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Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.12, n.1, p.31-42, 2010.
Uso e diversidade de plantas medicinais da Caatinga na comunidade rural de
Laginhas, município de Caicó, Rio Grande do Norte (nordeste do Brasil)
ROQUE, A.A.1*; ROCHA, R.M. 2; LOIOLA, M.I.B.1
1Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente (PRODEMA/UFRN), Herbário UFRN, Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia, Campus
Universitário, Lagoa Nova, CEP: 59720-970, Natal-Brasil. *alan.ufrn@gmail.com 2Departamento de História e
Geografia, UFRN, CEP: 593000-000, Caicó-Brasil
Recebido para publicação em 04/11/2008
Aceito para publicação em 10/11/2009
RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo identificar as formas de uso de plantas medicinais
nativas do bioma Caatinga, em comunidade rural no município de Caicó, Rio Grande do Norte
(Nordeste do Brasil). Utilizaram-se entrevistas semi-estruturadas e estruturadas buscando
informações, junto a especialistas locais, sobre o uso das plantas. São descritos os usos
medicinais de 62 espécies, reportadas por 12 informantes (mateiros, rezadeiras, raizeiros,
agricultores e donas-de-casa) com idade superior a 35 anos. As famílias com maior
representatividade na consulta foram Fabaceae (13 spp.), Euphorbiaceae (6 spp.) Cactaceae (3
spp.) e Lamiaceae (3 spp.). Para revelar as espécies mais importantes foi considerado o grau de
consenso entre as respostas dos informantes. A aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão) e o
cumaru (Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.) destacaram-se como as espécies com o
maior número de citações, sendo estas também as que obtiveram o maior número de indicações
de usos terapêuticos. As cascas e as raízes foram as partes predominantemente consumidas.
Os dados levantados por esta pesquisa evidenciaram uma diversidade de espécies da flora
seridoense com potencial medicinal e reforçam a importância que a biodiversidade tem sobre as
comunidades rurais, viabilizando o início do estudo de manejo da vegetação local.
Palavras-chave: Caatinga, comunidade rural, etnobotânica, plantas medicinais, Rio Grande do
Norte
ABSTRACT: Use and diversity of medicinal plants from Caatinga in the rural community
of Laginhas, Caicó Municipality, Rio Grande do Norte State (Northeast of Brazil). The
present study aimed to identify the different uses of medicinal plants native to Caatinga biome in
a rural community from Caicó Municipality, Rio Grande do Norte State, Brazil. Semi-structured
and structured interviews with local specialists were used to collect information about the use of
such plants. The medicinal uses of 62 species were described by 12 informants (woodsmen, faith
healers, herb doctors, farmers and housewives) older than 35 years. The most representative
families reported in the survey were Fabaceae (13 spp), Euphorbiaceae (6 spp.), Cactaceae (3
spp.), and Lamiaceae (3 spp.). The degree of consensus among responses was adopted to
determine the most important species. The species “aroeira” (Myracrodruon urundeuva Allemão)
and “cumaru” (Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.) were most frequently mentioned and
indicated for therapeutic uses. Barks and roots were the most consumed parts. The data obtained
in this study indicated a diversity of flora species with medicinal potential in Seridó region (Rio
Grande do Norte State) and reinforced the importance of biodiversity in rural communities, starting
the study on the local vegetation management.
Key words: Caatinga, rural community, ethnobotany, medicinal plants, Rio Grande do Norte
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Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.12, n.1, p.31-42, 2010.
INTRODUÇÃO
O ser humano foi e ainda é, importante
agente de mudanças vegetacionais e de evolução
vegetal, porque sempre foi dependente do meio
botânico para a sobrevivência, manipulando-o não
somente para suprir as necessidades mais urgentes,
mas também na magia e medicina, no uso empírico
ou simbólico, nos ritos gerenciadores da vida e
mantenedores da ordem social (Albuquerque, 2005).
As comunidades rurais estão intimamente
ligadas aos usos de planas medicinais, por estas
serem, na maioria das vezes, o único recurso
disponível para o tratamento de doenças na região.
Para Pilla et al. (2006), à medida que a relação com
a terra passa por uma modernização e o contato com
centros urbanos se intensifica, a rede de transmissão
do conhecimento sobre plantas medicinais pode
sofrer alterações, sendo necessário com urgência
fazer o resgate deste conhecimento e das técnicas
terapêuticas, como uma maneira de deixar registrado
este modo de aprendizado informal.
A caatinga, bioma exclusivamente brasileiro,
é uma das vegetações mais ameaçadas do planeta,
e, apesar disto, esta exclusividade não foi suficiente
para direcionar muitos estudos botânicos nesta área
(Brasil, 2002). Vários autores (Albuquerque & Andrade,
2002a; Albuquerque & Lucena, 2004) chamam a
atenção para o fato de que as populações distribuídas
dentro deste bioma, na maioria, dependem diretamente
dos recursos vegetais disponíveis para o sustento.
A partir de levantamentos das potencialidades
dos recursos vegetais disponíveis a uma determinada
comunidade, pode-se traçar planos de recuperação
e de conservação da área estudada, assim como a
otimização dos usos originais atribuídos pelos
moradores, complementando a renda da população
ao mesmo tempo em que se ampliariam as
perspectivas das gerações futuras usufruírem destes
recursos.
Segundo Diegues (2000), a importância de
trabalhos que contemplem o conhecimento
tradicional, se encontra na diferença do termo
“biodiversidade” que, na maioria das vezes, é traduzida
em longas listas de espécies de plantas e animais
descontextualizados do domínio cultural, para a
“biodiversidade” em grande parte construída e
apropriada material e simbolicamente pelas
populações tradicionais. Quando se une o natural e
o cultural, obtêm-se espécies de maior valor
simbólico, onde fica mais viável lutar pela conservação.
