ChapterPDF Available

Imagens do Século XIX: Fotografia Científica

Authors:
223
IMAGENS DO SÉCULO XIX:
FOTOGRAFIA CIENTÍFICA
marIa estela JardIm
1
, marílIa Peres
2
e Fernanda madalena costa
3
1. Introdução
Em 1839, no decurso do discurso que apresentou à Academia das Ciên-
cias em Paris (Fig. 1), François Arago (1786-1853), prestigiado físico fran
-
s, considerava, com grande sentido de previsão, o contributo que teriam
para as Ciências e as Artes os trabalhos de Louis Daguerre (1787-1851) e
Joseph Niépce (1765-1833) relativos à descoberta da Fotografia.
Nesse discurso
4
, Arago indicava as perspectivas de utilizão da
descoberta como um auxiliar indispensável ao cientista nas áreas da
Astronomia, Arqueologia e Espectroscopia.
Sucessivos progressos técnicos e científicos encorajaram a prática
fotográfica em diversas outras ciências. No início, a utilização da foto-
grafia no papel de auxiliar documental da Ciência é entendida, segundo
Jules Janssen (1824-1907), eminente astrónomo francês, como a
retina
do cientista
5
. A evolução da técnica fotográfica acabará por ter uma
1
Departamento de Química e Bioquímica, Faculdade de Ciências, Universidade de
Lisboa (mejardim@fc.ul.pt).
2
Centro de Ciências Moleculares e Materiais da Universidade de Lisboa (mariliaperes@
ciberprof.com).
3
Centro de Ciências Moleculares e Materiais da Universidade de Lisboa (facosta@
fc.ul.pt).
4
“(…) À l’inspection de plusieurs des tableaux qui ont passé sous vos yeux, chacun
songera à l’immense parti qu’on aurait tiré, pendant l’expédition d’Egypte. (…) les réactifs
découverts par M. Daguerre hâteront les progrès d’une des sciences qui honorent le plus
l’esprit humain. Avec leur secours, le physicien comparera les lumières par leurs effets (…),
le même tableau donnera des empreintes du soleil, des rayons des étoiles.” in ARAGO, F.
(1858),
Œuvres Complètes, tome IV – Notices, pp. 499-500. Paris, J. A. Barral.
5
“La surface photographique est la rétine du savant” in Conférences publiques sur la
photographie, théorique et technique – 1891‑1900
, p. 29. Ed. Jean Michel.
| AS IMAGENS COM QUE A CNCIA SE FAZ224
influência considerável no domínio das aplicações científicas e até indus-
triais. A fotografia, para além de representar o real, visível ou invisível,
é também incluída no protocolo experimental científico, conservando,
no entanto, a sua vertente documental, quer com o carácter arquivístico,
quer como veículo de transmissão e informação do conhecimento cien-
tífico, sendo que a sua inclusão em documentos impressos, a partir do
último quartel do século XIX, também lhe vai conferir um papel primor-
dial na divulgação científica. No século XIX, a fotografia científica é
utilizada e aperfeiçoada por cientistas profissionais e amadores, muitas
vezes em colaboração com fabricantes de instrumentos científicos e
fotográficos
6
.
Uma literatura extensa, sob a forma de artigos e de livros,
6
Alguns dos mais reputados fabricantes de instrumentos científicos, como Charles
Chevalier (1804-1859), são simultaneamente cientistas, contribuindo para o avanço técnico
da fotografia. Ver, por exemplo, CHEVALIER, C. (s. d.), Rapports sur les instruments
inventés ou construits par Charles Chevalier. Paris, Imp. Ed. Proux et Cie.
FIG. 1 Comunicação de Fraois Arago à Académie des Sciences, a 7 de Janeiro
de 1839 (Figuier, s. d.).
IMAGENS DO SÉCULO XIX: FOTOGRAFIA CIENTÍFICA | 225
sobre as aplicações científicas da fotografia nos vários ramos da Ciência,
atingiu o seu apogeu nos anos 1885-1896 (Londe, 1896; Londe, 1893
a;
Londe, 1893
b; Chevalier, s. d.; Trutat, 1884).
Até à década de 1980, a história da fotografia foi encarada, pelos
historiadores, como uma investigação da sua vertente estética, inserida
no panorama das belas-artes. Com a publicação da
Nouvelle Histoire de
la Photographie (Frizot, 2001) e da revista Etudes Photographiques
7
, sob
a égide da Sociedade Francesa de Fotografia (SFP), a investigação sobre
a fotografia científica começa a tornar-se, claramente, uma opção. Igual
-
mente, fotografias científicas passam a ser incluídas em diversas exposi-
ções e catálogos
(Thomas, 1999; Canguilhem, 2004) dedicados ao tema
o que indica a relevância deste tipo de produção fotográfica. Trabalhos
de investigação histórica, publicados nas últimas duas décadas, abordam
também esta temática
(Corcy, 1997; Berger, 1992; Fieschi, 1995).
Na sua inter-relação com a Ciência, a fotografia é muito mais que
uma mera produção de imagens científicas; é, portanto, essencial que
o estudo do seu papel no desenvolvimento da Ciência inclua conhecer
e interpretar a sua evolução através dos processos sicos e químicos
que lhe são inerentes, os processos ópticos e instrumentação associada,
bem como os processos químicos e materiais envolvidos nas diferentes
vertentes e técnicas fotográficas.
Em Portugal, para além de alguns estudos, recentemente realizados,
sobre a história da fotografia científica (já nos anos 2000 e seguintes),
não há senão pequenos apontamentos nas raras obras sobre história da
fotografia, das quais a mais importante é História da Imagem Fotográfica
em Portugal, de António Sena (1941-…)
(Sena, 1998).
