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Revista Caatinga, Mossoró, v. 24, n. 2, p. 135-142, abr.-jun., 2011
Universidade Federal Rural do Semiárido
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
http://periodicos.ufersa.edu.br/index.php/sistema
ISSN 0100-316X (impresso)
ISSN 1983-2125 (online)
ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA
SOB DIFERENTES REGIMES DE PRECIPITAÇÕES EM PERNAMBUCO¹
ALEXSANDRO OLIVEIRA DA SILVA²*, GEBER BARBOSA DE ALBUQUERQUE MOURA², ÊNIO FARIAS DE
FRANÇA E SILVA², PABRÍCIO MARCOS OLIVEIRA LOPES², ANA PAULA NUNES DA SILVA³
RESUMO - Diante da necessidade da conservação dos recursos hídricos, faz-se necessário o melhor manejo da
irrigação. Com este estudo objetivou-se analisar a demanda hídrica de Pernambuco, representada pela evapo-
transpiração de referência (ET
0
), em três cenários de chuvas: anos chuvoso, regular e seco. Os valores de ET
0
foram estimados pelo método de Thornthwaite e Mather (1955) a partir dos dados originados de registros de 45
estações climatológicas da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) Em geral, os resul-
tados de ET
0
foram variáveis nas três mesorregiões, chegando a apresentar valores médios de 915 até 1.549
mm dia
-1
. O Estado de Pernambuco apresenta um déficit hídrico anual em aproximadamente 70% de sua área
total em três cenários de precipitação. Os meses que apresentaram as maiores e menores demandas hídricas no
Estado foram janeiro e julho, respectivamente. O conhecimento da distribuição espaço-temporal da ET
0
sobre
as mesorregiões pernambucanas trará benefícios aos produtores que poderão realizar o manejo hídrico mais
adequado para as culturas agrícolas locais.
Palavras-chave: Climatologia. Déficit hídrico. Irrigação.
SPATIO-TEMPORAL ANALYSIS OF THE REFERENCE EVAPOTRANSPIRATION UNDER DIF-
FERENTS REGIMES OF THE PRECIPITATION PERNAMBUCO
ABSTRACT - Faced with the need for conservation of water resources it is necessary to better irrigation man-
agement. The objective of this research was to analyse the water requirement in Pernambuco State, Brazil, rep-
resented by the evapotranspiration reference (ET
0
), in diferents regimes annuals of precipitation: rainfall, regu-
lar and dry. The ET
0
values were estimated through the Thornthwaite e Mather (1955) method starting from
data originated by the registration of 45 climatological stations of the SUDENE (Superintendence of Northeast
Development). In general, the results showed that the ET
0
were variable on the three Mesoregion, reaching
medium values from 915 to 1.549 mm year
-
¹. The Pernambuco State presents an annual water deficit in ap-
proximately 70% of its total area. The months that presented the greatest and smallest water requirements in the
State were January and July, respectively. The knowledge of spacial and temporal distribuition of ETo on
Mesoregions of Pernambuco bring benefits to producers who can make water management more suited to local
crops.
Keywords: Climatology. Water deficit. Irrigation.
_______________
*Autor para correspondência.
¹Recebido para publicação em 27/08/2010; aceito em 03/12/2010.
Trabalho de monografia de conclusão do curso de graduação em agronomia do primeiro autor.
²Departamento de Agronomia da UFRPE, rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, 52171-900, Recife - PE; alexsan-
dro_oliveira01@hotmail.com, geber@depa.ufrpe.br, enio.silva@dtr.ufrpe.br, pabriciope@gmail.com.
