ArticlePDF Available

Uma dificuldade recorrente em óptica geométrica: uma imperceptível descontinuidade de imagem na lupa

Authors:

Abstract and Figures

Poderíamos estar olhando para um objeto através de uma lupa e não perceber a súbita inversão de imagem - de virtual e direita para real e invertida - quando o objeto é afastado para além do plano focal? No presente artigo mostramos que isto efetivamente acontece, e também com certas lentes de óculos, como as lentes comuns de leitura.
Content may be subject to copyright.
Revista Brasileira de Ensino de F´ısica, v. 28, n. 4, p. 421-425, (2006)
www.sbfisica.org.br
Uma dificuldade recorrente em ´optica geom´etrica - Uma impercept´ıvel
descontinuidade de imagem na lupa
(A recurrent problem in geometrical optics - A not perceived image discontinuity at the magnifying glass)
Fernando Lang da Silveira1e Rolando Axt
Instituto de F´ısica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil
Recebido em 2/5/2006; Aceito em 4/7/2006
Poder´ıamos estar olhando para um objeto atrav´es de uma lupa e n˜ao perceber a s´ubita invers˜ao de imagem
- de virtual e direita para real e invertida - quando o objeto ´e afastado para al´em do plano focal? No presente
artigo mostramos que isto efetivamente acontece, e tamb´em com certas lentes de ´oculos, como as lentes comuns
de leitura.
Palavras-chave: lupa, olho humano, ´optica geom´etrica.
Could we be looking at an object across a magnifying glass without perceiving the sudden image inversion -
from virtual and erect to real and inverted - when the object moves away from the lens to a place a little farther
than the focal distance? In this article we show that this effectively happens, as well with some eyeglasses lenses,
like common reading glasses.
Keywords: magnifying glass, human eye, geometrical optics.
´
util chamar a aten¸ao do leitor sobre a importˆancia do estudo da lupa. ´
E importante compreender o seu funcionamento n˜ao
somente pela lupa em si, mas tamb´em porque a lupa constitui uma parte de quase todos os instrumentos de observa¸ao subjetiva.
Roberto A. Salmeron
1. Introdu¸ao
´
E por demais sabido que uma lente convergente conjuga
uma imagem virtual edireita, maior do que o objeto,
quando um objeto real est´a posicionado entre a lente
e seu plano focal. Nos textos que conhecemos, sejam
de ensino m´edio ou de ensino superior, a abordagem
te´orica da lupa parte do pressuposto de que o objeto
est´a posicionado entre a lupa e o seu plano focal. Um
excelente livro de F´ısica para o ensino m´edio afirma
que a lente utilizada s´o se comportar´a como uma lupa
quando o objeto estiver colocado numa distˆancia infe-
rior `a sua distˆancia focal [1, p. 276], e desta forma,
exclui explicitamente o uso de uma lente convergente
como lupa quando o objeto se encontra al´em do plano
focal, situa¸ao em que a lente convergente conjuga uma
imagem real einvertida. Assim, se um objeto for afas-
tado de uma lente convergente, ao atingir o plano focal
ocorrer´a uma descontinuidade no comportamento da
imagem pois ela passa de virtual edireita para real ein-
vertida. Possivelmente o reconhecimento da existˆencia
desta flagrante descontinuidade levou os autores do re-
ferido texto a negar a possibilidade do uso de uma lupa
quando o objeto se encontra al´em do plano focal2.
Imaginemos que um observador utilize uma lupa
com o objeto posicionado entre ela e o plano focal. A
pergunta que formulamos ´e a seguinte: o que ele enxer-
gar´a quando o objeto for afastado e finalmente ultra-
passar um pouco o plano focal? No Apˆendice apre-
sentamos uma quest˜ao-teste tratando deste problema.
Inicialmente uma fotografia mostra o que se enxerga
quando um objeto est´a posicionado pr´oximo ao plano
focal, a uma distˆancia da lupa inferior a sua distˆancia
focal; depois s˜ao oferecidas quatro alternativas de res-
posta para o teste. As alternativas s˜ao fotografias su-
gerindo o que se veria no caso de o objeto estar posicio-
nado um pouco al´em do plano focal.
