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A instituição da microbiologia e a história da saúde pública no Brasil

Authors:

Abstract

This article deals with the institution of microbiology and its consequences to Brazil- ian public health during the last quarter of the XIXth century and the beginning of the XXth century. The author examines the work done by members of Escola Tropicalista Baiana and then by several constituents of another genera- tion of physicians who, in Rio de Janeiro and São Paulo, researched yellow fever and other diseases from the perspective of the germ theory, trying to discover both its specific microbe as well as effective therapeutic and immunobio- logical treatments to those diseases. The article also examines the transition of the etiologic is- sue to the question of the means of transmission not only of yellow fever but also of malaria, cor- relating it with the coming of age both of Pas- teurianism and Tropical Medicine. The adop- tion of Finlay's theory in Brazil and the success- ful campaigns led by Oswaldo Cruz in Rio de Janeiro, while the Brazilian capital was re- shaped in accordance to a 'haussmannian' mould, initiates a new era in which Instituto Oswaldo Cruz and other medical institutions develop dynamic research programs in close syntony with European and North American Bacteriology and tropical medicine.
ARTIGO ARTICLE
265
A instituição da microbiologia
e a história da saúde pública no Brasil
Microbiology as an institution
and the history of public health in Brazil
1Casa de Oswaldo Cruz,
Fundação Oswaldo Cruz,
av.Brasil 4.365,
Manguinhos, 21045-900
Rio de Janeiro, RJ
jben@openlink.com.br
Jaime Larry Benchimol 1
Abstract This article deals with the institution
of microbiology and its consequences to Brazil-
ian public health during the last quarter of the
XIXth century and the beginning of the XXth
century. The author examines the work done by
members of Escola Tropicalista Baiana and
then by several constituents of another genera-
tion of physicians who, in Rio de Janeiro and
São Paulo, researched yellow fever and other
diseases from the perspective of the germ theory,
trying to discover both its specific microbe as
well as effective therapeutic and immunobio-
logical treatments to those diseases. The article
also examines the transition of the etiologic is-
sue to the question of the means of transmission
not only of yellow fever but also of malaria, cor-
relating it with the coming of age both of Pas-
teurianism and Tropical Medicine. The adop-
tion of Finlay’s theory in Brazil and the success-
ful campaigns led by Oswaldo Cruz in Rio de
Janeiro, while the Brazilian capital was re-
shaped in accordance to a ‘haussmannian
mould, initiates a new era in which Instituto
Oswaldo Cruz and other medical institutions
develop dynamic research programs in close
syntony with European and North American
Bacteriology and tropical medicine.
Key words Bacteriology; Tropical Medicine;
Yellow Fever; History of Public Health; Institu-
to Oswaldo Cruz
Resumo Este artigo analisa a instituição da
microbiologia e suas conseqüências para a saú-
de pública brasileira durante o último quarto
do século XIX e o começo do atual. O autor
examina o trabalho realizado pela Escola Tro-
picalista Baiana, a trajetória de outra geração
de médicos que, no Rio de Janeiro e em São
Paulo, investigaram a febre amarela e outras
doenças à luz da teoria dos germes, procurando
descobrir tanto o seu micróbio específico como
imunobiológicos e tratamentos eficazes. O arti-
go examina também a transição da problemá-
tica etiológica para a do meio de transmissão
da febre amarela e da malária, correlacionan-
do-as com o amadurecimento do pasteurianis-
mo e da Medicina Tropical. A adoção da teoria
de Finlay no Brasil e as campanhas sanitárias
bem-sucedidas que Oswaldo Cruz empreendeu
no Rio de Janeiro, enquanto a cidade era remo-
delada de acordo com o molde “haussmaniano,
inauguram um nova era em que o Instituto Os-
waldo Cruz e outras instituições biomédicas lo-
gram desenvolver dinâmicos programas de pes-
quisa em estreita sintonia com a bacteriologia e
medicina tropical européia e norte-americana.
Palavras-chave Bacteriologia; Medicina Tro-
pical; Febre Amarela; História da Saúde Públi-
ca; Instituto Oswaldo Cruz
Benchimol, J. L.
266
Introdução
O objetivo deste artigo é analisar o modo co-
mo se deu a instituição da microbiologia no
Brasil e suas implicações para a história da
saúde pública, em fins do século XIX e início
do atual. Parto da Escola Tropicalista Baiana e
chego à instituição criada por Oswaldo Cruz,
que alguns chamam de Escola de Manguinhos.
Muita gente ainda crê que a medicina científi-
ca brasileira começou aí. Até então, teriam rei-
nado as crenças errôneas da higiene dos mias-
mas, combatidas solitariamente por Adolfo
Lutz e Vital Brazil no Instituto Bacteriológico
criado, pouco tempo antes,em São Paulo. Com
a fundação do instituto que viria a receber o
nome de Oswaldo Cruz e sua ascensão à chefia
da saúde pública, esta teria abraçado definiti-
vamente a teoria microbiana e adquirido a ca-
pacidade de exercer, enfim, ações eficazes. De
acordo com esta representação, o grupo baia-
no figura, lá atrás, como um lampejo efêmero
de inteligência e antevisão, logo submergido
pelo senso comum conservador e atrasado.
A problemática da medicina pasteuriana no
Brasil tem de retroceder pelo menos uma gera-
ção se quisermos dimensionar o sentido real-
mente inovador das iniciativas de Oswaldo
Cruz e seus coetâneos. Mas só conseguiremos
enxergar a rica dinâmica da experimentação
médica no período decorrido entre as escolas
da Bahia e de Manguinhos se abandonarmos as
dicotomias êxito-fracasso,verdade-erro como
critérios para a seleção de atores e “actantes”
(Latour, 1987) dignos de serem estudados. A
regra consiste em estar atento a quaisquer mi-
cróbios, laboratórios, vacinas que tenham aflo-
rado no período. Devemos examinar essas cria-
ções com os olhos de seus criadores, como a-
postas incertas que podiam dar certo. É essen-
cial abstrair o veredicto proferido mais tarde
para acompanhar seu devir e aquilatar a distân-
cia que percorreram, as implicações que tiveram
para o curso de ação e as idéias de outros atores,
em outros domínios da vida social, assim como
a natureza e a abrangência das controvérsias que
causaram durante o seu tempo de vigência.
Quando mergulhamos nas fontes do século
XIX com o espírito assim desarmado, afloram
e avultam em nosso campo visual personagens
e eventos que tiveram ressonância considerável
em seu tempo, não obstante figurem nas fontes
secundárias de passagem, em um parágrafo ou
em uma simples nota de rodapé. Seguindo-se
as trajetórias destas estrelas anãs, estrelas fuga-
zes ou astros já apagados no atual firmamento
das idéias e instituições científicas, verificamos
que sua existência foi essencial para a gênese
das que ainda brilham.
Escola Tropicalista Baiana
O nome Escola Tropicalista Baiana foi cunha-
do em 1952, por Coni, para designar um grupo
de médicos que se organizou em torno de um
periódico fundado em 1866, a Gazeta Médica
da Bahia (1866-1915), à margem da Faculdade
de Medicina existente na antiga capital do Bra-
sil colônia. Coni buscava os precursores do co-
nhecimento médico vigente à sua época e, por
isso, destacou só os trabalhos “bem-sucedidos”
daquele grupo relacionando certas doenças a
vermes e micróbios.1
Peard (1996, 1992) mostrou que os tropica-
listas permaneceram na fronteira entre o para-
digma miasmático/ambientalista e a teoria dos
germes. Preocupada em refutar o preconceito
historiográfico de que a medicina brasileira era
imitação da européia, enfatizou, sobretudo, o
afã do grupo de produzir investigações origi-
nais sobre as patologias nativas daquela região
da “zona tórrida, bem como suas posições in-
dependentes face à medicina acadêmica euro-
péia e ao establishment médico local.
Mais recentemente, Edler (1999) desenhou
as ramificações institucionais e cognitivas da
geografia médica no período, mostrando que os
baianos eram parte de um empreendimento
global, e que o fermento experimental agia,
também, no Rio de Janeiro, no âmbito de insti-
tuições não tão conservadoras quanto faziam
crer Coni e Peard.
Entre os tropicalistas baianos sobressaíram
três médicos estrangeiros. Otto Wucherer (1820-
1875), nascido em Portugal, de pais alemães,
graduou-se em Tübingen, em 1841, trabalhou
como assistente no Hospital de São Bartolomeu,
em Londres, regressando em seguida ao Brasil,
em 1843, para assumir a posição de médico da
comunidade alemã de Salvador. No mesmo ano,
o escocês John L. Paterson (1820-1882), forma-
do em Aberdeen (1841), tornou-se o médico da
comunidade britânica naquela cidade. Fez fre-
qüentes viagens à Inglaterra e Escócia e traba-
lhou com Lister, em Edimburgo, em 1869. O
português José Francisco da Silva Lima (1826-
1910) graduou-se na capital baiana, em 1851,
mas fez também diversas viagens à Europa, nos
anos seguintes.
Em 1865, começaram a reunir-se informal-
mente para debater questões médicas, e logo
fundariam o periódico que Silva Lima editaria
por muito tempo. A Santa Casa de Misericór-
dia foi o teatro das investigações clínicas, ana-
tomopatológicas e microscópicas feitas pelos
integrantes do grupo. Wucherer, Paterson e Sil-
va Lima congregaram estudantes e médicos
mais jovens, alguns dos quais iriam se tornar
atores políticos importantes nos movimentos
abolicionista e republicano.
As idéias liberais e cientificistas, e o interes-
se pelo positivismo e o evolucionismo compar-
tilhados pelo grupo estavam se difundindo en-
tre as camadas médias emergentes em Salvador
e em outros centros urbanos do império escra-
vocrata. Segundo Peard, foi o novo modelo ci-
entífico, que deslocava a atenção do meio am-
biente para etiologias parasitárias específicas,
que deu uma “clara e poderosa” identidade aos
tropicalistas baianos. Essa identidade adveio,
principalmente, das investigações de Wuche-
rer,2relacionadas à ancilostomíase e à filariose.
Como mostrou Edler, os tropicalistas fa-
ziam parte de uma rede informal de médicos
geograficamente isolados nos domínios colo-
niais europeus, com interesse crescente pelo
papel dos parasitos como produtores de doen-
ças. Correspondiam-se, trocavam espécimes,
mantinham-se ao corrente dos estudos de cada
um por intermédio de periódicos, livros e en-
contros ocasionais durante as viagens à Euro-
pa. Os baianos interagiam com Davaine, Theo-
dor Bilharz, Wilhelm Griesinger, Rudolph Leuc-
khart, Spencer T. Cobbold, Le Roy Mericourt,
Joseph Bancroft, Patrick Manson, nomes, en-
fim, que meio século depois iriam compor o
panteão da parasitologia e da medicina tropi-
cal. A Gazeta Médica da Bahia dava muito mais
importância aos trabalhos desses pesquisado-
res ainda desconhecidos do que aos expoentes
da medicina acadêmica européia.
Peard enfatiza o antagonismo entre os inte-
grantes baianos desta rede e os médicos da ca-
pital do império, encastelados na Academia e
na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Enquanto estes encaravam o progresso como
imitação da ciência e das instituições euro-
péias, os tropicalistas baianos investigavam a
singularidade das doenças nos trópicos, a in-
fluência do clima sobre as raças e sobre a gera-
ção ou multiplicação de miasmas e germes.
Queriam saber se os europeus podiam se acli-
matar nesse ambiente adverso e se era possível
neutralizá-lo com políticas sociais progressis-
Ciência & Saúde Coletiva, 5(2):265-292, 2000
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tas e condutas médicas e higiênicas racionais. A
busca de patologias e, por conseqüência, de
uma medicina nacional implicava a refutação
da crença de que os trópicos eram irremedia-
velmente malsãos, degenerativos, impermeá-
veis à civilização européia.
Edler (1999) rejeita a suposta irredutibilida-
de entre os modelos de conhecimento dos mé-
dicos da Bahia e do Rio de Janeiro. Mostra que
estes estavam imbuídos da mesma preocupa-
ção em criar um conhecimento original sobre
as doenças da nação recém-constituída. Por in-
termédio das sociedades e periódicos que ha-
viam criado, defendiam, também, a necessida-
de de investigar as patologias nativas e tinham
a mesma preocupação de reabilitar a imagem e
as perspectivas daquele Império encravado nos
trópicos.3
Justamente com este espírito, José Maria da
Cruz Jobim (1841) elaborara o trabalho sobre
as doenças que mais afligiam os escravos e in-
digentes do Rio de Janeiro.4Entre elas, sobres-
saía uma vulgarmente conhecida por opilação,
cansaço, caquexia africana e, na literatura es-
trangeira, tropical chlorosis,mal de coeur etc. À
luz do paradigma climatológico, combinando
abordagens sofisticadas para a época (topogra-
fia médica, estatística, anatomia patológica,
exame dos componentes químicos do sangue),
descreveu a doença que chamou hipoemia in-
tertropical,já que sua lesão característica era a
anemia, ou a “inferioridade... do sangue, pró-
pria dos países que ficam entre os trópicos”. Se-
gundo Edler, a nova entidade mórbida teve
acolhida na rede hegemonizada pela geografia
médica francesa graças, sobretudo, à repercus-
são do livro publicado em Paris, em 1844, por
José Francisco Xavier Sigaud: Du climat et des
maladies du Brésil ou statistique médicale de cet
empire.Esse livro enfeixava os resultados da
prática científica coletiva desenvolvida em
quinze anos de atividades da Academia de Me-
dicina do Rio de Janeiro.
Baseando-se no trabalho de Jobim, Otto
Wucherer diagnosticou, em 1865, um caso adi-
antado de hipoemia em um escravo, que fale-
ceu em seguida. Na autópsia,encontrou vermes
da espécie Anchylostomum duodenale,identifi-
cados por Angelo Dubini em 1838. Theodor Bi-
lharz e Wilhelm Griesinger haviam estabeleci-
do em 1853 a relação causal entre este parasita
e a clorose egípcia ou anemia perniciosa do
Egito. Wucherer, que conhecia a obra de Grie-
singer, concluiu em 1866 que a hipoemia e a
clorose do Egito eram uma mesma doença.5
Benchimol, J. L.
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As investigações sobre ela prosseguiram na
Bahia e no Rio de Janeiro após a morte prema-
tura de Wucherer, em 1873, limitando-se os
seus autores a negar ou confirmar a etiologia
parasitária, a explorar lesões anatomopatológi-
cas e a propor novos tratamentos (Edler, 1999).
As questões fundamentais relativas à biologia e
aos hábitos do parasito seriam retomadas, num
patamar muito mais sofisticado, em meados
dos anos 1880, por outra cria da ciência alemã,
Adolfo Lutz, autor de trabalho fundamental so-
bre o ankylostoma duodenal e ankylostomiase.6
Outra contribuição duradoura dos tropica-
listas baianos foram os estudos sobre o verme
da hemato-chyluria,que ajudaram a dar forma
a um dos pilares da medicina tropical inglesa.
A doença, caracterizada pela emissão de urinas
sangrentas ou lactosas, fora descrita em 1812,
em Topographie Médicale de L’Ile de France por
um certo doutor Chapotin. Em 1866, Griesin-
ger pediu a Wucherer que investigasse pacien-
tes hematúricos para confirmar, no Brasil, a
descoberta do Distomum hematobium feita por
Billarz, no Egito, em 1851. As amostras de san-
gue examinadas por Wucherer nada revelaram,
mas em coágulos da urina encontrou, não o
verme descrito por Bilharz, mas sim embriões
de um nematóide desconhecido.
Em 1872, em Calcutá, Timothy Lewis (1841-
1886) localizou esse nematóide no sangue de
hematúricos, denominando-o Filaria sanguinis
hominis.Ele foi o primeiro a sustentar a hipó-
tese da identidade entre a hemato-chyluria e a
elefantíase dos árabes, ao constatar, no ano se-
guinte, a presença dos mesmos entozoários no
sangue, na urina e na linfa extraída de tumores
elefantóides.Os primeiros espécimes do verme
adulto apareceram três anos depois, num ab-
cesso linfático examinado por Bancroft na Aus-
trália (Edler, 1999).7
Patrick Manson concatenou essas observa-
ções e desvendou boa parte do ciclo da filária
em 1877-1878. A própria idéia de que os frag-
mentos conhecidos pertenciam a um ciclo foi
deduzida a partir da constatação de que os va-
sos de um cão podiam conter milhões de em-
briões, os quais, se atingissem ali a forma adul-
ta, alcançariam peso agregado superior ao do
próprio hospedeiro. Morrendo este, morreriam
os parasitas antes de dar a luz a uma segunda
geração, e a espécie se extinguiria. Aquela ano-
malia nas leis da natureza só podia ser evitada
admitindo-se que os embriões abandonavam o
hospedeiro e se desenvolviam fora dele. A pre-
sença dos embriões no sistema circulatório e o
fato de serem destituídos de meios para aban-
doná-lo o levaram a deduzir a intervenção de
um animal sugador de sangue. Chegou assim
ao mosquito Culex,a espécie mais comum nas
regiões onde reinava a filariose. Em 1879 com-
provou que as microfilárias eram adaptadas
aos hábitos noturnos do mosquito: cumprindo
uma “lei de periodicidade”, invadiam a circula-
ção periférica ao cair da tarde e refluíam du-
rante o dia. Dissecando o Culex em períodos
sucessivos, reconstituiu a metamorfose do em-
brião em larva e, em seguida, na forma adulta
da Filaria sanguinis hominis,já equipada para
abandonar seu hospedeiro e levar vida inde-
pendente. Na época, supunha-se que a fêmea
do mosquito, após realizar a refeição de san-
gue, se retirava para as vizinhanças da água, di-
geria, punha ovos e morria. Segundo Manson,
as filárias começavam vida independente na
água e, por intermédio dela, infectavam o ho-
mem. Fechavam o ciclo se acasalando e repro-
duzindo nos vasos linfáticos deste (Delaporte,
1989, Busvine, 1993).
