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DOI: 10.4025/reveducfis.v20i1.6053
R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 20, n. 1, p. 43-50, 1. trim. 2009
EFICÁCIA DO PROCESSAMENTO MENTAL EM JOGADORES DE VOLEIBOL
COM NÍVEIS METACOGNITIVOS DIFERENCIADOS
EFFICACY OF THE MENTAL PROCESSING IN VOLLEYBALL PLAYERS WITH DIFFERENTTIAL
METACOGNITIVE LEVELS
Anderson Pontes Morales
∗
Márcia Maria dos Anjos Azevedo
**
Ronaldo Nascimento Maciel
*
Jeancleber Lotério Barcelos
*
Nilo Terra Áreas Neto
*
Vernon Furtado da Silva
***
RESUMO
O objetivo dessa pesquisa foi verificar a possível relação da velocidade de processamento mental com diferentes níveis
metacognitivos, em atletas masculinos de voleibol. Para tanto, utilizou-se n=15 atletas da Fundação Municipal de Esportes,
em Campos dos Goytacazes (RJ), com idade entre 18 e 20 anos, divididos em três grupos, de acordo com a capacidade
individual de metacognição. Os cinco escores superiores caracterizaram o Grupo Nível Superior de Metacognição (GNSM),
os cinco escores médios representaram o Grupo Nível Médio de Metacognição (GNMM) e os cinco escores inferiores
corresponderam ao Grupo Nível Inferior de Metacognição (GNIM). Os dados foram analisados no pacote estatístico ANOVA
(Oneway). Encontrou-se diferença significativa no Tempo de Reação Discriminação (TRD). No post hoc de Tukey verificou-
se diferença na comparação entre os grupos GNSM-GNIM (p= 0,02). Concluiu-se que os atletas com alto nível
metacognitivo foram mais rápidos na comparação entre grupos.
Palavras-chave: Processamento mental. Tempo de reação e metacognição
.
∗
Mestrando em Ciência da Motricidade Humana, LANPEM. Universidade Castelo Branco UCB-RJ.
**
Doutora em Psicologia. Professora da Associação Brasileira de Ensino Universitário UNIABEU.
***
Doutor em Philosophy. Professor pelo Programa Stricto Sensu em Motricidade Humana LANPEM. Universidade Castelo
Branco UCB-RJ.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, na área da aprendizagem
motora, tem havido uma preocupação na
elaboração de uma série de princípios e
abordagens teóricas, que têm sub-servido ao
ensino das habilidades motoras. Para isso, no
que tange especificamente à questão da
aprendizagem, a noção vigente que norteia tais
princípios e teorias é a de que, qualquer que seja
o esporte a ser aprendido, o desenvolvimento
das habilidades motoras ocorre a partir das
funções mentais organizadoras e gestoras do
comportamento motor (AMARAL; SILVA,
2006).
O voleibol desde a sua criação em 1895 por
Willian G. Morgan, vem evoluindo em seus
planos de treinamentos, fazendo com que a
modalidade seja fonte de numerosos estudos,
que visam potencializar o rendimento dos atletas
e onde detalhes encontrados no âmbito técnico,
tático e físico tornam-se diferenciais no
resultado final alcançado por uma equipe em
competição, transformando-se desta forma em
um jogo altamente competitivo (MILISTETD et
al., 2008). Esta evolução foi alicerçada em
função da popularidade deste esporte, com o
aumento crescente de escolinhas voltadas ao
público infantil, o que contribui com o
desenvolvimento de habilidades motoras
específicas à prática desportiva do voleibol
(BENETTI; SCHNEIDER; MEYER, 2005;
BIZZOCHI, 2004; PRUDENCIO; TUMELERO,
2006). Aliado a este desenvolvimento se faz
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necessário que atletas de voleibol aperfeiçoem
constantemente os mecanismos neurais
envolvidos na percepção e identificação das
ações motoras dos adversários pois os mesmos
servirão de base para o sucesso nos “rallis”
(HIGAJO; ANDRADE; PEREIRA, 1991;
SOUZA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2006).
Para identificar estas ações, é necessário que
o entendimento sobre as nuances táticas do jogo
sejam treinadas e que esses treinos requeiram do
atleta um alto grau de conhecimento e percepção
sobre os eventos de performance relacionados ao
desporto (AMARAL; SILVA, 2006), já que o
voleibol é caracterizado por ações de períodos
curtos, intensidade máxima e intervalos
reduzidos (BENETTI; SCHNEIDER; MEYER,
2005; FONTANI et al., 1999).