A quest˜ao foi proposta a professores de F´ısica Ge-
ral de diversas universidades, sendo que a maioria deles
a leciona ou lecionou alguma disciplina que trata da
1E-mail: lang@if.ufrgs.br.
2Os demais textos de ´optica geom´etrica que conhecemos implicitamente endossam esta opini˜ao, pois nenhum deles discute o que se
enxergaria caso o objeto estivesse posicionado al´em do plano focal da lupa.
Copyright by the Sociedade Brasileira de F´ısica. Printed in Brazil.
422 Silveira e Axt
´optica geom´etrica. De um total de vinte e oito res-
pondentes, dezesseis optaram pela fotografia que su-
gere que o observador n˜ao discernir´a nada (Fotografia
4), cinco pela fotografia onde se reconhece uma imagem
invertida pouco n´ıtida (Fotografia 3), dois pela alterna-
tiva em que se observa uma imagem invertida com boa
nitidez (Fotografia 2) e um considerou que nenhuma
das alternativas estava correta. Apenas quatro dos res-
pondentes optaram pela alternativa que apresenta uma
imagem semelhante `aquela que o observador via quando
oobjeto se encontrava aqu´em do plano focal (Fotografia
1). Surpreendentemente esta ´e a alternativa correta!!
A dificuldade em tratar teoricamente da quest˜ao
posta ´e recorrente pois n˜ao ´e de ho je que se manifesta,
seja nos livros-texto, seja nas respostas de nossos profes-
sores. Em meados do s´eculo XVII diversos f´ısicos emi-
nentes envolveram-se com o problema; destaca-se, entre
outros, Isaac Barrow (1630-1677), primeiro ocupante e
antecessor de Isaac Newton (1642-1724) na c´atedra lu-
casiana. Mais tarde, em 1709, no Ensaio para uma
nova teoria da vis˜ao, o fil´osofo empirista inglˆes George
Berkeley (1685-1753) debateu-se com o problema3([2];
p. 177-179). Tanto Berkeley quanto Barrow e outros
ao tinham d´uvidas sobre o que se enxergava na si-
tua¸ao proposta pois, ao utilizarem lentes convergen-
tes (e espelhos cˆoncavos4), posicionando o objeto um
pouco al´em do plano focal, viam uma imagem muito
semelhante `aquela que observavam quando o objeto se
encontrava um pouco aqu´em do plano focal. O que
procuravam era uma explica¸ao para t˜ao surpreendente
observa¸ao!!
O objetivo deste trabalho ´e o de discutir teorica-
mente o que observamos ao olhar atrav´es de uma lente
convergente, estando o objeto ora antes ora depois do
plano focal da mesma.
2. Afinal, o que vemos?
Para que uma coisa possa ser vista por n´os, ´e pre-
ciso que uma imagem real seja conjugada pelo sistema
de lentes do olho (c´ornea, humor aquoso, cristalino).
ao temos acesso direto aos objetos eo que vemos
ao imagens reais em nossa retina. Se desconsiderar-
mos esta singela senten¸ca, inevitavelmente encontrare-
mos inconsistˆencias entre o que aprendemos em ´optica
geom´etrica e o que vemos5. Exemplos emblem´aticos
disso s˜ao o caso do espelho cˆoncavo [3] e o da lupa, que
examinaremos a seguir.
Para compreender o que vemos quando olhamos
com aux´ılio de uma lupa (ou, eventualmente, de uma
lente ou espelho qualquer ou ainda de um sistema ´optico
mais complexo), ´e necess´ario que examinemos como s˜ao
as imagens em nossa retina quando o olho refrata a luz
que emerge da lupa. Ou seja, n˜ao podemos limitar a
an´alise do problema `optica da lupa, como ocorre na
maioria dos livros did´aticos; devemos acrescentar ao sis-
tema uma lente que represente nosso olho conjugando
imagens sobre a retina.