Desde o início que a fotografia tem contribuído para o desenvolvimento
de todas as ciências. Optámos por apresentar os temas que no século XIX
tiveram maior relevância na Europa e, em particular, em Portugal.
2. Ciências Biogicas e Fotomicrografia
Antes da descoberta da fotografia, a câmara escura e a câmara
lúcida eram utilizadas conjuntamente com o microscópio. É, no entanto,
7
Por exemplo: TROUFLÉAU, C. (2002), La gende d’Auguste Bertsch in
Études photographiques, n.º 11; LEBART, L. (1996), “ Les archives du ciel” in Études
photographiques, n.º 1.
| AS IMAGENS COM QUE A CNCIA SE FAZ226
a associação do microscópio com a fotografia, no método fotográfico
denominado fotomicrografia, que vai determinar um notável avanço na
precisão experimental e desenvolvimento de ciências da vida, como a
Botânica, a Zoologia e a Anatomia Patológica.
As primeiras experiências, no século XIX, de fotomicrografia foram
realizadas por William Talbot (1800-1877), em 1835, com o seu micros
-
cópio solar, sendo também de salientar, entre outros, os trabalhos de
Andreas Ettingshausen (1796-1878), em 1840, utilizando a técnica do
daguerreótipo, de Auguste Bertsch (1813-1870), com o microscópio
heliográfico e do físico Alfred Donné (1801-1871), autor da obra
Cours
de Micrographie, publicada em 1844
(Thomas, 1999). Em 1868, o inves-
tigador francês Jules Girard (1834-1902), numa comunicação à SFP,
declarava: “Si le dessinateur le plus consciencieux ne peut traduire avec
une fidélité suffisante la merveilleuse organisation des infiniment petits,
la lumière est d’une rigoureuse infaillibilité.”
(Girard, 1868)
Na segunda metade do século XIX, Fernand Monpillard (1865-1937),
membro da SFP, desenvolve, com extraordinária mestria, os processos
fotomicrográficos, procurando integrá-los no protocolo experimental.
Como reputado técnico de fotografia científica, monta um atelier de foto-
micrografia em Paris, perto do Museu de História Natural, colaborando
com biologistas, mineralogistas e médicos
(Hannavy, 2008). No início do
século XX, realiza diversas experiências com emulsões ortocromáticas,
contribuindo assim para a investigação da fotografia das cores
(Cartier-
-Bresson, 2008).
Em 1899, publica um primeiro tratado de fotomicrografia, ilustrado
com fotomicrografias
(Monpillard, 1899) (Fig. 2) e, em 1900, o Atlas
d’Histologie normale,
em colaboração com Etienne Rabaud (1868-1956),
professor de anatomia da Faculdade de Medicina de Paris (Monpillard e
Rabaud, 1900). Esta publicação, que Monpillard considera um comple-
mento de tratados de histologia clássicos, contém fotografias de tecidos
e órgãos.
Ainda no campo da fotomicrografia são relevantes os trabalhos de
Louis Donnadieu (1877-1959)
8
,
professor da Faculdade de Ciências de
Lyon, relativos a operações fotográficas de dissecação de invertebrados
e fotomicrografias, como as de alevins de truta. Donnadieu utilizou um
aparelho construído por um fabricante de instrumentos científicos de
8
Este cientista estuda também os sistemas de estereoscopia que publica em L’œil et
l’objectif. Paris, Charles Mendel.
IMAGENS DO SÉCULO XIX: FOTOGRAFIA CIENTÍFICA | 227
Lyon, Jean-Baptiste Carpentier, em 1883, o Physiographe Universel, cuja
câmara fotográfica, de fole, podia atingir o comprimento de dois metros e
que, devido à sua disposição vertical, permitia fotografar as preparações
microscópicas, bem como as amostras, em meio aquoso. O aparelho foi
concebido de modo a poder ser adaptado a qualquer tipo de microscópio
(Fig. 3) (Donnadieu, 1884).
Em Portugal, a fotomicrografia foi utilizada, principalmente, na aplica-
ção da fotografia à anatomia patológica, tendo sido pioneiro neste tipo de
FIG. 2 – Fotocolografia, planche II (Espermatozóides de coelho)
(Monpillard, 1899).
| AS IMAGENS COM QUE A CNCIA SE FAZ228
FIG. 3 – Physiographe Universel (Donnadieu, 1884).
IMAGENS DO SÉCULO XIX: FOTOGRAFIA CIENTÍFICA | 229
trabalho o médico Carlos May Figueira (1829-1913), professor
da Escola
Médico-Cirúrgica de Lisboa, a quem se deve a introdução dos estudos
de microscopia em Portugal (Cortez Pimentel, 1988).
3. Processos Fotomenicos e Aplicações Cartográficas
3.1. Poitevin e os Processos Fotomecânicos
Alphonse Poitevin (1819-1882), engenheiro químico francês, desen
-
volveu, a partir de 1855, os processos fotomecânicos, em que a impres
-
são das provas fotográficas é obtida por conjugação da fotografia com
a gravura.
O objectivo de Poitevin quando se dedica, em 1851, a ensaios de pro
-
cessos fotográficos era de: rendre inaltérable l’image brillante mais fugi‑
tive tracée par la lumière
(Poitevin, 1883). Os resultados científicos dos
seus ensaios, relacionados com a impressão fotográfica, estão descritos
no livro que publicou em 1883:
Traité des impressions photographiques.