A descoberta de Manson consagrou um no-
vo modelo de experiência e reformulou uma
série de questões no campo da patologia. Elas
requeriam novos saberes e dinâmicas de pes-
quisa para dar conta dos complexos ciclos de
vida dos parasitos patogênicos, envolvendo
mudança de hospedeiros e numerosas adapta-
ções e metamorfoses nos organismos parasita-
dos e no meio externo.
As contribuições brasileiras a esse progra-
ma seriam dominadas pelas pesquisas embrio-
lógicas e patogênicas de Júlio de Moura e Pe-
dro Severiano de Magalhães e as experiências
terapêuticas com eletricidade de Moncorvo de
Figueiredo e Silva Araújo.8Destaco principal-
mente os trabalhos de Adolfo Lutz, o mais pre-
parado para implementar o modelo mansonia-
no em áreas ainda não exploradas pelos hel-
mintologistas brasileiros, inclusive no campo
da veterinária.
Segundo Peard, os tropicalistas baianos dei-
xaram de existir, como grupo, em meados da dé-
cada de 1880, quando foram absorvidos pelo
establishment médico e pelas lutas políticas que
resultaram na extinção da escravidão (1888),
na queda da monarquia (1889) e na consolida-
ção da República. Eles não teriam conseguido
institucionalizar seu precoce programa de pes-
quisas de maneira a formar discípulos que con-
tinuassem sua obra. Edler documenta a ascen-
são profissional dos principais integrantes do
grupo, sobretudo daqueles que se transferiram
Ciência & Saúde Coletiva, 5(2):265-292, 2000
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para o Rio de Janeiro. Mostra que permanece-
ram envolvidos com as pesquisas em parasito-
logia helmíntica nos anos 1880 e 1890 e que, à
frente de periódicos, de cadeiras na faculdade e
de cargos políticos e honoríficos puderam, sim,
influenciar a nova geração de médicos forma-
dos na última década do século.
Peard vê quase total descontinuidade entre
a Escola Tropicalista e a que Oswaldo Cruz cri-
aria vinte anos depois; Edler vê um remanso de
consagrações institucionais interligando as du-
as. Eu pretendo mostrar, agora, que nesse inter-
valo transcorreu um processo denso e confliti-
vo,envolvendo novos atores e interesses, novas
doenças e dinâmicas de pesquisa.
Os caçadores do micróbio
da febre amarela
Seu mais controvertido ator foi, com certeza,
Domingos José Freire.9Tendo iniciado a car-
reira médica como cirurgião na Guerra do Pa-
raguai (1864-1870), obteve depois a cátedra de
química orgânica na Faculdade de Medicina do
Rio de Janeiro.Viajou, então, para a Europa e
durante o tempo em que lá permaneceu (1874-
1876) enviou à Congregação da Faculdade qua-
tro relatórios contendo um inventário arguto
dos progressos em curso na química, biologia e
medicina, bem como um mapeamento deta-
lhado do ensino médico nos locais que visitou
(Bélgica, Viena, Paris, a Alemanha, a Suíça e a
Rússia). Os relatórios revelavam perfeita sinto-
nia com o espírito que presidiu a reforma do
ensino médico na capital do Império (1880-
1889): ênfase na ciência experimental e no en-
sino prático em laboratório. Além de ser um
dos mentores intelectuais da reforma, Freire
integrou a comissão incumbida de redigir a lei
que a instituiu. Dos vários laboratórios criados
então, o que deu a floração experimental mais
exuberante foi o seu, o de química orgânica.
“Ano de mangas, ano de febre amarela”,
costumavam dizer os cariocas, expressando em
linguagem coloquial a relação que os médicos
estabeleciam entre calor, umidade e epidemias.
Em dezembro de 1879, quando as ruas e casas
do Rio de Janeiro reverberavam o sol incle-
mente da “estação calmosa” ou submergiam
debaixo de suas chuvas torrenciais, Freire a-
nunciou pelos jornais a descoberta de germes
que julgava serem os causadores da febre ama-
rela. Propôs, também, um remédio mais eficaz
contra a doença: injeções subcutâneas de sali-
cilato de soda, um antisséptico e antipirético
que a indústria alemã fabricava em grande
quantidade. As controvérsias a respeito do ger-
me e do germicida envolveram médicos con-
vencidos de que a febre amarela era produto de
miasmas, de algum outro envenenamento quí-
mico ou ainda de fermentos inanimados; alo-
patas e homeopatas que propunham tratamen-
tos rivais; doentes que os endossavam ou criti-
cavam; e cronistas que escreviam com muito
humor sobre as experiências feitas pelos médi-
cos na capital brasileira.
No primeiro semestre de 1883, Domingos
Freire desenvolveu a vacina contra a febre ama-
rela, com o Cryptococcus xanthogenicus,uma
planta microscópica cuja virulência atenuou
por meio de técnicas recém-concebidas por
Pasteur.10 Circunstâncias inesperadas conduzi-
ram Freire à presidência da Junta Central de
Higiene Pública, em fins de 1883, tornando, as-
sim, mais fácil a difusão de sua vacina pelos
cortiços do Rio de Janeiro. A surpreendente re-
ceptividade que teve primeiro entre os imi-
grantes e depois entre os nativos deveu-se ao
medo que a febre amarela inspirava e, também,
ao apoio dos republicanos e abolicionistas aos
quais Freire era ligado. Nas imprensas médica e
leiga e na Academia Imperial de Medicina hou-
ve reações contraditórias, especialmente depois
que a vacina recebeu o apoio tácito de d. Pedro
II e a entusiástica adesão de um “discípulo” de
Pasteur, Claude Rebourgeon, veterinário fran-
cês contratado pelo governo brasileiro para ini-
ciar aqui a produção da vacina animal contra a
varíola. Em 1884, Rebourgeon apresentou a
descoberta de Freire às academias de Medicina
e das Ciências de Paris, onde obteve reações fa-
voráveis de parte de personagens importantes
da medicina francesa, como Vulpian e Bou-
ley.11
Pelo menos 12.329 imigrantes e nativos do
Rio de Janeiro e de outras cidades foram ino-
culados com a vacina de Freire entre 1883 e
1894. Durante todos esses anos, ele publicou
estatísticas bastante sofisticadas em compara-
ção com os métodos quantitativos usados na
época para aferir a eficácia de outros profiláti-
cos. Isso ajuda a explicar o alcance e longevida-
de dessa vacina. Igualmente importante foi a
expansão da trama de relações pessoais e insti-
tucionais que enredavam Freire a outros caça-
dores de micróbios, associações médicas e cien-
tíficas, autores de tratados sistematizando re-
sultados alcançados pela microbiologia, inte-
resses coloniais e comerciais etc. O mexicano
Benchimol, J. L.
270
Manoel Carmona y Valle era o mais notório ri-
val do bacteriologista brasileiro. O micrococcus
tetragenus de Finlay foi concebido como alter-
nativa à alga de Freire, e eles se corresponde-
ram à época em que o cubano usava mosquitos
infectados em amarelentos como imunizantes
vivos contra a doença.A vacina de Freire alcan-
çou Porto Rico, Jamaica, as Guianas e outras
colônias da França (ver a esse respeito Benchi-
mol, 1999).
Em sua segunda viagem à Europa (1886-
1887), Freire submeteu duas comunicações à
Academia de Ciências de Paris, em co-autoria
com Rebourgeon e um pesquisador do Museu
de História Natural daquela cidade, Paul Gi-
bier. Foi recebido também na Sociedade de
Biologia, na Academia de Medicina e na Socie-
dade de Terapêutica Dosimétrica. Estes e ou-
tros fatos ocorridos em Paris repercutiram com
força na capital brasileira e, ao regressar a ela,
Freire foi recebido como o herói da “ciência na-
cional” por estudantes e professores das escolas
técnicas e superiores do Rio de Janeiro, Minas
Gerais e São Paulo, jornalistas de diversos pe-
riódicos, ativistas dos clubes republicanos e so-
ciedades abolicionistas. Semanas depois, viaja-
va para Washington, para participar do IX
Congresso Médico Internacional, que aprovou
resolução recomendando sua vacina à atenção
de todos os países afetados pela febre amarela.12
Freire empataria o capital simbólico auferi-
do nessas viagens nas polêmicas que iria susten-
tar na década de 1890, período durante o qual
as expectativas despertadas entre personalida-
des e instituições estrangeiras retrocederam
para o silêncio complacente ou a condenação
formal. A vazante começou com a conversão de
Paul Gibier à hipótese sustentada por Koch e Le
Dantec, de que a febre amarela era causada por
um bacilo similar ao do cólera. George Stern-
berg, presidente da American Public Health As-
sociation e, mais tarde, Surgeon General dos
Estados Unidos, produziu então o mais consis-
tente e demolidor inquérito sobre as teorias e
vacinas em voga no continente, ao mesmo tem-
po em que buscava evidências em favor do ba-
cilo X, o suposto agente da febre amarela.13 Se-
gundo os autores que escreveram sobre a histó-
ria da doença, este relatório foi aceito pela co-
munidade científica internacional como prova
definitiva de que os sul-americanos haviam
fracassado em suas tentativas de isolar o micró-
bio e produzir uma vacina eficaz. Até o Institu-
to Pasteur, que mantivera prudente reserva,
corroborou o inquérito norte-americano. Con-
tudo, outras fontes mostram que Sternberg
conduziu de forma muito inábil sua investiga-
ção no Rio de Janeiro, ajudando a robustecer o
prestígio de Domingos Freire junto aos nacio-
nalistas, positivistas e republicanos.
Contudo, o apogeu de sua carreira profis-
sional engendraria uma contradição fatal. À
medida que as camadas médias urbanas ade-
riam entusiasticamente à vacina, mais vulnerá-
vel ela se tornava às críticas dos adversários, já
que se ampliava a defasagem entre a população
vacinada – nativos, negros e imigrantes já “acli-
matados”, considerados imunes à doença – e a
população dos suscetíveis à febre amarela,
constituída principalmente pelos imigrantes
recém-chegados. As mudanças na composição
social dos vacinados estão relacionadas às mu-
danças na forma pela qual a vacina se difundia.
Num momento de crescente pessimismo em
relação aos remédios para a febre amarela, e de
ceticismo quanto à viabilidade do saneamento
do Rio de Janeiro, a vacina de Domingos Freire
se tornava componente muito bem-vindo na
relação dos clínicos com seus pacientes, e dos
estabelecimentos filantrópicos com seus desti-
tuídos. A deposição do monarca e a proclama-
ção da República aconteceram em meio a uma
epidemia, e enquanto o novo governo negocia-
va a federalização e a descentralização dos ser-
viços de saúde, a vacina de Freire converteu-se
em instituição governamental.
No Brasil, seu principal competidor era
João Batista de Lacerda, um médico que deixou
registro mais duradouro e positivo na historio-
grafia por conta de suas pesquisas em fisiologia
e antropologia. Sua vida profissional transcor-
reu quase integralmente no Museu Nacional do
Rio de Janeiro, de que foi diretor por longo
tempo (1895-1915). Lacerda e Freire iniciaram
as investigações sobre a febre amarela simulta-
neamente, no verão de 1879-1880, mas o pri-
meiro logo conquistou notoriedade em virtude
de outra pesquisa: em 1881 anunciou que as
injeções de permanganato de potássio consti-
tuíam antídoto eficaz contra a peçonha das co-
bras (e possivelmente, também, contra os “ví-
rus”, isto é, os venenos então associados à febre
amarela e outras doenças). O fato é que duas
ou três décadas depois, custaria grande traba-
lho ao Instituto Butantã desalojar o antídoto
de Lacerda, amplamente utilizado pelos clíni-
cos brasileiros, em proveito dos soros antiofídi-
cos desenvolvidos por Vital Brazil.14
Em 1883, quando Freire ultimava a prepa-
ração da vacina contra a febre amarela, Lacerda
Ciência & Saúde Coletiva, 5(2):265-292, 2000
271
incriminou outro micróbio como o verdadeiro
agente da doença. Seu Fungus febris flavae e mi-
crorganismos similares descritos na época ti-
nham uma característica em comum: o poli-
morfismo, isto é, a capacidade de mudar de
forma e função por influência do meio, sobre-
tudo dos fatores climáticos. Zoólogos, botâni-
cos e bacteriologistas tinham opiniões confli-
tantes a esse respeito. Pasteur e Koch, por e-
xemplo, consideravam o polimorfismo incom-
patível com a especificidade etiológica e com
procedimentos experimentais rigorosos, mas
outros investigadores de renome reconheciam
esta propriedade nos fungos, algas e bactérias
que estudavam. A questão tinha a ver com os
debates sobre a evolução e, também, com os
problemas relacionados à classificação dos “in-
finitamente pequenos”. Ela era ainda precária, e
o termo genérico “micróbio” fora cunhado re-
centemente com o propósito, justamente, de
contornar as confusas categorias taxonômicas
usadas nos textos científicos da época, prejudi-
cando a discussão da teoria dos germes entre
os não-especialistas.
Além de estabelecer uma problemática re-
lação de continuidade entre os paradigmas am-
bientalista e pasteuriano, o polimorfismo legi-
timava o argumento de que a febre amarela era
um campo de investigações acessível apenas a
cientistas americanos, pois só aí, nesse meio
particular, a doença e seu agente se manifesta-
vam com as características típicas. O polimor-
fismo foi o cimento utilizado por Lacerda para
compor sua mais abrangente teoria sobre “O
micróbio patogênico da febre amarela, apre-
sentada à Academia Nacional de Medicina e ao
Congresso Médico Pan-Americano em 1892-
1893, à época em que George Sternberg divulga-
va os resultados finais de seu inquérito. A tábu-
la rasa criada pelo norte-americano no campo
então atulhado de fungos e algas abria caminho
aos bacilos que iriam competir pela condição
de agente causal da febre amarela. O panteísmo
microbiano de Lacerda operava em sentido
contrário: todas as descrições produzidas até
então davam conta apenas de diferentes fases
ou formas de um fungo proteiforme, apto a fa-
zer face ao novo ciclo da revolução pasteuriana.
Os trabalhos de Sternberg e Lacerda mos-
tram que as técnicas da bacteriologia, os ins-
trumentos e conceitos utilizados na exploração
do mundo microbiano estavam progredindo
rápido à medida que os anos 1880 cediam lu-
gar aos 1890. Isso ajudava a erodir teorias esta-
belecidas, a mudar não apenas a visão mas
também o ponto de vista daquele estranho uni-
verso de seres vivos.
Naqueles mesmo anos, em meio a desafios
sanitários sem precedentes enfrentados pela
sociedade brasileira, uma nova geração de bac-
teriologistas despontou em conflito aberto com
os mestres que a haviam introduzido à teoria
dos germes. Francisco Fajardo, Eduardo Cha-
pot Prévost, Carlos Seidl, Oswaldo Cruz e ou-
tros jovens médicos haviam passado pelo labo-
ratório de Freire. Os “discípulos”colidiram com
ele quando seus amigos republicanos, agora no
poder, o nomearam diretor do Instituto Bacte-
riológico Domingos Freire, instituição federal
que tinha atribuições tão amplas quanto aque-
las conferidas pelo governo de São Paulo ao
Instituto Bacteriológico criado concomitante-
mente naquele estado (Benchimol, 1999). São
conhecidas as polêmicas que seu diretor,Adol-
fo Lutz,15 travou com os clínicos locais a pro-
pósito de febres que estes chamavam por diver-
sos nomes, atribuindo-as às condições telúricas
locais, e que Lutz diagnosticava como febre ti-
fóide, baseando-se na identificação do bacilo
de Eberth. As chamadas febres paulistas leva-
ram-no a empreender o primeiro inquérito
epidemiológico sobre a malária em São Paulo.
Ao mesmo tempo, no Rio de Janeiro, Francisco
Fajardo e o grupo de jovens bacteriologistas de
que fazia parte isolavam e estudavam o hema-
tozoário de Laveran. Pois bem, o primeiro tra-
balho original publicado pelo Instituto Bacte-
riológico Domingos Freire colocou-o também
no centro dessa controvérsia.No interior de São
Paulo,Freire identificou a “febre biliosa dos paí-
ses quentes”. Classificou-a como manifestação
específica da malária causada pelo bacilo que
encontrou nos líquidos orgânicos dos doentes,
bacilo muito similar àquele descrito por Klebs e
Tommasi-Crudeli (B. malariae,1878), os dois
principais adversários de Laveran. Fajardo e
seu grupo trocavam cartas e preparados bioló-
gicos com o bacteriologista francês e com Ca-
milo Golgi. Com auxílio deles, refutaram enfa-
ticamente o argumento de Freire, calcado em
Boudin e em outras autoridades da geografia
médica francesa, segundo o qual a diversidade
de climas acarretava diversidade de “espécies
infecciosas” e, conseqüentemente, de microrga-
nismos patogênicos, uma “lei biológica” que
excluiria a suposta universalidade do hemato-
zoário de Laveran e da própria malária.16
Este foi apenas um dos episódios do confli-
tivo processo transcorrido nos anos 1890, en-
volvendo diversos atores sociais em desacordo
Benchimol, J. L.
272
sobre o diagnóstico, a profilaxia e tratamento
de doenças que grassavam epidemicamente nos
centros urbanos do sudeste já convulsionados
pelo colapso da escravidão, a enxurrada imi-
gratória, as turbulências políticas subseqüentes
à proclamação da República e as turbulências
econômicas associadas às crises do café e a nos-
sa revolução industrial “retardatária”.
Outro episódio já bem documentado pela
historiografia foi a chegada da peste bubônica
a Santos, em 1899, e as controvérsias suscitadas
pelo diagnóstico feito por Lutz, Vital Brazil,
Chapot-Prévost e Oswaldo Cruz e contestado
pelos clínicos e comerciantes daquela movi-
mentada cidade portuária. Daí resultariam a
criação dos institutos soroterápicos de Butantã
e de Manguinhos. O primeiro, chefiado por Vi-
tal Brazil, logo iria se desprender do Bacterio-
lógico de São Paulo, singularizando-se pelos
trabalhos fundamentais na área do ofidismo.
