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Número 65 Dezembro 2012 ISSN 1808-0413
Sociedade Brasileira
de
Mastozoologia
Abrawayaomys ruschii. Foto de Maria Olímpia Garcia Lopes.
Boletim da Sociedade Brasileira de Mastozoologia
ISSN 1808-0413
Editores:
Rui Cerqueira, Erika Hingst-Zaher, Marcelo Weksler
Conselho Editorial
Alexandra M. R. Bezerra, Alexandre R. Percequillo,
Marcelo Weksler, Rui Cerqueira, Erika Hingst-Zaher
Colaboraram neste número:
Cibele R. Bonvicino
Ana Lazar Gomes e Souza
Diagramação e Arte Final:
Lia Ribeiro
Gráfica e Expedição:
Diretoria da SBMz
Sociedade Brasileira de Mastozoologia
Presidente: Cibele Rodrigues Bonvicino. Vice-Presidente: Alexan dre Reis Percequ illo.
1º Secretário: Marcelo Weksler. 2º Secretário: Ana Lazar Gomes e Souza.
1º Tesoureiro: José Luis Passo Cordeiro. 2º Tesoureiro: Diogo Loretto.
Presidentes da Sociedade Brasileira de Mastozoologia
Rui Cerqueira (1985-1991). Dalva Mello (1991-1994). Ives Sbalqueiro (1994-1998).
Thales R.O. Freitas(1998-2005). João A. Oliveira (2005-2008). Paulo S. D’Andrea (2008-2012)
Home page: http://www.sbmz.org
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da SBMz.
Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação do Museu de Zoologia da USP
Sociedade Brasileira de Mastozoologia
Boletim n.65 - 2012
Rio de Janeiro, RJ
7 ilustrações
ISSN 1808-0413
Continuação de: Boletim Informativo. SBMz. n. 28-39; 1994-2004;
e Boletim Informativo. Sociedade Brasileira de Mastozoologia. n.1-27; 1985-1994.
1. Mamíferos. 2. Vertebrados. I. Título
Depósito Legal na Biblioteca Nacional, conforme Decreto n°1825, de 20 de dezembro de 1907
19 Boletim da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, n° 65, Dezembro 2012
Coleções Científicas de Mamíferos. I – Brasil
Alexandra M. R. Bezerra
Departamento de Zoologia, Universidade de Brasília, DF, Brasil. Ende reç o atu al: Labo rat ório de B iol ogi a e Parasi tol ogia
de Mamíferos Silvestres Reservatórios, Fundação Oswaldo Cruz- IOC, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
As coleções biológicas são, em princípio,
instituições reconhecidas por órgãos
competentes que abrigam espécimes (ou partes
de espécimes) representativos da fauna e/ou da
flora em um âmbito pré-definido pela instituição
que os abrigam. Embora hoje a constituição de
uma coleção científica no Brasil deva seguir
regras estabelecidas em legislação pertinente1,
muitas importantes séries existentes em grandes
coleções científicas oficiais são compostas por
material oriundo de coleções privadas.
Os espécimes contidos nessas coleções
científicas são valiosos por serem testemunhos
únicos de parte das riquezas naturais de um país,
por serem representantes de um momento da
evolução (as espécies não são fixas no tempo)
ou, indiretamente, de parte da história da
humanidade (e.g., alguns espécimes depositados
no Museu de História Natural de Londres foram
coletados por Charles Darwin nas ilhas
Galápagos e em outros locais ao redor do mundo
e fundamentaram suas obras sobre a evolução
das espécies), e por fornecerem informações
biológicas únicas, como o DNA, dados de
parasitas, dieta e reprodução, morfologia, dentre
vários outros aspectos2,3.
Os dados armazenados nessas coleções
podem ser utilizados em pesquisas por
universidades, pelo Governo e por organizações
não-governamentais com o intuito de
desenvolver programas de conservação de
habitats e espécies4. Além disso, esses espécimes
fomentam estudos acadêmicos de taxonomia,
sistemática, evolução, biogeografia, biologia
molecular, dentre outros.
