
Meu pai me ensinou [...] a gente tá com gri-
pe, com aquela dor no corpo, mistura com
outras foias do mato, esse erva de bicho, que
dá nesse lugar de brejo,e aquele folha de
tamarino, eucalipto, a gente faz aquele ba-
nho, mistura tudinho e põe na panela com
água e põe pra ferver no fogo, toma banho
com caneca, de cabeça...toma mais é à tarde,
e a noite não sai de casa. (Cirilo Filho, 27
anos).
A área de coleta pela comunidade era
mais acessível antigamente. Apesar de o rio
Cuiabá e além-margem não serem mostrados
como limites do território para a comunida-
de, uma das justificativas para o abandono
do uso desta espécie é a distância que a co-
munidade tem que percorrer para buscá-la,
pois é unânime, nas entrevistas, que a negra-
mina só é encontrada do outro lado do rio,
próximo ao Morro de Santo Antônio, ou seja,
necessitam de canoa e ainda andar alguns
quilômetros a pé para chegar ao local. Além
da alegação de alguns que o local foi loteado
e cercado, muitos já estão idosos, dependem
de outras pessoas para buscarem a planta, e
nem sempre há esta disposição dos mais
novos que acham mais fácil comprar um re-
médio na farmácia.
Reconhecido como patrimônio históri-
co, cultural e ambiental pela lei estadual
7.381/01, de 2002, o Morro de Santo Antônio
(15°45’58,64"S e 56°05’45,50"O) está locali-
zado às margens do rio Cuiabá, a 500 metros
do nível do mar, no município de Santo An-
tônio do Leverger. Em relação a Bom sucesso
está do outro lado da margem do rio.
Um morador, que é bisneto do funda-
dor da comunidade, seu Petrolino, conhecido
como Fião, dá uma descrição de como co-
nheceram e como era o local de coleta:
A gente campeava, a gente tinha umas cria-
ção... na oportunidade de campear é que a
gente conheceu esse lugar... tinha uma
comunidadezinha por nome Guanami,que
fica logo pertinho lá, pertinho desse corgo,
travessa o corgo Cascavel, já logo tá chegan-
do pertinho do Guanami. Era um comuni-
dade de 4 a 5 moradores... Hoje lá eles ven-
deram, é uma fazendinha lá... Dá pra chegar
de a pé, de cavalo, hoje lá já ficou o local, já é
fundo do loteamento da Cachoeira de Pól-
vora, por aqui parece 2 horas, distância qua-
se daqui na Várzea Grande.
Os moradores apontam encontrá-la
próximo a um córrego, e em campo aberto,
mas não na beira do rio. A seguir, alguns
depoimentos de outros entrevistados sobre
o local onde a espécie é encontrada e que
deixam claro que é do outro lado do rio, pró-
ximo do morro de Santo Antônio.
A negramina nós temos lá do outro lado do
rio, lá perto do morro tem um Córrego do
Morrinho, chamado de Cascavel. Chega do
outro lado de canoa, leva umas 3 horas. (Seu
Painha, 78 anos)
Oia nois pegava lá do outro lado do rio, mas
agora faz muito tempo que não pego [...] Fi-
cou difícil venderam pra lá, ficou tudo
loteado, cercaram [...] Oia num sei faz muitos
anos que não vou pro outro lado [...] É pranta
de campo, ele nasce na terra do campo, não
nasce na beira do rio... Atravessa de canoa e
anda um pedação. (D. Lucinda, 68 anos)
Negramina, lado de lá do rio...Cerração.... na
beira do corgo sempre tem ele. Ele é nativo,
dá no campo, 2, 3 Km da beira do rio. (Seu
Cirilo, 73 anos)
Beira do morro de Santo Antônio... Eu nun-
ca fui ... (D. Ana Maria, 47 anos)
Longe...pé do morro.. Mato cerrado, não dá
perto do rio... Quando eu casei meu marido
INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 10, n. 2 p. 195-206, jul./dez. 2009.
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Uso e conservação da negramina (Siparuna guianensis Aubl.) em Bom Sucesso,
Várzea Grande-MT
ia lá pegar [...] Antigamente usava, agora
nem num usa mais [...] vizinho meu manda
pegar pra mim. (D. Maria Clara, 71 anos)
Do outro lado do rio, sempre tem gente que
vai pra lá... eu mesmo quando vou arrancar
minhoca lá pra esse lado eu pego... (Seu
Donato, 47 anos)
Ah... negramina é longe, fica perto da estra-
da de Santo Antônio [...] Barco e ai anda 3500
metros... vai de manhã e chega meio di a[...]
