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Rev. Bras. Pl. Med., Campinas, v.15, n.2, p.257-263, 2013.
Recebido para publicação em 27/08/2011
Aceito para publicação em 29/11/2012
Avaliação biológica de Foeniculum vulgare (Mill.) (Umbelliferae/Apiaceae)
ARAUJO R,O.*1; SOUZA I.A.2; SENA K.X.F.R2; BRONDANI, D.J.; SOLIDÔNIO, E.G.4
1Programa de Pós-Graduação em Ciencias Farmacêuticas-Universidade Federal de Pernambuco – UFPE,
Brasil. 2Departamento de Antibióticos-Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Brasil. 3Departamento
de Ciências Farmacêuticas-Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Brasil. 4Departamento de Energia
Nuclear- Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Brasil. *rosilma23@hotmail.com
RESUMO: Foeniculum vulgare Mill. é espécie herbácea da família Umbelliferae, nativa da
região do Mediterrâneo e da Ásia Menor, amplamente distribuída em todo o território brasileiro.
É conhecida popularmente como funcho ou erva-doce e usada na medicina como analgésico,
digestivo, carminativo, diurético, expectorante, lactígeno, anti-inamatório, e antiespasmódico.
O extrato bruto etanólico para a vericação das atividades biológicas foi preparado a partir
de sementes compradas no comércio. Para a realização do perl toquímico foi utilizada a
cromatograa em camada delgada analítica; a atividade antimicrobiana foi determinada pelo
teste de difusão em disco de papel e da concentração inibitória mínima (CIM); a atividade
antinociceptiva foi realizada pelo método de contorções abdominais em cobaias. Os micro-
organismos testados foram isolados clínicos multirresistentes obtidos do Setor de Bacteriologia
do Hospital das Clínicas de Pernambuco. O estudo toquímico identicou a maioria dos
compostos secundários presentes na fração metanólica das sementes, sendo eles: triterpenos,
glicosídeos de flavanóides, terpenos menores (monoterpenóides, sesquiterpenóide e
diterpenóides), e açúcares redutores. Os resultados obtidos mostraram que o extrato etanólico
apresentou maior atividade frente à Micrococcus spp. (CIM=250µg/mL). Os resultados da
avaliação da atividade antinociceptiva demonstraram que apenas a dosagem de 298 mg/
Kg quando comparado com o padrão indometacina conseguiu uma redução signicativa no
número de contorções abdominais dos animais. Estudos posteriores deverão ser realizados
para a identicação e isolamento de alguns compostos secundários, bem como a realização
de outros protocolos de analgesia.
Palavras-chave: erva-doce, atividade antimicrobiana, Foeniculum vulgare.
ABSTRACT: Biological evaluation of Foeniculum vulgare (Mill.) (Umbelliferae/Apiaceae).
Foeniculum vulgare Mill. (Umbelliferae) is a herbaceous plant of the family Umbelliferae, native
to the Mediterranean and Asia Minor region and widely distributed all over the Brazilian territory.
It is commonly known as fennel or “erva-doce” and has been used in medicine as analgesic,
digestive, carminative, diuretic, expectorant, lactigenous, anti-inammatory, and antispasmodic
agent. Crude ethanolic extract for the verication of biological activities was prepared from seeds
bought in the market. For the phytochemical prole, analytical thin-layer chromatography was
used; the antimicrobial activity was determined by the paper disc diffusion test and minimum
inhibitory concentration (MIC); the antinociceptive activity was veried by the method of
abdominal writhings in the animals. The tested microorganisms were multiresistant clinical
isolates obtained from the Bacteriology Sector of the Clinical Hospital of Pernambuco. The
phytochemical study identied the majority of secondary compounds present in the methanolic
fraction of seeds, as follows: triterpenes, avanoid glycosides, smaller terpenes (monoterpenoids,
sesquiterpenoids and diterpenoids) and reducing sugars. The obtained results showed that the
ethanolic extract had greater activity against Micrococcus spp. (MIC=250µg/mL). Results of
the evaluation of the antinociceptive activity demonstrated that only the dosage of 298 mg/Kg,
compared to the indomethacin pattern, led to a signicant reduction in the number of abdominal
writhings in the animals. Further studies will be carried out for the identication and isolation of
some secondary compounds, as well as other analgesic protocols.
Keywords: fennel, antimicrobial activity, Foeniculum vulgare.