Oswaldo Cruz assumiria a direção técnica do
Instituto Soroterápico Federal, inaugurado em
julho de 1900, e em seguida, com afastamento
do Barão de Pedro Afonso, a direção plena da
instituição que o levaria à chefia da saúde pú-
blica em 1903 (Benchimol & Teixeira, 1993).
Mas sua primeira prova de fogo ocorreu
antes, com a epidemia de cólera que irrompeu
em 1894-1895, por detrás das defesas sanitárias
litorâneas da República, no vale do rio Paraíba,
a coluna vertebral da economia cafeeira. Os-
waldo Cruz, Francisco Fajardo e Chapot-Pré-
vost, nos laboratórios que mantinham em suas
próprias residências, e os bacteriologistas de
São Paulo, no laboratório público, desempe-
nharam papel crucial na campanha capitanea-
da pelo órgão federal de saúde, o efêmero Ins-
tituto Sanitário Federal. Os laudos produzidos
naqueles laboratórios, identificando a presença
do bacilo vírgula nos doentes do vale do Paraí-
ba, municiaram o rigoroso programa de desin-
fecções, isolamento e quarentenas implemen-
tado em cidades, portos e estações ferroviárias
do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
Como chefe de um instituto também ofi-
cial, Domingos Freire apoiou os adversários do
cólera e da intervenção federal. Com o seu lau-
do, respaldou os clínicos interioranos que diag-
nosticavam diarréias determinadas por fatores
locais, contestando a presença do bacilo de
Koch ou mesmo sua condição de agente espe-
cífico do cólera. O principal oponente de Koch
na Europa era Max von Pettenkoffer. A teoria
do higienista bávaro sobre o papel crucial das
condições climáticas e, sobretudo, telúricas na
ativação ou inatividade dos germes do cólera e
de outras doenças exercia considerável influên-
cia não apenas sobre a questão das diarréias do
vale do Paraíba como sobre a compreensão da
febre amarela, já que permitia explicar o cará-
ter sazonal e a especificidade geográfica da
doença. Tanto é assim que o saneamento do so-
lo e a drenagem do subsolo do Rio de Janeiro
tinham constituído as medidas mais urgentes
dentre aquelas votadas no Segundo Congresso
Nacional de Medicina e Cirurgia, em 1889, pa-
ra anular as epidemias da capital brasileira. E
em 1892, Floriano Peixoto tentara contratar
Pettenkoffer ou outro especialista estrangeiro
para que arrancasse a febre amarela do solo do
Rio de Janeiro.17
Novas descobertas incriminando bacilos
como os agentes da doença e propondo, agora,
profiláticos similares ao soro antidiftérico re-
cém-desenvolvido por Bhering and Roux aflo-
raram dois anos após a crise do cólera. A mais
importante foi obra de Giuseppe Sanarelli, um
experiente bacteriologista italiano que traba-
lhara com Golgi em Pavia, e Metchnikoff, no
Instituto Pasteur, antes de ser contratado para
implantar a higiene experimental Montevidéu.
Com o auxílio dos jovens bacteriologistas do
Rio de Janeiro, pôs-se imediatamente no encal-
ço do germe da febre amarela e em concorrida
conferência na capital uruguaia, em junho de
1897, anunciou a descoberta do bacilo icterói-
de. Meses depois, iniciou os testes de campo de
um soro curativo em São Paulo. Seus lances rá-
pidos obrigaram diversos outros bacteriologis-
tas brasileiros a destamparem os resultados
parciais ou finais alcançados no mesmo terri-
tório de pesquisa.18
A opinião pública do Rio de Janeiro e de
outras cidades vitimadas pela febre amarela já
assimilara a noção de que ela era ocasionada
por um dos micróbios inscritos na agenda do
debate científico ou, quem sabe, não descober-
to ainda. O relativo consenso fundamentado na
teoria mismática a respeito do que se devia fa-
zer para higienizar portos como o Rio de Janei-
ro deu lugar a um impasse e a candentes con-
trovérsias sobre os elos que deviam ser rompi-
dos na cadeia da insalubridade urbana. As es-
colhas variavam conforme os habitats e neces-
sidades específicas de cada germe incriminado,
e o ponto de vista dos vários atores sociais in-
teressados na reforma do espaço urbano.
A nova safra de germes da febre amarela foi
recebida com exasperação pelas categorias so-
ciais e profissionais que pressionavam pelo tão
Ciência & Saúde Coletiva, 5(2):265-292, 2000
273
esperado saneamento do Rio de Janeiro. A in-
capacidade dos médicos de decidirem, intra-
muros e interpares, quem havia encontrado o
meio de desatar o nó górdio da saúde pública
brasileira levou, inclusive, à proposição, no
Congresso e na imprensa, de tribunais onde a
questão pudesse ser dirimida.19 Mas não foram
os procedimentos de validação acadêmicos que
puserem fim às controvérsias sobre a etiologia
e profilaxia da febre amarela. Foi um desloca-
mento radical na abordagem e enfrentamento
da doença, que levou a nova geração de bacte-
riologistas para o proscênio da saúde pública,
sob a liderança de Oswaldo Cruz.
Da etiologia à transmissão
da febre amarela
As narrativas sobre a vitória da medicina cien-
tífica sobre a febre amarela privilegiam ora os
Estados Unidos ora Cuba, conforme o valor
atribuído a dois episódios: a formulação da hi-
pótese da transmissão pelo mosquito por Car-
los Juan Finlay, em 1880-1881, ou sua demons-
tração pela equipe chefiada por Walter Reed,
em 1900. Uma questão crucial colocada pelos
autores é porque decorreram vinte anos entre
um e outro episódio, se a verificação da trans-
missão pelo mosquito não requereu mais do
que algumas semanas para se efetuar.
Para Nancy Stepan (1978), os ingredientes
essenciais da teoria já estavam dados. O inter-
regno se deve a obstáculos sociais e políticos: o
desinteresse da metrópole espanhola pela ciên-
cia, o ceticismo decorrente da convicção de que
a doença estava enraizada no solo cubano; a
prolongada guerra de independência e a ocu-
pação de Cuba pelos Estados Unidos.
Para François Delaporte (1989), Finlay e os
norte-americanos tinham idéias diferentes so-
bre o mosquito: para o primeiro, era um meio
mecânico de transmissão; para os segundos,
um hospedeiro intermediário vinculado a um
processo biológico mais complexo. A decisão
de Finlay de tomar o mosquito como objeto de
estudo e o tempo descontínuo decorrido entre
a proposição e a confirmação de sua teoria são
enigmas cuja explicação se encontra na medi-
cina tropical inglesa, nas relações de filiação
conceitual que ligam o médico cubano a Patrick
Manson, e Walter Reed a Ronald Ross. A hipó-
tese de Finlay ficou no limbo durante vinte
anos porque este foi o tempo necessário para se
esclarecer o modo de transmissão da malária.
Os estudos sobre o plasmódio feitos por
Laveran, Golgi e outros investigadores (ver no-
ta 16) deixaram em aberto dois problemas: a
natureza de formas dotadas de filamentos mó-
veis encontradas no sangue extravasado que,
para uns, eram corpos em vias de desintegra-
ção, para outros, um novo estágio de desenvol-
vimento do parasito; o segundo problema era
o modo de propagação da malária. Embora se
conseguisse induzi-la pela inoculação do san-
gue de doentes, a doença não parecia ser conta-
giosa. Uns afirmavam que os parasitos eram in-
geridos com a água estagnada ou inalados com
as poeiras dos pântanos; outros acreditavam
que os parasitos existentes nos pântanos infec-
tavam os mosquitos e, estes, o homem. Em
1894, Manson articulou os dois problemas en-
carando os filamentos móveis como parte de
um ciclo análogo ao das filárias. Daí derivou
um programa de pesquisa que consistia em en-
contrar a espécie adequada, fazer o inseto picar
doentes e examinar as metamorfoses do para-
sito em seu estômago para ver se repetia o ciclo
da filária. No verão de 1897, Ronald Ross des-
cobriu células pigmentadas na parede estoma-
cal de mosquitos alimentados com sangue de
doentes quatro ou cinco dias antes. Na mesma
época, MacCallum verificou que estas células
tinham a ver com a reprodução do parasito: no
corvo, apresentavam-se sob duas formas, uma
masculina (corpos hialinos), a outra feminina
(corpos granulosos). Manson sugeriu que Ross
investigasse o paludismo aviário. Para rastrear
o desenvolvimento e a posição final das células
pigmentadas no mosquito, Ross executou deli-
cadas dissecações, verificando que até o oitavo
dia as células aumentavam de tamanho, depois
se abriam e liberavam os corpos filiformes. Por
fim, surpreendeu-os nas glândulas salivares do
inseto (Delaporte, 1989, Hughes, 1977).
As pesquisas bacteriológicas realizadas por
Finlay após a proposição da teoria da transmis-
são da febre amarela pelo mosquito o levaram
ao mesmo beco sem saída onde se acotovela-
vam Domingos Freire e outros caçadores de
micróbios e vacinas. Mas uma vez demonstra-
do que o mosquito era o hospedeiro interme-
diário do parasito da malária, tornava-se inevi-
tável a suposição de que cumprisse idêntico pa-
pel na primeira doença (cujo diagnóstico clíni-
co, diga-se de passagem, freqüentemente se
confundia com o da malária).
De fato, desde o começo dos anos 1890, fo-
ram se multiplicando na imprensa médica e
leiga do Rio de Janeiro os dados e especulações
Benchimol, J. L.
274
sobre o papel dos insetos na transmissão de
doenças, inclusive a febre amarela. Eles eram
vistos não tanto como hospedeiros de parasitos
mas principalmente como agentes mecânicos
de transmissão de germes. Suspeitavam-se de
mosquitos, percevejos, pulgas, carrapatos e, so-
bretudo, das moscas que, passivamente, trans-
portavam os micróbios até os alimentos e daí à
boca, a “porta de entrada” do organismo hu-
mano. O fato de serem insetos tão comuns nas
cidades parece haver facilitado sua incorpora-
ção ao imaginário coletivo como fonte de peri-
go, zunindo na atmosfera ainda enevoada por
miasmas. Da forma mais imprevista elas pou-
saram na última teoria etiológica da febre ama-
rela concebida por João Batista de Lacerda, às
vésperas já da entronização da teoria de Finlay
pela saúde pública.20
A impressão que nos dão os artigos escri-
tos a esse respeito é que as partes componentes
das teorias microbianas eram como que “iman-
tadas” pelo campo de força da medicina tropi-
cal. Novos elos vivos eram encaixados nos cons-
tructos elaborados para explicar a transforma-
ção extra-corporal do micróbio da febre ama-
rela. Nas teorias existentes, o meio exterior era
um agente compósito, orgânico e inorgânico,
urbano e litorâneo, quente e úmido, onde os
fungos, algas e bacilos necessariamente cum-
priam parte de seu ciclo vital antes de adquiri-
rem a capacidade de infeccionar os homens,
apenas em certas estações do ano e em certas
regiões geográficas. As teias que percorriam,
interligando solo, água, ar, alimentos, navios,
casas e homens, acolhiam com dificuldade os
insetos postos em evidência pela medicina tro-
pical.
As experiências realizadas em Cuba, em
1900, formam, sem dúvida,um divisor de águas
na história da febre amarela. Se não sepulta-
ram, de imediato, os germes já incriminados,
afastaram a saúde pública das intermináveis
controvérsias sobre a etiologia da doença, via-
bilizando ações capazes, por um tempo,de neu-
tralizar as epidemias nos núcleos urbanos lito-
râneos da América.
Stepan (1978) mostra que os norte-ameri-
canos só se renderam à teoria de Finlay quando
ficou patente sua incapacidade de lidar com a
febre amarela em Cuba. Parece ter sido impor-
tante, também, a confluência, naquela ilha, dos
médicos norte-americanos, voltados para um
programa de pesquisas bacteriológicas, com os
ingleses, que exploravam a fértil problemática
dos vetores biológicos de doenças.
Em 1900, Walter Myers e Herbert E. Durham,
médicos da recém-fundada Liverpool School
of Tropical Medicine, iniciaram uma expedição
ao Brasil para investigar a febre amarela. O en-
contro com os médicos norte-americanos e cu-
banos, em junho, foi uma escala da viagem que
resultou na implantação de um laboratório
que funcionou intermitentemente na Amazô-
nia até a década de 1930.21 Durham e Myers
(1900) traziam uma hipótese genérica – a
transmissão da febre amarela por um inseto
hospedeiro –, que ganhou maior consistência
com as informações recolhidas em Cuba. No
artigo que publicaram em setembro, expressa-
ram seu ceticismo em relação ao bacilo de Sa-
narelli, elogiaram as idéias de Finlay e demar-
caram incógnitas que deixavam entrever os
contornos do vetor animado da febre amarela.
Se os norte-americanos não tivessem envereda-
do por este caminho, talvez a teoria de Finlay
houvesse sido confirmada pelos ingleses, no
norte do Brasil.
Em agosto de 1900, Lazear iniciou as expe-
riências com os mosquitos fornecidos por Fin-
lay, enquanto Carrol e Agramonte se dedica-
vam à refutação do bacilo de Sanarelli, que ha-
via sido confirmado por médicos do Marine
Hospital Service.Em setembro, Lazear faleceu
em conseqüência de uma picada acidental.
Walter Reed redigiu às pressas a Nota prelimi-
nar,apresentada no mês seguinte à 28areunião
da American Public Health Association, em In-
dianápolis. E tomou a si a tarefa de fornecer a
confirmação dos trabalhos de Lazear através de
uma série de experiências destinadas a provar
que o mosquito era o hospedeiro intermediá-
rio do “parasito” da febre amarela; que o ar não
transmitia a doença; e que os fomites não eram
contagiosos. Em seguida, a comissão norte-
americana retomou as experiências relaciona-
das ao agente etiológico, mas se deparou com
ambiente já desfavorável à utilização de cobaias
humanas. Foi isso, assegura Lowy, que a impe-
diu de provar que o agente era um “vírus filtrá-
vel”.22
Os resultados foram apresentados, oficial-
mente, ao 3oCongresso Pan-Americano reali-
zado em Havana, em fevereiro de 1901, ao mes-
mo tempo em que William Gorgas dava início
à campanha contra o mosquito naquela cida-
de. Já a partir de janeiro de 1901, as comissões
sanitárias que atuavam no interior de São Pau-
lo incorporaram o combate ao mosquito ao re-
pertório híbrido de ações destinadas a anular
tanto o contágio como a infecção da febre ama-
Ciência & Saúde Coletiva, 5(2):265-292, 2000
275
rela. Em Ribeirão Preto (1903), abandonaram-
se as desinfecções, prevalecendo a “teoria hava-
nesa” como diretriz soberana, ao mesmo tem-
po em que Emílio Ribas, diretor do Serviço Sa-
nitário de São Paulo, e Adolfo Lutz, diretor de
seu Instituto Bacteriológico, reencenavam as
experiências dos norte-americanos para neu-
tralizar as reações dos médicos alinhados com
a teoria de Sanarelli. A primeira série de expe-
riências estendeu-se de dezembro de 1902 a ja-
neiro de 1903; a segunda, de abril a maio desse
mesmo ano (Ribas, 1903; Cerqueira, 1954).
Para Nuno de Andrade (1902), diretor-ge-
ral de Saúde Pública, a descoberta de Finlay
acrescentava apenas um elemento novo à pro-
filaxia da febre amarela. Seus defensores res-
tringiam ao homem e ao mosquito todos os
fios do problema. “Confesso que a hipótese da
inexistência do germe da febre amarela no
meio externo me perturba seriamente,” – de-
clarou Andrade – “porque os documentos cien-
tíficos e a nossa própria observação têm amon-
toado um mundo de fatos que serão totalmen-
te inexplicáveis se as deduções da profilaxia
americana forem aceitas na íntegra.” Ele apon-
tava experiências que não tinham sido feitas
para excluir percursos alternativos do germe,
para anular a possibilidade de que os mosqui-
tos sãos se infectassem nos objetos contamina-
dos ou para verificar as propriedades infectan-
tes dos dejetos do Stegomyia.A indeterminação
do micróbio deixava a teoria havanesa exposta
a outras dúvidas perturbadoras. O sangue inje-
tado podia transmitir a doença imediatamente,
mas sugado pelo mosquito, só depois de doze
dias. Isso era explicado por meio de uma ana-
logia com as transformações sofridas pelo pa-
rasita da malária no Anopheles.O fato de serem
os mosquitos vetores de ambos os germes não
implicava a identidade de seus ciclos vitais. Nu-
no de Andrade considerava fato provado a
transmissão da febre amarela pelo Stegomyia,
mas as deduções profiláticas lhe pareciam arbi-
trárias, e a guerra ao mosquito em Cuba, mera
“obra de remate” das medidas sanitárias que as
autoridades militares tinha executado antes.
Esse foi o cerne do confronto que se deu no
V Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia,
realizado no Rio de Janeiro, em meados de
1903.23 Os partidários da teoria havanesa, lide-
rados por Oswaldo Cruz, chamados de “exclu-
sivistas”, tudo fizeram para obter o aval da cor-
poração médica à nova estratégia de combate à
febre amarela, com a exclusão da antiga, enfren-
tando cerrada oposição dos “não convencidos”,
entre os quais se incluíam, diga-se de passa-
gem, alguns antigos tropicalistas baianos.
A verdade é que as teses da comissão Reed
ainda estavam sub judice.A marinha norte-
americana tinha enviado os drs. J. Rosenau, H.
B. Parker e G. Beyer a Vera Cruz, no México. De
acordo com artigo publicado no começo de
1901, em The Lancet e na Revista Medica de S.
Paulo, Durham e Myers, os médicos de Liver-
pool estacionados em Belém, tinham descarta-
do os protozoários como agentes da febre ama-
rela, encontrando só bacilos nos órgãos de ama-
relentos mortos (ver também Gouveia, 1901).