Quem sempre panha pra mim é o meu véio
quando ele vai pra lá dar uma olhada no
terreno. (D. Teonila, 75 anos)
Aui! A gente vai bem longe pra pegá ...Tem
vez quando a gente qué, tem uma dona que
mora do outro do rio, a gente encomenda
pra ela, ela acha que fica mais fácil do que
pra nois ir daqui lá pegá...Ela traz pra gen-
te... (D. Genil, 54 anos)
A negramina só tem numa região aqui, que
nois fala é... cascavel, do outro lado do rio,
somente lá. Quando a pessoa tem necessi-
dade, ai fala com esse meu primo, ele vai lá e
pega aquela quantia... (Seu Fião, 68 anos)
Se encontra longe... lá naquele morro é que
tem ele [...] Ela não dá em beira de rio, só no
campo mesmo. Atravessa de canoa e depois
anda a pé... Nós iamos uma turma, agora o
pessoal tá recuando de ir lá.... não sei, eu
mesmo faz 3 anos que não vô... agora vai
gente, mais muito pouco... (Seu Davi, 58
anos).
Nesse mundão pra lá ...perto da estrada de
Santo Antônio , pra lá que pega.. Pra ir lá
tem que ir de canoa, e depois anda a pé... (D.
Buguela, 70 anos).
Do outro lado do rio que tem... Quando não
é eu, é o meu irmão que pega também... (Cirilo
Filho, 27 anos)
Sobre a época de coleta, três entrevis-
tados disseram sobre a antiga tradição de
pegar a negramina na Semana Santa para o
ano inteiro, dois recomendaram em qualquer
época depois da brotação, e os demais em
qualquer época. Como apenas quatro entre-
vistados afirmam conhecer a flor da espécie,
e apenas dois o fruto, supõe-se que fazem a
coleta da negramina no seu estágio vegeta-
tivo. Vale ressaltar que pelo acompanhamen-
to da fenologia da espécie em Cuiabá, a se-
mana de Páscoa coincide com o período
vegetativo da espécie, após a queda de fru-
tos que ocorre em fevereiro e março.
A gente ia na Semana Santa naquele morro...
naquele morro tem medicina... lá que tem...
[...] na Semana Santa porque é tradição, o re-
médio é mais forte... sei lá... a gente obedecia o
que os mais veio falava, agora a gente pega
qualquer hora. (Seu Painha, 78 anos)
A negramina, antigamente, o pessoal, minha
mãe, minha avó, tudo na época de Sexta-fei-
ra Santa, até eu era criança, esse... ela saia
daqui, ia lá nesse morro de Santo Antônio
pra pegá essa negramina pra fazê... usá o
ano inteiro.
[...] aí pegava a erva, vinha de lá colocava
pra secá, aí deixava aí... (Seu José, 54 anos)
Costume... nois saia quinta feira meia noite
e ia amanhecer lá na Sexta-feira Maior, em
cima do morro, e de dia vinha embora... nes-
ta data é que dá de nois ir lá...então lá tem
muito remédio... remédio de todo tipo lá...
Nóis pega nesse dia lá, e nois guarda e ela
seca... (Seu Davi, 58 anos).
Com relação à quantidade de plantas
da espécie no local de origem, há uma con-
tradição entre os entrevistados, pois alguns
acham que a quantidade diminuiu princi-
palmente devido às queimadas, e outros
acham que o local permanece preservado.
Dos que citaram a época das queimadas
e da seca, foi unânime o fato de que a ne-
gramina rebrota depois da chuva, pois disse-
ram que o fogo não atinge a raiz da espécie.
A seguir, alguns depoimentos sobre a época
em que vão buscá-la, e como está o local.
A quantidade de negramina, diminuiu, es-
tão desmatando... (Seu Painha, 78 anos)
Não diminuiu nada a quantidade [...] beira
do corgo... rodas de negramina [...] agora cai
um pouco da folha porque tá muito quente,
mas na beira do corgo sempre tem ele... (Seu
Cirilo, 73 anos)
Mas agora tá difícil por causa da desordem
dos fogo, tacação de fogo queimou tudo... só
depois que chovê é que ela vai brotar... a raiz,
ela rebrota... é planta nativa... não diminuiu
a quantidade... ela brota, basta começá cho-
vê... (D. Teonila, 75 anos)
Não diminuiu...e outra que o pessoal não
pega... só quando é percisão... (Nhá dita, 91
anos)
Agora na época de seca ta difícil... a turma
taca fogo no campo, queima tudinho... não
acha de jeito nenhum, só na beira do corgo,
num corguinho sempre tem...
INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 10, n. 2, p. 195-206, jul./dez. 2009.
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Carla Maria Abido Valentini; Maria de Fátima Barbosa Coelho;
Carmen Eugenia Rodríguez Ortíz; Juliane Dias de Almeida
Depois que pega fogo, volta a brotar porque
as vez não ofende, o fogo passa e não ofende
a raiz dela, quando chove ela... (Seu José
Narciso, 61 anos)
A quantidade não diminui, porque ela não é
muito assim buscada né... E que lá ficou as-
sim um lugar preservado que não tem pas-
sagem de fogo, é beira de corgo, ela tem as-
sim aquela conservação, ela praticamente
quase que não aumenta e nem acaba...e é só
nessa região que deu ela... (Seu Fião, 68 anos)
Tem bastante, mas agora com certeza acho
que diminuiu um pouco, acho que é muita
seca, e a turma põe fogo lá também né...mas
tem...depois que pega fogo rebrota... Nas
águas ele reforma tudo... (Seu Davi, 58 anos)
Qualquer época do ano dá, mas as vez o fogo
bate neste local, ai o fogo queima, e ai tem
que esperar ele chover pra rebrota... (Cirilo
Filho, 27 anos)
Sobre o fato de passarem a negramina
para pessoas de fora da comunidade, apenas
dois entrevistados citaram que pessoas de
fora encomendam a planta.