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INTRODUÇÃO
Foeniculum vulgare Mill. família
Umbelliferae/Apiaceae é uma erva aromática
anual, bienal ou perene, dependendo da variedade,
conhecida desde a antiguidade na Europa e na
Ásia Menor. Segundo alguns autores, é originária
do continente africano, Ilha da Madeira e Açores,
outros acreditam que é nativa da Europa Meridional,
Central e da Ásia Menor. Possivelmente, veio para
o Brasil junto com os colonos portugueses (SILVA,
2001).
Trabalhos prévios mostraram que o óleo
essencial de Foeniculum vulgare Mill. contém anetol,
estragol e fenchona mais uns 18 componentes
adicionais os quais incluem α-pineno, camfeno,
β-pineno, β-felandreno, myrceno, limoneno,
â-felandreno, o γ-terpineno, o cis-ocimeno,
terpinoleno, carvacol, cânfora, borneol, cineol e
p-cimeno ( RUBERTO et al., 2000; MIMICA-DUKIC,
2003). Estes compostos, em especial carvacol,
borneol, cânfora e anetol, foram relatados por inibir
o crescimento de infestações de Phytophora, fungo
topatogênico causador da doença da ferrugem,
principalmente em culturas de tomate . A produção
de esporangial foi inibida pelo óleo essencial da
erva-doce (SOYLU; SOYLU; KURT, 2006)
As atividades antiinamatória, analgésica e
antioxidante da fruta da erva-doce foram relatadas
por Choi e Hwang (2004). O óleo essencial
da erva-doce exibiu atividade anti-bacteriana
(RUBERTO et al, 2000). Os extratos aquosos e
etanólico das sementes de erva-doce exibiram
potenciais propriedades antioxidantes em estudos
in vitro (OKTAY; GULCIN; KUFREVIOGLU, 2003).
Extratos metanólicos da planta inteira administrada
por quatro dias sucessivos melhorou o efeito
amnésico da escopolamina (0.4 mg/kg) e o
envelhecimento induziu décits de memória nos
ratos. Esta propriedade da planta pode ser útil
para o tratamento de desordens cognitivas como
demência e doença de Alzhemier (JOSHI, 2006).
Vários estudos biológicos têm sido
realizados com o óleo essencial desta espécie.
Dentre as mesmas óleo essencial de sementes
de erva-doce demonstrou atividades caminativa
e estimulante, assim como ações espasmolíticas
no músculo liso de animais experimentais. Outros
efeitos benécos têm sido descritos na literatura
quando da utilização da erva-doce como os
relatados por Singh & Kale (2008) quanto as
propriedades antiinflamatórias, analgésicas e
antioxidantes das sementes da erva-doce.
O uso de extratos de plantas e seus
constituintes fitoquímicos, com conhecidas
propriedades antimicrobianas, são de grande
importância terapêutica em infecções. A ação
antimicrobiana deve-se a síntese de componentes
do metabolismo secundário dos vegetais, tais como
óleos essenciais, compostos fenólicos e taninos.
Com base em relatos da literatura esta pesquisa
investigou o perl toquímico, a ação antimicrobiana
frente a isolados clínicos Gram-positivos e a
atividade antinociceptiva do extrato etanólico das
sementes de Foeniculum vulgare Mill.
MATERIAL E MÉTODOS
Material botânico
Amostras das sementes de Foeniculum
vulgare Mill foram adquiridas através de compra no
estabelecimento M. J. Bandeira-Produtos Naturais
(localizado na Praça Dom Vital, Nº. 101- São José-
Recife-PE) em de outubro de 2007.
O material vegetal acondicionado em
sacos plásticos foi levado ao Horto do Biotério do
Departamento Antibióticos da Universidade Federal
de Pernambuco e mantido em local arejado, à
temperatura ambiente.
Uma exsicata da espécie vegetal foi
depositada no Herbário Professor Geraldo Mariz
do Departamento de Botânica/CCB/UFPE com o n°
50.572.
Preparação do extrato
Para obtenção do extrato das sementes do
Foeniculum vulgare Mill. foi utilizado o processo de
maceração. O material, após limpeza e pesagem,
foi submetido a maceração com álcool absoluto.