Para analisar este problema recorremos `a constru-
¸ao gr´afica das imagens conjugadas pela lupa e pela
lente do nosso olho. Constru¸oes gr´aficas s˜ao realizadas
a partir do tra¸cado de alguns raios principais oriundos
do objeto e refratados pelas lentes; no presente caso, a
lupa e a lente do nosso olho. As regras em que se ba-
seia a constru¸ao gr´afica encontram-se tanto em textos
de n´ıvel fundamental [4] e m´edio [5], quanto de n´ıvel
superior [6].
Quanto `a localiza¸ao do objeto em rela¸ao `a lupa,
para que ele possa ser visto por um observador que olha
atrav´es dela, analisamos, a seguir, dois casos distintos
que produzem resultados bastante semelhantes sobre
nossa retina.
3. Primeiro caso: O objeto localiza-se a
uma distˆancia da lupa menor do que
a distˆancia focal
Inicialmente imaginemos que o objeto esteja colocado
entre a lupa e o seu plano focal. A Fig. 1 representa
oobjeto eaimagem virtual edireita conjugada pela
lupa. O observador encontra-se pr´oximo `a lupa, do lado
oposto ao lado que est´aoobjeto e sua imagem.
Figura 1 - A lupa conjuga uma imagem virtual e direita do
objeto.
3Agradecemos ao Professor Jos´e Oscar de Almeida Marques, do Departamento de Filosofia da UNICAMP que, estando a traduzir o
texto do bispo Berkeley, nos deu a conhecer a existˆencia de tal discuss˜ao naquela obra.
4Recentemente alunos do ensino m´edio, ao trabalharem com espelhos cˆoncavos, notaram surpresos o fato de que quando se miravam
no espelho, posicionados quer antes quer depois do seu plano focal, se enxergavam direitos, e que n˜ao era percept´ıvel qualquer descon-
tinuidade ao passarem pelo plano focal. Eles notaram uma descontinuidade quando se posicionavam a aproximadamente duas vezes a
distˆancia focal em rela¸ao ao espelho [3].
5Um exemplo ´e a contesta¸ao feita por um aluno sobre o fato de que, para um espelho plano, o tamanho da imagem ´e igual `ado
objeto. O aluno contra-argumentou falando sobre como ele se vˆe: Isso n˜ao est´a certo, pois o tamanho da minha imagem no espelho
diminui quando dele me afasto. Este argumento est´a constru´ıdo sobre o pressuposto de que o que vemos s˜ao imagens no espelho e n˜ao
imagens conjugadas em nossa retina!!
Uma dificuldade recorrente em ´optica geom´etrica - Uma impercept´ıvel descontinuidade de imagem na lupa 423
Na Fig. 2 ´e introduzida uma lente convergente para
representar a lente do olho do observador. A imagem
virtual conjugada pela lupa ´eumobjeto real para a
lente do olho, conforme indica a figura. A lente do
olho conjuga uma imagem real einvertida;demodo
que sobre a retina (n˜ao representada na figura) ocorre
uma imagem real einvertida.´
E importante destacar
que quando percebemos objetos direitos temos imagens
invertidas na retina.
Figura 2 - A imagem virtual conjugada pela lupa ´e um obje-
to real para a lente do olho que ent˜ao conjuga uma imagem
real e invertida na retina.
Se, na Fig. 1, o objeto for movido em dire¸ao ao
foco F, os raios luminosos que emergem da lupa, pro-
venientes de um ponto do objeto, se tornam cada vez
menos divergentes, o que faz a imagem virtual con-
jugada pela lupa se afastar, tendendo ao infinito, e, ao
mesmo tempo, aumentar de tamanho. Conseq¨encia
disso ´e que o olho necessita de menor acomoda¸ao vi-
sual e assim conjuga uma imagem de tamanho maior
na retina. A acomoda¸ao visual se refere `a capacidade
que o nosso olho possui de reduzir a sua distˆancia fo-
cal para que tenhamos uma imagem distinta na retina,
isto ´e, uma imagem ıtida conjugada sobre a retina6.