O objetivo do presente trabalho foi realizar o
estudo etnobotânico de espécies vegetais nativas
utilizadas como plantas medicinais por especialistas
locais da comunidade rural de Laginhas, município
de Caicó - RN. Para tanto foram investigados 1) as
partes das plantas utilizadas; 2) as principais doenças
combatidas; 3) a forma de preparo dos medicamentos
caseiros e 4) os índices de concordância de uso entre
os entrevistados.
MATERIAL E MÉTODO
A comunidade rural de Laginhas (06º14‘59“S;
37º03‘22“W) está localizada no Nordeste brasileiro,
no município de Caicó, Rio Grande do Norte (Figura
1). Situa-se na região denominada Seridó Potiguar,
distando 26 km do centro urbano de Caicó e 306 km
da capital do Estado. O clima é do tipo Bshw de
Köppen, semi-árido quente e seco com curta estação
chuvosa (trimestre março/abril/maio), 500 a 800 mm
anuais, temperaturas elevadas média de 30ºC (Varela-
Freire, 2002). A vegetação natural apresenta-se com
formações lenhosas de baixo a médio porte e grande
representatividade de espécies xerófitas e decíduas,
onde predomina um tipo especial de Caatinga
denominada Savana-Estépica Gramíneo-Lenhosa,
que possui estrato herbáceo bastante definido em
épocas de chuvas (IBGE, 1992).
Nesta comunidade residem 434 habitantes,
sendo 214 homens e 220 mulheres (IBGE, 2000).
Esta população, na maioria, vive de economia de
subsistência, cultivando nas vazantes de açudes,
plantas como milho (Zea mays L.), feijão (Phaseolus
vulgaris L.), batata-doce (Ipomoea batatas L.) e
jerimum (Cucurbita maxima Duchesne). Destaca-se
também nessa área e entorno, a criação de gado
bovinos e caprinos. Uma parte significativa da
vegetação é derrubada para a criação de pastagens
e para a produção de carvão.
A comunidade rural de Laginhas situa-se
vizinha a uma unidade de conservação ambiental e
esta tem relevante papel nas práticas de uso vegetal
da comunidade. A Reserva Particular do Patrimônio
Natural Stoessel de Britto (06º12’54.7’’S;
37º02’30.6’’W), criada pela portaria No 0052/96-N, de
20 de maio de 1994, possui área de 755,95 hectares
e localiza-se ao sul do município de Jucurutu, distando
apenas 3 Km de Laginhas (Figura 1).
A coleta de dados foi feita mensalmente na
comunidade rural de Laginhas no período de março/
2007 a maio/2008, incluindo dentro deste intervalo uma
estação seca e uma chuvosa. Utilizaram-se observação
participante, entrevistas semi-estruturadas e estruturadas
(Albuquerque & Lucena, 2004), buscando obter
informações sobre o potencial medicinal e
características botânicas das plantas utilizadas.
Foram entrevistadas 11 mulheres (na faixa
etária dos 36 aos 81 anos) e apenas 01 homem (com
56 anos), considerados pela comunidade como
especialistas locais (mateiros, rezadeiras, raizeiros,
agricultores, donas-de-casa). O grau de escolaridade
da maioria dos entrevistados encontra-se entre as quatro
primeiras séries do Ensino Fundamental, e as suas
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FIGURA 1. Limites dos municípios de Jucurutu e Caicó, evidenciando a comunidade rural de Laginhas e a RPPN
Stoessel de Britto, estado do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil.
vidas estão todas ligadas a práticas agrícolas como já
enfatizado anteriormente. Na maioria moram em casa
de tijolos, sem saneamento básico. A população dispõe
ainda do atendimento de um Posto de Saúde, onde
são realizadas consultas em dias alternados.
Como técnica de amostragem utilizou-se a
metodologia proposta por Bailey (1994), chamada
“bola de neve” (snow ball), onde o primeiro especialista
entrevistado indica o próximo, de modo que, ao final
do estudo todos os especialistas da comunidade são
entrevistados.
As principais questões levantadas aos
informantes levaram em consideração o uso medicinal
das plantas pela comunidade, as principais doenças
combatidas, formas de preparo dos medicamentos e
coleta das partes vegetais usadas. Foi questionada
ainda a visão futura das práticas etnobotânicas dentro
desta comunidade.
Como parte complementar desta etapa,
realizaram-se idas a campo para a coleta de amostras
botânicas na companhia de um ou mais entrevistados.
Este procedimento conhecido por “turnê-guiada” é
utilizado para se evitar erros na identificação, advindos
dos nomes vernaculares das plantas, pois o
informante aponta in loco, a espécie citada
(Albuquerque & Lucena, 2004).
Foram coletadas amostras botânicas férteis
(com flor, fruto) a fim de se obter a identificação e
informações mais precisas sobre as espécies
indicadas. Foram anotadas, simultaneamente, todas
as características do espécime em uma caderneta
de campo (hábito, altura da planta, coloração de flores
e frutos). Em seguida, foi feito todo processo de
herborização proposto por Mori et al. (1989) e Bridson
& Forman (1998). A identificação das amostras
botânicas coletadas foi obtida através de consultas a
bibliografias especializadas, utilização de chaves de
identificação e comparações morfológicas com
exsicatas já identificadas no Herbário UFRN da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde
posteriormente, toda a coleção resultante desse estudo
foi incorporada. O material não identificado foi enviado a
especialistas. A classificação das famílias foi baseada
em APG II (2003) e os nomes científicos das espécies
estão de acordo com o site MOBOT (2008).