Pode-se deduzir que, em função dos
ensinamentos do voleibol, um conjunto de
injunções pedagógicas devem estar apoiados,
reforçando o desenvolvimento do atleta sobre as
ações para a resolução de problemas associados
à ambiência do jogo. Assim, um componente
considerado de grande importância na
elaboração, execução e decisão das ações
rápidas efetuadas durante o jogo é a capacidade
ou a taxa de metacognição, que seria o nível de
conhecimento que o sujeito tem sobre o seu
próprio processo de aprendizado, ou seja, é a
partir do monitoramento e controle dos
processos de aprendizagem e memória percebido
pelo indivíduo, que este pode tomar uma atitude
inteligente e eficiente (OLIVEIRA, 2002).
Numa visão mais simples, a metacognição
se sobrepõem e encadeia-se estrategicamente na
gestão do organismo sobre as operações mentais
que geralmente precedem a uma ação motora
(FLAVELL, 1979) Esta habilidade
metacognitiva está direta e intimamente
relacionada ao tempo de reação motora do atleta
(SILVA, 2000; OLIVEIRA, 2002). Deste modo,
a velocidade de processamento de informação
aparece como indicador da capacidade
intelectual dos indivíduos, sobretudo com
trabalhos laboratoriais em torno das tarefas
simples e complexas de reação (RIBEIRO;
ALMEIDA, 2005b).
Este estudo, portanto, teve por finalidade
comparar os resultados de uma bateria de testes
de tempo de reação motora, com diferentes
graus de dificuldade, em atletas de voleibol com
diferentes níveis metacognitivos e, verificar a
relação entre a velocidade do processamento
mental com altos níveis de metacognição.
MÉTODO
Amostra
Foi utilizada nesta pesquisa uma
amostragem de quinze atletas de voleibol (n=15)
masculinos, pertencentes à equipe juvenil da
Fundação Municipal de Esportes da cidade de
Campos dos Goytacazes (RJ), com idade
variando entre 18 e 20 anos. Todos devidamente
registrados na Federação de Voleibol do Rio de
Janeiro (FVR). Os atletas foram divididos em
três grupos e classificados de acordo com a
identificação da capacidade metacognitiva, onde
os cinco escores superiores caracterizaram o
Grupo Nível Superior de Metacognição
(GNSM), os cinco escores médios representaram
o Grupo Nível Médio de Metacognição
(GNMM) e os cinco escores inferiores
corresponderam ao Grupo Nível Inferior de
Metacognição (GNIM). Todos os sujeitos foram
informados dos procedimentos do estudo e
assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido antes do início dos testes. O projeto
foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da
UCB-RJ (sob o nº de protocolo 0168/2008).
Instrumentação
Para atingir os objetivos relativos às ações
metodológicas deste estudo foram analisadas as
condições metacognitivas dos participantes do
estudo, através de uma ficha de observação do
conhecimento metacognitivo, utilizada no estudo
de Oliveira, Beltrão e Silva (2003), credenciado
cientificamente como Ficha de Observação de
Conhecimento Metacognitivo (FOCM). Tal
procedimento permite a identificação da
capacidade metacognitiva do indivíduo em
blocos de competências. Cada bloco de
competência foi constituído por 5 (cinco)
perguntas, totalizando 20 (vinte) questões. A
pontuação variou entre 1 (um) a 3 (três) pontos,
totalizando 60 (sessenta) pontos.
O instrumento acima foi validado através de
um estudo estatístico denominado “Face
Validity”, cujo coeficiente correlacional
Eficácia do processamento mental em jogadores de voleibol com níveis metacognitivos diferenciados 45
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revelou-se acima de 0,93 (OLIVEIRA;
BELTRÃO; SILVA, 2003).
Para a coleta dos escores de reação motora,
utilizou-se de 2 (dois) instrumentos; um
Software MATLAB 5.3 (The MathWorks, Inc.)
instalado em um lap top (Acer® processador
Intel Celeron®, composto por uma tela de
14.1”) e um circuito elétrico sonoro-luminoso,
acionado por um interruptor de pressão.
