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A biologia reprodutiva de serpentes compreende diversos tópicos como modos reprodutivos, ciclos reprodutivos, fecundidade (tamanho da ninhada, tamanho dos filhotes, massa relativa da ninhada e frequência reprodutiva), idade e tamanho na maturidade, dimorfismo sexual, sistemas de acasalamento e comportamentos reprodutivos como corte e cuidado parental. Assim, estudos sobre reprodução são essenciais para a compreensão da biologia de qualquer es-pécie. Além disso, dados sobre a biologia reprodutiva são importantes para a definição de estratégias de conservação para espécies ameaçadas de extinção. Apesar disso, serpentes da região neotropical eram até pouco tempo relativamente pouco estudadas com relação à reprodução. No entanto, esse cenário mudou consideravelmente ao longo das duas últimas décadas. Diversos estudos, principalmente no Brasil, têm produzido uma quantidade substancial de informação, aumentando assim significativamente nosso conhecimento sobre a reprodução de serpentes neotropicais. Todo esse volume de dados tem permitido a elaboração e teste de hipóteses sobre padrões reprodutivos. No entanto, algumas revisões e evidências recentes têm levantado algumas questões importantes em reprodução de serpentes. Nosso objetivo nesse artigo é chamar atenção para tais questões, discutindo a necessidade de se avaliar mais criticamente a forma como os dados são coletados, examinados e interpretados, bem como apresentar recomendações sobre o tema com o intuito de contribuir para a melhoria da qualidade dos trabalhos produzidos. Dessa forma, os seguintes tópicos são discutidos: anatomia do trato reprodutor, ciclos reprodutivos, fecundidade (tamanho da ninhada, massa relativa da ninhada e produção de múltiplas ninhadas) e dimorfismo sexual, que são os mais comumente abordados em estudos de reprodução.
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Biologia reprodutiva de serpentes: recomendações
para a coleta e análise de dados
Selma M. Almeida-Santos1,4,5, Henrique B. Braz1,4, Lívia C. Santos1,4, Letícia R. Sueiro1,4,
Verônica A. Barros1,2,4, Claudio A. Rojas3,4, Karina N. Kasperoviczus1,4
1 Laboratório de Ecologia e Evolução, Instituto Butantan – Avenida Vital Brazil, 1.500, Butantã, CEP 05503900, São Paulo, SP, Brasil.
2 Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal – Rua Cristóvão Colombo, 2.265, Jardim Nazareth,
CEP15054000, São José do Rio Preto, SP, Brasil.
3 Departamento de Neurologia Experimental, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Rua Pedro de Toledo, 669 – Edifício de Pesquisa II (1º e 2º andares),
Vila Mariana, CEP04039032, São Paulo, SP, Brasil.
4 Grupo de Estudos em Reprodução de Squamata (www.reproducaosquamata.com.br).
5 Autor para correspondência: selma.santos@butantan.gov.br
INTRODUÇÃO
A biologia reprodutiva de serpentes compreende diversos
tópicos como modos reprodutivos, ciclos reprodutivos, fecun-
didade (tamanho da ninhada, tamanho dos filhotes, massa
relativa da ninhada e frequência reprodutiva; sensu Seigel e
Ford, 1987), idade e tamanho na maturidade, dimorfismo se-
xual, sistemas de acasalamento e comportamentos reproduti-
vos como corte e cuidado parental (Seigel e Ford, 1987; Shine,
2003; Shine e Bonnet, 2009). Assim, estudos sobre reprodução
são essenciais para a compreensão da biologia de qualquer es-
pécie. Além disso, dados sobre a biologia reprodutiva são im-
portantes para a definição de estratégias de conservação para
espécies ameaçadas de extinção (Shine e Bonnet, 2009). Apesar
disso, serpentes da região neotropical eram até pouco tempo
relativamente pouco estudadas com relação à reprodução (Sei-
gel e Ford, 1987). No entanto, esse cenário mudou considera-
velmente ao longo das duas últimas décadas. Diversos estudos,
principalmente no Brasil, têm produzido uma quantidade subs-
tancial de informação, aumentando assim significativamente
nosso conhecimento sobre a reprodução de serpentes neotro-
picais (e.g., Marques, 1996; Marques e Puorto, 1998; Aguiar e
Di-Bernardo, 2005; Almeida-Santos et al., 2004, 2006; Pinto e
Fernandes, 2004; Alves etal., 2005; Balestrin e Di-Bernardo,
2005; Pizzatto, 2005; Ávila etal., 2006, 2010; Marques e Mu-
riel, 2007; Maschio etal., 2007; López e Giraudo, 2008; Pizzat-
to etal., 2008; Leite etal., 2009; López etal., 2009; Pinto etal.,
2010; Zanella e Cechin, 2010; Oliveira etal., 2011; Mesquita
etal., 2011, 2013; Alencar etal., 2012; Gomes e Marques, 2012;
Bellini et al., 2013; Marques et al., 2013; Panzera e Maneyro,
2013; Siqueira etal., 2013; Sousa etal., 2014). Todo esse volu-
me de dados tem permitido a elaboração e teste de hipóteses
sobre padrões reprodutivos (e.g., Almeida-Santos e Salomão,
2002; Barros et al., 2012).
No entanto, algumas revisões e evidências recentes (Ma-
thies, 2011; Barros et al., 2012, 2014; Mesquita etal., 2013; Ro-
jas etal., 2013; Braz etal., 2014) têm levantado algumas ques-
tões importantes em reprodução de serpentes. Nosso objetivo
nesse artigo é chamar atenção para tais questões, discutindo a
necessidade de se avaliar mais criticamente a forma como os
dados são coletados, examinados e interpretados, bem como
apresentar recomendações sobre o tema com o intuito de con-
tribuir para a melhoria da qualidade dos trabalhos produzidos.
Dessa forma, os seguintes tópicos são discutidos: anatomia do
trato reprodutor, ciclos reprodutivos, fecundidade (tamanho
da ninhada, massa relativa da ninhada e produção de múltiplas
ninhadas) e dimorfismo sexual, que são os mais comumente
abordados em estudos de reprodução.
ANATOMIA MACROSCÓPICA
A ampla maioria dos estudos de reprodução de serpentes
feitos no Brasil resulta da dissecção e exame do trato reprodu-
tor de espécimes preservados em coleções científicas. Assim, a
correta identificação e caracterização macroscópica das estru-
turas anatômicas do trato reprodutivo é imprescindível para
uma coleta de dados passível de gerar dados confiáveis. Quan-
do não há familiaridade com a anatomia, pode haver erros de
identificação entre diferentes estruturas anatômicas.
O sistema reprodutivo de fêmeas de serpentes é composto
por dois ovários alongados, dispostos assimetricamente, e um
par de ovidutos situados lateralmente aos ovários. Em algumas
espécies de serpentes basais, o oviduto esquerdo é reduzido ou
ausente (Aldridge, 1992; Blackburn, 1998). Os ovidutos apre-
sentam regiões macroscopicamente e histologicamente distin-
tas. Há algumas propostas de nomenclatura para estas regiões
(Girling, 2002; Siegel et al., 2011) e neste trabalho seguiremos
a proposta de Siegel et al. (2011), que propõem a divisão do
oviduto em infundíbulo anterior, infundíbulo posterior, útero
glandular e útero aglandular. Sem conhecimento prévio, alças
intestinais e lobos dos rins podem, por exemplo, ser confun-
didos com folículos ovarianos em desenvolvimento (Fig. 1),
especialmente em espécimes mal preservados ou fixados há
muito tempo, que podem apresentar estruturas anatômicas
com deformidades.