Uma das suas experiências permitiu-lhe concluir que os colóides,
como a gelatina, à qual são adicionados dicromatos alcalinos, além de
serem insolúveis à luz, podem levar tinta gorda de impressão, permitindo
a impressão fotomecânica das provas fotogficas por diferentes métodos,
como a fotolitografia e a fototipia
9
.
3.2. A Cor e os Processos Fotomenicos
Nos prirdios da fotografia, os cientistas fizeram estudos para
determinar a sensibilidade dos sais de prata às cores do espectro electro-
magnético da zona do visível. Essas experiências, feitas com a adição de
pigmentos à placa fotográfica, foram inconclusivas, uma vez que não se
obtiveram imagens estáveis experiências de John Herschel (1792-1871),
em 1842
(Herschel, 1842), e de Edmond Becquerel (1820-1891) em 1848
10
.
9
Ambos os processos fotomecânicos são do século XIX; enquanto a fotolitografia é
um processo planográfico de impressão, sobre pedra litográfica, com recurso à fotografia,
a fototipia é, igualmente, um processo planográfico, mas com impressão sobre vidro,
utilizando a gelatina bicromatada.
10
Becquerel descreve uma imagem fugidia que não consegue estabilizar: BECQUEREL,
E. (1848), “De l’image photographique colorée du spectre solaire”
in CRAS, vol. 26,
pp. 181-183.
| AS IMAGENS COM QUE A CNCIA SE FAZ230
Para demonstrar a teoria de Thomas Young (1773-1829)
11
, em 1861,
James Clerk Maxwell (1831-1879) realiza, na Royal Society, em Londres, a
experiência da ntese fotográfica das cores por projeão (Maxwell, 1857).
Em 1869, Ducos du Hauron (1837-1920) e Charles Cros (1842-1888)
apresentam, separadamente, mas em simultâneo, o seu método de tricro-
mia, processo pigmentário que utiliza a síntese subtractiva das cores. Na
célebre sessão da SFP, de 7 de Maio de 1869
12
, é lida uma comunicação
de Ducos du Hauron sobre o seu método de tricromia subtractiva.
Em 1892, Ducos du Hauron adapta os seus procedimentos à obtenção
de provas fotomecânicas
(Fig. 4) (Ducos du Hauron, 1897).
11
A fisiologia da percepção é regida de uma forma tricromática.
12
Séance du 7 Mai, Bulletin de la SociéFrançaise de Photographie, 1869, pp. 122-125.
FIG. 4 – “Phot. Grav. et Imp. Prieur & Dubois, Puteaux
(Ducos du Hauron, 1880).
IMAGENS DO SÉCULO XIX: FOTOGRAFIA CIENTÍFICA | 231
Na mesma época, Charles Eckstein, director técnico do Departamento
Topográfico do Ministério de Defesa da Holanda, inventa o processo foto-
mecânico de fotocromolitografia com tricromia, para obtenção de mapas
a cores. Cartas topográficas da Holanda e de Java são realizadas por este
processo. A tricromia é executada com transporte fotográfico em três
pedras litográficas; os pigmentos primários utilizados são o vermelho, o
azul e o amarelo. A obtenção de meios-tons é feita através de processo
de trama ou reticulado
13
(Fig. 5).
FIG. 5 – Cartas topográficas de Java obtidas pelo método de Eckstein
14
.
Eckstein publica em livro a sua descoberta e, em 1876, essa publicação
é enviada à exposição de Filadélfia, juntamente com alguns exemplares
de mapas obtidos por esse processo
(Eckstein, 1876).
Em Portugal, com Filipe Folque (1800-1874), director-geral dos Tra
-
balhos Geodésicos do Reino, é criada, em 1872, a secção fotográfica
(mais tarde, chamada artística), para elaboração de mapas e cartas por
processos fotográficos
(Rodrigues, 1876). É nomeado para seu director
José Júlio Rodrigues (1843-1893), professor de Química na Escola Poli
-
técnica de Lisboa.
13
Eckstein tem 10 anos de avanço sobre o processo de reticulado desenvolvido por
George Meisenbach (1841-1912), gravador alemão.
14
Mapa enviado pelo ministro de Guerra da Holanda, G. J. Klerck, em conjunto com
uma carta onde refere a disponibilidade para receber um técnico português, a fim de
estudar os métodos utilizados no Instituto Topográfico da Holanda (Arquivo do IGP).
| AS IMAGENS COM QUE A CNCIA SE FAZ232
Esta secção, dirigida por José Júlio Rodrigues (JJR), é equipada com
os melhores instrumentos fotográficos e de impressão da época, para a
utilização em cartografia associada aos processos fotográficos, entre os
quais, máquinas fotográficas Dallmeyer, objectivas aplanáticas de Stei-
nheil e máquinas de impressão de Voirin, adquiridas em Paris
15
.
Na referida secção fotográfica
16
, são praticados os processos foto-
gráficos com sais de prata (colódio e papel albuminado) e com gelatina
bicromatada. Os processos de estampagem com tintas de impressão
utilizam os métodos fotomecânicos em pedra ou em chapas metálicas de
cobre, estanho (processo de JJR) ou zinco (fotogravura, fotozincografia,
etc.) (Rodrigues, 1876).
José Júlio Rodrigues é membro da SFP, desde 1875, e publica os
resultados das suas experiências no seu boletim, um dos mais prestigia-
dos periódicos de fotografia do século XIX
17
.
A secção fotográfica obtém
diversos prémios em exposições internacionais e universais.