De acordo com a Classificação Estatística
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Internacional de Doenças e Problemas Relacionados
à Saúde (OMS, 2000), as doenças e sintomas tratados
por plantas medicinais pelos entrevistados da
comunidade rural de Laginhas, foram separados em
categorias, viabilizando assim a tabulação dos dados.
Foram calculadas a concordância quanto
aos usos principais (CUP) e a correção para freqüência
de citação das espécies (CUPc), visando identificar
as espécies mais representativas para os
entrevistados (Amorozo & Gély, 1988).
RESULTADO E DISCUSSÃO
Os especialistas locais da comunidade rural
de Laginhas citaram 62 espécies nativas com
potencial medicinal, que estão distribuídas em 55
gêneros e 33 famílias (Tabela 1). As famílias com
maior representatividade foram Fabaceae (13 spp.),
Euphorbiaceae (6 spp.), Cactaceae (3 spp.) e
Lamiaceae (3 spp.). Embora não se tenha, até o
momento, registro(s) de trabalho(s) enfocando plantas
medicinais no Rio Grande do Norte, deve-se ressaltar
que nos levantamentos florísticos no semi-árido
potiguar, Fabaceae, Euphorbiaceae e Cactaceae são
apontadas como as famílias mais representativas em
número de espécies (Camacho, 2001; Queiroz, 2006).
Também não foi encontrado para a região
Nordeste, nenhum estudo tratando especificamente
sobre o uso medicinal de espécies nativas ocorrentes
na Caatinga. Porém observou-se que em trabalhos
de plantas medicinais realizados neste bioma,
especialmente no estado de Pernambuco, onde foram
consideradas tanto espécies nativas como
introduzidas, o número de espécies nativas é
relativamente baixo. Das 48 plantas relacionadas por
Albuquerque & Andrade (2002b) para área de Caatinga
no agreste pernambucano, 34 eram nativas; enquanto
no estudo realizado no município de Jupi por Teixeira
& Melo (2006), das 106 espécies reportadas apenas
27 eram nativas da região. Já Florentino et al. (2007)
verificaram que das 84 espécies no município de
Caruaru, 28 representavam plantas nativas. O número
relativamente alto de espécies nativas com uso
medicinal no presente trabalho (62) deve-se ao fato
de que, o objeto de estudo enfocou somente as
plantas nativas.
A Tabela 1 apresenta a lista de espécies
usadas para fins medicinais na comunidade rural de
Laginhas, o número de informantes que citaram usos
para estas espécies e quantos usos diferentes foram
reconhecidos para cada espécie.
Entre as plantas indicadas como medicinais,
destacaram-se a aroeira (Myracrodruon urundeuva
Allemão) e o cumaru (Amburana cearensis (Allemão)
A.C.Sm.) como as espécies com o maior número de
citações, sendo estas também as que obtiveram o
maior número de indicações de usos terapêuticos.
Ao verificar o índice de concordância de uso
principal (CUP) de algumas espécies (Tabela 2) como
marmeleiro (Croton blanchetianus), quebra pedra
(Phyllanthus niruri) e carrapicho-cigano
(Acanthospermum hispidum), constatou-se que essa
porcentagem foi muito alta (todos em 100%), porém,
vale salientar que a quantidade de informantes
indicando uso para estas espécies foi abaixo ou igual
a 07 pessoas. Quando se calcula o CUPc este valor
caí, pois é relativo à espécie mais citada pelos
informantes, que neste caso corresponde a aroeira
(Myracrodruon urundeuva) e o cumaru (Amburana
cearensis), que obtiveram 12 citações cada. Desta
forma, espécies como o carrapicho-cigano
(Acanthospermum hispidum) que é utilizado para o
combate de doenças respiratórias e que teve seu CUP
em 100%, sendo seu valor de concordância corrigido
(CUPc) para 41,7%. Estes dados auxiliam na
comprovação da eficácia de determinada espécie para
o uso medicinal. Quanto mais informantes
concordarem com determinado uso, mais haverá a
validação destas informações que, no futuro, poderão
servir de base para estudos farmacológicos, buscando
a descoberta de novas curas para doenças e/ou a
melhoria de medicamentos já existentes.
Devida atenção deve estar voltada para a
espécie que está relacionada na Tabela 2, a aroeira
(Myracrodruon urundeuva), uma vez que a mesma
está incluída na “Lista Oficial da Flora Brasileira
Ameaçada de Extinção” (Brasil, 2008). Esta árvore
que é apontada como a mais usada pela comunidade
de Laginhas, têm o uso vinculado a retirada das
cascas, que na maioria das vezes interfere no
desenvolvimento da planta, podendo levá-la à morte.
A presente pesquisa deu ênfase às espécies
nativas do Nordeste, na tentativa de entender a inter-
relação da população com as plantas nativas, por
estas não serem herdeiras de outras culturas, e
estarem ligadas somente às crenças locais. Trabalhos
como o de Albuquerque & Andrade (2002a)
demonstram ainda a importância de se desenvolver
estudos sistemáticos com as plantas nativas de uma
dada região, podendo estes identificar problemas
ocasionados pelos maus usos dos recursos vegetais
disponíveis, uma vez que, a partir destas informações,
podem-se oferecer alternativas eficazes que diminuam
o impacto da coleta sobre as populações naturais.