Quanto mais divergentes forem os raios luminosos que
atingem o olho, tanto menor dever´a ser a distˆancia fo-
cal da lente do nosso olho. Isto exige uma maior aco-
moda¸ao visual, ou seja, um esfor¸co maior dos m´usculos
ciliares que pressionam o cristalino a fim de aumentar
a sua curvatura e reduzir a distˆancia focal.
Portanto, o uso de uma lente convergente (tal como
a lupa) na frente do olho, al´em de poder amplificar o
tamanho das coisas que enxergamos, possui uma outra
conseq¨encia desej´avel, qual seja a de exigir uma menor
acomoda¸ao visual. No caso limite em que o objeto ´e
postado sobre o plano focal da lupa, os raios provenien-
tes de um ponto do objeto atingir˜ao o nosso olho como
raios paralelos, n˜ao exigindo de um olho normal qual-
quer esfor¸co para acomoda¸ao visual e determinando a
axima amplifica¸ao poss´ıvel da imagem sobre nossa
retina.
A seguir analisaremos uma nova situa¸ao, sobre a
qual os livros did´aticos costumam ser omissos. Nesta
situa¸ao a imagem conjugada pela lupa n˜ao ´e nem vir-
tual, nem direita.
4. Segundo caso: O objeto localiza-se a
uma distˆancia da lupa maior do que
a distˆancia focal
A Fig. 3 representa o objeto colocado al´em do plano
focal da lupa e a lupa conjugando uma imagem real e
invertida.
Figura 3 - A lupa conjuga uma imagem real e invertida do
objeto.
A Fig. 4 representa raios luminosos provenientes
de um ponto do objeto sendo interceptados pela lente
do olho antes de atingirem o ponto de convergˆencia.
A linha tracejada indica qual dos raios, ao emergir da
lente do olho, n˜ao continuar´a na dire¸ao original de in-
cidˆencia sobre a lente, conforme se observa na Fig. 5.
Estando a lente do olho na posi¸ao em que se encontra,
aimagem real conjugada pela lupa ´eumobjeto virtual
para o olho. Como vemos nas Figs. 4 e 5, esse objeto
virtual situa-se atr´as do olho.
Figura 4 - A imagem real conjugada pela lupa ´e um objeto
virtual para a lente do olho.
A lente do olho causa uma convergˆencia prematura
dos raios sobre ela incidentes. Isto ´e mostrado na Fig. 5,
na qual est´a representado o tra¸cado dos raios princi-
pais que convergem e determinam uma imagem real do
objeto virtual indicado na Fig. 4. Esta imagem, con-
jugada pela lente do olho, tem a mesma orienta¸ao do
objeto virtual. Assim, temos uma imagem real ein-
vertida na retina do nosso olho, ou seja, um resultado
semelhante ao do primeiro caso abordado na se¸ao 3.
6Existem animais que possuem a lente do olho com distˆancia focal fixa, e s˜ao capazes de variar a distˆancia que a separa da retina
para nela conjugar imagens ıtidas [7]). No reino animal h´a mais de quarenta tipos diferentes de olho!!
424 Silveira e Axt
Figura5-Alentedoolho conjuga uma imagem real do
objeto virtual.
Note-se que, independentemente de o objeto situar-
se antes ou depois do plano focal da lupa (vide Figs. 2
e 5), resulta na retina uma imagem invertida (portanto
percebemos direito). Quando o objeto se afasta da lupa
passando pelo seu plano focal, n˜ao h´a descontinuidade
para a imagem conjugada pela lente do nosso olho na
retina7. O que existe ´e descontinuidade da imagem que
a lupa conjuga; entretanto, ao fazermos uso da lupa,
com o nosso olho pr´oximo dela, essa descontinuidade
nunca ´e percebida8. Quando o objeto para a lupa se
encontra sobre o plano focal dela, ocorrer´a em nossa
retina a m´axima amplifica¸ao poss´ıvel da imagem real
ali conjugada pela lente de nosso olho9. Lembramos no-
vamente a singela senten¸ca: o que vemos s˜ao imagens
reais em nossa retina!!