Da análise da correspondência entre o Departamento Topográfico,
acima referido, e JJR, sabemos que o livro de Eckstein lhe foi oferecido,
juntamente com exemplares de mapas a cores acima citados. Foi enviado
à Holanda um dos mais hábeis fotógrafos da secção fotográfica, Manoel
Dias dos Santos, para aprender este novo processo fotomecânico e a sua
aplicação à produção cartográfica.
Em 1877, JJR desenvolve um novo processo de tricromia, semelhante
ao processo de Eckstein, utilizando chapa de cobre em vez de pedra
litográfica, à qual adiciona, além do mordente, cloreto de ferro III, um
pigmento, oxido de ferro III, que permite uma graduação melhor dos
meios tons. Este novo processo é designado por cromocuprografia.
Exemplares de cromocuprografias foram apresentados na Exposição
Universal de Paris, de 1878, e fazem hoje parte do espólio da Sociedade
Francesa de Fotografia
18
.
15
Inventário da Secção Photografica (Arquivo do IGP).
16
Esta secção utilizava geradores de luz eléctrica para obtenção de negativos e
positivos, sendo pioneira relativamente a outros institutos cartográficos.
17
Société Française de Photographie (1868-1880), Bulletin de la Société Française de
Photographie. Paris : Gauthier –Villars. Ver, por exemplo: vol. 19, p. 231; vol. 20, pp. 116,
148-153; vol. 22, p. 187 e vol. 23, p. 287.
18
Catalogue Spécial de la Section Portugaise à l’Exposition Universelle de Paris en
1878 (1878). Paris: Imprimerie typographique de A. Pougin. GRANDIDIER, A. (1882),
Exposition Universelle Internationale de 1878 à Paris. Rapports du Jury. Paris, Ministère
de l’Agriculture et du Commerce.
IMAGENS DO SÉCULO XIX: FOTOGRAFIA CIENTÍFICA | 233
Eckstein e JJR introduziram o método de tipo-autografia para a
toponímia, embora JJR tenha inventado, recorrendo à fotografia, uma
versão mais precisa, que foi utilizada pelos institutos cartográficos até
ao século XX
(Fig. 6) (Wallis e Robinson, 1987).
FIG. 6 – Pormenor de Extracto Chorografico dos Concelhos de Mafra e Cintra
19
.
Nem Eckstein nem JJR mencionam as descobertas de Ducos du
Hauron, o que é compreenvel, pois a comunicação de Hauron foi
apresentada em 1869 e corresponde ao processo fotográfico de tricromia
subtractiva, sendo por ele abordado o processo fotomecânico, só muito
mais tarde, na década de 1890.
19
Typo‑autographia reduzida pelo cahoutchouc e estampada a vapor no prelo
litographico de Voirin. Pertence o original d ’este specimen a um excelente trabalho do
Sr. Estacio da Veiga, cuja copia, em parte inexacta, se apresenta aqui tão sómente a titulo
de exemplo do processo, que foi descripto (...)” in RODRIGUES, José Júlio (1876), op. cit.,
espécimen 12.
| AS IMAGENS COM QUE A CNCIA SE FAZ234
4. Ciências da Terra
Uma das importantes aplicações científicas da fotografia foi na área da
Espeleologia, exploração científica de grutas e túneis, o que permitiu um
melhor conhecimento da geologia e da física da Terra. Um dos pioneiros
desta investigação foi o francês Édouard-Alfred Martel (1859-1938) que,
de 1883 a 1912, estudou e fotografou diversas grutas na França, Suíça e
Grã-Bretanha
(Martel, 1903). A exploração científica das grutas e conse-
quente estudo através de um registo fotográfico foi possível através da
utilização de luzes artificiais. Das diversas luzes artificiais utilizadas no
período século XIX-início do século XX, a luz emitida pela combustão do
magnésio, ou de misturas do magnésio com outros compostos químicos,
como o clorato de potássio
20
,
foram as mais utilizadas por cientistas como
Martel. Estas luzes eram muito actínicas para as emulsões fotográficas do
século XIX (Peres et al., 2008). O emprego de luz artificial em fotografia
foi de grande importância, pois permitiu alargar o campo de aplicação
científica da fotografia e com uma precisão superior ao da utilização de
luz natural. Diversas lâmpadas foram concebidas, no século XIX, para a
utilização destas luzes, sendo a de Solomon e Grant uma das primeiras
a ser construída para este fim
(Londe, 1912).
Em Portugal, José Júlio Rodrigues foi pioneiro na utilização da luz
do magnésio na exploração das grutas dos Açores
21
, onde se deslocou
em 1892 (Fig. 7).
5. Astronomia, Astrofísica e Meteorologia
Em 1891, no periódico American Journal of Science, Henry Rowland
(1848-1901), professor de física da universidade John Hopkins e pioneiro
da espectroscopia astronómica, escrevia no relatório sobre o progresso
da espectroscopia:
The spectra of all known elements, with the exception of a few gaseous
ones or those too rare to be yet obtained, have been photographed in connection
with the solar spectrum from the extreme ultraviolet down to the D line.”
(Rowland, 1891)
20
Photopoudres (em francês) ou flashpowders (em inglês).
21
Occidente, 1892, pp. 182-184.
IMAGENS DO SÉCULO XIX: FOTOGRAFIA CIENTÍFICA | 235
Na realidade, durante o século XIX, verifica-se um avanço considevel
na obtenção rigorosa do espectro solar, devido à grande evolução nos
métodos espectrográficos, para a qual, de certo, contribuiu a qualidade
dos sistemas ópticos, nomeadamente, dos prismas e, mais tarde, das
redes de difracção.