Por se tratar de um trabalho com plantas da
Caatinga levou-se em consideração que, a
disponibilidade desses recursos e atendimento das
necessidades da comunidade obedecem a fatores
temporais. A flora da região seridoense está adaptada
ao seu recorte geográfico: clima quente e seco, solos
rasos e pedregosos e longo período sem chuva. Isso
significa que a maioria das espécies do componente
herbáceo não está disponível o ano todo para as
comunidades.
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TABELA 1. Espécies usadas para fins medicinais pela comunidade rural de Laginhas (Caicó, RN). Convenções:
Voucher (Herbário UFRN); ICUE = informantes citando usos das espécies; NUC = número de usos citados para
cada espécie.
continua
Família/Nome Científico Nome Vulgar Voucher Hábito ICUE NUC
PTERIDOPHYTAS
SELAGINELLACEAE
Selaginella convoluta (Arn.) Spring mão-fechada 7261 erva 4 2
ANGIOSPERMAE
ALISMATACEAE
Echinodorus subalatus (Mart.) Griseb língua-de-vaca 5452 erva 1 2
AMARANTHACEAE
Chenopodium ambrosioides L. mastruz 7727 erva 5 8
Gomphrena demissa Mart. capitãozinho 4096 erva 10 7
ANACARDIACEAE
Myracrodruon urundeuva Allemão aroeira 5522 árvore 12 10
APOCYNACEAE
Aspidosperma pyrifolium Mart. pereiro 6393 árvore 1 1
ARECACEAE
Copernicia cerifera (Arruda) Mart. carnaúba 7726 árvore 2 1
ASTERACEAE
Acanthospermum hispidum DC. carrapicho-
cigano 7723 erva 5 2
Egletes viscosa (L.) Less. macela 6681 erva 1 1
BIGNONIACEAE
Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl. pau -d’arco roxo 8036 árvore 3 6
BORAGINACEAE
Heliotropium elongatum Willd. fedegoso 6396 erva 11 4
BRASSICACEAE
Capparis cynophallophora L. feijão-bravo 6387 arbusto 1 1
Cleome spinosa Jacq. mussambê 4077 erva 10 3
BURSERACEAE
Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillett imburana 6395 árvore 1 1
CACTACEAE
Cereus jamacaru DC. mandacaru 6658 arbusto 4 3
Melocactus sp. coroa-de-frade - erva 6 7
Pilosocereus gounellei (F.A.C. Weber) Byles
& G.D. Rowley xique-xique 6659 arbusto 1 1
CHRYSOBALANACEAE
Licania rigida Benth oiticica 7582 árvore 1 2
COMBRETACEAE
Combretum leprosum Mart. mofumbo 4104 arbusto 2 1
CONVOLVULACEAE
Ipomoea asarifolia (Desr.) Roem. & Schult. salsa 8039 erva 4 3
Operculina macrocarpa (Linn) Urb. batata-de-purga 7967 trepadeira 10 7
CUCURBITACEAE
Apodanthera congestiflora Cogn. cabeça-de negro 7660 trepadeira 7 8
Luffa operculata (L.) Cogn. cabacinha - trepadeira 7 6
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continuação
TABELA 1. Espécies usadas para fins medicinais pela comunidade rural de Laginhas (Caicó, RN). Convenções:
Voucher (Herbário UFRN); ICUE = informantes citando usos das espécies; NUC = número de usos citados para
cada espécie.
continua
Família/Nome Científico Nome Vulgar Voucher Hábito ICUE NUC
CUCURBITACEAE
Apodanthera congestiflora Cogn. cabeça-de negro 7660 trepadeira 7 8
Luffa operculata (L.) Cogn. cabacinha - trepadeira 7 6
CYPERACEAE
Cyperus articulatus L. junco 6686 erva 4 4
Fimbristylis vahlii (Lam.) Link barba-de-bode 7687 erva 2 1
EUPHORBIACEAE
Cnidoscolus quercifolius Pohl favela 6389 árvore 7 3
Cnidoscolus urens (L.) Arthur urtiga 7301 subarbusto 5 5
Croton blanchetianus Baill. marmeleiro 4072 arbusto 7 3
Croton heliotropiifolius Kunth. velame 2802 arbusto 3 4
Croton sp. marmeleiro-
branco - arbusto 1 1
Jatropha mollissima (Pohl) Baill. pinhão-brabo 6679 arbusto 5 4
FABACEAE
Caesalpinioideae
Caesalpinia ferrea Mart. jucá 7730 árvore 7 6
Caesalpinia pyramidalis Tul. catingueira 4103 árvore 5 3
Senna obtusifolia (L.) H.S. Irwin & Barneby mata-pasto 7724 erva 1 1
Senna ocidentallis (L.) Link manjerioba 6670 erva 2 2
Cercideae
Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. mororó-preto 4099 arbusto 2 1
Bauhinia pentandra (Bong.) Vogel ex Steud. mororó-branco 4069 arbusto 3 6
Faboideae
Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm. cumaru 7928 árvore 12 10
Dioclea grandiflora Mart. ex Benth. mucunã 8025 trepadeira 4 3
Erythrina velutina Willd. mulungu 7725 árvore 1 1
Geoffroea spinosa Jacq. umarizeiro - árvore 1 1
Myroxylon peruiferum L. f. brejuí 5524 árvore 4 5
Mimosoideae
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan angico 6622 árvore 8 8
Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. jurema-preta 6383 árvore 11 7
LAMIACEAE
Hyptis suaveolens (L.) Poit. alfazema-braba 7581 erva 9 7
Marsypianthes chamaedrys (Vahl) Kuntze betônica 7511 erva 1 1
Vitex gardneriana Schauer jaramataia 7506 árvore 8 8
MALVACEAE
Pseudobombax marginatum (A. St.-Hil., Juss.
