Este artigo é dedicado à consideração e à análise do fenómeno da amamentação no Egipto antigo que, na nossa óptica, entra no campo de uma arqueologia das emoções, com conexões estreitas com o erotismo, o amor e o prazer, categorias do repertório afectivo de todos os tempos. Procuramos neste estudo não nos restringir aos vectores habituais associados ao prazer (o diálogo erótico dos corpos, as sensações do amor carnal, o desejo, a sensualidade), mas reflectir justamente sobre o prazer entendido de uma forma bem mais ampla, neste caso o prazer e a paixão inerentes à relação materno-infantil e expressos/ vividos através do acto de amamentar/ ser amamentado.
Iniciamos o tratamento do tema com uma incursão relativamente alargada no universo mental egípcio, no que diz respeito à concepção de vida terrena e às suas principais etapas, onde a problemática da amamentação se insere. Depois, o nosso esforço hermenêutico concentra-se, sobretudo, especificamente, sobre as cenas de amamentação patentes nas paredes dos templos do antigo Egipto (baixos-relevos e pinturas) com o objectivo de determinar as motivações e as finalidades subjacentes à sua produção e inclusão nos respectivos contextos artístico-arquitectónicos.