Os mais importantes aliados dos “exclusivistas”
norte-americanos e brasileiros foram os três
pesquisadores do Instituto Pasteur de Paris que
desembarcaram no Rio de Janeiro em novem-
bro de 1901. Durante os quatro anos de perma-
nência na cidade, Émile Roux, Paul-Louis Si-
mond e A. Tourelli Salimbeni (que se retirou
mais cedo por motivos de saúde) puderam ob-
servar de perto os fatos biológicos e sociais pro-
duzidos na cidade que serviu como o primeiro
grande laboratório coletivo para o teste de uma
campanha calcada na teoria culicideana, sob
condições políticas que não eram as da ocupa-
ção militar.24
Oswaldo Cruz
Em l903, Francisco de Paula Rodrigues Alves,
um grande fazendeiro de café paulista, tornou-
se o quarto presidente da República brasileira
(1903-1906). Como presidente de São Paulo
(1900-1902), apoiara as medidas adotadas por
Ribas e Lutz em prol da teoria de Finlay. Rodri-
gues Alves assumiu a presidência do Brasil nu-
ma conjuntura econômica favorável, o que lhe
permitiu converter o saneamento da capital fe-
deral em ponto básico de seu programa de go-
verno. O engenheiro Francisco Pereira Passos
foi nomeado prefeito do Rio de Janeiro com
poderes excepcionais, inclusive o legislativo
municipal suspenso para que colocasse em
marcha a reforma urbana inspirada naquela
que Haussmann executara em Paris quatro dé-
cadas antes (Benchimol, 1992). O saneamento
ficou a cargo de Oswaldo Cruz, que assumiu a
direção da Saúde Pública com o compromisso
de derrotar a febre amarela, a varíola e a peste
bubônica.
Gostaria de chamar atenção para um aspec-
to contraditório da relação entre esses persona-
gens que habitualmente são encarados como
Benchimol, J. L.
276
faces de uma mesma moeda. Os componentes
do plano de remodelação urbana começaram a
ser projetados em meados dos anos 1870, senão
antes, fundamentando-se na higiene dos mias-
mas, que tinha como característica a desmedida
ambição: cada doença a vencer requeria bata-
lhas num leque muito amplo de frentes, contra
as forças da natureza, a topografia das cidades
e os mais variados aspectos da vida econômica
e social. Parafraseando Latour (1986, 1984), o
pasteuriano Oswaldo Cruz, de posse do micró-
bio ou hospedeiro específico a cada doença, pô-
de assinalar as batalhas prioritárias, “os pontos
de passagem obrigatórios”, capazes de conduzir
as hostes da higiene às vitórias que tanto alme-
javam. Pereira Passos, os engenheiros do gover-
no e, de resto, o senso comum predominante
continuavam a usar o velho discurso da higie-
ne para justificar as intervenções no espaço ur-
bano, ao passo que Oswaldo Cruz elegia um
número limitado de doenças, focalizava os ve-
tores da febre amarela e peste bubônica e dava
ênfase à vacina, que não fugia à imagem de um
ponteiro direcionado para o flanco específico
da varíola. Estas setas conferiram nitidez às a-
ções de suas brigadas sanitárias no contexto ca-
ótico, tumultuário, do “embelezamento” do Rio
de Janeiro. Conseguimos discernir as estraté-
gias próprias à saúde pública por sobre ou em
meio à ofensiva comandada pelos engenheiros
contra muitos dos alvos que a higiene viera in-
criminando no século passado. Ao combater a
febre amarela em Belém do Pará, em 1909, Os-
waldo Cruz não precisaria mexer no casco an-
tigo da cidade.
No Rio de Janeiro, sua principal campanha
começou com a criação do Serviço de Profilaxia
Específica da Febre Amarela, em abril de 1903.
A cidade foi repartida em 10 distritos, com pes-
soal médico próprio. A seção encarregada dos
mapas e das estatísticas epidemiológicas forne-
cia coordenadas às brigadas de mata-mosqui-
tos, que percorriam as ruas neutralizando de-
pósitos de larvas. A seção de isolamento e ex-
purgo desinfetava, com enxofre e piretro, as ca-
sas situadas na zona dos focos, providenciando
o isolamento domiciliar dos doentes mais abas-
tados e a remoção dos pobres para hospitais
públicos.
As pessoas vitimadas pela peste e outras
doenças contagiosas eram conduzidas, com
seus pertences, para o Desinfetório Central e,
em seguida, isoladas. O esforço de desratizar a
cidade redundou em milhares de intimações a
proprietários de imóveis para que removessem
entulhos, suprimissem porões e impermeabili-
zassem o solo. A compra de ratos pela Saúde
Pública gerou ativa indústria de captura e até
criação dessa exótica mercadoria.
O combate à varíola dependia da vacina.
Seu uso já fora declarado obrigatório no século
XIX por leis nunca cumpridas. Em junho de
1904, Oswaldo Cruz apresentou ao Congresso
projeto de lei reinstaurando a obrigatoriedade
da vacinação e revacinação em todo o país, com
cláusulas rigorosas que incluíam multas aos re-
fratários e a exigência de atestado para matrí-
culas em escolas, acesso a empregos públicos,
casamentos, viagens etc.
Recrudesceu, então, a oposição ao governo,
tendo como alvos tanto o “general mata-mos-
quitos” como o bota-abaixo”. Os debates exal-
tados no Congresso eram acompanhados por
intensa agitação nas ruas promovida pelo Apos-
tolado Positivista, por oficiais descontentes do
exército, monarquistas e líderes operários, que
acabaram se aglutinando na Liga contra a Vaci-
na Obrigatória. A lei foi aprovada em 31 de ou-
tubro; quando os jornais publicaram, em 9 de
novembro, o esboço do decreto que ia regula-
mentar o “Código de Torturas”, a Revolta da
Vacina paralisou a cidade por mais de uma se-
mana (Sevcenko, 1984; Chalhoub, 1996; Car-
valho, 1987).
A metamorfose
do Instituto Soroterápico
Ao assumir a direção da Saúde Pública, Oswal-
do Cruz propôs ao Congresso que o Instituto
Soroterápico Federal fosse transformado “num
Instituto para estudo das doenças infecciosas
tropicais, segundo as linhas do Instituto Pas-
teur de Paris” (Benchimol, 1990). A proposta
foi vetada, mas isso não impediu que ele pro-
porcionasse a Manguinhos as condições técni-
cas e materiais para que rapidamente sobrepu-
jasse sua conformação original. À revelia do le-
gislativo, com verbas de sua Diretoria, iniciou a
edificação de um conjunto arquitetônico sofis-
ticado para abrigar novos laboratórios, novas
linhas de pesquisa, a fabricação de mais soros e
vacinas e ainda o ensino da microbiologia.
O quadro funcional do instituto restringia-
se ao diretor, a dois chefes de serviço e dois au-
xiliares estudantes. Desde o início,Manguinhos
foi procurado por doutorandos que não en-
contravam na Faculdade de Medicina do Rio
de Janeiro as condições adequadas para desen-
Ciência & Saúde Coletiva, 5(2):265-292, 2000
277
volver trabalhos nas novas disciplinas da medi-
cina experimental. O afluxo de estudantes cres-
ceu durante as campanhas sanitárias. Alguns
iriam integrar-se a Manguinhos, trabalhando
como “freqüentadores voluntários” por longo
tempo, até serem incorporados a seu quadro
funcional. A maioria seguiria a clínica, cirur-
gia, ou veterinária, ou engrossaria o contingen-
te de sanitaristas do Rio de Janeiro e de Estados
onde os serviços de saúde pública ainda eram
embrionários.
Não havia especializações definidas entre
os pesquisadores nem separação entre as roti-
nas de pesquisa, ensino e fabricação de produ-
tos biológicos. Em fins de 1906, por exemplo,
Figueiredo de Vasconcelos, o mais antigo dos
dois chefes de serviço, cuidava da preparação
do soro e da vacina contra a peste, junto com
Ezequiel Dias. Preparava, também, a maleína e
estudava o mormo e a transmissão da espirilo-
se das galinhas por percevejos. Henrique da
Rocha Lima, o outro chefe de serviço, chegara
há pouco da Alemanha, onde havia se especia-
lizado em bacteriologia e anatomia patológica.
Trouxera culturas bacterianas, cortes e blocos
histopatológicos, que constituíram o núcleo
original das coleções de Manguinhos. Além de
investigar a anatomia patológica da febre ama-
rela, estruturou o curso de especialização, com
lições teóricas e práticas em bacteriologia, pa-
rasitologia, anatomia e histologia patológicas.
Cardoso Fontes era responsável pela conserva-
ção das culturas microbianas e pelo preparo
das tuberculinas (para uso terapêutico no ho-
mem e diagnóstico de bovinos). Henrique Ara-
gão fazia o diagnóstico da peste, preparava so-
ro anti-estreptocócico, estudava a piroplasmo-
se eqüina e se dedicava à classificação sistemá-
tica de uma família de carrapatos, os ixodídeos.
Alcides Godoy preparava os soros antidiftérico
e antitetânico e fazia a dosagem do antipestoso.
Estava em vias de obter a primeira descoberta
“sensacional” de Manguinhos, a vacina contra
o carbúnculo sintomático, ou peste da man-
queira, uma epizootia que dizimava de 40 a
80% dos bezerros em vários estados brasilei-
ros.25 Artur Neiva e Carlos Chagas eram os úni-
cos que não estavam ligados à rotina da pro-
dução; o primeiro fazia sistemática de mosqui-
tos e experiências com espectrofotometria.
Chagas, que iniciara os estudos sobre a hema-
tologia e o parasito da malária no laboratório
de Francisco Fajardo, na Santa Casa de Miseri-
córdia, estudava a vida e os hábitos dos culicí-
deos, especialmente quanto à transmissão des-
sa doença, o assunto de sua tese de doutora-
mento.
O ambiente de trabalho naquele lugar afas-
tado da zona urbana diferia muito da ambiên-
cia belicosa em que se davam as demolições e
campanhas sanitárias. Os pesquisadores preci-
savam atender às demandas da saúde pública,
mas tinham liberdade para escolher os seus ob-
jetos de pesquisa. Oswaldo Cruz queria que os
integrantes de seu “jardim de infância da ciên-
cia”– a expressão é dele –, todos com menos de
trinta anos de idade, adquirissem confiança em
si mesmos para desenvolver trabalhos próprios
e originais.26 Uma vez por semana, reuniam-se
para debater as novidades veiculadas nos pe-
riódicos científicos estrangeiros. Os artigos e-
ram resumidos e comentados conforme as vo-
cações manifestadas pelos membros daquela
pequena comunidade, que buscava a sintonia
com o que se estava fazendo nas fronteiras da
microbiologia e da medicina tropical. Em seus
relatórios, Oswaldo Cruz defendia o alarga-
mento das atividades praticadas no Instituto,
externando posição contrária ao imediatismo e
utilitarismo que haviam sempre caracterizado
a visão do Estado e dos grupos dirigentes sobre
o papel da ciência na saúde. Como mostra
Nancy Stepan (1976), esse condicionamento
que Oswaldo Cruz procurava contornar iria,
em breve, provocar o colapso do Instituto Bac-
teriológico de São Paulo.
As fronteiras de Manguinhos dilatavam-se
em três planos distintos. Fabricação de produ-
tos biológicos, pesquisa e ensino – vertentes
peculiares ao Instituto Pasteur de Paris – defi-
nem, ainda hoje, o perfil do grande conglome-
rado que é a Fundação Oswaldo Cruz. Doenças
humanas, animais e, em menor escala, vegetais
enfeixavam investigações que punham a insti-
tuição em contato com diferentes “clientes” e
comunidades de pesquisa, reforçando suas ba-
ses sociais de sustentação. A dilatação de fron-
teiras tinha também conotação geopolítica, co-
mo para os institutos europeus que atuavam
nas possessões coloniais africanas e asiáticas.
Com freqüência cada vez maior, os cientistas
de Manguinhos iriam se embrenhar pelos ser-
tões do Brasil para estudar e combater doenças,
principalmente a malária. Ao colocarem sua
expertise a serviço de ferrovias, hidrelétricas,
obras de infra-estrutura, empreendimentos
agropecuários ou extrativos, iriam se deparar
com problemas teóricos e práticos diferentes
daqueles vivenciados nos centros urbanos. Te-
riam oportunidade de estudar patologias pou-
Benchimol, J. L.
278
co ou nada conhecidas, e de recolher materiais
biológicos que dariam grande amplitude às co-
leções biológicas do instituto e aos horizontes
da medicina tropical no Brasil.
À medida que se aproximava o fim do go-
verno Rodrigues Alves, uma grande euforia ia
se apoderando da opinião pública. As estatísti-
cas comprovavam o êxito das campanhas con-
tra a febre amarela e a peste bubônica. As novas
avenidas e os palacetes edificados às suas mar-
gens davam a impressão de que o Rio, enfim,
civilizava-se. A rude plebe que animara a revol-
ta da vacina fora subjugada e expulsa das áreas
renovadas, e boa parte dos adversários da re-
forma e saneamento urbanos se rendia à retó-
rica triunfante da “regeneração” do Brasil. Ape-
sar do prestígio de Oswaldo Cruz, que lhe va-
leu, inclusive, a confirmação no cargo de dire-
tor da Saúde Pública no governo subseqüente
de Afonso Pena (1906-1909), Manguinhos en-
contrava-se numa posição bastante frágil do
ponto de vista institucional, por haver extrava-
sado, sem respaldo jurídico, o arcabouço pri-
mitivo do Instituto Soroterápico.
Sua transformação em Instituto de Medici-
na Experimental foi novamente pedida ao Con-
gresso, em junho de 1906. O projeto foi ataca-
do na Câmara dos Deputados e no Senado, e es-
teve a pique de naufragar sob o peso de emen-
das e substitutivos que o desfiguravam comple-
tamente. A oposição vinha sobretudo de repre-
sentantes das oligarquias, que consideravam
um desperdício os investimentos em ciência e
nas luxuosas instalações de Manguinhos; seto-
res mercantis que não queriam o controle da
fabricação de produtos biológicos por uma ins-
tituição estatal, e políticos ligados à corporação
médica que não viam com bons olhos o ensino
numa instituição independente da Faculdade
de Medicina. Em larga medida, a batalha foi
vencida num teatro distante da capital brasilei-
ra. A Diretoria e o Instituto chefiados por Os-
waldo Cruz foram as únicas instituições sul-
americanas a participarem do XIV Congresso
Internacional de Higiene e Demografia, e da
Exposição de Higiene anexa a ele, em Berlim,
em setembro de 1907. A ida a Berlim era parte
da estratégia de estreitamento dos laços com
instituições científicas européias e, de acordo
com Oswaldo Cruz, Manguinhos possuía, en-
tão, mais prestígio no exterior do que no Bra-
sil, onde apenas uma parte da classe médica o
conhece e é completamente desconhecido en-
tre os leigos, mesmo os mais cultos de nossa so-
ciedade” (Cruz, 1906).
A presença das missões francesa e alemã
(Otto & Neumann, 1904) no Rio de Janeiro de-
ra ao instituto alguma visibilidade internacio-
nal. Também foi importante a preocupação de
seus pesquisadores de publicar em periódicos
respeitados e de remeter materiais relacionados
às doenças tropicais a instituições como o Mu-
seu Britânico, o Instituto de Higiene de Heidel-
berg e o de Moléstias Infecciosas de Berlim, as
Escolas de Medicina Tropical de Hamburgo,
Londres e Liverpool e o Instituto Pasteur de Pa-
ris. Este, por diversas vezes, foi chamado a cer-
tificar a qualidade dos soros e vacinas de Man-
guinhos. Os contatos com as instituições da
Alemanha foram reforçados por Rocha Lima,
quando ele visitou pela segunda vez aquele
país, em 1906, para estudar as inovações técni-
cas a introduzir em Manguinhos e inaugurar, a
convite de Fischer, a seção de estudos da peste
no Instituto de Higiene de Berlim. Sua presen-
ça naquela cidade foi decisiva para o sucesso al-
cançado pela mostra brasileira, assim como pa-
ra o estreitamento subseqüente dos laços com
os cientistas alemães.27
A mostra brasileira reunia mapas, estatísti-
cas, fotografias e maquetes documentando a
campanha contra a febre amarela no Rio de Ja-
neiro e os prédios em construção em Mangui-
nhos. Exibia também amostras de soros e vaci-
nas, uma coleção de mosquitos e outros insetos
brasileiros, peças anatomopatológicas com as
lesões da febre amarela e da peste bubônica. Foi
muito bem recebida a comunicação de Henri-
que Aragão (1907) “Sobre o ciclo evolutivo do
halterídio do pombo”, que elucidava parte ain-
da desconhecida da evolução desse parasito,
com importantes implicações para o estudo da
malária.
A medalha de ouro conquistada em Berlim
teve enorme repercussão no Brasil. O governo,
que acabara de mandar para a Europa uma “co-
missão de propaganda”, resolveu utilizar Os-
waldo Cruz em missões diplomáticas destina-
das a atrair imigrantes e capitais. Tal como a-
contecera com Domingos Freire, vinte anos an-
tes, uma recepção apoteótica foi preparada no
Rio de Janeiro para receber o herói nacional
que fizera a Europa se curvar ante o Brasil. E a
ciência” converteu-se em importante ingre-
diente dos discursos com que as elites celebra-
vam o novo cenário urbano onde desempenha-
vam seus papéis de figurantes da cultura e civi-
lização européias. O Rio de Janeiro, que se tor-
nara a “Paris das Américas”, possuía, outra vez,
um “Pasteur” para canonizar.28
Ciência & Saúde Coletiva, 5(2):265-292, 2000
279
Manguinhos em seu novo
arcabouço institucional
Ainda em Paris, Oswaldo Cruz redigiu o regu-
lamento do Instituto de Patologia Experimen-
tal, criado em dezembro de 1907, e rebatizado
de Instituto Oswaldo Cruz em março de 1908.
O regulamento sacramentava o tripé pesquisa,
produção e ensino e retirava o instituto do or-
ganograma da Diretoria Geral de Saúde Públi-
ca, subordinando-o diretamente ao ministro
da Justiça. Graças a isso, não houve desconti-
nuidade em sua trajetória quando Oswaldo
Cruz deixou a direção da Saúde Pública em
1909. Igualmente importante foi a autorização
para que auferisse rendas próprias com a ven-
da de serviços e produtos biológicos. Isso per-
mitiu enfrentar em condições mais vantajosas
que outras instituições do Estado a tradicional
penúria de recursos públicos para a saúde e a
ciência.