5. Conclus˜ao
A discuss˜ao levada a efeito neste trabalho pressup˜oe
que o observador esteja utilizando uma lupa pr´oxima a
seu olho. Entretanto ´ef´acil notar que qualquer pessoa
que utilize ´oculos com lentes convergentes, por exem-
plo para a corre¸ao da presbiopia (“vista cansada”),
satisfaz tais condi¸oes, pois a distˆancia focal ´e de algu-
mas dezenas de cent´ımetros e os olhos est˜ao quase que
colados `as lentes. Assim sendo, quando o observador
dirige sua aten¸ao para objetos pr´oximos, as lentes po-
der˜ao estar conjugando imagens virtuais ou reais. Nada
na experiˆencia dessas pessoas indica alguma desconti-
nuidade no que enxergam quando a posi¸ao do objeto
muda de antes para depois do plano focal das lentes.
Nem mesmo o tamanho da imagem muda significativa-
mente quando isso acontece. O que pode acontecer ´e
uma perda de nitidez da imagem conjugada na retina
quando o objeto est´a muito al´em do plano focal, pois
o nosso olho n˜ao possui acomoda¸ao visual para esta
situa¸ao.
Enfatizamos, finalmente, que n˜ao podemos com-
preender a ´optica da vis˜ao sem levar em conta o fato de
que a lente de nosso olho conjuga imagens reais na re-
tina. Ignorar esse princ´ıpio nos induz a fazer previs˜oes
erradas sobre o que se pode enxergar.
Agradecimento
Agradecemos `a professora M.C. Varriale pela leitura
cr´ıtica deste artigo e pelas sugest˜oes apresentadas.
Apˆendice
Quest˜ao: Teste sobre a lupa
Figura 1A -
Figura 2A -
7Outra forma de se expor isto ´e a seguinte: Quando o objeto para a lupa est´a sobre o seu plano focal, os raios luminosos que emergem
da lupa, provenientes de um ponto do objeto, s˜ao paralelos entre si. Se o objeto se encontra um pouco antes ou um pouco depois do
plano focal da lupa, os raios luminosos dela emergentes s˜ao quase paralelos entre si (levemente divergentes ou levemente convergentes).
Ora, a lente de nosso olho, ao refratar tais raios, os far´a convergir quase que sobre o seu plano focal, conjugando em nossa retina imagens
reais muito semelhantes. Na situa¸ao particular em que percebemos a m´axima amplifica¸ao poss´ıvel, o objeto se encontra no plano
focal da lupa. Destaque-se que o comportamento dos raios luminosos que atingem o nosso olho n˜ao sofre nenhuma descontinuidade. Ao
contr´ario, os raios luminosos mon´otona e gradualmente se transformam de raios divergentes para raios convergentes.
8Cabe ressaltar que a descontinuidade ´e facilmente percept´ıvel quando o observador est´a postado a uma grande distˆancia da lente
convergente (a uma distˆancia muito maior do que a sua distˆancia focal) e o objeto ´e afastado da lente para al´em do seu plano focal.
Neste caso a imagem conjugada pela lente muda de virtual para real. Tanto uma imagem quanto a outra constituem objetos reais para
o olho de um observador distante. Ent˜ao o observador poder´a enxergar uma imagem invertida pairando no espa¸co em frente da lente.
Esse efeito, quando demonstrado em laborat´orios de ´optica, surpreende aqueles que acreditam que imagens reais somente podem ser
vistas sobre anteparos. Efeito semelhante tamb´em pode ser obtido com espelhos cˆoncavos, sendo `as vezes empregado para produzir
miragens em feiras e museus de ciˆencias [5].
9O leitor que dispuser de uma lupa facilmente poder´a colocar `a prova a teoria aqui discutida.
Uma dificuldade recorrente em ´optica geom´etrica - Uma impercept´ıvel descontinuidade de imagem na lupa 425
As figuras acima representam uma lente conver-
gente conjugando imagens em duas situa¸oes distin-
tas. Quando o objeto se encontra entre a lente e o
foco, a imagem conjugada ´e virtual edireita (Fig. 1A).
Quando o objeto se encontra al´em do foco, a imagem
conjugada ´e rea l einvertida (Fig. 2A). Posto isto, con-
sidere a seguinte quest˜ao:
Figura 3A -
Um observador utiliza uma lente convergente como
lupa, posicionando o seu olho pr´oximo da lupa (vide
Fig. 3A). Inicialmente ele coloca o objeto (a palavra
Optik´e) na posi¸ao A, pr´oximo ao foco, entre a lupa e
o foco. O que ele vˆe nesta situa¸ao est´a mostrado na
fotografia da Fig. 4A.
Figura 4A -
Depois o objeto ´e deslocado para a posi¸ao B, isto
´e, para um pouco al´em do foco, mas o observador per-
manece no mesmo lugar.
Qual das quatro fotografias a seguir vocˆe julga que
reproduza aquilo que o observador enxerga agora?
Referˆencias
[1] GREF, ısica 2 (EDUSP, S˜ao Paulo, 1991).
[2] G. Berkeley, in The Works of George Berkeley, edi-
ted by A.A. Luce and T.E. Jessop, (Thomas Nelson &
Sons, Londres, 1948-1957), v. I, p. 177-179.
[3] F.L. Silveira, R. Axt e M.A. Pires, Rev. Bras. Ens. Fis.
26, 19 (2004).
[4] A. Gaspar, Experiˆencias de Ciˆencias para o Ensino
Fundamental. (Ed. ´
Atica, S˜ao Paulo, 2003).
[5] A. Gaspar, ısica 2. (Ed. ´
Atica, S˜ao Paulo, 2001).
[6] H.M. Nussenzveig, Curso de F´ısica B´asica (Ed. Edgard
Bl¨ucher, S˜ao Paulo, 1998).
[7] R. Dawkins, A Escalada do Monte Improv´avel (Com-
panhia das Letras, S˜ao Paulo, 1998).

Supplementary resource (1)

... No campo da pesquisa, há vários trabalhos que abordam o estudo da Óptica Geométrica por meio de tópicos diversificados. Dentre eles, podemos destacar: princípios do funcionamento do olho humano (SABA; EPIPHANIO, 2001); fundamentos da Óptica Geométrica de Kepler (TOSSATO, 2007); formação da imagem numa lupa (SILVEIRA; AXT, 2006); reflexão e refração (AGUIAR, 2009); aspectos da óptica do olho humano (HELENE; HELENE, 2011); reflexão em espelhos (MARTINS; SILVA, 2013); e espelhos esféricos (SASAKI; JESUS, 2017). Podemos destacar que essa área de estudo da Física é relevante para a compreensão de fenômenos naturais, do funcionamento do próprio corpo humano e de algumas aplicações tecnológicas. ...
Chapter
Full-text available
Neste trabalho, é apresentado um contexto introdutório de um módulo didático que aborda tópicos de Óptica Geométrica, para alunos do Ensino Médio, no viés da epistemologia do modelo de Vygotsky (2001). Especificamente, esse modelo é apresentado como suporte teórico para a aprendizagem do princípio da Propagação Retilínea da luz e da formação de imagens em lentes esféricas, dentro da fisiologia do olho humano e do funcionamento da visão. Nesse módulo didático são abordados os seguintes tópicos introdutórios: a fisiologia, os elementos e as funcionalidades de cada um dos componentes do olho humano; o fenômeno da visão e o princípio da Propagação Retilínea da luz; a aplicação do princípio da Propagação Retilínea da luz na câmara escura de orifício; classificação e formação de imagens em lentes esféricas obtidas por refração; problemas de visão e lentes esféricas corretoras; o daltonismo e a visão das cores. Considera-se que a interação social em sala de aula, no viés vygotskyano, pode ser precípua para o desenvolvimento do aluno e para a aprendizagem dos conceitos supracitados. A epistemologia do modelo de Vygotsky pode fornecer ao professor uma possibilidade de interpretação e de abordagem dos fenômenos de aprendizagem referentes à temática proposta.
Article
Full-text available
Resumo: A Física é uma das áreas da ciência, assim, possui uma estrutura de conhecimento científico. O desenvolvimento desse conhecimento é realizado a partir da superação de obstáculos epistemológicos relativos ao processo histórico-evolutivo dos conceitos científicos. A noção de obstáculos epistemológicos foi desenvolvida por Bachelard especificamente para a ciência, mas, serviu de inspiração para a concepção de obstáculos didáticos e cognitivos, definidos por Brousseau, pertinentes ao âmbito da Didática da Matemática. Nesse contexto, pode-se entender que os conteúdos provenientes da Matemática Pura quando transpostos para a sala de aula e considerados como conteúdo escolar, exigem uma análise preliminar dos aspectos epistemológicos, didáticos e cognitivos envolvidos nesse processo. Ademais, é possível fazer essa análise preliminar na Didática da Física. Nesse viés, este trabalho apresenta uma discussão dos aspectos epistemológicos, didáticos e cognitivos que são articulados numa transposição e realização didática da óptica geométrica. Nessa perspectiva, esta pesquisa possui fundamentação teórica nos pressupostos da Engenharia Didática. Foi realizada apenas as análises preliminares (primeira etapa) da engenharia. Pode-se concluir que a óptica passou por uma estagnação (epistemológica) no seu desenvolvimento. O que permitiu compreender a existência de obstáculos epistemológicos na história evolutiva de seus conceitos. E, no contexto pedagógico da óptica, foi possível descrever obstáculos didáticos e cognitivos. Logo, os obstáculos cognitivos surgem em consequência da situação didática não facilitar a aprendizagem dos alunos. E, metodologicamente, os obstáculos didáticos são manifestados devido ao plano curricular extenso que não permite trabalhar pormenorizadamente a óptica e à escassez de recursos didáticos para realização de atividades laboratoriais.
Article
Full-text available
Este trabalho de natureza qualitativa investigou, em escolas públicas de Ensino Médio de uma Superintendência Regional de Ensino do Estado de Minas Gerais, as relações, na visão dos docentes, entre sua formação inicial e sua atuação enquanto professores da educação básica no que concerne aos conteúdos de Óptica Geométrica e à realização de atividades experimentais. Foram selecionados dez professores de seis escolas em cinco cidades, de um universo de 29 professores de 22 escolas em 16 municípios que compunham a jurisdição da referida Superindência. Os dados foram obtidos através de questionários com perguntas fechadas e abertas, que em uma primeira parte caracterizavam o perfil dos respondentes, e em uma segunda parte inter-relacionada à óptica geométrica e a formação e atuação docente. Os resultados indicam que no grupo de professores investigados, a maioria não teve acesso a esse conteúdo formalmente nos cursos de formação inicial e também não realizou atividades experimentais. Ainda assim, os docentes atribuem grande importância ao estudo da Óptica Geométrica para estudantes do Ensino Médio.
Article
Nature is the international weekly journal of science: a magazine style journal that publishes full-length research papers in all disciplines of science, as well as News and Views, reviews, news, features, commentaries, web focuses and more, covering all branches of science and how science impacts upon all aspects of society and life.
  • F L Silveira
  • R Axt E
F.L. Silveira, R. Axt e M.A. Pires, Rev. Bras. Ens. Fis. 26, 19 (2004).
Experiências de Ciências para o Ensino Fundamental
  • A Gaspar
A. Gaspar, Experiências de Ciências para o Ensino Fundamental. (Ed.Ática, São Paulo, 2003).
  • F L Silveira
  • R Axt E
  • M A Pires
F.L. Silveira, R. Axt e M.A. Pires, Rev. Bras. Ens. Fis. 26, 19 (2004).