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Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
Seção: Avaliação do Estado de Conservação das Espécies da Fauna Brasileira
Apresentação
O minhocuçu, Rhinodrillus fafner Michaelsen, 1918, é uma espécie de minhoca endêmica,
conhecida de apenas um exemplar e uma localidade (Bairro de Gorduras, município de Sabará),
nos arredores de Belo Horizonte, Minas Gerais. Seu risco de extinção foi avaliado de acordo com
os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN 2001), com base nos
dados disponíveis até 2011. A espécie foi categorizada como “Dados Insuficientes (DD)”.
Justificativa
A espécie não é registrada desde que ela foi coletada no início do século XX. Sua extensão de
ocorrência (EOO) e a área de ocupação (AOO) não podem ser calculadas, uma vez que é conhecida
de apenas uma localidade e se desconhecem as associações ecológicas de hábitat da espécie.
Também não se conhecem os parâmetros populacionais. Presume-se que a espécie seja natural
de Floresta Estacional Semidecidual, assim como Fimoscolex sporadochaetus Michaelsen, 1918,
também coletada em Gorduras, por volta da mesma época (1913). Seguindo essa suposição, pode-
George G. Brown
1
, Samuel W. James
2
, Onildo J. Marini-Filho
3
Rhinodrilus fafner Michaelsen, 1918
Jörg Rombke
Avaliação do risco de extinção do minhocuçu
Risco de Extinção
Dados Insuficientes (DD)
Submetido em: 10 / 02 / 2011
Aceito em: 27 / 01 / 2012
Filo: Annelida
Classe: Oligochaeta
Ordem: Haplotaxidae
Família: Glossoscolecidae
Nome popular
Minhocuçu
E-mails
george.brown@embrapa.br, samuel-james@uiowa.edu, o.marini@gmail.com
Afiliação
1
Embrapa Florestas. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa. Colombo, PR, Brasil.
2
Department of Biology, University of Iowa, Iowa City, I.A., USA.
3
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Caatinga – Cecat, Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade, Brasília – DF.
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Minhocuçu – Rhinodrillus fafner
se inferir que o hábitat de ocorrência está em declínio constante, não somente pelo desmatamento
da Floresta Atlântica no Estado de Minas Gerais, mas também pela urbanização crescente na
localidade tipo. Contudo, não houve esforços significativos para localização de populações desta
espécie. Righi buscou a espécie na periferia de Belo Horizonte em duas ocasiões, em 1967 e 1968,
sem sucesso, mas não se sabe de outros esforços para localizar a espécie desde então. A presença
de algumas espécies de minhocuçus pode ser prevista pela produção de coprólitos (dejeções) de
grande tamanho na superfície do solo, mas não se sabe se R. fafner produz esses coprólitos. Sabe-se
que minhocuçus são muito difíceis de serem capturados em alguns tipos de hábitat, especialmente
na Mata Atlântica, e pode-se ir muitas vezes ao mesmo local em busca de minhocuçus, sabendo que
se encontram ali, sem conseguir coletá-los. Portanto, considerando a falta de esforços significativos
para localização de populações desta espécie, R. fafner foi categorizada como Dados Insuficientes
(DD). Caso ela seja encontrada, deve-se estudar sua biologia e ecologia de forma a avaliar se esta
necessita de áreas bem preservadas para permanência.
Histórico das avaliações anteriores
Nível nacional (MMA 2003, Machado et al. 2008): Extinta (EX)
Justificativa para a mudança
Embora não tenha havido registro da espécie desde que ela foi encontrada no início do
século XX, acredita-se que não houve esforços significativos para localização de populações desta
espécie. Para poder avaliar adequadamente se a espécie se encontra ameaçada, são necessários
dados populacionais e melhor conhecimento de sua distribuição (EOO e AOO), ambos faltantes
para R. fafner. Portanto, a espécie deve ser categorizada como Dados Insuficientes (DD).
