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Bubalinocultura no Brasil e no Mundo. Perspectivas frente ao agronegócio

Authors:
  • Sitio Paineiras da Ingaí
Otavio Bernardes - Bubalinocultura no Brasil e no Mundo Perspectivas frente ao agronegócio.
1 I Simpósio de Ruminantes Unesp Registro 02/09/2010
Bubalinocultura no Brasil e no Mundo.
Perspectivas frente ao agronegócio1
Otavio Bernardes
Bubalinocultor, Presidente da Federação Americana de Criadores de Búfalos
Correspondência:otavio@ingai.com.br
Introdução e disseminação na América
Os búfalos foram introduzidos no continente americano através da Guiana Francesa e da ilha
de Trinidad Tobago ao final do século XIX, originários da Ásia. A partir da Guiana, sudeste asiático e
Índia, principalmente, foram posteriormente introduzidos na região norte do Brasil, usualmente em
pequenos lotes de animais destinados à tração ou que também eram consumidos pelas tripulações dos
navios que aqui aportavam. Despertaram inicialmente interesse muito mais pelo seu exotismo que por
suas qualidades zootécnicas.
Posteriormente, com Foram inicialmente
Sua grande adaptabilidade aos mais variados ambientes, sua elevada fertilidade e
longevidade produtiva, porém, permitiram que o rebanho experimentasse uma evolução significativa
e, dos pouco mais de 200 animais introduzidos no país, resultaram num rebanho de 495 mil búfalos
em 1980, com um crescimento anual médio de 10,86% entre 1961 e 1980, destacando-se que, no
mesmo período, o rebanho bovino cresceu a taxas de 3,8% ao ano.
O maior conhecimento de suas potencialidades e características produtivas associada a
diversas ações promocionais, notadamente a partir da década de 80, motivou acentuada expansão e
disseminação da espécie para diversas regiões, inicialmente com o objetivo de ocupar os chamados
“vazios pecuários”, regiões em que, por suas características naturais, a pecuária bovina não se
desenvolvia bem e, posteriormente, com o avanço de explorações com características mais
profissionais observou-se sua introdução mesmo em regiões de maior tradição pecuária bovina, onde
passaram a ser explorados tanto para corte quanto para produção leiteira. O crescimento acumulado do
rebanho entre 1961 e 2005, foi de surpreendentes 1.806 %, sem paralelo com a evolução de outras
espécies de interesse econômico exploradas no país, destacando-se ainda que, no Mundo, segundo a
FAO, o rebanho bubalino cresceu nos períodos de 1961-1980 e 1980-2005, respectivamente 38% e
43% e o bovino, 29% e 11%.
Do ponto de vista qualitativo destacaram-se algumas importações de animais de
comprovada produtividade leiteira originários da Itália, usualmente por migrantes que buscavam
produzir os derivados lácteos fabricados em seu país de origem.
A última importação da Índia ocorreu em 1962 (posteriormente proibida por questões de
ordem sanitária), tendo então sido introduzidos pequena quantidade de exemplares das raças Murrah e
Jafarabadi, que se revestiram de grande importância na bubalinocultura brasileira posto serem os
primeiros oficialmente reconhecidos como “puros” destas raças e se constituíram na base para os
cruzamentos por absorção a partir daí realizados. Da Itália, ocorreu ainda uma última importação em
1989, envolvendo 8 animais, registrando-se, ainda, ao final do século XX ingresso de sêmen bubalino
de origem italiana e búlgara.
Particularidades do sistema estatístico oficial do Brasil onde, em muitas situações, o registro
de bubalinos se confunde com o de bovinos, resultam que a dimensão real do rebanho bubalino parece
subestimada e assim, apesar de estimado pelo IBGE como sendo de 1,2 milhões de cabeças, estima a
ABCB, por levantamentos indiretos e avaliações de abate/ desfrute, que o rebanho bubalino brasileiro
atinge hoje cerca de 3,5 milhões de animais e apresenta um crescimento anual de pelo menos 3 a 3,5%.
O búfalo vem sendo criado usualmente em pequenas e médias propriedades e, grandes
rebanhos são encontrados principalmente em sua região Norte onde se concentram 62% do rebanho
brasileiro, estimando-se que cerca de 25.000 estabelecimentos se dediquem atualmente à sua
exploração.
