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Democracia, Estado Social e Reforma Gerencial

Authors:
  • Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas

Abstract

Reflexão sobre os conceitos de Democracia, Estado Social e Reforma Gerencial e sua inter-relação, com a ampliação do tamanho do Estado como pano de fundo.
pensata • DEMOCRACIA, ESTADO SOCIAL E REFORMA GERENCIAL
112 ©RAE São Paulo • v. 50 • n.1 • jan./mar. 2010112-116 ISSN 0034-7590ISSN 0034-7590
DEMOCRACIA, ESTADO SOCIAL E REFORMA
GERENCIAL
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Professor Emérito da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas – São Paulo – SP, Brasil
medida alcança cerca de 40% nos
países desenvolvidos.
Essa transição da administração bu-
rocrática para a gerencial que ocorre
a partir de meados dos anos 1980 foi
uma resposta à necessidade de maior
eficiência, ou menor custo, dos novos
serviços sociais e científicos que o Es-
tado passara a exercer. Neste trabalho,
completo essa análise para dizer que
o inverso é também verdadeiro: a ad-
ministração pública gerencial é um
fator de legitimação política do Esta-
do Social e, dessa forma, neutraliza a
tentativa neoliberal de reduzir os ser-
viços sociais e científicos prestados
pelo Estado.
O ESTADO SOCIAL
Os quatro objetivos políticos que sur-
gem com a formação do Estado mo-
derno são a liberdade, a riqueza ou o
bem-estar econômico, a justiça social
e a proteção da natureza. Esses objeti-
vos, que se somaram ao da segurança,
que já caracterizava o Estado antigo,
correspondem às quatro ideologias
que nasceram com a Revolução Ca-
pitalista. Assim, a liberdade indivi-
dual corresponderá ao liberalismo; a
riqueza ou o crescimento econômico,
ao nacionalismo; a justiça social, ao
Democracia, Estado Social e Reforma
Gerencial são instituições dialetica-
mente inter-relacionadas. Após a Se-
gunda Guerra Mundial, a democracia
permitiu que os trabalhadores e as
classes médias aumentassem suas de-
mandas por serviços sociais, transfor-
mando o Estado Democrático Liberal
em Estado Democrático Social – uma
forma de Estado na qual o consumo
coletivo relativamente igualitário é im-
portante. Este, por sua vez, implicou
um aumento considerável do tamanho
da despesa pública e, em consequên-
cia, tornou-se claro que a adminis-
tração burocrática, que se propunha
apenas a tornar a ação do Estado efe-
tiva, não era eficiente. A Reforma Ge-
rencial que emergiu a partir dos anos
1980 foi uma resposta à demanda por
maior eficiência na oferta de serviços
públicos para o consumo coletivo e
serviu para legitimar o Estado Social.
Desde os meus primeiros trabalhos
(BRESSER-PEREIRA, 1998; 2000)
sobre a Reforma Gerencial do Estado
tenho afirmado que esta ocorreu de-
vido ao grande crescimento do apa-
relho do Estado a partir da Segunda
Guerra Mundial. Comparativamente,
enquanto no Estado Liberal do século
XIX a carga tributária estava em torno
de 5% do PIB, no Estado Democráti-
co Social do final do século XX essa
socialismo; e a proteção da natureza,
ao ambientalismo. Esses objetivos e as
respectivas ideologias são em grande
parte reforçadores uns dos outros, mas
não são plenamente compatíveis. Por
isso, as sociedades democráticas são
pragmáticas, veem-nos de maneira
moderada ou razoável e podem as-
sim assumir os necessários compro-
missos que viabilizam sua realização
combinada.
Para realizar esses objetivos, o Es-
tado se desdobra, historicamente, em
dois: Estado como regime político ou
como sistema constitucional-legal e
Estado como administração pública
ou como organização que garante o
sistema constitucional-legal. No mun-
do contemporâneo, o Estado como
regime político assumiu a forma de
Estado Democrático Social, e como or-
ganização, a de Estado Gerencial. Go-
vernar é fazer os compromissos para
alcançar a maioria, é definir as leis e
políticas públicas, é tomar decisões
estratégicas voltadas para o interesse
público e nacional é aperfeiçoar e
garantir o Estado enquanto regime po-
lítico. Mas governar é também admi-
nistrar a organização do Estado, é es-
colher os principais responsáveis por
sua implantação, é detalhar e colocar
em prática as leis e políticas, é aper-
feiçoar constantemente o aparelho do
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Estado de forma a operar os serviços
públicos com qualidade e eficiência –
é tornar o Estado, Estado Gerencial.
No século XIX, enquanto sistema
constitucional-legal ou regime polí-
tico, o Estado nos países ricos cor-
respondia a uma democracia de elites
– também chamada de schumpeteria-
na o Estado Liberal Democrático.
A transição do Estado Liberal para o
Democrático avançou nos países mais
desenvolvidos na virada do século XX,
na medida em que o último requisito
para uma democracia formal se mate-
rializava (o sufrágio universal).
Em meados do século XX, tem iní-
cio uma democracia de opinião públi-
ca na qual os eleitores aumentam seu
interesse pela política, as pesquisas
de opinião pública passam a auferir
suas preferências e um número cres-
cente de organizações de advocacia
política começa a intervir no proces-
so de formulação e implantação de
leis e políticas públicas. Esse maior
ativismo político dos eleitores leva a
um aumento da demanda social e, em
consequência, ao aumento dos ser-
viços sociais e científicos do Estado,
que passa a assumir funções novas na
proteção do trabalho e do trabalhador.