Procedimentos
Todos os participantes do estudo foram
testados mantendo somente um atleta e o
avaliador na sala de coleta dos dados
(departamento de voleibol), com o objetivo de
evitar qualquer tipo de perturbação. O estudo foi
realizado em dois dias não consecutivos: o 1ª dia
consistiu na análise da condição metacognitiva
dos participantes do estudo, através da Ficha de
Observação do Conhecimento Metacognitivo
(FOCM). Todos os itens foram analisados (pelo
testado) a partir de respostas a situações
experimentadas anteriormente na prática, em
uma partida de voleibol, as quais foram expostas
em vídeo (modelos de fichas mostradas). No 2ª
dia avaliou-se os escores de reação motora
mediante as instruções padronizadas através de
um roteiro de explicações e apresentadas
oralmente a cada atleta. O teste foi iniciado
somente quando não havia mais dúvidas sobre o
procedimento. Não foi realizada uma sessão de
familiarização dos testes. O atleta permaneceu
sentado em frente aos instrumentos de testes de
reação motora. Para responder com precisão aos
testes, os atletas mantiveram o dedo indicador da
mão de preferência, aquela utilizada para
escrever, levemente apoiado sobre uma tecla de
resposta (espaço). Os resultados obtidos nos
Testes de Reação Motora (TRM) de cada atleta
corresponderam à média dos cinqüenta
estímulos, apresentados no centro e lateralmente
na tela do lap top. Houve um intervalo de cinco
minutos entre os testes. Seguem-se abaixo a
ordem de aplicação dos testes.
Tempo Reação Simples (TRS) – foi
constituído por cinqüenta aparições de figuras
circulares (alvos verdadeiros no centro da tela),
aleatoriamente, até dois segundos, entre cada
figura e determinado pelo próprio software,
solicitando ao atleta que reagisse o mais rápido
possível.
Tempo de Reação Discriminação (TRD) –
foi constituído por cinqüenta aparições de
figuras quadriculares (alvos verdadeiros
apresentadas lateralmente na tela), no qual entre
os mesmos, surgiam, aleatoriamente, de um a
três figuras circulares (distratores), com
intervalos de até oito segundos, onde foi
determinado aos atletas que reagissem para as
figuras quadriculares (alvos verdadeiros).
Tempo de Reação Discriminação Tarefa
Complexa (TRDTC) – exigiu dos atletas que
após efetuação das respostas para as figuras
quadriculares (alvos verdadeiros apresentadas
lateralmente na tela), pressionassem uma vez
com o dedo indicador da mão utilizada para
responder ao teste de reação, um interruptor de
pressão, interligado a um circuito elétrico
sonoro-luminoso localizado ao lado do lap top.
Foram considerados como erro os escores de
menores que 100 milésimos de segundos (ms),
caracterizando uma possível antecipação da
reação, e maiores que 500 milésimos de
segundos (ms), que poderiam significar algum
problema de processamento do
microcomputador.
Análise estatística
Os dados oriundos dos procedimentos
descritos acima foram analisados no programa
10.0 (SPSS® for Windows), utilizando-se as
“ferramentas” descritivas médias, desvio padrão
e percentual de acertos. Todos os dados foram
considerados paramétricos, pelo teste de
Shapiro-Wilk. De acordo com os resultados
obtidos no teste de normalidade, optou-se pelo
instrumento paramétrico ANOVA (Oneway)
para comparações inter-grupos p valor <0.05.
Como teste complementar adotou-se o post-hoc,
seguido pelo teste de Tukey.
RESULTADOS
Os dados indicadores do perfil e da seleção
dos atletas que compõem os grupos
metacognitivos, estão representados na Tabela 1.
A média do GNSM ficou em 55,2 ± 1,30
pontos, contemplando 92% de acertos, enquanto
para o GNMM foi de 50,4 ± 2,40 pontos,
representando 84% de acertos. Para o GNIM, a
média ficou em 42,8 ± 1,92 de acertos,
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caracterizando 71,3% dos escores obtidos nesta
avaliação. Desta forma, todos os atletas
obtiveram acima de 50% em seus escores de
acertos.
Tabela 1 - Resultados descritivos obtidos na avaliação dos níveis metacognitivos dos atletas através da ficha de
observação do conhecimento metacognitivo (fcom).
Grupo Nível Grupo Nível Grupo Nível
Superior de Metacognição (GNSM)
Médio de Metacognição (GNMM)
Inferior de Metacognição (GNIM)
N 5 5 5
Nível Metacognitivo 55,2 ± 1,30 50,4 ± 2,40 42,8 ± 1,92
Percentual de Acertos (%) 92 84 71,3
A Tabela 2 representa os escores médios de
reação motora obtidos pelos grupos
metacognitivos.