Minas Gerais (Deliberação COPAM 041/1995, Machado et al. 1998): Provavelmente
Extinta
Minas Gerais (Deliberação COPAM 147/2010): Criticamente em Perigo (CR) B2ab(ii,iii)
Características da espécie
A espécie é conhecida de um único exemplar, coletado por F. Jikan em 1912 no bairro de
Gorduras, município de Sabará, nos arredores de Belo Horizonte, MG. Essa região era ocupada
originalmente por Floresta Estacional Semidecidual. Sabe-se que minhocuçus frequentemente
possuem especialização quanto ao tipo de hábitat ou tipo de solo (van Praagh 1997, Caballero
1973), o que sugere que R. fafner também poderia ter preferências específicas que limitariam
sua área de ocupação dentro do hábitat de ocorrência. O espécime encontra-se no museu de
Senckenberg em Frankfurt, mas o lote com o exemplar tipo na coleção contém diversos fragmentos
em mau estado de conservação (Foto). Para poder ser estudado taxonomicamente, o exemplar foi
tratado com uma mistura de gelatina e algodão.
Rhinodrilus fafner está entre as maiores minhocas assinaladas na literatura científica
(Blakemore et al. 2007), com 2,1m de comprimento e até 24mm de espessura (Michaelsen 1918).
Contudo, os pedaços presentes na coleção somavam, no momento da descrição, apenas 1,4m de
comprimento, e Michaelsen (1918) especulou que eles representassem apenas parte de um animal
completo, ou que alguns pedaços haviam sido destruídos na preparação especial do animal.
Atualmente, os fragmentos encontrados no lote tipo somam apenas 70cm de comprimento (J.
Römbke, comunicação pessoal, 2012). Pela má conservação, não foi possível realizar observações
morfológicas mais detalhadas de suas estruturas internas, especialmente das glândulas calcíferas
usadas para determinar sua posição genérica (Michaelsen 1918). Portanto, sua posição no
gênero Rhinodrilus é duvidosa. Contudo, a espécie foi considerada válida e, apesar de ser muito
Figura 1 – Distribuição geográfica do Minhocuçu, Rhinodrillus fafner.
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Minhocuçu – Rhinodrillus fafner
próxima a Rhinodrilus horsti (Beddard, 1892), não há nenhuma outra minhoca conhecida na
família Glossoscolecidae com suas características morfológicas, em particular, os nove pares de
espermatecas nos segmentos 7-15 (Michaelsen 1918).
Sabe-se que Righi buscou a espécie na periferia de Belo Horizonte em duas ocasiões, em
1967 e 1968, sem sucesso (Righi & de Maria 1998), mas não se sabe de outros esforços para
localizar a espécie.
Apesar de Castro & d’Agosto (1999a, 1999b) terem relatado a presença de dois indivíduos
de R. fafner, encontrados a 25cm de profundidade em mata de galeria no Parque Estadual do
Ibitipoca, acredita-se que houve um erro de identificação e que esses indivíduos correspondam a
outra espécie, pois a observação das fotos dos indivíduos por G.G. Brown e S.W. James em 2004
(exemplares com <40cm de comprimento) difere do esperado para a descrição deste minhocuçu
(Michaelsen 1918, James & Brown 2006).
Ameaças
A espécie ocorre em uma área com intensa ocupação urbana, mineração, desmatamento e
redução de habitat. A destruição destas matas pode ter causado declínios da população na única
localidade conhecida.
Pesquisas existentes e necessárias
Deve-se envidar esforços para localizar populações da espécie em áreas florestais de possível
ocorrência (especialmente com Floresta Estacional Semidecidual) e verificar sua tolerância
ou vulnerabilidade a perturbações. Como muitos minhocuçus saem do solo e afloram na sua
superfície somente com enxurradas (James 1996), deve-se priorizar a procura nos meses de maior
intensidade de chuvas (verão, no caso do local de ocorrência de R. fafner) e buscar utilizar os meios
de comunicação de massa para facilitar a busca por essa espécie na região de Belo Horizonte e
Sabará. Também serão necessários estudos de ecologia e biologia básica da espécie, caso ela seja
reencontrada.
Agradecimentos
Agradecemos as informações e fotos prestadas pelos Drs. Dieter Fiege (Senckenberg
Museum, Frankfurt) e Jörg Römbke (ECT-Oekotoxicologie, Florsheim) sobre o material tipo no
Museu de Senckenberg.
Referências bibliográficas
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Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
Seção: Avaliação do Estado de Conservação das Espécies da Fauna Brasileira
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Ficha Técnica
Oficina de avaliação do estado de conservação das minhocas. Data de realização: 4 e 5 de abril de 2011. Local: Belo Horizonte, MG
Avaliadores: George G. Brown, Onildo J. Marini Filho e Samuel James
Mapa: Rodrigo Ranulpho da Silva
Foto: Jörg Rombke