Desde 1862, que diversos observatórios estiveram envolvidos em
fotografia solar, entre os quais os de Kew e Harvard
(Bonifacio e Mala-
quias, 2007). O conhecimento da posição e o número de manchas sola-
res são parâmetros importantes para determinação da actividade solar
e, de acordo com Vaquero (Vaquero, 2007), são documentos históricos
relevantes para conhecer o comportamento do Sol nos últimos séculos.
No Observatório Infante D. Luiz, João Brito Capello (1831-1891), a
partir de 1871, trabalha na obtenção de fotografias das manchas solares,
utilizando um “fotoheliografo”. Os seus resultados são publicados em
revistas científicas de elevado prestígio (Capello, 1872). Durante esse
período, Capello manteve uma correspondência abundante com diversos
FIG. 7 – Fotogravuras da furna do Pico da Cruz (Occidente, 1892).
| AS IMAGENS COM QUE A CNCIA SE FAZ236
cientistas europeus de diferentes observatórios (Kew, Londres, Paris)
22
.
Como no século XIX se determinou a relação entre a actividade solar e
fenómenos de magnetismo, muitos observatórios astronómicos passaram
a fazer determinações experimentais magnéticas e eléctricas.
No Observatório Infante D. Luiz foram também realizadas experiências
para a determinação de grandezas magnéticas, eléctricas e outras deter-
minações meteorológicas, tendo sido adquiridos, para esse fim, instru-
mentos de registo fotográfico. Entre estes, foram adquiridos, em 1863,
magnetógrafos de Patrick Adie, um electrógrafo de Thomson (Fig. 8) e
um baropsicógrafo de Salleron. Os diferentes registos e descrição dos
instrumentos estão nos anais e relatórios que fazem parte do arquivo do
referido observatório. (Silveira, 1864).
FIG. 8 – Electrómetro de quadrante de Thomson
23
.
22
Pasta de correspondência científica internacional: Arquivo do Instituto Geofísico
Infante D. Luiz.
23
Fotografia de Marília Peres (2008). Com a cortesia do Museu de Ciência da
Universidade de Lisboa (n.º de inventário MCUL00331).
IMAGENS DO SÉCULO XIX: FOTOGRAFIA CIENTÍFICA | 237
É de salientar uma interessante publicação, contendo os resultados
das impressões fotolitográficas produzidas simultaneamente pelos magne-
tógrafos dos observatórios de Kew e Lisboa que possuíam o mesmo tipo
de aparelho, construído pelo fabricante Patrick Adie
(Fig. 9) (Capello e
Steward, 1864).
FIG. 9 – Magnetógrafos de Adie
24
.
No espólio do Observatório Infante D. Luiz também se encontra uma
carta de William Thomson, Lord Kelvin (1824-1907) endereçada a João
Capello
25
, descrevendo detalhadamente o funcionamento do electrómetro
de Thomson, o que mostra o prestígio daquele cientista português e a
visibilidade do Observatório Infante D. Luiz na comunidade científica
internacional.
Capello, entre outros processos fotográficos, utilizou o das placas secas
de sais de urânio. Este processo fotográfico emprega como substância
fotossensível o nitrato de urânio em vez do nitrato de prata
26
. Este com-
posto é ensaiado, pela primeira vez, por John Herschel, como produto
de substituição do citrato de ferro amoniacal no seu processo fotográfico
de 1842, designado por crisiotipia
(Ware, 1991).
24
Pasta 741 do arquivo do Observatório Astronómico de Lisboa.
25
Carta, de 22.12.1864, de William Thomson a Brito Capello (Pasta correspondência
– 1864, IGIDL).
26
Bulletin de la Société Française de Photographie, vol. 4, 1853, p. 101.
| AS IMAGENS COM QUE A CNCIA SE FAZ238
6. Ciências Médicas
Desde muito cedo que a fotografia é aplicada na área da Medicina.
Em 1852, o neurofisiologista francês Guillaume Duchenne (1806-1875),
mais conhecido como Duchenne de Boulogne, inicia os seus estudos
na área da neurofisiologia, fazendo experiências, registadas fotografi-
camente, que relacionavam a expressão fisionómica com a estimulação
dos músculos feita por correntes farádicas. Duchenne publica o resultado
dessas experiências, ilustradas com fotografias, no livro Le mécanisme
de la physionomie humaine
(Fig. 10) (Duchenne, 1876). Esta publicação
FIG. 10 Albumina de um paciente sujeito a estimulação
eléctrica
27
.
27
Albumina em papel segundo negativo de colódio sobre vidro. In duchenne,
g.‑b. (1862),
Album de photographies pathologiques complémentaire du livre intitulé “De
l’électrisation localie”. Paris, J.-B. Baillre et Fils. A figura representa a fotografia de frente de
um homem, a quem foram aplicadas, directamente, correntes farádicas nos músculos da face
por reóforos, estimulando, deste modo, os diferentes feixes musculares submetidos ao exame.
IMAGENS DO SÉCULO XIX: FOTOGRAFIA CIENTÍFICA | 239
é considerada uma das primeiras publicações científicas com ilustrações
fotográficas. As 84 fotografias, albuminas coladas no livro (os processos
fotomecânicos estavam, ainda, a ser desenvolvidos) representavam o
estudo da acção dos músculos faciais, em resposta à estimulação eléctrica
localizada, de modo a captar as diversas emoções da face humana.
Duchenne trabalha com o famoso fotógrafo Adrien Tournachon
(1825-1903), irmão do não menos célebre fotógrafo parisiense Nadar,
utilizando objectivas fotográficas alemãs que considera serem superiores
às francesas (Duchenne, 1876).