Em 1906, foi inaugurada a primeira filial,
em Belo Horizonte, a recém-fundada capital
do Estado de Minas Gerais.29 No mesmo ano,
Carlos Chagas executou a primeira campanha
antipalúdica, em Itatinga, interior de São Pau-
lo, onde se construía uma hidrelétrica. Os tra-
balhos de saneamento eram impraticáveis ali.
As medidas preventivas foram então direciona-
das para os alojamentos dos operários e técni-
cos (Chagas, 1905). O uso de telas e mosquitei-
ros, a ingestão compulsória de quinina, o reco-
lhimento obrigatório antes do crepúsculo, o
isolamento dos portadores de gametas e a de-
sinfecção sistemática com piretro foram as
principais medidas da chamada profilaxia quí-
mica e mecânica. A desinfecção domiciliária
apoiava-se na observação de que os mosquitos,
depois de se alimentarem com o sangue dos
doentes, adquiriam tamanho peso que perdiam
alcance de vôo, permanecendo no interior dos
alojamentos até digerirem o sangue sugado.30
Em 1907, Carlos Chagas e Artur Neiva exe-
cutaram a profilaxia da malária na Baixada
Fluminense, onde se fazia a captação de águas
para o abastecimento do Rio de Janeiro. Neiva
(1910), que já tinha publicado trabalhos sobre
a sistemática, os hábitos e a biologia dos anofe-
linos transmissores da malária, comprovou ali
que as doses de quinina preconizadas não ape-
nas eram insuficientes como faziam surgir ra-
ças resistentes do plasmódio.31
Em 1908, ele atuou em outras localidades
do país, ao passo que Chagas seguia, com Beli-
sário Pena, para o norte de Minas Gerais, onde
a malária impedia o prolongamento dos trilhos
da Estrada de Ferro Central do Brasil. Lá as in-
vestigações de Chagas tomaram rumo impre-
visto: sua atenção foi despertada para um inse-
to hematófago que proliferava nas paredes de
pau-a-pique das casas, saindo à noite para su-
gar o sangue de seus moradores e de animais
domésticos. Atacava de preferência o rosto hu-
mano, razão pela qual o chamavam de “barbei-
ro”. Em março de 1909, Chagas completou a
descoberta de uma nova doença tropical, ao
encontrar no sangue de uma criança doente o
protozoário cujas formas viera rastreando no
organismo do transmissor e em outros hospe-
deiros vertebrados.
O Instituto Pasteur acabara de fundar a fi-
lial de Brazzaville (1906), capital da África
Equatorial Francesa (atual República do Con-
go), com o objetivo de estudar outra tripanos-
somíase humana, a doença do sono transmiti-
da pela mosca tse-tse, e as tripanossomíases
animais.
Com o apoio dos pesquisadores de Man-
guinhos, Chagas desenvolveu um trabalho
completo sobre a doença produzida pelo Tri-
panossoma cruzi,que ficaria internacionalmen-
te conhecida como Doença de Chagas. Estuda-
ram os hábitos do barbeiro e das populações
que atacava, a biologia do tripanossoma e seu
ciclo em ambos os organismos infectados, os
sinais clínicos e as lesões orgânicas que singu-
larizavam a doença até então confundida com
a malária ou a ancilostomíase.
A descoberta simultânea de nova espécie de
protozoário e nova doença foi a peça de resis-
tência na Exposição Internacional de Higiene
realizada em Dresden, em junho de 1911. No
ano seguinte, Chagas obteve o prêmio Schau-
dinn, conferido pelo Instituto Naval de Medi-
cina de Hamburgo, por uma comissão que reu-
nia a nata da microbiologia e da medicina tro-
pical.32
Sua descoberta consolidou a protozoologia
como uma das mais importantes áreas de pes-
quisa do Instituto Oswaldo Cruz. Ela se deveu
ao talento de Chagas e, também, a certas quali-
dades daquele coletivo, que havia acumulado
quantidade expressiva de trabalhos relaciona-
dos à profilaxia da malária, à evolução de para-
sitos em seus hospedeiros, à sistemática e bio-
logia de insetos transmissores de doenças hu-
manas e animais. Ao dilatar suas atividades,
Manguinhos preparara pesquisadores versáteis,
com cultura científica, bem adestrados tanto
nas técnicas bacteriológicas como naquela es-
Benchimol, J. L.
280
trutura mansoniana de experiência concebida
durante os estudos sobre a filariose e o impalu-
dismo.
A partir de 1908, prevaleceu no Instituto
Oswaldo Cruz a orientação de formar especia-
listas, mas sem a polivalência, que perdurou,
não teria sido possível consolidar a rede de
alianças, as condições de trabalho e as habilida-
des técnicas e teóricas que viabilizaram a Doen-
ça de Chagas e a safra subseqüente de estudos
originais sobre a patologia brasileira.
O salto de quantidade deveu-se à qualidade
dos cientistas incorporados após o regulamen-
to de 1908, que ampliou o quadro de pessoal e
permitiu a contratação de um contingente su-
plementar de técnicos e pesquisadores pagos
com as rendas próprias, em particular aquela
proveniente da venda da vacina contra a peste
da manqueira.
Entre 1909 e 1910, os membros da primeira
equipe fizeram estágios e estudos de aperfei-
çoamento na Europa e nos Estados Unidos. Em
julho de 1908, dois professores da Escola de
Medicina Tropical de Hamburgo fizeram o ca-
minho inverso. Stanislas von Prowazek, suces-
sor de Schaudinn e G. Giemsa, inventor do mé-
todo de coloração mais utilizado para a obser-
vação de hematozoários, foram contratados
por seis meses para dar cursos e publicar os re-
sultados de suas pesquisas, em primeira mão,
nas Memórias do Instituto Oswaldo Cruz,re-
cém-inauguradas. Prowazek estudou com Ara-
gão a etiologia da varíola. Fizeram uma desco-
berta que se revelaria falsa depois, mas que
causou um bocado de sensação na época (Ara-
gão & Prowazek, 1908, 1909). Teriam consegui-
do observar o germe da doença, ainda invisível
para os microbiologistas que admitiam, então,
duas hipóteses: a de ser ele um protozoário ou
um “vírus filtrável”.
O episódio merece uma explicação. Na dé-
cada de 1890, estruturas observadas no interior
das células de indivíduos acometidos por certas
doenças passaram a ser interpretadas como es-
tágios no ciclo de vida de protozoários. Bem
tarde se verificou que estes “corpos de inclusão
viral” são formados pela associação de um vírus
com o material que a célula hospedeira produz
em reação à sua presença. Em 1893, Giuseppe
Guarnieri descreveu estas estruturas em células
encontradas nas lesões da varíola e da doença
da vacina. Supôs que fossem estágios do ciclo
do protozoário causador da doença, e o classi-
ficou entre os esporozoários com os nomes de
Cytoryctes variolae e Cytoryctes vaccinae.Tal in-
terpretação foi estendida em seguida a outras
doenças, como a peste bovina e o herpes-zoster.
Nesse período, estudava-se outra categoria de
agentes patogênicos, os “vírus filtráveis” ou “ul-
tramicroscópicos”, tão pequenos que atravessa-
vam os filtros mais cerrados e ficavam fora do
alcance dos microscópios mais possantes. O in-
teresse por eles fora estimulado pela descober-
ta feita por Friedrich Loeffler e Paul Frosch, em
março de 1898, de que o agente da febre aftosa
tinha estas características. Sanarelli fora um dos
pioneiros no estudo dos “vírus, conceito que
começava a ganhar sua acepção moderna, ten-
do descrito as propriedades do agente invisível
da mixomatose dos coelhos.
No começo do século atual, os corpos de
inclusão viral tornaram-se objeto de grande
debate entre os microbiologistas. “Constituíam
a evidência visível da presença do vírus ou
eram protozoários em um estágio intracelular
de seu ciclo de vida? Ou, ainda, simplesmente,
um material de reação celular?” Para Prowazek,
autor da teoria dos “clamidozoários” (do grego,
clamys,‘manto’, animais providos de manto), as
inclusões eram microorganismos filtráveis que
se desenvolviam intracelularmente e que eram
envolvidos num manto formado por material
de reação celular. Inseguro, ainda, quanto à sua
classificação, considerava-os mais próximos
dos protozoários do que das bactérias. (Hug-
hes, 1977). Foi sob esta perspectiva que abor-
dou, com Henrique Aragão, a problemática da
varíola, durante a epidemia ocorrida no Rio de
Janeiro em 1908.
Em maio do ano seguinte, o Instituto Os-
waldo Cruz recebeu, por seis meses também,
Max Hartmann, do Instituto de Moléstias In-
fecciosas de Berlim. Ele participou da sistema-
tização dos aspectos parasitários e anatomopa-
tológicos da Doença de Chagas. Giemsa esteve
de novo em Manguinhos em 1912, estudando
com Cardoso Fontes e Godoy os parasitos de
peixes e plâncton recolhidos na baía de Guana-
bara.33 Naquele ano, veio Hermann Duerck,
docente de anatomia patológica da Universida-
de de Iena.
Novos pesquisadores brasileiros ingressa-
ram no Instituto Oswaldo Cruz nesse mesmo
período. Em 1909, Gaspar Viana substituiu Ro-
cha Lima na área de anatomia patológica. Além
de descobrir o valor do tártaro emético no tra-
tamento das leishmanioses, do granuloma ve-
néreo e da esquistossomose, investigou a evo-
lução do tripanossoma cruzi nos tecidos do ho-
mem e dos animais, a blastomicose e outras mi-
Ciência & Saúde Coletiva, 5(2):265-292, 2000
281
coses, classificou como leishmaniose a úlcera
de Bauru e as “úlceras bravas” do Amazonas.
A tradição helmintológica foi retomada por
José Gomes de Faria, que inventariou diversas
espécies novas de trematódeos, publicando, em
1910, a descoberta do Ancylostoma braziliense.
A principal aquisição foi Adolfo Lutz, que
deixou o Instituto Bacteriológico de São Paulo
em 1908. Ele daria grande impulso à zoologia,
botânica e micologia médicas, e publicaria tra-
balhos fundamentais sobre o ciclo de vida do
Schistosoma manson.
Os ventos sopravam a favor daqueles médi-
cos que haviam optado pelo laboratório em de-
trimento da clínica, socialmente mais valoriza-
da. Contudo, não foi nada tranqüilo o término
dos anos aventurosos em que a pequena e
aguerrida equipe de Oswaldo Cruz pusera todo
o seu entusiasmo na tarefa de erguer Mangui-
nhos de seu precário casulo original. As exigên-
cias de uma instituição mais madura e compe-
titiva, e as próprias estratégias individuais de
reconhecimento profissional corroeram rapi-
damente os ideais e sentimentos que haviam
compartilhado. O conflito estalou em 1910,
quando foi feito o concurso para preencher a
vaga desocupada por Rocha Lima.
O enquadramento dos pesquisadores no
quadro funcional regulamentado em 1908 não
foi problemático. Rocha Lima e Figueiredo de
Vasconcelos foram reconhecidos como chefes
de serviço, e as vagas de assistentes foram ocu-
padas por Cardoso Fontes, Godoy, Neiva, Cha-
gas, Aragão e Ezequiel Dias. Os pesquisadores
absorvidos pela “verba da manqueira”foram,
oficiosamente, enquadrados nas mesmas cate-
gorias.
Já existiam relações de hierarquia no Insti-
tuto, mas eram contrabalançadas pelo caráter
informal e voluntário das funções desempe-
nhadas, pela divisão de trabalho igualitária, a
ausência de especializações e a solidariedade
face aos infortúnios e agruras materiais. Com
as novas regras aprovadas em 1908 e a inaugu-
ração das modernas instalações, por volta de
1910, a hierarquia passou a ter caráter formal,
passou a se expressar em desníveis salariais, na
estratificação de atribuições, poderes e compe-
tências, no uso de laboratórios desigualmente
equipados e na rotinização de uma série de há-
bitos que fariam surgir das entranhas da comu-
nidade primitiva um novo microcosmo, onde
se combinavam, de maneira sui generis,o rigor
e o formalismo prussianos com a cordialidade
e as relações de dependência típicas de uma so-
ciedade agrária recém-saída da escravidão
(Benchimol, 1989).
A energia cinética daquela instituição que
se transformava elevou-se com os dois feitos
quase simultâneos a que nos referimos. Em 22
de abril de 1909, Oswaldo Cruz comunicou à
Academia Nacional de Medicina a descoberta
da nova doença tropical; em 9 de julho, a su-
posta descoberta do micróbio da varíola. Logo
em seguida, Rocha Lima, o seu lugar-tenente,
viajou para a Alemanha para assumir o posto
de assistente-chefe no Instituto de Patologia de
Iena, a convite de Hermann Düerck. Oito me-
ses depois, ingressaria no famoso Tropeninsti-
tut, o Instituto de Medicina Tropical de Ham-
burgo (Lacaz, 1966).
Antes de sua partida, já se discutia quem iria
sucedê-lo. Chagas era o mais talentoso para Os-
waldo Cruz, e Aragão, para Rocha Lima. Por
força do prestígio deste e da dualidade de lide-
ranças que prevalecera até então, o novo chefe
de serviço já era visto como provável sucessor
de Oswaldo Cruz. Se vingasse a lógica burocrá-
tica de outras instituições públicas, o critério
seria a antiguidade. A decisão de colocá-la em
segundo plano feriu um terceiro alinhamento
de interesses, que unia Cardoso Fontes, um dos
mais antigos assistentes, a Figueiredo de Vas-
concellos, o sucessor “natural” de Oswaldo
Cruz por tempo de serviço e idade. Tanto para
Rocha Lima como para Oswaldo Cruz, o crité-
rio devia ser a competência. Mas como aferi-
la? Para o primeiro, pela lógica que presidira o
crescimento de Manguinhos: o novo chefe de
serviço devia ser o pesquisador mais polivalen-
te,o mais dedicado às múltiplas atividades do
instituto. Oswaldo Cruz propôs um concurso,
hierarquizando as competências principalmen-
te pela qualidade e quantidade de trabalhos pu-
blicados, o que Rocha Lima considerou “imo-
ral e prejudicial”.34
As regras foram ditadas aos candidatos na-
turais, os seis assistentes de Manguinhos que,
por ordem de antiguidade, eram Ezequiel Dias
e Cardoso Fontes; Alcides Godoy; Henrique
Aragão e Carlos Chagas; por último Arthur
Neiva. Junto com o diretor e o chefe de serviço
remanescente, eles se avaliaram uns aos outros.
A delegação ao próprio corpo técnico da res-
ponsabilidade de selecionar o novo chefe de
serviço valorizava a autonomia do instituto,
que, por longo tempo, conseguiu se manter fo-
ra do alcance do clientelismo do Estado brasi-
leiro, sob uma dinastia endógena de dirigentes
vitalícios ou quase. Os três primeiros coloca-
Benchimol, J. L.
282
dos – Carlos Chagas, Cardoso Fontes e Henri-
que Aragão – foram, nesta mesma ordem, os
três diretores do Instituto após a morte de Os-
waldo Cruz.35
Em novembro de 1909, meses depois de
anunciar a descoberta de Chagas, ele deixou a
direção da Saúde Pública numa conjuntura po-
lítica tumultuada pela morte de Afonso Pena, a
interinidade do vice-presidente Nilo Peçanha e
a campanha presidencial polarizada entre o “ci-
vilista” Rui Barbosa e o marechal Hermes da
Fonseca. Embora fosse um ídolo nacional, Os-
waldo Cruz não tinha conseguido realizar ne-
nhuma das metas propostas para o seu segun-
do mandato. A campanha contra a tuberculose
esvaíra-se por falta de recursos e apoio políti-
co;a regulamentação da lei da vacina obrigató-
ria continuava a ser protelada, apesar da epide-
mia de 1908, a mais grave das que já tinham
ocorrido no Rio de Janeiro. As oligarquias esta-
duais, respaldadas na constituição federalista,
bloqueavam qualquer ação sanitária do gover-
no central, não obstante a febre amarela gras-
sasse em muitas cidades do Norte e Nordeste do
Brasil, pondo em risco o que fora feito na capi-
tal. Os próprios serviços federais comandados
por Oswaldo Cruz continuavam a ser prorro-
gados pelo Congresso, ano a ano, sempre em
bases provisórias.36
À margem, então, do órgão federal de saú-
de pública, os cientistas-sanitaristas de Man-
guinhos executariam suas ações mais espetacu-
lares no interior do Brasil, financiadas por con-
tratos privados, inclusive com órgãos do gover-
no (Albuquerque et al., 1991).
Em 1910, o próprio Oswaldo Cruz desin-
cumbiu-se de duas missões. A primeira foi a
serviço de um ousado empreendimento na sel-
va amazônica, a Estrada de Ferro Madeira-Ma-
moré, conhecida como “ferrovia do diabo”, pe-
la fama que tinha de consumir a vida de um
operário para cada dormente assentado (Fer-
reira, s.d.). Em maio, fora inaugurado o pri-
meiro trecho, com 90 quilômetros, que exigi-
ram a mobilização de 88.000 trabalhadores de
outros países ou recrutados entre os nordesti-
nos expulsos pela seca para a Amazônia. No re-
latório entregue à companhia, em setembro,
Oswaldo Cruz (1910) enfatizou a gravidade do
beribéri e da pneumonia, direcionando, po-
rém, as propostas profiláticas para a malária,
que atacava de 80 a 90% do pessoal. Em outu-
bro de 1910, Oswaldo Cruz desembarcou em
Belém com médicos que haviam liderado suas
brigadas de mata-mosquitos para executar a
campanha contra a febre amarela contratada
pelo governador do Pará. No princípio de 1911,
foi contratado pela Light and Power para ins-
pecionar a usina que a empresa canadense
construía em Ribeirão das Lajes, no Estado do
Rio de Janeiro, e dar seu parecer sobre as acu-
sações de que a “represa da morte” era respon-
sável pela grave epidemia de malária que gras-
sava em localidades vizinhas.