Permaneceu em contato com o solvente por um
período de 48 horas à temperatura ambiente, sendo
agitado manualmente, esporadicamente, e mantido
ao abrigo da luz. O extrato bruto etanólico (EBE)
obtido após ltração foi concentrado, à temperatura
ambiente em rotaevaporador até secura. Sendo o
redimento obtido utilizando-se 1060g do material seco
de 39,85g para o EBE, e para as demais partições de
12,41g; 6,86g; 3,28g; 3,16g e 3,04g, respectivamente
para extrato hexânico, acetato de etila, butanólico,
metánólico e acetônico.
Investigação toquímica
Para a execução dos ensaios toquímicos
cerca de 3 g do extrato bruto etanólico seco foi
submetido à infusão metánolica, hexânica, acetato
de etila, butanólica e acetona durante 30 minutos
respectivamente. Alíquotas destes extratos (10µL)
foram submetidas à cromatografia em camada
delgada analítica (CCDA), empregando-se como
fase estacionária placas cromatográcas prontas de
gel de sílica (Merck-Alemanha, art.105554), diversas
fases móveis e reveladores consoante a classe de
compostos a analisar.
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Avaliação da atividade antimicrobiana
A atividade antimicrobiana foi vericada in
vitro, pelo método de difusão em disco de papel
(BAUER; KIRBY, 1966). Discos de 6 mm de diâmetro
foram impregnados com 10µL da solução do extrato
bruto a 200.000µg/mL, de modo que cada disco cou
com a concentração de 2.000µg/mL.
Os discos foram colocados sobre a superfície
do meio semeado com as suspensões microbianas
padronizadas pela turvação equivalente ao tubo
0,5 da escala de McFarland em solução siológica
(BARRY, 1986; KONEMAN, 1997), correspondente
a uma concentração de aproximadamente 107UFC/
mL para leveduras e 108UFC/mL para bactérias,
em placas de Petri. As placas foram incubadas a
35Ú C, por um período adequado de acordo com
o microrganismo. Após o período de incubação foi
realizada a leitura dos resultados, pela medição do
diâmetro do halo de inibição formado em volta do
disco.
Foram considerados resultados signicativos
halos de 12 mm ou mais para os isolados clínicos. Os
testes foram realizados em triplicata e os resultados
expressos pela media aritmética dos diâmetros
dos halos de inibição em mm e calculado o desvio
padrão. Foram usados com padrões a Ampicilina
e a Cefalexina nas concentrações 10µg e 30µg,
respectivamente. O extrato etanólico foi testado
frente os isolados clínicos, de diversas origens e
setores hospitalares, obtidos e identicados no Setor
de Bacteriologia da Unidade Laboratorial do Hospital
das Clínicas da UFPE. As cepas desses micro-
organismos sua maioria apresentam multirresistência.
Foram testadas 12 cepas de Staphylococcus aureus,
2 de Micrococcus spp. e 8 de Entecococcus spp.
A concentração inibitória mínima (CIM) do
extrato etanólico de F. vulgare Mill foi determinada
para todos os micro-organismos testados, pelo
método de diluições seriada em meio sólido (Carvalho
et al. 2002). Alíquotas de diferentes volumes (1,0; 0,5;
0,25; 0,125; 0,06, 0,03 e 0,01mL) de uma solução a
20.000µg/mL foram colocadas em placa de Petri e
homogeneizadas com 10mL do meio de cultura ideal
para o crescimento de cada microrganismo. Os micro-
organismos teste foram semeados, em estrias, sobre
a superfície do meio e as placas foram incubadas à
35ºC e 30ºC por 24 h e 48 h. Valores de CIM iguais
ou superiores a 1000µg/mL não foram considerados
satisfatórios (HOLETZ et al. 2002).
Contorções abdominais
Cinco grupos de 6 camundongos cada,
mantidos em jejum de 6 a 12 horas foram tratados
por via oral (gavagem) com o extrato etanólico nas
dosagens de 74,5 , 149 e 298mg/ Kg , indometacina
(10mg/ Kg) e controle (NaCl 0,9%). Após 60 minutos
do tratamento, foi administrado ácido acético a 1%
diluído em salina (0,1ml/ 10g, i.p.).