& Cambess.) A. Robyns embiratã 5449 árvore 1 1
NYCTAGINACEAE
Boerhavia diffusa L. pega-pinto 6652 erva 5 3
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TABELA 1. Espécies usadas para fins medicinais pela comunidade rural de Laginhas (Caicó, RN). Convenções:
Voucher (Herbário UFRN); ICUE = informantes citando usos das espécies; NUC = número de usos citados para
cada espécie. continuação
As ervas e árvores constituíram as principais
fontes de consumo dos entrevistados, com 37% e
34% de representatividade, seguidos pelos arbustos
com 21% e as trepadeiras com apenas 8%. As ervas
também foram listadas por Santos et al. (2008) como
as mais predominantes, correspondendo a 63% das
espécies registradas com potencial medicinal na
comunidade rural da Vargem Grande no município de
Natividade da Serra, SP. Já Albuquerque & Andrade
(2002b) ao estudar o uso dos recursos vegetais em
uma área de Caatinga em Pernambuco verificaram
que as árvores e arbustos foram as principais fontes
de recursos. Vale ressaltar que esses autores
consideraram diferentes categorias de uso e que esta
pode ser a provável explicação para essa divergência.
Acredita-se que o elevado número de
citações de herbáceas no presente levantamento,
considerando que estas ocorrem com maior
freqüência apenas no curto período das chuvas
(geralmente janeiro-março), deveu-se a três fatores:
a) facilidade de coleta das plantas; b) o surgimento
das doenças respiratórias coincide com o período
chuvoso e é nesta época do ano, que as ervas estão
mais disponíveis e c) algumas espécies herbáceas
são infestantes de lavouras, que por conter uso
específico são toleradas pelos agricultores.
Ressalta-se ainda que algumas espécies
arbóreas como brejuí (Myroxylon peruiferum) e aroeira
(Myracroduon urundeuva) já são escassas na
comunidade e isso tem feito com que alguns raizeiros
e mateiros locais façam uso da vegetação da RPPN
Stoessel de Britto, embora sem autorização. O uso
Família/Nome Científico Nome Vulgar Voucher Hábito ICUE NUC
OLACACEAE
Ximenia americana L. ameixa 6388 arbusto 7 6
PASSIFLORACEAE
Passiflora foetida L. maracujá-do-
mato 4071 trepadeira 1 1
PHYLLANTHACEAE
Phyllanthus niruri L. quebra-pedra 7732 erva 6 3
PLANTAGINACEAE
Scoparia dulcis L. vassourinha 6631 erva 10 8
POLYGONACEAE
Triplaris gardneriana Wedd. cauaçú - árvore 2 1
RHAMNACEAE
Ziziphus joazeiro Mart. juazeiro 4049 árvore 9 8
RUBIACEAE
Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) K.
Schum. genipapo 6675 árvore 1 1
Guettarda angelica Mart. ex Müll.Arg. quina-da-serra 4108 arbusto 1 1
SAPOTACEAE
Sideroxylon obtusifolium (Humb. ex Roem. &
Schult.) T.D.Penn. quixabeira 5523 árvore 8 8
SOLANACEAE
Solanum agrarium Sendtn. melancia-da-
praia erva 4 5
Solanum sp. jurubeba - erva 1 3
TURNERACEAE
Turnera subulata Sm. chanana 6654 erva 10 9
VIOLACEAE
Hybanthus calceolaria (L.) Oken papacunha,
ipepacunha - erva 4 5
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TABELA 2. Porcentagem de concordância quanto ao(s) uso(s) principal(is) (espécies citadas por cinco ou mais
informantes). Convenções: ICUE - número de informantes citando uso da espécie; ICUP - número de informantes
citando uso principal; CUP - índice de concordância de uso; FC - fator de correção; CUPc - CUP corrigida.
(Adaptado de Pinto et al., 2006).
de técnicas incorretas para a retirada de produto
vegetal (principalmente cascas) é um dos principais
problemas enfrentados pela RPPN, uma vez que essa
atividade compromete a sobrevivência do espécime
após a coleta. O curto período de realização entre
uma coleta e outra, também contribui para a
degradação da vegetação local.
Os entrevistados utilizam os recursos
obtidos da vegetação nativa para seu próprio
consumo, raramente transformando esses recursos
em produtos de venda e troca. Buscam diretamente
no “mato” o que precisam para a produção de
remédios caseiros.
As partes das plantas mais utilizadas pelos
entrevistados no município de Laginhas foram as
cascas e as raízes, que são usadas principalmente
no tratamento de doenças respiratórias, inflamações
e doenças infecciosas e parasitárias, sendo estas
consumidas em forma de infusos, xaropes (também
chamado de lambedor) e maceração (Tabela 3).
