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Pereira Andrade, Alexandro; Gusmão de Quadros, Danilo
Composição bromatológica da casca de soja amonizada com uréia
Revista de Biologia e Ciencias da Terra, vol. 11, núm. 1, 2011, pp. 38-46
Universidade Estadual da Paraíba
Paraíba, Brasil
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Revista de Biologia e Ciencias da Terra
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REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228
Volume 11 - Número 1 - 1º Semestre 2011
Composição bromatológica da casca de soja amonizada com uréia
Alexandro Pereira Andrade1, Danilo Gusmão de Quadros2
RESUMO
A alimentação de ruminantes, como importante componente econômico dentro do processo
produtivo, busca alternativas que reflitam na redução de custos. O tratamento de volumosos de
baixo valor nutritivo, utilizando fontes de amônia, pode melhorar a qualidade desses produtos,
elevando significamente seu valor nutricional. O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos de
doses de uréia (0, 4, 8 e 12 % da matéria natural) sobre a composição bromatológica da casca de
soja. O experimento utilizou delineamento inteiramente casualizado, com 4 tratamentos e cinco
repetições, sendo conduzido na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Barreiras - BA. A casca
de soja foi umedecida adicionando-se 25% de água, em relação à matéria natural. A uréia foi
dissolvida na água e misturada com 4 kg de casca de soja em sacos de polietileno. Os resultados de
matéria seca apresentaram um comportamento quadrático, com tendência de aumento até a adição
de 9,2% de uréia. Os valores da matéria mineral apresentaram um aumento linear com a adição de
uréia. Os teores de PB, FDN, FDA e Hemicelulose foram afetados (p < 0,05) pela aplicação de
uréia, sendo que o aumento da dose resultou em maiores teores de PB e menores de FDN, FDA e
Hemicelulose. A utilização da uréia melhorou a qualidade nutricional do alimento, principalmente
pelo aumento da proteína e redução de fibras, sendo uma alternativa viável para a alimentação de
ruminantes.
Palavras–chave: amonização, conservação, fibra.
Bromatological composition of soybean hulls ammoniated with urea
ABSTRACT
The ruminant feed, as an important economic component within the production process, seeking
alternatives that reflect the cost savings. The treatment of bulky low nutritional value, using sources
of ammonia, can improve the quality of these products, significantly increasing its nutritional value.
Aims of this study was to evaluate the effects of doses of urea (0, 4, 8 and 12% natural matter) on
the chemical composition of soybean hulls. The experiment utilized a completely randomized
desing, with 4 treatments and five repetitions, been directed by Estate University of Bahia (UNEB)
on Barreiras – BA. The soybean hull was moisturized adding 25% of water, in relation with the
natural matter. The urea was dissolved in water and mixed with 4 kg of soybean hull in
polyethylene bags. The results of dry matter showed a quadratic response, with an upward trend
until the addition of 9.2% urea. The values of ash showed a linear increase with the addition of urea.
CP, NDF, ADF and Hemicellulose were affected (p<0.05) by the urea application, being increasing
doses resulted in higher CP, and lesser NDF, ADF and Hemicellulose. The utilization of urea
improves the quality of the forage, mainly since the increase of protein and reduction of fibers,
being a viable alternative to the feeding of ruminants.
Keywords: ammonization, conservation, fiber.
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1 INTRODUÇÃO
A soja (Glycine max (L.) Merrill) é uma
das principais fontes de proteína e óleo vegetal
do mundo. Ela tem sido cultivada
comercialmente e utilizada nas alimentações
humana e animal por milênios, sem nenhum
registro de danos causados aos consumidores ou
ao meio ambiente. O Brasil, por ser um dos
principais produtores agrícolas mundiais, gera
anualmente uma grande variedade de
quantidade de resíduos agroindustriais. Estes
resíduos podem assumir importância
considerável na alimentação de ruminantes,
principalmente em períodos, onde a escassez de
forragens torna-se o fator preponderante que
limita a produtividade desses animais.
A alimentação de ruminantes, como
importante componente econômico dentro do
processo produtivo, busca alternativas que
reflitam na diminuição de custos. Têm sido
utilizados como alternativa de volumosos, as
palhadas de culturas anuais de verão e de
inverno, os fenos de baixa qualidade resultante
do processo de fenação ou do armazenamento
inadequado, as silagens de capins passados ou
os resíduos da colheita de sementes de plantas
forrageiras e do beneficiamento de grãos (Rosa
& Fadel, 2001).
