Content uploaded by Ana Cristina de Castro Coelho
Author content
All content in this area was uploaded by Ana Cristina de Castro Coelho on Sep 03, 2014
Content may be subject to copyright.
Available via license: CC BY-NC 4.0
Content may be subject to copyright.
436
Rev. CEFAC. 2013 Mar-Abr; 15(2):436-443
CORALISTAS AMADORES: AUTO-IMAGEM, DIFICULDADES
E SINTOMAS NA VOZ CANTADA
Amateur choir singers: self-image, difculties
and symptoms of the singing voice
Ana Cristina de Castro Coelho(1), Irandi Fernando Daroz(2),
Kelly Cristina Alves Silvério(3), Alcione Ghedini Brasolotto(4)
RESUMO
Objetivo: conhecer a auto-imagem, diculdades e presença de sintomas negativos após o canto em
coralistas amadores com diferentes classicações vocais, idades e experiência. Método: cento e
vinte e cinco cantores responderam a um questionário que abordou dados de identicação, informa-
ções sobre a auto-imagem da voz cantada, diculdades apresentadas no canto e ocorrência ou não
de sintomas vocais após o canto. Resultados: a comparação por naipes evidenciou maior diculdade
na emissão de sons agudos para os contraltos e baixos, maior diculdade na emissão graves para
os sopranos, maior diculdade na transição de registro grave para agudo para os baixos, e maior
cansaço vocal para os contraltos. Na divisão por idade, tanto adultos jovens e adultos referiram maior
soprosidade do que os idosos. Os adultos referiram melhor intensidade vocal do que adultos jovens.
Os adultos jovens consideraram seu timbre de voz adequado mais frequentemente do que adultos.
Em relação à experiência, os cantores menos experientes referiram percepção de voz rouca em
maior número do que os cantores mais experientes, que referiram apresentar intensidade adequada
durante o canto em maior número do que os demais. Cantores menos experientes referiram maior
ocorrência de rouquidão após o canto do que cantores mais experientes. Conclusão: as diculdades
encontradas no canto estão atreladas ao naipe, e não dependem da idade e nem da experiência.
Sintomas estão relacionados ao naipe e ao grau de experiência com o canto. A auto-imagem vocal
negativa também está relacionada ao naipe e ao nível de experiência, sendo que a auto-imagem
positiva é mais comum em cantores experientes.
DESCRITORES: Voz; Distúrbios da Voz; Música
(1) Fonoaudióloga da Clínica de Fonoaudiologia da Facul-
dade de Odontologia de Bauru da Universidade de São
Paulo, Bauru, P, Brasil; Mestre em Ciências pelo Programa
de Pós-Graduação em Fonoaudiologia da Faculdade de
Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo,
Bauru, SP, Brasil.
(2) Regente de coral; Professor do Curso de Música e Artes
Cênicas da Universidade Sagrado Coração – USC, Bauru,
SP, Brasil; Graduação em Educação Artística (Licenciatura
plena em Música) pela Universidade Sagrado Coração;
Mestre em Música pela Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”.
(3) Fonoaudióloga; Professora do Departamento de Fonoau-
diologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Univer-
sidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil; Doutora em Biolo-
gia Buco-Dental pela Universidade Estadual de Campinas,
São Paulo, SP, Brasil.
INTRODUÇÃO
O canto coral se caracteriza pela prática em
grupo e tem a diversidade como uma de suas
principais características. Sua demanda é bastante
variada dependendo da natureza amadora ou
prossional e das características de repertório que
também variam em grande escala1.
(4) Fonoaudióloga; Professora do Departamento de Fonoau-
diologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Univer-
sidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil; Doutora em Distúr-
bios da Comunicação Humana pela Universidade Federal
de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Conito de interesses: inexistente
Características do uso vocal de coralistas 437
Rev. CEFAC. 2013 Mar-Abr; 15(2):436-443
do envelhecimento podem estar relacionadas a
comprometimentos como diminuição do volume
respiratório e a diminuição do controle inspiratório
no canto16. Outras alterações vocais causadas pelo
envelhecimento incluem diminuição dos tempos
máximos de fonação, soprosidade, fraqueza,
instabilidade, rouquidão, inabilidade de sustentar
a fonação, loudness inadequado e perda da
extensão vocal17. Entretanto, as mudanças na
frequência habitual relacionada à idade parecem
ser menos proeminentes ou até mesmo ausentes
em vozes treinadas18. O amadurecimento vocal de
prossionais da voz cantada mostra estabilidade
na fonação, promovendo a otimização do controle
respiratório e habilidades fonatórias. Desta forma,
é possível que prossionais idosos bem preparados
possam adicionar treinamento e experiência ao seu
desempenho vocal, não apresentando modicações
vocais signicantes com o envelhecimento19. Neste
contexto, estudos sobre o impacto do canto coral
na voz de idosos iniciantes na atividade do canto,
revelaram diminuição de queixas e diculdades
para o canto, bem como vericaram extensão vocal
abrangente4,5. Já o cantor idoso que nunca recebeu
treinamento adequado pode apresentar alterações
vocais características do envelhecimento16.