³Departamento de Ciências Atmosféricas, UFCG, rua Aprígio Veloso , 882, Bairro Universitário, 58429-140, Campina Grande - PB;
anps@ymail.com
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ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA SOB DIFERENTES REGIMES DE PRECIPITA-
ÇÕES EM PERNAMBUCO
A. O. SILVA et al.
Revista Caatinga, Mossoró, v. 24, n. 2, p. 135-142, abr.-jun., 2011
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INTRODUÇÃO
Considerando a escassez dos recursos hídri-
cos fazem-se necessários manejos e usos adequados
para o controle e disponibilidade da água. Uma das
atividades que demanda maiores quantidades de á-
gua é o setor agrícola devido às exigências de cada
cultura. Sob este cenário, torna-se relevante a deter-
minação da perda de água para atmosfera através da
superfície e absorvida pelas plantas que corresponde
a Evapotranspiração (ET). Thornthwaite e Wilm
(1944) deram o nome de evapotranspiração à ocor-
rência simultânea dos processos de evaporação no
solo e de transpiração das plantas. O conhecimento
da evapotranspiração é de grande importância na
estimativa das necessidades de irrigação das culturas
(SANTOS et al. 2009), bem como para o manejo
racional dos recursos hídricos. Por isto vários mode-
los de balanço hídrico são empregados com a finali-
dade de dimensionar sistemas de irrigação, manejar
projetos de irrigação ou estudar probabilidades de
ocorrências de estiagens ou excessos hídricos, nesses
modelos utilizam-se em geral, como entradas de
água no sistemas a precipitação e a irrigação, e como
principal saída, a evapotranspiração das culturas.
(BACK, 2007; VESCOVE et al. 2005; BORGES et
al. 2007).
Em regiões de climas quentes as altas tempe-
raturas fazem-se como fator relevante para determi-
nar a evapotranspiração das culturas passando a ser
um requisito fundamental para a efetividade da irri-
gação. Para se estimar a evapotranspiração das cultu-
ras faz-se necessário estimar a evapotranspiração de
referência (ET
0
) ajustando-a a cada cultura através
de coeficientes determinados, por isto é necessário
na determinação da evapotranspiração a maior preci-
são possível. Mas devido à falta de dados climatoló-
gicos em varias regiões os projetos de irrigação são
comprometidos devido a pouca efetividade causada
pela falta de dados tendo que o projetista utilizar
valores de regiões distantes com topografias varia-
das.
Por isto o uso de ferramentas geográficas se
faz tão importante, alguns autores como Castro et al.
(2010) e Amorim (2009), afirmam que o uso de da-
dos de estações climatológicas próximas pode ser
realizado adotando-se a interpolação espacial dos
mesmos. O uso de Sistema de Informação Geográfi-
ca (SIG) na agrometeorologia visa solucionar a au-
sência de informações em escala regional. Segundo
Pellegrino et al. (1998), uma das aplicações princi-
pais do SIG em agrometeorologia é a de transformar
dados numéricos, obtidos em pontos referenciados
geograficamente na superfície, em mapas interpola-
dos, obtendo-se valores estimados para todas as lo-
calidades da região representada.
Hashmi et al. (1995) concluíram que a versa-
tilidade do SIG, ao considerar as variabilidades espa-
cial e temporal dos elementos climáticos, proporcio-
na aos pesquisadores uma poderosa ferramenta para
análise espacial. Comentaram, ainda, que a técnica
permite abranger, com muita agilidade e precisão,
grandes regiões.
Diante do que foi exposto, objetivou-se com
esse trabalho realizar a analise espaço- temporal da
evapotranspiração de referência estimada pelo méto-
do de Thornthwaite e Mather (1955) para três cená-
rios diferentes de precipitações: anos secos, regulares
e chuvosos no Estado de Pernambuco.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo enfocou o Estado de Pernambuco,
situado entre os paralelos 7º18’17” e 9º28'43" de
latitude sul e os meridianos de 34º48'15" e 41º21'22"
de longitude a oeste, no Nordeste brasileiro. Sua po-
sição, vegetação e topografia oferecem condições
climáticas diversificadas. Dois tipos climáticos se-
gundo Köppen caracterizam o Estado, os climas As'
e BSh, ou seja, precipitações no outono e inverno em
parte do litoral do Estado e semi-árido quente no
sertão (Temperatura média anual > 18 ºC), respecti-
vamente.