As contrações da parede abdominal seguido
de torções do tronco e extensão dos membros
posteriores (KOSTER; ANDERSON; BEER, 1959)
produzidas pelo ácido acético foram contadas durante
30 minutos. Os resultados foram expressos como o
número de contorções abdominais acumuladas a
cada 5 minutos durante 30 minutos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A abordagem fitoquímica da espécie F.
vulgare Mill. realizada na fração metanólica e na
fração acetato de etila das sementes do vegetal,
indicou a marcante presença de triterpenos,
glicosídeos de flavanóides, terpenos menores
(monoterpenóides, sesquiterpenóide e diterpenóides)
e açucares redutores. Enquanto que na fração
hexânica não foram observados os glicosídeos de
avanóides, embora alguns derivados cafeoil foram
visualizados. A ausência dos compostos polifenóis
nesta fração pode ser explicada pelo fato deste
composto ser bastante polar devido à presença de
hidroxilas no mesmo (tabela 1).
Os polissacarídeos foram vericados no
extrato, ocorrendo a presença do açúcar (glicose). Os
polissacarídeos pertencem a uma importante classe
dos produtos naturais dotados de atividade bioativas
como: antiinamatórios, antivirais, hipoglicemiantes,
anticoagulantes, imunoestimuladores, antitumorais
e como quimioprevenção a diversos tipos de câncer
(SIMÕES, 2004).
Na fração acetônica foram visualizados
monoterpenóides, sesquiterpenóide e diterpenóides,
bem como triterpenos. Estes compostos terpenóides
são as primeiras substancias que compõem
as misturas chamadas óleos voláteis e são os
responsáveis por atividades farmacológicas com
anti-séptico e expectorante, bem como bactericida
fungicida, analgésica e antitumoral, dados já relatados
sobre o óleo essencial de F. vulgare Mill (MENDES,
2004). Todos os outros grupos investigados não foram
constatados, nem mesmo como traços.
O extrato etanólico apresentou atividade
antimicrobiana intermediária para Staphylococcus
aureus, sensível para Micrococcus spp, entretanto
demonstrou baixa atividade frente às cepas de
Enterococcus faecalis.
A padronização dos halos de inibição em
mm para os antibióticos utilizados nos antibiogramas
das cepas de Staphylococcus aureus, Micrococcus
spp., Enterococcus faecalis de acordo com o
CLSI ( Clinical Laboratory Standards Institute /
M100-S14) estabelece que para a Ampicilina 10µg
é considerado halo sensível > 29, intermediário não
existe halo denido e halo resistente < 28. Para a
Cefalexina 30µg halo sensível > 18, halo intermediário
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15-17 e halo resistente < 14.
Para as cepas de S. aureus de numeração
1, 2, 3, 4, 9, 10 o extrato etanólico apresentou halos
de inibição de 11,3±0,6; 12,0±0,0; 13,0±1,0; 11,0±
0,0; 12,0±0,0; 11,3±0,6 respectivamente, estes
resultados indicam uma atividade antimicrobiana
baixa. Com relação aos padrões utilizados para
estes microrganismo vericou-se que as cepas 1
e 2 apresentaram resistência à Cefalexina 30µg
(0,0±0,0 e 12,6± 0,6), enquanto as cepas 3, 4, 9, 10
foram sensíveis (33,6±0,6; 26,6±0,6; 31,6± 0,6; 28,3±
0,6), para o padrão Ampicilina 10 µg apresentaram
resistência as cepas: 1, 2, 3 e 10 (0,0±0,0; 13,3±0,6;
16,6±0,6 e 22,3± 0,6), enquanto as cepas 4 e 9
foram sensíveis (39,3±0,6 e 35,6±0,6). A avaliação
da concentração inibitória mínima (CIM) do extrato
das sementes de F. vulgare Mill para estas estirpes
microbianas foi de 2000 µg/mL (Tabela2).
Em relação às cepas de S. aureus de
numeração 5 e 11 o extrato promoveu halos de
inibição de 14,3± 0,6 e 14,6± 0,6, desta forma
o extrato apresentou atividade antimicrobiana
intermediária. Em comparação com os padrões, a
cepa 11 foi resistente a Cefalexina 30µg (11,6± 0,6)
e resistente a Ampicilina 10µg (15,6±0,6), enquanto
que a cepa 5 foi sensível a Cefalexina 30µg (34,3±
0,6) e e resistente a Ampicilina 10µg (28,6±0,6).
A concentração inibitória mínima (CIM) do extrato
Metabólitos Frações
Metanólica Hexânica Acetato de etila Butanólica Acetônica
Alcalóides - - - - -
Monoterpenóides, sesquiterpenóides
e diterpenóides - - +++ - ++
Triterpenóides +++ - +++ - +++
Iridóides - - - - -
Saponinas - - - - -
Açúcares redutores +++ - - - -
Glicosídeos de Flavanóides +++ + + + +
TABELA 1 - Metabólitos secundários das frações das sementes de F. vulgare Mill.