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No Brasil, a exploração de búfalos destina-se fundamentalmente à produção de carne,
porém, a partir dos anos 80/90, verificou-se um interesse crescente em sua exploração leiteira ou com
duplo propósito (carne e leite).
Exploração para corte
Usualmente as explorações são feitas sob sistemas extensivos tendo como base alimentar
pastagens nativas ou cultivadas, na maioria das vezes sem o concurso de alimentos concentrados,
sendo pouco comum até mesmo a suplementação de volumosos nos períodos de pior oferta alimentar.
Nestas condições, a velocidade de desenvolvimento dos animais costuma acompanhar a
oferta alimentar e a sazonalidade reprodutiva da espécie, que é mais acentuada na região centro-sul
(mais distante da linha do Equador). Neste particular, os búfalos em relação aos bovinos apresentam
usualmente um melhor desempenho posto que os partos costumam ocorrer normalmente no verão,
período final de maior oferta quantitativa e qualitativa das pastagens o que permite às matrizes um
parto em boas condições corporais e, conseqüentemente, um retorno ao cio de forma mais precoce,
resultando em taxas de fertilidade mais elevadas que as observadas em bovinos manejados sob
condições semelhantes, cujos partos costumam concentrar-se na primavera, após período de relativa
escassez de pastagens. É comum que se observem taxas de fertilidade superiores a 80% nos bubalinos,
não raro até mesmo acima de 90%.
O período de aleitamento das búfalas no Brasil costuma, pois, coincidir com a menor oferta de
pastagens o que, se por um lado compromete a produtividade leiteira, de outro lado, assegura ao
bezerro, que no país é criado sob aleitamento natural, uma boa velocidade de crescimento até a
desmama que, ocorrendo na primavera quando é maior a oferta de pastagens, permite que o animal
continue seu desenvolvimento de forma contínua até o início do próximo período desfavorável quanto
terá em média cerca de 12-15 meses. Mesmo neste período, costuma apresentar a pasto um ganho de
peso comparativamente melhor que o observado em bovinos face à sua reconhecidamente melhor
capacidade de conversão de alimentos de pior qualidade.
Passado este primeiro período de restrição alimentar, o retorno de pastagens em melhores
condições permite que os animais atinjam a puberdade com idades em torno de 24 meses, e que
apresentem o primeiro parto com idade média de 36 meses, de forma mais precoce que a observada
nas regiões de onde se originaram (Índia), onde a dinâmica de oferta alimentar é diversa da brasileira.
O desenvolvimento ponderal dos búfalos no Brasil depende evidentemente das condições de
manejo a que são submetidos, da raça e do fato de serem suas mães exploradas ou não para produção
leiteira. De um modo geral, observa-se que os machos atingem peso de abate (cerca de 430-480 kg)
entre os 18-24 meses nos rebanhos dedicados exclusivamente a corte, e entre 30-36 meses naqueles
sob exploração leiteira. Quando terminados em confinamento, porém, os bubalinos apresentam
performance bastante satisfatória com ganhos de peso equivalentes e até mesmo um pouco superiores
aos alcançados por zebuínos nas mesmas condições, respectivamente 1.144 g/d e 1.026
g/d.(Assumpção,1996).
Apesar de explorados em sua maioria para a produção de carne, são ainda poucas as regiões
em que a cadeia comercial do produto se encontra plenamente organizada, sendo usualmente os
bubalinos abatidos e comercializados como se bovinos fossem, o que vem sendo aceito pelo mercado
dada à semelhança do ponto de vista sensorial e de aparência da carne das duas espécies.
Se por um lado esta situação tem permitido o escoamento da carne bubalina ao mercado, de
outro, por não ter criado uma demanda específica, por promover abates pulverizados e com baixa
escala comercial e com oferta irregular durante o ano, dada sua sazonalidade produtiva, entre outros
fatores, têm resultado que a cotação alcançada pelos búfalos, em boa parte das vezes, encontra-se em
valores significativamente inferiores aos obtidos pelos bovinos, sendo que, após o abate, a carne
bubalina é comercializada ao consumidor pelos mesmos preços da bovina.