Este estudo teve por objetivo conhecer a auto-
-imagem, diculdades e presença de sintomas
negativos após o canto em coralistas amadores
com diferentes classicações vocais, idades e
experiência.
MÉTODO
Este estudo transversal e prospectivo contou
com a participação dos integrantes de cinco corais
regidos pelo mesmo prossional, totalizando 125
indivíduos – 95 mulheres e 30 homens, com idades
entre 18 e 77 anos.
Não foi utilizado critério de exclusão, uma vez
que, diante do objetivo do trabalho, pretendeu-se
conhecer as características e diculdades vocais
dos integrantes destes grupos.
Após assinarem o Termo de Consentimento livre
e esclarecido, os cantores responderam, por escrito
e individualmente, a um questionário com perguntas
fechadas que abordou: 1. Dados de identicação:
idade, tempo de experiência com canto, classi-
cação do naipe da voz (soprano, contralto, tenor e
baixo); 2. Informações sobre a auto-imagem vocal
na voz cantada: em relação ao tipo de voz – voz
soprosa, rouca ou normal, volume – fraca demais,
forte demais ou adequada e qualidade vocal que
foi denominada como “timbre” para melhor compre-
ensão dos participantes – clara, escura, nem clara e
nem escura; 3. Diculdades apresentadas durante
A literatura coloca diversos fatores que têm
impacto direto no desempenho de um coralista.
Entre elas estão a classicação vocal2, as modi-
cações vocais relativas à idade desde o amadure-
cimento até o envelhecimento3-6 além de grande
heterogeneidade dos integrantes no que se refere
ao grau de experiência com a voz cantada na
prática coral7,8.
Uma das características encontradas em corais é
a grande evasão de cantores nos coros amadores9.
Em geral, os novos integrantes são inexperientes
e costumam ter deciência no conhecimento de
normas que protejam sua saúde vocal10. Entretanto,
normalmente é possível que pessoas que estejam
iniciando a prática do canto possam desenvolver,
com treino, uma voz saudável e esteticamente
agradável11.
A experiência musical parece ter diferentes
efeitos no desempenho do canto e é considerada
importante para o crescimento musical12. Braun-
Janzen e Zeine13 investigando os níveis de
interesse e conhecimento da produção vocal de
cantores, concluiram que cantores amadores foram
susceptíveis ao desenvolvimento de sintomas
negativos. Cohen et al.14 investigaram a qualidade
de vida em cantores idosos com queixas vocais,
e concluíram que cantores menos experientes
apresentaram maior desvantagem vocal do que
cantores prossionais.
Uma etapa importante para os cantores iniciantes
é a classicação vocal, na qual são divididos em
naipes de vozes agudas (“soprano” para mulheres
e “tenor” para homens) e graves (“contralto” para
as mulheres e “baixo” para os homens). Devido
às características vocais observadas em cada um
desses naipes, além da demanda vocal exigida a
cada um, é comum que os naipes tenham mais
facilidade em realizar determinadas tarefas e maior
diculdade em outras.
Numa investigação do perl do uso vocal de
coralistas, Ribeiro e Hanayama2 concluíram que
sopranos apresentam menor número de dicul-
dades globais e que contraltos apresentam maior
número de sintomas múltiplos em relação à voz
cantada, como a diculdade na transição de registro
e na emissão de notas agudas em fraca intensidade.