Para a análise referente ao TRS, o GNSM
alcançou uma média de 274 ± 5,84; GNMM
obteve uma média de 273,9 ± 22,03; e o GNIM
uma média de 292 ± 31,05. Estes dados
demonstram uma similaridade nos escores de
reação, entre os grupos com um maior nível de
metacognição. As médias dos escores do TRD
para o GNSM 317 ± 4,3; GNMM 334 ± 28,1; e
GNIM 352 ± 13,74 foram maiores em relação ao
TRS. Os grupos com níveis altos de
metacognição apresentaram escores mais baixos
em relação aos grupos com níveis baixos de
metacognição. As médias dos escores do
TRDTC para o GNSM 321 ± 5; GNMM 352 ±
43,4; e GNIM 363 ± 15,7, ficaram enquadradas
com escores mais altos em relação aos testes
anteriores, entretanto só o GNSM conseguiu ser
mais rápido em relação ao GNMM e o GNIM.
Tabela 2 - Resultados descritivos dos escores médios de reação motora, com seus respectivos desvios padrão
dos grupos metacognitivos.
Grupo Nível Grupo Nível Grupo Nível
Superior de Metacognição
(GNSM)
Médio de Metacognição
(GNMM)
Inferior de Metacognição
(GNIM)
Tempo de Reação Simples (TRS) ms 274 ± 5,84 273,9 ± 22,03 292 ± 31,05
Tempo de Reação Discriminação (TRD) ms 317 ± 4,3 334 ± 28,1 352 ± 13,74
Tempo de Reação Discriminação Tarefa Complexa (TRDTD) ms 321 ± 5 352 ± 43,4 363 ± 15,7
ms- milésimos de segundos
Pela análise na estatística inferêncial
ANOVA, nos escores do Tempo de Reação
Discriminação (TRD), ocorreu uma diferença
significativa entre os grupos, considerando o F =
4,701, (gl1) 2, (gl 2) 12 e o p = 0,031<0,05.
Tabela 3 - Resultado da estatística inferencial das variáveis de reação motora entre os grupos metacognitivos.
Variáveis Grupos Grupos Sig.
Tempo de Reação Simples (TRS)
GNSM GNMM 1,00
GNSM GNIM 0,43
GNMM GNIM 0,42
Tempo de Reação Discriminação (TRD)
GNSM GNMM 0,33
GNSM GNIM 0,02*
GNMM GNIM 0,28
Tempo de Reação Discriminação Tarefa Complexa (TRDTC)
GNSM GNMM 0,19
GNSM GNIM 0,06
GNMM GNIM 0,80
* Índice de significância p < 0,05
No entanto, conforme o teste de post hoc de
Tukey, verificou-se essa diferença significativa
em uma única comparação GNSM-GNIM (p=
0,02), conforme observado na TABELA 3,
acima e na Figura 1, abaixo.
Eficácia do processamento mental em jogadores de voleibol com níveis metacognitivos diferenciados 47
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TESTES DE REAÇÃO MOTORA
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
TRS
TRD
TRDTC
TEMPO (ms)
GNSM
GNMM
GNIM
*
Figura 1 - Escores médios dos grupos
metacognitivos com os seus desvios
padrão.
* Significativamente menor do que o GNIM (p < 0,05)
DISCUSSÃO
Fato importante na análise da Ficha de
Observação do Conhecimento Metacognitivo
(FOCM), aplicado na seleção dos atletas que
compuseram os grupos neste estudo foi que os
escores obtidos pelos grupos foram acima da
média, considerando-se o total máximo de (60)
sessenta pontos que os grupos poderiam obter.
Isto é, todos os três grupos metacognitivos
acertaram mais de 50% da possibilidade de
escore. Vale ressaltar que, os atletas
selecionados para comporem o Grupo Nível
Superior de Metacognição (GNSM), pertenciam
à equipe “titular”, mostrando assim que esta
forma de observação pode ser uma grande
“ferramenta” para os técnicos, na composição de
suas equipes.