O sistema reprodutor de machos de serpentes compre-
ende um par de testículos quase sempre alongados e cilíndri-
cos, dispostos assimetricamente (Gribbins e Rheubert, 2011;
Fig. 2). Ao deixar os testículos, os espermatozoides passam
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pelos ductos da bainha epididimal (rete testis, dúctulos efe-
rentes e ductos epididimários) (Sever, 2010; Trauth e Sever,
2011), chegando então ao ducto deferente (Fig.2), um túbulo
visível macroscopicamente que se estende em direção caudal
até se abrir na cloaca (Volsøe, 1944; Trauth e Sever, 2011). É
importante notar que em alguns trabalhos há uma confusão na
nomenclatura, com o ducto deferente sendo nomeado equivo-
cadamente como ducto eferente (Shine, 1978a, 1980a; 1988a;
Shine e Covacevich, 1983; Marques, 1996; Shine et al., 1996;
Marques e Puorto, 1998; Keogh etal., 2000; Hartmann etal.,
2002; Cottone e Bauer, 2009; Ávila etal., 2010; Zanella e Ce-
chin, 2010; Ahmadzadeh etal., 2011).
CICLOS REPRODUTIVOS
O ciclo reprodutivo de machos e fêmeas de serpentes abran-
ge diversos eventos como gametogênese, crescimento folicular,
acasalamento, estocagem de esperma, ovulação, gravidez/ges-
tação e época de nascimento dos filhotes. Todos esses eventos
devem ser considerados para um completo entendimento do
ciclo de qualquer espécie.
Fêmeas
Os folículos ovarianos observáveis a olho nu são categoriza-
dos em dois estágios: folículos em vitelogênese primária e folí-
culos em vitelogênese secundária (Aldridge, 1979). Os folículos
Figura1: Fêmea de Bothrops sp. apresentando folículos em vitelogênese secun-
dária. Foto: Otavio A. V. Marques.
Figura2: Macho de Xenodon sp. ilustrando todo o trato urogenital (A). Em detalhe observa-se os testículos (B) e ductos deferentes enovelados (C). Barra de escala =
1 cm. Foto: Henrique B. Braz.
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primários, de crescimento lento, contêm grandes quantidades
de proteínas e lipídios e pequena quantidade de cálcio. Quando
o oócito inicia sua fase de acúmulo de vitelo (i.e., vitelogênese
secundária), ocorre o acréscimo de cálcio, lipídios, proteínas
e fosfoproteínas (Aldridge, 1979). Dessa forma, o início da
fase de vitelogênese secundária pode ser averiguado por meio
de análises histológicas e histoquímicas (e.g., Kasperoviczus,
2009; Santos, 2009).
Devido ao crescimento pronunciado na fase de vitelogênese
secundária, o comprimento aproximado dos folículos no início
do depósito secundário de vitelo também pode ser estimado
por meio de um gráfico de dispersão. Dados do comprimento
do maior folículo encontrado em cada fêmea dissecada são plo-
tados em um gráfico no qual o eixo Y representa os compri-
mentos foliculares e o eixo X as datas de morte dos exemplares
amostrados. A distribuição obtida normalmente mostrará uma
concentração de pontos na parte inferior do gráfico, composta
essencialmente por folículos primários, e pontos mais disper-
sos a partir de uma certa faixa de comprimento, indicando folí-
culos com maior taxa de crescimento, os folículos secundários.
A análise desse gráfico permite distinguir entre folículos pri-
mários e secundários além de identificar o comprimento folicu-
lar e a época em que a vitelogênese secundária tem início, bem
como sua extensão. Porém, é relativamente comum encontrar
na literatura a determinação do estágio vitelogênico de um fo-
lículo baseada em medidas pré-estabelecidas para outras espé-
cies, como acima de 5 ou 10mm (e.g., Marques, 1996; Aguiar e
Di-Bernardo, 2005; Pizzatto, 2005; Maschio etal., 2007; Mes-
quita etal., 2011; Alencar etal., 2012; Bellini etal., 2013), o que
pode incorrer em erros na avaliação da fase reprodutiva em que
se encontra uma fêmea, pois o comprimento folicular no qual
se inicia a vitelogênese secundária varia entre as espécies. Isso
pode levar a interpretações equivocadas dos ciclos reprodutivos
e do tamanho em que a maturidade sexual é atingida nas fême-
as, uma vez que muitos estudos utilizam o comprimento ros-
tro-cloacal (CRC) da menor fêmea em vitelogênese secundária
como critério para avaliação da maturidade em toda população.
Por exemplo, a Fig.3 ilustra o ciclo reprodutivo de uma espé-
cie hipotética. Se partirmos de valores estabelecidos a priori de
que a vitelogênese ocorre com folículos a partir de 5 ou 10mm
(como frequentemente observado na literatura) iremos inferir
erroneamente que ela acontece ao longo do ano ou a partir de
agosto, respectivamente, quando na verdade ela tem início em
maio, quando os folículos começam a aumentar de tamanho (a
partir de 7mm) e se estende até o início de janeiro (Fig.3). As-
sim, o tamanho dos folículos secundários deve ser determinado
para cada espécie estudada e somente após a coleta de dados,
construção e análise do gráfico de folículos e não a priori (e.g.,
Leite et al., 2009; Mesquita etal., 2013; Braz etal., 2014).
Durante a dissecção de uma fêmea com oócitos muito au-
mentados, é importante ter cautela para determinar correta-
mente se essas estruturas se localizam nos ovidutos ou nos
ovários, e assim definir se a fêmea examinada apresenta ovos
ou folículos pré-ovulatórios em vitelogênese avançada (Fig.4).
Quando se observam folículos aumentados no ovário, é pos-
sível notar folículos primários intercalados aos secundários,
e o oviduto pode ser localizado ao lado do agrupamento de
folículos, facilitando a confirmação de que esses são pré-ovula-
tórios (Fig.4A). Quando se observam ovos nos ovidutos, pode-
-se localizar o prolongamento dos ovidutos após a região onde
se encontram os ovos, e os ovários podem ser encontrados pa-
ralelamente a essas estruturas (Fig.4B).
Outro fator importante a ser considerado no ciclo reprodu-
tivo de fêmeas é a estocagem de esperma. A ocorrência de esto-
cagem de esperma em uma espécie pode ser sugerida por dados
indiretos, como a ocorrência de posturas ou parturições em fê-
meas mantidas isoladas de machos ou pela dissociação entre as
épocas de acasalamento e ovulação (Almeida-Santos e Salomão,
1997, 2002; Hartmann et al., 2004; Booth e Schuett, 2011; Ro-
jas etal., 2013; Silva etal., 2014). Porém, é importante destacar
que a confirmação de estocagem só pode ser obtida com o uso
de técnicas de microscopia. Fêmeas de serpentes podem esto-
car esperma em duas regiões diferentes do oviduto. No infun-
díbulo posterior, podem ocorrer túbulos de estocagem, no in-
terior dos quais os espermatozoides são mantidos (Fox, 1977;
Saint Girons, 1985; Blackburn, 1998; Siegel et al., 2011; Rojas,
2013). Já a estocagem no útero aglandular ocorre por meio de
uma contração da musculatura uterina (Uterine Muscular Twis-
ting, UMT), documentada em crotalíneos e facilmente identi-
ficável macroscopicamente (Almeida-Santos e Salomão, 1997,
2002; Barros et al., 2012, 2014).
A época de recrutamento (i.e., o período em que os recém-
-nascidos são incorporados na população) é outro componente
importante do ciclo reprodutivo. Essa informação é algumas
vezes inferida indiretamente, observando-se a época em que
indivíduos com tamanho corpóreo de recém-nascidos são co-
letados na natureza (Maschio et al., 2007; Orofino etal., 2010;
Braz et al., 2014). De forma direta, a época de recrutamento
é determinada utilizando-se dados de eclosão ou nascimen-
tos em laboratório ou na natureza (Balestrin e Di-Bernardo,
2005; Oliveira et al., 2011; Barros et al., 2012). No entanto,
a temperatura experimentada pelos ovos/embriões durante o
Figura3: Variação sazonal no diâmetro do maior folículo ovariano (círculos pre-
tos) e ovos (círculos brancos) de uma espécie hipotética. As linhas tracejadas se-
param os folículos primários (inferior) e secundários (superior) de acordo com
valores pré-estabelecidos de 5 ou 10mm. A linha pontilhada separa os folículos
primários e secundários a partir da observação do aumento real dos folículos,
no início de maio.