Em 1912, construiu em Manguinhos um
hospital onde se pudesse estudar os casos clíni-
cos mais interessantes recolhidos no interior do
Brasil. A intenção de Oswaldo Cruz era enviar
pesquisadores e “abarracamentos hospitalares
móveis” a diversas regiões do país para mapear
a distribuição geográfica da Doença de Chagas.
As circunstâncias favoreceram seu plano. As
plantações de seringueiras organizadas pelos
ingleses no Ceilão, Malásia, Sumatra, Java e
Bornéus estavam em vias de suplantar a indús-
tria extrativista da borracha brasileira. Em ja-
neiro de 1912, o Congresso, tardiamente, apro-
vou o Plano de Defesa da Borracha com o in-
tuito de modernizar não apenas a extração, be-
neficiamento e comercialização do produto co-
mo o processo de trabalho, através de medidas
que reduzissem “o coeficiente de mortalidade
absurdamente elevado” (Albuquerque et al.,
1991).
De outubro de 1912 a março de 1913, Car-
los Chagas, Pacheco Leão, João Pedro de Albu-
querque e um fotógrafo percorreram grande
parte do arcabouço fluvial do extrativismo a-
mazônico a bordo de um pequeno vapor equi-
pado com o necessário para os estudos que
tencionavam fazer. Nos seringais e povoados
que apareciam, a longos intervalos, na espessa
muralha formada pela selva foram acolhidos
com espanto pelos moradores que, quase sem-
pre, viam pela primeira vez um médico do lito-
ral. Aí eles fizeram exames clínicos, registraram
a história das epidemias e as práticas curativas
locais; revolveram entranhas de insetos, peixes
e animais em busca de parasitos; armazenaram
plantas medicinais, inventariaram população,
topografia e tudo quanto fosse necessário para
aferir a salubridade da região (Cruz, 1913).
Na mesma época, outras expedições do Ins-
tituto Oswaldo Cruz percorriam o centro e o
nordeste do Brasil. Entre setembro de 1911 e
fevereiro de 1912, Astrogildo Machado e Antô-
nio Martins visitaram os vales do São Francisco
e Tocantins com as turmas da E. F. Central do
Brasil, que estudavam o traçado de uma linha
ligando Minas Gerais ao Pará. Três outras equi-
Ciência & Saúde Coletiva, 5(2):265-292, 2000
283
pes atuaram a serviço da Inspetoria de Obras
contra as Secas, um órgão do governo criado
em 1909 para implementar ambicioso progra-
ma de estudos que orientasse a reconstituição
de florestas, a abertura de estradas e ferrovias, a
perfuração de poços e construção de açudes na
região árida do Nordeste.
A expedição de Adolfo Lutz e Astrogildo
Machado visitou, entre abril e junho de 1912, o
vale do rio São Francisco (Lutz & Machado,
1915). A de João Pedro de Albuquerque e Go-
mes de Faria atravessou, de março a julho, os
Estados do Ceará e Piauí. De março a outubro
de 1912, Artur Neiva e Belisário Pena percorre-
ram a cavalo ou em lombo de mula sete mil
quilômetros pelos Estados da Bahia, Pernam-
buco, Piauí e Goiás (Penna & Neiva, 1916).
A débâcle da borracha amazônica foi irre-
versível, e a velha República dos coronéis não
quis enfrentar a secular tragédia das secas nor-
destinas. Nesse sentido, as comissões médico-
sanitárias foram improfícuas. Mas se mostra-
ram importantes sob outros aspectos. Aos la-
boratórios do Instituto Oswaldo Cruz propor-
cionaram um conjunto valiosíssimo de obser-
vações e materiais concernentes às patologias
brasileiras. Esses insumos alimentariam estu-
dos aplicados à medicina e saúde pública, e
criariam, também, condições para a autonomi-
zação de dinâmicas de pesquisa básica em sin-
tonia com especialidades que começavam a se
definir mais claramente no âmbito da zoologia
e botânica médicas. Os relatórios escritos pelos
cientistas, ricos em observações sociológicas e
antropológicas, e a extraordinária documenta-
ção fotográfica que produziram constituem o
primeiro inventário moderno sobre as condi-
ções de saúde e vida das populações rurais do
Brasil. Ele teve grande repercussão junto aos
intelectuais e às elites das cidades litorâneas,
municiando os debates acerca da questão na-
cional, que começava a ser redimensionada nos
termos da visão dualista, de longa persistência
no pensamento social brasileiro. A exaltação
ufanista da “civilização” do Brasil, insuflada
após a remodelação urbana do Rio de Janeiro,
desmoronou com as corrosivas revelações so-
bre aquele “outro”Brasil, miserável e doente.
Quando Oswaldo Cruz faleceu, em 11 de
fevereiro de 1917, Manguinhos era uma insti-
tuição consolidada dentro e fora do país. Era
também o centro de gravidade de uma comba-
tiva geração de sanitaristas que iria protagoni-
zar vigoroso movimento pela modernização
dos serviços sanitários do país, sob o lema da
“valorização do homem e da terra”, e sob a lide-
rança de Carlos Chagas, o sucessor de Oswaldo
Cruz na direção do Instituto de 1918 até sua
morte, em 1934, e Belisário Pena, que se desta-
caria como incansável publicista à frente da Li-
ga Pró-Saneamento (Lima & Britto, 1996; Li-
ma, 1999; Britto, 1995).
Conclusão
De acordo com Salomon-Bayet (1986), a revo-
lução pasteuriana exauriu-se nesses anos. Du-
rante a Primeira Guerra Mundial, realizou o
feito de minimizar a devastação das doenças
infecciosas, deixando os exércitos entregues só
ao morticínio das armas, mas foi desarmada
pela pandemia da gripe espanhola, que ceifou
pelo menos 21 milhões de vidas, impunemen-
te,em 1989 (Crosby, 1989; Brito, 1997). O sal-
do trágico de óbitos no Brasil pôs a nu a inca-
pacidade dos médicos de lidarem com aquela
espécie de inimigo ainda invisível aos micro-
biologistas e explicitou a precariedade dos ser-
viços sanitários e hospitalares, agravando a in-
satisfação contra as oligarquias que tratavam
com tanto descaso a saúde coletiva.
O resultado mais imediato da crise foi a
criação do Departamento Nacional de Saúde
Pública, em 1920-1922. Seu raio de ação, pela
primeira vez, foi além das campanhas contra
epidemias em algumas poucas cidades litorâ-
neas. Iniciaram-se ações mais prolongadas, de
caráter curativo e preventivo, contra doenças
endêmicas nas zonas rurais e suburbanas (Hoch-
man, 1998; Castro Santos, 1987). As insurrei-
ções tenentistas, os movimentos pela reforma
de outras esferas da vida social, as cisões intra-
oligárquicas desaguaram na Revolução de 1930
e na criação de um Ministério da Educação e
Saúde Pública, que iria, finalmente, transfor-
mar a saúde em objeto de políticas de alcance
nacional, com a ajuda da Fundação Rockefel-
ler, poderoso enclave, com atribuições e prer-
rogativas que rivalizavam com as do próprio
Estado no tocante à saúde pública.
Muito do que havia parecido sólido come-
çaria então a se desmanchar para dar lugar a
dinâmicas que os historiadores ainda conhe-
cem mal.
As habilidades que haviam formado o per-
fil multivalente dos cientistas de Manguinhos
transformaram-se em esferas profissionais au-
tônomas. As novas oportunidades econômicas
que se abriam à ciência de laboratório coloca-
Benchimol, J. L.
284
ram-nos face ao dilema de se dedicarem exclu-
sivamente à pesquisa em instituição pública ou
a atividades mais rendosas em laboratórios pri-
vados. A crescente radicalização dos movimen-
tos políticos e ideológicos no país interferiria
nas relações internas à instituição, que sofreria
duro golpe com supressão de sua autonomia
administrativa e financeira pelo ministro Gus-
tavo Capanema, no Estado Novo.
A febre amarela, o fio condutor da narrativa
que nos trouxe até aqui, é ainda a pedra de to-
que que usaremos para avaliar a transitoriedade
do que parecia aquisição sólida e definitiva.
Como vimos, a transmissão “exclusiva” da
doença pelo Stegomyia fasciata (depois chama-
do de Aedes aegypti) foi o divisor de águas en-
tre a era dos que se tinham desencaminhado na
busca do micróbio e a era de Oswaldo Cruz,
que se converteu no mito da ciência brasileira
em larga medida graças ao experimento bem-
sucedido que conduziu na cidade do Rio de Ja-
neiro para provar a validade da teoria de Fin-
lay. O saneamento e embelezamento da “cabe-
ça urbana” do país consolidaram o regime oli-
gárquico, alavancaram a modernização conser-
vadora desejada pelos grupos do Sudeste liga-
dos à economia cafeeira e formaram o lastro
das representações ideológicas com que eles
sustentaram sua hegemonia frente a outras fra-
ções das classes dominantes e às classes subal-
ternas.
O regresso da febre amarela ao Rio de Ja-
neiro, em 1928-1929, foi encarada como um
dos derradeiros sintomas da incompetência das
oligarquias para gerir os destinos da nação. No
começo do século, Oswaldo Cruz contara com
as condições políticas e jurídicas necessárias
para implementar um modelo profilático dra-
coniano. Não obstante procurasse angariar o
consenso dos médicos e da população, as cam-
panhas contra a febre amarela, varíola e bubô-
nica foram executada na marra, com os instru-
mentos de coação que o regime lhe proporcio-
nara. Os conflitos suscitados pelo saneamento
e reforma urbana foram subjugados e estigma-
tizados como manifestações de atraso colonial
e incultura científica. Na epidemia de 1928-
1929, Clementino Fraga, diretor do Departa-
mento Nacional de Saúde Pública, reativou
parte daqueles dispositivos de origem militar
que formavam o travejamento das campanhas
sanitárias, mas sem dispor mais das condições
políticas e ideológicas que favoreceram seu uso.
Uma primeira avaliação das notícias publica-
das na imprensa mostra que, pela primeira vez,
as grandes empresas, as associações de classe e
outros componentes da sociedade civil colabo-
raram ativamente no esforço de mobilizar a
população contra os alvos que a saúde pública
desejava atingir.
A capital brasileira tinha se modificado.
Oswaldo Cruz combatera a febre amarela no
miolo do Rio de Janeiro, que abrigava, então,
cerca de 800 mil habitantes. Em 1928-1929, a
cidade, remaquilada pelos sucessores de Perei-
ra Passos, possuía mais de um milhão e meio
de habitantes, grande parte dos quais habitava
os subúrbios que constituíram o teatro dos
principais entreveros com a febre amarela. En-
tre as duas conjunturas, as relações entre urba-
no e rural, centro e periferia tinham sofrido
disjunções fundamentais que afetavam toda a
problemática da saúde pública no país.
Para os médicos da virada do século, a fe-
bre amarela era um mal associado aos navios,
aos imigrantes europeus, às cidades portuárias,
às baixadas litorâneas, quentes e úmidas, que
formavam o habitat dos miasmas, depois dos
fungos, algas e bacilos, por último do Aedes ae-
gipty.Em 1928-1929, o “lugar” da doença se
deslocou para a periferia suburbana, para os
migrantes nativos e as pobres povoações inte-
rioranas de onde provinham. A geografia e epi-
demiologia da febre amarela expressava, agora,
um novo padrão de acumulação de capital, no-
vas relações entre cidade e campo.
As certezas sustentadas de forma inflexível
por Oswaldo no Congresso Médico de 1903
desabaram no vale do Canaã, no interior do
Espírito Santo, em dezembro de 1930, quando
os sanitaristas da Rockefeller confirmaram a
suspeita de que a febre amarela possuía um ou
mais vetores indeterminados e tinha conexão
com o trabalho dos homens que se infectavam
nas matas. A partir de 1931, o Serviço de Febre
Amarela instalou postos de viscerotomia em
todo o país e iniciou estudos sobre a distribui-
ção da imunidade à febre amarela por meio da
“prova de proteção” (Franco, 1969). As necróp-
sias parciais feitas nos “caipiras” e as provas de
imunidade efetuadas por técnicos em laborató-
rios citadinos foram as bússolas do grande in-
quérito que se prolongou até 1935. O novo ma-
pa epidemiológico que emergiu desse inquéri-
to inverteu os termos da equação sustentada
por Oswaldo Cruz: a febre amarela silvestre era
a modalidade comum da doença, e a urbana,
apenas uma manifestação anormal, que tende-
ria a se extinguir quando se exaurisse a massa
de indivíduos não imunes.
Ciência & Saúde Coletiva, 5(2):265-292, 2000
285
Esta, porém, já é outra história que foge ao
escopo do presente artigo, uma história absolu-
tamente atual que segue se desenrolando nas
páginas dos jornais e no cotidiano de todos nós.
Notas
1Coni (1952) identifica três fases na evolução da medici-
na brasileira, personificadas por Piso, médico holandês,
da Corte de Nassau; Wucherer,fundador da Escola Tro-
picalista Baiana, e Oswaldo Cruz. Quadros similares fo-
ram propostos por Santos Filho (1991), Nava (1947) e
Bacellar (1963).
2O único com formação consistente em parasitologia
helmíntica, Wucherer estudou também a febre amarela, a
tuberculose, o cólera e o ofidismo. Contrapondo-se à
crença de médicos brasileiros e europeus de que a tuber-
culose não descia abaixo do Equador, sustentou a tese de
que a doença estava se tornando um flagelo tropical. O
beribéri foi estudado por Silva Lima e Pacífico Pereira
(1846-1922). Este último chegou a aventar uma etiologia
microbiana, mas João Batista de Lacerda, do Rio de Ja-
neiro, anunciaria antes a descoberta do suposto bacilo do
beribéri (1883). Peard (1992).
3O mesmo ponto de vista orienta os trabalhos de Ferrei-
ra (1999, 1996). As ambivalências do processo de cons-
trução da identidade nacional foram exemplarmente
analisados por Süssekind (1990) e Ventura (1991).
4Sobre este médico formado em Paris (1802-1878), se-
guidor entusiasta de Broussais, ver Edler (op.cit.) e Fer-
nandes (1982).
5Seu mérito foi, assim, o de ter feito a primeira confir-
mação dos estudos de Griesinger, sem excluir a climato-
logia médica. Edler mostra que, ao elaborar o diagnósti-
co do escravo hipoêmico, descartou outro tipo de ane-
mia, a cachexia palustre,baseando-se no fato de ele não
residir em lugar sujeito a miasmas. Ao estabelecer a etio-
logia verminótica da hipoemia, Wucherer também se ba-
seou no fato de muitos curandeiros africanos tratarem-
na com leite da gameleira, vegetal classificado como an-
thelmíntico por von Martius em Systema Materiae Medi-
cae Vegetabilis Brasiliensis.Wucherer explicou o modo de
infecção (ingestão dos ovos dos vermes com alimentos
sólidos ou água) por analogia com outros casos descritos
por Davaine em Traité des entozoaires (1860). Ver Edler
(1999) e Farley (1991).
6Os seus estudos foram publicados com o título “Ueber
Ankylostoma duodenale und Ankylostomiasis”, na cole-
ção de lições de clínica médica de Volkman, editada em
Leipzig (1885). Os artigos foram depois publicados no 1o
e 2ovolumes de O Brazil médico e na Gazeta Médica da
Bahia (1887, 1888). Foram reunidos em A opilação ou
hypoemia intertropical e sua origem, ou Ankylostoma duo-
denale e Ankylostomiase (Rio de Janeiro, Typ. Machado,
1888). O helminto e a doença eram examinados sob os
aspectos histórico e geográfico, morfológico e biológico,
clínico e patogênico, terapêutico e profilático. A doença
ganhara relevância maior para os europeus ao provocar a
morte de dezenas de operários na perfuração do túnel de
São Gotardo, entre a fronteira italiana e os Alpes suíços
(1880-1882). Lutz mostrou que o parasito encontrado no
Brasil diferia do europeu. Posteriormente ele foi descrito
por C. Wardell Stiles como espécie à parte (Necator ame-
ricanus). A esse respeito ver Foster (1965); Comissão do
Centenário de Adolfo Lutz (1956), Neiva (1941). Este tra-
balho traz em apêndice bibliografia organizada por Her-
man Lent em 1935. Ver ainda Deane (1955).
7Segundo Edler, o trabalho de Lewis, publicado no Lan-
cet em 1873, foi imediatamente resumido pela Revista
Médica (1873). Em visita ao hospital de Nettley,na Ingla-
terra, Silva Lima confirmou a identidade das fïlárias en-
viadas por Lewis com aquelas descritas por Wucherer.
8Edler relaciona os trabalhos publicados pelos médicos
da Bahia e do Rio de Janeiro em periódicos locais e nos
Archives de Medicine Navale, confirmando ou completan-
do as descobertas de Wucherer e dos médicos ingleses,
franceses e alemães. Mostra que dos 35 artigos sobre pa-
togenia e terapêutica verminótica publicados entre 1873
e I890, em quatro periódicos médicos (Revista Médica,
Progresso Médico,Gazeta Médica Brazileira e União Médi-
ca), nove referiam-se à hipoemia e 26 à hemato-chyluria
ou elefantíase dos árabes; quatro outros tratavam de ti-
pos diferentes de helmintíase (Edler,1999).
9As trajetórias de Freire, João Batista de Lacerda e outros
bacteriologistas atuantes no último quarto do século XIX
são analisadas, em detalhe, em Benchimol (1999).Ver-
sões mais resumidas encontram-se em Benchimol (1996,
1995). Sobre a reforma do ensino médico, ver Edler,
(1996, 1992) e Santos Filho (1991).
10 Excetuando-se a vacina anti-variólica, não havia ainda
outro profilático dessa natureza para doenças humanas.