Expressão dos resultados: (+) = positivo; (-) = negativo; (+++) = fortemente positivo
Padrões
EBE Cefalexina Ampicilina CIM
(2000 µg/disco) 30µg 10 µg (µg/mL)
Halos de inibição em mm (X±δ)
1.[21231] S. aureus 11,3 ± 0,6 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 2000
2.[20981] S. aureus 12,0 ± 0,0 12,6 ± 0,6 13,3 ± 0,6 2000
3.[21036] S. aureus 13,0 ± 1,0 33,6 ± 0,6 16,6 ± 0,6 2000
4.[20489] S. aureus 11,0 ± 0,0 26,6 ± 0,6 39,3 ± 0,6 2000
5.[20794] S. aureus 14,3 ± 0,6 34,3 ± 0,6 28,6 ± 0,6 1000
6.[20905] S. aureus 17,0 ± 1,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 500
7.[20092] S. aureus 16,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 10,3 ± 0,6 500
8.[20449] S. aureus 18,0 ± 0,6 0,0 ± 0,0 13,3 ± 0,6 500
9.[19924] S. aureus 12,0 ± 0,0 31,6 ± 0,6 35,6 ± 0,6 2000
10.[20696] S. aureus 11,3 ± 0,6 28,3 ± 0,6 22,3 ± 0,6 2000
11.[21141] S. aureus 14,6 ± 0,6 11,6 ± 0,6 15,6 ± 0,6 1000
12.[S.IDT] S. aureus 16,6 ± 0,6 29,6 ± 0,6 34,6 ±0,6 500
TABELA 2. Atividade antimicrobiana de extrato bruto etanólico e CIM das sementes de Foeniculum vulgare Mill.
realizada a partir da planta seca (2000 µg/disco) frente a cepas de Staphylococcus aureus.
EBE: Extrato bruto etanólico; S. aureus: Staphylococcus aureus; S.IDT: sem identicação
Micro-organismos
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para estas cepas microbianas foi de 1000 µg/mL
(Tabela 2).
Com relação à atividade do extrato etanólico
de F. vulgare Mill frente às cepas de Staphylococcus
aureus vericou-se uma atividade satisfatória para
as cepas de numeração 6, 7, 8, 12 verificando
halos de inibição de 17,0± 1,0; 16,0± 0,0; 18,0±
0,6 e 16,6± 0,6, respectivamente. Correlacionando
com os padrões observou-se que as cepas 6, 7 e
8 demonstraram resistência a Cefalexina 30µg
(0,0± 0,0; 0,0± 0,0 e 0,0± 0,0), embora a cepa 12 foi
sensível (29,6±0,6), o mesmo resultado também foi
vericado para a Ampicilina 10 µg onde as cepas 6,
7 e 8 foram resistentes (0,0± 0,0; 10,3± 0,6 e 13,3±
0,6) e a cepa 12 sensível (34,6± 0,6).A concentração
inibitória mínima (CIM) do extrato para estas estirpes
microbianas foi de 500 µg/mL (Tabela 2).
O extrato etanólico demonstrou baixa
atividade antimicrobiana para a maioria das cepas
de Enterococcus faecalis como: 1, 2, 3, 4, 5, 7 e 8
apresentando halos de inibição (10,0± 0,0; 11,3±
1,5; 11,0± 0,0; 11,3± 1,5; 8,3± 1,1; 8,3± 1,1 e 10,0
± 1,00 respectivamente. Embora o extrato tenha
demonstrado atividade intermediária frente a cepa
6 (14,3± 0,6). Todas as cepas 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e
8 mostraram suscetibilidade intermediária frente à
Cefalexina 30µg (15,6± 0,6; 14,3± 0,6; 16,6± 0,6;
17,3± 2,0; 16,6± 0,6; 15,6± 0,6; 16,3± 1,1 e 17,3±
2,0). Da mesma maneira todas as cepas 1, 2, 3, 4, 5,
6, 7 e 8 foram sensíveis a Ampicilina 10 µg (39,6±
0,6; 37,6± 0,6; 38,3± 0,6; 36,6± 0,6; 37,6± 0,6; 36,0±
1,0; 37,3 ± 0,6 e 38,6± 0,6). A concentração inibitória
mínima (CIM) do extrato para as estirpes microbianas
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 foi de 2000 µg/mL e para a cepa
6 foi de 1000 µg/mL (Tabela 3).