A atividade coral pode ser realizada por pessoas
de diferentes idades ou pers, que normalmente
praticam o canto amador em busca de entreteni-
mento. A literatura tem feito referência crescente
ao uso da voz cantada de cantores de meia idade
e idosos. Spiegel, Sataloff e Emerich15 citam que
a prevalência de abuso vocal e problemas de
saúde relacionados à idade podem ser fatores
importantes a serem considerados. Além disso,
modicações vocais durante o processo normal
438 Coelho ACC, Daroz IF, Silvério KCA, Brasolotto AG
Rev. CEFAC. 2013 Mar-Abr; 15(2):436-443
• Idade:
–Grupo 1: 46 adultos jovens de 17 a 25 anos
–Grupo 2: 53 adultos de 26 a 49 anos
–Grupo 3: 26 adultos de meia-idade e idosos,
acima de 50 anos
• Experiência com o canto:
–Grupo A: 64 cantores com experiência menor
que 1 ano
–Grupo B: 17 cantores com pouca experiência,
de 1 a 2,5 anos
–Grupo C: 26 cantores experientes, de 2,5 a
5 anos
–Grupo D: 18 cantores com muita experiência,
acima de 5 anos
Os aspectos investigados se referem à proprio-
cepção vocal dos cantores, suas principais dicul-
dades no exercício do canto e a sintomas negativos
após o uso vocal no canto.
Em relação à comparação por naipes (Tabela
1), foi observado que os contraltos têm maior
diculdade na emissão de notas agudas do que os
sopranos (p=0,001) e que os baixos tem a mesma
diculdade em relação aos tenores (p=0,032). O
contrário também ocorreu somente para as vozes
femininas, sendo que os sopranos referiram maior
diculdade na emissão de notas graves em relação
aos contraltos (p=0,007). Além disso, o naipe de
baixos referiu maior diculdade na transição de
registro grave para agudo em relação aos tenores
(p=0,018). Considerando os sintomas negativos,
os contraltos referiram maior cansaço vocal após o
canto em relação aos sopranos (p=0,021).
o canto: na emissão de sons agudos ou graves,
no uso do falsete, na passagem para agudo ou
grave, quebras na voz, diculdade para emissão
em intensidade “piano” ou “forte”, diculdades
relacionadas a ataques e cortes (começo e m do
trecho de canto), diculdades relacionadas à respi-
ração e apoio respiratório, e nenhuma diculdade;
4. Ocorrência ou não de sintomas vocais após o
canto: voz rouca, cansada ou fraca; desconforto
laríngo-faríngeo: coceira, dor ou ardor na região da
laringe, sensação de bolo ou aperto na garganta,
tensão na região do pescoço.
Os cantores foram divididos por classicação
vocal, idade e tempo de experiência com canto.
Este trabalho foi submetido à apreciação do
Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia de
Bauru e foi aprovado sob o processo nº 115/2005.
As respostas dos questionários foram tabuladas
e comparadas entre os grupos para todas variáveis
estudadas por meio do Teste Exato de Fisher,
Teste do Qui-Quadrado e Teste de Comparação de
Proporções, adotando-se nível de signicância de
5%.
RESULTADOS
Para uma colocação mais didática dos resul-
tados, os grupos foram divididos de acordo com as
variáveis selecionadas da seguinte forma:
• Classicação da voz:
–Grupo sopranos: 59 cantores