Ocorre então a transição de uma
forma para outra de democracia e o
Estado Democrático Liberal se trans-
forma no Estado Democrático Social.
Enquanto na democracia de elites es-
tas detêm suficiente poder para não se
deixarem influenciar pelos eleitores
enquanto governam, na democracia
de opinião pública os sindicatos de
trabalhadores e os partidos sociais-
democratas se fortalecem e as elites
políticas são constantemente obriga-
das a auscultar uma opinião pública
constituída por eleitores com deman-
das políticas.
Nessa nova forma de Estado, have
um aumento indireto de salários atra-
vés, de um lado, de leis trabalhistas
protegendo os trabalhadores, e, de ou-
tro, da forte ampliação dos serviços so-
ciais e científicos proporcionados pelo
Estado. O Estado Social que se torna
dominante nos países desenvolvidos
após a Segunda Guerra Mundial foi
resultado desse compromisso ao bus-
car, com razoável êxito, os cinco obje-
tivos do Estado segurança, liberdade,
bem-estar econômico, justiça social e
proteção da natureza – no quadro dos
regimes democráticos.
A IDEOLOGIA NEOLIBERAL
Como reação a esse Estado Social, sur-
ge nos anos 1970 uma onda ideológi-
ca liberal radical – o neoliberalismo.
Através de reformas orientadas para o
mercado, o neoliberalismo ganha for-
ça nas duas décadas seguintes e busca
mudar a natureza do Estado enquanto
instituição constitucional-legal.
Essa ideologia pregava a manu-
tenção do objetivo da segurança, deu
absoluta precedência à liberdade e su-
bordinou os outros três objetivos ao
liberalismo econômico ao promover
a diminuição do tamanho do Estado.
Dessa maneira, propunha a transfor-
mação das duas formas que o Estado
havia assumido nos 50 anos anteriores
o Estado Social, nos países desenvol-
vidos, e o Estado Desenvolvimentista
nos países em desenvolvimento – em
seus principais adversários.
Ao atacar o Estado Social, o neoli-
beralismo estava explicitamente pro-
curando reduzir o tamanho e as fun-
ções sociais do Estado, com o objeti-
vo implícito de enfraquecê-lo. A tese
neoliberal repetia o individualismo
metodológico neoclássico, segundo
o qual apenas pequenos grupos têm
efetiva capacidade de ação coletiva.
Negava, assim, ao Estado sua capaci-
dade principal – a de ser instrumento
dessa ação. Procurava voltar ao tem-
po do Estado Liberal do século XIX –
um Estado não democrático no qual
a burguesia tinha um poder maior do
que tem hoje no Estado Democráti-
co. No Estado Liberal se garantiam
os direitos civis, mas não os sociais,
e nem mesmo os políticos; como se
opunha ao sufrágio universal, não
havia democracia.
Tratava-se de uma reação aos novos
problemas enfrentados pelo sistema
capitalista central nessa década: a re-
dução da taxa de crescimento dos EUA
e da Grã-Bretanha e a diminuição da
taxa de lucro das empresas. As causas
desses dois fenômenos, ambas relacio-
nadas com o maior poder alcançado
pelos sindicatos nos anos 1960, foram
o aumento dos salários reais diretos e
indiretos acima do aumento da pro-
dutividade e o aumento dos salários
indiretos expressos tanto em direitos
trabalhistas quanto na ampliação dos
serviços sociais do Estado.
A ofensiva neoliberal reproduzia a
clássica luta de classes nesse caso,
a iniciativa partindo dos ricos ao
mesmo tempo em que traduzia a ne-
cessidade do capitalismo de restabele-
cer as taxas de lucros. As duas classes
dirigentes – a capitalista ou burguesa
e a profissional ou tecnoburocrática
– buscavam aumentar seus rendimen-
tos, respectivamente os lucros e juros
dos empresários e rentistas, e os orde-
nados e bônus dos altos profissionais
que controlam o conhecimento téc-
nico, organizacional e comunicativo.
Isto ficou claro, por exemplo, com a
redução da progressividade do impos-
to de renda ocorrida em quase todos os
países a partir da ofensiva neoliberal.
O Estado, na área econômica e
social, não é, como supõem os neo-
liberais, apenas uma espécie de mal
necessário em contraposição a um
bem em si mesmo que é o mercado.
Historicamente, é o instrumento por
excelência de ação coletiva da nação.
É o instrumento que cada sociedade
nacional usa para alcançar seus cin-
co objetivos políticos. É a institui-
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ção maior de qualquer sociedade. É
a instituição cujo papel é de regular
e coordenar com autoridade as ações
sociais de todos os tipos. É a institui-
ção que, no plano econômico, regula
uma outra instituição-mecanismo de
concorrência – o mercado – na coor-
denação da produção e da distribuição
de renda. As sociedades continuam a
contar fundamentalmente com o Esta-
do para alcançar seus objetivos políti-
cos, enquanto contam com o mercado
para promover a alocação eficiente dos
recursos de forma a lograr o desenvol-
vimento econômico, mas, mesmo para
isso, sabem que precisam do Estado
para corrigir as falhas do mercado e
promover a acumulação de capital e o
progresso técnico e científico.