O banco de dados utilizado no estudo origi-
nou-se de registros de estações climatológicas
(SUDENE, 1990), disponíveis na página virtual da
Unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas
(UACA) da Universidade Federal de Campina Gran-
de (UFCG). As estações selecionadas para o estudo
foram aquelas que apresentaram séries históricas de
no mínimo de 20 anos de observações para a estima-
tiva da ET
0
pelo método de Thornthwaite e Mather
(1955) devido existirem apenas dados de temperatura
e precipitações disponíveis em alguns postos meteo-
rológicos do Estado. Foram utilizadas no trabalho 45
estações climatológicas de Pernambuco (Figura 1).
Figura 1. Postos climatológicos da SUDENE no Estado
de Pernambuco.
Para que pudesse ser feita a espacialização,
por meio do SIG, foram usados dados de temperatu-
ra do ar e precipitações das estações que se encon-
tram distribuídos nas quatro Mesorregiões do Estado
de Pernambuco. O conjunto de dados foi georrefe-
renciado por meio das latitudes e longitudes das es-
tações, onde em um arquivo tipo “worksheet”, con-
tendo informações X, Y e Z, em que X é a latitude
(°), Y é a longitude (°) das estações e Z é o valor da
variável a ser espacializada. O mapa vetorial do con-
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torno do Estado de Pernambuco, utilizado como
“máscara”, foi obtido através do ITEP/LAMEPE –
Instituto Tecnológico de Pernambuco / Laboratório
de Meteorologia de Pernambuco. A interpolação dos
dados para a plotagem no contorno do Estado foi
feita utilizando o Método de Krigagem dentro do
programa Surfer
®
versão demo 8.03 (Golden Softwa-
re, 2006).
Foi feito um balanço hídrico climatológico
simplificado, através da diferença entre o valor mé-
dio total anual da chuva (oferta hídrica) e o valor
médio total anual da ET
0
(demanda hídrica), desse
balanço hídrico climatológico originou-se um mapa
regionalizado.
Os valores de precipitação foram divididos
em períodos “secos” aqueles em que os valores totais
de precipitação foram iguais ou menores que a fre-
qüência acumulada de ocorrência de 25%, os
“normais” com probabilidade maior que 25% e infe-
rior ou igual a 75%, e os chuvosos com probabilida-
de maior que 75% conforme Moura et al. (2010).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De posse de todos os dados de ET
0
e precipi-
tação das 46 estações climatológicas distribuídas no
Estado foi realizada uma análise dessas variáveis
para cada Mesorregião.
Evapotranspiração de referência em anos chuvo-
sos
Os valores obtidos da ET
0
na mesorregião da
zona da Mata foram bastante semelhantes entre os
postos durante todo ano tendo alcançado valores me-
nores entre os meses de abril a setembro, pois estes
meses apresentam temperaturas baixas na região
(Figura 2).
de Gravatá e Pesqueira apresentaram as menores
médias mensais de ET
0
durante o ano e principal-
mente nos meses de maio até agosto com medias de
55 mm.mês
-1
(Figura 3). Lemos Filho et al. (2007),
encontraram as menores variações na espacialização
da evapotranspiração na região noroeste, oeste e sul
do Estado de Minas Gerais devido à estabilidade
climática da região.
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ETo (mm/mês)
Barreiros Cortês Escada
Gameleira Palmares Primavera
Rio Formoso Buenos Aires Carpina
Goiana S. Lourenço da Mata Vitória de Sto. Antão
Figura 2. Variação da evapotranspiração de referência
(ET
0
) em anos chuvosos para a mesorregião da zona da
mata pernambucana.
Os resultados obtidos da evapotranspiração
de referência na mesorregião do agreste oscilaram
mais do que na zona da mata, sendo influenciada
pelas altitudes encontradas nesta região. As cidades
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ETo (mm/mês)
Águas Belas Alagoinha Bezerros
Caruaru Gravatá Pesqueira
Cimbres São Caetano São Bento do Una
Correntes Garanhuns São Joaquim do Monte
Bom Jardim
Limoeiro
Figura 3. Variação da evapotranspiração de referência
(ET
0
) em anos chuvosos para a Mesorregião do Agreste de
Pernambuco.