–Grupo contraltos: 36 cantores
–Grupo tenores: 14 cantores
–Grupo baixos: 16 cantores
Características do uso vocal de coralistas 439
Rev. CEFAC. 2013 Mar-Abr; 15(2):436-443
Tabela 1 – Auto-imagem vocal na voz cantada, diculdades no canto e presença de sintomas
negativos após o canto comparando-se os naipes de sopranos e contraltos, tenores e baixos
Auto-imagem vocal na voz cantada
Geral Sopranos Contraltos P Tenores Baixos P
Rouca 6 (4,8%) 1 (1,7%) 1 (2,8%) p=1,000 0 (0,0%) 4 (25,0%) p=0,102
Soprosa 21 (16,7%) 12 (20,0%) 4 (11,1%) p=0,396 4 (28,6%) 1 (6,3%) p=0,157
Forte demais 5 (4,0%) 0 (0,00%) 3 (8,3%) p=0,049* 0 (0,0%) 2 (12,5%) p=0,485
Intensidade adequada 91 (72,2%) 44 (73,3%) 26 (72,2%) p=1,000 12 (85,7%)
9 (56,3%) p=0,118
Fraca demais 30 (23,8%) 15 (25,0%) 7 (19,4%) p=0,620 2 (14,3%) 6 (37,5%) p=0,225
Timbre claro 53 (42,1%) 25 (41,7%) 16 (44,4%) p=0,833 7 (50,0%) 5 (31,3%) p=0,457
Timbre adequado 71 (56,3%) 34 (56,7%) 20 (55,6%) p=1,000 7 (50,0%) 10 (62,5%)
p=0,713
Timbre escuro 3 (2,4%) 1 (1,7%) 0 (0,0%) p=1,000 0 (0,0%) 2 (12,5%) p=0,485
Dificuldades no canto Geral Sopranos Contraltos P Tenores Baixos P
Agudos 44 (34,9%) 12 (20,0%) 19 (52,8%) p=0,001* 3 (21,4%) 10 (62,5%)
p=0,032*
Graves 24 (19,0%) 17 (28,3%) 2 (5,6%) p=0,007* 3 (21,4%) 2 (12,5%) p=0,642
Falsete 17 (13,5%) 10 (16,7%) 3 (8,3%) p=0,358 3 (21,4%) 1 (6,3%) p=0,315
Passagem para agudo 29 (23,0%) 11 (18,3%) 12 (33,3%) p=0,137 0 (0,0%) 6 (37,5%) p=,0185*
Passagem para grave 20 (15,8%) 13 (21,7%) 4 (11,1%) p=0,271 2 (14,3%) 1 (6,3%) p=0,586
Quebras na voz 29 (23,0%) 14 (23,3%) 10 (27,8%) p=0,634 2 (14,3%) 3 (18,8%) p=1,000
Apoio 22 (17,5%) 15 (25,0%) 4 (11,1%) p=0,118 1 (7,1%) 2 (12,5%) p=1,000
Fortes 7 (5,5%) 3 (5,0%) 0 (0,0%) p=0,289 3 (21,4%) 1 (6,3%) p=0,315
Pianos 5 (4,0%) 4 (6,7%) 1 (2,8%) p=0,647 0 (0,0%) 0 (0,0%) -
Ataques e cortes 6 (4,8%) 3 (5,0%) 0 (0,0%) p=0,289 1 (7,1%) 2 (12,5%) p=1,000
Respiração 55 (43,6%) 31 (51,7%) 16 (44,4%) p=0,532 4 (28,6%) 4(25,0%) p=1,000
Nenhuma 21 (16,7%) 8 (13,3%) 5 (13,9%) p=0,999 4 (28,6%) 4 (25,0%) p=1,000
Sintomas negativos após canto Geral Sopranos Contraltos P Tenores Baixos P
Desconforto Laringo-Faríngeo 71 (56,3%) 37 (61,6%) 16 (44,4%) p=0,100 11 (78,6%)
7 (43,7%) p=0,052
Voz rouca 44 (34,9%) 19 (31,6%) 14 (38,9%) p=0,470 4 (28,6%) 7 (43,7%) p=0,3894
Voz cansada 51 (41,3%) 19 (31,6%) 20 (55,5%) p=0,021* 5 (35,7%) 6 (37,5%) p=0,919
Voz fraca 20 (15,9%) 8 (13,33%) 6 (16,7%) p=0,654 2 (14,3%) 4 (25%) p=0,464
Teste exato de Fisher, adotado nível de signicância de 5%
Na divisão do grupo por faixa etária (Tabela
2), pôde-se observar que tanto adultos jovens
e adultos referem maior soprosidade do que os
idosos (p=0,014). Os adultos referem melhor inten-
sidade vocal (p=0,01) e timbre claro (p=0,23) do
que adultos jovens. Da mesma forma, um número
signicantemente maior de adultos jovens consi-
derou seu timbre de voz adequado em comparação
aos adultos (p=0,028). Em relação às diculdades
para o canto e aos sintomas negativos após o canto,
não houve diferenças estatisticamente signicantes
entre os grupos.