Para as estirpes de Micrococcus spp de
numeração 1 e 2 o extrato apresentou halos de
inibição de 20,3±0,6 e 24,0±1,0, permitindo concluir
que o mesmo possui atividade satisfatória frente a
estas cepas. Com relação aos padrões utilizados
para estes micro-organismos vericou-se que as
cepas 1 e 2 foram sensíveis à Cefalexina 30µg
(35,3± 0,6 e 35,6± 0,6), para o padrão Ampicilina 10
µg apresentaram também sensibilidade (36,3± 0,6 e
34,6± 0,6). A concentração inibitória mínima (CIM)
do extrato para as estirpes 1 e 2 foi de 250µg/mL e
TABELA 3. Atividade antimicrobiana de extrato bruto etanólico e CIM das sementes de Foeniculum vulgare
Mill. Realizada a partir da planta seca (2000 µg/disco) frente a cepas de Entecococcus faecalis.
EBE: Extrato bruto etanólico; E. faecalis: Enterococcus faecalis
Padrões
EBE Cefalexina Ampicilina CIM
(2000 µg/disco) 30µg 10 µg (µg/mL)
Halos de inibição em mm (X±δ)
1.[21675] E. faecalis 10,0 ± 0,0 15,6 ± 0,6 39,6 ± 0,6 2000
2.[21752] E. faecalis 11,3 ± 1,5 14,3 ± 0,6 37,6 ± 0,6 2000
3.[21944] E. faecalis 11,0 ± 0,0 16,6 ± 0,6 38,3 ± 0,6 2000
4.[24614] E. faecalis 11,3 ± 1,5 17,3 ± 2,0 36,6 ± 0,6 2000
5.[24622] E. faecalis 8,3 ± 1,1 16,6 ± 0,6 37,6 ± 0,6 2000
6.[24708] E. faecalis 14,3 ± 0,6 15,6 ± 0,6 36,0 ± 1,0 1000
7.[24902] E. faecalis 8,3 ± 1,1 16,3 ± 1,1 37,3 ± 0,6 2000
8.[25392] E. faecalis 10,0 ± 1,0 17,3 ± 2,0 38,6 ± 0,6 2000
Micro-organismos
TABELA 4. Atividade antimicrobiana de extrato bruto etanólico e CIM das sementes de Foeniculum vulgare
Mill. Realizada a partir da planta seca (2000 µg/disco) frente a cepas de Micrococcus spp.
EBE: Extrato bruto etanólico;
Padrões
EBE Cefalexina Ampicilina CIM
(2000 µg/disco) 30µg 10 µg (µg/mL)
Halos de inibição em mm (X±δ)
1.[21061] Micrococcus spp 20,3±0,6 35,3 ± 0,6 36,3 ± 0,6 250
2.[21068] Micrococcus spp 24,0±1,0 35,6 ± 0,6 34,6 ± 0,6 500
Micro-organismos
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500µg/mL, respectivamente (Tabela 4).
Os resultados obtidos em relação às cepas
de S. aureus mostraram-se muito variáveis, uma vez
que cada cepa apresentava um padrão de resistência
diferente entre si à antibióticos padronizados e
previamente testados no local de coleta, onde
algumas cepas eram multirresitentes, enquanto
outras eram bastante sensíveis.
Em relação aos Enterococcos faecalis
como geralmente são cepas freqüentemente
multirresistentes, os resultados obtidos eram
esperados. E para as cepas de Micrococcus spp o
extrato demonstrou boa atividade antimicrobiana.
Em comparação com outros trabalhos a
atividade antimicrobiana de F. vulgare Mill frente
às bactérias Gram-positivas vericada no presente
estudo, não foi constatada para o óleo essencial
extraído das raízes, da haste, das sementes e das
folhas da erva-doce pelo método da destilação de
vapor da água frente a S. aureus ATCC 25923 e B.
subtilis (ABED, 2007).
Estudos realizados por Mininja; Thoppil
(2002) demonstraram que o óleo essencial das
sementes de Foeniculum vulgare Mill. possui
atividade antimicrobiana contra bactérias e fungos,
principalmente contra a Candida albicans. A
atividade antimicrobiana é atribuída a presença
de componentes biologicamente ativos presentes
no óleo essencial, principalmente o anetol que
corresponde à 99.69% do óleo essencial presente
nas sementes.