A ideologia neoliberal alcançou seu
auge no início dos anos 1990 com o
colapso da União Soviética e está em
decadência desde o início dos anos
2000. Essa crise, que se traduz na di-
minuição da hegemonia ideológica
da grande potência que divulgou as
ideias neoliberais – os EUA – decorre,
de um lado, do fracasso das reformas
neoliberais em alcançar o desenvolvi-
mento econômico na América Latina
e na África, onde elas foram mais in-
sistentemente adotadas; de outro, da
derrota dos EUA na guerra do Iraque.
Os sintomas dessa decadência são
as eleições de candidatos nacionalis-
tas e de esquerda na América Latina
e o fracasso em destruir ou mesmo
reduzir o Estado Social nos países ri-
cos. Mesmo nos EUA e na Inglaterra,
que foram o berço do neoliberalismo,
a redução do Estado não aconteceu.
Qual a razão desse fracasso? O neo-
liberalismo, que soçobrou com a crise
financeira global de 2008, não logrou
convencer os cidadãos das antigas (e
também das novas) democracias a
abandonar ou a colocar em segundo
plano o objetivo atribuído ao Estado
de garantir seus direitos sociais. De
1980 para cá, ainda que a flexibiliza-
ção dos contratos de trabalho tenha
provocado alguma diminuição nas
leis de proteção trabalhista, os traba-
lhadores, em compensação, obtiveram
maior garantia quanto à obtenção de
auxílio desemprego, lograram o au-
mento dos serviços sociais do Estado,
principalmente os de saúde, e atribu-
íram ao Estado Social uma nova mis-
são: proteger o meio ambiente. Em
consequência, as despesas sociais e
científicas do Estado aumentaram, ao
invés de diminuírem.
REFORMA GERENCIAL
Em meio a essa onda ideológica neo-
liberal, surgiu na Grã-Bretanha, na
segunda metade dos anos 1980, a Re-
forma Gerencial do Estado – a segunda
grande reforma do aparelho do Estado
moderno, também chamada de Refor-
ma da Gestão Pública. Inspirava-se
nas estratégias de gestão das empre-
sas privadas, e sua teoria foi chamada
de Nova Gestão Pública; ou seja, uma
série de ideias desenvolvidas a partir
do final dos anos 1980 que buscavam
tornar os administradores públicos
mais autônomos e responsáveis, e as
agências executoras dos serviços so-
ciais mais descentralizadas.
A administração pública burocráti-
ca era apropriada para o Estado Liberal
do século XIX e se limitava a exercer
as funções de polícia e justiça; nesse
período, a carga tributária só aumen-
tava em momentos de guerra. No Es-
tado Democrático Liberal, o tamanho
do Estado era pequeno e a adminis-
tração pública burocrática continua a
se aplicar. Com o grande aumento do
tamanho do Estado, foi se tornando
clara a ineficiência da administração
pública burocrática.
A Reforma Gerencial surge como
consequência administrativa da con-
solidação do Estado Social e ao mes-
mo tempo como instrumento e fator
fundamental de sua legitimação. O
Estado Social só pôde ser pensado e
em seguida estabelecido porque a ad-
ministração pública burocrática pro-
porcionava um mínimo de eficiência
que o tornava economicamente viável.
Entretanto, na medida em que avan-
çam as reformas sociais, foi ficando
claro que esse mínimo era insuficien-
te. O aumento do custo dos serviços
do Estado impôs a adoção da Reforma
Gerencial. Essa imposição, porém, não
era apenas fiscal, mas também políti-
ca. Para que o Estado Social se man-
tivesse legitimado em face da ofensiva
neoliberal era necessário tornar suas
ações substancialmente mais eficien-
tes. Era necessário proceder à Reforma
Gerencial.
O Estado Social implica tornar co-
letiva ou pública a oferta dos servi-
ços de educação, saúde e previdência
social; e tornar coletivo, ao invés de
individual, seu consumo. Para que
esses serviços gratuitos e iguais para
todos fossem viáveis, era preciso que
o Estado fosse capaz de oferecê-los de
forma não apenas efetiva, mas também
eficiente. A administração burocrática
se havia revelado efetiva; tornou-se,
entretanto, claro que, na medida em
que a dimensão dos serviços sociais do
Estado aumentava, a efetividade não
era suficiente. Era preciso controlar o
custo dos serviços realizados direta-
mente por servidores públicos estatu-
tários que se revelavam altos demais.
Esses custos refletiam não apenas
o maior volume dos serviços, mas
também a ineficiência neles embuti-
da devido à rigidez da administração
burocrática. A ineficiência da adminis-
tração pública burocrática tornava-se
uma ameaça para a legitimidade do
Estado Social e, em consequência,
abria espaço para o ataque da ideolo-
gia neoliberal.
A ideologia neoliberal afirmava que
a oferta e o consumo privado eram in-
trinsecamente mais eficientes do que
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a oferta pública e o consumo coleti-
vo. Entretanto, não obstante a grande
pressão da hegemonia neoliberal na
época, a sociedade continuava a de-
mandar os serviços públicos – conti-
nuava a preferir o consumo coletivo
que se traduzia em serviços sociais e
científicos gratuitos ou quase-gratui-
tos, e continuava a apoiar um sistema
de previdência social estatal garanti-
dor de uma renda básica.