Sua carne mostra-se, como comentado, sensorialmente semelhante à carne bovina
“magra” dos zebuínos, porém, mantém-se usualmente macia e suculenta pela precocidade de seu abate
e apresenta atributos de composição que permitem sua inclusão na categoria de alimentos funcionais,
com baixos teores de gordura total e entremeada, composição de ácidos graxos de menor
aterogenicidade e trombogenicidade (Lira,2005), elevado conteúdo de ômega-3/ômega-6, maior teor
protéico e menor conteúdo calórico que carnes de outras espécies (inclusive aves, ovinos, zebuínos e
taurinos)
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Assim, apesar de possuir a carne excelente qualidade organoléptica e reconhecidas
características nutricionais, a relativa desorganização deste mercado, não tem permitido que os
criadores transformem tais características em preço e liquidez o que, em algumas regiões tem
contribuído para um ritmo menor de expansão da atividade que, em certo grau, tem sido
economicamente compensado pela melhor performance zootécnica da espécie que por sua mais
elevada fertilidade, menor taxa de reposição, maior resistência a doenças e adaptação a ambientes
adversos, melhor conversão alimentar e maior velocidade de crescimento resulta em menor custo de
produção, segundo alguns autores, em até 20%. Estima-se que a produção anual de carne bubalina no
Brasil atinja pelo menos 155.000 t resultantes de 743 mil abates (IBGE 1995/6), proporcionando aos
criadores uma receita bruta da ordem de U$ 217 milhões.
Seu couro, apesar de efetiva demanda, principalmente para exportação, é ainda pouco
explorado no Brasil, principalmente em função da grande dispersão dos abates o que encarece o
transporte e reduz a escala de processamento.
Exploração para leite
Principalmente a partir dos anos 90, observou-se uma significativa expansão de unidades
industriais dedicadas à produção de derivados de leite de búfalas que, pelo maior rendimento industrial
e produção de produtos de maior valor agregado lhes tem permitido remunerar a matéria prima a
preços cerca de duas vezes maiores que aqueles pagos ao leite bovino e, diversamente deste, de uma
forma geralmente uniforme durante o ano, estimulando de forma pronunciada a expansão de
propriedades dedicadas à sua exploração, particularmente no sudeste do país e/ou junto aos maiores
centros consumidores.
Da mesma forma que na bubalinocultura de corte, o sistema de produção predominante tem
sido a produção de leite “a pasto”. Neste caso, porém, é freqüente a suplementação de volumosos
(cana de açúcar, capineiras, silagem, etc.) nos períodos de pior oferta alimentar (outono e inverno)
que, nas búfalas, em função da sazonalidade reprodutiva, coincide com o período de maior produção
leiteira. Predomina a pratica de uma única ordenha diária, sendo pouco comum o fornecimento de
alimentos concentrados o que acaba se tornando um fator limitante à expressão do potencial produtivo
efetivo dos animais, reduzindo a produção e a duração das lactações, agravando para as indústrias a
escassez de matéria prima em determinadas épocas do ano, produzindo ainda leite com menores teores
de sólidos e, conseqüentemente, de menor rendimento industrial.
Diferenças no comportamento zootécnico, segundo o tipo de exploração, podem ser
observadas na tabela-1 abaixo onde se compara a performance de um rebanho Jafarabadi selecionado e
especializado para produção de carne com um rebanho Murrah especializado na produção leiteira,
ambos no Estado de São Paulo.
Tabela 1. Comparação de performances zootécnicas de rebanhos bubalinos explorados para corte ou para
leite.
Fonte: Assumpção e Bernardes, 2006, comunicação pessoal.
Gradativamente se vêm observando em certas bacias leiteiras uma intensificação no manejo
das búfalas leiteiras, com adoção da prática de duas ordenhas diárias, suplementação de volumosos de
melhor qualidade nos períodos de escassez das pastagens e oferta de concentrados com base no nível
produtivo dos rebanhos, que permitiram uma elevação da produtividade média de 1.460 kg/lactação
Faz. Boa Vista
Jafarabadi-Corte
Faz. Paineiras
Murrah-Leite
Taxa de Fertilidade
94%
97%
Idade ao primeiro parto
36 meses
34 meses
Mortalidade de Bezerros
3%
5-6%
Ganho de peso de machos até a desmama
1.100 g/d
450 g/d
Peso de machos aos 18 meses
490 Kg
286 Kg
Peso de fêmeas aos 18 meses
455 Kg
286 Kg
Idade ao peso de abate (cerca de 450 kg)
16-18 meses
30-32 meses
Produção média de leite por lactação
-
3.000 kg
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em sistemas de baixa intensificação para uma média de 2.431 kg em sistemas mais intensificados e de
2.955 kg em propriedades com melhor material genético (Albuquerque et al., 2004).