Anos depois, em 1868, um outro fisiologista, Étienne-Jules Marey
(1830-1904), utiliza o método gráfico (com fotografia) para estudar o
músculo em repouso e o músculo tetanizado (Marey, 1885).
No célebre livro de Charles Darwin (1809-1882),
A Expressão das Emo‑
ções no Homem e nos Animais, publicado em 1872, são também utilizadas
fotografias, sob a forma de provas fotomecânicas, heliotipias
28
. Algumas
das fotografias do livro de Darwin são da autoria de Duchenne de Bou-
logne, tendo este autorizado o grande biologista inglês a utilizá-las na
sua publicação, outras são realizadas por um fotógrafo célebre na Ingla-
terra vitoriana, Oscar Rejlander (1817-1875), de nacionalidade sueca
29
.
Outro nome incontornável da fotografia científica do século XIX, no
campo da Medicina, é Albert Londe (1858-1910), investigador médico e
fotógrafo científico. Membro da SFP, é contratado por Jean Martin Charcot
(1825-1893), célebre neurologista, em 1882, para trabalhar no hospital
de la Salpêtrière, em Paris, como preparador químico
(Bernard e Gunther,
1993). Londe propõe, de imediato, a instalação e funcionamento de um
serviço fotográfico no hospital, compreendendo um atelier e um labora-
tório fotográfico que brevemente se torna um modelo a seguir na Europa.
Londe estava interessado em desenvolver a fotografia médica com pro-
tocolos adequados e equipamento apropriado; durante 20 anos regista
fotograficamente as manifestações patológicas dos pacientes do hospital.
Londe torna-se especialista no processo de gelatino-brometo de prata,
tendo inventado um obturador fotográfico que permitia fazer fotografias
28
Heliotipia, prova fotomecânica, variante da fototipia ou colotipia, em que é utilizada
a sensibilização da gelatina bicromatada, com sulfato de crómio e potássio hidratado,
processo planográfico, tal como a fotolitografia. Inventado pelo inglês Ernest Edwards
(1837-1903), em 1867, representa um avanço técnico em relação à fototipia e era muito
utilizado para a ilustração de livros científicos e técnicos.
29
darWIn, c. (1998 [1872]), A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais,
plate V.
| AS IMAGENS COM QUE A CNCIA SE FAZ240
instantâneas (Londe, 1885). Em 1893, em colaboração com o médico e
artista plástico Paul Richer (1849-1933), que trabalhava no mesmo hos
-
pital, desenvolve o processo de cronofotografia, construindo um aparelho
fotográfico de nove objectivas (Londe, 1893). As fotografias médicas de
la Salpêtrière foram publicadas na Nouvelle Iconographie de la Salpetrière
(Fig. 11) (Charcot, 1888).
Albert Londe cria também o primeiro laboratório de radiografia dos
hospitais de Paris, escrevendo um livro sobre radioscopia
(Londe, 1898).
Dedica-se igualmente à investigação sobre luzes artificiais em fotografia.
FIG. 11 – “Imbécilité – Absence de corps calleux” (Charcot, 1888).
IMAGENS DO SÉCULO XIX: FOTOGRAFIA CIENTÍFICA | 241
Conclues
Durante o século XIX, a fotografia foi fundamental para o desenvol-
vimento e documentação da Ciência. Determinados campos científicos,
como a Química, a Física e as Ciências da Vida, beneficiaram da evo-
lução dos métodos fotográficos, principalmente através do estudo de
substâncias fotossensíveis e dos sistemas ópticos e materiais utilizados
em fotografia. Para além de constituírem um património documental,
as imagens fotográficas da Ciência do século XIX têm, na sua maioria,
um elevado valor estético. Em Portugal, cientistas de instituições uni-
versitárias e institutos públicos, como o Observatório Infante D. Luiz e
a Secção Fotográfica do Instituto Cartográfico de Portugal, contribuíram
para o desenvolvimento da fotografia científica, estabelecendo relações
internacionais com as suas congéneres europeias e promovendo a inte-
gração daquelas instituições em redes científicas internacionais.
É primordial desenvolver o estudo sistemático da evolução da fotogra-
fia científica em Portugal, no contexto europeu, quer nas aplicações cien-
tíficas, quer na contribuição de cientistas e fotógrafos portugueses para
a evolução dos processos físico-químicos e instrumentação, no período
mais importante, que vai do século XIX ao início do século XX (Fig. 12).
FIG. 12 – Esquema sobre o estudo histórico‑científico da fotografia.
Instrumentos
Científicos
Química
FOTOGRAFIA
CIENTÍFICA
Óptica
Documentação
Científica
Processos Físicos
e Químicos
| AS IMAGENS COM QUE A CNCIA SE FAZ242
Bibliografia
ARAGO, F. (1858), Œuvres Complètes, tomo IV – Notices. J. A. Barral, Paris.
BECQUEREL, E. (1848), “De l’image photographique colorée du spectre solaire”
in
CRAS, 26: 181-183.
BERGER, J. L. (1992), Louis Ducos du Hauron 1837‑1920 et les Débuts de la photo‑
graphie couleur de 1869 à 1879. Mémoire de Maîtrise de Sciences et Techniques
de l’Image photographique, Université de Paris VIII, Paris.
BERNARD, D. e GUNTHERT, A. (1993), L’instant rêvé: Albert Londe. Jacqueline
Chambon-Trois, Nîmes.
BONIFÁCIO, V. e MALAQUIAS, I. (2007), “Solar photography in the 19th century” in
Journal of Astronomical History and Heritage, 10 (2): 104-105.
CANGUILHEM, D. (2004), Le Merveilleux scientifique: Photographies du monde savant
en France, 1844‑1918
. Gallimard, Paris.