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desenvolvimento influencia diretamente na sua duração. Ti-
picamente, temperaturas mais elevadas diminuem o período
necessário para a conclusão do desenvolvimento (Andrews,
2004). Por exemplo, ovos da serpente Phalotris lativittatus incu-
bados em 24°C requereram 119 dias de incubação ao passo que
ovos mantidos em 28°C requereram 73 dias; uma diminuição
Figura4: Fêmeas de serpentes (Helicops sp.) apresentando (A) folículos ovarianos em vitelogênese secundária e (B) embriões no oviduto. V1: Vitelogênese primária.
V2: Vitelogênese secundária. Barra de escala = 1 cm. Fotos: Camilla M. de Carvalho.
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de aproximadamente um mês e meio na duração da incubação
(Braz et al., 2009). Essa relação é observada mesmo em táxons
vivíparos. Apesar de fêmeas vivíparas poderem regular sua
temperatura corpórea durante a gestação (Shine, 2012), a tem-
peratura disponibilizada em laboratório para as mães durante
esse período também influencia a duração do desenvolvimento
(Ji et al., 2007). Contudo, essa informação é frequentemente
negligenciada em diversos estudos (e.g., Bizerra et al., 2005;
Hauzman et al., 2005). É de extrema importância que dados
(média, amplitude) do ambiente térmico disponibilizado aos
ovos ou às mães durante o estudo sejam monitorados e apre-
sentados na publicação (e.g., Travaglia-Cardoso e Albuquerque,
2006), possibilitando assim a contextualização da época de
recrutamento no ciclo reprodutivo e facilitando a comparação
dos resultados com outros estudos.
Em paralelo, o aspecto do oviduto é algumas vezes levado
em consideração como indicativo de desova ou parturição re-
cente. Alguns autores consideram a presença de oviduto com
aspecto frouxo ou alargado como indicativo de condição pós-
-parto ou pós-desova (e.g., Mesquita et al., 2013). No entanto,
deve-se ressaltar que já durante a fase final de vitelogênese se-
cundária os ovidutos começam a apresentar dobras, possivel-
mente preparando-se para o recebimento dos oócitos na ovula-
ção. Sendo assim, a inferência de condição pós-parto com base
na observação de pregas nos ovidutos deve ser feita com caute-
la, a partir de um bom conhecimento da anatomia da espécie
estudada. Em paralelo, análises histológicas do útero glandular
podem auxiliar nessa distinção. Na fase pré-ovulatória o útero
apresenta diversas glândulas (envolvidas na formação da casca
do ovo ou membrana da casca em vivíparos), ao passo que em
fêmeas pós-parto tais glândulas encontram-se esvaziadas ou
ausentes (Stewart et al., 2010). Além disso, pode-se considerar
também a condição corpórea do animal. A presença de baixos
níveis de gordura abdominal pode estar relacionada ao consu-
mo dessa fonte energética ao longo dos eventos reprodutivos,
especialmente a vitelogênese secundária e a gestação (Braña
et al., 1992; Friggens, 2003; Schneider, 2004).
Machos
O ciclo reprodutivo dos machos apresenta vários compo-
nentes que devem ser estudados simultaneamente para se che-
gar a um consenso sobre como esse sistema funciona na espécie
ou população de interesse. No estudo da atividade reprodutiva
de machos de vertebrados, o exame dos testículos ocupa um
lugar de destaque quando comparado aos ductos genitais (Ro-
mer e Parsons, 1986). O testículo das serpentes geralmente au-
menta de tamanho durante a espermatogênese (Volsøe, 1944;
Gribbins e Rheubert, 2011), de forma que medidas macroscó-
picas como tamanho e volume (Pleguezuelos e Feriche, 1999)
são comumente utilizadas como indicador da atividade esper-
matogênica (Alves et al., 2005; Pizzatto, 2005; Pizzatto etal.,
2008; Leite etal., 2009; López etal., 2009; Scartozzoni et al.,
2009; Nunes etal., 2010; Pinto etal., 2010; Gomes e Marques,
2012; Bellini etal., 2013). No entanto, trabalhos recentes que
levaram em consideração técnicas histológicas têm mostrado
que medidas macroscópicas podem não ser bons indicadores de
atividade testicular para animais preservados em coleções zoo-
lógicas (Barros et al., 2012, 2014; Rojas etal., 2013; Braz etal.,
2014). Fatores como compressão, desidratação e fixação inade-
quadas podem mudar o formato e tamanho da gônada resul-
tando em conclusões equivocadas sobre a sazonalidade do ciclo
reprodutivo. Por exemplo, uma análise do ciclo reprodutivo
dos machos de dormideira (Sibynomorphus mikanii) utilizando
somente o tamanho do testículo como indicador da época de
espermatogênese concluiu que os machos desta espécie apre-
sentavam ciclo reprodutivo contínuo por não haver variação
desse parâmetro ao longo do ano (Pizzatto et al., 2008). No
entanto, análises histológicas demonstraram mais tarde que o
ciclo reprodutivo desta espécie é na verdade sazonal, havendo
produção de espermatozoides durante apenas três meses por
ano (Rojas et al., 2013). Resultados semelhantes têm sido en-
contrados para outras espécies (Barros et al., 2012, 2014; Braz
et al., 2014). Portanto, para estudar adequadamente o ciclo
reprodutivo de machos de serpentes é indispensável o uso da
histologia para caracterização do ciclo de desenvolvimento do
epitélio seminal (Mathies, 2011). As análises microscópicas
mais frequentemente utilizadas para tanto incluem o estudo
dos estágios celulares (espermatogônias, espermatócitos, es-
permátides e espermatozoides) observados nos túbulos se-
miníferos ao longo do ano (Volsøe, 1944; Goldberg e Parker,
1975; Gribbins e Gist, 2003; Rojas et al., 2013) e avaliação de
mudanças estruturais como diâmetro e altura do epitélio dos
túbulos seminíferos (Rojas etal., 2013). Cabe também ressal-
tar que o uso do termo “ciclo espermatogênico” é totalmente
inadequado quando a abordagem abrange unicamente dados
macroscópicos.
Após saírem dos túbulos seminíferos, os espermatozoides
passam pela rete testis, dúctulos eferentes e ductos epididimá-
rios e adentram o ducto deferente (Volsøe, 1944; Sever, 2010;
Trauth e Sever, 2011). Talvez por sua fácil observação e iden-
tificação anatômica, o ducto deferente é bastante estudado na
determinação do ciclo reprodutivo de serpentes neotropicais
(e.g., Alves et al., 2005; Scartozzoni etal., 2009; Sueiro et al.,
2010; Pinto etal., 2010; Gomes e Marques, 2012). Diversos tra-
balhos têm mostrado que essa estrutura apresenta um aumen-
to macroscópico de diâmetro em sua porção distal e sugerem
que esse aumento esteja relacionado à estocagem de esperma
(Almeida-Santos et al., 2004, 2006). No entanto, apenas por
meio de cortes histológicos ou esfregaço é possível confirmar a
presença de espermatozoides nesses ductos.
Em serpentes, o ducto deferente também pode apresentar
uma estrutura conhecida como ampola, a qual tem um papel
importante na estocagem de gametas (Sever, 2004; Siegel et al.,
2009; Trauth e Sever, 2011). Em mamíferos, a ampola é relacio-
nada à maturação, nutrição, estocagem e fagocitose de esper-
matozoides (Cooper e Hamilton, 1977; Bergerson et al., 1994).
Contudo, poucos estudos abrangendo esse tópico foram reali-
zados em serpentes (Sever, 2004; Siegel et al., 2009; Trauth e
Sever, 2011). Outro ponto crítico no estudo do ducto deferente
é a utilização unicamente da porção distal para aferir variações
durante o ciclo reprodutivo, sendo que o estudo das porções
cranial e medial podem também auxiliar na compreensão do
processo de estocagem.