O conteúdo do teste de metacognição
caracterizou-se por questões que requeriam
respostas de dependência de capacidade
metacognitiva. Os resultados obtidos neste teste
foram ao encontro dos resultados obtidos por
Oliveira, Beltrão e Silva (2003), em estudo feito
sobre metacognição em jovens atletas, nos quais
foram analisados os resultados dos grupos a
partir da modalidade desportiva praticada, neste
caso o voleibol e o futebol. Observou-se que em
referência ao mesmo teste de conhecimento
metacognitivo, o grupo praticante de voleibol
revelou-se significativamente superior ao grupo
de futebolistas. Estas diferenças talvez
pudessem ser explicadas pelas metodologias
aplicadas ao futebol (SILVA, 2000). Sabe-se
que cerca de apenas 5% do treinamento
desportivo, em geral, é de caráter
neurogênico(adaptações neurais operacionais
relativas a motricidade) ou bioperacional. O
treinamento bioperacional corresponde à
capacidade do Sistema Nervoso para estruturar,
implementar e regular (controlar) , resultantes
físicas da produção relacionadas à natureza
mecânica do movimento como; freqüência de
disparos, promoção de sinapses, geração de
impulsos, ou seja, mecanismos neuromusculares.
Suas funções estão implícitas, no processamento
mental humano, ocasião em que, o cérebro e a
mente, se conjugam em elaboração dos
pensamentos. Seria a capacidade do indivíduo
de processar, em percepção, abstração e lógica.
No entanto, num planejamento convencional, as
competências cognitivas necessárias para uma
ótima aprendizagem não são contempladas
(SILVA, 2002; SILVA, 2005).
O Teste de Reação Simples (TRS), aplicado
aos grupos metacognitivos mostrou que os
resultados não foram estatisticamente
significativos na comparação intergrupos
(p>0,05). Este fato pode ser explicado com a
ajuda de Kida, Oda e Matsumura (2005), que
realizaram um estudo envolvendo jogadores de
baseball (rebatedores), tenistas universitários e
indivíduos não atletas (todos japoneses). Os
resultados indicaram que o tempo de reação
simples não foi significativamente diferente
quando comparado entre os grupos. Isso
demonstrou que o tempo de reação simples não
é um fator preditor de performance (ANDRADE
et al., 2005). Dessa forma, o que pode
diferenciar os grupos metacognitivos nesta
variável seria o tempo de processamento de uma
informação, e não o tempo que o atleta leva para
reagir especificamente, pois nas tarefas muito
simples os tempos de reação refletiriam mais os
processos sensório-motores do que processos
cognitivos no tratamento de informação
(RIBEIRO; ALMEIDA, 2005a; CHAGAS et al.,
2005).
O Teste de Reação Discriminação (TRD),
aplicado aos grupos metacognitivos, mostrou
que apenas os atletas que compuseram o Grupo
Nível Superior de Metacognição (GNSM),
demonstraram serem estatisticamente eficientes
em seus escores médios, em relação ao Grupo
Nível Inferior de Metacognição (GNIM)
(p=0,02). Estes resultados estão de acordo com
os resultados encontrados por Ribeiro e Almeida
(2005b), que demonstraram que os níveis
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superiores de inteligência podem tornar o sujeito
mais hábil no uso de estratégias eficazes de
lidar, concomitantemente com maiores
quantidades de informações e com o seu
processamento. Esta “leitura” parece bastante de
acordo com a existência de um “executivo
central” inerente a toda a cognição, mais
concretamente uma estrutura neurológica de
ativação e atenção que asseguraria um fluxo
organizado da informação na memória de
trabalho (VASCONCELOS; ALBUQUERQUE,
2006). Assim, Fontani et al. (2006) em seu
estudo, identificaram em atletas experientes de
voleibol, uma alta atenção e estabilidade
referente aos escores de tarefas de reações
complexas, em relação aos atletas não
experientes. Portanto, parece que o emprego de
estratégias metacognitivas influencia
significativamente o “conhecimento de base”, no
campo da aprendizagem motora (FLAVELL,
1979). Neste caso, o conhecimento torna-se
marcante nas diferenças entre experts e
indivíduos novatos no desempenho de
habilidades motoras através dos componentes
atencionais, em uma grande variedade de
modalidade esportiva.
O Tempo de Reação Discriminação Tarefa
Complexa (TRDTC) foi caracterizado, por um
nível maior de elementos a serem processados
pelos grupos metacognitivos. Assim, as
correlações ganham ainda maior relevância
estatística quando os estudos envolvem os
tempos de reação em tarefas mais complexas. A
análise dos dados deste teste demonstrou não
haver diferenças estatísticas entre os grupos
metacognitivos (p>0,05). A não diferença
intergrupos (p>0,05) pode ser explicada pelo
alto grau de dificuldade oferecido pelo teste.
Mesmo com os níveis elevados de metacognição
apresentados pelos grupos, os atletas
encontraram uma enorme dificuldade de
processarem as informações. Ribeiro e Almeida
(2005b), sobre este fato, afirmam que as
correlações aumentam à medida que elevamos a
complexidade das tarefas em relação aos
sujeitos mais hábeis do ponto de vista cognitivo.