O presente trabalho tem como objetivo
abordar o tema ‘coleções científicas biológicas’,
com ênfase no grupo dos mamíferos recentes,
fornecendo uma apresentação de como são
preparados os espécimes antes de serem
depositados nas coleções, como se dá a
organização desse tipo coleção, e como funciona
sua administração interna básica em termos de
infraestrutura e recursos humanos. Também
serão apresentadas algumas das principais
instituições voltadas à preservação de espécimes
de mamíferos recentes existentes no Brasil,
Europa, Estados Unidos da América e América
do Sul, nesta sequência. Como as coleções de
cada um desses continentes, a do Brasil possui
suas próprias características em termos de
formação dos acervos e de abrangência
taxonômica e regional. Uma série de artigos
intitulada “Coleções Científicas de Mamíferos”
é prevista para ser publicada no presente
boletim, em números consecutivos, visando a
organização lógica de informações e de espaço
para publicação. Vale ressaltar que as listas das
instituições apresentadas não serão exaustivas,
mas focará naquelas mais importantes pelo
número de tipos nominais e de espécies e
espécimes representantes da fauna de mamíferos
recentes do Brasil.
Métodos de preservação
Os espécimes de mamíferos depositados
em coleções zoológicas podem ser preparados
para serem preservados em via úmida (em
soluções) ou por via seca através da taxidermia,
que nada mais é do que dar forma à pele do
animal depois de morto (do latim taxis =
ordenamento, dar forma + dermis= pele).
A taxidermia, popularmente conhecida
como empalhamento, é o método mais utilizado
na preservação de mamíferos, pois possibilita o
exame mais acurado de padrões de coloração
da pelagem bem como o estudo da morfologia
Boletim da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, n° 65, Dezembro 2012 20
do crânio e dos dentes dos espécimes, caracteres
esses que não podem ser examinados com nitidez
com o espécime inteiro e imerso em meio
líquido. A pele taxidermizada pode ser preparada
aberta ou fechada5, e a escolha por um destes
dois métodos geralmente é decidida pelo
tamanho do espécime; geralmente a preparação
como pele fechada se dá em espécies até o
tamanho de um cachorro-do-mato (Cerdocyon
thous). O preenchimento da pele preparada
fechada utiliza materiais como algodão, palha e
serragem (que dão forma) e o arame (que dá
sustentação), ou moldes pré-fabricados 5,6. Em
coleções científicas costuma-se também
preparar o esqueleto e crânio dos espécimes, que
são limpos preferencialmente em colônias de
besouros carnívoros conhecidos como
dermestídeos (Dermestes spp.)7. Os esqueletos
podem ser guardados desarticulados, ocupando
pouco espaço, sendo este o método de
preferência em coleções científicas, ou podem
ser montados, método utilizado principalmente
para exposições didáticas.
A preservação pela taxidermia pode ser
de dois tipos principais: aquela voltada para
exposição e a científica. O primeiro tipo é
direcionado principalmente ao público leigo,
sendo os animais (pele ou esqueleto) montados
de maneira semelhante à forma quando em vida.
Na taxidermia científica, as peles dos espécimes
são preenchidas com algodão e arame revestido
de algodão (nos membros e na cauda) e
montadas em uma posição padrão, com os
membros anteriores estendidos para frente e os
membros posteriores para trás, e a parte ventral
das patas dianteiras e traseiras voltadas para a
parte ventral do corpo. Para aqueles animais que
possuem cauda, esta geralmente fica orientada
paralelamente às pernas. Os animais de grande
porte geralmente têm a pele preparada aberta.
A preservação pela via úmida pode ser
em três principais tipos de soluções: 1) etanol
70-80% - para organismos inteiros ou partes, 2)
glicerina 100% - para material diafanizado,
geralmente para estudo de séries ontogenéticas,
osteologia, morfologia do báculo, entre outros,
e 3) formalina (10 % de formaldeído e 90% de
água)- muito comum para manter as vísceras.
Quanto à formalina, o aconselhado é que esta
seja utilizada apenas na fixação, pois o aldeído
fórmico, que é um gás, em longo prazo causa
desidratação dos tecidos e enfraquecimento dos
ossos pela perda de Cálcio8. O uso da formalina
é primordial para a fixação do espécime,
paralisando todos os processos de metabolismo
celular e autólise8, porém não é um substituto
ao etanol 70-80%, que por não ser ácido e não
conter impurezas é o melhor método de
conservação dessas amostras fixadas9. A
preservação de tecidos por via úmida visando
estudos moleculares é aconselhada através da
completa imersão da amostra em etanol 100%,
sem a pré-fixação em formalina.
