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Influência da Temperatura e do Tipo de Substrato na Produção de Larvas de
Musca domestica Linnaeus, 1758 (Diptera, Muscidae)1
Stefan Cruz Weigert2, Mario Roberto Chim Figueiredo3, Daniel Loebmann4,
José Augusto Reis Nunes5, Antonio Luís Garcia dos Santos6
RESUMO - Em sala climatizada no Ranário Experimental da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (REURG), quatro
moscários foram preparados, colocando-se em cada um cerca de 5000 pupas de Musca domestica. Após o nascimento das moscas, cada
moscário recebeu, além das bandejas com alimento (açúcar e leite), uma bandeja com substrato para postura, constituído de farelo de trigo
umedecido. Diariamente os substratos para postura foram homogeneizados e distribuídos entre 15 bandejas pequenas, acondicionadas
em estufas climatizadas e submetidos a uma combinação de cinco temperaturas (20, 23, 26, 29 e 32°C) e três substratos para a produção
de larvas (farelos de arroz, de trigo e de soja). As temperaturas de 20, 23 e 26ºC proporcionaram os melhores resultados de produção
de larvas, a qual diminuiu com a elevação da temperatura, indicando ser desnecessária a utilização de aquecimento no larvário em locais
onde a temperatura mínima não seja inferior a 20ºC. O farelo de trigo foi o melhor substrato para a produção de larvas de
M. domestica. A maior produtividade de larvas foi verificada na 7ª e 8ª posturas.
Palavras-chave: larvas de mosca, ranicultura, substrato, temperatura
Effect of Temperature and Kind of Substratum on the Production of
Musca domestica Linnaeus, 1758 (Diptera, Muscidae) Larvae
ABSTRACT - In room acclimatized in Experimental Frog-Farm of Fundação Universidade Federal of Rio Grande (REURG) four
flies cages were prepared, being put in each one about 5000 pupas of Musca domestica. After the birth of the flies, each flie cage received,
above the trays with food (sugar and milk), a tray with substratum for posture, constituted of humidified wheat flour. Daily the substratum
for posture were homogenized and distributed among 15 small trays, conditioned in acclimatized stoves and submitted to a combination
of five temperatures (20, 23, 26, 29 and 32°C) and three substratum for the production of larvae (flours of rice, wheat and soy). The
temperatures of 20, 23 and 26ºC provided the best results of production of larvae, that decreased as temperature increased, indicating
to be unnecessary the heating use in the larvae cages in places where the minimum temperature is not lower than 20ºC. The wheat
flour went the best substratum to the production of larvae of M. domestica. The largest productivity of larvae was verified in the
7th and 8th postures.
Key Words: fly larvae, frog culture, substratum, temperature
1Projeto apoiado pelo CNPq e pela FAPERGS, com auxílio e bolsas.
2Oceanólogo, bolsista de aperfeiçoamento da FAPERGS. E.mail: weigerts@bol.com.br
3Prof. Adj. IV, FURG, DOc, LAC, REURG. C.P. 474, CEP: 96201-900, Rio Grande, RS. Orientador. E.mail: docchim@furg.br
4Oceanólogo, estudante de mestrado em Oceanografia Biológica, FURG. E.mail: ocedl@furg.br
5Médico Veterinário, MSc em Engenharia de Alimentos, FURG. E.mail: augustoreisnunes@bol.com.br
6Oceanólogo, bolsista de iniciação científica do CNPq. E.mail: algsoceano@yahoo.com.br
R. Bras. Zootec., v.31, n.5, p.1886-1889, 2002
Introdução
O ciclo vital da mosca doméstica, Musca
domestica Linnaeus, l758 (Diptera, Muscidae), com-
preende as fases de ovo, larva, pupa e mosca adulta.
O estudo das formas de criação destes animais torna-
se fundamental em vista da possibilidade de sua
utilização na alimentação animal, com principal aten-
ção à fase larval.