O médico espanhol Jaime Ferrán desenvolveria vacina
igualmente controvertida contra o cólera em 1883-1885
(Bornside, 1991). As realizações de Pasteur nessa área res-
tringiam-se ainda às vacinas contra o cólera das galinhas
(1880) e o antraz ou carbúnculo hemático (1881). Seu in-
gresso nas patologias humanas, com a vacina anti-rábica,
envolveria complexas injunções sociotécnicas superadas
só em 1886, como mostram, entre outros, Debré (1995);
Salomon-Bayet (1986); Dagognet (1967) e Delaunay
(s.d.). A técnica usada na produção da vacina anticarbun-
culosa e o “teatro da prova” montado por Pasteur em
Poully-le-Fort para demonstrar sua eficácia exerceram
forte influência sobre Freire e outros convertidos ao pas-
Benchimol, J. L.
286
teurianismo e à conseqüente busca de vacinas. Ver a esse
respeito Latour (apud Salomon-Bayet, 1986).
11 A comunicação intitulava-se “Pathologie expérimen-
tale – Le microbe de la fièvre jaune. Inoculation préventi-
ve.Note de MM. D. Freire et Rebourgeon, présenté para
M. Bouley”. Comptes Rendus des Séances de l’Academie des
Sciences,t.XCIX, séance du Lundi 10/11/1884, no19, p.
806. A tentativa feita por Pasteur em 1881 para identificar
o micróbio da febre amarela foi malsucedida, como mos-
tra Vallery-Radot (1951). Igualmente frustrados foram os
esforços feitos por d. Pedro II para convencê-lo a vir ao
Brasil para decifrar aqui, conclusivamente, a etiologia e
prevenção da doença. A questão é analisada em Benchi-
mol (1999). Parte da correspondência entre Pasteur e d.
Pedro II acha-se em Vallery-Radot (1930). As cartas aí re-
produzidas e outras encontram-se no Museu Imperial,
Setor de Documentação e Referência, Arquivo da Casa
Imperial (Petrópolis). Sobre as relações de d. Pedro II e
Pasteur, ver também Franco (1969); sobre a história da
vacina anti-variólica no Brasil, Fernandes (1999).
12 As comunicações apresentadas em Paris foram: “Thé-
rapeutique. Résultats obtenus par l’inoculation préventi-
ve du virus atténué de la fièvre jaune, à Rio de Janeiro.
(En collaboration avec mm. Gibier et C. Rebourgeon)”,
Comptes Rendus des Séances de l’Academie des Sciences,
avr. 1887, t. 104, pp. 1.020-1.022; e “Médecine expérimen-
tale. Du microbe de la fièvre jaune et de son atténuation.
Deuxième note de mm. Domingos Freire, Paul Gibier,
Claude Rebourgeon”, Comptes Rendus Hebdomanaires des
Séances de l’Academie des Sciences,21.3.1887, t. 104, pp.
858-860; “Conférence sur la fièvre jaune, prononcée de-
vant la Société de Thérapeutique Dosimétrique de Paris”,
Repertoire Universel de Médicine Dosimétrique.Paris, mai.
1887. A comunicação lida em 7 de setembro, na 15aseção
do Congresso de Washington (Public and International
Hygiene), intitulava-se “Vaccination avec la culture atté-
nuée du microbe de la fièvre jaune”. Foi resumida em Me-
dical News (17.9.1887, v. 51, pp.330-334), no Jornal do
Commercio,O Paiz e Gazeta de Noticias (22-23.8.1899) e
Brazil-Medico (no33, 1.9.1899, p. 319). Freire escreveu
mais de uma centena de trabalhos sobre química, medici-
na e saúde pública, sob forma de relatórios, compêndios,
livros, monografias e comunicações. Boa parte dessa pro-
dução está relacionada em Benchimol (1999).
13 United States Marine Hospital Service. Report on the
Etiology and Prevention of Yellow Fever by George M.
Sternberg,Lieut. Colonel and Surgeon, U. S. Army.(Was-
hington, Government Printing Office, 1890). Publicado a
pedido da Secretaria do Tesouro, de acordo com o Ato do
Congresso aprovado no dia 3 de março de 1887.
14 Lacerda relata parte de sua trajetória na instituição
nos Fastos do Museu Nacional (1905). A melhor fonte
bio-bibliográfica ainda é a coletânea publicada pelo Mu-
seu Nacional em 1951. Ela omite, no entanto, os traba-
lhos sobre a febre amarela e outras frentes da bacteriolo-
gia, que são analisados em Benchimol (1999).
15 Nascido no Rio de Janeiro, em 1855, de pais suíços,
Lutz diplomou-se em medicina em Berna, em 1879, de-
pois freqüentou importantes laboratórios na França, Ale-
manha e Inglaterra onde conheceu Lister e Pasteur. De
1882 a 1886 exerceu a clínica no interior de São Paulo,
sem deixar de publicar em revistas alemãs artigos sobre
parasitos do homem e de animais e sobre a ancilostomía-
se, a hepatite amebiana e a lepra. Trabalhou com o der-
matologista Paul Gerson Unna, em Hamburgo e, por in-
dicação deste, dirigiu o leprosário da ilha Molucai, no
Havaí, de novembro de 1889 a julho de 1892. Lá se casou
com a enfermeira inglesa, Amy Fowler, e iniciou os estu-
dos sobre moluscos que mais tarde seriam de grande pro-
veito para as suas pesquisas sobre a esquistossomose man-
sônica. De início, foi sub-diretor do Instituto Bacterioló-
gico fundado em São Paulo, em julho de 1892, mas em
março de 1893 assumiu a direção abandonada por Felix
le Dantec, que regressou à França com os materiais que
recolhera para estudar a febre amarela. Ver a esse respeito
Corrêa (1992), Silva (1992,) e Lacaz (1966).
16 Em 1880, na Argélia, Charles Louis Alphonse Laveran
descobriu nos glóbulos sangüíneos de doentes o hemato-
zoário que causava a malária (Plasmodium).Apesar de a
disenteria e a surra (doença animal) terem sido relacio-
nadas também a protozoários, não havia provas conclu-
sivas de que esses animais unicelulares causassem doença
humana importante. A demonstração de uma etiologia
dessa natureza era dificultada pela complexidade dos ci-
clos de vida dos animais deste sub-reino, a ausência de
um sistema de classificação preciso e a dificuldade de se
obterem meios artificiais para seu cultivo. Nos anos se-
guintes, Camillo Golgi e outros investigadores elucida-
ram o ciclo de reprodução vegetativa das células; sua
multiplicação no sangue por esporulação e a relação dis-
so com o aparecimento da febre; a presença de três varie-
dades do parasito no organismo humano, responsáveis
pelas febres quartã, terçã e irregular ou perniciosa. O tra-
balho que Freire publicou em 1892 intitulava-se Sur l’ori-
gine bactérienne de fièvre bilieuse des pays chauds (1892).
O primeiro trabalho de Fajardo sobre malária, em frontal
desacordo com Freire, chamava-se “O micróbio da malá-
ria” (1892-1893). A controvérsia está documentada em
Benchimol (1999). Sobre as pesquisas e controvérsias in-
ternacionais relacionadas à malária ver Busvine (1993) e
Harrison (1978).
17 Foram sondados também o engenheiro sanitário in-
glês Edmund Alexander Parkes; Émille Duclaux, sucessor
de Pasteur; Rubner, diretor do Instituto de Higiene de
Berlim e Friedrich Löffler, descobridor do bacilo da dif-
teria. Segundo a boden theorie (teoria do solo) de Petten-
koffer, para que ocorresse uma epidemia eram necessá-
rios quatro fatores: além do germe específico, determina-
das condições relativas ao lugar,ao tempo e aos indiví-
duos. Por si só, o germe não causava a doença, o que ex-
cluía o contágio direto. A suscetibilidade individual era
importante, mas ela e o germe, sozinhos, tampouco en-
gendravam a doença. As condições de tempo e lugar
eram indispensáveis para explicar tanto os acometimen-
tos como as imunidades, i.e., o fato de certos períodos e
lugares permanecerem refratários à doença. As variáveis
sazonais e locais agiam sobre o germe, que amadurecia e
se transformava em matéria infectante. O cadinho da
transformação, análoga à que convertia a semente em
planta, era o solo. Para os partidários de Pettenkoffer no
Rio de Janeiro, a equação correta da insalubridade urba-
na era “pântano abafado” + matéria orgânica em putrefa-
ção + oscilações do lençol d’água subterrâneo = epide-
mias. Sobre esse assunto ver Benchimol (1999) e Hume
(1925).
Ciência & Saúde Coletiva, 5(2):265-292, 2000
287
18 A conferência foi publicada em O Paiz (10.6.1897) e
condensada em O Brazil-Médico (22.6.1897). Sanarelli
submeteu duas comunicações aos Annales de L’Institut
Pasteur (1897). Foram publicadas também nos Annaes
da Academia de Medicina do Rio de Janeiro (1897).As ex-
periências com o soro foram relatadas em conferência
na Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em
8/3/1898. Seguindo os seus passos, Wolf Havelburg apre-
sentou seus resultados ao Instituto Pasteur e em confe-
rência no Rio de Janeiro. Os resultados de outros con-
correntes, como Chapot-Prévost, Johannes Paulser e João
Batista de Lacerda, e as controvérsias suscitadas por estes
trabalhos acham-se em Benchimol (1999). Neste am-
biente competitivo, o alinhamento mais conspícuo opu-
nha Sanarelli e Freire, que também proferiu concorrida
conferência na Faculdade de Medicina para contestar o
italiano.
19 Em maio de 1897, às vésperas da conferência de Sana-
relli, o deputado Serzedelo Corrêa, da bancada paraense,
propôs à Câmara a instituição do “Prêmio Pasteur”, a ser
concedido a quem apresentasse parecer favorável e unâni-
me da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro,do Insti-
tuto Koch de Berlim e do Instituto Pasteur de Paris. (Con-
gresso Nacional, Annaes da Câmara dos Deputados,1897,
vol. 1, pp. 354-357). Em junho, o deputado Alcindo Gua-
nabara apresentou projeto alternativo: o governo nomea-
ria uma comissão com profissionais de reconhecida com-
petência para estudar a vacina de Freire. Se verificasse que
era eficaz, ele receberia o prêmio. Se concluísse que não
era inteiramente satisfatória, mas estava em vias de sê-lo,
o executivo lhe forneceria o que necessitasse para com-
pletar a instalação de seu Instituto Bacteriológico, e lhe
pagaria até trinta e seis contos anualmente, a título de
subvenção, durante cinco anos. Na última hipótese, a va-
cinação pública seria suspensa até que novo exame a
aprovasse. (Congresso Nacional.Annaes da Câmara dos
Deputados,1897, vol. 1, pp. 400-401). A esse respeito ver
Benchimol (1999).
20 A transmissão da filária pelo Culex, do hematozoário
da febre do Texas por carrapatos e do protozoário da na-
gana, outra doença de bovinos e equinos, pela mosca tsé-
tsé fora divulgada no Brasil antes da descoberta de Ross e
Grassi, em 1897. Em 1898, podia-se ler nos jornais que os
insetos disseminavam os micróbios do carbúnculo, da of-
talmia do Egito, do botão de Biskara, do piã (bouba) e do
mormo. Yersin teria verificado que moscas mortas carre-
gavam o bacilo da peste e podiam, portanto, infectar as
águas de beber. E Joly confirmara que depositavam os ba-
cilos da tuberculose nos alimentos e bebidas, carregan-
do-os consigo mesmo depois de mortas e dessecadas,
idéia já sustentada por Utinguassú e Araújo Goes, na
Academia de Medicina, em outubro de 1885. Ver a esse
respeito, Benchimol (1999). Na conferência de Montevi-
déu, Sanarelli (1897) formulou a hipótese de que existiria
um mofo com poder “específico” de estimular o desen-
volvimento das colônias do bacilo icteróide nas regiões
onde a febre amarela era endêmica. Lacerda (1900) apre-
sentou então o aspergillus icteroide:seus esporos seriam
as “muletas” com que o bacilo deixava as atmosferas con-
finadas para proliferar à distância. Ao mecanismo de pro-
pagação acrescentou em seguida as moscas, por haver en-
contrado suas dejeções misturadas às colônias de bolor e
bacilos (Benchimol, 1999).
21 Myers faleceu em Belém, em 29/1/1901, vítima da
doença que fora estudar. Outro investigador de Liverpool
encerrou a carreira ali. Harold Howard Shearme Wolfers-
tan Thomas morreu em Manaus, em 8/5/1931, depois de
passar vinte anos no “The Yellow Fever Research Labora-
tory”. Antes disso, estudara tripanossomíases na África,
verificando, em 1904, o valor terapêutico do atoxyl,pri-
meira substância capaz de inibir a ação dessa espécie de
protozoário em animais. Em abril de 1905, junto com o
Anton Breinl, iniciou a 15aexpedição ultramarina da Es-
cola de Liverpool. Ao chegarem à Amazônia contraíram a
febre amarela. Breinl regressou à Inglaterra; Thomas ali
permaneceu até 1909. Reabriu o laboratório em 1910 e só
saiu de lá mais uma vez, para obter fundos de pesquisa e
contratar três assistentes que trabalharam com ele entre
1920 e 1923: Miller (1998), Smith (1993) e Benchimol
(1999).
22 Apesar de haver demonstrado que o soro filtrado de
um doente podia contaminar um voluntário saudável,
pelos critérios estabelecidos por Loeffler e Frosch, só a
transmissão em série provaria que o agente etiológico era
um vírus ultramicroscópico. A transmissão isolada não
excluía a possibilidade de que a doença fosse induzida pe-
lo veneno secretado por uma bactéria (Löwy, 1990,
1991). A etiologia viral só foi estabelecida em 1927, por
três investigadores da Fundação Rockefeller, Adrian Stoc-
kes, Johannes A. Bauer e N. Paul Hudson, que consegui-
ram infectar macacos Rhesus (gênero Macaca), na África
ocidental francesa. Sobre as transformações sofridas pelo
conceito de “vírus”, ver Hughes (1977).
23 Participaram 192 médicos, dos quais 149 eram da ca-
pital (77,20%), 13 de São Paulo (6,74%) e 6 da Bahia
(3,11%) e 12,95%, de outros estados. Os itens que enca-
beçavam a agenda do Congresso diziam respeito à febre
amarela. Os outros eram: formas clínicas mais freqüentes
de paludismo no Rio; profilaxia da malária; concomitân-
cia da caquexia palustre e ancilostomíase; das manifesta-
ções mais freqüentes da filariose no Rio; patogenia da di-
senteria; tratamento e profilaxia do beribéri; permanên-
cia da peste no Rio; causas das nefrites nesta cidade; com-
paração da tuberculose no Brasil e em outros países; le-
gislação sobre exercício da medicina e da farmácia no
Brasil; codificação das leis sanitárias no Brasil.
24 Os cientistas do Instituto Pasteur produziram quatro
relatórios que foram publicados nos Annales de L’Institut
Pasteur (1903, 1906). Foram publicados em O Brazil-Me-
dico (1903) e na Revista Medica de S. Paulo (1904, 1906).
Escreveram também sobre a espirilose das galinhas
(1903) e febre amarela e malária em Vera Cruz (1906).
25 A epizootia fora estudada por João Batista de Lacerda,
que chegou a preparar e distribuir uma vacina contra a
doença no Museu Nacional. Depois da vacina contra o
carbúnculo sintomático, outros produtos veterinários fo-
ram desenvolvidos em Manguinhos: as vacinas contra o
carbúnculo verdadeiro e a diarréia dos bezerros ou pneu-
moenterite e o Protosan, empregado contra o “mal das
cadeiras”, uma doença de cavalos. Entre 1907 e 1918, a
pauta industrial evoluiu de 11 para 26 produtos. Ezequiel
Dias (Dias, 1918) calculava em 3.932:031$701 o valor em
moeda corrente de toda a produção até 1918. A maior
parte dos soros e vacinas era fornecida gratuitamente a
hospitais e serviços sanitários. Além das vantagens eco-
Benchimol, J. L.
288
nômicas para o Estado, Dias ressaltava a vitória “moral”
que significara a completa substituição da importação de
imunoterápicos (Benchimol, 1990).
26 Um detalhe que ilustra o desejo de Oswaldo Cruz de
distanciar-se da “tradição” bacteriológica inaugurada pe-
la geração anterior encontra-se no depoimento de Eze-
quiel Dias sobre a entrevista que precedeu a sua admis-
são no Instituto. A pergunta decisiva teria sido: “O Se-
nhor conhece alguma coisa de bacteriologia?” Ao contrá-
rio do que imaginava o assustado acadêmico, seu “não”
lhe abriu as portas do emprego. Mais tarde, escutou de
Oswaldo Cruz a explicação: “porque se você soubesse al-
guma coisa da matéria, devia ser muito pouco, só servin-
do para lhe dar presunção, e, portanto, dificultar o seu
aprendizado. E eu prefiro certos ignorantes.” (Dias,
1918).
27 Em carta ao biógrafo Salles Guerra (1940), Oswaldo
Cruz escreveu: o Rocha Lima, com as excelentes relações
que tem aqui, obteve-nos os melhores lugares e fez uma pro-
paganda lenta pela palavra e, sobretudo, com o exemplo de
trabalho... Nosso material era, graças ao trabalho de Vas-
concellos, da melhor qualidade.... Colocamo-nos, o Rocha
Lima e eu, ao lado da Exposição e, como cicerones interes-
sados informávamos aos visitantes de tudo... O Instituto foi
se levantando a olhos vistos... O Rubner, presidente do Júri,
tinha sido professor do Rocha Lima e... influiu com sua au-
toridade sobre os demais juízes.... Assim foi ganha a bata-
lha... E eu, em tudo isso, representei papel de “medalhão,
colhendo os frutos sazonados e saborosos da sementeira fei-
ta por aqueles cujos nomes foram esquecidos.