Todo este material preparado deve ser
armazenado em armários apropriados,
priorizando a separação entre aqueles
preparados para via úmida e os taxidermizados,
tendo-se o cuidado de deixá-los protegidos da
luz e da poeira. Os espécimes preservados em
via úmida são guardados em frascos de vidro
vedados filme PVC na boca do frasco e por cima
da tampa. Também são condicionantes para boa
conservação dos espécimes manter a
climatização estável (com temperatura e
umidade baixas), o nível da solução de
preservativo da coleção em meio líquido, e a
fumigação rotineira (evitando o ataque por
fungos e insetos) para os espécimes
taxidermizados. No caso de espécimes
preparados exclusivamente para exposição,
muitos museus utilizam luzes especiais e/ou os
espécimes são exibidos dentro de uma vitrine.
Tipos de coleções de história natural
Existem dois tipos principais de coleções
de história natural, a didática e a científica. As
coleções didáticas são voltadas para o
aprendizado ou para o público leigo e devem,
sempre que possível, ser constituídas por
espécimes provenientes de grandes séries
amostrais. Espécimes de coleções são cadáveres
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e os processos de preservação por via úmida e
taxidermia nada mais são do que tentativas de
retardar a decomposição desse material (veja, por
exemplo, as múmias do Egito, que são cercadas
de todos os cuidados quando são descobertas e
são manuseadas o mínimo possível). Orientações
pormenorizadas sobre como manusear os
espécimes de coleções científicas podem ser
encontradas no Boletim da SBMz 10.
As coleções científicas são de acesso
restrito a especialistas devidamente autorizados
pelos curadores, e têm como principal objetivo
representar a biota em termos taxonômico,
geográfico e numérico. A representatividade
taxonômica de uma coleção se traduz em
abranger o máximo de espécies em âmbito
regional, nacional, continental ou mundial,
variando de acordo com o perfil da instituição
que está abrigando a coleção, enquanto a
amplitude geográfica visa ter representantes do
máximo de localidades possíveis para as quais
cada espécie possa ocorrer, nos mesmos
parâmetros do item anterior. Nesse sentido, essas
coleções devem ter boa representatividade
numérica, ou seja, obter um número mínimo de
indivíduos por espécie e localidade que permita
um estudo de variação intrapopulacional
(espécimes de uma determinada área geográfica)
ou geográfica (entre várias populações). O ‘fator
numérico’ é muito importante, e polêmico
dentre alguns que não compreendem essa
importância por ignorância ou questões éticas
pessoais, mas é o que permite acessar a
variabilidade fenotípica e genética de uma
espécie para compreender a variação da
população, minimizando erros de identificação
e de cálculo de parâmetros estatísticos.
Essas coleções não necessariamente
precisam ser depositadas em museus , mas estas
são as instituições que melhor podem garantir a
preservação das coleções por terem isto como
um dos seus mais importantes objetivos. A
administração ideal de uma coleção científica
deve contar com pelo menos três profissionais11:
1) Curador: pesquisador que gerencia a
coleção, tendo como algumas funções a
identificação e preenchimento de lacunas da
representatividade da coleção através de coletas,
permutas e captação de espécimes, identificação
de espécies, decisão sobre a sua organização,
empréstimos, permutas e consultas;
2) Assistente de Curadoria: profissional
preferencialmente de nível superior que também
faz pesquisa, zela pela correta curadoria, tomba
espécies a serem incorporados e presta
assistência aos visitantes autorizados, dentre
outras importantes atividades; e
3) Técnico em Acervo, subordinado ao
curador e assistente de curadoria, e é aquele que
efetua as atividades básicas da coleção, como
preparação dos espécimes, verificação do
percentual alcoólico da coleção em meio líquido,
limpeza do material mofado.
Catalogação dos espécimes
Todos os espécimes de coleções devem
receber um número de catálogo (também
conhecido como número de tombo), que é único
e sequencial para cada exemplar e vem
acompanhado por uma sigla definida pela
instituição que abrigará o acervo tombado. Este
processo tem como objetivo tornar um objeto
ou espécime patrimônio público, ou privado no
caso de coleções particulares O número de
catálogo serve para identificar o material dentro
da coleção, bem como identificar a instituição
em que este material está sendo preservado. No
caso dos mamíferos, este número é escrito, com
tinta indelével, em uma etiqueta de papel
especial, que é amarrada ao espécime,
geralmente em uma das pernas, e no crânio e
esqueleto quando presentes; quando essas
estruturas ósseas são pequenas e delicadas,
aconselha-se que se escreva o número de tombo
diretamente sobre os ossos.