A introdução de melhorias de manejo aliada à intensificação do processo seletivo
implementada em alguns rebanhos tem permitido a obtenção de níveis produtivos significativamente
mais elevados, tendo Ramos (2005) com base na observação de 4.851 lactações de 865 búfalas filhas
de 145 touros diferentes verificado que a produção média por lactação evoluiu de 794 kg em 1973 para
2.066 kg em 2.003 tendo atribuído 8,5% desta evolução como decorrentes de ganho genético e 91,5%
ao ganho ambiental (manejo). A se destacar uma expressiva variabilidade produtiva leiteira na espécie,
cuja seleção é ainda incipiente, com produções variando entre 900 kg a 5.142 kg por lactação, o que
destaca seu potencial de evolução através da intensificação de processos de seleção, melhoramento
genético e de manejo.
Enquanto se observa uma certa estagnação no consumo de derivados lácteos bovinos no país
nos últimos anos, os laticínios que processam leite de búfalos apresentaram entre 2.001 e 2.005 um
crescimento médio anual no leite processado da ordem de 32,3%, segundo a ABCB. Além da
tradicional “mozzarella” outros derivados começam a ser produzidos a partir do leite de búfalos tais
como os queijos tipo minas frescal, a ricota, o doce de leite, o queijo tipo coalho, o iogurte e o
provolone, entre outros. Caracteristicamente, se tem verificado uma maior concentração de criadores
(normalmente pequenos), nas regiões em que se implantam atividades de industrialização de derivados
lácteos de búfalos.
Estima-se que a produção de leite de búfalas no Brasil seja de 92,3 milhões de litros,
produzidos por cerca de 82.000 búfalas em 2.500 rebanhos e que existam pelo menos 150 indústrias
produzindo derivados de leite de búfalas no país, que transformam anualmente 45 milhões de litros de
leite em 18,5 mil toneladas de derivados, gerando um faturamento bruto da ordem de U$ 55 milhões
aos laticínios e de cerca de U$ 17 milhões aos criadores.
A sazonalidade reprodutiva da espécie se reflete na distribuição da oferta de leite de búfalas à
indústria, verificando-se que a produção no pico da safra representa cerca do triplo da observada no
mês de janeiro daquele ano. No mercado brasileiro, a demanda por derivados é relativamente
constante durante o ano daí, alguns estabelecimentos, particularmente os que possuem rebanhos
próprios, vêm buscando desestacionalizar as parições a fim de atingir uma maior regularidade na
oferta de matéria prima durante todo o ano, através do uso de biotecnologias adequadas de reprodução.
Mercado de reprodução
O maior interesse na espécie, particularmente após a década de 80 foi acompanhado de
intenso intercâmbio de animais entre os Estados brasileiros principalmente por criadores buscando
introduzir espécimes de maior pureza racial e de características fenotípicas mais adequadas a seus
objetivos de exploração.
O domínio da tecnologia de Inseminação Artificial (principalmente com a introdução da
técnica a tempo fixo) veio permitir que se acelerasse a multiplicação de material genético oriundo de
rebanhos submetidos, ainda que em caráter privado, a controles produtivos, particularmente no que se
refere à produção leiteira. Em 2006 a ABCB - Associação Brasileira de Criadores de Búfalos, iniciou
um Programa de Melhoramento das Raças Bubalinas, em que vem controlando oficialmente o
desenvolvimento ponderal e produção leiteira de rebanhos que a ele se integram o que permitirá
efetuar uma estimativa de avaliação genética individual de características de interesse econômico e
assim identificar e permitir a multiplicação de germoplasma de animais de maior potencial no
melhoramento. Paralelamente, está sendo ainda implementado pela ABCB, com o apoio do governo
brasileiro, um Teste de Progênie de búfalos leiteiros, onde estão sendo avaliados neste primeiro ciclo
quatro reprodutores da raça Murrah com estimativas de valor genético superiores para produção
leiteira.