440 Coelho ACC, Daroz IF, Silvério KCA, Brasolotto AG
Rev. CEFAC. 2013 Mar-Abr; 15(2):436-443
Tabela 2 – Auto-imagem vocal, diculdades no canto e presença de sintomas negativos após o canto
comparando-se os adultos jovens (Grupo 1), adultos (Grupo 2) e idosos (Grupo 3)
Auto-imagem vocal na voz cantada
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 P
Rouca 4 (8,69%) 2 (3,77%) 0 (0,00%) p=0,227
Soprosa 12 (26,08%) 8 (15,09%) 1 (3,84%) p=0,014 *G1xG3/G2xG3
Forte demais 2 (4,34%) 3 (5,66%) 0 (0,00%) P=0,447
Intensidade Adequada 30 (65,21%) 48 (90,56%) 20 (76,92%) p=0,01 *G1xG2
Fraca demais 14 (30,43%) 10 (18,86%) 6 (23,07%) p=0,402
Timbre claro 12 (26,08%) 28 (52,83%) 12 (46,15%) p=0,023 *G1xG2
Timbre adequado 33 (71,73%) 24 (45,28%) 14 (53,8%) p=0,028 *G1xG2
Timbre escuro 2 (4,34%) 1 (1,88%) 0 (0,00%) p=0,486
Dificuldades no canto Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 P
Agudos 16 (34,78%) 21 (39,62%) 7 (26,92%) p=0,538
Graves 12 (26,08%) 10 (18,86%) 2 (7,79%) p=0,163
Falsete 9 (19,56%) 8 (15,09%) 0 (0,00%) p=0,055
Passagem para agudo 14 (30,43%) 9 (16,98%) 6 (23,07%) p=0,286
Passagem para grave 9 (19,56%) 10 (18,86%) 0 (0,00%) p=0,052
Quebras na voz 13 (28,26%) 9 (16,98%) 7 (26,92%) p=0,365
Apoio 7 (15,21%) 10 (18,86%) 5 (19,23%) p=0,866
Fortes 3 (6,62%) 4 (7,74%) 0 (0,00%) p=0,368
Pianos 1 (2,17%) 3 (5,66%) 1 (3,84%) p=0,676
Ataques e cortes 3 (6,52%) 2 (3,77%) 1 (3,84%) p=0,790
Respiração 21 (45,65%) 19 (35,84%) 14 (53,8%) p=0,289
Nenhuma 7 (15,21%) 6 (11,32%) 8 (30,76%) p=0,088
Sintomas negativos após canto Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 P
Desconforto laringo-faríngeo 29 (63,04%) 31 (37,73%) 12 (46,15%) p=0,373
Voz rouca 19 (41,30%) 20 (37,53%) 5 (19,23%) p=0,149
Voz cansada 21 (45,65%) 22 (41,51%) 9 (34,61%) p=0,660
Voz fraca 10 (21,74%) 7 (13,20%) 3 (11,54%) p=0,402
Teste do qui-quadrado e comparação de 3 proporções, adotado nível de signicância de 5%
Por m, na divisão dos grupos de acordo com a
experiência de canto (Tabela 3) foi observado que
os cantores menos experientes têm mais percepção
de voz rouca do que os cantores mais experientes
(p=0,04). Não houve diferença estatisticamente
signicante para diculdades no canto. Os cantores
mais experientes referiram apresentar intensidade
adequada durante o canto em maior número do
que os demais (p=0,028). Os cantores menos
experientes referiram ainda maior ocorrência de
rouquidão após o canto do que cantores mais
experientes (p=0,035).
Características do uso vocal de coralistas 441
Rev. CEFAC. 2013 Mar-Abr; 15(2):436-443
Um maior número de cantores inexperientes e
com pouca experiência referiram rouquidão, sendo
que esse índice para os cantores mais experientes
foi de 0%. Da mesma forma os cantores mais
experientes referiram melhor controle da inten-
sidade vocal para o canto. A literatura refere que as
vozes treinadas, além de maior estabilidade para
o canto25, têm riscos diminuídos de apresentarem
alterações13,26,27. Portanto, a auto-imagem vocal
negativa é mais comum entre os cantores mais
jovens. Os cantores mais experientes referiram
signicantemente auto-imagem positiva, como
intensidade adequada do que os menos experientes.
Não foram encontrados dados signicantes
quanto às diculdades no canto na divisão do grupo
por faixa etária e por tempo de experiência, o que
sugere que tais diculdades estejam ligadas à
classicação vocal. Os achados referentes às dicul-
dades entre os naipes em atingir notas graves ou
agudas da tessitura evidenciam a proposta de cada
naipe, ou seja, sopranos e tenores cantam predomi-
nantemente em regiões mais agudas, e contraltos
e baixos cantam predominantemente em regiões
DISCUSSÃO
Assim como neste estudo, diversos pesquisa-
dores2,20,21 encontraram queixas das mais variadas
naturezas em prossionais da voz cantada.
Já em relação à divisão por faixa etária foi
observado que os idosos apresentam menor índice
de queixa de soprosidade durante a voz cantada
do que os mais jovens. Este dado vai contra a
literatura que descreve o desenvolvimento ontoge-
nético da voz e sua repercussão nas características
vocais17,22,23. Entretanto, foi observado que a média
em anos de experiência coral foi maior entre a
população idosa, seguida pela população adulta
jovem e por m, a população adulta com a menor
média, o que nos mostra que o grupo com maior
média de idade é o que tem mais experiência coral
e os que têm menos idade são os que têm menos
experiência coral. Se esse fato for levado em consi-
deração, este dado está em concordância com que
literatura que relata que vozes treinadas têm menor
chance do desenvolvimento de sinais e sintomas
negativos3-5,16,18,24.