O número de tombo é diferente do
número de campo ou coleta do animal, que pode
ser qualquer número sequencial definido pelo
coletor, sempre único para cada espécime
coletado, e que seja relacionado aos dados
obtidos em campo. A etiqueta com número de
Boletim da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, n° 65, Dezembro 2012 22
campo, ou de coleta, é de suma importância e
não deve ser descartada. Os dados de campo
são a base primordial de informação sobre os
espécimes. No momento da coleta devem-se
anotar todos os dados possíveis, como peso e
medidas corpóreas, dados reprodutivos, sexo,
sendo a procedência do espécime o principal e
imprescindível. Outros dados que não devem
ser esquecidos são: data de coleta para associar
expedições e/ou saber se a espécie é sazonal
(algumas características morfológicas,
fisiológicas ou comportamental que varie ao
longo do ano); e o nome do coletor que permite
associação com a região de estudo, pois muitos
pesquisadores trabalham em uma determinada
região ou bioma, como, por exemplo, a
Amazônia ou o Cerrado, e com a instituição de
origem do mesmo, onde pode se obter mais
informações sobre os espécimes e localidade em
que foram amostrados.
Principais coleções de história natural,
com ênfase na mastofauna, no Brasil
Várias universidades e instituições de
pesquisa no Brasil abrigam coleções por vezes
pouco conhecidas, algumas delas encontram-se
relacionadas no site do projeto ‘SpeciesLink’12,
que promove a divulgação de dados primários
de algumas coleções científicas, como, a título
de exemplo pela importância e tamanho dos
acervos, as coleções de mamíferos da
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES-
MAM), com 2.356 espécimes, e do Museu de
Zoologia “Prof. Adão José Cardoso” (ZUEC-
MAM) da Universidade de Campinas, com
2.542 espécimes.
Abaixo segue a relação, com um pequeno
histórico, das principais coleções científicas de
mamíferos recentes do Brasil. Nessa lista, que
não é exaustiva, estão incluídas as principais
coleções em termos de antiguidade, abrangência
geográfica, número de espécimes e de tipos
nominais.
1) Museu Nacional – Universidade
Federal do Rio de Janeiro (MN) 13, Rio de Janeiro,
RJ: o maior e mais antigo museu de história
natural da América Latina, possuindo o oitavo
maior acervo no mundo para mamíferos. O
acervo da coleção de mamíferos é estimado em
100 mil exemplares, dos quais 109 tipos
nominais (J.A. de Oliveira com. pess., em
outubro de 2012), sendo que pouco mais de 78
mil já se encontram tombados, dos quais cerca
de 5.600 espécimes e partes se encontram
preservados em meio líquido. Este museu foi
fundado em junho de 1818, no Rio de Janeiro,
por D. João VI como Museu Real, cuja primeira
sede foi no Campo de Sant’Ana. O paço da
Quinta da Boa Vista abriga o museu desde 1892.
Em 1922, o Museu Real passou a se chamar
Museu Nacional. Foi incorporado à
Universidade do Brasil, como Instituição
Nacional em 16 de janeiro de 1946.
2) Museu de Zoologia da Universidade
de São Paulo (MZUSP) 14, São Paulo, SP: possui
cerca de 50 mil exemplares, dos quais 27 são
holótipos. Sua origem remonta ao ano de 1890,
quando o Conselheiro Francisco Mayrink doou
ao Governo do estado de São Paulo a coleção
de História Natural reunida por Joaquim
Sertório a partir de 1870. Desde 1969, o acervo,
antes pertencente ao Departamento de Zoologia
da Secretaria da Agricultura, foi transferido para
a Universidade de São Paulo com a
denominação de Museu de Zoologia. A
abrangência geográfica da coleção é nacional,
sendo a região Sudeste a mais representada (ca.
de 40% desse acervo), seguida, em ordem
decrescente, pela Amazônia, Cerrado e
Caatinga (M. de Vivo com. pess., em outubro
de 2012). As ordens mais representadas são
Didelphimorphia, Rodentia, Chiroptera e
Primates.
