Resumo: Estudos a respeito do futuro e das necessidades de adaptação das organizações vêm se tornando mais recorrentes devido ao ambiente cada vez mais incerto, volátil e ambíguo que se impõe atualmente. O foresight se assemelha a uma série de outros termos utilizados na literatura fazendo referência à questão de monitoramento do ambiente buscando antecipação a eventos futuros visando prevenir ameaças e aproveitar oportunidades. Este artigo objetiva diferenciar práticas individual e organizacional do foresight, suas etapas e objetivos, buscando explorar como ocorrem no contexto brasileiro. Para tal, foi realizada uma revisão de literatura seguida de uma survey. Os resultados demonstram que a maioria dos respondentes pratica atividades relativas ao foresight individual, especialmente em nível hierárquico mais elevado. Também é possível observar variações entre as atividades realizadas, e impressões diversas dos respondentes acerca dos resultados efetivos do foresight. Palavras-chave: Foresight. Foresight Individual. Foresight Organizacional. Introdução Apesar das diferentes "roupagens" que vêm adquirindo ao longo dos anos (PORTER et al., 2004; KUOSA, 2011), os conceitos de foresight já são recorrentes na literatura acadêmica relacionada à estratégia organizacional, com crescente interesse de pesquisa (IDEN et al., 2017). Trata-se de uma prática que teve sua importância elevada à medida que o ambiente externo das organizações passava por transformações que causaram impactos diretos nos resultados das empresas (CHOUDHURY e SAMPLER, 1997). Em dado momento suscitou-se a importância das organizações trabalharem de forma proativa, buscando antecipar-se às oportunidades e ameaças provenientes do ambiente organizacional (BURT e WRIGHT, 2006). A esse olhar para o ambiente externo, atenção e coleta de informações, com sistematização de processos para antecipação das organizações ao futuro, deu-se o nome de monitoramento do ambiente. Com o passar dos anos, diferentes métodos para operacionalização do monitoramento foram propostos e diferentes nomenclaturas-inteligência estratégica (TARAPANOFF, 2002; LESCA, 2003), planejamento de cenários (SCHOEMAKER, 1995), forecast (COATES, 1999), gestão de sinais fracos (ANSOFF, 1975), sistemas de detecção precoce (SCHWARTZ, 2005), foresight tecnológico (BORCH e RASMUSSEN, 2002)-foram atribuídas às práticas que, de forma geral, buscam identificar, coletar, organizar, interpretar e, idealmente, usar as informações coletadas com a finalidade de aumentar a vantagem competitiva, o alinhamento estratégico, a aprendizagem e a inovação organizacional. Sardar (2010) discute essas nomenclaturas, incluindo ainda elementos como futurologia, futurismo e estudos do futuro. Para Sarpong, Eyres e Batsakis, (2019), não há consenso sobre o que os autores chamam "dimensionalidade do locus" em atribuir a fonte ou o nível de previsão na prática. Algumas explicações dão prioridade ontológica às ações individuais de empreendedores e líderes. Esses estudos ofereceram insights sobre como o foresight, sendo uma característica elementar da 'mente de negócios competente' (TSOUKAS e SHEPHERD, 2004), capacita executivos a transgredir fronteiras estabelecidas para aproveitar oportunidades negligenciadas por seus pares (CHIA, 2008). Por outro lado, um número crescente de estudiosos argumenta que o foresight é um processo coletivo de construção de sentido e, portanto, deve ser teorizado como uma capacidade distribuída (LESCA, 2003, SCHOEMAKER; DAY, 2006; ERIKSSON e WEBER, 2008; BOOTZ, 2010; DARKOW, 2015). Estudos também mostram que ações de indivíduos e grupos (TAPINOS e PYPER, 2018) têm potencial para induzir (ou impedir) o foresight (CUNHA et al. 2006; SARPONG e MACLEAN, 2014). Essa multiplicidade de conceitos abriu espaço para que diferentes abordagens fossem atribuídas a essas práticas, dificultando o enquadramento teórico da temática (ROHRBECK,