Herpetologia Brasileira - Volume 3 - Número 1 - Março de 2014
Métodos em Herpetologia
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Em serpentes, assim como em outros Squamata, o rim
(Fig.2) desempenha uma função sexual secundária por meio
do segmento sexual renal (SSR). Dependendo da espécie, esta
estrutura é formada por uma região diferenciada dos túbulos
contorcidos distais, ductos coletores e ureter (Saint Girons,
1972). Nos machos maduros, hipertrofia-se e torna-se secre-
tora, sendo facilmente distinguível dos túbulos adjacentes em
cortes histológicos. Sua atividade é andrógeno-dependente,
e observa-se hipertrofia dessa região quando há aumento da
concentração de testosterona na corrente sanguínea do animal.
Na maioria dos ofídios, o aumento na atividade secretora do
SSR está ligado à época de acasalamento (Volsøe, 1944; Bishop,
1959; Fox, 1977; Schuett et al., 2002). Assim, uma pesquisa
morfofuncional sobre ciclo reprodutivo masculino em serpen-
tes deve considerar a atividade secretora e estado de hipertrofia
do SSR, que pode ser avaliada com base em medidas de diâme-
tro e de altura do epitélio dos túbulos néfricos que compõem
essa estrutura (Rojas e Almeida-Santos, 2008; Rojas et al.,
2013). Tais medidas, juntamente com análises de densidade e
intensidade de coloração dos grânulos de secreção por técnicas
histoquímicas, consistem nas variáveis mais frequentemente
analisadas no estudo das variações sazonais do SSR (Aldridge e
Brown, 1995; Krohmer et al., 2004). Colorações histoquímicas
como Ácido Periódico de Schiff, Alcian Blue, Azul de Bromo-
fenol e Sudan Black são utilizadas para determinar o tipo de
secreção produzida pelo SSR (Kunhel e Krisch, 1974; Saint Gi-
rons, 1972; Sever e Hopkins, 2005; Sever et al., 2008; Rojas e
Almeida-Santos, 2008; Rojas etal., 2013), e a associação dessas
técnicas às medidas microscópicas dos túbulos pode fornecer
resultados mais precisos quanto à variação sazonal principal-
mente em relação aos grânulos secretados pelo SSR.
FECUNDIDADE
Tamanho da ninhada
Dados sobre o tamanho da ninhada (quantidade de ovos
ou filhotes produzidos) certamente compõem a informação
reprodutiva mais encontrada para serpentes (Fitch, 1970; Sei-
gel e Ford, 1987). O tamanho da ninhada é facilmente obtido
contando o número de ovos/embriões presentes no oviduto de
diversas formas como: apalpação abdominal de fêmeas grávi-
das (Fitch, 1987), dissecção de exemplares (e.g., Scartozzoni
et al., 2009) ou observação do produto expelido (Gregory etal.,
1992). Além disso, é frequente encontrar na literatura estimati-
vas do tamanho da ninhada feitas considerando também o nú-
mero de folículos em vitelogênese secundária em fêmeas não
grávidas (e.g., Marques, 2001; Scartozzoni et al., 2009; Gomes e
Marques, 2012). Quando da utilização de folículos secundários,
poucos estudos deixam explícito a utilização desse tipo de dado
(e.g., Balestrin e Di-Bernardo, 2005; Oliveira et al., 2011; Mes-
quita etal., 2013). Embora em algumas espécies o número de
folículos secundários e o número de ovos/embriões seja similar
(Maschio et al., 2007; Oliveira etal., 2011), em outras o núme-
ro de folículos secundários produzidos por uma fêmea é maior
que o número de ovos/embriões observados no oviduto (Shine,
1977; Ford e Karges, 1987; Mesquita etal., 2013). Assim, nem
todos os folículos secundários produzidos são ovulados e con-
vertidos em ovos/embriões, o que pode levar a estimativas
equivocadas do tamanho da ninhada.
Diante disso, sugerimos que o tamanho da ninhada obtido
pelo número de folículos secundários e pelo número de ovos/
embriões no oviduto sejam considerados separadamente e
comparados entre si (e.g., Balestrin e Di-Bernardo, 2005; Oli-
veira etal., 2011; Mesquita etal., 2013). Além disso, recomen-
damos que folículos secundários sejam utilizados alternativa-
mente apenas como estimativa do tamanho da ninhada nos
casos em que o número de fêmeas grávidas na amostra é muito
baixo ou inexistente. Nesses casos, a opção de utilizar fêmeas
com folículos vitelogênicos em estágios bem avançados (em vez
de folículos em todos os graus de vitelogênese) pode ser uma
saída mais aconselhável para minimizar erros (e.g., Braz et al.,
2014).
Massa Relativa da Ninhada
A massa relativa da ninhada (Relative Clutch Mass, RCM) é
uma estimativa operacional do investimento reprodutivo de
uma determinada espécie (Bonnet et al., 2003). Outras manei-
ras de estimar o esforço reprodutivo podem ser encontradas na
literatura (e.g., Vitt e Congdon, 1978). Contudo, a massa rela-
tiva da ninhada (MRN) é a mais comumente utilizada, princi-
palmente pela facilidade em se obter esse tipo de informação,
sendo empregada em uma gama de estudos descrevendo pa-
drões de investimento reprodutivo em Squamata (e.g., Vitt e
Congdon, 1978; Vitt e Price, 1982; Seigel e Fitch, 1984; Shine,
1988b, 1992; Shine e Schwarzkopf, 1992).
Duas formas de calcular a MRN são frequentemente en-
contradas na literatura: (1) massa total da ninhada/(massa
da mãe após a desova ou parturição + massa total da ninhada)
(Vitt e Congdon, 1978; Seigel e Fitch, 1984) e (2) massa total
da ninhada/massa da mãe após desova ou parturição (Shine,
1980b). Apesar de alguns autores argumentarem que a segun-
da opção é mais adequada como estimativa do esforço repro-
dutivo, além de evitar problemas estatísticos (Shine, 1980b;
Setser et al., 2010), tanto a primeira (Balestrin e Di-Bernardo,
2005; Oliveira et al., 2011) quanto a segunda (Scartozzoni
etal., 2005; Pizzatto e Marques, 2006; Braz etal., 2009) são re-
correntemente observadas em estudos de reprodução. Alguns
autores optam até mesmo por apresentar os valores calculados
utilizando os dois modos (Braz e Almeida-Santos, 2008; Setser
et al., 2010). Porém, os autores nem sempre deixam claro como
a MRN foi calculada (e.g., Costa et al., 2005; Hauzman etal.,
2005; Travaglia-Cardoso e Albuquerque, 2006), o que acaba di-
ficultando a interpretação dos resultados pelo leitor, bem como
comparações futuras. A despeito da opção por um ou outro mé-
todo, é importante que a escolha do autor seja claramente ex-
plicitada no texto (e.g., Scartozzoni et al., 2005; Oliveira etal.,
2011). Mais importante, nós encorajamos que os dois valores
envolvidos no cálculo da MRN (i.e., massa total da ninhada e
massa da mãe após desova/parturição) sejam apresentados
no texto (e.g., Brown e Shine, 2002; Braz e Almeida-Santos,
2008). Assim, outros autores podem futuramente reaproveitar
Herpetologia Brasileira - Volume 3 - Número 1 - Março de 2014
Métodos em Herpetologia 19
ou reavaliar os dados em contextos comparativos (e.g., Seigel
e Fitch, 1984; Shine, 1992; Shine e Schwarzkopf, 1992). Além
disso, algumas recomendações com relação à coleta desses da-
dos são necessárias. Todo o produto reprodutivo expelido pelas
mães deve ser pesado e incluído como massa da ninhada. Isso
envolve ovos viáveis e inviáveis em táxons ovíparos e filhotes
vivos, natimortos, vitelo e anexos embrionários nos táxons vi-
víparos (Gregory et al., 1992). Recomendações adicionais para
a coleta de dados de MRN podem ser encontradas em Seigel e
Ford (1987).