Tabela 3 – Auto-imagem vocal, diculdades no canto e presença de sintomas negativos após o canto
comparando-se cantores sem experiência (Grupo A), com pouca experiência (Grupo B), experientes
(Grupo C) e com muita experiência (Grupo D)
Auto-imagem vocal na voz cantada
Grupo A Grupo B Grupo C Grupo D P
Rouca 3 (4,76%) 3 (17,65%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) p=0,040*
Soprosa 14 (22,22%) 1 (5,88%) 4 (15,38%) 1 (5,56%) p=0,208
Forte demais 3 (4,76%) 2 (11,76%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) p=0,207
Intensidade Adequada 42 (66,67%) 10 (58,82%) 22 (84,62%)
17 (94,44%) p=0,028*
Fraca demais 18 (28,57%) 6 (35,29%) 5 (19,23%) 1 (5,56%) p=0,135
Timbre claro 24 (38,10%) 4 (23,53%) 11 (42,31%)
12 (66,67%) p=0,063
Timbre adequado 37 (58,73%) 13 (76,47%) 15 (57,69%)
6 (33,33%) p=0,077
Timbre escuro 2 (3,17%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 1 (5,56%) p=0,579
Dificuldades no canto Grupo A Grupo B Grupo C Grupo D P
Agudos 21 (33,33%) 6 (35,29%) 12 (46,15%)
5 (27,78%) p=0,596
Graves 12 (19,05%) 4 (23,53%) 4 (15,38%) 3 (16,67%) p=0,918
Falsete 10 (15,87%) 2 (11,76%) 3 (11,54%) 2 (11,11%) p=0,916
Passagem para agudo 14 (22,22%) 6 (35,29%) 8 (30,77%) 1 (5,56%) p=0,146
Passagem para grave 7 (11,11%) 5 (29,41%) 5 (19,23%) 2 (11,11%) p=0,259
Quebras na voz 12 (19,05%) 6 (35,29%) 7 (26,92%) 4 (22,22%) p=0,531
Apoio 15 (23,81%) 0 (0,00%) 3 (11,54%) 4 (22,22%) p=0,103
Fortes 4 (6,35%) 1 (5,88%) 1 (3,85%) 1 (5,56%) p=0,975
Pianos 3 (4,76%) 0 (0,00%) 2 (7,69%) 0 (0,00%) p=0,483
Ataques e cortes 2 (3,17%) 0 (0,00%) 3 (11,54%) 1 (5,56%) p=0,289
Respiração 29 (46,03%) 6 (35,29%) 1 (46,15%) 6 (33,33%) p=0,817
Nenhuma 11 (17,46%) 4 (23,53%) 3 (11,54%) 3 (16,67%) P=0, 783
Sintomas negativos após canto Grupo A Grupo B Grupo C Grupo D P
Desconforto laringo-faríngeo 43 (68,25%) 7 (41,18%) 12 (46,15%)
8 (30,77%) p=0,061
Voz rouca 25 (39,70%) 8 (47,05%) 10 (38,46%)
1 (3,85%) p=0,035 *GAxGD/GBxGD
Voz cansada 27 (42,86%) 5 (29,41%) 12 (46,15%)
7 (26,92%) p=0,717
Voz fraca 12 (19,04%) 4 (23,52%) 2 (7,69%) 2 (7,69%) p=0,425
Teste do qui-quadrado e comparação de 4 proporções, adotado nível de signicância de 5%
442 Coelho ACC, Daroz IF, Silvério KCA, Brasolotto AG
Rev. CEFAC. 2013 Mar-Abr; 15(2):436-443
o treinamento vocal em longo prazo é um fator
determinante para a manutenção de uma voz
saudável3-5,13,16,18,24,25.
A realização de outros estudos envolvendo
a questão do cantor de coral poderá avaliar se a
qualidade vocal desses cantores é condizente com
as queixas relatadas. Além disso, o conhecimento
das características do uso vocal de um grupo de
coralistas pode oferecer importantes informações
ao regente que, ao identicar suas principais
diculdades, poderá adaptar a técnica vocal, redire-
cionando-a para esses aspectos, colaborando com
o melhor desempenho na voz cantada e com a
saúde vocal dos seus cantores.