A tese neoliberal de que o consumo
público poderia ser substituído com
vantagem pelo privado não foi aceita
pela sociedade. A demanda continua-
da dos cidadãos por consumo coletivo
não deixou dúvidas. Não bastava, en-
tretanto, argumentar a favor do Estado
Social a partir apenas dessa demanda.
Era preciso também mudar as condi-
ções de oferta dos serviços, era preciso
mostrar que o Estado estava usando
bem os recursos dos impostos, que os
contribuintes não estavam “jogando
dinheiro bom em cima de dinheiro
ruim” – uma frase típica dos oponen-
tes do Estado Social.
A Reforma Gerencial foi a resposta
a esse desafio ao modificar a forma de
administrar a oferta dos serviços. Ela
(1) torna os gerentes dos serviços res-
ponsáveis por resultados, ao invés de
obrigados a seguir regulamentos rígi-
dos; (2) premia os servidores por bons
resultados e os pune pelos maus; (3)
realiza serviços que envolvem poder
de Estado através de agências execu-
tivas e reguladoras; e o que é mais
importante – (4) mantém o consumo
coletivo e gratuito, mas transfere a
oferta dos serviços sociais e científicos
para organizações sociais, ou seja, para
provedores públicos não estatais que
recebem recursos do Estado e são con-
trolados através de contrato de gestão.
Através dessas quatro características
– principalmente da última – o poder
público garante os direitos sociais,
mas transfere sua provisão ou oferta
para organizações quase estatais que
são as organizações sociais.
Como surgiam em um momento
em que a ideologia neoliberal ganhava
espaço, e em um país com um gover-
no neoliberal, as novas ideias foram
etiquetadas como neoliberais. Depen-
dendo de seu autor, de fato eram. Na
verdade, a Reforma Gerencial é com-
patível tanto com governos de esquer-
da quanto de direita, mas ao tornar
eficientes os serviços sociais e científi-
cos prestados pelo Estado, ela legitima
politicamente o Estado Social.
A adoção da Reforma Gerencial
por partidos políticos independen-
temente de sua cor ideológica não é
surpreendente, porque é a segunda
reforma histórica do aparelho do Es-
tado moderno. Essa Reforma ocorreu
para dar conta de um Estado Social
muito maior em termos de número
de funcionários e de despesa pública.
Ela partia dos avanços logrados pela
primeira, mas seu objetivo não era
mais somente tornar a ação do Esta-
do mais efetiva, mas também torná-la
eficiente na área social e científica, nas
quais se emprega um grande número
trabalhadores em atividades não ex-
clusivas de Estado.
Como se trata de uma reforma ne-
cessária quando o Estado se transforma
num Estado Social e, do ponto de vista
administrativo, deixa de ser o Estado
Burocrático para ser o Estado Geren-
cial, sua implantação é uma questão de
tempo e de qualidade. Cada país ou se
adianta em realizá-la, ou fica para trás e
arca com os custos do atraso; ou a im-
planta com competência, ou de forma
equivocada e confusa.
EXPERIÊNCIAS DE IMPLANTAÇÃO
DA REFORMA GERENCIAL
A legitimação do Estado Social pela
Reforma Gerencial pode ser obser-
vada em um sem-número de casos.
Um exemplo é o que ocorreu na Grã-
Bretanha laboratório da ideologia
neoliberal durante o governo de Mar-
gareth Thatcher, ao mesmo tempo
país em que se originou a Reforma
Gerencial. Tony Blair chegou ao gover-
no em 1997, depois de quase 20 anos
de governos neoliberais. Ainda que
os trabalhistas criticassem a Reforma
no tempo em que estavam na oposi-
ção, quando chegaram ao governo a
mantiveram e a aprofundaram. Ao
mesmo tempo, aumentaram a carga
tributária para melhorar a qualidade
dos serviços de saúde e educação. Tor-
naram, assim, a administração desses
serviços mais eficiente, e esse foi um
argumento fundamental usado por
Blair para legitimar sua política social
que aumentava o tamanho do Estado
ao elevar a despesa pública e a carga
tributária. Margareth Thatcher não lo-
grou extinguir o Estado Social; o má-
ximo que conseguiu foi não aumentar
a carga tributária. Tony Blair mudou
a direção e avançou mais no caminho
do Estado Social aumentando o con-
sumo coletivo de serviços sociais, en-
quanto procurava transferir a oferta
desses serviços para entidades públi-
cas de direito privado. Nesse caso, a
Reforma Gerencial foi essencial para
que o Estado Social pudesse ser assim
fortalecido.
Quando, em 1995, a Reforma Ge-
rencial foi lançada no Brasil, ela tam-
bém foi criticada como sendo neoli-
beral. Hoje, porém, essas acusações
estão quase esquecidas tanto na Eu-
ropa quanto no Brasil, porque ficou
claro que sua consequência primeira
foi fortalecer o próprio Estado e não
enfraquecê-lo como almejavam os
neoliberais. O equívoco de vincular
a Reforma Gerencial de 1995 com o
neoliberalismo foi evidenciado pelo
fato de as diretrizes básicas do Plano
Diretor da Reforma do Aparelho do Es-
tado continuarem a ser implantadas
no nível federal e em muitos Estados
e municípios, independentemente da
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orientação política dos respectivos
governos.
Uma característica central da Refor-
ma Gerencial brasileira foi a distinção
entre atividades exclusivas do Estado,
que envolvem poder de Estado, e as
atividades não exclusivas que devem
ser realizadas por organizações públi-
cas não estatais. Essas organizações
sociais garantem uma flexibilidade e
uma eficiência administrativa maiores.
Os resultados alcançados pelos novos
hospitais do Estado deo Paulo, todos
constituídos sob a forma de organiza-
ções sociais, são definitivos a respeito.
Duas outras experiências significa-
tivas no Brasil merecem destaque: uma
no governo FHC, com o SUS, e a ou-
tra no governo Lula, com o Programa
Bolsa Família. Quando começou o pri-
meiro governo de Fernando Henrique
Cardoso, em 1995, o Sistema Único
de Saúde, criado pela Constituição de
1988 para garantir o direito universal
aos serviços de saúde, estava em crise.
Não se havia ainda logrado estabelecer
um sistema de financiamento para o
SUS, e os hospitais envolvidos ofere-
ciam serviços deficientes e se envol-
viam com frequência em denúncias de
corrupção. A norma que regulava os
serviços não dava conta do problema.
Entretanto, ao final de 1996, come-
çou uma grande reforma gerencial do
SUS com base na Norma Operacional
Básica (NOB) 96, ao mesmo tempo
em que se definiam fontes de financia-
mento para os serviços. Hoje, o SUS
é um sistema universal de saúde que
atende a um direito básico da cidada-
nia com qualidade razoavelmente boa
e custo muito baixo (menos de R$ 2
por habitante-dia). O segredo está, de
um lado, na grande mobilização que
ocorreu para a definição e implantação
do SUS, e no controle social exercido
pelos cidadãos em sua decorrência,
e, de outro, na forma de administra-
ção gerencial, distinguindo a oferta
da procura de serviços e dando aos
municípios um papel muito maior em
contratar os hospitais que prestam os
serviços.
Fenômeno semelhante está ocor-
rendo com a Bolsa Família no go-
verno de Luiz Inácio Lula da Silva.
Inicialmente, a ideia era a de distri-
buir cestas básicas em um programa
denominado Fome Zero. Entretanto,
logo se verificou que esse programa
estava mal formulado e mal adminis-
trado. Optou-se, então, por unificar
e administrar gerencialmente as di-
versas bolsas em dinheiro e espécie
que existiam até então, dar a todas
o nome de Bolsa Família e aumentar
consideravelmente sua abrangência.
O resultado foi positivo. Enquanto o
programa Fome Zero havia sido ob-
jeto de críticas permanentes, a Bolsa
Família revelou-se efetiva em atender
a um custo baixo os realmente pobres.
Existe, sem dúvida, a crítica de que
esse programa não estimula o traba-
lho e é focado, ao invés de universal.
É indiscutível, porém, que os recursos
públicos estão sendo usados de modo
eficiente e atendem de forma efetiva as
famílias socialmente excluídas.
Embora os representantes do Par-
tido dos Trabalhadores enquanto es-
tavam na oposição fossem críticos da
Reforma Gerencial, o governo Lula
vem adotando muitos dos seus princí-
pios. O emprego de técnicas gerenciais
na administração da Bolsa Família e na
reforma da Previdência, assim como
a exigência do Ministério da Educa-
ção de que as universidades federais
que adotam o Programa de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais (REUNI)
elaborem planos estratégicos, são duas
demonstrações desse fato.
CONCLUSÃO
Temos, assim, entre o Estado Social
e a Reforma Gerencial uma relação
dialética: a constituição de um Esta-
do que também é chamado de Estado
do Bem-Estar, ao implicar um grande
aumento da organização estatal, exi-
ge que sua gestão seja mais eficiente;
por sua vez, a Reforma Gerencial re-
sultante, ao contribuir para essa maior
eficiência ou redução de custos, tem
um papel importante na legitimação
das ações do Estado, visando oferecer
serviços de consumo coletivo que, por
sua natureza, são mais igualitários do
que os serviços pagos individualmente
pelos atendidos.
A Reforma Gerencial nasceu da
pressão por maior eficiência ou me-
nores custos que se seguiu à trans-
formação do Estado Democrático
Liberal em Estado Democrático So-
cial. Por outro lado, ao significar,
do ponto de vista administrativo, a
transição do Estado Burocrático para
o Estado Gerencial, revelou-se um
instrumento fundamental das socie-
dades modernas para neutralizar a
ideologia neoliberal que buscava di-
minuir o tamanho do Estado na me-
dida em que, ao tornar mais eficiente
(embora jamais tão eficiente quanto
gostaríamos) a provisão dos serviços
sociais públicos ou coletivos, legitima
o próprio Estado Social, e garante seu
aprofundamento futuro.
REFERÊNCIAS
BRESSER-PEREIRA, L. C. Da administração
pública burocrática à gerencial. In: BRESSER-
PEREIRA, L. C; SPINK, P. (Org) Reforma do Estado
e administração pública gerencial. Rio de Janeiro:
Fundação Getulio Vargas, 1998.
BRESSER-PEREIRA, L. C. State reform in the
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BURLAMAQUI, L; CASTRO, A. C; CHANG,
H.-J. (Eds) Institutions and the role of the State.
Cheltenham: Edward Elgar, 2000. v. 1, p.
175-219.
... A sociedade anseia que as práticas de governança sejam aplicadas não apenas às empresas privadas, mas também às administrações públicas (De Benedicto et al., 2008). Por exemplo, nos anos 1990, importar ferramentas da iniciativa privada para a gestão pública parecia ser a última fronteira das reformas do Estado (Bresser-Pereira, 2010). Atualmente, como exemplo de ferramenta, é possível citar a contratualização que pressupõe que o estabelecimento de resultados desejados é necessário e seu alcance pode ser, em alguma extensão, programado induzido e controlado (Ostrom, 2019). ...
Article
Objetivo: Analisar as prestações de contas dos contratos de obras públicas do estado de Minas Gerais, sob a ótica da aplicação dos três princípios de governança, no contexto do setor público (openness, integrity, accountability). Método: Este estudo se caracteriza como descritivo, explicativo e quantitativo e, quanto aos procedimentos técnicos, como pesquisa bibliográfica e documental. A amostra desta pesquisa é composta por 96 contratos de obras de competência do Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem (DEER/MG). Originalidade/Relevância: A pesquisa contribuiu para constatar a necessidade de melhorias na disponibilidade de dados no site do Tribunal de Contas, para garantia da transparência do que é apresentado à população. Resultados: Apurou-se que o cumprimento dos três princípios de governança corporativa na amostra foi insuficiente. Ao analisar as prestações de contas dos contratos de obras públicas do estado de Minas Gerais, sob a ótica da aplicação dos três princípios de governança no contexto do setor público (openness, integrity, accountability), foi possível identificar que a ausência dos dados dos contratos disponíveis no site do TCE/MG prejudica ambos os princípios. Contribuições Teóricas: A governança, nos contratos públicos, deve ser institucionalizada e não apresentada de forma fragmentada. Contribuições Sociais/para a Gestão: O estudo fornece elementos para que a gestão de contratos de obras públicas possa ter a influência dos princípios de governança corporativa, de forma a minimizar efeitos indesejáveis de má gestão de recursos públicos. Além disso, esta pesquisa chama a atenção para a disseminação de boas práticas de gestão de contratos de obras públicas.
... A ineficiência do modelo ameaçava a própria sobrevivência do Estado Social. Em especial, duas instituições necessitavam urgentemente de aprimoramentos: a Democracia, que necessitava se tornar mais direta e participativa, e a Administração, que deveria ser menos burocrática e mais gerencial (BRESSER PEREIRA, 1997;BIDERMAN, 2004;AVARTE, 2004;BRESSER PEREIRA, 2010 ...
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A Súmula Vinculante 53, publicada com a pretensão de pacificar conflito de competência referente à execução de contribuições previdenciárias, relegou definitivamente à Justiça Federal (JF) a prerrogativa de cobrar os valores decorrentes de sentenças declaratórias proferidas na Justiça do Trabalho (JT). Essa medida acaba adiando por vários anos a cobrança e o recebimento de um montante significativo de receitas tributárias uma vez que, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a execução na seara trabalhista se processa de maneira muito menos burocrática e, portanto, bem mais célere do que a execução fiscal realizada no âmbito da Justiça Federal. Esse procedimento fere frontalmente o princípio constitucional da eficiência, primeiro no que diz respeito ao direito fundamental à boa administração, e segundo, com relação ao próprio conceito extraído das decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal de Contas da União (TCU), que o associam principalmente à ideia de economicidade.
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As organizações privadas e as públicas passaram a utilizar modernas técnicas de gerenciamento, incluindo-se as estratégias de gestão de projetos. A ideia sobre estas práticas como meio para o desenvolvimento seguro de empreendimentos eficientes é bastante propagada. No Brasil, esta utilização é mais intensa nas empresas privadas. Observa-se pouco uso nos órgãos governamentais pela falta de conhecimento desses processos gerenciais, ou a inexistência de incentivos justificam seus desusos no setor público. Este estudo busca aplicar técnicas do PMBOK® (Project Management Institute) para solucionar problemas relacionados à implementação de programas de segurança alimentar e nutricional em município. Valendo-se de procedimentos metodológicos qualitativos, descrições, caracterizações, apoiadas nas técnicas de revisão da literatura, análise de documentos, normativas e aplicação num Estudo de Caso. Constatou-se a viabilidade no emprego dos procedimentos Árvore de Problemas e Árvore de Objetivos, Matriz de Planejamento do Projeto, Estrutura Analítica do Projeto (EAP), Diagrama de Precedência, Lista Detalhada de Atividades e Cronograma. É possível intervir num problema na execução de ações públicas para alimentação e nutrição em território municipal. Por fim, esta pesquisa teve a pretensão de contribuir para maior difusão do uso dos procedimentos de gerenciamento de projetos no âmbito público e, também, para tornar suas ferramentas de gestão mais conhecidas e usadas na condução de processos governamentais e implementação de programas.
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This research project aims to investigate the interactions between ethical consumption, civic engagement, and the impacts of the 4th Industrial and Social Revolutions. The research seeks to understand how these dimensions relate to and mutually influence each other in a socio-cultural and economic context that is constantly evolving. To achieve this objective, a systematic literature review will be conducted, encompassing multidisciplinary studies addressing the themes of ethical consumption, civic engagement, and the advancements of the 4th Industrial and Social Revolutions. The review will be grounded in theories and concepts that help elucidate the Finally, a framework will be presented outlining the potential impact of the key technologies of the 4th Industrial Revolution on the dimensions of ethical consumption and civic engagement. This framework may contribute to consumer awareness and the development of more conscious and sustainable consumption practices. Additionally, the study aims to identify effective ways to integrate ethical consumption and civic engagement within the context of the 4th Industrial Revolution, aiming to drive a positive transformation toward a more just, equitable society committed to ethical and civic values.
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A responsividade dos governantes eleitos em relação à população e aos órgãos de controle da administração pública é um dos elementos essenciais dos regimes democráticos. Esta concepção, assim como a demanda crescente das sociedades por serviços públicos de maior qualidade, vem fazendo com que a gestão pública sofra uma revolução silenciosa, tanto na prestação de serviços públicos como no controle externo aos governos. Parte essencial dessas mudanças diz respeito ao aumento significativo no uso de práticas de gestão do setor privado, como é o caso da mensuração de performance, tanto pelos órgãos auditores como pela própria gestão pública. O objetivo do presente artigo é compreender a relação entre a discussão teórica sobre responsabilização de governos, a accountability, e o crescente uso da mensuração de performance no setor público. Para isso, faz-se uso de revisão estruturada de literatura e também de breve discussão sobre um caso brasileiro.
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O presente estudo tem por objetivo avaliar o desempenho da gestão da carteira imobiliária da Universidade de Brasília (UnB), a partir de quatro indicadores-chave: (i) custos operacionais; (ii) taxa de ocupação; (iii) receitas; (iv) satisfação e participação da comunidade. O período de análise foi entre os anos de 2010 a 2020. Os resultados evidenciariam: crescentes custos operacionais, especialmente com reformas e manutenção dos imóveis; uma ótima taxa de ocupação dos imóveis, que, por sua vez, propiciaram receitas constantes no período. Nesse tempo, se observou uma mudança de estratégia dos preços praticados aos servidores, alinhando-os aos de mercado. Em relação à satisfação positiva dos usuários, moradores e ex-moradores, destacaram-se a segurança e localização dos imóveis. Nos aspectos que necessitam maior aprimoramento estão a celeridade na manutenção dos imóveis e a prática de preços condizentes com a qualidade da infraestrutura do imóvel, bem como que sejam criados mecanismos para uma gestão participativa da comunidade acadêmica.
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Escolas charter nos Estados Unidos da América são entendidas como públicas, mas gerenciadaspor entes privados. No Brasil, existem formas de privatização semelhantes há décadas, comoas escolas conveniadas. A partir de 2015, surgiram projetos inspirados nas escolas charter queapresentam diferenças em relação aos convênios. Podem ser citados: os Contratos de Gestão naeducação de Goiás; as Escolas Comunitárias de Porto Alegre; e o Projeto Somar de MinasGerais. O principal objetivo aqui é analisar as diferenças entre convênios, charter e “charterbrasileiras”, a fim de compreender as iniciativas citadas. Foi realizada uma análise documentalem textos normativos, tais como editais, termos de colaboração e termos de fomento; e textosinformativos, como notícias publicadas nos sítios oficiais das secretarias de educação eentrevistas para jornais. Ao contrário dos convênios, que se justificam pela incapacidade deoferta estatal, as iniciativas são marcadas pelo discurso da inovação e da eficiência e sãopropostas como estratégias para melhorar os índices de proficiência. Conclui-se que os projetosapresentam obstáculos para a efetivação do direito à educação. As diferenças entre as charterbrasileiras e os convênios, apesar de sutis, possibilitam que as charter avancem sobre espaços que os convênios não ocupam.
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O gerencialismo é conhecido por facilitar práticas de gestão que possibilitam o exercício do poder por meio de ideologias marcantes na produção da subjetividade dos trabalhadores. Assim, esta pesquisa objetivou investigar como os modos de subjetivação se apresentam, a partir da gestão gerencialista, no cotidiano do trabalho docente em instituições privadas de ensino superior. A pesquisa caracteriza-se como exploratório-descritiva qualitativa, e a coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas com 16 docentes de 3 instituições privadas de Curitiba-PR. Os relatos permitiram compreender que a ideologia gerencialista influencia as escolhas, percepções, expectativas e significados do trabalho. O gerencialismo constrói um método de trabalho centrado no pertencimento e na adesão voluntária, tomando a educação como serviço que deve atender às demandas do mercado. Os resultados também revelaram que as práticas gerenciais estão ligadas a fatores objetivos e subjetivos. No entanto, elementos de singularidades também se revelam como resistências e reflexões frente às ideologias promovidas pela gestão.
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Objetivo de pesquisa: Analisar a pesquisa sobre a prática da Interação Família-Escola, como uma ação pública desenvolvida em instituições educacionais de um município do Sul de Minas Gerais. Enquadramento teórico: O artigo apresenta a ação empreendedora no setor público, a gestão escolar e o Plano Nacional de Educação, com o propósito de compreender as relações destes conceitos. Metodologia: O artigo utilizou a abordagem qualitativa, explicativa, por meio do estudo de casos múltiplos. Assim, o estudo foi amparado pela triangulação de dados, com complementação de análises documentais e análise de conteúdo das entrevistas com os gestores da secretaria de educação, grupo focal com os gestores de um CMEI e, grupo focal com os responsáveis pelos alunos de uma escola que participa do projeto. Resultados: O projeto Interação Família-Escola, consiste em uma ação empreendedora pública, reconhecendo-se que os gestores da SEDUC em consonância com outras secretarias municipais agiram segundo os critérios e práticas que a configuram, com resultados positivos. Originalidade: Os resultados contribuem para a literatura brasileira, ao relacionar a ação empreendedora pública e a gestão escolar, com o intuito de suprir a carência dessas temáticas de trabalhos em diversas áreas de estudo. Contribuições teóricas e práticas: Espera-se favorecer o entendimento de como esse projeto funciona na prática, por meio das suas contribuições e desafios para a vida dos professores, alunos, família e sociedade. Uma outra contribuição é para os estudos relacionados às ações empreendedoras no setor público brasileiro, principalmente ao se tratar do contexto educacional, pois ainda há uma carência de trabalhos relacionados à essa temática. Ademais, tem-se uma contribuição para o campo da gestão social, uma vez que a ação empreendedora pública possui aproximação com muitos preceitos da gestão social.
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https://n9.cl/ollwm Revolución informacional, cuestión social y ampliación de la asistencia en Uruguay a principios del siglo xxi The information revolution, social issues and the expansion of assistance in Uruguay at the beginning of the 21 st century Este artículo reflexiona sobre la política de las asignaciones familiares en Uruguay. Está vigente desde 1943, fue ajustada mediante el uso de las tecnologías y mo-dificada en sus principios originales en 2005, con la llegada del Gobierno del Frente Amplio. Al mismo tiempo, se busca analizar cómo el desarrollo tecnológi-co, mediante el instrumento de Índice de Carencias Críticas (ICC), que tiene por propósito elegir a los hogares en situación de vulnerabilidad socioeconómica que le son entregadas las asignaciones familiares, modificó la Administración pública uruguaya, las relaciones laborales y la organización del trabajo. En términos me-todológicos se revisan leyes de 1943, 2005 y 2007, además de fuentes secunda-rias de apoyo que evidencien el tipo de personas beneficiarias y recorrido de las asignaciones. La incorporación de las tecnologías tiende a despolitizar la pobre-za, mientras que la vigilancia y supervisión de las asignaciones recae en el opera-dor terminal, quien se encarga de la supervisión del software y recolección de los datos digitales.
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Este artigo analisa os aspectos essenciais da reforma administrativa do Estado que está sendo proposta pelo Governo Fernando Henrique Cardoso. Como resposta à crise do Estado e ao processo de globalização da economia mundial, essa proposta visa fundamentalmente implantar uma administração do tipo gerencial no setor público brasileiro, em contraposição a uma administração do tipo burocrática, atualmente predominante. No texto, faz-se uma análise da crise da administração pública burocrática brasileira e são definidas as linhas mestras para a implantação da administração pública gerencial, fundamental para responder à redefinição das funções do Estado. Finalmente, relacionam-se as ações realizadas pelo Estado, que podem ser divididas em quatro tipos — núcleo estratégico, atividades exclusivas de Estado, serviços sociais competitivos ou não exclusivos, e produção para o mercado — com três tipos de propriedade. Os primeiros dois tipos de ações estão relacionados à propriedade pública estatal; o terceiro tipo de ação à propriedade pública não-estatal; e o quarto tipo de ação à propriedade privada.
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The state reforms that took place in the 1990s did not have as objective to reduce the state to a minimum, but to rebuild and make the state more efficient. The role of the state redefinition has as criterion the concepts of : 'exclusive activities of the state", that involve state power; the social and scientific activities, that the state is supposed to finance although does not have to directly execute; and the production of goods and services for the market, that are supposed to be private unless it is a natural monopoly. The new state that is emerging is supposed to be managed efficiently, according to managerial public administration principles, instead of remaining subject to bureaucratic public administration. The new public managers are becoming more autonomous and more accountable in political terms. The state reforms that took place in the 1990s did not have as objective to reduce the state to a minimum, but to rebuild and make the state more efficient. The role of the state redefinition has as criterion the concepts of : 'exclusive activities of the state", that involve state power; the social and scientific activities, that the state is supposed to finance although does not have to directly execute; and the production of goods and services for the market, that are supposed to be private unless it is a natural monopoly. The new state that is emerging is supposed to be managed efficiently, according to managerial public administration principles, instead of remaining subject to bureaucratic public administration. The new public managers are becoming more autonomous and more accountable in political terms. The great political task of the 1990s has been to reform or to rebuild the state. Between the 1930s and 1960s, the state became a significant factor in fostering economic and social development. During that period, and particularly after World War II, we witnessed a time of economic prosperity and an increase in standards of living as never before in the history of mankind. Yet, since the 1970s, because of its distorted growth coupled with the globalization process, the state entered into a crisis and became the main cause for the drop in economic growth rates and the increase in unemployment and inflation rates that have taken
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BRESSER-PEREIRA, L. C. Da administração pública burocrática à gerencial. In: BRESSERPEREIRA, L. C; SPINK, P. (Org) Reforma do Estado e administração pública gerencial. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1998.
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SPINK, P. (Org) Reforma do Estado e administração pública gerencial. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1998.