3) Museu Paraense Emílio Goeldi
(MPEG)15, Belém, PA: sua criação foi proposta
em 1861, através de um artigo aditivo à Lei do
Orçamento Provincial, mas somente fora criado
em 25 de março de 1871. Em 1894 o
pesquisador Emílio Goeldi, dinamizou e
implantou coleções seriadas de espécimes
animais, incluindo vertebrados e invertebrados.
23 Boletim da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, n° 65, Dezembro 2012
A primeira sede do museu foi o palácio do
governo do Estado do Pará. Hoje, o Campus
de Pesquisa abriga as coleções. O MPEG possui
cerca de 42 mil exemplares representativos
principalmente da Amazônia, sendo as ordens
mais representadas: Chiroptera, Rodentia e
Primates. A totalidade do acervo está incluída
em base de dados, que no momento se encontra
em revisão e complementação de registros. Sua
coleção abriga 10 holótipos, 38 parátipos e 2
lectótipos (dados fornecidos por S. Marques-
Aguiar, em junho de 2012).
4) Coleção Adriano Lúcio Peracchi,
localizada no Instituto de Biologia da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
possui um acervo com cerca de 17.000
espécimes de morcegos, com foco na região
Sudeste do Brasil. O acervo é basicamente
composto a partir de duas grandes coleções
organizadas pelos professores Adriano Peracchi
e Carlos E. L. Esbérard. O acervo reunido pelo
primeiro foi iniciado na década de 196016 e
possui ênfase no Sudeste do Brasil,
principalmente o Rio de Janeiro; enquanto o
segundo iniciou a composição de seu acervo em
1986, contando com 6.000 mil espécimes
provenientes principalmente do estado do Rio
de Janeiro. Paralelamente, a coleção de
morcegos da UFRRJ possui 8.000 lotes de
ectoparasitas de morcegos, muitos destes com
espécimes-testemunho dos hospedeiros (C.E.L.
Esbérard com. pess., em outubro de 2012).
5) Instituto Nacional de Pesquisas
Amazônicas (INPA)17, Manaus, AM: suas
coleções foram iniciadas a partir de 1954, logo
após sua fundação pelo então presidente Getúlio
Vargas. O acervo de mamíferos, iniciado em
1976, conta com cerca de 7.500 espécimes de
mamíferos, dos quais 6.416 são tombados (M.N.
da Silva com. pess., em abril de 2012), incluindo
11 holótipos e 31 parátipos. O INPA, o MPEG
e o MZUSP são as maiores referências para a
biodiversidade da Amazônia brasileira.
6) Coleção de Mamíferos da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
Pessoa, PB: com foco geográfico na região
Nordeste do Brasil, sendo os domínios mais
amostrados a Caatinga, Mata Atlântica e áreas
de transição entre a Caatinga e o Cerrado. Conta
com um total de 6.520 espécimes tombados, e
as ordens mais representadas são
Didelphimorphia, Chiroptera, Primates,
Rodentia e Cetacea O acervo conta ainda com
sete espécimes-tipo: um neótipo de Simia flavia
, holótipo e dois parátipos de Callicebus coimbrai,
um parátipo de Kerodon acrobata, um parátipo de
Oryzomys scotti e um parátipo de Trinomys minor
(B. Campos, R. Rosa e A. Langguth, com. pess.
em outubro de 2012).
7) Coleção de Mamíferos da
Universidade de Brasília (UnB), Departamento
de Zoologia, Brasília, DF: possui 4.665
espécimes, dos quais 1.410 Chiroptera e 3.255
pertencentes às demais ordens, sendo Rodentia
a segunda ordem mais representada (P. de
Podestà com. pess., em outubro de 2012). A
região com maior representatividade na coleção
é a Centro-Oeste e o domínio do Cerrado, mas
inclui representantes de outros estados e
domínios, como Pantanal, Mata Atlântica,
Caatinga e Amazônia. Esta coleção começou a
partir do material coletado desde o final de 1959,
durante as obras de construção de Brasília.