CAPELLO, B. e STEWART, B. (1864), “The Photo-lithographic Impressions of traces
produced simultaneously by the Magnetographs at Kew and Lisbon” in Procee‑
dings of Royal Society of London, 13: 111-120.
CAPELLO, J. (1872), “Sur l’aspect du soleil vers le 9 août”
in CRAS, 75: 729-730.
CARTIER-BRESSON, A. (ed.) (2008),
Le vocabulaire technique de la Photographie.
Marval, Paris.
CHARCOT, L. (ed.) (1888),
Nouvelle Iconographie de la Salpêtrière. Lecrosnier et
Babé, Libraires- Éditeurs, Paris.
CHEVALIER, C. (s. d.), Rapports sur les instruments inventés ou construits par Charles
Chevalier. Imp. Ed. Proux et Cie, Paris.
CORCY, M. S. (1997), Techniques photographiques de prise de vue, formes et appli‑
cations scientifiques et industrielles de la photographie noir et blanc en France
(1839‑1920), 7 volumes. Doctorat de l’Université de Paris IV-Sorbonne, Paris.
CORTEZ PIMENTEL, J. (1988),
A Documentação pela Imagem em Medicina. Univer-
sitária Editora, Lisboa.
DARWIN, C. (1998 [1872]),
The Expression of the Emotions in Man and Animals.
Harper Collins, Londres.
DONNADIEU, A. L. (1884),
La photographie appliquée aux sciences biologiques et le
physiographe universel construit par J.‑B. Carpentier
. Mécaniques, Lyon.
DUCHENNE ,G.-B. (1862),
Album de photographies pathologiques complémentaire
du livre intitulé “De l’électrisation localisée”. J.-B. Baillière et Fils, Paris.
DUCHENNE, G.-B. (1876),
Mécanisme de la Physionomie humaine. J.-B. Baillière,
Paris.
DUCOS DU HAURON, L. (1880),
La photographie indirecte des couleurs – Nouveaux
procédés opératoires à la portée de tous, suivis des plus récentes définitions théo‑
riques et vulgarisatrices du système. Charles Mendel, Paris.
DUCOS DU HAURON, A. (1897),
La triplice photographique des couleurs et
l’imprimerie, système de photochromographie de Louis Ducos du Hauron. Gauthiers-
-Villard, Paris.
IMAGENS DO SÉCULO XIX: FOTOGRAFIA CIENTÍFICA | 243
ECKSTEIN, C. (1876), New method for reproducing maps and drawings. Maps and
drawings dresses and printed at the topographical department, war‑office (for
private circulation only). Giunta d’Albani Brothers, Hague.
FIESCHI, C. (1995), Photographie et Botanique en France de 1839 à 1914. Thèse de
Doctorat pour le diplôme d’Archiviste-paléographe, École nationale des Chartes.
FIGUIER, L. (s. d.), Les Merveilles de la Science. Jouvet et Cie Editeurs, Paris.
FRIZOT, M. (2001), Nouvelle Histoire de la Photographie. Larousse, Paris.
GIRARD, J. (1868),
Bulletin de la Société française de photographie, pp. 32-34.
GRANDIDIER, A. (1882),
Exposition Universelle Internationale de 1878 à Paris.
Rapports du Jury. Ministère de l’Agriculture et du Commerce, Paris.
HANNAVY, J. (ed.) (2008), Encyclopedia of nineteenth‑century photography
, vol. 1.
Routledge.
HERSCHEL, J. (1842), “On the action of the rays of the solar spectrum on vegetable
colours and on some new photographic processes” in Philosophical transactions
of the Royal Society, 132: 181-214.
LEBART, L. (1996), “Les archives du ciel” in Études photographiques, n.º 1.
LONDE, A. (1885),
Bulletin de la Société Française de Photographie, vol. 3, p. 90.
LONDE, A. (1893
a), La Photographie Médicale: Application aux Sciences Médicales
et Physiologiques. Gautier-Villar, Paris.
LONDE, A. (1893
b), La photographie dans les voyages d’exploration et les missions
scientifiques. Association Française pour l’Avancement des Sciences, Paris.
LONDE, A. (1896),
La Photographie Moderne. G. Masson, Paris.
LONDE, A. (1898),
Traité Pratique de Radiographie er de Radioscopie. Gauthier-
-Villars, Paris.
LONDE, A. (1912), La Photographie à la Lumière Artificielle. Octave Doin, Paris.
MAREY, E. J. (1885),
La méthode graphique dans les sciences expérimentales et prin‑
cipalement en physiologie et en Médicine. G. Masson, Paris.
MARTEL, E.-A. (1903),
La Photographie Souterraine. Gauthiers-Villars, Paris.
MAXWELL, J. C. (1857),
Transactions of the Royal Society of Edinburgh, 21: 275-299.
MONPILLARD, F. (1899),
La Microphotographie. Gauthiers-Villars, Paris.
MONPILLARD, F. e RABAUD, E. (1900), Atlas d’histologie normale. Ed. Georges
Carré et C. Naud, Paris.
NIEWENGLOWSKI, G. H. (1896),
La Photographie de l’invisible au moyen des Rayon
X, Ultra‑violets, de la Phosphorescence et de l’Effluve électrique
. H. Desforges,
Paris.
PERES, M., JARDIM, M. E. e COSTA, F. M. (2008), “The Role of Artificial Lights in
the Scientific Photography of the XIX Century” in Proceedings of the 3rd Interna‑
tional Conference of the European Society for the History of Science (online edition
– accepted for publication, 30.12.2008).