Diferentemente, em trabalhos realizados em outras
áreas de Caatinga como Albuquerque & Andrade
(2002b), Franco & Barros (2006) e Teixeira & Melo
(2006), as folhas estavam entre as partes mais
citadas no preparo dos remédios. Essa divergência
de resultados pode ser explicada devido à ausência
Nome Científico Uso Principal ICUE ICUP CUP FC CUPc
Myracrodruon urundeuva Allemão inflamação 12 10 83,3 1,0 83,3
Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm. gripe, sinusite 12 9 75,0 1,0 75,0
Heliotropium elongatum Willd. gripe 11 9 81,8 0,9 75,0
Gomphrena demissa Mart. gripe 10 9 90,0 0,8 75,0
Cleome spinosa Jacq. gripe 10 9 90,0 0,8 75,0
Hyptis suaveolens (L.) Poit. estalicido, gripe 9 9 100,0 0,8 75,0
Vitex gardneriana Schauer verminose 8 8 100,0 0,7 66,7
Croton blanchetianus Baill. gripe 7 7 100,0 0,6 58,3
Operculina macrocarpa (Linn) Urb. verminose 10 7 70,0 0,8 58,3
Luffa operculata (L.) Cogn. sinusite 7 6 85,7 0,6 50,0
Cnidoscolus quercifolius Pohl. dor de dente 7 6 85,7 0,6 50,0
Phyllanthus niruri L. doença dos rins 6 6 100,0 0,5 50,0
Ziziphus joazeiro Mart. gripe 9 6 66,7 0,8 50,0
Scoparia dulcis L. rouquidão 10 5 50,0 0,8 41,7
Turnera subulata Sm. tumor 10 5 50,0 0,8 41,7
Acanthospermum hispidum DC. tosse 5 5 100,0 0,4 41,7
Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. inflamação 11 5 45,5 0,9 41,7
Sideroxylon obtusifolium (Humb. ex Roem.
& Schult.) T.D. Penn. inflamação 8 5 62,5 0,7 41,7
Apodanthera congestiflora Cogn. depurativo do sangue 7 4 57,1 0,6 33,3
Caesalpinia ferrea Mart. doença dos rins 7 4 57,1 0,6 33,3
Cnidoscolus urens (L.) Arthur dor de dente 5 4 80,0 0,4 33,3
Caesalpinia pyramidalis Tul. gripe 5 4 80,0 0,4 33,3
Boerhavia diffusa L depurativo do sangue 5 4 80,0 0,4 33,3
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan gripe 8 4 50,0 0,7 33,3
Melocactus sp. bronquite 6 4 66,7 0,5 33,3
Ximenia americana L. inflamação 7 3 42,9 0,6 25,0
Chenopodium ambrosioides L. fratura, gastrite 5 3 60,0 0,4 25,0
Jatropha mollissima (Pohl) Baill. picada de cobra 5 3 60,0 0,4 25,0
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Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.12, n.1, p.31-42, 2010.
de folhas, na maior parte do ano, nas espécies nativas
do semi-árido e que esses autores abrangeram
também espécies cultivadas em seus estudos (tendo
essas folhas durante todo o ano).
Existem formas de preparo dos remédios
utilizados pelos especialistas locais que fogem dos
métodos convencionais de preparo. Das cascas do
cumaru (Amburana cearensis), são feitas balas que
são muito apreciadas por crianças e adultos, mas
que são remédios para sinusite. A raiz da batata-de-
purga (Operculina macrocarpa) é consumida na forma
de doce (indicado como estimulante de apetite) ou
na forma de goma que é misturada na alimentação e
que serve para verminose.
Durante as coletas das partes vegetais
utilizadas na fabricação dos remédios, verificou-se
que existem rituais que são cumpridos
metodicamente pelos coletores para que o remédio
funcione. Na coleta da raiz do xique-xique
(Pilosocereus gounellei), só se pode coletar três raízes
e estas têm que estar voltadas para o nascente do
sol. Ao se fazer o banho contra manchas na pele
com a raiz da cabeça-de-negro (Apodanthera
congestiflora), necessita-se saber o sexo da planta
para poder fazer a devida correspondência com o
paciente; já no preparo da lavagem de queimaduras
com a água das raspas do juazeiro (Ziziphus joazeiro),
recomenda-se a retirada de nove conchas de
espumas para descarte antes de banhar os locais
atingidos. Esses rituais que aparentemente são sem
importância ao senso comum e que não são
explicados pelos informantes quando estes são
questionados, devem ser testados em laboratório para
a comprovação de sua eficácia.
Não há entre os informantes um
armazenamento das plantas que desaparecem nos
períodos da seca, e nem o cultivo em casa das
herbáceas nativas. Na comunidade há o cultivo de
plantas exóticas, que também são bastante usadas
no tratamento de doenças, mas que não contempla
a abrangência desta pesquisa.
Foi observado que algumas plantas tiveram
propriedades terapêuticas descobertas através da
observação da população em animais da região. É o
caso do mororó-preto (Bauhinia cheilantha) e do
pinhão-bravo (Jatropha mollissima). Segundo relatos,
o mororó-preto teve o uso associado ao combate de
hemorragias depois que alguns caçadores notaram
que um grupo de macacos que habitam a RPPN
Stoessel de Britto socorria os membros do grupo que
eram atingidos por balas com folhas de mororó-preto.
As folhas desta espécie passaram, desde então, a
serem usadas para tratamento de pequenos cortes.
Já o uso do pinhão-bravo foi associado ao combate
de picadas de cobra, depois de ser observado várias
vezes que o “tejo” (Tupinambi merianae) enfrentava
cobras peçonhentas e, quando era picado, mordia o
pinhão para beber seu látex, retornando à luta logo
após, quando sempre vencia. Determinou-se então o
látex desta planta como um antídoto ao veneno das
cobras. O leite do pinhão-bravo embora seja altamente
tóxico, já foi consumido dentro da comunidade mais
de uma vez neste caso específico, e os resultados,
segundo os moradores, levaram à cura do doente.
Os informantes foram questionados sobre as
principais doenças que afetam as suas famílias e que
podem ser tratados através das plantas medicinais.