Deve-se considerar, todavia, que os
volumosos citados anteriormente são de baixa
qualidade, pois apresentam alto conteúdo de
parede celular (valores acima de 60%) e de fibra
em detergente ácido (FDA) acima de 40%, e
baixos teores de proteína bruta (PB), de
minerais e de vitaminas, sendo a digestibilidade
da matéria seca (MS) baixa (40 a 50%), o que
resulta em baixos níveis de consumo (Reis &
Rodrigues, 1993).
Abordando as tendências e as
perspectivas da produção de bovinos sob pastejo
(Corsi et al., 2000) afirmaram que a terminação
de animais em confinamento deverá aumentar
sensivelmente no futuro, em virtude da
necessidade de maior produção bovina,
conseqüência do incremento da população nos
centros urbanos, do comércio de exportações e
da crescente demanda por esse produto, devido
à melhora na renda per capta. Considerando que
a alimentação é o item que representa a maior
parcela do custo de produção de animais
confinados, pode-se inferir que a preferência da
localização dos confinamentos será por áreas de
elevada disponibilidade de resíduos agro-
industriais e de grãos, capazes de garantir o
desempenho satisfatório dos animais de maneira
econômica.
Diversas pesquisas têm indicado que o
tratamento de volumosos de baixo valor
nutritivo, utilizando fontes de amônia, pode
melhorar a qualidade desses produtos, elevando
significativamente seu valor nutritivo, consumo
e conseqüentemente, aproveitamento pelos
animais, por promover alterações acentuadas
nos componentes das frações fibrosas e
compostos nitrogenados (Reis et al., 2001).
Os efeitos da amonização sobre a
estrutura da fibra dos volumosos incluem a
solubilização da hemicelulose, o aumento da
digestão da celulose e da hemicelulose em razão
da expansão da fração fibrosa (Jackson, 1977 e
Klopfenstein, 1978). A celulose se expande
quando tratada com agentes alcalinos, o que
reduz as ligações intermoleculares das pontes de
hidrogênio, que ligam moléculas de celulose.
Parte da lignina e sílica é dissolvida durante a
amonização e as ligações intermoleculares do
tipo éster entre o ácido urônico da hemicelulose
e da celulose são também rompidos (Van Soest,
1994). Uma alternativa viável para melhorar o
valor nutritivo de volumosos de baixa qualidade
é o tratamento com produtos químicos, sendo
mais utilizados os hidróxidos de sódio, potássio,
cálcio e amônio, a amônia anidra e a uréia,
como fonte de amônia (Sundstol & Coxworth,
1984). Este tratamento químico, também
conhecido como amonização de forragens, vem
utilizando principalmente a amônia anidra,
amônia líquida e a uréia (Reis et al., 2001).
A uréia é um produto químico que se
apresenta em estado sólido, na cor branca, sendo
higroscópica e solúvel em água, álcool e
benzina, tendo sua forma química CH4N2O. A
uréia tem sido uma das principais alternativas
em razão de ser de fácil aplicação, não poluir o
ambiente, fornecer nitrogênio não protéico,
provocar decréscimo no conteúdo de fibra em
detergente neutro (FDN), favorecer a
solubilização parcial da hemicelulose, aumentar
40
o consumo e a digestibilidade, além de
conservar as forragens com alto teor de umidade
(Rosa & Fadel, 2001). A casca de soja (CS) é
um resíduo obtido no processamento de
extração do óleo do grão dessa oleaginosa. A
cada tonelada de soja que entra para ser
processado, cerca de 2% é transformado em
casca de soja, essa porcentagem pode variar de
0% a 3%, de acordo com os objetivos de
produção de farelo de soja. Quando se necessita
de farelo de soja com maior concentração de
proteína, há necessidade de retirar mais a casca
de soja do farelo, ocorrendo maior
disponibilidade de casca de soja (Zambom et al.,
2001). A CS tem alto valor energético, devido à
curva de degradação da pectina no rúmen;
portanto, um incremento na proteína do
alimento e redução da fração fibrosa com taxa
de passagem mais lenta a deixaria mais
completa, haja vista que as exigências
nutricionais dos bovinos de bom potencial
genético em produção são acima dos 13%
oferecido por esse alimento (Quadros et al.,
2010). A CS é um resíduo de alto valor
nutricional e, apesar de apresentar altos teores
de FDN e FDA, estes são de alta digestibilidade
(Zambom et al., 2001). Devido ao padrão de
fermentação ruminal, a CS pode ser classificada
como fibra rapidamente degradada no rúmen,
podendo ser utilizada tanto como fonte de
energia quanto para manter ideal o teor de fibra
da dieta, sem baixar a concentração do acetato
ruminal ou da gordura do leite (Cunnigham et
al., 1993). Devido ao tamanho da partícula da
CS, o aumento da taxa de passagem pode ser
responsável pela digestibilidade da fibra e da
MS observada em animais recebendo esse
alimento (Há e Kennelly, 1984).