28 A decisão de regressar ao Brasil incógnito forneceu a
chave para compor a imagem ideal do “sábio”: diferente-
mente de Freire, exibido e vaidoso, este era retraído, aves-
so a manifestações públicas. Além de cumprir as missões
de que o encarregou o ministro das Relações Exteriores,
Oswaldo Cruz visitou o Instituto Pasteur e o Instituto de
Pesquisas Médicas fundado por Rockefeller em Nova
York. Entrevistou-se com Theodore Roosevelt, dando-lhe
garantias de que a esquadra norte-americana, em mano-
bras de guerra, poderia desembarcar seus tripulantes no
Rio de Janeiro, sem temer a febre amarela. Participou, em
seguida, da Convenção Sanitária realizada no México, em
dezembro de 1907, na qual os governos da América Cen-
tral subscreveram, como queria a Casa Branca, o com-
promisso de criarem legislações e serviços para erradicar
a febre amarela de seus territórios.
29 Em agosto de 1914, Neiva viajou para o Rio Grande
do Sul para tratar da fundação de mais uma filial em Pe-
lotas, por solicitação dos pecuaristas e das autoridades
locais. Outra, de existência efêmera, foi inaugurada em
São Luiz, no Maranhão,em 1919. Em 1936, a filial minei-
ra seria transferida para a administração estadual, com a
denominação de Instituto Biológico Ezequiel Dias, crian-
do-se em compensação o Instituto de Patologia Experi-
mental do Norte, com sede em Belém, custeado pelo Es-
tado do Pará e dirigido por Evandro Chagas, filho de
Carlos Chagas.
30 Segundo Chagas Filho (1993), a importância da teoria
domiciliária só foi reconhecida no Congresso Internacio-
nal de Malariologia, realizado em 1923, em Roma,e só ad-
quiriu plena eficácia quando se generalizou o uso do DDT.
31 As intervenções no meio ambiente contra os vetores
alados da malária já incluíam o emprego de peixes para
destruir as larvas do anófele. Esse artifício seria depois
utilizado pela Fundação Rockefeller para destruir as do
Aedes aegypti,o transmissor da febre amarela (Chagas Fi-
lho, 1993).
32 Encontram-se as referências mais importantes sobre a
descoberta de Chagas, o relato de sua trajetória científica
e sua produção científica na magnífica biblioteca virtual
residente em http://www.prossiga.br/chagas/. O Prêmio
Schaudinn, destinado ao autor da mais importante des-
coberta na área em que atuava o descobridor Tre ponema
pallidum,morto prematuramente em 1906, era conferido
por um júri em que predominavam cientistas da França,
Alemanha, Inglaterra e Itália: Blanchard, Laveran, Metch-
nikoff, Roux, Celli, Golgi e Grassi, Koch, Ehrlich, Von
Hertwig e Boetschli; Patrick Manson, Nutall, Ray Lankas-
ter, Ronald Ross. Vinham em seguida o Japão (Kitasato e
Ishikawa); Áustria (A. von Heider e Paultauf); Rússia
(Shewiakoff e Wladimoroff) e Estados Unidos (G. Novy
e E. B. Wilson). Portugal era representado pelo alemão
Kopke, organizador da Escola de Medicina Tropical de
Lisboa, e o Brasil, por Oswaldo Cruz, graças aos trabalhos
expostos em Berlim, em 1907.
33 O conjunto arquitetônico original de Manguinhos in-
cluía um aquário, com piscinas para cultura de animais
de água doce e salgada, esta em comunicação direta com o
mar. Foi uma construção precursora em seu gênero, pre-
cedida apenas pelo aquário de água salgada, o primeiro
da América do Sul, instalado por Pereira Passos no Pas-
seio Público, em 1904, e demolido em 1938.O de Man-
guinhos, veio abaixo em 1945,por ocasião da abertura da
avenida Brasil, que interrompeu sua ligação com o mar.
Entre 1913 e 1918, Aristides Marques da Cunha e Olym-
pio da Fonseca Filho publicaram os primeiros estudos
sistemáticos sobre o plâncton da costa Atlântica, efetua-
dos na Estação Biológica da Marinha, na Praia Vermelha.
Em 1916, quando ela foi desativada, parte de seu acervo e
pessoal foi transferida para a Ilha do Pinheiro, no Institu-
to Oswaldo Cruz, possibilitando a continuação deste pro-
grama de pesquisas que hoje é revalorizado pelos estudio-
sos da ecologia (Benchimol, 1990; Fonseca Filho, 1974).
34 Carta de Rocha Lima a Neiva, Moses e Farias (c. 1910).
Arquivo Arthur Neiva. Correspondências. Fundação Getú-
lio Vargas/CPDOC. Sobre o concurso e seus desdobramen-
tos, ver Benchimol & Teixeira (1993); Chagas Filho (1993).
35 A seleção levou em conta também a antigüidade e os
serviços prestados ao Instituto. Os trabalhos publicados
foram hierarquizados em três categorias. Os que se limi-
tavam a descrever espécies sem estudos biológicos e ex-
perimentais, as notas preliminares e as sínteses e resenhas
sem contribuição pessoal valiam de 1 a 3 pontos. As teses
de doutoramento feitas no Instituto, os trabalhos origi-
nais com contribuição experimental e os de sistemática
com biologia das espécies descritas valiam de 4 a 6 pon-
tos. Por fim, de 7 a 9, valiam os “trabalhos de alto valor
científico que apresentem descobertas importantes ou
métodos novos de grande valor prático”. Nos trabalhos de
colaboração cada autor auferia metade dos pontos, e aos
totais apurados para cada candidato seriam acrescenta-
dos “o número de anos de serviços oficiais prestados ao
Instituto, assim como as comissões exercidas” (1 ponto
Ciência & Saúde Coletiva, 5(2):265-292, 2000
289
cada ano e cada comissão). O livro em que estão enca-
dernados os documentos relativos ao concurso é uma pe-
ça documental interessantíssima (Carlos Chagas – Docu-
mentos. Arquivo Carlos Chagas. COC). Revelam a com-
plexa engenharia subjacente aos critérios de avaliação
que acabaram por predominar na seleção do novo chefe
de serviço.
36 A chefia da DGSP passou a outro pesquisador de
Manguinhos, Figueiredo de Vasconcelos, que se demitiu
pouco tempo depois em protesto contra a política de saú-
de de Hermes da Fonseca, eleito presidente em março de
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da Armada, liderada por João Cândido, no Rio de Janei-
ro,e a guerra do Contestado, movimento camponês che-
fiado pelo líder messiânico João Maria nos sertões do Pa-
raná e Santa Catarina; crise econômica precipitada pela
débâcle da borracha e a negociação da moratória com os
credores da dívida externa do país; e crise política, defla-
grada pelas chamadas “salvações” que destronaram vários
coronéis, para entregar as máquinas estaduais a outras
frações oligárquicas alinhadas a Pinheiro Machado, líder
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Objetivou-se com este ensaio apresentar um episódio da história da ciência e discutir de que maneiras o seu uso poderia auxiliar na superação de obstáculos epistemológicos associados ao ensino sobre microrganismos. A partir da discussão do episódio da história da ciência podemos refletir que a construção de conhecimentos sobre os microrganismos emerge de questões e problemas cotidianos; o senso comum e as generalizações que associam os microrganismos às doenças são resultantes de prioridades e impactos da ciência e do conhecimento científico, e que a discussão de episódios da história da ciência incita a construção de propostas interdisciplinares em sala de aula.
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O presente artigo teve por objetivo elaborar e avaliar um modelo didático aplicável e de baixo custo, como ferramenta facilitadora da aprendizagem, relacionada ao conteúdo bactérias, no contexto do Ensino Médio. Para isso, confeccionou-se a partir de materiais recicláveis, como papelão e garrafa pet, e de baixo custo, como tinta e massinha de modelar, um modelo didático que permitiu aos alunos melhores observar estruturas bacterianas. Após a confecção, realizou-se uma visita a uma InstituiçãoFederal de Ensino localizada em Uruçuí, Piauí, para aplicação do modelo. Para isso, escolheu-se uma turma de segundo ano do Ensino Médio, que contou com a participação de 37 alunos. A confirmação da participação ocorreu através da concordância a um Termo de Responsabilidade assinado pelos responsáveis dos discentes. Após esse momento, os participantes foram convidados a responder um questionário (Q1) que avaliava as percepções e conhecimentos dos discentes sobre o tema. Após esse momento, realizou-se uma aula expositiva relacionadas às bactérias, com o auxílio do modelo didático confeccionado. Após esse momento, realizou-se a aplicação de um novo questionário (Q2) para avaliaros aprendizados dos discentes a partir da aula realizada, bem como suas percepções em relação a qualidade da aula e do material utilizado. A partir da análise dos questionários, observou-se que os mesmos apreciam o uso de modelos didáticos na aula, e que o acerto das questões que avaliavam os conhecimentos dos discentes foi melhor posteriormente a aplicação do modelo. Dessa forma, concluise que estes recursos, quando bem utilizados em sala de aula, se mostram como ferramentas que estimulam interesse, curiosidade, e que contribuem diretamente com o processo de ensinoaprendizagem.
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Objetivo: descrever, baseado em evidências, pesquisas subsidiadas pelo SINAN para a prevenção e o monitoramento da dengue. Metodologia: Estudo tipo Revisão integrativa da literatura. A questão norteadora considerada foi: quais ações são desenvolvidas para a prevenção e controle da dengue subsidiadas pelo SINAN? Foi realizada através das seguintes bases de dados: MedLine, LILACS E BDENF, utilizando-se os seguintes Descritores em Ciências da Saúde: "Sistemas de Informação"; Dengue; "Vigilância Epidemiológica" e "Unidade Básica", combinados entre si por meio do operador booleano AND. A busca se deu em novembro de 2023, sendo incluído os estudos publicados nos últimos 10 anos. Excluiu-se os materiais que não estivessem relacionados especificamente com a temática estudada. Resultados: em duas categorias foram evidenciadas a importância do SINAN como fonte de informações em um cotidiano de trabalho que agrega subsídios para as ações de vigilância epidemiológica. Conclusão: Os achados sintetizam as ações utilizadas para construção do perfil dos casos de dengue. A informação de qualidade é extremamente relevante para subsidiar a tomada de decisão, em todos os níveis de ação, pois permitirá o diagnóstico de forma fidedigna às necessidades de saúde da população.
Chapter
This book is the first modern survey of the economic and social history of Brazil from early man to today. Drawing from a wide range of qualitative and quantitative data, it provides a comprehensive overview of the major developments that defined the evolution of Brazil. Beginning with the original human settlements in pre-Colombian society, it moves on to discuss the Portuguese Empire and colonization, specifically the importance of slave labor, sugar, coffee, and gold in shaping Brazil's economic and societal development. Finally, it analyzes the revolutionary changes that have occurred in the past half century, transforming Brazil from a primarily rural and illiterate society to an overwhelmingly urban, literate, and industrial one. Sweeping and influential, Herbert S. Klein and Francisco Vidal Luna's synthesis is the first of its kind on Brazil.
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In Brazil, epidemiological understandings of zoonosis have historically articulated with race and class hierarchies, placing so-called non-modern bodies at the core of etiological theories and sanitary interventions. I describe how the Guarani-Mbya people living in the Jaraguá Indigenous Land in the city of São Paulo question the racialized narratives that human-rat contact is a major driver of infections such as leptospirosis. By analyzing Indigenous concepts of body, disease, and dirt, I suggest that the Guarani-Mbya disease ontology reflects a criticism of urbanization, in that it is considered to have pathogenic effects on the lives of Indigenous peoples and rats.
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Resumo: A abordagem higienista do médico Januário Cicco é descrita pela historiografia que trata da urbanização e saúde pública de Natal como um misto de arcaico e moderno, ou mesmo como um arranjo confuso, uma mistura de miasmas e micróbios, propiciado por uma fase de transição. Por outro lado, também é defendida como puramente moderna por considerar os micróbios e desconsiderar completamente os pressupostos miasmáticos. Esse artigo busca situar as práticas de Januário Cicco para além do binômio miasma/micróbio, sintetizados muitas vezes na historiografia pela tensão modernidade/arcaísmo. Para defender essa posição, o pensamento de Cicco é situado em relação às propostas de reativação de pressupostos hipocráticos no início do século XX, realizados a partir do conceito de constituição epidêmica de Thomas Syndenhann, médico descrito como o "Hipócrates Inglês". O estudo é feito a partir de uma análise dos pressupostos empregados nas publicações de Cicco (1920;1928) situando os mesmos na história da epidemiologia e urbanização de Natal. Palavras-chave: Januário Cicco, Natal, Epidemiologia, História da medicina, História da saúde. Abstract: The hygienist approach of the doctor Januário Cicco (1881-1952) from Natal-Rio Grande do Norte (Brazil), is described by the historiography concerned with urbanization and public health as a mix of archaic and modern practices, or even as a confused arrangement, a mixture of miasmas and microbes, fostered by a transition phase. On the other hand, is also advocated as purely modern by considering microbes and disregard miasmatic assumptions. This article aims to situate the practices of Cicco beyond the miasma/microbe binome, often synthesized by the historiography as a tension between modernity and archaism. To defend this position, the thought of Cicco is situated in relation to the proposed reactivation of Hippocratic assumptions in the early twentieth century, defined by the epidemic constitution proposed by Thomas Syndeham, physician described as the "English Hippocrates". The study is done from an analysis of the pressupositions employed in Cicco publications (1920;1928) situating them in the history of epidemiology and the history of urbanization of Natal. Januário Cicco and the English Hippocrates: between miasmas and microbes.
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Resumo O artigo analisa o lugar das tecnologias de quantificação na rede formada em torno do combate às doenças, da revolução pastoriana até o movimento sanitarista dos anos 1920. Investiga o papel da demografia sanitária na imposição do modelo pastoriano entre os médicos, seguido da monumentalização estatística das reformas junto a diferentes atores sociais. A teoria do ator-rede de Bruno Latour e os trabalhos de Michel Foucault sobre a governamentalidade são usados para problematizar o conjunto documental formado pelo censo de 1906, artigos e boletins demográficos publicados na imprensa médica, anuários estatísticos e relatórios ministeriais.
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O presente artigo faz uma discussão do livro de Charles Darwin (1809-1882) The Descent of Man and Selection in Relation to Sex, de 1871, cuja primeira edição completa 150 anos de publicação em 2021. Embora tão famoso, e importante, quanto A origem das espécies, o Descent é, contudo, menos lido e o mais controvertido livro de Darwin, desde seu lançamento até os dias atuais. Os objetivos são o de recolher aspectos do contexto em que o livro foi escrito e problematizar algumas das questões polêmicas que o cercam. Para isso, inicialmente, por aproximações aos estudos de Darwin publicados a partir dos anos 1980, a abordagem historiográfica adotada é caracterizada como pós-positivista, contextualista e enriquecida por teorias multiculturais do conhecimento. O escopo e objetivos do Descent são apresentados, tendo em vista seu autor como representante da elite intelectual inglesa do século XIX. A seleção das polêmicas vivas hoje ocorreu em dois fóruns acadêmicos de 2021, uma disciplina sobre Darwin e um congresso internacional de estudos metacientíficos da biologia. As polêmicas foram reunidas em três grupos: 1) a escola craniométrica e a hierarquia das raças e civilizações; 2) a seleção sexual e os estereótipos culturais de gênero; 3) a seleção natural no âmbito humano e os movimentos eugênicos. As conclusões são desenhadas em convergência com os achados da historiografia recente, reconhecendo que a construção da teoria evolucionista de Darwin se deu na interação de mão dupla entre a ciência e a cultura, como é da natureza da construção de todo conhecimento científico. O seu trabalho teórico reflete elementos da sociedade vitoriana, com a qual o naturalista compartilhava as virtudes e os vícios.
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Resumo: O artigo analisa como a teoria psicanalítica foi apropriada por médicos psiquiatras nas primeiras décadas do século XX, inserida num amplo contexto de discussão de projetos para a nação brasileira. Num segundo momento, tomamos o ano de 1926 como um marco importante porque foi quando se criou a Clínica de Psicanálise e seções de estudo sobre tal saber dentro da Liga Brasileira de Higiene Mental, proporcionando um local institucionalizado de discussão e aplicação dessa teoria. Por fim, concluímos com uma breve discussão sobre os caminhos que tal teoria assumiria nos anos posteriores.
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Comemorando-se iêste ano o centenário do nascimento de ADOLFO LUTZ. foi-nos confiada a tarefa de escrever um artigo acêrca de sua contribuição à Helmíntologia, Sôbre a personalidade de LUTZ têm-se externado pessôas muito mais credencíadas que nós, já por terem com êle convivido e colaborado, já por possuirem soma de conhecimentos que lhes permitam melhor- apreciação. da obra do mestre. Se tivemos a audácia de aceitar esta incumbência, podemos unicamente justificá-Ia pela vontade de prestar nossa modesta homenagem à memória do grande pesquisador brasileiro.A moderna Helmintologia nasceu, por assim dizer, na mesma época que ADOLFOLUTZ. Com efeito, apesar de algumas opiniões mais esc1arecidas, estava ainda em voga nesse tempo a teoria da geração espontânea. Em 1852 dizia REQUIN: "J e ne dissimulerai pas que, pour mon compte, je suis, avec Rudolphi, Bremser, Richard, etc, un partisan determiné de l'hypothêse de Ia génération spontanée des helminthes... c'est là ma croyance, ma ferme croyance ... " Em 1877 dizia AVAINEque até os seus dias, o estudo dos parasitas do homem havia consistido na interpretação das opiniões de mestres antigos, como Hipócrates, Galeno, Avicena e outros.
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A discussão do sertão como uma espécie de metáfora do país é o que estrutura o livro Um Sertão Chamado Brasil, de Nísia Trindade Lima. Em sua segunda edição aumentada, publicada na coleção Pensamento Político-Social, consta um novo prefácio da autora e acréscimo de dois artigos: “Uma Brasiliana Médica: o Brasil central na expedição científica de Arthur Neiva e Belisário Penna e na viagem ao Tocantins de Júlio Paternostro” e “Brasília: a capital do sertão”. Sua primeira edição, de 2003, foi publicada pela Editora Renan em parceria com Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro. Nísia Trindade Lima é atualmente professora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde e pesquisadora da Casa Oswaldo Cruz/Fiocruz.