As respostas evidenciaram que os entrevistados não
fazem distinção entre doenças e sintomas. As
doenças e os sintomas foram separados por
categorias de acordo com o CID 10 – Classificação
Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde (OMS, 2000). As doenças
relacionadas ao aparelho respiratório foram as mais
citadas pelos entrevistados, dando-se destaque a
gripe, doenças mais lembrada nas entrevistas.
A Tabela 4 mostra a porcentagem de citações
de cada categoria de doença e a doença mais citada
dentro da categoria.
Constatou-se, neste levantamento, que além
das doenças aceitas pela medicina convencional,
existiam doenças que causavam estado de
desconforto emocional, mas que não eram
reconhecidas pela biomedicina (quebrante, arca-
caída, força de dente, encosto, feitiço, peito-aberto,
vista quebrada) e como proposto por Amorozo (2001),
enquadraram-se como “doenças culturais”. As
doenças culturais são bastante populares em
comunidades rurais, e servem para explicar sintomas
de outras doenças que não foram identificadas pela
população naquele momento especifico.
Em relação a como foram adquiridos os
saberes sobre as plantas medicinais e seus usos,
todos os entrevistados concordaram que aprenderam
com os familiares mais idosos.
Há entendimento dos entrevistados sobre a
importância deste trabalho, uma vez que estes são
cientes de que as plantas medicinais utilizadas
atualmente por eles estão reduzindo consideravelmente
seu número em relação às formas de uso. As
facilidades trazidas pelo atendimento médico, os
remédios de farmácia e outras comodidades
proporcionadas pela modernidade atraem os mais
jovens, que abandonam ou optam por deixar de
conhecer a sabedoria popular de seus pais e/ou avós.
Os informantes reconhecem que as plantas
utilizadas por eles, a cada dia que passa, ficam mais
escassas e atribuem tal fato à busca indiscriminada
desses recursos. São pessoas que acreditam no
poder terapêutico das plantas e que desconfiam da
medicina convencional.
A partir dos resultados de trabalhos com
plantas medicinais, o pesquisador pode e deve traçar
planos que contemplem a recuperação e conservação
40
TABELA 3. Plantas medicinais citadas por especialistas locais na comunidade rural de Laginhas, Caicó - RN (em
ordem alfabética), partes usadas, manipulação e principais doenças combatidas.
Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.12, n.1, p.31-42, 2010.
Nome Científico Partes Usadas Manipulação Doenças combatidas
Acanthospermum hispidum DC. raiz xarope, infusão gripe, tosse
Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm. casca, sementes xarope, maceração, pó,
'balas' gripe, sinusite, dor de cabeça,
dores musculares, tosse, prisão
de ventre, tontisse
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
casca, resina,
entrecasca
xarope, infusão, maceração
gripe, tuberculose, coqueluche,
tosse, fratura, peito aberto
Apodanthera congestiflora Cogn. raiz banho, infusão, tintura, pó manchas de pele, sangue grosso,
coceira
Aspidosperma pyrifolium Mart. casca infusão abortivo
Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. raiz infusão doença no rins
Bauhinia pentandra
(Bong.) Vogel ex
Steud. casca, entrecasca infusão, maceração inflamação, cicatrizante
Boerhavia diffusa L. raiz maceração, infusão, xarope espinha
Caesalpinia ferrea Mart. fruto maceração, tintura, infusão,
decocção doença dos rins, inflamação,
cicatrizante, inflamação na uretra,
pancada
Caesalpinia pyramidalis Tul. flor , casca xarope gripe
Capparis cynophallophora L. fruto maceração ferimentos
Cereus jamacaru DC. toda a planta, raiz banho, infusão, maceração ferimentos, inflamação da uretra
Chenopodium ambrosioides L. folhas suco úlcera, gastrite, pancada, fraturas,
câncer, gripe
Cleome spinosa Jacq. flor, raiz xarope, infusão, maceração gripe, dor de ouvido, tosse
Cnidoscolus quercifolius Pohl casca, látex,
entrecasca maceração, banho, in
natura ferimentos, dor de dente, dor de
coluna
Cnidoscolus urens (L.) Art hur raiz, entrecasca infusão
inflamação na próstata, doença
dos rins, apendicite
Combretum leprosum Mart. casca maceração, infusão dor de barriga
Commiphora leptophloeos
(Mart.) J.B.
Gillett casca maceração, banho ferimentos
Copernicia cerifera (Arruda) Mart. raiz infusão, maceração inflam ação na uretra
Croton blanchetianus Baill. casca, entrecasca xarope, infusão gripe, dor de barriga
Croton heliotropiifolius Kunth. raiz, látex infusão, uso tópico dor de coluna
Croton sp. casca xarope gripe
Cyperus articulatus L raiz infusão dor de coluna
Dioclea grandiflora Mart. ex Benth. semente, casca amuleto, infusão força de dente, dor de dente
Echinodorus subalatus (Mart.) Griseb folha infusão, xarope dor de cabeça, enxaqueca
Egletes viscosa (L.) Less. fruto infusão, in natura má digestão
Erythrina velutina Willd. casca infusão dor de dente
Fimbristylis vahlii (Lam.) Link raiz infusão doença dos rins
Geoffroea spinosa Jacq. casca maceração anemia
Gomphrena demissa Mart. raiz xarope, infusão, maceração gripe
Guettarda angelica Mart . ex Müll.Arg. casca xarope, chá febre
Heliotropium elongatum Willd. flor, raiz xarope, infusão gripe, tosse
Hybanthus calceolaria (L.) Oken toda planta xarope, infusão, maceração gripe, verme
Hyptis suaveolens (L.) Poit. toda a planta inalação, infusão, banho estalicido, doenças respiratórias,
gripe
Ipomoea asarifolia (Desr.) Roem. &
Schult. toda a planta banho coceira, inflamação dos dentes
Jatropha mollissima (Pohl) Baill. látex, folhas in natura, compressa picada de cobra
Licania rigida Benth folha maceração doenças dos rins, emagrecer
Luffa operculata (L.) Cogn. fruto infusão
sinusite, estalicido, abortivo,
caspa, seborréia
Marsypianthes chamaedrys (Vahl)
Kuntze toda a planta banho reumatismo
Melocactus sp. fruto, água xarope, in natura pneumonia, gripe, doenças
respiratórias, tosse, bronquite
Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. casca, flor,
entrecasca maceração, xarope, infusão,
decocção inflamação, dor de barriga, gripe,
ferimentos
Myracrodruon urundeuva Allemão casca, entrecasca xarope, maceração, tintura,
infusão, banho câncer, inflamação, dor de
garganta, doença renal, coluna,
útero, ferimento
Myroxylon peruiferum L. f. casca, resina maceração, infusão, banho,
xarope dor de coluna
continua...