Pro et al. (1999) afirmaram que a larva da
M. domestica apresenta várias características que a
torna adequada para uma produção massiva, como a
precocidade e prolificidade da espécie, dependendo
da temperatura e umidade ambientais. Uma fêmea é
capaz de realizar desovas com até 800 ovos (Tinsley
et al., 1984, citados por Pro et al., 1999). Além disso,
a larva pode desenvolver-se em uma grande variedade
de substratos, alimentando-se basicamente de matéria
orgânica vegetal (Aleixo et al., 1984).
Lima & Agostinho (1984) apresentaram a primei-
ra proposta de se utilizar ração balanceada como
alimento para rãs. Desde então, larvas de M. domes-
tica vêm sendo utilizadas como artifício para estimu-
lar a ingestão da ração (Aleixo et al., 1984), pois as
1887
R. Bras. Zootec., v.31, n.5, p.1886-1889, 2002
WEIGERT et al.
mesmas possuem fotofobia e imergem na ração,
movimentando-a. Como as rãs, na fase terrestre, são
essencialmente carnívoras, o movimento das larvas é
fundamental para a sua alimentação (Reeder, 1964).
De acordo com Pro et al. (1999), o alto conteúdo
de energia metabolizável das larvas secas, para fran-
gos de corte (Energia Metabolizável aparente = 4071
± 133 kcal/kg), pode ser explicado por seu alto conteú-
do de óleo (22%) e pela alta proporção de ácidos
graxos insaturados (aproximadamente 49% do total), o
que melhora a absorção dos ácidos graxos saturados.
Com o objetivo de otimizar a produção de larvas
de M. domestica, foram realizados experimentos
combinando-se diferentes temperaturas e substratos
para criação dessas larvas, a fim de determinar a
faixa de temperatura mais adequada no interior do
larvário, bem como o substrato que proporciona a
maior produção de larvas.
Material e Métodos
O experimento foi realizado no Ranário Experi-
mental da Fundação Universidade Federal do Rio
Grande (REURG), localizado no município do Rio
Grande, RS. Para a realização do experimento foram
utilizadas duas salas: uma sala climatizada que abri-
gava quatro moscários e outra equipada com cinco
estufas climatizadas.
Os moscários são estruturas medindo 0,65 x 0,60 x
0,55 m (C x L x A), compostas de armação de madeira
recoberta por tela de náilon branca com diâmetro de
1,0 mm, com uma pequena porta frontal, de compensa-
do, por onde é realizado o manejo diário. A sala onde
foram instalados os quatro moscários utilizados no
experimento foi especialmente preparada para este
fim, sendo climatizada através de duas resistências
elétricas de 500 W, 220 V, controladas por um
termostato. Durante o período experimental, a tempe-
ratura foi monitorada diariamente com o auxílio de um
termômetro de máximas e mínimas, sendo que a tem-
peratura média foi de 27ºC, com um desvio padrão de
2ºC. Esta sala contava com ventilação e iluminação
naturais, realizadas por uma janela basculante. As
cinco estufas climatizadas foram descritas por
Figueiredo (1996) e Figueiredo et al. (2001), sendo
modificadas pela retirada das gaiolas de fibra de vidro,
as quais não foram utilizadas neste experimento.
Para o experimento quatro moscários foram prepa-
rados, lavando-se os mesmos com água hiperclorada e
colocando-se em cada um cerca de 5.000 pupas de
moscas da espécie Musca domestica, provenientes de
larvas produzidas anteriormente nos próprios moscários.
Após o nascimento, as moscas foram alimentadas
com açúcar, em uma bandeja, e leite misturado com
água, na proporção de 1:1 (aproximadamente 25 mL de
cada), em outra bandeja. A mistura leite/água foi trocada
diariamente e coberta com uma camada de papel absor-
vente para evitar o afogamento das moscas.
Cinco dias após o nascimento das moscas, cada
moscário recebeu o substrato para postura dos ovos.
No preparo deste substrato utilizaram-se 400 g de
farelo de trigo e 400 mL de água, que foram mistura-
dos em uma bandeja pequena até formar uma massa
homogênea, onde se faziam furos com os dedos.