A mesorregião do sertão nos anos de elevados
regimes de chuvas apresentou em média evapotrans-
piração de 113,9 mm dia
-1
. Os meses de junho e de-
zembro apresentaram os menores e maiores valores
de ET
0
com 70,11 e 160, 97 mm dia
-1
, respectiva-
mente (Figura 4).
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jan fev mar abr ma i jun jul ago set out nov de z
ETo (mm/mês)
Araripina São José d o Egito Exú
São José do Bel monte Verdejante Parnamirim
Salgueiro Ibi mirim Arcoverde
Serra Talhada
Figura 4. Variação da evapotranspiração de referência
(ET
0
) em anos chuvosos para a Mesorregião do Sertão de
Pernambuco.
As taxas da ET
0
para a Mesorregião do Sertão
do São Francisco
foram as mais altas encontradas nas
quatro regiões estudadas com 1498 mm.ano
-1
, devido
ao regime de chuvas desta região serem baixos du-
rante o ano e as temperaturas elevadas, causando
grandes perdas de água por evaporação (Figura 5).
Na Figura 6, tem-se a distribuição espacial da
evapotranspiração de referência total anual média
(mm) para Pernambuco, e neste, observa-se que os
menores valores de ET
0
total anual foram registrados
na região meridional do Agreste. Segundo Medeiros
et al. (2009) essa região é montanhosa, favorecendo
a menor demanda hídrica pelas plantas através da
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evapotranspiração de referência, devido a alguns
condicionantes climáticos, que segundo Pereira et al.
(2002) o efeito combinado de temperatura, umidade
relativa e velocidade do vento define a demanda at-
mosférica por vapor d’água, de maneira particular,
em cada região.
Os maiores valores registrados da ET
0
foram
observadas nas regiões meridional do Sertão e da
Zona da Mata do Estado.
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ETo (mm/mês)
Floresta Tacaratu Cabrobó
Orocó Petrolândia Petrolina
Lagoa Grande Sta. M. da Boa Vista Pau Ferro/ Petrolina
Figura 5. Variação da evapotranspiração de referência
(ET
0
) em anos chuvosos para a Mesorregião do Sertão do
São Francisco de Pernambuco.
900 1000 1200 1300 1400 1500 1600 mm ano
-1
Figura 6. Evapotranspiração de referência total anual para
o Estado de Pernambuco em anos chuvosos.
Na Figura 7 é visualizado o balanço hídrico
de forma simplificada, que envolve os mapas das
Figuras 1, 2, 3 e 4, a fim de visualizar melhor a ofer-
ta e a demanda hídrica nas mesorregiões do Estado.
Observa-se que Pernambuco apresenta um déficit
hídrico em cerca de 70% da área de seu território. As
mesorregiões do Agreste e Sertão são de 92 a 93 %
de déficit hídrico, respectivamente, ou seja, são regi-
ões onde a média do total anual da evapotranspira-
ção de referência supera a média do total anual da
chuva em maior quantidade, apresentando assim, um
maior déficit de água no solo, havendo localidades
na região do sertão meridional em que o déficit che-
gou a 1069 mm ano
-1
.
- 1100 -900 -700 -500 -300-100 0 100 300 500 700 900 1100 mm ano
-1
Figura 7. Diferença entre o valor total anual da chuva e
valor médio total da ET
0
, simplificado para o Estado de
Pernambuco em anos chuvosos.
Segundo Medeiros et al. (2005) em estudos
sobre espacialização de temperaturas no Nordeste
brasileiro as médias anuais para o Estado de Pernam-
buco ficaram em 28 ºC, sendo um destes fatores so-
mados a níveis baixos de precipitações contribuintes
para o déficit hídrico na maior parte do Estado.
Evapotranspiração de referência em anos com
condições normais de precipitação
Os anos considerados normais apresentaram
médias de ET
0
moderadas, sendo a Mesorregião da
Zona da Mata a que apresentou médias de ET
0
de
cada posto muito próximas, e a região de Barreiros
apresentou média consideravelmente diferentes das
outras com 118 mm mês
-1
,
como mostra a Figura 8.