[...] cunhado pegô pro pessoal de Várzea
Grande... (Nhá dita, 91 anos)
As criança vai lá panhá... encomenda pra
Souza Lima, Cuiabá, pega feixe dele, e o pes-
soal vem buscá... até do Santo Antônio vem
buscá... Sempre pessoal de Souza Lima en-
comenda pra nóis... (Seu Cirilo, 73 anos)
Além de não conhecerem a S.
guianensis em seu estado reprodutivo, os en-
trevistados nunca fizeram tentativas de
propagá-la, o que não pode ser interpretado
como um descaso com a espécie. Segundo
Diegues (2003), para as sociedades tradicio-
nais, o território, diferente das sociedades
urbanas, é descontínuo (áreas de pousio,
áreas de pesca usadas em apenas parte do
ano), ou seja, há um sistema de manejo de
recursos naturais marcado pelo respeito aos
ciclos naturais, à exploração dentro da
capacidade de recuperação das espécies de
animais e plantas utilizadas. Este pensamen-
to ficou bem expresso nesta frase de seu
Painha: “Onde ter fartura pra panhá nin-
guém planta...”
Pôde-se observar que os mais jovens já
tinham ouvido falar da negramina, mas não
sabem sobre o uso, e outros nunca ouviram
falar, levando a uma reflexão se o saber local
está se perdendo nas novas gerações. Con-
forme Amorozo (1996), a passagem de co-
nhecimento é feita a partir de contato in-
tenso entre gerações, principalmente em gru-
pos domésticos e de parentesco. Mas com a
vida atual, esse contato é cada vez mais raro.
Amorozo (2002) ao pesquisar três comuni-
dades rurais de Santo Antônio do Leverger,
afirma que a “modernização” traz consigo
novas opções de cuidados com a saúde, e
certa desvalorização da cultura local. Os jo-
vens formam o grupo mais sensível, refor-
çando a tendência à perda ou abandono das
práticas tradicionais.
Shanley e Rosa (2006) estudando o co-
nhecimento tradicional numa comunidade
na Amazônia afirmam que, apesar dos ha-
bitantes locais conhecerem a utilidade de
muitas espécies, o uso ativo de certas espécies
tem declinado. Tal declínio foi demonstrado
através de afirmações frequentes, tais como,
minha avó usava, nós não a usamos mais.
Particularmente para fins tecnológicos e al-
guns fins medicinais, muitos usos de plantas
existem, principalmente na memória das
pessoas, sendo questionável se a identifica-
ção das espécies, os regimes de coleta e as
técnicas de processamento podem sobreviver
mais do que poucas gerações, uma vez que
não são praticados.
Para Fleury e Almeida (2007), deve-se
também considerar que as populações tra-
dicionais não são exclusivamente aquelas
que mantêm padrões imutáveis ao longo dos
anos. Pelo contrário, seria justamente na
adaptação aos novos contextos, sem ferir
seus valores tradicionais, que estaria a sua
sustentabilidade.
Essa transformação pode ser observa-
da na comunidade de Bom Sucesso que,
mesmo mantendo muitos dos seus costumes,
também se caracteriza por uma situação
socioeconômica em transformação; o con-
fronto entre modos de pensar e agir tradici-
onais, e as novas idéias e costumes trazidos
com o contato intensificado nas décadas re-
centes com a sociedade nacional reflete-se
também nas questões ligadas à saúde e à
doença. Essa idéia foi muito bem traduzida
nas palavras do seu José, 54 anos:
Olha hoje não busca mais a negramina, você,
sabe... tá tudo moderno... qualquer coisinha
já é médico, o pessoal já abandonaram esse
lado...
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205
Uso e conservação da negramina (Siparuna guianensis Aubl.) em Bom Sucesso,
Várzea Grande-MT
Deste modo, as formas de manejo dos
recursos naturais das comunidades tradicio-
nais, suas formações simbólicas, suas práti-
cas culturais e suas técnicas tradicionais que
representam o saber de várias gerações que
vivem da e para a natureza (PASA, 2007)
precisam ser investigados, documentados e,
principalmente, restaurados por meio de pes-
quisas que dêem suporte para que isso não
se perca com o tempo.
Conclusões
A S. guianensis é conhecida por
negramina e a principal forma de preparo é
a decocção de suas folhas para se utilizar na
forma de banho, especialmente para gripe,
febre e dor no corpo. A comunidade não tem
conhecimento da propagação e da fenologia
dessa espécie. A Comunidade de Bom Suces-
so, a exemplo de outras comunidades tradi-
cionais, vive no embate entre as tendências
inovadoras e conservadoras, e os mais jo-
vens não a conhecem, ou não fazem uso da
espécie.
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