A última taxa de inovação extraída a partir da Pesquisa de Inovação (PINTEC), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 35,7% para o conjunto das empresas industriais e de serviços brasileiras. Por isso, tem-se afirmado por veículos de informação, especializados ou não, que pouco mais de um terço das empresas brasileiras são inovadoras. Este artigo, contudo, procura demonstrar que tal taxa não é adequada para uma análise econômica sob preceitos teóricos neoschumpeterianos, base das modernas políticas industriais e tecnológicas. Para encontrar as firmas portadoras da mudança técnica é preciso captar o comportamento das mesmas frente ao mercado em que atuam, e não apenas frente ao seu comportamento passado. As modernas políticas industriais, muitas das quais em curso no Brasil, possuem um claro viés neoschumpeteriano, no qual muita ênfase é posta na competitividade via desenvolvimento tecnológico e inovação. Nada mais lógico, portanto, considerar essa visão quando da escolha e emprego de indicadores necessários à observação da dinâmica econômica nacional. A taxa de inovação é extraída a partir das respostas individuais das firmas ao questionário da PINTEC. Quatro respostas a ele são usadas para formar um indicador denominado pelo IBGE de " empresas que implementaram inovações de produto e/ou processo entre 2009 e 2011 ". Tradicionalmente, especialistas (no qual se inclui o autor) têm usado este indicador enquanto numerador da taxa de inovação. Isto é, o número resultante é dividido por outro indicador, " total de empresas " , e o resultado é apresentado em percentual deste total como sendo a taxa de inovação. O problema consiste no fato de que o numerador (" empresas que implementaram inovações de produto e/ou processo entre 2009 e 2011 ") não é adequado para uma análise da dinâmica inovativa frente às teorizações mais usuais em economia da tecnologia. Não obstante é possível, a partir da própria PINTEC, empregar outro numerador mais adequado a estas teorizações. A questão central reside no fato de que, atualmente, o numerador " empresas que implementaram inovações de produto e/ou processo entre 2009 e 2011 " inclui empresas que introduziram novos produtos e/ou processos que já eram conhecidos no mercado e, por isso, não geraram, necessariamente, diferenciação frente aos concorrentes. Obviamente, mudar o portfólio de produtos e/ou introduzir novos processos é relevante na estratégia da firma. Acontece, pois, que se essas mudanças não trouxerem coisas inéditas ao mercado, a firma estará apenas reproduzindo o comportamento já conhecido e erodindo, pouco a pouco, o lucro das inovadoras. Não serão elas as portadoras da mudança, elemento central para a compreensão da dinâmica inovativa, segundo a escola neoschumpeteriana. Para se ter um indicador mais adequado aos preceitos teóricos neoshumpeterianos, é preciso excluir aquelas empresas que não introduziram novidade no mercado em que atuam para, então, se ter uma noção das empresas inovadoras segundo essa escola do pensamento. Dessa forma, este artigo analisa a compatibilidade da taxa de inovação com os preceitos teóricos da escola neoschumpeteriana da mudança técnica. Para tanto, o trabalho encontra-se dividido em cinco seções, além desta introdução. A seção 2 apresenta o contexto geral de emprego da taxa de inovação, destacando seu uso pela imprensa não especializada. Na seção 3 discute-se a natureza do processo inovativo e o significado do termo " firma inovadora " segundo a escola neoschumpeteriana. A seção 4 detalha o método de extração da taxa de inovação. A seção 5 apresenta a já conhecida taxa de inovação para o mercado nacional, a qual se argumenta ser mais adequada à uma análise neoschumpeteriana da inovação. Por fim, na seção 6 são tecidas as considerações finais.