Importância da bubalinocultura leiteira na pequena propriedade rural
Boa parte da produção de leite bovino no Brasil vem sendo explorada por pequenos
produtores (menos de 50 litros/dia), através de explorações com baixo uso de tecnologia ou
intensificação e geralmente como atividade complementar a outras explorações agro-pecuárias. Nestas
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condições, seus rebanhos geralmente são formados por animais de baixa produtividade, com
produções médias por lactação de pouco mais de 1.000 kg, com taxas de fertilidade que sequer atinge
60%. Alterações recentes na legislação sanitária, como a coleta a granel e imposição de normas mais
rígidas de qualidade do produto, além da prática pela indústria de uma penalização na remuneração
aos produtores com menores volumes e pior qualidade da matéria prima tem, a exemplo do que ocorre
em muitos países, afastando drasticamente os pequenos produtores da atividade leiteira.
Ao mesmo tempo em que se observa este fenômeno com relação a leite bovino, verificamos
que nas regiões onde existem laticínios especializados na captação do leite de búfalas, o movimento é
no sentido inverso, ou seja, é cada vez maior número de produtores, principalmente pequenos, que
passam a se dedicar à exploração leiteira da búfala com a qual têm obtido produção individual, mesmo
com rebanhos ainda pouco selecionados, superiores às que obtinham com os bovinos, e
significativamente um maior volume global, graças à maior fertilidade da espécie, sendo remunerados
por preços mais estáveis durante o ano e duas vezes maiores que os obtidos com o leite bovino, além
de conseguir obter melhor remuneração pelos bezerros desmamados e, dada a maior longevidade
produtiva da espécie, têm menor necessidade de reposição.
Perspectivas da expansão da bubalinocultura no mundo
Com explorações econômicas antes restritas fundamentalmente ao continente asiático, norte
da África e alguns países europeus até meados do século XX, a bubalinocultura vem paulatinamente
sendo disseminada em todos os continentes.
Nos países asiáticos, principalmente no sudeste e China, animais antes destinados à tração
vêm se tornando destacados produtores de alimentos para o homem e ali se desenvolvem ambiciosos
projetos de cruzamentos entre os búfalos nativos, normalmente do tipo de pântano com raças leiteiras
mais produtivas.
Na Europa, o questionamento aos elevados subsídios à produção leiteira bovina, bem como
as quotas de produção a ela impostas encontram na demanda crescente por derivados bubalinos e na
ausência de restrições à sua produção campo fértil para a exploração bubalina que vem se expandindo
para países como Inglaterra, França, Alemanha, Dinamarca e Suíça entre outros.
Na América Latina, suas grande adaptação às explorações extensivas e em ambiente tropical
tem gerado sua expansão acelerada em países já com rebanhos implantados bem como sua introdução
em outros. Com rebanhos originários do caribe, os denominados bufalipso, usualmente de menor
produtividade que as raças indianas tem gerado grande demanda por germoplasma de animais de
maior produtividade.
A elevada cotação dos derivados lácteos tem gerado grande interesse na América do Norte
por sua expansão, hoje limitada pelas barreiras sanitárias que, com o desenvolvimento das técnicas de
TE poderão, talvez, ser contornadas.
Perspectivas da expansão da bubalinocultura no Brasil
Um dos grandes desafios que se verifica na bubalinocultura brasileira na atualidade reside
certamente na busca da implementação, da melhor organização e do estabelecimento de um maior
equilíbrio nas cadeias comerciais de seus derivados, seja de carne, ainda muito incipiente, seja no leite,
em que a distribuição da rentabilidade concentra-se hoje principalmente nos setores de distribuição em
detrimento da produção primária e de insumos.
Zootecnicamente a espécie demonstrou que tem espaço garantido como opção pecuária
relevante. No que se refere a seus produtos (carne, leite e derivados), não resta dúvidas sobre sua
excelente qualidade, propriedades sensoriais, nutricionais e mesmo funcionais. Por sua grande
adaptabilidade, mostra-se como opção econômica aos mais diversos ambientes. Por sua maior
rusticidade, tem mostrado respostas satisfatórias consumindo alimentos não concorrentes com o de
outras espécies e resíduos agro-industriais que, potencialmente, causariam danos ambientais
relevantes. Sua capacidade de transformar gramíneas em derivados de alto valor agregado e dejetos de
alto valor os coloca como importante elo em sistemas naturais de produção, bem como uma opção
interessante para a ocupação das áreas rejeitadas pela agricultura de exportação que vêm ocupando
cada vez mais os terrenos mais férteis. Sua exploração em pequenas propriedades onde geram ganhos
substanciais aos pequenos produtores tem-se mostrado relevante instrumento de progresso social.