8) Coleção de mamíferos da
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),
Cuiabá, MT: até recentemente o acervo da
coleção de mamíferos contava com apenas 500
espécimes, sendo este acervo enormemente
aumentado após a contratação, em 2009, do
prof. Rogério V. Rossi, que atua como curador
auxiliado pelo pesquisador Cleuton Miranda.
Hoje a coleção conta com 3850 espécimes
tombados, sendo parte já disponível no
SpeciesLink’12, com projeção de incremento de
ao menos mais 200 espécies nos próximos meses
(R. Rossi e C. Miranda com. pess., em março de
2013). Esse material é oriundo principalmente
de coletas efetuadas em cumprimento às
exigências dos estudos ambientais decorrentes
de empreendimentos no estado do Mato Grosso.
O acervo possui ênfase no estado de Mato
Grosso (cerca de 90% do acervo),
Boletim da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, n° 65, Dezembro 2012 24
principalmente de localidades do bioma
Amazônia e de transição deste bioma com o
Cerrado, seguidos pelo Pantanal e localidades
próximas de Cuiabá, havendo também material
proveniente do Mato Grosso do Sul e de
Rondônia. As ordens mais representadas são
Chiroptera, Rodentia e Didelphimorphia (R.
Rossi e C. Miranda com. pess., em março de
2013).
9) Museu de Ciências Naturais da
Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul
(FZB/RS)18, RS: a coleção de mamíferos fora
iniciada em 1975 e possui um acervo de 3.782
espécimes (Lilian S. Hoffmann com. pess., em
outubro de 2012), sendo dois espécimes-tipo
de Cavia magna ximenes, e as ordens mais
representas Chiroptera e Rodentia. A
representatividade geográfica é principalmente
do estado do Rio Grande do Sul, mas com
destaque também para quirópteros provenientes
do estado do Ceará, no Nordeste.
10) Coleção de mamíferos da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
Recife, PE: Fundada em 1968, esse acervo foi
grandemente incrementado após o ingresso do
em 2006 do Prof. Diego Astúa como curador
da coleção, saltando de 1.480 exemplares para
cerca de 3.370 espécimes, dos quais mais de
2.670 estavam já tombados em maio de 201219.
Possui ênfase na região Nordeste (mais de 90%
dos espécimes), e a ordem mais representada é
a Chiroptera, compondo cerca de metade do
acervo20.
11) Museu de Biologia Professor Mello
Leitão (MBML)21, Santa Teresa, ES: fundado em
1949 pelo naturalista Augusto Ruschi, hoje
integra o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM).
Seu acervo abriga espécimes representativos
principalmente da Mata Atlântica e do estado do
Espírito Santo, inclui uma coleção de 3.563
mamíferos, dentre os quais cerca de 2.200 são
espécimes de morcegos. O acervo conta ainda
com três tipos nominais.
12) Museu de Ciências Naturais da
Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais (PUC/MG), Belo Horizonte, MG: a
coleção de mamíferos teve início em 1989, a
partir da reunião de representantes das ordens
Rodentia e Didelphimorphia, as quais compõem
a maior parte do acervo, que conta com cerca
de 3.500 espécimes, com projeção de
incremento de 8% (Claudia Costa com. pess.,
em dezembro de 2012). O acervo possui ênfase
no estado de Minas Gerais, principalmente de
localidades do bioma Cerrado, com recentes
adições de espécimes provenientes de alguns
estados das regiões Norte e Nordeste. Além
disso, o Museu de Ciência da PUC/MG abriga
uma importante coleção de mamíferos fósseis
da América do Sul22.
13) Coleção de Mamíferos da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
Belo Horizonte, MG: seu acervo fora iniciado
na década de 1970 e hoje conta com 3.158
espécimes, representativos principalmente das
regiões Sudeste (2.320 registros - sendo a
maioria espécimes de Minas Gerais), Nordeste
e Centro Oeste (Adriano Paglia com. pess., em
dezembro de 2012). A ordem mais representada
é a Rodentia (90% dos espécimes), seguida por
Didelphimorphia, Chiroptera, Cingulata,
Primates e Carnivora. O acervo conta com dois
tipos nominais.
