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A relação terapeuta-cliente sob o enfoque comportamental

Authors:
A
relação
terapeuta
-
cliente
sob o
enfoque comportamental
Thereza Pontual de Lemos Mettel
Prof'
da Universidade de Brasília
A
relação terapeuta-cliente
deve ser vista como uma das
mais importantes variáveis
dentre aquelas introduzidas
na experiência do cliente com o início
da terapia. Neste ponto, acredito que
todas as terapiasm este aspecto em
comum, embora possam usá-lo de
maneiras e intensidades diferentes.
Na terapia comportamental há-
rios níveis de participação do terapeu-
ta e, portanto, de sua pessoa como
variável significativa. Quando o pro-
cedimento é mais delimitado e rápido
e o cliente é mais normal, sua partici-
pação como variável torna-se menos
importante e mais limitada. O rela-
cionamento de dependênciao é es-
timulado, como tambémo o é nas
terapias Rogerianas, Racional Emoti-
vas e na "Reality Therapy" de Glaser,
para citar apenas algumas terapias
o analíticas.
Em casos de maior comprometi-
mento do cliente e quando o nível de
ansiedade e desorganização psicológi-
ca é mais alto, o terapeuta assumirá
um papel mais preponderante na si-
tuação ambiental da terapia e fora
dela. Ele, então, se tornará um impor-
tante elemento motivacional e a sua
pessoa um modelo, um reforçador so-
cial por excelência, um estímulo dis-
criminativo. No entanto,o parece
que seja ele, o terapeuta, o elemento
mais importante no processo de
aprendizagem que deverá se desenvol-
ver na terapia.
Kanfer e Phillips (1975) dizem que
os fatores de relacionamentoo mui-
tas vezes determinantes da mudança
de comportamento durante a terapia,
assim o conjunto de variáveis que é o
terapeuta, pode "aumentar ou dimi-
nuir a eficácia das técnicas comporta-
mentais, através do impacto de suas
características pessoais e da intera-
ção"
com o cliente. Na situação am-
biental da terapia comportamental, o
terapeuta e sua pessoa operam, por-
tanto,
como:
o reforçador social por excelência;
o modelo;
o estímulo discriminativo para cer-
tos comportamentos;
o observador-participante que irá
colaborar no desenvolvimento do
programa de tratamento junto com o
cliente.
A este ponto, pergunta-se:
Como o terapeuta poderá se tornar
esta variável importante de contexto
nas terapias comportamentais?
Quais seriam as características pes-
soais do terapeuta que o tornariam
mais eficiente?
Qual seria o papel social do tera-
peuta na terapia?
Qual seria o seu envolvimento no
desenvolvimento da interação com o
cliente?
Qual seria a função da "confian-
ça" ou "expectativa" do cliente com
relação à capacidade ou competência
do terapeuta?
Como deveria o terapeuta usar as
características da interação afetiva,
sem correr o risco de se concentrar
apenas no uso das "variáveis de inte-
ração cujos efeitos podem ser triviais
e indiretos?" (Kanfer e Phillips,
1975).
A continuação do estudo científico
e da análise das condições e caracte-
rísticas da relação terapêutica faz-se
cada dia mais importante e premente.
Carl Rogers neste ponto foi um pio-
neiro quando pela primeira vez na
história da psicologia gravou uma
sessão de psicoterapia, para posterior
observação e análise. Preocupava-o,
na época, procurar respostas para as
perguntas: O que acontece na sessão
de terapia que poderá levar o cliente a
mudar? O que é terapêutico na rela-
cionamento terapeuta-cliente? Leo-
nard Krasner (1978) diz que a "gra-
vação de entrevistas patrocinada por
Carls Rogers abriu caminho para a
observação naturalística do que real-
mente acontece na psicoterapia... as
verbalizações dos terapeutas foram
assim observadas, categorizadas,
quantificadas e sistematicamente rela-
cionadas às categorias de verbaliza-
ções do cliente.
As terapias comportamentaism
esquecido de estudar e até de enfati-
zar este aspecto no estudo da situação
terapêutica e, durante muitos anos, os
relatos de tratamento foram feitos
apenas com dados do cliente. E onde
está o terapeuta nisto?
Quaiso os comportamentos do
terapeuta que poderão entrar como
elementos significativos no contexto
da situação terapêutica? Será possível
identificar de modo mais objetivo as
qualidades comportamentais do tera-
peuta? Vê-se nestas perguntas a ne-
cessidade premente de maior preocu-
pação e investigação destas variáveis.
Warren, em 1978, procurou estu-
dar algumas destas variáveis e tentou
medir o que ele chamou de comporta-
mentos assertivos positivos e a ex-
pressão de ternura do terapeuta. Para
ele os "comportamentos assertivos
positivos ou a expressão de sentimen-
tos de apreciação, afeto positivo (gos-
tar),
empatia e "self-disclosure" per-
mitem um indivíduo se tornar mais
reforçador para os outros e, portanto,
pode encorajar a comunicação e a
expressão de afeto de outros.
Pergunta-se, então, que qualidades
de estímulo da pessoa do terapeuta
facilitariam o contacto humano e a
comunicação positiva ou genuína en-
tre pessoas? O que tornaria o terapeu-
ta sua pessoa como instrumento
o grande facilitador na situação tera-
pêutica? Para que perguntas como es-
tas sejam respondidas é preciso obser-
var os comportamentos verbais e os
o verbais, o padrão oferecido na
interação, para se ser capaz de descre-
ver, analisar e entender as diferenças
entre terapeutas e sua menor ou
maior eficiência no relacionamento.
Que características comportamen-
tais do terapeuta, que "dicas" levarão
o cliente à percepção da aceitação e
o julgamento do terapeuta? O que
aprender de Rogers? Parece que o
mais importante é acreditar no clien-
te,
aceitá-lo sem julgá-lo, a fim de
mudar as condições de relacionamen-
to na sua vida. Como descrever estas
condições, como desenvolver esta
qualidade nos futuros terapeutas, co-
mo investigar estes aspectos?
O relacionamento, a interação pes-
soa com pessoa, é o grande exercício
da situação terapêutica. O terapeuta
dá modelo e prática de relacionamen-
to inter-pessoal sadio com seu cliente.
A terapia é uma experiência de vida
onde comportamentos sociais e afeti-
vos novos devem ser desenvolvidos
no relacionamento entre duas ou mais
pessoas envolvidas na terapia.
A generalização deste relaciona-
mento deverá ser possível para outras
pessoas e situações e, para isto, o
terapeuta deveria se comportar mais
como uma pessoa do que como um
mágico, um todo-poderoso... É preci-
so estudar os tipos e as características
de relacionamento entre adulto-adul¬
to,
adolescente-adulto,criança-adulto.
Daí a versatilidade da terapia com-
portamental que faz uso de co-
terapeutas e patrocina a colaboração
de outras pessoas na vida do cliente,
que possam ter qualidades terapêuti-
cas no seu relacionamento.
A ocasião de se desenvolver com-
portamentos sociais e afetivos novos,
o início e o treinamento deles é na
sessão de terapia. Pergunta-se, pois:
como facilitar a generalização?
comoo "mistificar" o relaciona-
mento terapeuta-cliente, a ponto de
tornar difícil a generalização e a auto-
nomia do cliente?
R. Hare Mustin et alii, (1979),
dizem que o treinamento convencio-
nal em psicoterapia, muitas vezes en-
fatiza a contribuição do cliente para o
problema, mas subestima as forças
sociais externas que modelam o com-
portamento do cliente. Esta ênfase li-
mita a percepção do terapeuta sobre a
sua própria contribuição ao processo
de terapia. Finalmente, faz-se mister
um trabalho cuidadoso e permanente
de investigação "paripassu" com o
trabalho clínico para que o processo
de relacionamento cliente-terapeuta
seja esclarecido. Os benefícios desta
investigação serão múltiplos, atingin-
do os profissionais, a sociedade a
quem prestam serviços e o conheci-
mento psicológico como um todo.
Referências Bibliográficas
BRAMMER, H.A. The helping relation-
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KANFER, F.H. e PHILLIPS, J.S. Os prin-
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KRASNER, L. The future and the past in
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rement of positive assertive behaviors:
the behavioral test of tenderness ex-
pression. Behavior Therapy. 9; 178-
184,
1978.
... (Kerbauy, 1981a(Kerbauy, , 1981bQueiroz et al., 1976;Queiroz & Guilhardi, 1980;Witter, 1974). O segundo aspecto é o papel da relação terapeuta-cliente como ferramenta de mudança (Mettel, 1986(Mettel, , 1987Otero, et al, 1974). O conteúdo da produção científica dos primeiros terapeutas comportamentais do Brasil demonstra o esforço de um grupo de pesquisadores brasileiros em construir ferramentas que pudessem produzir melhora na vida das pessoas. ...
... O conteúdo da produção científica dos primeiros terapeutas comportamentais do Brasil demonstra o esforço de um grupo de pesquisadores brasileiros em construir ferramentas que pudessem produzir melhora na vida das pessoas. (e.g., Queiroz et al., 1976;Queiroz & Guilhardi, 1980;Kerbauy, 1981aKerbauy, , 1981bMettel, 1986Mettel, , 1987Otero, et al, 1974;Witter, 1974). ...
Article
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Brasil) RESUMO A Terapia Analítico-Comportamental (TAC) é um modelo de psicoterapia origi-nado no Brasil, que vem recebendo críticas em relação à ausência de evidências que sustentem sua prática. Este artigo tem por objetivo discutir a sistematização da TAC e, para tanto, apresenta a questão da sistematização e formalização de mo-delos de intervenção psicoterápica. Em seguida, aborda o problema da transpo-sição cultural de modelos psicoterápicos e sua relação com a recente proposta da Terapia Baseada em Processos (TBP). Por fim, discute alguns dados que mostrem a evolução da TAC em termos de objetivos propostos, problemas enfrentados e intervenções realizadas, bem como sua relação com as propostas atuais da TBP. A partir destas etapas, é argumentado que a TAC possui sistematização enquanto modelo psicoterápico, bem como evidências de sua eficácia, desde que a noção de evidências de pesquisa não seja reduzida ao modelo da Psicoterapia Baseada em Evidências proposto pela American Psychological Association. Palavras-chave: modelo psicoterápico, psicoterapia baseada em processo, mo-delos transdiagnósticos, terapia analítico-comportamental, sistematização, terapia baseada em evidências.
... Outro ponto importante diz respeito à comunicação positiva no processo terapêutico, seja ela verbal ou não-verbal, ou seja, aqui estamos incluindo o corpo e a sua corporeidade (Freitas, 2009). Como diria em uma perspectiva comportamental, o terapeuta age como um reforçador social por excelência (Mettel, 1987). É importante que o profissional de psicologia consiga pontuar elementos positivos na relação-terapêutica, no comportamento do cliente, dar feedbacks sobre os avanços do processo terapêutico, pontuando os momentos de melhora/evolução do cliente, e não tendo o seu foco apenas na catástrofe ou na desgraça alheia. ...
... Outro ponto importante diz respeito à comunicação positiva no processo terapêutico, seja ela verbal ou não-verbal, ou seja, aqui estamos incluindo o corpo e a sua corporeidade (Freitas, 2009). Como diria em uma perspectiva comportamental, o terapeuta age como um reforçador social por excelência (Mettel, 1987). É importante que o profissional de psicologia consiga pontuar elementos positivos na relação-terapêutica, no comportamento do cliente, dar feedbacks sobre os avanços do processo terapêutico, pontuando os momentos de melhora/evolução do cliente, e não tendo o seu foco apenas na catástrofe ou na desgraça alheia. ...
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O objetivo central deste trabalho é a introdução do conceito de simpatia na psicologia, levando em consideração a perspectiva do encontro e a noção de dialógica. Assim sendo, passa-se pelo conceito de empatia, propondo que estes dois conceitos se constituem em uma díade teórica explicativa cujo resultado é o incremento da eficácia de um encontro terapêutico na clínica psicológica. Finaliza-se apontando possíveis posturas simpáticas do terapeuta, bem como cuidados no que diz respeito à influência exercida no processo de influência social na psicoterapia.
... Os poucos estudos de caso sobre encoprese em português tratam de encoprese secundária e não retentiva (evacuações na roupa) (Conte, 1987). O presente estudo de caso se refere ao atendimento de uma criança com quadro de encoprese secundária retentiva e visa contribuir para a discussão da encoprese em termos da explicação do fenômeno e da implementação de um programa de intervenção (ludoterapia comportamental); tal programa foi elaborado a partir da especificação de alguns fatores que podem afetar a relação terapeuta-cliente (Mettel, 1986). ...
Chapter
Behavior therapies are characterized by the work of researchers and practitioners in different places, contexts, needs, and historical periods. As every historical event is unique, the history of behavior therapy in Brazil followed its own path. In Brazil, behavior therapy started in the late 1960s, and spread in the 1970s. At the time, many Brazilians either sought training abroad or invited overseas researchers and practitioners to teach in Brazil; thus, Brazilian therapists kept a close contact with representatives of the different waves in behavior therapy. It is also worth noting the strong female presence in scientific leadership throughout the history of behavior therapy in Brazil, including TAC (behavior-analytic therapy, from the original in Portuguese, terapia analítico-comportamental). The TAC model for understanding psychotherapy can be considered original given that no similar organization is known to have occurred simultaneously. The main assets of the theoretical-practical originality of TAC may be the well-known importance given to the therapeutic relationship as a drive for change and the adoption of contingency analysis as an assessment tool – both already present in various early 1970s’ studies. Notably, there are similarities between TAC and other models of psychotherapy, especially third wave ones. However, this similarity is not unique to TAC. Approximations between FAP, ACT and DBT, for example, are common in the international literature. In sum, the three waves metaphor does not represent the development of behavior therapy in Brazil. However, third wave behavior therapies influenced the construction of the Brazilian model of behavior therapy (TAC) which, from a conceptual point of view, is strongly founded in behavior analysis and radical behaviorism and, from a practical one, is open for new developments of different behavior therapies.
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The continuing behaviorism–humanism "dialog" is approached by a simultaneous look at the past and the future. The roots of the current ongoing controversy between adherents of these 2 positions can be traced to developments in science, psychology, and American society in the post-World War II period. A systematic study of that era points up the affinities between the 2 approaches in terms of philosophical influences and social objectives. An argument is presented for commonality of roots. The future of the behaviorism–humanism dialog resides in the emergence of new models and approaches to conceptualizing and changing human behavior, which are currently being developed. It is predicted that greater agreement on basic issues and cooperation between the "behaviorist" and the "humanist" will occur in the near future. (20 ref) (PsycINFO Database Record (c) 2012 APA, all rights reserved)
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Discusses ways in which ethical principles can be put into practice in the client–therapist relationship. Historically, ethical codes for therapists were drawn up to protect the professions from regulation by external agencies. Implicit in the ethical codes, however, is a model for the client–therapist relationship that fosters the goals of mental health. It is suggested that just as ethical codes have been given specific content in standards for providers of psychological services in human service facilities, ethical codes can be given specific content in the client–therapist relationship. It is recommended that therapists take responsibility for incorporating ethical standards into their practices so that clients' rights will be an integral part of therapy. Four illustrative situations are presented: providing clients with information to make informed decisions about therapy, using contracts in therapy, responding to clients' challenges to therapists' competence, and handling clients' complaints. (63 ref) (PsycINFO Database Record (c) 2012 APA, all rights reserved)
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A role-play test designed to measure the expression of positive assertive behaviors in intimate relationships was developed. Forty-one couples who had been dating 9 months or more or who were married listened individually to the taped behavioral test and role-played their responses. Responses were independently rated on a four-point scale for expressiveness of content by two raters. Subjects listened to and rated their partner's taped responses as to how characteristic the responses were for a measure of concurrent validity. Two self-report measures and the Crowne-Marlowe Social Desirability Scale were also used to assess validity. Results indicate that the Behavioral Test of Tenderness Expression (BTTE) has high inter-rater reliability. Concurrent validity, as measured by the partner's ratings of taped behaviors, is also high, indicating that the test behaviors were typical of usual home behaviors in similar situations. Social desirability is unrelated to any measures used. Self-report measures yield moderate correlations with the behavioral test.
Os princípios da Aprendizagem na terapia comportamental
  • F H Kanfer
  • J S E P U Phillips
KANFER, F.H. e PHILLIPS, J.S. Os princípios da Aprendizagem na terapia comportamental. (Vol. III). São Paulo, E.P.U., 1975.
Behavioral and cognitive psychology. Revista Mexicana de Analisis de la Conduta
  • E Segal
SEGAL, E. Behavioral and cognitive psychology. Revista Mexicana de Analisis de la Conduta. 4(2): 203-215, 1978.