Desse modo, objetivou-se avaliar os
efeitos de doses crescentes de uréia (0, 4, 8 e 12
% da matéria natural) sobre a composição
bromatológica da casca de soja.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na
Universidade do Estado da Bahia - UNEB -
Campus IX de Barreiras - BA, localizada entre
as coordenadas; Latitude Sul: 12º09’11’’ e
Longitude Oeste 44º 59’24’’, em janeiro de
2010. Foi utilizado um delineamento
inteiramente casualizado (DIC), com quatro
tratamentos (0, 4, 8 e 12% de uréia) e cinco
repetições.
A casca de soja foi adquirida de uma
agroindústria do município. No laboratório
foram pesados 4 kg de casca de soja e
umedecidos para chegar à 25% da massa de
matéria natural.
As quantidades de uréia relativas a cada
dose foram pesadas em balança de precisão,
dissolvidas em 1 litro de água e misturadas com
a casca de soja em baldes com capacidade de
100L, sendo acondicionadas em sacos de
polietileno com capacidade de 50L. Em seguida,
os sacos foram fechados, permanecendo em
tratamento durante 40 dias.
Após o período de tratamentos, os sacos
foram abertos, permanecendo por 72 horas com
as bocas abertas permitindo a saída do excesso
de amônia. Em seguida, foi coletadas amostras
com cerca de 300 g de cada saco, colocadas em
sacos plásticos, identificados e encaminhadas ao
Laboratório de Análise de Alimentos da UFPB,
Areia-PB, para análises realização das análises
bromatológicas.
Foram determinados os percentuais de
matéria seca (MS), material mineral (MM),
proteína bruta (PB), seguindo a metodologia de
Silva & Queiroz (2002). Para determinação
fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em
detergente ácido (FDA), foi utilizada a
metodologia proposta por Van Soest (1967). Os
resultados de hemicelulose foram calculados
pela diferença entre FDN e FDA.
Os dados foram submetidos à análise de
variância por regressão utilizando-se o
programa GENES (Cruz, 2006)para estimar o
efeito de cada dose sobre as variáveis-resposta,
considerando como significativo o nível de 5%
de probabilidade.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
41
O efeito da amonização da casca de soja
com uréia proporcionou um efeito quadrático no
teor de matéria seca (MS). A adição de até 9,2%
de uréia propiciou aumento progressivo no teor
de MS (Figura 1), sendo que, a partir desta dose
de uréia, o teor de MS reduz novamente, o que
pode ser explicado pelo elevado poder
higroscópico da uréia e da amônia, fazendo com
que o material absorva umidade do ambiente
(Cândido et al., 1999).
Figura 1 – Percentual de Matéria Seca (MS) da casca de soja amonizada com doses de uréia. Barreiras – BA, 2010.
Estes resultados foram divergentes aos
encontrados na literatura, nos quais sempre
possuem uma tendência de redução da MS com
aumento das doses de uréia, possivelmente isso
ocorreu pelo fato da casca de soja possuir
elevado teor de MS (90%), contribuindo assim
para a elevação do teor total de MS dos
referidos tratamentos.
