Palavras-chave: Júlio Henriques, Visconde de Monte-São, reprovações dos atos de Botânica, folhetos de desagravo, Gabinete de Mineralogia da Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra.
Desde a sua criação (1772), a Faculdade de Filosofia Natural da Universidade de Coimbra evidenciou-se como centro de saber académico e de convergência de jovens oriundos de meios favorecidos de Portugal e do
... [Show full abstract] Brasil, matéria-prima das futuras elites do ensino e atividades económicas emergentes, atores de lutas políticas que tornaram fértil em insurreições a história destes países. Não obstante, décadas de instabilidade social que acompanharam a instauração do Liberalismo em Portugal, terão contribuído para instalar um certo estado de estagnação, que nem a Regeneração permitiu varrer com celeridade, ajustando realidades do ensino a necessidades de um país em industrialização e reorganização do tecido social.
Lente catedrático (1873) e Diretor do Jardim Botânico, Júlio Augusto Henriques (1838-1928) foi um dos esteios que ampararam o ressurgimento da Faculdade de Filosofia e dos estudos de História Natural, deixando um cunho ineludível na academia coimbrã. Enquanto lente ainda moço, a sua personalidade marcante revelou-se com acutilância na famosa questão das reprovações dos atos de Botânica, cujos acontecimentos de junho de 1875 o opuseram ferozmente a Manuel dos Santos Pereira Jardim (1818-1887), Visconde de Monte-São, através de folhetos de desagravo que terão substituído o uso do florete, impróprio para lentes incompatibilizados no palco da vetusta universidade.
Entre ofensas e verdades, relata-se a denúncia que Júlio Henriques fez da inércia que o Gabinete de Mineralogia do Museu de História Natural atravessava, num estado de empobrecimento científico e material que, só a partir de 1878, com a ascensão de António Gonsalves Guimarães (1850-1919) a lente de Mineralogia, Geologia e Arte de Minas, se terá começado a alterar.