Produção de múltiplas ninhadas
A possibilidade de produção de mais de uma ninhada em
uma única estação reprodutiva é uma característica que há
tempos tem sido atribuída a fêmeas de serpentes que habitam
regiões tropicais (Fitch, 1970, 1982; Seigel e Ford, 1987). No
entanto, evidências diretas para essa suposição, ou seja, obser-
vação de duas ou mais desovas/parturições dentro de uma mes-
ma estação reprodutiva por uma mesma fêmea, raramente têm
sido demonstrada na natureza ou em espécimes recém-captu-
rados (Seigel e Ford, 1987; Brown e Shine, 2002). A maior parte
dos registros deriva de exemplares mantidos em cativeiro cujas
condições estáveis (disponibilidade de alimento e temperatura
constantes) podem modificar o potencial reprodutivo (Seigel e
Ford, 1987). Na ausência de informações na natureza, muitos
autores vêm utilizando o encontro de fêmeas contendo simul-
taneamente folículos vitelogênicos e ovos/embriões no oviduto
como sugestão de que a espécie (ao menos potencialmente) se
reproduz mais de uma vez em uma estação reprodutiva (e.g.,
Vitt, 1983; Aguiar e Di-Bernardo, 2005; Marques e Muriel,
2007; Pinto et al., 2010; Mesquita etal., 2013). Embora essa
seja uma hipótese plausível, a natureza indireta dessa inferên-
cia a torna passível de interpretações alternativas. Outras pos-
sibilidades merecem ser consideradas paralelamente antes de
se assumir a potencialidade de múltiplas ninhadas.
Antes de tudo, é preciso assegurar que os folículos ovaria-
nos estejam de fato em vitelogênese (veja tópico sobre ciclos
reprodutivos de fêmeas). Além disso, considerando que em
algumas espécies o número de folículos secundários produzi-
dos é maior que o número de oócitos efetivamente ovulados
(conforme discutido no tópico sobre tamanho da ninhada), a
presença de folículos secundários em fêmeas grávidas poderia,
em vez de sugerir ninhadas múltiplas, representar tão somente
folículos remanescentes, que mais tarde sofrerão processo de
regressão ainda no ovário (Lourdais et al., 2003; Mathies etal.,
2004; García-Valdez et al., 2011). Por exemplo, Shine (1977,
p.658) relata que, em alguns elapídeos, “um ou dois folículos
que tinham atingido tamanho ovulatório não foram ovulados,
tornaram-se atrésicos e começaram a regredir”.
Pode-se argumentar que tais folículos remanescentes po-
deriam ser usados na produção de uma ninhada adicional.
Contudo, os folículos são normalmente referidos apenas como
“vitelogênicos” ou “aumentados”, de forma que as medidas de
tais folículos raramente são apresentadas. Nas poucas ocasiões
em que dados quantitativos são apresentados (e.g., Aguiar e Di-
-Bernardo, 2005; Pizzatto e Marques, 2006; Pinto et al., 2010)
não é incomum notar que tais folículos ainda não atingiram ta-
manho pré-ovulatório. Em outras palavras, ainda carecem de
deposição de vitelo para a produção de ninhada adicional. Nes-
se contexto, é importante ter em mente que a taxa de desenvol-
vimento folicular pode não ser constante ao longo do ano (veja
discussão em Mathies, 2011).
Além disso, cabe ressaltar que a reprodução envolve cus-
tos (Shine, 2003), e entre a observação de uma fêmea grávida
portando folículos secundários e a efetiva produção de uma
ninhada adicional existe uma série de requisitos a serem con-
siderados, como a necessidade de energia (adquirida prévia ou
simultaneamente à reprodução, capital breeders vs. income bree-
ders; Drent e Daan, 1980; Bonnet et al., 2002), preparação fisio-
lógica, estocagem de esperma nas fêmeas ou cópula adicional,
tempo para formação da casca do ovo e retenção dos ovos (de
duas a quatro semanas; Andrews e Mathies, 2000). Dependen-
do da época em que for observada uma fêmea portando ovos/
embriões no útero e folículos vitelogênicos, é provável que não
haja tempo para a produção de outra ninhada na mesma esta-
ção. Por fim, características como o modo reprodutivo podem
fornecer pistas contra a hipótese de múltiplas ninhadas. A vi-
viparidade apresenta elevados custos associados à manutenção
dos embriões (Shine, 1985; Bleu et al., 2012) e, de fato, a maior
parte das espécies vivíparas se reproduz a intervalos de pelo
menos dois anos (Seigel e Ford, 1987). Assim, a probabilida-
de de uma espécie vivípara produzir uma segunda ninhada em
uma mesma estação reprodutiva (e.g., Aguiar e Di-Bernardo,
2005) é bastante baixa.
Estudos monitorando populações naturais representam as
melhores oportunidades de encontrarmos evidências de múl-
tiplas ninhadas. Por exemplo, após monitorarem indivíduos
de Tropidonophis mairii ao longo de 18 meses, Brown e Shine
(2002) encontraram evidência inequívoca de produção de múl-
tiplas ninhadas na natureza em uma única estação reprodutiva.
Com base nisso, os autores propõem que a produção de múl-
tiplas ninhadas seja bastante difundida em táxons tropicais,
mas que a raridade de observações na natureza possivelmente
reflita a falta de estudos monitorando a história reprodutiva
de populações naturais (Brown e Shine, 2002). Nesse senti-
do, algumas espécies no Brasil sugeridas como produtoras de
múltiplas ninhadas (e.g., Liophis poecilogyrus: Pinto e Fernan-
des, 2004; Xenodon dorbignyi: Oliveira et al., 2011) parecem ser
bastante abundantes em determinadas áreas, uma vez que um
grande número de indivíduos foram coletados em um período
relativamente curto (Maciel etal., 2003; Oliveira etal., 2011),
oferecendo imenso potencial para revelar outros exemplos ine-
quívocos de produção de múltiplas ninhadas.
DIMORFISMO SEXUAL
Espécies de serpentes podem apresentar diferenças entre
os sexos em diversas caraterísticas ecológicas e morfológicas
(Shine, 1978b, 1994, Fitch, 1981, King, 1989, Vincent et al.,
2004). O dimorfismo no tamanho do corpo e no tamanho da
cauda estão entre os mais abordados em estudos de reprodu-
ção. A diferença intersexual no tamanho da cauda (tipicamente
Herpetologia Brasileira - Volume 3 - Número 1 - Março de 2014
Métodos em Herpetologia
20
maior em machos) é frequentemente associada à acomodação
dos hemipênis e músculos retratores (King, 1989), embora a
causa exata de sua evolução permaneça incerta (Shine et al.,
1999). A análise do dimorfismo sexual no tamanho do corpo
é especialmente importante pois pode fornecer pistas sobre o
sistema de acasalamento da espécie como a presença de comba-
te entre machos (Shine, 1978b, 1994).
Para comparações sobre o tamanho do corpo é utilizado o
índice de dimorfismo sexual de tamanho (Sexual Size Dimor-
phism, SSD). Esse índice pode ser calculado com base em dife-
rentes tipos de dados: (1) utilizando a média do comprimento
rostro-cloacal (CRC) de machos e fêmeas, (2) considerando o
tamanho corporal (CRC) máximo atingido por cada um dos se-
xos, (3) comparando o CRC com que machos e fêmeas atingem
a maturidade sexual, ou até mesmo (4) comparando a massa
corpórea, embora este último parâmetro esteja sujeito a flutu-
ações em um curto espaço de tempo e seja raramente descrito
em detalhe (Shine, 1994). Há ainda variadas fórmulas para o
cálculo do índice de dimorfismo sexual propostas na literatura
(veja revisão em Lovich e Gibbons, 1992). Considerando essa
variedade, é importante deixar explícito no trabalho de que
forma o SSD foi calculado. Assim, os dados poderão ser utili-
zados em diferentes contextos comparativos, como por exem-
plo, para a análise da evolução de sistemas de acasalamento,
especialmente com respeito à comparação entre espécies que
apresentam ou não ritual de combate entre machos (Shine,
1994). As análises abrangentes sobre este tema disponíveis na
literatura não incluem uma amostragem significativa de espé-
cies da região neotropical (Shine, 1978b, 1994), o que reforça a
importância da apresentação dos dados utilizados no cálculo do
SSD, para que uma análise comparativa englobando as espécies
da região neotropical possa ser realizada no futuro.
CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS
O conhecimento sobre reprodução de serpentes neotropi-
cais tem avançado bastante nos últimos vinte anos, especial-
mente no Brasil. Esse avanço, reconhecido inclusive interna-
cionalmente (Mathies, 2011), resultou do esforço de diferentes
pesquisadores espalhados pelo país e tem proporcionado conhe-
cimento de aspectos reprodutivos básicos como ciclos reprodu-
tivos, fecundidade e comportamento reprodutivo. Entretanto,
as questões aqui abordadas destacam algumas inconsistências
na execução de estudos em reprodução de serpentes que envol-
vem a identificação das estruturas anatômicas do trato repro-
dutor (fundamentais para a coleta de dados), a coleta e análise
dos dados bem como a apresentação dos resultados. Isso posto,
muitas oportunidades de estudos permanecem disponíveis em
reprodução de serpentes.
As divergências entre análises macro e microscópicas no es-
tudo da reprodução indicam que os ciclos reprodutivos de ma-
chos descritos apenas por caracterização macroscópica (diâme-
tro do ducto deferente, volume ou comprimento dos testículos)
em diversas espécies carecem ainda de confirmação histológica.
Tais análises podem ser realizadas tanto em parceria com labo-
ratórios de histologia de universidades e institutos de pesquisa
como em laboratórios comerciais privados. Estudos em campo
monitorando populações naturais são necessários para a reso-
lução de pontos relacionados não só à frequência reprodutiva
abordados aqui, mas também para o esclarecimento de diver-
sas questões relacionadas aos ciclos reprodutivos e à história
de vida. Informações oriundas de cativeiro podem complemen-
tar dados obtidos em campo ou de animais preservados em co-
leção, especialmente aqueles difíceis de serem registrados na
natureza, e fornecer informações comportamentais e fisiológi-
cas que possibilitam a elucidação da dinâmica e evolução das
estratégias reprodutivas. Por fim, cabe ressaltar a necessidade
de buscarmos integrar os estudos em reprodução de machos e
fêmeas de serpentes de modo que alcancemos uma maior com-
preensão da biologia reprodutiva da espécie em questão como
um todo.
AGRADECIMENTOS
Nós agradecemos a Hipócrates M. Chalkidis, Marcos A. Car-
valho e Francisco L. Franco por permitir o exame dos espécimes
aqui ilustrados e à Camilla M. de Carvalho e a Otavio A. V. Mar-
ques pelas fotografias. Agradecemos também à Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-
rior (CAPES) pelo auxílio financeiro.
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Herpetologia Brasileira - Volume 3 - Número 1 - Março de 2014
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... Anatomical and reproductive features are important to describe and characterize snake species and populations (Almeida-Santos et al., 2014;Mathies, 2011). Data on sexual maturity are fundamental for reproductive studies (Almeida-Santos et al., 2014), as well as sexual dimorphism, which might be important to recognize specific characteristics and behavior of individuals of distinct sexes. ...
... Anatomical and reproductive features are important to describe and characterize snake species and populations (Almeida-Santos et al., 2014;Mathies, 2011). Data on sexual maturity are fundamental for reproductive studies (Almeida-Santos et al., 2014), as well as sexual dimorphism, which might be important to recognize specific characteristics and behavior of individuals of distinct sexes. These data are also vital for studying the evolution of species through comparisons between populations (Caiacedo-Portilla, 2011). ...
... Based on these results we highlight that females with enlarged follicles, but with a smooth infundibulum might not have had their first reproductive event. As in other snakes, the presence of receptacles in the infundibulum, the opacity of the uterus, as well as the development of uterus glands and the presence of spermatozoa in the oviduct are also indicatives of sexual maturity (Almeida-Santos et al., 2014). ...
Article
Natural history data are important for a better understanding of distinct aspects of snake biology, and this information in scarce on Scolecophidia. Here we focus on sexual maturity and sexual dimorphism within a population of Amerotyphlops brongersmianus from the Restinga de Jurubatiba National Park, Rio de Janeiro state, Brazil. The smallest sexually active male and female showed snout-vent length of 117.5 and 158.4 mm, respectively. Females had statistically significant larger body and head length sizes, whereas males had longer tails. Juveniles showed no sexual dimorphism for any analyzed feature. Secondary vitellogenic follicles had a more opaque, yellowish/darker aspect, being larger than 3.5 mm. We reinforce that in addition to traditional features for determining sexual maturity, morphological and histological characteristics of kidneys should be evaluated in males, as well as the morphology of the infundibulum in females. Histological data show development of seminiferous tubules and presence of spermatozoa in males, and infundibulum receptacles and uterine glands in females as a sign of sexual maturity. This type of information is essential for a more accurate description of data on sexual maturity, allowing access to information on the development of reproductive structures that are not available macroscopically.
... The study of reproductive biology comprises several biological factors, such as ecology, behavioral aspects, physiology, evolution and anatomy. In addition, the histological analysis of the gonadal tissue for the verification of cellular processes such as gametogenesis is essential for the determination of a reproductive cycle (Rojas et al. 2013, Almeida-Santos et al. 2014, Loebens et al. 2017. Loebens et al. (2020) claimed that the combined morpho-anatomical and histological analyses allowed to precisely describe the reproductive cycle in males and females. ...
... According to Tsai & Tu (2000), the studies of the reproductive features of tropical and subtropical snakes were limited. However, in the last decades, the analysis of aspects of the reproductive biology of neotropical snakes has been increasing, mainly with the research of specimens deposited in the collections (Girons 1982, Pizzato et al. 2008, Mathies 2011, Rojas et al. 2013, Almeida-Santos et al. 2014, Loebens et al. 2017. Girons (1982) and Schuett (1992) categorized the cycles of males considering the temporal occurrence of spermatogenesis, the sperm storage phase, mating period, and the austral seasons. ...
... The sperm storage has been studied in females (Fox 1956, Schuett 1992, Almeida-Santos & Orsi 2002, Loebens et al. 2017, Aldridge et al. 2020, however, this reproductive event is also present in males (Almeida- Santos et al. 2014). In addition to the sperm storage function, studies have shown a secretory action of the ductus deferens in viperids (Siegel et al. 2009). ...
Article
Full-text available
The morphology of the male reproductive tract of Tomodon dorsatus was described in the austral seasons of the year considering macroscopic and microscopic variables. For this purpose, 56 specimens from the herpetological collection of the “Instituto Butantan” were used. Fragments of the testes, kidneys and ductus deferens were collected and submitted to histological routine. The peak of the testicular volume was observed in the summer and the epithelium of the seminiferous tubules had higher height in the summer (p=0.001). The testes were active throughout the year, however, the spermiogenesis peaked in the summer. There were spermatozoa in the lumen of the ductus deferens in all seasons of the year. Renal length was higher in autumn (p=0.027), and renal width did not show a significant increase (p=0.237). The diameter and epithelial height of the sexual segment of the kidney (SSK) showed hypertrophy in winter and spring, coinciding with the mating period. Based on findings of this study, we can suggest that, at the population level, the reproductive cycle of T. dorsatus can be considered seasonal semi-synchronous, due to the peak of spermiogenic activity in the hot season, and discontinuous at the individual level.
... The following reproductive data were recorded from females: total number of ovarian follicles; number of follicles in secondary vitellogenesis (secondary follicles are defined as enlarged follicles with yolk accumulation; diameter ≥ 9 mm, based on the scatterplot of the largest follicles of all females and on coloration [Almeida-Santos et al., 2014]); diameter of the largest secondary follicle; total number of eggs; occurrence of celomatic fat storage; and largest diameter of the largest egg. Females were considered mature when showing at least one of the following characteristics: 1) secondary follicles; 2) oviductal eggs; and 3) folded oviducts, indicating recent oviposition. ...