Otavio Bernardes - Bubalinocultura no Brasil e no Mundo Perspectivas frente ao agronegócio.
1 I Simpósio de Ruminantes Unesp Registro 02/09/2010
Fomentar sua exploração é, portanto, não só mais uma boa alternativa mas uma escolha necessária em
ambientes tropicais.
Importante se destacar, ainda, que o Brasil se encontra em posição bastante privilegiada com
relação à bubalinocultura posto que detém o maior rebanho da espécie do Ocidente, dispõe de
exemplares com produtividade leiteira comparável aos melhores espécimes e, no segmento de corte, a
exemplo dos zebuínos, já dispõe de animais com performances bem mais expressivas que as existentes
nos países de origem onde a atividade é relativamente pouco explorada.
Referências consultadas
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Assumpção JC. Fazenda Boa Vista. Disponível em <http://www.uolsites.com.br/ jafarabadidabv> Acesso em
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Albuquerque SAA, Bernardes O, Rossato C. Avaliação da produção leiteira de búfalas na região sudoeste de
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Memórias ... Medellín: [s.n.], 2006. p.14-19.
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1995/96 do IBGE/FGV. Brasília: CNA, 2004. p.153.
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Composição centesimal, valor calórico, teor de colesterol e perfil de ácidos graxos da carne de búfalo (Bubalis
bubalis) da cidade de São Luiz do Quitunde-AL. Rev Inst Adolfo Lutz, v.64, p.31-8, 2005.
Ramos AA, Wechsler FS, Gonçalves HC. Phenotipic, genetic and environmental trends of milk yield from
brazilian buffalo cows. In: World Buffalo Congress, 7th, 2005, Manilla, Phillipines: Abstracts proceedings
Manilla: WBC, 2005. p.175-177.
... Farms are usually run under extensive systems based on native or cultivated pastures, most of the time without the use of concentrated feed, and it is even uncommon for them to be supplemented with roughage during periods of poorer food supply (Bernardes, 2010). ...
... In this particular case, buffaloes usually perform better than cattle, since calving usually takes place in the summer, the final period of the greatest quantitative and qualitative supply of pasture, which allows the dams to give birth in good body condition and, consequently, return to heat earlier, resulting in higher fertility rates than those observed in cattle managed under similar conditions, whose calving is usually concentrated in the spring, after a period of relative scarcity of pasture. It is common to see fertility rates of over 80% in buffalo, often even over 90% (Bernardes, 2010). ...
... Also according to Bernardes (2010), the lactation period for buffaloes in Brazil usually coincides with the lowest supply of pasture which, while on the one hand compromises milk productivity, on the other hand ensures that the calf, which is raised in the country under natural suckling, has a good growth rate until weaning which, occurring in the spring when there is a greater supply of pasture, allows the animal to continue its development continuously until the start of the next unfavorable period when it will be around 12-15 months old on average. Even during this period, they usually show comparatively better weight gain at pasture than cattle, due to their admittedly better ability to convert poorer quality food. ...
Chapter
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This review explores the productive and qualitative aspects of buffalo meat, focusing on production systems, weight development, and the physicochemical properties of the meat. Buffalo farming in Brazil is predominantly extensive, utilizing native or cultivated pastures with minimal supplementation. Compared to cattle, buffaloes exhibit higher fertility rates, better weight gain on lower-quality pastures, and earlier puberty. The review also highlights the physicochemical quality of buffalo meat, emphasizing its superior water retention capacity, lower saturated fatty acid content, and unique sensory properties such as tenderness and flavor. Despite challenges in commercialization, buffalo meat is increasingly recognized as a nutritious and sustainable alternative to beef. This study explores opportunities for improving buffalo meat production and expanding its market.