CONCLUSÃO
As diculdades encontradas no canto estão
atreladas ao naipe, e não dependem da idade e
nem da experiência. Sintomas, como voz cansada,
estão relacionados ao naipe e ao grau de experi-
ência com o canto. Os grupos de cantores menos
experientes são os que apresentam maior índice de
queixa de rouquidão após o canto. A auto-imagem
vocal negativa também está relacionada ao naipe e
ao nível de experiência, sendo que a auto-imagem
positiva é mais comum em cantores experientes.
mais graves. A diculdade de passagem para notas
agudas, referida pelo naipe de baixos sugere que a
equalização da voz durante a passagem é de difícil
realização28, Esse naipe já apresenta extensão
reduzida para o agudo, o que pode dicultar a
coordenação da musculatura laríngea, onde a ação
do músculo cricotireóideo deve sobrepujar a ação
do músculo tireoaritenóideo.
Na análise de sintomas negativos após o canto,
foi observado índice estatisticamente signicante
de cansaço vocal em contraltos em relação aos
sopranos. Esse dado contradiz um dos resultados
de um estudo semelhante29, que encontrou maior
índice de fadiga vocal em sopranos em relação aos
contraltos. Pesquisadores colocam que as causas
e o contexto do cansaço vocal podem ser o mau
uso da voz por pela utilização de altas frequências
e fortes intensidades30, o que fala a favor de maior
fadiga vocal em sopranos, ao contrário do que foi
encontrado neste estudo. Não foram observadas
diferenças dessa natureza na divisão do grupo
por faixa etária. Porém a maior parte das queixas
é advinda dos adultos jovens, seguidos pelos
adultos e pelos idosos, respectivamente. Os grupos
de cantores inexperientes e com pouca experi-
ência apresentaram alto índice de ocorrência de
rouquidão após o canto em relação aos cantores
mais experientes. Dessa forma, é reforçado que
ABSTRACT
Purpose: to evaluate vocal self-perception, difculties and presence of negative symptoms after
singing of amateur choir singers of different vocal classications, age and experience. Method: one
hundred and twenty ve singers answered a questionnaire containing identication data, information
about self-perception of the singing voice, difculties with singing and negative symptoms after
singing. Results: the comparison considering vocal classication evidenced greater difculties with
high notes for altos and basses, greater difculty regarding the transition to high notes for basses and
greater vocal fatigue for altos. Comparing the singers by age, both adults and young adults referred
more breathiness than the elderly. The adults referred better vocal intensity than the young adults.
The young adults referred better timbre than adults. Regarding the experience, the less experienced
singers reported self-perception of hoarseness and presence of hoarseness after singing in greater
number than the experienced singers. Conclusion: the difculties with singing are connected to the
vocal classication and do not depend on age or experience. Vocal symptoms are related to the vocal
classication and to the experience with singing. Negative self-perception is also related the vocal
classication and to the experience with singing, and positive self-perception was more reported by
experienced singers.
KEYWORDS: Voice; Voice Disorders; Music
Características do uso vocal de coralistas 443
Rev. CEFAC. 2013 Mar-Abr; 15(2):436-443
14. Cohen SM, Jacobson BH, Garrett CG, Noordzij
JP, Stewart MG, Attia A, et al. Creation and validation
of the singing voice handicap index Ann Otol Rhinol
Laryngol. 2007;116(6):402-6.
15. Spiegel JR, Sataloff RT, Emerich KA. The Young
Adult Voice. J Voice. 1997; 11(2):138-43.
16. Boone D. The singing voice in the mature adult.
J Voice. 1997;11(2):161-4.
17. Takano S, Kimura M, Nito T, Imagawa H,
Sakakibara K, Tayama N. Clinical analysis
of prebylarynx – vocal fold atrophy in elderly
individuals. Auris Nasus Larynx. 2009; doi:10.1016/j.
anl.2009.11.013.
18. Sataloff RT, Roses DC, Hawkshaw M, Spiegel JR.
The aging adult voice. J Voice. 1997;11(2):156-60.
19. Heman-Ackah YD, Dean CM, Sataloff RT.
Strobovideolaryngoscopic ndings in singing
teachers. J Voice. 2002;16(1):81-6.
20. Prakup B. Acoustic measures of the voices
of older singers and nonsingers. J Voice.
2012;26(3):341-50. [epub ahead of print].
21. Schmid-Tatzreiter E, Schmid R. Interdisciplinary
voice examination (screening) for (choir) singers at
the Salzburger Sanger Service-tag 2003. Logoped
Phoniatr Vocol. 2004Apr;(29):92-6.