Diariamente, durante 16 dias (repetições), subs-
tituíam-se os substratos de postura de todos os
moscários. Os quatro substratos retirados foram
homogeneizados para evitar a formação de placas e
permaneceram sobre os moscários até o dia seguinte,
quando então, foram misturados em bandeja grande
(13 L), previamente tarada. Esta mistura foi pesada,
e o peso obtido dividido em 15 parcelas iguais, colo-
cando-se em 15 bandejas pequenas (de 2,2 L), as
quais foram distribuídas em uma combinação de três
substratos para a produção de larvas (farelo de trigo - FT,
farelo de arroz - FA e farelo de soja - FS) com cinco
temperaturas (20, 23, 26, 29 e 32ºC).
Os substratos para produção de larvas foram
preparados da mesma forma que o substrato de postura,
apenas substituindo-se o farelo de trigo por farelo de
arroz e soja, compondo-se três lotes de cinco bandejas,
um para cada substrato (FT, FA e FS). Depois de
prontos os substratos foram adicionados às 15 bande-
jas, até então com o farelo de trigo e larvas, sendo estas
acondicionadas nas estufas climatizadas.
Cada bandeja permaneceu por três dias na estufa.
Após este período, foi realizada a separação total das
larvas do substrato, de cada bandeja separadamente,
com auxílio de peneiras e feita a sua pesagem. Para
a pesagem das amostras foi utilizada balança eletrô-
nica com sensibilidade de 0,1 g.
Para a determinação do ciclo produtivo de um
moscário, os pesos de larvas das 15 bandejas foram
somados e a soma dividida por quatro, obtendondo-se
a produção média diária por moscário, submetendo-se,
então, os resultados à análise de regressão.
Os dados foram submetidos à analise de
variância e a testes de comparação de médias, sendo
utilizado o software SAEG (Euclides, 1983), e a uma
análise de regressão.
Influência da Temperatura e do Tipo de Substrato na Produção de Larvas de Musca domestica Linnaeus, 1758...
1888
R. Bras. Zootec., v.31, n.5, p.1886-1889, 2002
Resultados e Discussão
A temperatura e o substrato de produção afeta-
ram significativamente (P≤0,05) a produção de lar-
vas de M. domestica, não sendo significativo o efeito
da interação entre ambos fatores em questão.
Verificou-se maior produção de larvas a 20, 23 e
26ºC do que a 29 e 32ºC. Com relação ao substrato
utilizado, o farelo de trigo foi melhor que farelo de
arroz e soja (Tabela 1).
A distribuição dos pesos médios de larvas, obtidos
em função da temperatura das estufas, ajusta-se a
um modelo linear (Figura 1), no qual se observa
decréscimo da produtividade de larvas com o aumento
da temperatura ambiente.
Observou-se que temperaturas mais elevadas (29
e 32ºC) afetaram negativamente a produção de larvas
M. domestica. O processo de fermentação do substrato
de produção, que ocorre durante o desenvolvimento
das larvas, caracteriza-se por ser exotérmico, ou seja,
durante a fermentação ocorre liberação de calor.
A Figura 2 ilustra a produção média de larvas em
função do substrato de produção utilizado. Nela se
observa que o maior peso de larvas foi obtido com
farelo de trigo.
A produção de larvas é viável até 21 dias após o
nascimento das moscas, ou seja, durante 16 dias a
partir da primeira postura (Figura 3). A dispersão dos
dados de peso médio de larvas (y) ao longo do tempo
(x), ficou bem caracterizada por um modelo quadrático
(Figura 3), no qual se observou que a máxima produ-
tividade do moscário ocorreu entre o 7º e 8º dia após
o início das posturas, ou seja, entre o 12º e 13º dia após
o nascimento das moscas. Este resultado comprova
Tabela 1 - Peso médio de larvas (g) em função da temperatura do larvário e do substrato de produção utilizado
Table 1 - Larvae’ average weight (g) as a function of the temperature of the larvae cage and of the used production substratum
Temperatura (ºC) Peso médio de larvas (g) Substrato de produção Peso médio de larvas (g)
Temperature (ºC) Larvae average weight (g) Production substratum Larvae average weight (g)
20 45,72a
23 41,71aFarelo de Trigo 44,88a
26 40,90aFarelo de Soja 32,83b
29 30,59bFarelo de Arroz 32,58b
32 24,90b
Médias, na coluna, seguidas de letras diferentes, diferem (P≤0,05) pelo teste de Newman Keuls.