Medeiros et al. (2009) obtiveram resultados signifi-
cativos com zoneamento agroclimáticos da Alpinia
purpurata para esta região mesmo a cultura apresen-
tando sensibilidade ao clima o que comprova o bom
regime pluviométrico e temperaturas toleráveis ao
plantio em sequeiro como demonstra Medeiros et al.
(2005) em estudos com temperaturas no Nordeste
em que a variação durante o ano oscila entre 18 e 26
°C dando condições de cultivo a determinadas espé-
cies de plantas consideradas sensíveis a temperaturas
elevadas .
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ETo (mm/mês)
Carpina Vitória de Sto. Antão Cortês Goiana
São Lourenço Escada Palm ares Buenos Aires
Primavera Rio Formoso Gameleira Barreiros
Figura 8. Evapotranspiração de referência na Mesorregião
da Zona da Mata nos anos regulares.
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A Mesorregião do Agreste do Estado em
anos regulares apresentou médias de ET
0
inferiores a
160 mm mês
-1
, sendo o maior valor mensal apresen-
tado no mês de janeiro no posto localizado na cidade
de Limoeiro com 142,3 mm mês
-1
, como pode ser
verificado na Figura 9.
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ETo (mm/mês)
Águas Belas Alagoinha Bezerros Caruaru
Gravatá Pesqueira Cimbres / Pesqueira São Caetano
São Bento do Una Correntes Garanhuns São Joaquim do Monte
Bom Jardim Li moeiro
Figura 9. Evapotranspiração de referência mensal em anos
regulares para a Mesorregião do Agreste de Pernambuco.
A variação da ET
0
na Mesorregião do Sertão
pernambucano foi elevada nos meses de janeiro a
maio, apresentando em média 145 mm mês
-1
e mode-
rada nos meses de maio a agosto apresentando média
de 90 mm mês
-1
. Devido a variação da altitude nesta
região se faz necessário uma avaliação de maior pre-
cisão para o manejo adequado do consumo hídrico
das culturas como feito por Santos et al. (2009) que
observaram que o consumo hídrico da cenoura foi
maior do que os recomendados pela FAO devido as
condições edafoclimáticas da região fazendo-se ne-
cessário estimativas de ET
0
nas regiões de cultivo
para uma maior precisão. O posto de maior valor de
ET
0
foi o de Parnamirim com média de 127 mm mês
-
1
conforme Figura 10.
0
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ETo (mm/mês)
Araripina São José do Egito Exú São J. do Belmonte
Verdejante Parnamirim Salgueiro Ibimirim
Arcoverde Serra Talhada
Figura 10. Evapotranspiração de referência mensal em
anos regulares para a Mesorregião do Sertão de Pernam-
buco.
O Sertão do São Francisco caracterizado por
suas elevadas temperaturas e baixas precipitações
apresentou característica similar entre os postos de-
vido a pouca variação de chuvas e temperaturas do
ar nesta região como demonstrado por Medeiros et
al. (2005). O posto localizado na cidade de Floresta
apresentou a maior média mensal de ET
0,
(130
mm.mês
-1
) e o posto de Tacaratu a menor média
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ETo (mm/mês)
Pau Ferro/ Petrolina Sta. Maria da Boa Vista Lagoa Grande
Petrolina Orocó Cabrobó
Petrolândia Floresta T acaratu
Figura 11. Evapotranspiração de referência mensal em
anos regulares para a Mesorregião do Sertão do São Fran-
cisco.
Na Figura 12, a distribuição espacial da eva-
potranspiração de referência total anual média (mm)
em anos regulares para Pernambuco, mostra varia-
ções nas quatro Messoregiões. A Zona da Mata apre-
senta-se com ET
0
anual entre 1300 a 1500 mm ano
-1
,
variando significativamente quando se aproxima da
Mesorregião do Agreste devido ao aumento da altitu-
de. O Agreste apresenta-se com as menores taxas de
ET
0
variando de acordo com a altitude, podendo estar
ente 900 a 1300 mm ano
-1
. As regiões do Sertão e
Sertão do São Francisco apresentaram as maiores
taxas de ET
0
variando entre 1400 a 1600 mm ano
-1
.