Cândido et al. (1999) avaliando níveis
crescentes de uréia na amonização no bagaço de
cana-de-açúcar, observaram comportamento
quadrático da equação, obtendo o maior valor
na dose próxima de 6% de uréia. Entretanto,
Sarmento et al. (1999) trabalhando com
diferentes níveis de uréia não encontraram
efeitos sobre o valor de MS. Já Zanine et al.,
(2007) avaliando diferentes doses de uréia na
amonização do feno do capim Tanzânia,
observaram um efeito linear negativo, obtendo-
se na dose mais elevada de uréia (3,0%) o
menor valor de MS (39,40%).
A uréia na amonização da casca de soja
promoveu aumento nos teores de proteína bruta
(P<0,05), sendo apresentado um efeito linear
positivo, com um aumento de 0,6 unidades
percentuais de PB para cada dose de uréia
adicionada (Figura 2). De maneira geral, os
valores de N podem ser aumentados de 0,6 a 1,0
unidade percentual pela amonização com uréia
(Berger et al., 1994). O aumento nos teores de
PB pode ser explicado pela adição de nitrogênio
não-protéico (NNP), em doses crescentes, via
amonização.
Figura 2 – Percentual de Proteína Bruta (PB) da casca de soja amonizada com doses de uréia. Barreira –
BA, 2010.
42
Reis (1997), avaliando o efeito da
amônia anidra e da uréia para tratamento de
volumosos de baixo valor nutritivo, observou a
elevação dos teores dos compostos
nitrogenados, fato explicado pelo aumento do
nitrogênio total (Nt) dos produtos usados.
Fadel et al. (2003) avaliando efeito de
uréia e água em palha de arroz, encontraram um
aumento no teor de PB, tendo maior teor médio
de PB no tratamento em que se utilizaram 6%
de uréia e 20% de água (19,8% de PB),
atribuindo que possivelmente, conseqüência da
baixa atividade da urease ou do baixo teor de
umidade da palha, resultou em alto teor de
nitrogênio não-protéico vindo da uréia, em
virtude da pequena perda de N na forma de
amônia. Resultados semelhantes foram
observados por Ramana & Krishna (1990),
avaliando doses crescentes de água e de uréia na
amonização de volumosos de baixa qualidade.
Zanine et al. (2007), ao amonizar feno de
capim - Tanzânia, com doses crescentes de uréia
até 3 %, observaram um aumento linear nos
teores de PB com o tratamento. Avaliando a
adição de 2, 4 e 6% de uréia na MS e de água
para corrigir os teores de umidade para 20, 30 e
40% em feno de B. brizantha cv. Marandu,
Rosa et al. (2000) verificaram que a adição de
4% de uréia e a correção do teor de umidade
para 20% foi a combinação que apresentou
melhor resultado em relação à composição do
feno amonizado.
Souza et al. (2002) avaliando valor
nutritivo da casca de café com amônia anidra,
apresentou um aumento linear positivo com as
doses de 0; 2,2; 3,2 e 4,2 %, chegando ao teor
máximo de 30,3 com a dose de 4,2 e 16% de
umidade.
Os valores da matéria mineral (MM) da
casca de soja amonizada apresentaram um efeito
linear positivo, com um aumento de 0,15
unidades percentuais de minerais para aumento
de cada dose de uréia (Figura 3). Os efeitos na
MM averiguadas neste trabalho estão em
consonância com as observações de Rosa et al.
(2000).
Lopes et al. (2005) ao amonizar palma
forrageira com uréia encontraram um efeito
quadrático para a MM, obtendo-se o valor de
máxima estimado por derivação de regressão
próximo de 7% de uréia.
Figura 3 – Valores da matéria mineral (MM) da casca de soja amonizada com doses de uréia. Barreiras-
BA, 2010.
A adição de uréia proporcionou redução
do teor de FDN, FDA e Hemicelulose de forma
linear negativa (P<0,05) (Figuras 4, 5 e 6). Os
resultados de FDN apresentam uma redução de
0,46 unidades percentuais para cada dose de
uréia acrescentada, enquanto que o FDA
apresenta uma redução de 0,32 unidades
percentuais, evidenciando a celulose e lignina
são mais difíceis de romperem suas ligações.
43
Figura 4 – Teores de Fibra em Detergente Neutro (FDN) em casca de soja amonizada com uréia.
Barreiras – BA, 2010.
Resultados de trabalhos evidenciam que
uma das principais modificações na composição
química da fração fibrosa de volumosos
amonizados é a diminuição nos teores de FDN,
devido à solubilização da hemicelulose
(Sundstol & Coxworth, 1984).
Segundo Reis et al. (1991) a utilização
de uréia no tratamento de volumosos promove
alterações na fração fibrosa com solubilização
parcial da hemicelulose, resultando em
diminuição no conteúdo de FDN.
A elevação dos conteúdos de FDN da
dieta tem efeito negativo no consumo de
forragem, de modo que o aumento de 70 para 80
% pode reduzir a ingestão diária de MS de 70
para 50 g/kg PV0,75, ao mesmo que tempo na
nutrição de ruminantes, há correlação negativa
entre o conteúdo de FDA e a digestibilidade
(Van Soest, 1994).
Reis et al. (2001), Fernandes et al.
(2002) e Granzin e Dryden (2003) trabalharam
com amonização de fenos de capim-Braquiária
e capim-de-Rhodes, respectivamente, e também
observaram redução nos teores de FDN
decorrente do tratamento dos volumosos com
uréia.
Figura 5 – Teores de Fibra em Detergente Ácido (FDA) em casca de soja amonizada com uréia.
Barreiras-BA, 2010.
De acordo com Van Soest (1994), esta
redução nos teores da fibra pode ser atribuída à
solubilização parcial da fração da hemicelulose,
celulose ou lignina da parede celular. Essas
suposições baseiam-se no fato de que a maioria
das forragens submetidas a esse tipo de
tratamento não apresentam diminuição dos
outros constituintes da parede celular e, quando
isso ocorre, é, proporcionalmente, em menor
escala (Klopfenstein, 1978; Van Soest et al.,
1984; Van Soest et al., 1991; Rosa & Fadel,
2001). Os resultados de Hemicelulose,
demonstraram uma redução de 0,15 unidades
percentuais para cada doses de uréia tratada na
casca de soja.
44
Figura 6 – Teores de Hemicelulose em casca de soja amonizada com uréia. Barreiras-BA, 2010.
Gobbi et al. (2005) utilizando diferentes
níveis de uréia observaram redução no teor de
FDA de forma linear negativa, registrando valor
médio de 5% no nível mais elevado em relação
à testemunha.
Segundo Klopfenstein (1978), a redução
no conteúdo de FDA nos materiais amonizados
está associada à solubilização de lignina e
celulose, presumidamente como um resultado
da redução da cristalinidade da celulose e
também em razão de sua expansão e da
saponificação das ligações éster entre lignina e
hemicelulose.
Fadel et al. (2003), ao amonizar palha de
arroz observaram que houve uma redução nos
teores de FDN de FDA, tendo maior redução de
FDN quando combinou-se 4 e 6% de uréia para
20 e 30% de umidade, enquanto que para
reduzir o FDA foi suficiente a utilização de 6%
de uréia com umidade de 20 e 30%.
É importante lembrar que a FDA está
diretamente relacionada com a digestibilidade
da MS, na qual a lignina limita a digestão da
parede celular. Assim, alimentos com altos
teores de FDA possuem baixa digestibilidade, e
alimentos com altos teores de FDN limitam o
consumo.
Naturalmente, a casquinha de soja
apresentou baixos teores de FDN, em
comparação com volumosos tradicionais como
gramíneas tropicais, silagens, fenos e cana-de-
açúcar. Contudo, a alta proporção da FDN
constituída pela FDA (70%) indicou que as
alterações na constituição dos componentes da
parede celular com a amonização podem
resultar em benefícios nutricionais.
4 CONCLUSÕES
A amonização da casquinha de soja com
uréia promoveu melhorias no valor nutricional,
em virtude da elevação do teor protéico,
redução da fração fibrosa e aumento dos teores
de matéria seca. Portanto, a utilização da técnica
é viável para alimentação de ruminantes,
principalmente no período seco do ano.
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1 - Doutorando em Zootecnia, Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia – Itapetinga/BA. E-mail:
agronem@hotmail.com
2 - Professor da UNEB – Universidade do Estado da
Bahia / NEPPA – Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Produção Animal – Faculdade de Agronomia, Campus
IX, BR 242, km 04, s.n. Lot. Flamengo. Barreiras. Bahia.
47800-000. www.neppa.uneb.br. E-mail:
uneb_neppa@yahoo.com.br