... Males were considered mature when presented coiled and opaque ductus deferens, indicating the presence of sperm. The female reproductive cycle was evaluated by: 1) analysis of the distribution of females carrying secondary follicles and oviductal eggs along the months of the year; 2) analysis of the annual profile resultant from the plot of the largest follicles and eggs of each female (Mesquita et al., 2013;Almeida-Santos et al., 2014). Fecundity was determined by the number of eggs in the oviduct (real fecundity) and the number of secondary follicles (potential fecundity) in the ovarium (Mesquita et al., 2013). ...
... The occurrence of females showing secondary follicles in spring may indicate a seasonal reproductive cycle, a pattern already recorded for other xenodontines in the studied region (Oliveira et al., 2011;Rebelato et al., 2016;Quintela et al., 2017;Quintela and Loebmann, 2019a, b). A marked greater accumulation of celomatic fat in females during initial and intermediate secondary vitellogenesis when compared to females in advanced secondary vitellogenesis also indicates a capital-breeding strategy (Bonnet et al., 1998), where the consumption of lipidic energy sources occurs along the reproductive cycle (Almeida-Santos et al., 2014). The only data on real fecundity (three oviductal eggs) showed a clutch size smaller than those observed in O. rhombifer from other regions (four to 17; Pontes and Di-Bernardo, 1988;Yanosky et al., 1996;Gallardo and Scrocchi, 2006;Gaiarsa et al., 2013), but within the clutch size variation found for O. guibei (three to 20; Pizzato and Marques, 2002) and O. trigeminus (one to 11; Alencar et al., 2012). ...
... Understanding life history parameters such as age of sexual maturity, growth rate, and reproductive mode is crucial for comprehending the evolution of species' ecological patterns (Almeida- Santos et al. 2014, Ramiro 2015. In addition, the timing of sexual maturation is an essential part of a species' life history strategy and is influenced by the duration of activity seasons (Adolph & Porter 1996, Brandt 2010. ...
Article
Full-text available
Life history information plays a crucial role in comprehending the evolutionary processes that shape ecological patterns within species, but there is limited information available on the reproductive and other aspects of tropical Squamata. In this study, we present a comprehensive analysis of dietetic and morphometric data, specifically related to the size and sex determination of Ameivula nigrigula, aiming to investigate if there is sexual dimorphism and identify the onset of sexual maturity in female individuals. By thoroughly examining the stomach contents, we observed that the majority of specimens retain food remnants, with a prevalence of small prey items such as Hymenoptera and Isoptera. Our findings reveal a lack of sexual dimorphism in terms of body size, indicating that males and females possess similar dimensions and proportions. Moreover, our investigations suggest that different color patterns do not correspond to distinct stages of female development, as chromatic variations are observed in both juvenile and ovigerous females. Consequently, dorsal coloration may not serve as a reliable indicator of sexual maturity. The observed chromatic variation is likely a form of polymorphism within the population, lacking the potential to determine life stages. Furthermore, our examination of female fertility reveals the presence of one to two eggs per female, consistent with findings in other Teiidae species.
... Para cada variable morfométrica se calculó el promedio, la desviación estándar y el intervalo (talla mínima y máxima). Se identificó el sexo por medio de la presencia/ausencia de hemipenes (Almeida-Santos et al. 2014). En cuanto a las clases de edad de M. apiatus, se clasificaron en cuatro categorías de tamaño: machos juveniles aquellos ejemplares que midieron ≤ 400 mm de LHC, hembras juveniles ≤ 500 mm de LHC, machos adultos Köhler 2003; Heimes 2016) y se utilizaron ejemplares de referencia de la colección ECO-CH-H para comparar los restos de organismos encontrados en el tracto gastrointestinal de los individuos disectados. ...
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Micrurus apiatus es una serpiente de coral poco conocida que se distribuye desde el este del Istmo de Tehuantepec, México hasta el oeste de Honduras, incluyendo la Península de Yucatán. Describimos su dieta, variación morfológica y patrones de actividad basados en datos de 107 especímenes de museos provenientes de los estados de Campeche, Quintana Roo y Yucatán, así como datos publicados. Su dieta consiste principalmente de otras serpientes, no fueron encontradas preferencias en el tipo de presa entre sexos, edades o estaciones; su alimentación ocurre a lo largo del año, observándose un ligero aumento en la temporada de lluvias. Agregamos ocho presas nuevas, incluyendo a Adelphicos visoninum, que representa un nuevo registro geográfico para Campeche, y sugerimos una dieta homogénea entre clases de edad, sexos y estaciones. Micrurus apiatus presenta dimorfismo sexual en longitud hocico-cloaca, longitud total, largo de la cabeza, escamas ventrales (mayor en hembras), longitud de cola y escamas subcaudales (mayor en machos). Micrurus apiatus mostró actividad durante todo el año, con un patrón de actividad aparentemente bimodal, con un pico de actividad a fines del invierno y primavera y el otro pico a mediados de verano y otoño. El momento de los eventos reproductivos de M. apiatus es similar al de otras serpientes de coral con patrón de color de anillos negros dispuestos en mónadas. Estudios adicionales sobre esta especie y otras relacionadas aumentará nuestra comprensión sobre cómo su ecología difiere de aquellas especies con un patrón de anillos negros dispuestos en tríadas y bicolores.
... Because we assessed sexual maturity only through macroscopic inspection, we avoid classifying males as adults or juveniles based on the size of the testes and the aspect of the deferent ducts. Several studies have indicated the need of histological analysis of the deferent ducts and testes to properly determine male maturity through the search for spermatozoids (Almeida-Santos et al., 2014;Silva et al., 2019). ...
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Brazilian continental islands represent a natural laboratory to study speciation driven by recent phenotypic and genotypic divergence. The Bothrops jararaca species group is distributed in the Brazilian Atlantic Forest and on most of the Brazilian continental islands. The group is currently composed of the mainland common lancehead (B. jararaca) and four insular species (B. alcatraz, B. insularis, B. otavioi, and B. sazimai). Here, we evaluate mitochondrial DNA and morphological diversity of the B. jararaca species group and aim to provide additional evidence to understand insularization processes on the Brazilian coast. Our results, interpreted together with a comprehensive review of geomorphological data, provide a new conceptual framework for understanding the colonization process of the Brazilian continental islands. This framework suggests a history of multiple rounds of periodic isolation and reconnection between insular populations and their mainland relatives throughout the last 420,000 years. Furthermore, although some insular populations may have speciated prior to the last glacial maximum, other species likely diverged within the last 11,000 years. Additionally, the repeated evolution of size and dietary shift in the B. jararaca species group suggests a remarkable case of convergent adaptation. Our study provides evidence that the Bothrops from Ilha da Moela (Brazilian state of São Paulo) represents an undescribed species, presenting a distinct phenotype, and an exclusive history of isolation and adaptation. We describe this unique lancehead as a new species and we suggest it should be listed as critically endangered based on its endemicity to a small island that is severely impacted by constant and longstanding human presence. http://zoobank.org/urn:lsid:zoobank.org:pub:B1F65287-CEC4-4F9C-90D7-42314A497590
... Snout-vent length (SVL) and tail length (TL) were measured for all individuals. The reproductive status of each snake was determined by macroscopic and histological morphological analyses as described [81]. Macroscopic measurements were taken of the diameter of the primary and secondary follicles for females and the length and width of the testicles for males. ...