900 1000 1200 1300 1400 1500 1600 mm ano
-1
No balanço hídrico climatológico de forma
simplificada para anos de regimes de chuvas regula-
res, observa-se que Pernambuco apresenta um déficit
hídrico em cerca de 65% da área de seu território. As
mesorregiões do Agreste e Zona da Mata não apre-
sentam déficit hídrico considerável durante o ano,
variando assim em pontos específicos, com média de
-300 a -100 mm ano
-1
nas regiões centrais das Mes-
soregiões do Agreste e Zona da Mata, respectiva-
mente. Os déficits hídricos, nas Mesorregiões do
Sertão e Sertão do São Francisco, apresentam-se
como os maiores do Estado, ou seja, são regiões on-
de a média do total anual da ET
0
supera a média do
total anual da chuva em maior quantidade, apresen-
tando assim, um maior déficit anual de água no solo,
Figura 12. Total anual médio da ET
0
(mm) para o Estado
de Pernambuco em anos de regime de chuva regular.
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- 1100 -900 -700 -500 -300 -100 0 100 300 500 700 900 1100 mm ano
-1
Figura 13. Balanço hídrico climatológico simplificado
para o Estado de Pernambuco em anos de regimes de chu-
va regulares.
Evapotranspiração de referência em anos secos
Os anos secos considerados como anos de
maior demanda hídrica apresentaram na Mesorregião
da Zona da Mata ET
0
média ao ano de 112 mm mês
-
1
, sendo o posto localizado na cidade de São Louren-
ço da Mata o de maior taxa, apresentando média de
121 mm mês
-1
. Oliveira et al. (2008), em experimen-
to realizado em Vitoria de Santo Antão, obtiveram
uma ET
0
de 5 mm dia
-1
, usando lisímetros de pesa-
gem, sendo próximos ao obtido pelo método de
Thorntwaite e Mather (1955) em escala mensal.
(Figura 14).
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jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
ETo (mm/mês)
Barreiros Cortês Escada
Gameleira Palmares Primavera
Rio Formoso Buenos Aires Carpina
Goiana São Lourenço da Mata Vitoria de Sto. Antão
Figura 14. Variação da evapotranspiração de referência
(ET
0
) em anos secos para a Mesorregião da Zona da Mata
Pernambucana.
A região do Agreste apresentou as menores
médias de ET
0
. Os postos localizados nas cidades de
Alagoinha e Caruaru foram encontradas as menores
e maiores médias de ET
0
cerca de 85,5 e 129 mm
mês
-1
respectivamente (Figura 15).
A Mesorregião do Sertão apresentou a se-
gunda maior demanda hídrica entre as Messoregiões
do Estado em anos de regimes de pouca chuva, Me-
deiros (2009), afirma que em condições de sequeiro
poucas culturas conseguiriam apresentar produção
adequada em demandas de ET
0
de 176 mm mês
-1
,
como apresentado por esta Mesorregião no posto
localizado na cidade de Parnamirim que apresentou
o maior índice de ET
0
nesta região184 mm mês
-1
(Figura 16).
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jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
ETo (mm/mês)
Araripina S. José do Egito Exu
S. José do Belmonte Verdejante Parnamirim
Salgueiro Moxotó A rcoverde
Serra talhada
Figura 16. Variação da ET
0
durante o ano na Mesorregião
do Sertão Pernambucano.
A ET
0
média da Mesorregião do São Francis-
co apresentou-se como as maiores entre as Messore-
giões nos anos secos com média de 125 mm mês
-1
(Figura 17). Medeiros et al. (2005), indicaram as
maiores temperaturas médias nesta região durante
todo ano, devendo-se destacar que o modelo de ET
0
proposto por Thorntwaite e Mather (1955) tem como
um das principais variáveis a Temperatura do ar.