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TABELA 4. Porcentagem de citação para cada categoria (n= 506) e doença mais citada para cada categoria.
Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.12, n.1, p.31-42, 2010.
Categorias % de citações
Doença mais citada dentro da categoria
Doenças do aparelho respiratório 31,6% gripe
Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório,
não classificados em outra parte 17,6% inflamação
Algumas doenças infecciosas e parasitárias 9,5% verminose
Lesões, envenenamento e algumas outras conseq
üências de causas
externas
9,1% ferimentos
Doenças do aparelho geniturinário 8,9% doença dos rins
Doenças do aparelho digestivo 5,7% cárie
Doenças da pele e do tecido subcutâneo 3,2% coceira
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos
imunitários 3,0% sangue grosso
Gravidez, parto e puerpério 2,8% indução de aborto
Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo 1,8% dor de coluna
Neoplasias [tumores] 1,6% câncer
OUTROS 1,6% higiene bucal
Doenças do ouvido e da apófise mastóide 1,4% dor de ouvido
Causas externas de morbidade e de mortalidade 0,6% picada de cobra
Doenças culturais 0,6% quebrante
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 0,6% diabetes
Doenças do sistema nervoso 0,6% enxaqueca
TABELA 3. Plantas medicinais citadas por especialistas locais na comunidade rural de Laginhas, Caicó - RN (em
ordem alfabética), partes usadas, manipulação e principais doenças combatidas. ...continuação
Nome Científico Partes Usadas Manipulação Doenças combatidas
Operculina macrocarpa (Linn) Urb. raiz "doce", xarope, pó, infusão
verminose, catarro, doenças
respiratórias, falta de apetite
Passiflora foetida L. fruto suco insônia
Phyllanthus niruri L. raiz infusão doença dos rins
Pilo
socereus
gounellei
(F.A.C. Weber)
Byles & G.D.
Rowley
raiz maceração inflamação na uretra
Pseudobombax marginatum
(A. St.-Hil.,
Juss. & Cambess.) A. Robyns entrecasca maceração dor de coluna
Scoparia dulcis L. folhas, raiz
x
arope, infusão, maceração,
r
amo
gripe, asma, machucado, fraturas,
mal olhado, queb
r
ante
Selaginella convoluta (Arn.) Spring folhas infusão icterícia
Senna obtusifolia (L.) H.S. Irwin &
Barneby flores xarope gripe
Senna ocidentallis (L.) Link raiz infusão aborto, cólica menstrual
Sideroxylon obtusifolium (Humb. ex
Roem. & Schult.) T.D. Penn. entrecasca, casca xarope, maceração, infusão,
banho dor, pancada, inflamação
Solanum agrarium Sendtn. fruto, raiz xarope, infusão tosse
Solanum sp. folha maceração, infusão verminose, cicatrizante,
inflamação
Tabebuia impetiginosa
(Mart. ex DC.)
Standl. casca, entrecasca
pó, xarope, banho,
maceração câncer, ferimento
Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) K.
Schum. casca maceração machucados
Triplaris gardneriana Wedd. casca xarope, infusão gastrite, úlcera
Turnera subulata Sm. raiz, flor, tintura banho, maceração, infusão,
compressa
coceira , tumor, gripe, cortes,
abortivo
Vitex gardneriana Schauer folhas xarope, infusão verminose, gripe, estalicido,
gases, dor de barriga, sinusite,
inflama
ção na próstata
Ximenia americana L. entrecasca, casca xarope, maceração, infusão,
pó, banho inflamação, prisão de ventre
Ziziphus joazeiro Mart. casca maceração, banho, xarope
verminose, gripe, higiene bucal,
caspa, cicatrizante
42
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Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.12, n.1, p.31-42, 2010.
da área estudada, propondo novas práticas de manejo
da vegetação, substituições de plantas com valores
terapêuticos iguais, auxílio na armazenagem e no
cultivo destas espécies. Esses esforços resultariam
na otimização dos usos medicinais atribuídos pelos
moradores como forma de complemento da renda da
população, ao mesmo tempo em que se ampliariam
as perspectivas das gerações futuras usufruírem
destes recursos.
AGRADECIMENTO
À comunidade de Laginhas pela hospitalidade
e receptividade durante os trabalhos de campo e pelos
momentos de grande aprendizado. À senhora Lydia
Brasileira de Britto, proprietária da RPPN Stoessel de
Britto, pelo acolhimento e pela indispensável
contribuição e dedicação na realização deste trabalho.