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Ontogenetic changes in venom composition have been described in Bothrops snakes, but only a few studies have attempted to identify the targeted paralogues or the molecular mechanisms involved in modifications of gene expression during ontogeny. In this study, we decoded B. jararacussu venom gland transcripts from six specimens of varying sizes and analyzed the variability in the composition of independent venom proteomes from 19 individuals. We identified 125 distinct putative toxin transcripts, and of these, 73 were detected in venom proteomes and only 10 were involved in the ontogenetic changes. Ontogenetic variability was linearly related to snake size and did not correspond to the maturation of the reproductive stage. Changes in the transcriptome were highly predictive of changes in the venom proteome. The basic myotoxic phospholipases A2 (PLA2s) were the most abundant components in larger snakes, while in venoms from smaller snakes, PIII-class SVMPs were the major components. The snake venom metalloproteinases (SVMPs) identified corresponded to novel sequences and conferred higher pro-coagulant and hemorrhagic functions to the venom of small snakes. The mechanisms modulating venom variability are predominantly related to transcriptional events and may consist of an advantage of higher hematotoxicity and more efficient predatory function in the venom from small snakes.
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Cuad. herpetol. 36 (1): 33-45 (2022) Recibido: 23 Septiembre 2021 R e v i s a d o : 1 1 M a r z o 2 0 2 2 A c e p t a d o : 3 0 M a r z o 2 0 2 2 Editor Asociado: V. Arzamendia ABSTRACT Secretive snakes (e.g., fossorial or semifossorial) show morphological adaptations that may constrain potential reproductive output. However, females can store sperm in the reproductive tract, increasing their reproductive potential. Thus, studies on the reproduction of fossorial and semifossorial species are of great interest for a complete understanding of snake reproductive strategies. Here, we investigate the reproductive strategies of the semifossorial snake Atractus zebrinus through macroscopic and histological analyzes of the male and female reproductive tracts. Females were larger and had more ventral scales than males, the most common pattern in snakes, and apparently conserved in the genera. The female reproductive cycle was seasonal, with gravid females occurring in spring and summer. Rainfall seems to be the major factor driving female reproductive seasonality, and sperm storage in the infundibular receptacles may ensure fertilization and multiple paternity. The male reproductive cycle was aseasonal. Spermiation, hypertrophy of the sexual segment of the kidney, and sperm storage in the ductus deferentia occurred over several months. This aseasonal reproduction in males may enhance paternity by increasing the species mating chances. RESUMO Las serpientes fosoriales y semifosoriales presentan adaptaciones morfológicas que pueden limi-tar su reproducción. Sin embargo, las hembras pueden almacenar espermatozoides en el tracto reproductivo aumentando su potencial reproductivo. Por lo tanto, estudios sobre la reproducción de especies fosoriales y semifosoriales son de gran interés para la comprensión de las estrategias reproductivas de las serpientes. En este trabajo, investigamos las estrategias reproductivas de la serpiente semifossorial Atractus zebrinus através de análisis macroscópicos y cortes histológicos de los tractos reproductivos de machos y hembras. Como resultado, encontramos que las hem-bras fueron más grandes y tenían más escamas ventrales que los machos. Por otro lado, el ciclo reproductivo de las hembras fue estacional, con hembras grávidas en primavera y verano. La lluvia parece ser el factor principal que influencia la estacionalidad reproductiva de las hembras, y el almacenamiento de espermatozoide en los receptáculos infundibulares podría asegurar la fertilización y la paternidad múltiple. Además, el ciclo reproductivo de los machos no fue estacional. En varios meses, se encontraron procesos de espermiación, hipertrofia del segmen-to sexual del riñón y almacenamiento de semen en el conducto deferente. Esta reproducción no estacional en los machos puede aumentar las posibilidades de apareamiento de la especie.
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In Squamate reptiles, vitellogenesis in females is marked by an increase in the number and size of follicles, leading to an increase in aerobic metabolism to support the rising energy demand during reproductive activity. Male gametes are smaller than female gametes, and spermiogenesis requires less energy than vitellogenesis. This investigation compares the relationship between aerobic metabolism and reproductive effort in male and female viviparous Tomodon dorsatus snakes. We evaluated the influence of the males' and females' reproductive stages, along with the masses of follicles and testicles, on their aerobic metabolic rate. Our findings show that females have higher maintenance cost of pregnancy than metabolic costs of vitellogenesis. In males, we found no evidence of the reproductive effort influencing aerobic metabolic rates. In T. dorsatus, females have a long period of development and high fecundity. Therefore, the metabolic costs of vitellogenesis represent a critical component in the reproductive effort. On the other hand, males of T. dorsatus maintain a similar mass of gonads throughout the year with constant energy demand. These results reflect the difference in reproductive efforts between females and males of T. dorsatus.
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Imantodes cenchoa (Linnaeus, 1758) is distributed from the east coast of Mexico to Argentina. In Brazil, it occurs in the north, central-west and northeast regions. We present information on the reproductive biology and diet of I. cenchoa from analysis of 314 specimens deposited in the Herpetological Collection of the Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG). Imantodes cenchoa displays sexual dimorphism in the snout-vent length, where sexually mature females are larger than mature males (t = 4.02, p < 0.01; N males = 150, N females = 71), head length (f(1.218) = 98.29, p < 0.01; N males = 150, N females = 71), and head width (f(1.218) = 112.77, p < 0.01, N males = 150; N females = 71). Bi-sexual maturity is observed, with males becoming sexually mature earlier than females. Females with eggs were recorded from November to January (rainy season) and from April to July (dry season), suggesting two reproductive peaks throughout the year, with recruitment occurring mainly during the rainy season, when there is a greater supply of food. Imantodes cenchoa is a nocturnal active forager, capturing prey that are asleep on the vegetation. In 32.80% of the analyzed specimens, food contents were present, of which 84.11% were lizards of the genera Norops (69.16%, N = 74) and Gonatodes (14.95%, N = 16). The other 15.89% of the contents were made up of items in an advanced state of digestion, preventing their identification. Some specimens had more than one food item in their digestive tract, accounting for 107 prey items in total. There was no ontogenetic variation in the diet of I. cenchoa, and the predominant direction of prey ingestion was antero-posterior (71.96%). Larger snakes tended to feed on larger prey, although these did not exclude small prey from their diet.
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We obtained data on time of sexual maturity, dimorphism, fecundity and on the reproductive cycle of Mastigodryas boddaerti (Sentzen, 1796) through the examination of 321 preserved specimens, of which 221 were collected in the Brazilian Amazon region and 100 in the Cerrado savannas of Central Brazil. The degree of sexual size dimorphism (snout-vent length, SVL) was significantly greater in the specimens from the Cerrado in comparison with those from the Amazon. Females had a significantly larger number of ventral scales, on average, whereas males had more sub-caudal scales. However, there was no intersexual difference in tail length or head width, although the heads of the males were significantly longer, which may reflect dietary differences. Breeding females from the Amazon region contained between one and six eggs (N = 12, mean = 3.0), whereas two females from the Cerrado had four to six eggs (N = 10, mean = 5.0). No relationship was found between the SVL of the Amazonian females and the number of eggs or vitellogenic follicles they contained (Cerrado females were not analyzed here due to small sample size). Males are smaller than their female counterpart when they reach sexual maturity. Even though females from the Amazon reproduce throughout the year, females from the Cerrado breed seasonality.
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Relative clutch mass (RCM) is an important life-history characteristic in lizards. Differential survivorship of females carrying clutches of eggs should partially determine RCM, and foraging mode and predator escape tactics play important roles in selection for a given RCM. RCM may vary within a population due to variation in resource availability or among populations of a species due to resource availability or geographic variation in escape tactics. Within species that forage widely, RCM is relatively low. RCM tends to be relatively high in species using the sit-and-wait foraging tactic. RCM variation in the latter group correlates with the manner in which crypsis is manifested. Where a streamlined morphology is advantageous (thin branch mimics or fossorial species), RCM may be low. Where crypsis does not involve a streamlined morphology, RCM tends to be high. Energetic costs associated with changes in RCM and variation in predation rates were estimated with a model of the daily net energy-intake of a lizard. Increasing RCM and/or predation intensity on gravid females reduces daily net energy-intake of wide foragers, but has little effect on species which are sit-and-wait foragers. -Authors