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
ETo (mm/mês)
Pau ferro / Petrolina Jutaí / Sta.M. da Boa Vista
Lagoa Grande Petrolina
Orocó Cabrobó
Petrolândia Floresta
Tacaratu
Figura 17. Variação da ET
0
durante o ano na Mesorregião
do Sertão do São Francisco Pernambucano.
A Figura 18 representa a distribuição espacial
da ET
0
em anos secos sobre o Estado de Pernambu-
co. A Mesorregião da Zona da Mata apresentou taxas
de ET
0
variando entre 1300 a 1400 mm ano
-1
, devido
as temperaturas médias anuais serem elevadas e bai-
xos índices pluviométricos nestes anos estudados, a
Mesorregião do Agreste apresentou taxas de900 a
1200 mm ano
-1
, sendo a menor entre as Messoregi-
ões. O Sertão e o Sertão do São Francisco apresenta-
ram médias equivalentes ao longo do Estado com
1400 a 1657 mm ano
-1
, sendo consideradas médias
elevadas.
O balanço hídrico climatológico apresentou
grande déficit em mais de 75% da região devido a
baixas probabilidades de chuvas nos anos secos. A
Mesorregião da Zona da Mata apresentou pouco dé-
ficit hídrico, devido às chuvas nesta região serem
elevadas. Na região do Agreste, a falta de chuva fa-
vorece o déficit hídrico na região na faixa de -500 a -
ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA SOB DIFERENTES REGIMES DE PRECIPITA-
ÇÕES EM PERNAMBUCO
A. O. SILVA et al.
Revista Caatinga, Mossoró, v. 24, n. 2, p. 135-142, abr.-jun., 2011 141
100 mm ano
-1
. As regiões do Sertão e Sertão do São
Francisco apresentaram déficit de -1088 mm.ano
-1
respectivamente
para algumas partes do Estado
(Figura 19).
900 1000 1200 1300 1400 1500 1600 mm ano
-1
Figura 18. Espacialização da ET
0
em anos secos dos pos-
tos representativos do Estado de Pernambuco.
O balanço hídrico climatológico apresentou
grande déficit em mais de 75% da região devido a
baixas probabilidades de chuvas nos anos secos. A
Mesorregião da Zona da Mata apresentou pouco dé-
ficit hídrico, devido às chuvas nesta região serem
elevadas. Na região do Agreste, a falta de chuva fa-
vorece o déficit hídrico na região na faixa de -500 a -
100 mm ano
-1
. As regiões do Sertão e Sertão do São
Francisco apresentaram déficit de -1088 mm.ano
-1
respectivamente
para algumas partes do Estado
(Figura 19).
- 1100 -900 -700 -500 -300 -100 0 100 300 500 700 900 1100 mm ano
-1
Figura 19. Balanço Hídrico Climatológico simplificado
para o Estado de Pernambuco em anos de regimes de chu-
va regulares.
Camargo e Camargo (2000), analisando os
variados tipos de equações de ET
0
, afirmaram que o
modelo de Thornthwaite funciona adequadamente
em regiões de clima úmido o que não corresponde
com aproximadamente 70% do território pernambu-
cano. Esses mesmos autores informam, também, que
a correção do índice de aridez através da amplitude
térmica das regiões poderá alcançar resultados satis-
fatórios e comparáveis a equação padrão da FAO-56,
podendo assim ser utilizado como recurso na escas-
sez de dados.
CONCLUSÕES
Os menores valores de ET
0
ocorrem no mês
de julho e os maiores valores aconteceram no mês de
janeiro para as três Mesorregiões. O Estado de Per-
nambuco apresenta déficit hídrico em cerca de 70%
da área total do seu território sendo as maiores am-
plitudes da demanda hídrica tanto temporal como
espacial encontradas na região semiárida. Diante da
variação da ET
0
no Estado, o conhecimento correto
dos valores destas variáveis para as mesorregiões,
traz benefícios aos produtores que podem realizar o
manejo correto da água para irrigação.
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