Article
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The objective of this study was to evaluate seminal plasma proteins from cattle and buffalo (Bubalus bubalis), to identify differences between related species. Sixteen buffaloes and 16 cattle between 30 and 60 months of age were used. Semen collection was performed by electroejaculation, followed by macroscopic and microscopic subjective analyses. After analysis, the samples were centrifuged at 800 g for 10 min and the supernatant (seminal plasma) was recentrifuged at 10,000 g for 30 min at 4°C. The total protein concentration was determined by the Bradford method, and the proteins were digested in solution for mass spectrometry (nLC‐MS/MS). Multivariate statistical analysis was used to evaluate the proteomics results by non‐hierarchical clustering the considering exponentially modified protein abundance index (emPAI). Principal component analysis (PCA) and partial least squares discriminant analysis (PLS‐DA) were used for clustering. Proteomics identified 78 proteins, and multivariate analysis showed 4 that were over‐expressed in buffaloes (cystatin‐C, prosaposin, peptide YY and keratin type II cytoskeletal 5) and 9 in cattle (spermadhesin‐1, seminal plasma protein PDC‐109, ribonuclease 4, metalloproteinase inhibitor 2, acrosin inhibitor 1, seminal ribonuclease, C‐type natriuretic peptide, angiogenin‐1 and osteopontin). Among the proteins identified in seminal plasma, the C‐type natriuretic peptide and metalloproteinase inhibitors were described for the first time in buffaloes. Some protease inhibitors were found over‐expressed in buffaloes, and important proteins in seminal plasma of cattle were not identified or were found at lower expression levels in buffaloes, which can contribute to reproductive performance in this species.
Article
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O búfalo (Bubalis bubalis) é um animal que apresenta notável potencial para a produção de carne e leite, entretanto a literatura não apresenta muitos dados sobre os principais constituintes químicos de seus produtos. Por isso, este estudo teve como objetivo oferecer informações sobre a carne de búfalo da cidade de São Luiz do Quitunde-AL, por meio de caracterização de seu perfil de ácidos graxos, teor de colesterol, composição centesimal e valor calórico. Analisaram-se 60 amostras em três tipos de corte: alcatra (20 amostras), chã de dentro (20 amostras) e lombo paulista (20 amostras). Os resultados demonstraram elevados teores de umidade e proteínas e reduzidos valores de lipídeos, quando comparados com os de outras espécies. O maior valor calórico foi encontrado em alcatra. Os teores de colesterol corresponderam a 83,01 mg/100g (alcatra), 79,01 mg/100g (lombo paulista) e 86,70 mg/100g (chã de dentro). No perfil de ácidos graxos foram identificados vinte e dois, sendo os principais em todos os cortes os seguintes: C18:1, C18:0, C16:0, C18:2 e C20:4. O ácido esteárico (C18:0), apesar de saturado, é não aterogênico e correspondeu à metade do total dos ácidos graxos saturados em todas as amostras. A relação poliinsaturados/saturados foi 0,50 (alcatra), 0,54 (lombo paulista) e 0,60 (chã de dentro). A razão ω6/ω3 foi 2,1:1 (alcatra), 2:1 (lombo paulista) e 2,3:1 (chã de dentro). Considerando-se os dados obtidos a carne de búfalo apresenta-se como opção de um alimento saudável, quando comparada com outros tipos de carne.
Avaliação da produção leiteira de búfalas na região sudoeste de São Paulo
  • Saa Albuquerque
  • O Bernardes
  • C Rossato
Albuquerque SAA, Bernardes O, Rossato C. Avaliação da produção leiteira de búfalas na região sudoeste de São Paulo. Bol Búfalo ABCB, n.1, p.38, 2004. Bernardes 0. O búfalo no Brasil. In: Encontro de Búfalos das Américas, 4, 2006, Medellín, Colômbia. Memórias... Medellín: [s.n.], 2006. p.14-19.
Phenotipic, genetic and environmental trends of milk yield from brazilian buffalo cows
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  • Hc Gonçalves
Ramos AA, Wechsler FS, Gonçalves HC. Phenotipic, genetic and environmental trends of milk yield from brazilian buffalo cows. In: World Buffalo Congress, 7 th, 2005, Manilla, Phillipines: Abstracts proceedings … Manilla: WBC, 2005. p.175-177.
Phenotipic, genetic and environmental trends of milk yield from brazilian buffalo cows
  • A A Ramos
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