A lista apresentada aqui é um guia de
apresentação de algumas das principais coleções
de mamíferos recentes presentes no Brasil. Um
passo inicial para um pesquisador saber onde
se encontra depositada determinada espécie (ou
espécimes) é iniciando sua pesquisa a partir da
literatura científica (artigos, teses e
dissertações), principalmente a de abordagem
taxonômica. Nesses estudos, será possível
encontrar dados ou indícios de onde estão
depositados os espécimes analisados pelos
autores. A partir dessa pesquisa inicial o
pesquisador interessado poderá entrar em
contato com os curadores e assistentes
responsáveis para saber se os espécimes
realmente se encontram depositados naquela
instituição e obter informações básicas como:
de quantos espécimes se trata; qual o tipo de
preparação desses (se são peles, crânios e
25 Boletim da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, n° 65, Dezembro 2012
esqueletos; se estão inteiros ou em partes em
meio líquido); o estado de conservação desses
(e.g., se um crânio está bem preservado ou há
apenas fragmentos deste); e obter informação
sobre o sexo e idade das amostras (dados muito
importantes para estudos de variação geográfica
e variabilidade intrapopulacional). A partir
dessas informações, o pesquisador poderá
solicitar aos curadores uma consulta à coleção
para o exame detalhado do material desejado.
Referências e Notas
1. MMA. 2007. Instrução Normativa no. 160, de 27
de abril de 2007. IBAMA/Ministério do meio Ambiente.
Diário Oficial da União no. 82, Seção 1:404-405.
2. Bezerra, A.M.R. & J.A. Oliveira. 1999. Primatas
da Coleção Líquida do Museu Nacional (UFRJ). Neotropical
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3. Bezerra, A.M.R., M. Baptista, S.M. Franco & J.A.
Oliveira. 2004. A Coleção de Mamíferos preservados em
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4. Petersen, F.T, R. Meier & M.N. Larsen. 2003.
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12. SpeciesLink. 2001. Sistema de Informação
Distribuído para Coleções Biológicas: a Integração do
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22. PUC/MG. Museu de Ciências Naturais.
http://www.pucminas.br/museu/index_padrao.php.
Acesso em dezembro de 2012.
23. Agradecimentos: Aos curadores e técnicos em
curadoria pelas atualizações dos dados de espécimes
catalogados nas respectivas coleções: Lilian S. Hoffmann
(FZB/RS), Maria Nazareth da Silva (INPA), Luisa M. S.
Soares e Helio D.B. Fernandes (MBML), João A. Oliveira
(MN/UFRJ), Suely Marques-Aguiar (MPEG), Mario de
Vivo (MZUSP), Claudia Costa (PUC/MG), Jader Marinho-
Filho e Pedro de Podestà (UnB), Carlos E. L. Esbérard
(UFRRJ), Adriano Paglia e Thías Queiroz (UFMG),
Rogério V. Rossi e Cleuton L. Miranda (UFMT), Alfredo
B. Langguth, Bruno Campos e Ricardo de Souza Rocha
(UFPB). Agradeço também ao Alexandre R. Percequillo e à
Cibele R. Bonvicino por revisar e sugerir importantes
modificações nas versões preliminares do manuscrito.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOZOOLOGIA
Número 65
Dezembro de 2012
ISSN 1808-0413
Métodos
Comparação da eficácia de três tipos de iscas como atrativos para avaliação da abundância e
riqueza de mamíferos de médio e grande porte
Andrei Mello & Emerson M. Vieira ............................................................................................. 3
Revisões
Diversidade cariotípica em roedores da tribo Phyllotini (Cricetidae: Sigmodontinae) com enfoque
nas espécies com ocorrência no Brasil
Cibele R. Bonvicino ........................................................................................................................ 11
Coleções Científicas de Mamíferos. I - Brasil
Alexandra M. R. Bezerra .............................................................................................................. 19
Faunas
Inventário de pequenos mamíferos da Central Nuclear Almirante Álvaro alberto, Angra dos Reis,
Rio de Janeiro, Brasil
João Pedro Garcia & Leila Maria Pessôa ....................................................................................... 26
Teses e Dissertações ................................................................................................................ 31
Contribuições para o Boletim da SBMz ............................................................................... 33
IMPRESSO
Remetente: Sociedade Brasileira de Mastozoologia
a/c Dra. Cibele R. Bonvicino
Lab. de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios
Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz
Av. Brasil, 4365. Pav. Arthur Neiva - Sala 14
21040-360 Rio de Janeiro, RJ, BRASIL
Destinatário: