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Manifesto do Partido Comunista

Authors:
Dossiê
Manifesto
Comunista
Manifesto
do
Partido Comunista
KARL
MARX
e
FRIEDRICH
ENGELS
U
M
ESPECTRO RONDA
A
EUROPA
- o
espectro
do
comunismo.
Todas
as
potências
da
velha Europa aliaram-se numa
sagrada
perseguição
a
esse espectro,
o
Papa
e o
Czar,
Met-
ternich
e
Guizot, radicais
franceses e
policiais alemães.
Onde
está
o
partido
de
oposição
queo
tenha
sido
difamado
como comunista pelos seus adversários governistas, onde está
o
partido
de
oposição
queo
tenha arremessado
de
volta,
aos
opositores mais progressistas tanto quanto
aos
seus adversários
reacionários,
a
pecha estigmatizante
do
comunismo?
Duas
coisas decorrem desse fato.
0
comunismo
já é
reconhecido como
uma
potência
por
todas
as
potências européias.
Já
é
tempo
de os
comunistas exporem abertamente, perante
o
mundo
todo,
sua
maneira
de
pensar,
os
seus objetivos,
as
suas
tendências,
e de
contraporem
ao
conto
da
carochinha sobre
o
espectro
do
comunismo
um
manifesto
do
próprio partido.
Com
esse objetivo, reuniram-se
em
Londres comunistas
das
mais
diversas nacionalidades
e
esboçaram
o
seguinte manifesto,
que
está
sendo publicado
em
idioma
inglês,
francês,
alemão, italiano,
flamengo e
dinamarquês.
1
Burgueses
e
Proletários
(1)
A
história
de
todas
as
sociedades
até o
presente
(2) é a
história
das
lutas
de
classes.
Homem livre
e
escravo, patrício
e
plebeu, senhor
feudal
e
servo,
membro
de
corporação
e
ofícial-artesão,
em
síntese, opressores
e
oprimidos
estiveram
em
constante oposição
uns aos
outros,
travaram
uma
luta ininterrupta,
ora
dissimulada,
ora
aberta,
que a
cada
vez
terminava
com uma
reconfiguração
revolucionária
de
toda
a
sociedade
ou com a
derrocada comum
das
classes
em
luta.
Nas
épocas remotas
da
história,
encontramos
por
quase toda
a
parte
uma
estruturação completa
da
sociedade
em
diferentes esta-
mentos,
uma
gradação multifacetada
das
posições
sociais.
Na
Roma
antiga temos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos;
na
Idade Média,
senhores feudais, vassalos, membros
de
corporação, oficiais-artesãos,
servos,
e
ainda,
em
quase cada
uma
dessas classes, novas gradações
particulares.
A
moderna sociedade burguesa, emergente
do
naufrágio
da
sociedade feudal,
o
aboliu
os
antagonismos
de
classes.
Ela
apenas
colocou
novas classes, novas condições
de
opressão, novas estruturas
de
luta
no
lugar
das
antigas.
A
nossa época,
a
época
da
burguesia, caracteriza-se,
contudo,
pelo fato
de ter
simplificado
os
antagonismos
de
classes.
A
sociedade
toda cinde-se, mais
e
mais,
em
dois
grandes campos
inimigos,
em
duas
grandes
classes
diretamente
confrontadas:
burguesia
e
proletariado.
Dos
servos
da
Idade Média advieram
os
burgueses
extra-muros
l
das
primeiras cidades; deste estamento medieval desenvolveram-se
os
primeiros elementos
da
burguesia.
A
descoberta
da
América,
a
circunavegação
da
África
criaram
um
novo terreno
para
a
burguesia ascendente.
Os
mercados
das
índias
Orientais
e da
China,
a
colonização
da
América,
o
intercâmbio
com as
colônias,
a
multiplicação
dos
meios
de
troca
e das
mercadorias
em
geral deram
ao
comércio,
à
navegação,
à
indústria
um
impulso
jamais
conhecido;
e, com
isso,
imprimiram
um
rápido desenvol-
vimento
ao
elemento
revolucionário
na
sociedade
feudal
em
desagregação.
1
Pfahlbürger
no
original ("burguês
da
paliçada");
o
termo designa
os
habi-
tantes
de um
espaço situado entre
as
muralhas
do
castelo
e uma
circundante
fronteira
de
paliçada.
Em sua
condição social,
o
Pfahlbürger
corresponde
parcialmente
ao
"vilão"
do
feudalismo
português.
Em
sentido
figurado,
Pfahlbürger
significa
uma
pessoa demasiado limitada,
de
concepções con-
vencionais
e
enrijecidas.
(N. d. T.)
O
funcionamento feudal
ou
corporativo
da
indústria, existente
até
então,
jáo
bastava
para
as
necessidades
que
cresciam
com os
novos mercados.
A
manufatura
tomou
o seu
lugar.
Os
mestres
de
corporação
foram
sufocados pelo estrato médio industrial;
a
divisão
do
trabalho entre
as
diversas corporações desapareceu perante
a
divisão
do
trabalho
no
interior
da
própria oficina particular.
Mas
os
mercados continuavam
a
crescer,
continuava
a
aumentar
a
necessidade
de
produtos. Também
a
manufatura
jáo
bastava
mais.
Então
o
vapor
e a
maquinaria revolucionaram
a
produção
industrial.
A
grande
indústria
moderna
tomou
o
lugar
da
manufatura;
o
lugar
do
estrato médio industrial
foi
tomado pelos
milionários industriais,
os
chefes
de
exércitos industriais inteiros,
os
burgueses modernos.
A
grande indústria criou
o
mercado mundial,
que a
descoberta
da
América preparara.
O
mercado mundial
deu ao
comércio,
à
navegação,
às
comunicações
por
terra
um
desenvolvimento incal-
culável.
Este
por sua vez
reagiu sobre
a
expansão
da
indústria,
e na
mesma
medida
em que
indústria, comércio, navegação, estradas
de
ferro
se
expandiam, nessa mesma medida
a
burguesia desenvolvia-
se,
multiplicava seus capitais,
empurrava
a um
segundo plano todas
as
classes provenientes
da
Idade Média.
Vemos,
portanto,
como
a
própria burguesia moderna
é o
produto
de um
longo
processo
de
desenvolvimento,
de uma
série
de
revoluções
(Umwälzungen)
nos
meios
de
produção
e de
transporte.
Cada
uma
dessas etapas
de
desenvolvimento
da
burguesia veio
acompanhada
de um
progresso
político
correspondente. Estrato
social oprimido
sob o
domínio
dos
senhores feudais, associação
ar-
mada
e com
administração autônoma
na
comuna (3); aqui cidade-
república
independente,
ali
terceiro Estado tributário
da
monarquia;
depois,
na era da
manufatura, contrapeso
à
nobreza
na
monarquia
estamental
ou
absoluta; base principal
das
grandes monarquias
de
uma
forma geral,
a
burguesia
conquistou
finalmente
para
si,
desde
a
criação
da
grande indústria
e do
mercado mundial
no
moderno
Estado representativo,
o
domínio político exclusivo.
O
poder estatal
moderno
é
apenas
uma
comissão
que
administra
os
negócios comuns
do
conjunto
da
classe burguesa.
A
burguesia desempenhou
na
história
um
papel extremamente
revolucionário.
Onde
quer
a
burguesia tenha chegado
ao
poder,
ela
destruiu
todas
as
relações feudais, patriarcais,
idílicas.
Ela
rompeu
impiedosamente
os
variegados laços feudais
que
atavam
o
homem
ao
seu
superior natural,
o
deixando nenhum outro laço entre
os
seres
humanos senão
o
interesse
nu e
cru, senão
o
insensível
"pagamento
à
vista".
Ela
afogou
os
arrepios sagrados
do
arroubo
religioso,
do
entusiasmo cavalheiresco,
da
plangência
do filisteísmo
burguês,
nas
águas gélidas
do
cálculo egoísta.
Ela
dissolveu
a
dignidade pessoal
em
valor
de
troca,
e no
lugar
das
inúmeras
liberdades atestadas
em
documento
ou
valorosamente conquistadas,
colocou
uma
única inescrupulosa liberdade
de
comércio.
A
burguesia,
em uma
palavra,
colocou
no
lugar
da
exploração ocultada
por
ilusões religiosas
e
políticas
a
exploração
aberta,
desavergonhada,
direta, seca.
A
burguesia despojou
de sua
auréola
sagrada
todas
as
atividades
até
então veneráveis, contempladas
com
piedoso recato.
Ela
transformou
o
médico,
o
jurista,
o
clérigo,
o
poeta,
o
homem
das
ciências,
em
trabalhadores assalariados, pagos
por
ela.
A
burguesia arrancou
às
relações familiares
o seu
comovente
u
sentimental
e as
reduziu
a
pura relação monetária.
A
burguesia revelou como
o
dispêndio
brutal
de
forças,
que a
reação
tanto admira
na
Idade Média, encontrava
a seu
complemento
adequado
na
mais
indolente
ociosidade. Apenas
ela deu
provas
daquilo
que a
atividade
dos
homens
é
capaz
de
levar
a
cabo.
Ela
realizou obras miraculosas inteiramente diferentes
das
pirâmides
egípcias,
dos
aquedutos romanos
e das
catedrais góticas,
ela
executou
deslocamentos inteiramente diferentes
das
Migrações
dos
Povos
e
das
Cruzadas.
A
burguesia
o
pode existir
sem
revolucionar continuamente
os
instrumentos
de
produção, portanto
as
relações
de
produção
e,
assim,
o
conjunto
das
relações sociais. Conservação inalterada
do
velho modo
de
produção foi,
ao
contrário,
a
condição primeira
de
existência
de
todas
as
classes industriais anteriores.
O
revolucio-
namento
contínuo
da
produção,
o
abalo ininterrupto
de
todas
as
situações sociais,
a
insegurança
e a
movimentação eternas distinguem
a
época burguesa
de
todas
as
outras. Todas
as
relações
fixas
e
enferrujadas,
com o seu
séquito
de
veneráveis representações
e
concepções,
o
dissolvidas; todas
as
relações novas, posteriormente
formadas,
envelhecem antes
que
possam enrijecer-se. Tudo
o que
está
estratificado
e em
vigor
volatiliza-se,
todo
o
sagrado
é
profanado,
e os
homens
o finalmente
obrigados
a
encarar
a sua
situação
de
vida,
os
seus relacionamentos mútuos
com
olhos
sóbrios.
A
necessidade
de um
mercado cada
vez
mais expansivo
para
seus produtos impele
a
burguesia
por
todo
o
globo terrestre.
Ela
tem
de
alojar-se
por
toda parte, estabelecer-se
por
toda parte,
construir vínculos
por
toda parte.
Através
da
exploração
do
mercado mundial,
a
burguesia
configurou
de
maneira cosmopolita
a
produção
e o
consumo
de
todos
os
países. Para grande pesar
dos
reacionários,
ela
subtraiu
à
indústria
o
solo
nacional
em que
tinha
os
pés.
As
antiquíssimas
indústrias nacionais foram aniquiladas
e
ainda continuam sendo
aniquiladas diariamente.
o
sufocadas
por
novas indústrias, cuja
introdução
se
torna
uma
questão vital para todas
as
nações
civilizadas,
por
indústrias
queo
mais processam matérias-primas
nativas,
mas sim
matérias-primas próprias
das
zonas mais afastadas,
e
cujos produtos
o
consumidos
o
apenas
no
próprio país,
mas
simultaneamente
em
todas
as
partes
do
mundo.
No
lugar
das
velhas
necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, surgem novas
necessidades,
que
requerem
para
a sua
satisfação
os
produtos
dos
mais
distantes países
e
climas.
No
lugar
da
velha auto-suficiência
e
do
velho isolamento locais
e
nacionais, surge
um
intercâmbio
em
todas
as
direções,
uma
interdependência múltipla
das
nações.
E o
que se dá com a
produção material, dá-se também
com a
produção
intelectual.
Os
produtos intelectuais
das
nações isoladas tornam-se
patrimônio comum.
A
unilateralidade
e
estreiteza nacionais tornam-
se
cada
vez
mais impossíveis,
e das
muitas literaturas nacionais
e
locais
vai se
formando
uma
literatura universal
2
.
2
Provável referência
de
Marx
e
Engels
ao
conceito
de
literatura universal
(Weltliteratur)
exposto
por
Goethe
a
Eckermann
em 31 de
janeiro
de
1827.
Goethe também traça
um
paralelo
entre
a
constituição
da
literatura universal
e
a
expansão internacional
do
comércio.
(N. d. T.)
Através
do
rápido aperfeiçoamento
de
todos
os
instrumentos
de
produção, através
das
comunicações infinitamente facilitadas,
a
burguesia arrasta todas
as
nações, mesmo
as
mais bárbaras,
para
dentro
da
civilização.
Os
módicos preços
de
suas mercadorias
o a
artilharia
pesada
com que elae
abaixo todas
as
muralhas
da
China,
com
que ela
constrange
à
capitulação mesmo
a
mais obstinada
xenofobia
dos
bárbaros.
Ela
obriga todas
as
nações
queo
queiram
desmoronar
a
apropriar-se
do
modo
de
produção
da
burguesia;
ela
as
obriga
a
introduzir
em seu
próprio meio
a
assim chamada
civilização, isto
é, a
tornarem-se burguesas.
Em uma
palavra,
ela
cria
para
si um
mundo
à sua
própria imagem.
A
burguesia submeteu
o
campo
ao
domínio
da
cidade.
Ela
criou
cidades enormes, aumentou
o
número
da
população urbana,
em
face
da
rural,
em
alta escala
e,
assim, arrancou
do
idiotismo
3
da
vida
rural
uma
parcela significativa
da
população.
Da
mesma forma
como torna
o
campo dependente
da
cidade,
ela
torna
os
países
bárbaros
e
semibárbaros dependentes
dos
civilizados,
os
povos
agrários
dependentes
dos
povos burgueses,
o
Oriente dependente
do
Ocidente.
A
burguesia
vem
abolindo cada
vez
mais
a fragmentação dos
meios
de
produção,
da
posse
e da
população.
Ela
aglomerou
a
popu-
lação,
centralizou
os
meios
de
produção
e
concentrou
a
propriedade
em
poucas mãos. Conseqüência necessária
disso
tudo
foi a
centralização política. Províncias independentes, quase
que
tão-
somente aliadas,
com
interesses, leis, governos
e
sistemas aduaneiros
diversificados,
foram aglutinadas
em uma
nação,
um
governo,
um
interesse nacional
de
classe,
uma fronteira
aduaneira.
Em
seu
domínio
de
classe
que mal
chega
a um
século,
a
burguesia criou forças produtivas
em
massa, mais colossais
do que
3
Idiotismus,
no
original.
Em sua
"Introdução
ao
Manifesto Comunista",
E.
Hobsbawn observa quanto
a
essa expressão que, embora
os
seus autores
partilhassem
do
costumeiro desprezo
do
citadino pelo mundo rural,
ela
possui
antes
o
sentido
de
"horizontes
estreitos"
do que
"estupidez".
"Ela
fazia
eco ao
sentido original
do
termo grego
'idiotes',
do
qual derivou
o
significado corrente
de
'idiota'
ou
'idiotice',
a
saber,
uma
'pessoa preocupada apenas
com
seus pró-
prios assuntos particulares
eo com os da
comunidade mais
ampla'."
(In
Sobre
História, Companhia
das
Letras, 1998,
p.
298.)
(N. d. T.)
todas
as
gerações passadas
em
conjunto. Subjugação
das
forças
da
natureza, maquinaria, aplicação
da
química
na
indústria
e na
agricultura,
navegação
a
vapor,
estradas
de
ferro, telégrafos elétricos,
arroteamento
de
continentes inteiros, canalização
dos
rios
para
a
navegação,
populações inteiras como
que
brotando
do
chão
- que
século passado poderia supor
que
tamanhas forças produtivas
estavam
adormecidas
no
seio
do
trabalho social!
s
vimos portanto:
os
meios
de
produção
e de
circulação,
sobre cujas bases
a
burguesia
se
formou,
foram
gerados
na
sociedade
feudal.
Em um
certo estágio
do
desenvolvimento desses meios
de
produção
e de
circulação,
as
relações
nas
quais
a
sociedade feudal
produzia
e
trocava,
a
organização feudal
da
agricultura
e da
manufatura,
em uma
palavra,
as
relações feudais
de
propriedade,
o
correspondiam mais
às
forças produtivas
já
desenvolvidas. Elas
tolhiam
a
produção,
em vez de
fomentá-la.
Transformavam-se
assim
em
outros
tantos
grilhões.
Precisavam
ser
explodidas, foram
explodidas.
Em
seu
lugar entrou
a
livre concorrência,
com a
constituição
social
e
política
que lhe era
adequada,
com o
domínio econômico
e
político
da
classe burguesa.
Sob
os
nossos
olhos
processa-se
um
movimento semelhante.
As
relações burguesas
de
produção
e de
circulação,
as
relações
burguesas
de
propriedade,
a
moderna sociedade burguesa,
que fez
aparecer
meios
de
produção
e de
circulação
o
poderosos, assemelha-
se
ao
feiticeiro
que jáo
consegue mais dominar
os
poderes
subterrâneos
que
invocou.
Há
decênios
a
história
da
indústria
e do
comércio
vem
sendo apenas
a
história
da
revolta
das
modernas for-
ças
produtivas contra
as
modernas relações
de
produção, contra
as
relações
de
propriedade
que
constituem
as
condições vitais
da
burguesia
e da sua
dominação. Basta mencionar
as
crises comerciais
que,
em sua
recorrência periódica, questionam
de
maneira
cada
vez
mais
ameaçadora
a
existência
de
toda
a
sociedade burguesa.
Nas
crises comerciais extermina-se regularmente
o
apenas
uma
grande
parte
dos
produtos fabricados,
mas
também
das
forças produtivas
já
criadas. Deflagra-se
nas
crises
uma
epidemia social
que a
todas
as
épocas
anteriores apareceria como contra-senso
- a
epidemia
da
superprodução.
A
sociedade encontra-se remetida subitamente
a um
estado
de
momentânea barbárie;
uma
epidemia
de
fome,
uma
guerra
geral
de
extermínio parecem ter-lhe cortado
todo
suprimento
de
alimentos;
a
indústria,
o
comércio parecem aniquilados
- e por
quê?
Porque
a
sociedade
possui
demasiada civilização, demasiados
suprimentos
de
alimentos,
demasiada
indústria,
demasiado
comércio.
Ás
forças produtivas
que
estão
à sua
disposição
jáo
servem
mais
ao
fomento
das
relações
de
propriedade burguesas;
ao
contrário, elas
se
tornaram
por
demais poderosas
para
essas relações,
o
tolhidas
por
elas;
eo
logo
superam esse obstáculo, levam toda
a
sociedade burguesa
à
desordem, põem
em
perigo
a
existência
da
propriedade burguesa.
As
relações burguesas tornaram-se demasiado
estreitas
para
abarcar
a riqueza
gerada
por
elas.
-
Através
de que
meios
a
burguesia supera
as
crises?
Por um
lado, pelo extermínio
forçado
de
grande parte
das
forças produtivas;
por
outro
lado, pela
conquista
de
novos mercados
e da
exploração mais metódica
dos
antigos mercados. Como
isso
acontece então? Pelo fato
de que a
burguesia prepara crises cada
vez
mais amplas
e
poderosas,
e
reduz
os
meios
de
preveni-las.
As
armas
com as
quais
a
burguesia
derruiu
o
feudalismo
voltam-se agora contra
a
própria burguesia.
Mas
a
burguesia
o
forjou apenas
as
armas
que lhe
trazem
a
morte;
ela
produziu também
os
homens
que
portarão essas armas
-
os
operários modernos,
os
proletários.
Na
mesma medida
em que a
burguesia,
isto
é, o
capital,
desenvolve-se,
desenvolve-se
o
proletariado,
a
classe
dos
modernos
operários,
os
quais
só
subsistem enquanto encontram trabalho,
e só
encontram
trabalho enquanto
o seu
trabalho aumenta
o
capital. Esses
operários,
quem de
vender-se
um a um,o uma
mercadoria como
qualquer
outro artigo
de
comércio
e, por
isso, igualmente expostos
a
todas
as
vicissitudes
da
concorrência,
a
todas
as
oscilações
do
mercado.
O
trabalho
dos
proletários perdeu, pela expansão
da
maqui-
naria
e
pela divisão
do
trabalho,
todo
caráter autônomo
e, com
isso,
todo
atrativo
para
o
operário.
Ele
torna-se
um
mero acessório
da
máquina,
do
qual
é
exigido apenas
o
mais simples movimento
de
mãos,
o
mais
monótono,
o
mais fácil
de
aprender.
Os
custos
que o
operário causa restringem-se
por
isso
quase
que
tão-somente
aos
alimentos
de que ele
carece para
o
sustento
próprio
e
para
a
reprodução
de sua
espécie
(Rasse).
Mas o
preço
de uma
mercadoria,
portanto também
do
trabalho,
é
igual
aos
seus custos
de
produção.
Na
mesma medida
em que
cresce
o
caráter repugnante
do
trabalho,
diminui
por
isso
mesmo
o
salário. Mais ainda,
na
mesma medida
em
que a
maquinaria
e a
divisão
do
trabalho aumentam, aumenta
a
massa
do
trabalho,
seja
pela multiplicação
das
horas
de
trabalho,
seja
pela
multiplicação
do
trabalho
exigido
em um
tempo
determinado, pelo funcionamento acelerado
da
máquina etc.
A
indústria moderna transformou
a
pequena oficina
do
mestre
patriarcal
na
grande
fábrica
do
capitalista industrial. Massas
de
operários, aglomeradas
na
fábrica,
o
organizadas
de
forma
soldadesca. Como
soldados
rasos
da
indústria,
o
colocados
sob a
supervisão
de uma
hierarquia completa
de
suboficiais
e
oficiais. Eles
o
apenas
o
servos
da
classe burguesa,
do
Estado burguês;
diariamente
e a
cada hora eles
o
escravizados pela máquina, pelo
supervisor
e,
sobretudo,
por
cada
um dos
fabricantes burgueses.
Esse
despotismo
é
tanto
mais mesquinho,
odioso,
encarniçado,
quanto mais abertamente
ele
proclama
o
lucro como
o seu
objetivo.
Quanto menos
o
trabalho manual requer habilidade
e
dis-
pêndio
de
forças,
isto
é,
quanto mais
a
indústria moderna
se
desen-
volve,
tanto mais
o
trabalho
dos
homens
é
sufocado pelo
das mu-
lheres. Diferenças
de
sexo
e de
idade
om
mais qualquer validade
social
para
a
classe operária.
Só
restam ainda
instrumentos
de
trabalho
que,
de
acordo
com
idade
e
sexo,
perfazem
custos variados.
Se
a
exploração
do
operário pelo fabricante está terminada
no
momento
em que
aquele recebe
seu
salário
em
dinheiro vivo,
abatem-
se
sobre
ele
então
as
outras parcelas
da
burguesia,
o
proprietário
do
imóvel,
o
dono
da
mercearia,
o
penhorista etc.
Os
pequenos estratos médios
até
hoje existentes,
os
pequenos
industriais, comerciantes
e os que
vivem
de
pequenas rendas,
os
artesãos
e os
camponeses, todas essas classes decaem
no
proletariado,
em
parte porque
o seu
pequeno capital
o
basta
para
o
grande
empreendimento
industrial
e
sucumbe
à
concorrência
com os
capitalistas
maiores,
em
parte porque
a sua
habilidade
é
desvalorizada
pelos novos modos
de
produção. Assim recruta-se
o
proletariado
de
todas
as
classes
da
população.
No
início lutam
os
operários
isolados,
depois
os
operários
de
uma
fábrica, depois
os
operários
de um
ramo industrial, numa
mesma
região, contra
um
burguês particular,
que os
explora dire-
tamente. Eles dirigem
os
seus ataques
o
apenas contra
as
relações
de
produção burguesas; eles
os
dirigem contra
os
próprios instru-
mentos
de
produção; eles aniquilam
as
mercadorias estrangeiras
concorrentes, destroçam
as
máquinas, ateiam fogo
nas
fábricas,
buscam
reconquistar
a
soterrada posição
do
trabalhador medieval.
Nessa
etapa
os
operários
formam
uma
massa dispersa
por
todo
o
país
e fragmentada
pela concorrência. Agregação
em
massa
dos
operários ainda
o é a
conseqüência
de sua
própria associação,
mas
sim a
conseqüência
da
associação
da
burguesia que,
para
alcançar
seus próprios objetivos
políticos,
tem de
mobilizar
todo
o
proletariado,
o que por
enquanto
ela
ainda consegue. Nessa etapa,
portanto,
os
proletários combatem
o os
seus inimigos,
mas sim
os
inimigos
de
seus inimigos,
os
resquícios
da
monarquia absoluta,
os
proprietários
de
grandes territórios,
os
burgueses não-industriais,
os
pequenos burgueses. Toda
a
movimentação
histórica
está
concentrada assim
nas
mãos
da
burguesia; toda vitória assim
conquistada
é uma
vitória
da
burguesia.
Mas
com o
desenvolvimento
da
indústria
o
apenas
se
multiplica
o
proletariado; este
é
agregado
em
massas cada
vez
maiores,
sua
força cresce
e
torna-se mais perceptível
para
ele.
Os
interesses,
as
situações
de
vida
no
interior
do
proletariado
equiparam-se
cada
vez
mais,
à
medida
que a
maquinaria dissipa
cada
vez
mais
as
diferenças
do
trabalho
e, por
quase toda parte,
comprime
o
salário
para
um
nível igualmente baixo.
A
crescente
concorrência entre
os
burgueses
e as
crises
de
comércio
daí
resultantes fazem
o
salário
do
operário oscilar cada
vez
mais;
o
aperfeiçoamento
incessante
da
maquinaria, desenvolvendo-se
com
crescente rapidez, torna cada
vez
mais insegura toda
a sua
condição
de
vida; cada
vez
mais,
as
colisões entre
o
operário particular
e o
burguês particular assumem
o
caráter
de
colisões
entre duas classes.
Os
operários começam
a
constituir coalizões contra
os
burgueses;
eles congregam-se
para
a
garantia
de
seus salários. Chegam mesmo
a
fundar
associações permanentes
com a finalidade de
criar
provisões
de
mantimentos
para
eventuais revoltas. Aqui
e
acolá,
a
luta eclode
em
sublevação.
De
tempos
em
tempos triunfam
os
operários,
mas
apenas
provisoriamente.
O
resultado efetivo
de
suas lutas
o é o
êxito
imediato,
mas sim uma
união operária
em
crescente expansão.
Ela é
fomentada
pelos meios
de
comunicação que, gerados pela grande
indústria,
se
avolumam
e
colocam
os
operários
das
diversas
localidades
em
contato mútuo.
O
mero contato, porém, basta
para
centralizar
as
muitas lutas locais,
com
caráter semelhante
por
toda
parte,
em uma
luta nacional,
em uma
luta
de
classes.
Mas
toda luta
de
classes
é uma
luta política.
£ a
união,
para
a
qual
os
burgueses
da
Idade Média,
com
seus caminhos vicinais, necessitaram
de
séculos,
os
proletários modernos,
com as
estradas
de
ferro,
a
executam
em
poucos anos.
Essa
organização
dos
proletários
em
classe,
e com
isso
em
partido político,
é a
todo
momento rompida pela concorrência
en-
tre
os
próprios operários.
Mas ela
ressurge sempre
de
novo, mais
forte,
mais
sólida,
mais poderosa.
Ela
impõe
o
reconhecimento
de
interesses particulares
dos
operários
em
forma
de
lei,
à
medida
que
se
aproveita
das
cisões internas
da
burguesia.
É o
caso
da lei da
jornada
de dez
horas,
na
Inglaterra.
As
colisões
no
interior
da
velha sociedade promovem
em
geral,
de
múltiplos modos,
o
processo
de
desenvolvimento
do
proletariado.
A
burguesia encontra-se
em
luta contínua:
no
início,
contra
a
aristocracia;
mais tarde, contra
as frações da
própria burguesia cujos
interesses entraram
em
contradição
com o
progresso
da
indústria;
e
sempre,
contra
a
burguesia
de
todos
os
países estrangeiros.
Em
todas
essas
lutas,
ela se vê
obrigada
a
apelar
ao
proletariado,
a
reivindicar
a
sua
ajuda
e,
assim,
a
engolfá-lo
no
movimento político.
Ela
mesma,
portanto,
leva
ao
proletariado
os
seus próprios elementos
de
formação
4
,
isto
é,
armas
contra
si
mesma.
4
Na
edição
de
1888 lê-se:
"os
elementos
de sua
própria
formação
política
e
geral".
Além
disso,
como vimos,
contingentes
inteiros
da
classe
dominante
o
arrastados para
o
proletariado
em
virtude
do
progresso
da
indústria,
ou
pelo menos ameaçados
em
suas condições
de
vida. Também esses
contingentes
levam
ao
proletariado grande
quantidade
de
elementos
de
formação
5
.
Em
tempos,
por fim, em que a
luta
de
classes
se
aproxima
da
decisão,
o
processo
de
dissolução
no
interior
da
classe dominante,
no
interior
de
toda
a
velha sociedade, assume
um
caráter
o
violento,
o
estridente,
que uma
pequena
fração da
classe dominante
se
desliga dela
e se
associa
à
classe revolucionária,
à
classe
que
traz
o
futuro
em
suas mãos.
Por
isso,
assim como outrora
uma
parcela
da
nobreza
passou
para
a
burguesia,
uma
parcela
da
burguesia passa
agora
para
o
proletariado,
e
notadamente
uma
parcela
dos
ideólogos
burgueses
que se
alçaram
à
compreensão teórica
do
movimento
histórico
em sua
totalidade.
De
todas
as
classes
que se
defrontam hoje
com a
burguesia,
só
o
proletariado
é uma
classe realmente revolucionária.
As
classes
restantes
o se
degenerando
e
afundam
sob a
grande indústria;
o
proletariado
é o seu
produto mais
genuíno.
Os
estratos médios,
o
pequeno industrial,
o
pequeno comer-
ciante,
o
artesão,
o
camponês,
todos
eles combatem
a
burguesia
para
salvar
sua
existência, enquanto estratos médios,
do
naufrágio. Eles,
portanto,
oo
revolucionários,
mas sim
conservadores. Mais
ainda,
o
reacionários, procuram girar
para
trás
a
roda
da
história.
Se
eles
o
revolucionários, então
só oo com
vistas
à sua
passagem
iminente
para
o
proletariado,
e
assim defendem
o os
seus interesses
atuais,
mas os
futuros, assim abandonam
a sua
posição própria
para
colocarem-se
na do
proletariado.
O
lumpenproletariado, esse apodrecimento passivo
das
camadas
mais
baixas
da
velha sociedade,
é
parcialmente arrastado
para
o
movimento
por uma
revolução proletária;
em
consonância
com
toda
a
sua
situação
de
vida,
ele
estará mais pronto
a se
deixar comprar
para
maquinações reacionárias.
5
Na
edição
de
1888: "elementos
de
esclarecimento
e de
progresso".
As
condições
de
vida
da
velha sociedade
já
estão aniquiladas
nas
condições
de
vida
do
proletariado*
O
proletariado
é
despossuído;
sua
relação
com
mulher
e filhoso tem
nada mais
em
comum
com
a
relação familiar burguesa;
o
moderno trabalho
industrial,
a
moderna subjugação operada pelo capital,
na
Inglaterra
a
mesma
que na
França,
na
América
a
mesma
que na
Alemanha, despojou
o
proletário
de
todo
caráter nacional.
As
leis,
a
moral,
a
religião
o
para
ele
outros tantos preconceitos burgueses, atrás
dos
quais
se
escondem outros tantos interesses burgueses.
Todas
as
classes anteriores
que
conquistaram
o
poder
para
si,
procuraram
assegurar
a sua
condição
de
vida
já
adquirida
à
medida
que
submetiam toda
a
sociedade
às
condições
de sua
aquisição.
Os
proletários
só
podem conquistar
as
forças produtivas sociais
à
medida
que
abolem
o seu
próprio modo
de
apropriação
e,
assim,
todo
o
modo
de
apropriação
até
hoje existente.
Os
proletários nada
m de seu
para
assegurar, eles
m de
destruir todas
as
seguranças
privadas
e
todos
as
garantias privadas
até
hoje existentes.
Todos
os
movimentos
até o
presente
foram
movimentos
de
minorias
ou em
proveito
de
minorias.
O
movimento proletário
é o
movimento
autônomo
da
maioria esmagadora
em
proveito
da
maioria
esmagadora.
O
proletariado,
a
camada mais baixa
da
socie-
dade
atual,
o
pode erguer-se, aprumar-se,
sem que vá
para
os
ares
toda
a
superestrutura
dos
estamentos
que
formam
a
sociedade oficial.
Ainda
queo
pelo conteúdo, pela
forma
a
luta
do
proletariado
contra
a
burguesia
é
primeiramente
uma
luta nacional.
O
prole-
tariado
de
todo
e
qualquer país
tem
primeiro, naturalmente,
de dar
conta
de sua
própria burguesia.
Na
medida
em que
traçamos
as
fases mais gerais
do
desenvolvimento
do
proletariado, acompanhamos
a
guerra civil,
que
se
desenrola
de
forma mais
ou
menos oculta
no
interior
da
sociedade
em
vigor,
até o
ponto
em que
eclode
em uma
revolução aberta
e,
pela
derrubada violenta
da
burguesia,
o
proletariado estabelece
a
sua
dominação:
Toda
sociedade
até
hoje existente assentou-se, como vimos,
no
antagonismo
de
classes opressoras
e
oprimidas.
Mas
para
que se
possa oprimir
uma
classe
é
necessário assegurar-lhe condições
em
cujo âmbito
ela
consiga
ao
menos manter
sua
existência servil.
O
servo
alçou-se
a
membro
da
comuna durante
a
servidão, assim como
o
pequeno-burguês alçou-se
à
condição
de
burguês
sob o
jugo
do
absolutismo feudal.
O
operário moderno,
ao
contrário,
em vez de
elevar-se
com o
progresso
da
indústria,
vai
caindo cada
vez
mais
fundo,
abaixo
das
condições
de sua
própria classe.
O
operário torna-
se
um
pauperizado
(Pauper),
e o
pauperismo desenvolve-se ainda
mais
depressa
do que a
população
e a
riqueza.
Com
isso,
torna-se
evidente
que a
burguesia
é
incapaz
de
permanecer
por
mais tempo
como
a
classe dominante
da
sociedade
e de
impor
à
sociedade, como
lei
reguladora,
as
condições
de
vida
de sua
classe.
Ela é
incapaz
de
dominar porque
é
incapaz
de
assegurar
aos
seus escravos
uma
existência mesmo
no
âmbito
da
escravidão, porque
ela é
obrigada
a
deixá-los descer
a uma
situação
em que ela tem de
alimentá-los,
em
vez
de ser
alimentada
por
eles.
A
sociedade
o
pode mais viver
sob
a
burguesia,
isto
é, a
vida desta
o é
mais compatível
com a
sociedade.
A
condição essencial
para
a
existência
e
para
a
dominação
da
classe
burguesa
é a
acumulação
da
riqueza
em
mãos privadas,
a
formação
e a
multiplicação
do
capital;
a
condição
do
capital
é o
trabalho assalariado.
O
trabalho assalariado assenta-se exclusi-
vamente
sobre
a
concorrência
dos
operários entre
si. O
progresso
da
indústria,
de que a
burguesia
é o
representante indolente
e
apático,
substitui
o
isolamento
dos
operários,
que se dá
através
da
concor-
rência, pela
sua
união revolucionária
através
da
associação.
Com o
desenvolvimento
da
grande
indústria,
subtrai-se portanto
à
burguesia
a
própria base sobre
a
qual
ela
produz
e
apropria-se
dos
produtos.
Ela
produz
em
primeiro lugar
o seu
próprio coveiro.
A
sua
derrocada
e a
vitória
do
proletariado
o
igualmente inevitáveis.
II
Proletários
e
Comunistas
De que
forma
os
comunistas
se
relacionam
com os
proletários
em
geral?
Os
comunistas
o
constituem,
em
face
dos
outros
partidos
operários, nenhum partido particular.
Eles
o
possuem interesses separados
dos
interesses
do
conjunto
do
proletariado.
Eles
o
sustentam princípios particulares,
de
acordo
com os
quais
queiram moldar
o
movimento proletário.
Por um
lado,
os
comunistas
só
diferenciam-se
dos
restantes
partidos proletários pelo
fato
de
enfatizarem
e
fazerem
prevalecer,
nas
várias lutas nacionais
dos
proletários,
os
interesses comuns
de
todo
o
proletariado, independentes
da
nacionalidade;
e, por
outro
lado, pelo fato
de
sempre representarem,
nas
diversas etapas
de
desenvolvimento
por que
passa
a
luta entre proletariado
e
burguesia,
os
interesses
do
movimento
em seu
conjunto.
Os
comunistas
o
assim,
na
prática,
a fração
mais decidida
dos
partidos operários
de
todos
os
países,
a
qual sempre impulsiona
para
diante;
na
teoria, eles
m de
vantagem sobre
a
massa restante
do
proletariado
a
percepção consciente
das
condições,
da
marcha
e
dos
resultados gerais
do
movimento proletário.
O
objetivo mais próximo
dos
comunistas
é o
mesmo
de
todos
os
demais partidos proletários: formação
do
proletariado
em
classe,
derrubada
da
dominação burguesa, conquista
do
poder político pelo
proletariado.
As
proposições teóricas
dos
comunistas
o se
baseiam
de
forma
alguma
em
idéias,
em
princípios inventados
ou
descobertos
por
esse
ou
aquele reformador
do
mundo.
Elas
o
apenas expressões gerais
de
relações
efetivas
de uma
luta
de
classes existente, expressões
de um
movimento histórico
que
se
desenrola
sob os
nossos
olhos.
A
abolição
das
relações
de
propriedade
até
hoje
em
vigor
o é
nada
que
assinale
o
comunismo
de
maneira peculiar.
Todas
as
relações
de
propriedade estiveram submetidas
a uma
constante
mudança
histórica,
a uma
constante
transformação
histórica.
A
Revolução Francesa,
por
exemplo, aboliu
a
propriedade feu-
dal em
benefício
da
burguesa.
O
que
distingue
o
comunismo
o é a
abolição
da
propriedade
em
geral,
mas sim a
abolição
da
propriedade burguesa.
Mas
a
moderna propriedade
privada
burguesa
é a
expressão
ultima
e
mais acabada
do
modo
de
produção
e
apropriação
de
produtos
que
repousa
em
antagonismos
de
classes,
na
exploração
de
umas pelas outras.
Nesse
sentido,
os
comunistas podem resumir
a sua
teoria
na
única expressão: supressão
da
propriedade privada.
Censuraram
a
nós, comunistas, querer abolir
a
propriedade
adquirida
de
forma
pessoal,
finito do
próprio trabalho;
a
propriedade
que
constitui
a
base
de
toda
a
liberdade, atividade
e
autonomia
pessoais.
Propriedade adquirida,
fruto do
próprio trabalho
e do
mérito!
Vocês
estão falando
da
propriedade
do
pequeno-burguês,
do
pequeno
camponês,
a
qual precedeu
a
propriedade burguesa?
so
precisamos
aboli-la,
o
desenvolvimento
da
indústria aboliu-a
e vai
abolindo-a diariamente.
Ou
vocês estão falando
da
moderna propriedade privada
burguesa?
Mas
o
trabalho assalariado,
o
trabalho
do
proletário, cria-lhe
propriedade?
De
forma
alguma.
Ele
cria
o
capital,
isto
é, a
proprie-
dade
que
explora
o
trabalho assalariado,
que só
pode multiplicar-se
sob a
condição
de
produzir novo trabalho assalariado
para
explorá-
lo
renovadamente.
Em sua
forma
atual,
a
propriedade move-se
no
interior
do
antagonismo entre capital
e
trabalho assalariado.
Contemplemos
os
dois
lados desse antagonismo.
Ser
capitalista significa assumir
o
apenas
uma
posição
meramente
pessoal
na
produção,
mas
também
uma
posição social.
O
capital
é um
produto
coletivo
e só
pode
ser
posto
em
movimento
mediante
a
atividade comum
de
muitos membros,
e até
mesmo,
em
última instância, mediante
a
atividade comum
de
todos
os
membros
da
sociedade.
O
capital, portanto,
o é uma
potência pessoal,
ele é uma
potência social.
Assim,
ao
transformar-se
o
capital
em
propriedade coletiva,
pertencente
a
todos
os
membros
da
sociedade, então
o é
propriedade
pessoal
que se
transforma
em
coletiva. Transforma-se apenas
o
caráter
social
da
propriedade.
Ele
perde
o seu
caráter
de
classe.
Passemos
ao
trabalho assalariado:
O
preço médio
do
trabalho assalariado
é o
mínimo
do
salário
de
trabalho,
isto
é, a
soma
dos
meios
de
subsistência
queo
neces-
sários
para
manter
a
vida
do
operário enquanto operário. Aquilo,
portanto,
de que o
operário assalariado
se
apropria mediante
a sua
atividade,
é
suficiente tão-somente
para
reproduzir
a sua
vida
pura
e
simples.
so
queremos
de
forma alguma abolir
essa
apropriação
pessoal
dos
produtos
do
trabalho
para
a
reprodução
da
vida
imediata,
uma
apropriação
queo
deixa nenhum lucro líquido
que
poderia conferir poder sobre trabalho alheio. Queremos
apenas
suprimir
o
caráter miserável dessa apropriação,
na
qual
o
operário
vive
apenas
para
multiplicar
o
capital,
e
vive
tão-somente enquanto
o
requer
o
interesse
da
classe dominante.
Na
sociedade burguesa
o
trabalho vivo
é
apenas
um
meio
de
multiplicar
o
trabalho
acumulado.
Na
sociedade comunista
o
trabalho
acumulado
é
apenas
um
meio
para
ampliar,
enriquecer,
fomentar
o
processo
de
vida
do
operário.
Na
sociedade burguesa
o
passado impera, portanto, sobre
o
presente;
na
comunista,
o
presente sobre
o
passado.
Na
sociedade
burguesa
o
capital
é
autônomo
e
pessoal, enquanto
que o
indivíduo
ativo
é
impessoal
e
privado
de
autonomia.
E
à
supressão dessa relação
a
burguesia chama supressão
da
personalidade
e da
liberdade!
E com
razão. Trata-se todavia
da
supressão
da
personalidade,
da
autonomia
e da
liberdade
dos
burgueses.
Por
liberdade entende-se,
no
âmbito
das
atuais relações
de
produção burguesas,
o
livre comércio,
a
livre compra
e
venda.
Mas
se cai a
barganha, então
cai
também
a
barganha livre.
De
uma
maneira geral,
todo
o
palavrório referente
à
livre barganha,
como todas
as
demais
bravatas
de
nossa burguesia sobre
a
liberdade,
só
fazem
sentido
em
face
da
barganha
tolhida,
do
burguês subjugado
da
Idade Média,
maso em
face
da
supressão comunista
da
barganha,
das
relações burguesas
de
produção
e da
própria
burguesia.
Vocês
se
horrorizam
com o
fato
de
querermos suprimir
a
propriedade privada.
Mas na
sociedade vigente,
na
sociedade
de
vocês,
a
propriedade
privada
está abolida
para
nove décimos
de
seus
membros;
ela
existe exatamente
poro
existir
para
nove décimos.
Vocês,
portanto, censuram-nos querer suprimir
uma
propriedade
que
pressupõe, como condição necessária,
a
privação
de
propriedade
para
a
maioria esmagadora
da
sociedade.
Vocês
nos
censuram,
em uma
palavra, querer suprimir
a
propriedade
de
vocês. Todavia,
é
isso mesmo
que
queremos.
A
partir
do
momento
em que o
trabalho
o
possa mais
ser
transformado
em
capital, dinheiro, renda fundiária,
em
suma,
em
uma
potência social monopolizável,
isto
é, a
partir
do
momento
em
que
a
propriedade pessoal
o
possa mais reverter
em
propriedade
burguesa,
a
partir desse momento, declaram vocês,
a
pessoa estaria
suprimida.
Vocês
confessam, portanto,
o
conceber
sob a
condição
de
pessoa nada além
do
burguês,
do
proprietário burguês.
E
essa pessoa,
todavia, precisa
ser
suprimida.
O
comunismo
o
tira
de
ninguém
o
poder
de
apropriar-se
de
produtos sociais,
ele
apenas tira
o
poder
de
subjugar trabalho alheio
mediante essa apropriação.
Objetou-se
que com a
supressão
da
propriedade
privada
cessaria
toda atividade
e
irromperia
uma
indolência geral.
De
acordo
com
isso,
a
sociedade burguesa deveria
ter
perecido
há
muito tempo
na
indolência; pois
os que
nela trabalham,
o
lucram,
e os que
nela lucram,
o
trabalham. Todo esse escrúpulo
converge para
a
tautologia
de queo
mais existirá trabalho
assalariado
o
logo
o
exista mais capital.
Todas
as
investidas,
queo
dirigidas
ao
modo comunista
de
apropriação
e de
produção
dos
produtos materiais,
foram
igualmente
estendidas
à
apropriação
e à
produção
dos
produtos intelectuais.
Da
mesma maneira como para
o
burguês
o
cessamento
da
propriedade
de
classe
é o
cessamento
da
própria produção, assim
o
cessamento
da
formação
de
classe
é
para
ele
idêntico
ao
cessamento
da
formação cultural
de uma
forma geral.
A
formação cultural, cuja perda
ela
lamenta,
é
para
a
imensa
maioria
a
formação direcionada
para
a
máquina.
Mas
o
venham
discutir
conosco
enquanto
avaliarem
a
abolição
da
propriedade
burguesa
com a
medida
das
suas
representações burguesas
de
liberdade, formação, direito etc.
As
próprias idéias
de
vocês
o
produtos
das
relações burguesas
de
produção
e
propriedade, como
o
sistema jurídico
de
vocês
é
apenas
a
vontade
de sua
classe elevada
à
condição
de
lei,
uma
vontade cujo
conteúdo está dado
nas
condições materiais
de
vida
da
classe
de
vocês.
A
representação interessada,
que os
leva
a
transformar
as
suas
relações
de
produção
e
propriedade
- de
relações
históricas,
transitórias
no
desenrolar
da
produção,
em
leis eternas
da
natureza
e da
razão
-,
vocês
a
partilham
com
todas
as
classes dominantes
desaparecidas.
O que
vocês compreendem
em
relação
à
propriedade
antiga,
o que
compreendem
em
relação
à
propriedade feudal, vocês
o
podem mais compreender
em
relação
à
propriedade burguesa.
Supressão
da
família! Mesmo
os
mais radicais exaltam-se
com
esse infame
desígnio
dos
comunistas.
Sobre
o que
repousa
a
família atual,
a
família
burguesa? Sobre
o
capital, sobre
o
lucro privado. Somente
para
a
burguesia
ela
existe
de
forma plenamente desenvolvida;
mas ela
encontra
o seu
complemento
na
carência
de
família imposta
aos
proletários
e na
prostituição pública.
A
família
dos
burgueses
é
naturalmente eliminada
com a
eliminação desse
seu
complemento,
e
ambos desaparecem
com o
desaparecimento
do
capital.
Vocês
censuram-nos querer suprimir
a
exploração
dos filhos
pelos
pais?
s
confessamos esse crime.
Mas,
dizem vocês,
s
suprimimos
as
relações mais íntimas
à
medida
que
colocamos
a
educação social
no
lugar
da
doméstica.
E
a
educação
de
vocês
o
está também determinada pela
sociedade? Pelas relações sociais
em
cujo âmbito vocês educam, pela
ingerência mais
ou
menos direta
ou
indireta
da
sociedade
por
meio
da
escola
etc.?
Os
comunistas
o
inventam
o
influxo
da
sociedade
sobre
a
educação; eles apenas modificam
o seu
caráter,
eles subtraem
a
educação
à
influência
da
classe dominante.
O
palavrório burguês sobre família
e
educação, sobre
a
íntima
relação
de
pais
e filhos
torna-se tanto mais repugnante quanto
mais
todos
os
laços familiares,
em
conseqüência
da
grande indústria,
o
rompidos
para
os
proletários
e as
suas crianças transformadas
em
simples
artigos
de
comercio
e
instrumentos
de
trabalho*
Mas
vocês, comunistas, querem introduzir
a
comunidade
das
mulheres, grita
em
coro,
aos
nossos ouvidos,
a
burguesia inteira.
O
burguês enxerga
em sua
mulher
um
mero instrumento
de
produção.
Ele
ouve dizer
que os
instrumentos
de
produção devem
ser
explorados comunitariamente,
e é
natural
queo
consiga pensar
outra
coisa senão
que o
destino
do
sistema
de
comunidade
irá
atingir
igualmente
as
mulheres.
Eleo
imagina
que se
trata
precisamente
de
suprimir
a
posição
das
mulheres enquanto meros instrumentos
de
produção.
De
resto,
nada mais
ridículo
do que o
espanto altamente
moralista
dos
nossos burgueses diante
da
comunidade oficial
de
mulheres pretensamente proposta pelos comunistas.
Os
comunistas
o
precisam introduzir
a
comunidade
de
mulheres,
ela
existiu quase
sempre.
Os
nossos burgueses,
o
satisfeitos
em ter à sua
disposição
as
mulheres
e as filhas dos
seus proletários,
para
o
falar
da
prosti-
tuição oficial, encontram supremo divertimento
em
seduzir
mu-
tuamente suas esposas.
O
casamento burguês
é na
realidade
a
comunidade
das
esposas.
Poder-se-ia,
no
máximo, censurar
aos
comunistas que,
em
lugar
de
uma
comunidade
de
mulheres hipocritamente ocultada, eles queiram
introduzir
uma
oficial,
franca. De
resto, entende-se
de
imediato
que,
com a
supressão
das
atuais relações
de
produção, também
a
comunidade
de
mulheres delas derivada,
isto
é, a
prostituição oficial
e
não-oficial desaparece.
Além
disso,
foi
censurado
aos
comunistas
que
eles queriam
abolir
a
pátria,
a
nacionalidade.
Os
operários
om
pátria.
o se
pode
tirar
deles
o queo
possuem.
Na
medida
em que o
proletariado deve primeiramente
conquistar
o
domínio
político,
erigir-se
em
classe nacional
6
,
constituir-se
ele
mesmo enquanto nação,
o
próprio proletariado
é
também
nacional,
ainda
que de
forma alguma
no
sentido
da
burguesia.
As
segregações nacionais
e
antagonismos entre povos
jáo
desaparecendo
mais
e
mais
com o
desenvolvimento
da
burguesia,
com
a
liberdade
de
comércio,
o
mercado mundial,
a
uniformidade
da
produção industrial
e as
correspondentes relações
de
vida.
O
domínio
do
proletariado
os
fará
desaparecer ainda mais.
Ação
unificada, pelo menos
dos
países civilizados,
é uma das
primeiras
condições
de sua
libertação.
À
proporção
que a
exploração
de um
indivíduo pelo
outro
é
suprimida, suprime-se
a
exploração
de uma
nação pela outra.
Com
o
antagonismo
de
classes
no
interior
da
nação,
cai a
postura
hostil
das
nações umas
com as
outras.
As
acusações contra
o
comunismo levantadas
de
pontos
de
vista
religiosos,
filosóficos e
ideológicos
em
geral,
o
merecem discussão
mais
minuciosa.
Será
necessária
uma
percepção profunda
para
entender que,
com
as
relações
de
vida
dos
homens,
com os
seus relacionamentos
sociais,
com a sua
existência social, também
se
modificam
as
suas
representações,
as
suas concepções
e os
seus conceitos,
em uma
palavra,
também
a sua
consciência?
Que
outra coisa
prova
a
história
das
idéias senão
que a
produção
intelectual
se
reconfigura
com a
produção material?
As
idéias
dominantes
de uma
época foram sempre tão-somente
as
idéias
da
classe
dominante.
Fala-se
de
idéias
que
revolucionaram toda
uma
sociedade;
com
isto,
apenas profere-se
o
fato
de
que,
no
interior
da
velha sociedade,
formaram-se
os
elementos
de uma
nova sociedade,
que a
dissolução
das
velhas idéias caminha passo
a
passo
com a
dissolução
das
velhas
relações
de
vida.
6
Na
edição
de
1888:
"em
classe dirigente
da
nação".
Quando
o
mundo
antigo
estava
em
processo
de
desmo-
ronamento,
as
religiões
antigas foram vencidas pela religião cristã.
Quando
as
idéias cristãs sucumbiam
no
século
XVIII
às
idéias
iluministas,
a
sociedade feudal
travava
a sua
luta
de
morte
com a
então
revolucionária burguesia.
Ás
idéias
de
liberdade
de
consciência
e de
religião
expressavam
apenas
a
dominação
da
livre concorrência
no
âmbito
do
saber.
"Mas",
dir-se-á, "idéias religiosas, morais,
filosóficas,
políticas,
jurídicas
etc.
modificam-se
todavia
no
decorrer
do
desenvolvimento
histórico.
A
religião,
a
moral,
a filosofia, a
política,
o
direito sempre
mantiveram-se
nessa mudança.
Além
disso,
há
verdades eternas, como liberdade, justiça etc.,
comuns
a
todas
as
condições sociais.
O
comunismo, porém, abole
as
verdades eternas,
ele
abole
a
religião,
a
moral,
ao
invés
de
configurá-las
de
novo;
ele
contraria portanto
todos
os
desen-
volvimentos
históricos
até
aqui."
A
que se
reduz essa
acusação?
A
história
de
toda
a
sociedade
até
o
presente moveu-se
no
interior
de
antagonismos
de
classes,
que
nas
diferentes épocas
foram
configurados
de
maneira diferente.
Mas
o
importa
a
forma
que
tenham assumido,
a
exploração
de uma
parte
da
sociedade pela outra
é um
fato
comum
a
todos
os
séculos passados.
o
admira,
por
isso,
que a
consciência social
de
todos
os
séculos,
a
despeito
de
toda
a
multiplicidade
e
variedade,
mova-se
em
certas formas comuns,
em
formas
de
consciência
que só
se
dissolvem plenamente
com o
desaparecimento completo
do
antagonismo
de
classes.
A
revolução comunista
é a
ruptura mais radical
com as
relações
de
propriedade tradicionais;
o
admira
que no
curso
de seu
desenvolvimento
se
rompa
de
maneira
a
mais radical
com as
idéias
tradicionais.
Mas
deixemos
as
investidas
da
burguesia contra
o
comunismo.
Já
vimos acima
que o
primeiro passo
na
revolução operária
é a
elevação
do
proletariado
à
condição
de
classe dominante,
a
conquista
da
democracia.
O
proletariado utilizará
o seu
domínio político
para
subtrair
pouco
a
pouco
à
burguesia
todo
o
capital,
para
centralizar
todos
os
instrumentos
de
produção
nas
mãos
do
Estado,
isto
é, do
proletariado organizado como classe dominante,
e
para
multiplicar
o
mais rapidamente possível
a
massa
das
forças
produtivas.
De
início,
isto
naturalmente
só
pode acontecer
por
meio
de
intervenções despóticas
no
direito
de
propriedade
e nas
relações
de
produção burguesas, portanto
através
de
medidas
que
economi-
camente
parecem
insuficientes
e
insustentáveis,
mas que no
curso
do
movimento transcendem
o seu
próprio âmbito
e
serão inevitáveis
como meios
para
o
revolucionamento
do
modo
de
produção
em seu
conjunto.
Naturalmente essas medidas serão diferentes
de
acordo
com
os
diferentes países.
Para
os
países mais desenvolvidos,
contudo,
as
seguintes
medidas
poderão
ser
postas
em
prática
de uma
forma
um
tanto geral:
1.
Expropriação
da
propriedade fundiária
e
emprego
da
renda
fundiária
para
despesas estatais.
2.
Pesado imposto progressivo.
3.
Abolição
do
direito
de
herança.
4.
Confisco
da
propriedade
de
todos
os
emigrantes
e
insurrecionados.
5.
Centralização
do
crédito
nas
mãos
do
Estado
através
de um
banco
nacional
com
capital estatal
e
monopólio exclusivo.
6.
Centralização
do
sistema
de
transportes
nas
mãos
do
Estado.
7.
Multiplicação
das
fábricas
nacionais,
dos
instrumentos
de
produção, arroteamento
e
melhoria, segundo
um
plano
comunitário,
de
grandes extensões
de
terra.
8.
Obrigatoriedade
de
trabalho
para
todos,
constituição
de
exércitos industriais, especialmente
para
a
agricultura.
9.
Unificação
dos
setores
da
agricultura
e da
indústria, atuação
no
sentido
da
eliminação gradual
da
diferença entre cidade
e
campo.
10.
Educação pública
e
gratuita
para
todas
as
crianças. Eliminação
do
trabalho
infantil
em
fábricas
na sua
forma atual.
Unificação
da
educação
com a
produção material etc.
Desaparecidas
as
diferenças
de
classes
no
curso
do
desenvol-
vimento
e
concentrada toda
a
produção
nas
mãos
dos
indivíduos
associados, então
o
poder público perde
o
caráter
político.
O
poder
político
em
sentido próprio
é o
poder organizado
de uma
classe
para
a
opressão
de uma
outra.
Se, na
luta contra
a
burguesia,
o
proletariado unifica-se necessariamente
em
classe, converte-se
em
classe dominante mediante
uma
revolução,
e
como classe dominante
suprime
à
força
as
velhas relações
de
produção, então
ele
estará
suprimindo,
com
essas relações
de
produção,
as
condições
de
existência
do
antagonismo
de
classes,
as
classes
em
geral
e, com
isso,
a sua
própria dominação enquanto classe.
No
lugar
da
velha sociedade burguesa
com as
suas classes
e
antagonismos
de
classes surge
uma
associação
na
qual
o
livre
desenvolvimento
de
cada
um é a
condição
para
o
livre desen-
volvimento
de
todos.
III
Literatura socialista
e
comunista
1. O
socialismo
reacionário
a)
O
socialismo feudal
Em
consonância
com a sua
posição histórica,
as
aristocracias
francesa e
inglesa estavam fadadas
a
escrever panfletos contra
a
moderna sociedade burguesa.
Na
revolução
francesa de
julho
de
1830,
no
movimento reformista
inglês,
elas mais
uma vez
sucumbiram
ao
odiado arrivista.
o se
podia dizer mais
que se
tratava
de uma
luta política séria. Restou-lhes apenas
a
luta literária.
Mas
também
no
âmbito
da
literatura
o
velho palavrório
da
época
da
restauração
(4)
tornou-se
impossível.
Para
despertar simpatias,
a
aristocracia precisou aparentemente perder
de
vista
os
seus inte-
resses
e
formular
sua
acusação
à
burguesia somente
no
interesse
da
classe
operária explorada.
Ela
preparou assim
a
satisfação
de
poder
entoar invectivas
ao seu
novo senhor
e
sussurrar-lhe
aos
ouvidos
profecias
mais
ou
menos sinistras.
Dessa maneira surgiu
o
socialismo feudal,
em
parte canto
de
lamento,
em
parte pasquim,
em
parte ressonância
do
passado,
em
parte
ameaça
do
futuro,
por
vezes acertando,
com
suas sentenças
amargas,
espirituosamente dilacerantes,
o
coração
da
burguesia,
mas
atuando sempre
de
maneira cômica
em sua
total
incapacidade
de
compreender
a
marcha
da
história moderna.
Fizeram
com que o
saco
de
esmolas proletário tremulasse
em
suas
mãos como bandeira,
para
ajuntar
o
povo atrás
de si. Mas
toda
vez
que
seguia
os
aristocratas,
o
povo
avistava
em seu
traseiro
os
velhos brasões feudais
e
dispersava-se
com
sonoras
e
irreverentes
gargalhadas.
Uma
parte
dos
Legitimistas
franceses e a
Jovem Inglaterra
levaram
a
público esse espetáculo.
Quando
os
feudais
provam
que o seu
modo
de
exploração
estava
configurado
de
forma diferente
da
exploração burguesa, eles
esquecem
apenas
que
exploraram
sob
circunstancias
e
condições
inteiramente diversas. Quando demonstram
que sob o seu
domínio
o
existiu
o
proletariado, então esquecem apenas
que
essa mesma
burguesia moderna
foi um
rebento necessário
de sua
ordem social.
De
resto, eles dissimulam
o
pouco
o
caráter reacionário
de
sua
crítica
que a sua
principal acusação contra
a
burguesia consiste
justamente
em
afirmar
que sob o
regime burguês
se
desenvolve
uma
classe
que irá
mandar pelos ares toda
a
velha ordem social.
O
que
censuram
à
burguesia, mais
do que
gerar
um
prole-
tariado
em
geral,
é o
fato
de que ela
gera
um
proletariado revolu-
cionário.
Por
isso,
na
práxis política participam
de
todas
as
represálias
violentas contra
a
classe operária,
e na
vida comum acomodam-se,
a
despeito
de
todo
o seu
palavrório enfatuado,
em
colher
os
pomos
dourados
7
e em
trocar
fidelidade,
amor, honra, pela barganha
com
,
beterraba
e
aguardente (5).
Da
mesmo forma como
o
clérigo
sempre andou
de
mãos dadas
com
o
feudal, assim
o
socialismo clerical anda
com o
socialismo
feudal.
7
Na
edição
de
1888: "pomos
que
caíram
da
árvore
da
indústria".
Nada
mais
fácil
do que dar ao
ascetismo cristão
um
verniz
socialista.
O
cristianismo também
o
clamou contra
a
propriedade
privada,
o
casamento,
o
Estado?
E em seu
lugar
o
pregou
a
caridade
e a
mendicância,
o
celibato
e a
mortificação
da
carne,
a
vida monástica
e a
Igreja?
O
socialismo cristão
é
apenas
a
água benta
com que o
clérigo abençoa
a
irritação
do
aristcrata.
b)
Socialismo
pequeno-burguês
A
aristocracia feudal
o é a
única classe derrubada pela bur-
guesia cujas condições
de
vida definharam
e
pereceram
na
moderna
sociedade burguesa.
O
estamento medieval
dos
burgueses
extra-
muros
8
e o
estamento
dos
pequenos camponeses
foram
os
precursores
da
moderna burguesia.
Nos
países industrial
e
comercialmente
menos desenvolvidos, essa classe ainda continua
a
vegetar
ao
lado
da
burguesia ascendente.
Nos
países
em que a
moderna civilização
se
desenvolveu,
formou-se
uma
nova classe
de
pequenos burgueses,
a
qual oscila
entre
o
proletariado
e a
burguesia
e
está sempre
se
reformulando
enquanto parcela complementar
da
sociedade burguesa, classe cujos
membros
o
sendo arrastados constantemente
para
o
proletariado
e,
com o
desenvolvimento
da
grande indústria, vêem inclusive chegar
o
momento
em que
desaparecerão
por
completo, enquanto parcela
autônoma,
da
sociedade moderna,
e
serão substituídos
no
comércio,
na
manufatura,
na
agricultura,
por
supervisores
de
trabalho
e por
criados
(Domestiken).
Em
países como
a
França,
em que a
classe camponesa
perfaz
bem
mais
do que a
metade
da
população,
foi
natural
que
escritores
que
se
alinhavam
com o
proletariado
e
contra
a
burguesia aplicassem
à
sua
crítica
do
regime burguês
o
padrão
dos
pequenos burgueses
e
pequenos camponeses, tomando assim
o
partido
dos
operários
a
partir
do
ponto
de
vista
da
pequena-burguesia. Constituiu-se dessa
maneira
o
socialismo pequeno-burguês. Sismondi
é o
cabeça dessa
literatura
o
apenas
para
a
França,
mas
também
para
a
Inglaterra.
Esse
socialismo
dissecou
com
extrema perspicácia
as
contradições existentes
nas
modernas relações
de
produção.
Ele
8
Mittelalterliches
Pfahlbürgertum,
no
original
(v.
nota
1)
desvendou
os
embelezamentos hipócritas
dos
economistas.
Demonstrou
de
maneira irrefutável
os
efeitos destrutivos
da
maquinaria
e da
divisão
do
trabalho,
a
concentração
dos
capitais
e
da
propriedade fundiária,
a
superprodução,
as
crises,
a
necessária
derrocada
dos
pequenos burgueses
e
camponeses,
a
miséria
do
proletariado,
a
anarquia
na
produção,
as
desproporções gritantes
na
distribuição
da
riqueza,
a
guerra industrial
de
extermínio entre
as
nações,
a
dissolução
dos
velhos costumes,
das
velhas relações
familiares,
das
velhas nacionalidades.
Em
seu
teor
positivo,
contudo,
esse socialismo quer,
ou
restabelecer
os
velhos meios
de
produção
e de
circulação,
e, com
estes,
as
velhas relações
de
propriedade
e a
velha sociedade,
ou
então
forçar
os
modernos meios
de
produção
e de
circulação
a
entrar
novamente
no
quadro
das
velhas relações
de
propriedade,
as
quais
foram
arrebentadas, tiveram
de ser
arrebentadas
por
eles.
Em am-
bos
os
casos,
ele é
reacionário
e
utópico
ao
mesmo tempo.
Sistema corporativo
na
manufatura
e
economia patriarcal
no
campo,
esta
é a sua
última
palavra.
Em
seu
desenvolvimento posterior, essa tendência perdeu-se
em
um
covarde coro
de
lamentações
9
.
c)
O
socialismo alemão
ou o
"verdadeiro"
A
literatura comunista
e
socialista
da
França,
que
nasceu
sob a
pressão
de uma
burguesia dominante
e é a
expressão literária
da
luta contra esse
domínio,
foi
introduzida
na
Alemanha
em uma
época
em que a
burguesia estava começando
sua
luta contra
o
absolutismo feudal.
Filósofos alemães, semifilósofos
e
beletristas apoderaram-se
avidamente dessa literatura,
e
esqueceram apenas que,
com a
imigração daqueles escritos
da
França,
o
haviam
imigrado
ao
mesmo tempo
para
a
Alemanha
as
relações
de
vida
francesas.
Diante
das
relações alemãs,
a
literatura
francesa
perdeu
todo
significado
9
Na
edição
de
1888: "Por
fim,
quando
os
obstinados
fatos
históricos
espantaram
toda
a
embriaguez
da
auto-ilusão,
essa
forma
de
socialismo degenerou
em um
lamentável
coro
de
lamentações."
prático imediato
e
assumiu
uma
aparência meramente literária.
Foi
forçoso aparecer como especulação ociosa sobre
a
realização
da
essência humana. Para
os filósofos
alemães
do
século
XVIII,
as
reivindicações
da
primeira Revolução Francesa possuíam assim
o
sentido
único
de ser
reivindicações
da
"razão prática"
em
geral,
e as
manifestações
de
vontade
por
parte
da
burguesia revolucionária
francesa
significavam
aos
seus
olhos
as
leis
da
vontade pura,
da
vontade, como esta
tem de
ser,
da
vontade verdadeiramente humana.
O
trabalho exclusivo
dos
literatos alemães
consistiu
em
colocar
as
novas idéias
francesas em
harmonia
com a sua
velha consciência
filosófica, ou
antes apropriar-se
das
idéias
francesas a
partir
de seu
posicionamento
filosófico.
Essa
apropriação aconteceu
da
mesma maneira pela qual
geralmente
se
apropria
de uma
língua estrangeira, pela tradução.
É
sabido como
os
monges recobriam manuscritos
em que
estavam
registradas
as
obras clássicas
da
velha
era
paga
com
insípidas
histórias católicas
de
santos.
Os
literatos alemães procederam
de
forma
inversa
com a
literatura
francesa
profana. Escreviam
o seu
disparate
filosófico
atrás
do
original
francês. Escreviam,
por
exemplo,
atrás
da
crítica
francesa das
relações monetárias, "alienação
da
essência humana", atrás
da
crítica
francesa do
Estado burguês
escreviam
"superação
do
domínio
do
geral abstrato" etc.
A
inserção sub-reptícia desse palavrório
filosófico nos
desdo-
bramentos
franceses,
batizavam-na "filosofia
da
ação", "socialismo
verdadeiro", "ciência alemã
do
socialismo",
"fundamentação
filo-
sófica
do
socialismo" etc.
Assim,
a
literatura socialista-comunista
francesa foi
formal-
mente emasculada.
E uma vez
que,
em
mãos alemãs,
ela
deixou
de
expressar
a
luta
de uma
classe contra
a
outra,
o
alemão
ficou
consciente
de ter
superado
a
"unilateralidade
francesa", de ter
representado,
em vez de
necessidades verdadeiras,
a
necessidade
da
verdade,
e, em vez dos
interesses
do
proletário,
os
interesses
da
essência humana,
do
homem
de uma
maneira geral,
do
homem
que
o
pertence
a
nenhuma classe,
que de
modo algum pertence
à
realidade,
que
pertence apenas
aou
nebuloso
da
fantasia
filosófica.
Esse
socialismo alemão,
que
recebeu seus canhestros exercícios
escolares
com
tanta seriedade
e
solenidade
e os
alardeou
de
forma
o
charlatanesca,
foi
perdendo pouco
a
pouco
sua
inocência pedante.
A
luta
da
burguesia alemã, notadamente
da
prussiana, contra
os
feudais
e a
realeza absoluta
- em uma
palavra,
o
movimento libe-
ral
-
tornou-se mais séria.
Ofereceu-se
assim
ao
"verdadeiro" socialismo
a
desejada
oportunidade
de
contrapor
as
reivindicações socialistas
ao
movimento
político,
de
lançar
os
anátemas tradicionais contra
o
liberalismo, contra
o
Estado representativo, contra
a
concorrência
burguesa, liberdade
de
imprensa burguesa,
direito
burguês,
liberdade
e
igualdade burguesas,
e
pregar diante
da
massa popular
que elao tem
nada
a
ganhar
com
esse movimento burguês,
mas
antes
tudo
a
perder.
O
socialismo alemão esqueceu
a
tempo
que a
crítica
francesa, da
qual
ele era o eco sem
espírito, pressupunha
a
moderna sociedade burguesa,
com as
correspondentes condições
materiais
de
vida
e a
constituição política adequada, pressupostos
esses
que na
Alemanha ainda
se
tratava
de
conquistar.
Ele
servia
aos
governos absolutistas alemães,
com o seu
séquito
de
clérigos,
mestres-escolas, nobres rurais
e
burocratas, como
oportuno espantalho contra
a
burguesia
que
estava
em
ameaçadora
ascensão.
Ele
constituía
o
complemento adocicado
às
amargas
chibatadas
e
balas
de
espingarda
com que
esses mesmos governos
tratavam
os
levantes
operários alemães.
Se
de tal
maneira
o
socialismo "verdadeiro" tornou-se
uma
arma
nao dos
governos contra
a
burguesia alemã,
ele
também
representou,
de
maneira imediata,
um
interesse reacionário,
o in-
teresse
da
arcaica pequena-burguesia
10
alemã.
Na
Alemanha,
a
pequena-burguesia, proveniente
do
século
XVI e
desde esse tempo
despontando aqui
de
forma
sempre variada,
constitui
a
efetiva
base
social
das
condições vigentes.
10
Pfahlbürgerschaft, no
original;
o
termo
é
empregado aqui
em seu
sentido
figurado
(v.
nota
1). Na
edição
de
1888 encontra-se substituído
por
"filisteus".
(N. d. T.)
Sua
manutenção
é a
manutenção
das
condições vigentes
na
Alemanha.
Do
domínio industrial
e
político
da
burguesia,
ela
teme
a
derrocada certa,
por um
lado
em
conseqüência
da
concentração
do
capital,
por
outro
lado pelo advento
de um
proletariado
revolucionário.
O
socialismo "verdadeiro" pareceu-lhe matar dois
coelhos
de uma só
cajadada.
Ele
dissemina-se como
uma
epidemia.
A
roupagem, tecida
de
especulativas teias
de
aranha, bordada
com
flores da
retórica
e da
beletrística, impregnada
de
sufocante
orvalho
sentimental,
essa extravagante roupagem
na
qual
os
socialistas alemães
envolveram
seu
punhado
de
esquálidas "verdades
eternas", apenas intensifica
a
aceitação
da sua
mercadoria entre esse
público.
O
socialismo alemão,
por seu
turno,
foi
reconhecendo
cada
vez
mais
sua
missão
de ser o
representante
tonitruante
dessa
pequena-burguesia arcaica.
Ele
proclamava
a
nação alemã como sendo
a
nação normal
e o
filisteu
alemão
como sendo
o
homem normal.
A
cada
baixeza deste,
ele
dava
um
sentido oculto, mais elevado,
um
sentido socialista
no
qual
essa baixeza significava
o seu
contrário.
Ele
chegou
às
últimas
conseqüências
ao
postar-se diretamente contra
a
tendência
"rudimentar
e
destrutiva"
do
comunismo
e
anunciar
a sua
superioridade apartidária sobre todas
as
lutas
de
classes.
Com
muito
poucas
exceções, tudo
o
que,
de
tais escritos pretensamente socialistas
e
comunistas, circula
na
Alemanha pertence
ao
âmbito dessa litera-
tura
suja
e
enervante (6).
2. O
socialismo
conservador
ou
burguês
Uma
parcela
da
burguesia deseja corrigir
as
mazelas sociais
para
assegurar
a
continuidade
da
sociedade burguesa.
Pertencem
a
ela: economistas,
filantropos,
humanitários,
reformadores
da
situação
das
classes trabalhadoras, organizadores
de
beneficências, protetores
de
animais, fundadores
de
ligas anti-
alcoólicas, tacanhos
reformistas
das
mais
variadas
espécies.
E
também
esse socialismo burguês
foi
elaborado
em
sistemas completos.
Mencionemos, como exemplo,
a
"Philosophic
de la
misère"
de
Proudhon.
Os
burgueses socialistas querem
as
condições
de
vida
da
moderna sociedade
sem as
lutas
e os
perigos
que
necessariamente
decorrem
delas. Eles querem
a
sociedade vigente,
mas
subtraindo
os
elementos
que a
revolucionam
e a
dissolvem. Eles querem
a
burguesia
sem o
proletariado.
A
burguesia, naturalmente, representa
para
si
mesma
o
mundo
em que
domina como sendo
o
melhor
dos
mundos.
O
socialismo
dos
burgueses elabora essa representação
consoladora
em um
semi-sistema
ou em um
sistema completo.
Quando exorta
o
proletariado
a
concretizar
os
seus sistemas
e
entrar
na
nova Jerusalém, então
ele só
exige
no
fundo
que o
proletariado
permaneça
na
sociedade atual,
mas se
desfaça
das
representações
hostis
que faz
desta.
Uma
segunda
forma
desse socialismo, menos sistemática porém
mais
prática, busca
tirar a
disposição
da
classe
operária
para
qualquer
movimento revolucionário, demonstrando
queo é
essa
ou
aquela
transformação
política
que lhe
poderá
ser
proveitosa,
mas
tão-
somente
uma
transformação
das
relações materiais
de
vida,
das
relações econômicas.
Mas por
transformação
das
relações materiais
de
vida, esse socialismo
o
entende
de
maneira alguma
a
abolição
das
relações burguesas
de
produção,
a
qual
só é
possível pela
via
revolucionária,
mas sim
melhorias administrativas,
que se
processam
no
terreno dessas relações
de
produção,
e
portanto nada alteram
na
relação
entre capital
e
trabalho assalariado, mas,
no
melhor
dos
casos, diminuem para
a
burguesia
os
custos
do seu
domínio
e
simplificam
a sua
gestão
do
Estado.
Esse
socialismo
dos
burgueses
só
alcança
a sua
expressão
correspondente quando
se
converte
em
mera
figura
retórica.
Livre
comércio!
- no
interesse
da
classe
trabalhadora;
proteções
alfandegárias!
- no
interesse
da
classe trabalhadora; prisões
em
sistema
de
celas!
- no
interesse
da
classe trabalhadora:
eis a
ultima
palavra
do
socialismo
dos
burgueses,
a
única levada
a
sério.
O
socialismo
da
burguesia
consiste
justamente
na
afirmação
de
que os
burgueses
o
burgueses
- no
interesse
da
classe traba-
lhadora.
3. O
socialismo
e o
comunismo crítico-utópicos
o
vamos
falar
aqui
da
literatura
que em
todas
as
grandes
revoluções modernas expressou
as
reivindicações
do
proletariado.
(Escritos
de
Babeuf etc.)
As
primeiras tentativas
do
proletariado
no
sentido
de
fazer
valer
seu
próprio interesse
de
classe
num
tempo
de
agitação geral,
no
período
da
derrubada
da
sociedade feudal,
fracassaram
necessa-
riamente
em
face
da
configuração pouco desenvolvida
do
próprio
proletariado
e da
carência
das
condições
materiais para
a sua
libertação,
as
quais
o
justamente
o
produto
da
época burguesa.
A
literatura
revolucionária,
que
acompanhou essas primeiras
movimentações
do
proletariado,
é
necessariamente reacionária
em
seu
conteúdo.
Ela
ensina
um
ascetismo geral
e um
igualitarismo
grosseiro.
Os
sistemas propriamente socialistas
e
comunistas,
os
sistemas
de
Saint-Simon, Fourier, Owen etc., surgem
no
primeiro período,
pouco desenvolvido,
da
luta entre proletariado
e
burguesia,
que
expusemos
acima (ver Burguesia
e
Proletariado
11
).
E
verdade
que os
inventores desses sistemas enxergam tanto
o
antagonismo
das
classes como
a
eficácia
dos
elementos dissolventes
na
própria sociedade dominante.
Maso
divisam,
no
campo
do
proletariado, nenhuma autonomia histórica, nenhum movimento
político
que lhe
seja
peculiar.
Como
o
desenvolvimento
do
antagonismo
das
classes caminha
passo
a
passo
com o
desenvolvimento
da
indústria, eles tampouco
encontram
as
condições materiais
para
a
libertação
do
proletariado,
e
procuram assim
por uma
ciência social,
por
leis sociais,
no
intuito
de
criar
essas condições.
No
lugar
da
atividade social
é
preciso entrar
a sua
própria
atividade
inventiva,
no
lugar
das
condições históricas
de
libertação
entram
condições fantásticas,
no
lugar
da
organização
do
proleta-
riado
em
classe,
que vai se
processando gradualmente, entra
uma
organização
da
sociedade engendrada
por
eles mesmos.
A
história
11
Trata-se
do
segmento
I
"Burgueses
e
Proletários".
universal
que
está
por vir
dissolve-se
para
eles
na
propaganda
e na
execução
prática
de
seus planos sociais.
É
verdade
que
estão conscientes
de
representarem
em
seus
planos
o
interesse
da
classe trabalhadora como sendo
a
classe mais
sofredora.
O
proletariado existe
para
eles somente
sob
esse
ponto
de
vista
da
classe mais sofredora.
Mas
a
forma
pouco
desenvolvida
da
luta
de
classes assim como
a
sua
própria situação
de
vida
m por
conseqüência
o
fato
de se
julgarem
muito
acima daquele antagonismo
das
classes. Querem
melhorar
a
situação
de
vida
de
todos
os
membros
da
sociedade,
mesmo
a dos
mais
bem
situados.
Por
isso apelam continuamente
ao
conjunto
da
sociedade,
sem
distinção,
de
preferência, inclusive,
à
classe
dominante. Basta compreender
o seu
sistema
para
reconhecê-
lo
como
o
melhor plano possível
da
melhor sociedade possível.
Rejeitam
por
isso toda ação política, notadamente toda ação
revolucionária, querem alcançar
a sua
meta
por via
pacífica
e
tentam
abrir
caminho
para
o
novo evangelho social através
de
pequenos
experimentos,
que
naturalmente malogram, através
da
força
do
exemplo.
Numa época
em que o
proletariado ainda
se
encontra
muito
pouco desenvolvido,
em que
portanto
ele
mesmo concebe
de
modo
ainda
fantástico
a sua
própria situação, essa descrição fantástica
da
sociedade futura brota
12
de seu
primeiro anseio
intuitivo
por uma
reconfiguração geral
da
sociedade.
Porém,
os
escritos socialistas
e
comunistas comportam também
elementos críticos. Atacam
todos
os
fundamentos
da
sociedade
vigente. Forneceram
por
isso
um
material extremamente valioso
para
o
esclarecimento
dos
operários. Suas sentenças positivas sobre
a
sociedade futura,
por
exemplo, supressão
do
antagonismo entre
cidade
e
campo, supressão
da
família,
do
lucro privado,
do
trabalho
assalariado,
o
anúncio
da
harmonia social,
a
conversão
do
Estado
em
uma
mera administração
da
produção
-
todas essas suas sentenças
exprimem
meramente
a
eliminação
do
antagonismo
das
classes,
12
Nas
edições
de
1848
e
1888
lê-se,
em vez de
"brota, nasce"
(entspringt),
"cor-
responde"
(entspricht).
antagonismo
que
está começando agora
a se
desenvolver
e que
aqueles escritos conhecem
o
somente
em sua
primeira indeter-
minação
amorfa.
Por
isso
essas mesmas sentenças
m um
sentido
ainda
puramente utópico.
O
significado
do
socialismo
e do
comunismo crítico-utópicos
está
na
razão inversa
de seu
desenvolvimento histórico.
Na
mesma
medida
em que a
luta
de
classes
se
desenvolve
e se
configura, essa
elevação
fantástica sobre
tal
luta, esse combate fantástico movido
contra esta, perde
todo
valor prático, toda justificativa teórica.
Se,
portanto,
os
artífices desses sistemas também
foram
revolucionários
em
muitos aspectos,
os
seus discípulos constituem
a
cada
vez
seitas
reacionárias. Aferram-se,
em
face
do
contínuo
desenvolvimento
histórico
do
proletariado,
às
velhas concepções
dos
mestres. Procu-
ram
por
isso,
de
maneira conseqüente, embotar novamente
a
luta
de
classes
e
conciliar
as
oposições. Continuam
a
sonhar
com a
realização,
em
regime experimental,
de
suas
utopias
sociais,
instituição
de
falanstérios
isolados,
fundação
de
home-colônias,
implantação
de uma
pequena Icária
(7) -
edição
em
formato redu-
zido
(Duodezausgabe)
da
nova Jerusalém
- e
para
a
construção
de
todos
esses castelos
de
Espanha precisam apelar
à filantropia dos
corações
e dos
endinheirados bolsos burgueses. Paulatinamente
o
caindo
na
categoria
dos
socialistas
reacionários
e
conservadores
acima
retratados,
e
distinguem-se destes
o
somente
por um
pedantismo
mais
sistemático, pela crença supersticiosa
e
fanática
nos
efeitos
miraculosos
de sua
ciência social.
Por
isso
opõem-se
com
exasperação
a
todo
movimento político
dos
operários,
o
qual
só
pôde acercar-se
do
novo evangelho movido
por
descrença cega.
Os
adeptos
de
Owen
na
Inglaterra
e de
Fourier
na
França
reagem,
,
contra
os
cartistas, aqui, contra
os
reformistas.
IV
Posição
dos
comunistas
em
relação
aos
diversos partidos oposicionistas
Pelo
exposto
no
segmento
II, fica
evidente
a
relação
dos
comunistas
com os
partidos operários
já
constituídos,
a sua
relação,
portanto,
com os
cartistas
na
Inglaterra
e os
reformadores agrários
na
América
do
Norte.
Eles lutam
para
alcançar
os
objetivos
e os
interesses imediatos
da
classe operária,
mas no
movimento presente representam
ao
mesmo tempo
o
futuro
do
movimento.
Na
França
os
comunistas
aliam-se
ao
partido social-democrata
(8)
contra
a
burguesia conser-
vadora
e
radical,
sem que por
isso
abram
o do
direito
de se
relacionar criticamente
com a fraseologia e as
ilusões
legadas pela
tradição revolucionária.
Na
Suíça, apoiam
os
radicais,
sem
deixar
de
reconhecer
que
esse partido comporta elementos contraditórios,
em
parte socialistas
democráticos
no
sentido
francês, em
parte burgueses radicais.
Entre
os
poloneses,
os
comunistas apoiam
o
partido
que faz
de
uma
revolução agrária condição
de
libertação nacional,
o
mesmo
partido
que
gerou
a
insurreição cracoviana
de
1846.
Na
Alemanha,
logo
que a
burguesia entra
em
cena revolu-
cionariamente,
o
partido comunista luta
em
comum
com a
burguesia
contra
a
monarquia absoluta,
a
propriedade rural feudal
e a
pequena-
burguesice
(Kleinbürgerei).
Mas
em
momento algum deixa
de
elaborar
nos
operários
uma
consciência
a
mais clara possível
a
respeito
da
oposição
hostil
entre
burguesia
e
proletariado,
para
que os
operários alemães possam
converter
de
imediato
as
condições sociais
e
políticas, produzidas
necessariamente pelo
domínio
burguês,
em
outras tantas
armas
voltadas contra
a
burguesia,
para
que, depois
da
derrubada
das
classes reacionárias
na
Alemanha, comece imediatamente
a
luta con-
tra
a
própria burguesia.
E
em
primeiro lugar
para
a
Alemanha
que os
comunistas
dirigem
sua
atenção, porque
a
Alemanha está
às
vésperas
de uma
revolução burguesa
e
porque realiza esse revolucionamento
sob
condições mais
avançadas
da
civilização européia
em
geral
e com um
proletariado muito mais desenvolvido
do que a
Inglaterra
no
século
XVII
e a
França
no
século
XVIII,
só
podendo
ser
portanto,
a
revolução
burguesa alemã,
o
prelúdio imediato
de uma
revolução proletária.
Os
comunistas, numa
palavra,
apoiam
por
toda parte
todo
movimento revolucionário contra
as
condições sociais
e
políticas
vigentes.
Em
todos
esses
movimentos
eles
enfatizam
a
questão
da
propriedade,
o
importa
a
forma
mais
ou
menos
desenvolvida
que
esta
possa
ter
assumido,
como
sendo
a
questão
fundamental
do
movimento.
Os
comunistas,
por fim,
trabalham
em
toda
parte
pela
união
e
pelo
entendimento
dos
partidos
democráticos
de
todos
os
países.
Os
comunistas
recusam-se
a
dissimular
suas
visões
e
suas
intenções.
Declaram
abertamente
que os
seus
objetivos
só
podem
ser
alcançados
pela derrubada
violenta
de
toda
a
ordem
social
vigente
até
aqui.
Que
tremam
as
classes
dominantes
em
face
de uma
revolução
comunista.
Nela
os
proletários
nada
m a
perder
senão
as
suas
cadeias.
Eles
m um
mundo
a
ganhar.
Proletários
de
todos
os
países,
uni-vos!
Notas
1
Por
burguesia entende-se
a
classe
dos
modernos capitalistas,
queo
os
proprietários
dos
meios
de
produção social
e
exploram
o
trabalho
assalariado.
Por
proletariado,
a
classe
dos
modernos operários
assalariados que,
uma vez queo
possuem meios
de
produção
próprios, estão
na
dependência
de
vender
a sua
força
de
trabalho
para
poder
viver.
[Nota
de F.
Engels
para
a
edição inglesa
de
1888.]
2
Isto
significa, dito
de
maneira exata,
a
história legada pela
escrita.
Em
1847,
a
pré-história
da
sociedade,
a
organização social
que
precedeu
toda
a
história escrita, ainda
era
praticamente desconhecida. Desde
então, Haxthausen descobriu
a
propriedade comum
do
solo
na
Rússia,
Maurer demonstrou
que ela é a
base social
da
qual derivaram
historicamente todas
as
tribos alemãs,
e aos
poucos verificou-se
que
comunidades aldeãs
com
propriedade comum
do
solo
foram
a
forma
primordial
da
sociedade,
da
índia
até a
Irlanda.
Por fim, a
organização
interna dessa sociedade comunista primitiva
foi
desvendada,
em sua
forma
típica,
pela descoberta culminante
de
Morgan sobre
a
verdadeira
natureza
da
gens
e sua
relação
com a
tribo.
Com a
dissolução desses
sistemas comunitários primordiais, começa
a
cisão
da
sociedade
em
classes especiais
e, por fim, em
classes mutuamente opostas. Tentei
acompanhar
esse processo
de
dissolução
em A
Origem
da
Família,
da
Propriedade
Privada
e do
Estado;
2
a
edição, Stuttgart, 1886.
[Nota
de F.
Engels
para
a
edição inglesa
de
1888.]
3
"Comuna"
chamavam-se
as
cidades
que
surgiam
na
França,
até
mesmo
antes
de
conseguirem arrebatar
aos
seus mestres
e
senhores feudais
auto-administração local
e
direitos políticos como "terceiro Estado".
De
forma geral, apresentamos aqui
a
Inglaterra como país típico
para
o
desenvolvimento econômico
da
burguesia;
para
o seu
desenvolvimento
político,
a
França.
[Nota
de F.
Engels
para
a
edição inglesa
de
1888.]
4
o é a
Restauração Inglesa
de
1660-1689
que se tem em
mente,
mas
sim
a
Restauração Francesa
de
1814-1830.
[Nota
de F.
Engels
para
a
edição inglesa
de
1888.]
5
Isto
se
refere principalmente
à
Alemanha, onde
a
nobreza rural
e a
classe
dos
Junker
cultivam
por
conta própria,
através
de
seus adminis-
tradores,
uma
grande parte
de
suas terras,
e, ao
lado disso,
o
ainda
grandes
produtores
de
açúcar
de
beterraba
e
aguardente
de
batata.
Os
aristocratas ingleses, mais ricos, ainda
o
desceram
a
tanto;
mas
também
sabem como compensar
a
queda
dos
rendimentos
através
da
cessão
de
seus nomes
a
fundadores
de
sociedades acionárias
de
reputação
mais
ou
menos duvidosa.
[Nota
de F.
Engels
para
a
edição inglesa
de
1888.]
6
A
tempestade revolucionária
de
1848 varreu toda essa sórdida
tendência
e
estragou
o
prazer
de
seus defensores
em
continuar mexendo
com
o
socialismo. Principal representante
e tipo
clássico dessa tendência
é o
senhor
Karl
Grün.
[Nota
de F.
Engels
para
a
edição alemã
de
1890.]
7
Falanstério
era a
designação
para
as
colônias socialistas planejadas
por
Charles Fourier;
Icária era o
nome dado
por
Cabet
a sua
Utopia
e,
mais
tarde,
a sua
colônia
comunista
na
América.
[Nota
de F.
Engels
para
a
edição inglesa
de
1888.]
Home-colônias (colônias
no
interior) chama Owen
às
suas sociedades
comunistas-modelo. Falanstério
era o
nome
dos
palácios sociais
planejados
por
Fourier.
Icária
chamava-se
o
pais
da
fantasia
utópico
cujas
instituições
comunistas Cabet descreveu.
[Nota
de F.
Engels
para
a
edição alemã
de
1890.]
8
O
partido
que era
então representado
no
parlamento
por
Ledru-Rollin,
na
literatura
por
Louis Blanc
e na
imprensa diária pelo
Reforme.
O
nome "social-democrata" significava, entre esses seus inventores,
uma
seção
do
partido democrático
ou
republicano
com
coloração mais
ou
menos socialista.
[Nota
de F.
Engels
para
a
edição inglesa
de
1888.]
O
partido
que
então
se
designava
na
França socialista-democrático
era
o
partido representado politicamente
por
Ledru-Rollin
e
literariamente
por
Louis Blanc; era, portanto, abissalmente diferente
da
atual social-
democracia
alemã.
[Nota
de F.
Engels
para
a
edição alemã
de
1890.]
Prefácio
[à
edição
alemã
de
1872]
A
Liga
dos
Comunistas,
uma
associação operária internacional
que,
sob as
condições
de
então
só
podia
ser
naturalmente
uma
associação
secreta, incumbiu
os
abaixo-assinados,
no
congresso
realizado
em
Londres
em
novembro
de
1847,
da
redação
de um
detalhado programa
teórico
e
prático
do
partido,
destinado
à
publicação. Surgiu assim
o
"Manifesto"
que se
segue, cujo manus-
crito partiu
para
a
impressão
em
Londres poucas semanas antes
da
revolução
de
fevereiro. Publicado primeiramente
em
alemão,
foi
reproduzido nesta língua,
na
Alemanha,
na
Inglaterra
e na
América,
em
pelo menos doze edições diferentes.
Em
inglês,
apareceu
primeiro
em
1850,
em
Londres,
no
"Red Republican", traduzido
por
Miss
Helen
MacFarlane,
e em
1871 apareceu
em
pelo menos três traduções
diferentes
na
América.
Em francês,
primeiro
em
Paris, pouco antes
da
insurreição
de
junho
de
1848,
e
recentemente
no "Lê
Socialiste"
de
Nova Yorque.
Uma
nova tradução está sendo preparada.
Em
polonês, apareceu
em
Londres
pouco
depois
de sua
primeira edição
alemã.
Em
russo,
em
Genebra,
nos
anos sessenta.
Foi
igualmente
traduzido
para
o
dinamarquês pouco depois
da sua
publicação.
Por
mais
que as
relações tenham
se
modificado
nos
últimos
vinte
e
cinco anos,
os
princípios gerais desenvolvidos neste "Mani-
festo" conservam ainda hoje, vistos
em
conjunto,
sua
plena justeza.
Detalhes poderiam
ser
melhorados aqui
e
ali.
A
aplicação prática
desses princípios, declara
o
próprio "Manifesto",
irá
depender
em
toda parte
e a
todo
tempo
das
circunstâncias historicamente dadas,
e por
isso
o se
atribui
em
absoluto
peso especial
às
medidas
revolucionárias propostas
no
final
do
segmento
II. Sob
muitos
aspectos,
este passo
se
formularia hoje
de
forma
diferente.
Em
face
do
imenso desenvolvimento
da
grande indústria
nos
últimos
vinte
e
cinco anos
e, com
este,
da
crescente organização partidária
da
classe
operária,
em
face
das
experiências práticas, primeiro
da
revolução
de
fevereiro
e, bem
mais ainda,
da
Comuna
de
Paris,
em
que
o
proletariado deteve pela primeira vez,
ao
longo
de
dois
meses,
o
poder
político,
este programa está hoje parcialmente envelhecido.
A
Comuna, particularmente, forneceu
a
prova
de que "a
classe
operária
o
pode simplesmente tomar posse
da
máquina
de
Estado
constituída
e
colocá-la
em
movimento para
os
seus próprios
objetivos". (Ver
"A
Guerra Civil
na
França. Mensagem
do
Conselho
Geral
da
Associação Internacional
dos
Trabalhadores", edição alemã,
página
19,
onde
isto
se
encontra mais desenvolvido.) Além disso,
é
natural
que a
crítica
da
literatura socialista
seja
lacunar
para
os
dias
de
hoje, porque
só
chega
até
1847; igualmente natural
que as
observações
sobre
a
posição
dos
comunistas
em
relação
aos
diversos
partidos oposicionistas (segmento IV),
se
ainda hoje corretas
em
seus traços fundamentais,
já
estejam hoje,
no
entanto, envelhecidas
em
sua
apresentação,
uma vez que a
situação política
se
reconfigurou
totalmente
e o
desenvolvimento
histórico
varreu
do
mapa
a
maioria
dos
partidos
ali
enumerados.
Entretanto,
o
"Manifesto"
é um
documento
histórico,
queo
nos
arrogamos mais
o
direito
de
modificar. Talvez
apareça
uma
edição posterior acompanhada
de uma
introdução
que
cubra
o
período
de
1847
até o
momento atual;
a
presente reimpressão pegou-
nos
demasiado desprevenidos
para
nos
deixar tempo
para
isso.
Londres,
24 de
junho
de
1872
Karl
Marx
Friedrich
Engels
[Prefácio
à
edição alemã
de
1883]
Tenho
de
assinar
sozinho,
infelizmente,
o
prefácio
à
presente
edição. Marx,
o
homem
a
quem toda
a
classe trabalhadora
da
Europa
e
da
América deve mais
do que a
qualquer
outro
-
Marx descansa
no
cemitério
de
Highgate,
e
sobre
o seu
túmulo
já
cresce
a
primeira
relva.
Desde
a sua
morte,
jáo há
como
falar
em
refundir
ou
complementar
o
"Manifesto". Pelo
que
considero tanto mais neces-
sário registrar aqui expressamente, mais
uma
vez,
o
seguinte:
O
pensamento fundamental
que
atravessa
o
"Manifesto":
que
a
produção econômica
e a
estruturação social
de
toda época histórica,
necessariamente decorrente daquela, constituem
a
base
da
história
política
e
intelectual dessa época; que,
em
consonância
com
isso,
toda
a
história (desde
a
dissolução
da
primitiva propriedade comum
da
terra
e do
solo)
tem
sido
uma
história
de
lutas
de
classes, lutas
entre classes exploradas
e
exploradoras,
classes dominadas
e
dominantes,
em
diferentes estágios
do
desenvolvimento social;
mas
que
essa luta alcançou agora
um
estágio
em que a
classe explorada
e
oprimida
(o
proletariado)
o
pode mais
se
libertar
da
classe
que a
explora
e
oprime
(a
burguesia)
sem ao
mesmo tempo libertar toda
a
sociedade,
para
sempre,
da
exploração, opressão
e das
lutas
de
classes
-
este pensamento fundamental pertence única
e
exclusi-
vamente
a
Marx
13
.
Eu
já o
declarei
freqüentes
vezes;
mas
justamente agora
é
necessário
que
isso
preceda
o
próprio "Manifesto".
Londres,
28 de
junho
de
1883
F.
Engels
Tradução
de
Marcus Vinicius Mazzari.
O
original
em
alemão
-
Manifest
der
Kommunistischen
Partei
-
encontra-se
à
disposição
do
leitor
no
Instituto
de
Estudos Avançados
da USP
para eventual consulta.
13
"Desse pensamento", digo
eu no
prefácio
à
tradução inglesa, "que
no meu
modo
de ver
está
fadado
a
fundamentar
para
a
ciência
da
História
o
mesmo
progresso
que a
teoria
de
Darwin
fundamentou
para
as
Ciências Naturais
-
desse
pensamento
s
dois
já nos
havíamos
paulatinamente
aproximado
alguns
anos
antes
de
1845.
Até que
ponto
eu
avançara
nessa
direção
por
conta própria,
mostra-o
a
minha
"Situação
da
classe
trabalhadora
na
Inglaterra".
Mas
quando
reencontrei
Marx
em
Bruxelas,
na
primavera
de
1845,
ele o
tinha
formulado
de
maneira
acabada
e o
expôs
a mim em
palavras
quase
o
claras
como estas
com
que eu o
resumi
acima.
[Nota
de
Engels
inserida
posteriormente
na
edição
alemã
de
1890.]
... Assumimos, portanto, que os pilares centrais da educação, considerando a histórica luta da classe trabalhadora, em especial a luta da via campesina nas Américas, devem ser: uma consistente base teórica alicerçada na referên-cia marxista (MARX, ENGELS, 1984); o desenvolvimento da consciência de classe forjada nos enfrentamentos, nos confrontos e conflitos (LE-NIN, 1987) uma consistente formação política na perspectiva da não dissociação entre premissas teóricas e programáticas (TROTSKY, s/d); desde a educação infantil, a organização revolucionária deve ser cultivada (PISTRAK, 2000). ...
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