Segundo Cantore et al (2004), o óleo
essencial da semente de Foeniculum vulgare
Mill, inibiu o crescimento de cepas de importantes
bactérias patogênicas de plantas tais como: gênero
de bactérias Gram-negativas (Pseudomonas, Erwinia,
Xantomonas e Agrobacterium) e gênero de bactérias
Gram-positivas (Clavibacter, Curtobacterium e
Rhodococcus).
Vários estudos referentes à atividade
antimicrobiana estão sendo realizados com
Foeniculum vulgare Mill, entretanto, a maioria dos
estudos é realizada com bactérias pertencentes a
coleções microbianas. Por isso, a ausência de dados
referentes a estudos antimicrobianos com cepas de
isolados clínicos diculta a discussão do presente
estudo.
Os resultados obtidos com a administração
prévia do extrato etanólico de F. vulgare Mill, nas
doses de 298, 149 e 74,5mg/Kg demonstraram que
apenas a dosagem de 298mg/Kg quando comparado
com o padrão indometacina conseguiu uma redução
signicativa no número de contorções abdominais dos
animais. As demais dosagens apresentaram efeito
dose-resposta, uma vez que a diminuição gradativa
das dosagens implicou em resultados semelhantes
aos obtidos com o controle salina (Figura 1).
Uma vez que este teste permite a avaliação
de substâncias analgésicas de ação central e/ou
periféricas dotadas dos mais variados mecanismos
de ação, os resultados obtidos neste trabalho
corroboram com o estudo de Choi; Hwang (2004) no
qual, a administração oral de 200mg/kg do extrato
metanólico de F. vulgare Mill. reduziu signicativamente
a estimulação térmica do hot-plate. O teste do Hot-
plate é usado normalmente para estudar os efeitos
analgésicos centrais das drogas. Conseqüentemente,
é provável que o extrato metanólico de F. vulgare Mill.
produza seus efeitos analgésicos centralmente ou,
como já conhecido para os AINE’S, pois ele inibiu os
receptores da dor no local da inamação.
Os estudos de Choi; Hwang, 2004 também
relataram a administração oral do extrato metanólico
das sementes da erva-doce que exibiu efeito inibitório
frente às doenças inamatórias agudas, subagudas
e reações alérgicas tipo IV além de ter mostrado um
efeito analgésico central. Foi observado um aumento
significativamente das atividades específicas
da superóxido dismutase (SOD) e da catalase,
assim como a signicativa diminuição do nível da
lipropoteína de alto peso molecular do colesterol
adicionada a uma diminuição no dano peroxidativo.
Estudos adicionais são necessários para
melhor elucidar o mecanismo de ação da atividade
analgésica do extrato etanólico de F. vulgare Mill.
CONCLUSÃO
O estudo toquímico identicou a maioria dos
compostos secundários presentes na fração metanólica
e na fração acetato de etila das sementes do vegetal,
sendo eles: triterpenos, glicosídeos de avanóides,
terpenos menores (monoterpenóides, sesquiterpenóide
FIGURA 1. Efeito do extrato etanólico de F. vulgare
Mill. nas dosagens de 298, 149 e 74,5 mg/Kg
nas contorções abdominais em camundongos.
Resultados expressos em média ±desvio padrão.
*P <. 0,05 vs. controle.
Contorções abdominais
Número de ontorções
298 mg/Kg
148 mg/Kg
74,5 mg/Kg
indometacina
salina
25
20
0
5
10
15
263
e diterpenóides) e açucares redutores.
O extrato etanólico das sementes de F.
vulgare Mill. apresentou atividade intermediária
frente a S. aureus, satisfatória para Micrococcus spp
e baixa para E. faecalis. Vale ressaltar que esses
resultados são de extrema importância devido aos
fatos das amostras testadas serem multirresistentes
e isoladas de ambiente hospitalar.
A atividade antimicrobiana observada
para os extratos das sementes de F. vulgare Mill.
representa mais uma alternativa terapêutica para
infecções com micro-organismos resistentes aos
antibióticos sintéticos disponíveis no mercado.
Os resultados da avaliação da atividade
antinocipeptiva demonstraram que apenas a
dosagem de 298mg/Kg quando comparada ao
padrão indometacina conseguiu uma redução
considerável de contorções abdominais dos animais.
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