É certo também que, a partir de um determinado
nível de complexidade, os coeficientes de
correlação deixam de aumentar. Pode-se
entender então que, se a tarefa ultrapassar o
limiar de capacidade de memória de trabalho
dos atletas, o cérebro receberá uma sobrecarga
das informações a serem processadas e isto pode
gerar “pane” nos circuitos de memória. Este fato
pode mascarar os resultados dos escores e
dificultar a diferenciação entre grupos
(RIBEIRO; ALMEIDA, 2005a).
Pelos resultados analisados neste estudo
pode-se considerar que a baixa dispersão dos
escores em reação motora do Grupo Nível
Superior de Metacognição (GNSM) e a sua
superioridade representada pelos os escores
médios em relação aos dois grupos
metacognitivos pode ser explicado por uma
variável interveniente que não foi mensurada,
mas que se revela importante nesta discussão, a
motivação. Os atletas demonstraram uma maior
satisfação ao executarem os testes propostos,
pois as tarefas aplicadas foram constituídas de
alguns elementos similares, gerando uma ligação
entre a informação nova e a da memória
preexistente, visto que, esta associação provoca
a liberação de substâncias, como a acetilcolina e
a dopamina, neurotransmissores que aumentam
a concentração e produzem satisfação
(CARVALHO, 2007). Dessa maneira, a mesma
autora (2007) esclarece que a emoção e a
motivação influenciam na aprendizagem, sendo
que os sentimentos intensificam a atividade das
redes neuronais, fortalecem suas conexões
sinápticas, podendo estimular a aquisição, a
retenção, a evocação e a articulação das
informações no cérebro. Diante desse quadro,
destaca-se a importância de contextos que
ofereçam aos atletas os pré-requisitos
necessários a qualquer tipo de aprendizado:
interesse, alegria e motivação.
CONCLUSÕES
Estruturando tudo que foi estudado,
acredita-se que os resultados encontrados nesta
pesquisa constituem importante argumento para
uma afirmativa sobre um possível uso do ensino
de base metacognitiva na área dos desportos. Tal
método de ensino pode-se melhorar as estruturas
neurológicas de ativação e atenção, no que diz
respeito às tarefas complexas de reação motora
que exijam altas análises cognitivas e alta
velocidade de resposta. Desta forma, parece que
as estratégias cognitivas e metacognitivas
Eficácia do processamento mental em jogadores de voleibol com níveis metacognitivos diferenciados 49
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utilizadas pelos sujeitos interferiram
positivamente nas medidas obtidas.
Um maior aprofundamento do assunto em
questão é fundamental. Nesse sentido, faz-se
necessário à verificação, simultaneamente, do
uso do eletroencefalograma (EEG) e da
eletromiografia (EMG) na mensuração do tempo
de reação. O intuito seria o de separar processos
cognitivos do gesto motor em testes de reação
motora. Acredita-se que as principais diferenças
entre atletas novatos e profissionais apareceriam
desta forma.
EFFICACY OF THE MENTAL PROCESSING IN VOLLEYBALL PLAYERS WITH DIFFERENTTIAL
METACOGNITIVE LEVELS
ABSTRACT
The objective of this research was to verify the possible relationship of the speed of mental processing with different
metacognitive levels, in masculine athletes of volleyball. For so, n=15 athletes of the Municipal Foundation of Sports was
used, from Campos of Goytacazes (RJ), with age between 18 and 20 years, divided in three groups, in agreement with the
individual capacity of metacognition. The five superiors scores characterized the Metacognition Superior Level Group
(GNSM), the five medium scores represented the Metacognition Medium Level Group (GNMM) and the five inferior scores
corresponded to the Metacognition Inferior Level Group (GNIM). Results were analyzed in the statistical package ANOVA
(Oneway). Significant differences for Reaction Discrimination Time (TRD). At Tukey’s post hoc it was verified differences
in the comparison between the groups GNSM-GNIM (p = 0,02). It was conclude that the athletes with high metacognitive
level were faster in the comparison between groups.
Keywords: Mental processing. Reaction time and metacognition.
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Recebido em 22/11/2008
Revisado em 18/02/2009
Aceito em 01/03/2009
Endereço para correspondência:
Anderson Pontes Morales. Rua: Doutor Pinto Filho, 153 casa 05. IPS, CEP
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