22. Brasolotto A, Pontes P, Behlau M. Glottic
characteristics and voice complaint in the elderly. J
Voice. 2005;19(1):84-94.
23. Behlau M, Azevedo R, Pontes P. Conceito de
voz normal e classicação das disfonias. In: Voz:
O livro do especialista. Volume I. Rio de Janeiro:
Revinter; 2001. p. 53-73.
24. Cohen S, Noordzij J, Garrett G, Ossoff RH.
Factors associated with perception of singing.
Otolaryngol Head Neck Surg. 2008;138(4):430-4.
25. Fuchs M, Meuret S, Thiel S, Taschner R,
Dietz A, Gelbrich G. Inuence of singing activity,
age and sex on voice performance parameters, on
subjects’perception and use of their voi in childhood
and adolescence. J Voice. 2009;23(2):182-9.
26. Siupsinskiene N, Lycke H. Effects of vocal training
on singing and speaking voice characteristics in
vocally healthy adults and children based on choral
and nonchoral data. J Voice. 2011;25(4):e177-89.
27. Awan SN, Ensslen AJ. A comparison of trained
and untrained vocalists on the Dysphonia Severity
Index. J Voice. 2010;24(6):661-6.
28. Neumann K. Schunda P, Hoth B, Euler HA.
The interplay between glottis and vocal tract
during the male passaggio. Folia Phoniatr Logo.
2005;57(5-6):308-27.
29. Tepe E, Deutsch E, Sampson Q, Lawless S,
Reilly J, Sataloff R. A pilot survey of vocal health in
young singers. J Voice. 2002;16(2):244-50.
30. Kitch JA, Oates J. The perceptual features of
vocal fatigue as self-reported by a group of actors
and singers. J Voice. 1994;8(3):207-14.
REFERÊNCIAS
1. Fernandes A, Kayama A, Östergren E. O
regente moderno e a construção da sonoridade
coral [The modern conductor and today’s choral
practice: sonority and technique]. In: Per Musi. Belo
Horizonte: UFGM (Programa de Pós-Graduação
em Música). 2006;(13):33-51.
2. Ribeiro LR, Hanayama EM. Perl vocal de
coralistas amadores. Rev CEFAC. 2005;7(2):252-66.
3. Sorrel JA, Sorrel LM. Music as a Healing Art for
older Adults. J Psychosoc Nurs. 2008;46(3):21-4.
4. Cassol M, Bos AJG. Canto coral melhora
sintomas vocais em idosos saudáveis. Ver Brás de
Ciên do Envelh Hum. 2006;3(2):113-22.
5. Rocha TF, Amaral FP, Hanayama EM. Extensão
vocal de idosos coralistas e não coralistas. Rev
CEFAC. 2007;9(2):248-54.
6. Perry BE. Health information-seeking behaviors
among classically trained singers. J Voice.
2012;26(3):330-5. [epub ahead of print].
7. McCrea CR, Morris RJ. Effects of Vocal Training
and Phonatory Task on Voice Onset Time. J Voice.
2007;21(1):54-63.
8. Phyland DJ, Oates J, Greenwood KM.
Self-reported voice problems among three groups
of professional singers. J Voice. 1999;13(4):602-11.
9. Cunha AL. A ocina coral como atividade de
apoio ao coro amador. Dissertação (Mestrado) –
Escola de Comunicação e Artes, Universidade de
São Paulo, São Paulo. 1999; 129p.
10. McKinney J. The singing/acting young adult
from a singing instruction perspective. J Voice.
1997;11(2):153-5.
11. Emerich KA, Sataloff RT. Chronic Fatigue
Syndrome in Singers. In: Sataloff RT. Professional
Voice: the science and art of clinical care, 2ed. San
Diego: Singular; 1997. p. 447-51.
12. Mang E. Effects of Musical Experience on
Singing Achievement. Bulletin of the Council for
Research in Music Education. 2007;174:75-92.
13. Braun-Janzen C, Zeine L. Singers Interest and
Knowledge Level of Vocal Function and Dysfunction:
survey ndings. J Voice. 2009;23(4):470-83.
Recebido em: 08/03/2012
Aceito em: 10/06/2012
Endereço para correspondência:
Ana Cristina de Castro Coelho
Praça Wenceslau Braz, 74, Apto 21
Itajubá – MG
CEP: 37500-038
Email: anacrisccoelho@yahoo.com.br