Means, in a column, followed by different letters, differ (P≤.05) by Newman-Keuls test.
y = -1,7585x + 82,485
R2 = 0,9259
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
20 23 26 29 32
Temperatura (ºC)
Temperature (ºC)
Peso médio de larvas (g)
Larvae’ average weight (g)
Figura 1 - Estimativa do peso de larvas em função da
temperatura da estufa.
Figure 1 - Estimate of larvae weight as a function of the stove
temperature.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
F. Trigo F. Soja F. Arroz
Substrato de produção
Production substratum
Peso médio de larvas (g)
Larvae average weight (g)
Figura 2 - Peso de larvas em função do substrato de
produção utilizado.
Figure 2 - Larvae weight as a function of the used production
substratum.
1889
R. Bras. Zootec., v.31, n.5, p.1886-1889, 2002
WEIGERT et al.
que a periodicidade média para a montagem de
moscários, tendo em vista a necessidade de se man-
ter estável a produção de larvas, é de sete dias, sendo
necessários, no mínimo, quatro moscários para o
rodízio, conforme sugerido por Aleixo et al. (1984).
y = -0,3649x2 + 5,3436x + 28,793
R2 = 0,8173
0
10
20
30
40
50
60
12345678910111213141516
Posturas (dias de experimento)
Posture (days of experiment)
Peso médio de larvas (g)
Larvae’ average weight (g)
Figura 3 - Estimativa dos pesos médios de larvas ao
longo da postura das moscas.
Figure 3 - Estimate of larvae average weight during the flies
posture.
Conclusões
A produção de larvas é inversamente proporcio-
nal à elevação da temperatura, não sendo necessária
a utilização de aquecimento no larvário (o que repre-
senta uma economia para o produtor).
Entre os farelos utilizados como substrato de
produção, além da maior produção de larvas, é indis-
cutível a facilidade de manejo (umedecimento e sepa-
ração de larvas) proporcionada pelo farelo de trigo.
A máxima produtividade de um moscário ocorre
entre a 7ª e 8ª posturas, de modo que, nesses dias
deve ser realizada a retirada de larvas para a monta-
gem de novo(s) moscário(s).
Os resultados sugerem a necessidade de novos
experimentos a partir de temperaturas abaixo de 20ºC.
Literatura Citada
ALEIXO, R.C.; LIMA, S.L.; AGOSTINHO, C.A. Criação da
mosca doméstica para suplementação alimentar de rãs.
Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 1984. 11 p.
(Informe Técnico, 46).
EUCLIDES, R.F. Sistema para análises estatísticas e gené-
ticas. Manual de utilização do SAEG. Viçosa, MG: Uni-
versidade Federal de Viçosa, 1983. 57p.
FIGUEIREDO, M.R. Influência dos fatores ambientais so-
bre o desempenho da rã-touro (Rana catesbeiana Shaw,
1802) em gaiolas. Viçosa, MG: Universidade Federal de
Viçosa, 1996. 151p. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Uni-
versidade Federal de Viçosa, 1996.
FIGUEIREDO, M.R.C.; LIMA, S.L., AGOSTINHO, C.A. et al.
Estufas climatizadas para experimentos ambientais com rãs,
em gaiolas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, n.4,
p.1135-1142, 2001.
LIMA, S.L.; AGOSTINHO, C.A. Técnicas e propostas para
alimentação de rãs. Viçosa, MG: Universidade Federal de
Viçosa, 1984. 11p. (Informe técnico 50).
PRO, A.M.; CUCA, M.G.; BECERRIL, C.P. et al. Estimación
de la energía metabolizable y utilización de larva de mosca
(Musca domestica L.) en la alimentación de pollos de engorda.
Archivos Latinoamericanos de Producción Animal, v.7,
n.1, p.39-51, 1999.
REEDER, W.G. The digestive system. In: MOORE, J.A. (Ed.)
Physiology of the Amphibia. New York: Academic Press,
1964. v.1, p.99-209.
Recebido em: 30/11/01
Aceito em: 07/06/02