POITEVIN, A. (1883),
Traité des impressions photographiques. Paris,
RODRIGUES, J. J. (1876),
A Secção Photographica ou Artística da Direcção Geral dos
Trabalhos Geodésicos no dia 1 de Dezembro de 1876. Typographia da Academia
Real das Sciencias, Lisboa.
| AS IMAGENS COM QUE A CNCIA SE FAZ244
ROWLAND, H. (1891), “Report of Progress in Spectrum Work” in American Journal
of Science, 3 (XLI): 243-244.
SENA, A. (1998), Historia da imagem fotográfica em Portugal 1839‑1997
. Porto
Editora, Porto.
SILVEIRA, F. (1864), “O Baropsychrographo do Observatório do Infante D. Luiz”
in
Annaes do Observatório do Infante D. Luiz: 1864, decimo ano. Imprensa Nacio-
nal, Lisboa.
THOMAS, A. (ed.) (1999), Beauty of another order: photography in Science. Yale
University Press, Yale.
TROUFLÉAU, C. (2002), “La légende d’Auguste Bertsch” in Études photographiques,
n.º 11.
TRUTAT, E. (1884),
La Photographie appliquée à l’histoire naturelle. Gautier-Villar,
Paris.
VAQUERO, J. M. (2007), “Historical sunspot observations: a review” in Advances in
Space Research, 40: 929-941.
WALLIS, H. M. e ROBINSON, A. H. (eds.) (1987),
Cartographical Innovations – An
International Handbook of Mapping Terms to 1900. Map Collector Publications
Ltd. com a International Cartographic Association.
WARE, M. (1991), “Prints of gold: the chrysotype process reinvented” in The Scottish
Photographic Bulletin, n.º 1.
Article
Full-text available
In the 19th century, the field of cartography grew exponentially when photomechanical printing became a stabilised procedure for the graphic arts industry. With the introduction of photomechanical processes, in the early developments of chromolithography, maps not only became a widespread product in Europe and the United States but they were also refined and became increasingly visually complex. The interaction between scientists and printmakers also changed. As photomechanical processes allowed cartographers to autonomously transfer, reduce or enlarge maps, scientists and military personnel took over the task of translating images onto the wood or copper plates - a job traditionally assigned to a skilled engraver (Cook, 2002) This has also shifted the authorship of printmaking literature to scientists and military personnel, such as captains or colonels (Twyman, 1990). Early printing techniques - such as woodcut or intaglio - are practised today within a very specific setting for particular needs. In the framework of contemporary art, design, or illustration, aspects such as the materiality of images are discussed, visually experimented with, and exhibited. While some industrial printing techniques have gained artistic standing - serigraphy, for example - a wider range of processes are hidden in the past (R. Williams and D. Williams, 1986). Cook (2002) argues that both cartography and printmaking owe each other a great deal for their progress. In the history books, however, one rarely recognises the other. We argue this is because printmaking as a profession has been split between art and science.
Conference Paper
Full-text available
In the second half of the 19th century there was a strong interplay in the development of astronomy research and two emerging branches of science, spectroscopy and scientific photography. The work of Edward Charles Pickering and his brother William Pickering from the MIT, Harvard, led to important innovations in spectrography enabling the publication of the prestigious Henri Draper Catalogue. The compilation of a photographic library of the stellar universe was also begun in 1885. Their studies in spectroscopy, namely of the magnesium light, could explain its important role as an artificial light for photography. There were also studies of limelight made in 1880 by William Pickering discussing the optical properties of this artificial illuminant. By the end of the 19th century the knowledge of artificial lighting techniques acquired through many experiences, in negatives, positives and photomechanical prints, increased their use in scientific photography, mainly in physics, geology, oceanography and medicine. It is accurate to say that it would have been very difficult to develop a new science, speleology, without the artificial light of magnesium. Artificial light also played an important role in the practical education and popularization of science as they were used in projection lanterns. At Harvard, for instances, Pickering's plan of the Physical laboratory used the projection of spectra for the student’s experiments with limelight as an illuminant.
Article
Full-text available
The Infante D. Luiz Observatory, located in Lisbon, was one of the leading Portuguese meteorologic and magnetic research institutions in the second half of the 19th century. Following the distribution of the equipment bought by the Portuguese government for the total solar eclipse expedition of 1870 December 22, the D. Luiz Observatory acquired an equatorial telescope. João Carlos de Brito Capello, one of the two Infante D. Luiz chief observers, seized this opportunity and decided, in early 1871, to embark in a programme of daily solar photography to study the relationship between the solar activity, in particular the sunspots, and the terrestrial magnetic field. The programme was active between 1871 and 1880, albeit intermittently, having been well received by the international community and led to a couple of publications. For a time the Infante D. Luiz Observatory solar photographs not only kept a record of the sunspot activity complementing similar work done elsewhere but were amongst the best available everywhere. This article proposes to give an account of its implementation and development in the context of the solar photography of the period.
Article
Early observations of sunspot were realised by the naked eye. Possible utilization of these records for studying the long-term change in the Sun is discussed here. Other historical sunspot observations with camera obscuras are also discussed. Moreover, the best record of the behaviour of the Sun exists for the last four centuries thanks to the observations of sunspots with telescope. These observations should allow us to know the number, position, and area of sunspots as well as some relevant episodes (Maunder Minimum, optical flares, etc.). Rudolf Wolf developed the first reconstruction of solar activity in the 19th century. The next reconstruction was made by Hoyt and Schatten in 1998 by improving the database and using a new methodological approach. Here some mistakes, pending tasks and minor improvements are discussed.