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Pegadas de dinossauros Theropoda do Paleodeserto Botucatu (Jurássico Superior-Cretáceo Inferior) da Bacia do Paraná

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Abstract and Figures

Slabs of sandstone from the Botucatu Formation were collected at the São Bento quarry, Araraquara, SP. Four morphotypes were identified regarding the interdigital angles, the ratio of length to width of the footprint, and the form of the digits. Morphotype I: Coelurosauria, shows interdigital angles ranging from 20-30º and a footprint length/width ratio of approximately 1.7. Morphotype II: Carnosauria, revealed an interdigital angle ranging from 30-40º and a ratio of length to width of the footprint of 1.1. Morphotype III: Carnosauria (variation I) with interdigital angles ranging from 35-50º. Morphotype IV: Carnosauria (variation II) with interdigital angles ranging from 30-40º. The differences between the Carnosauria footprints are apparently variations of the Morphotype II, reflecting the effort and direction of dislocation (movement) of the dinosaurs on an inclined plane and the speed developed during the passage across the dune.
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Paleontologia: Cenários de Vida
Volume 4
ISBN 978-85-7193-274-6 Paleontologia: Cenários de Vida
PEGADAS DE DINOSSAUROS THEROPODA DO
PALEODESERTO BOTUCATU (JURÁSSICO SUPERIOR
- CRETÁCEO INFERIOR) DA BACIA DO PARANÁ
THEROPOD DINOSAUR FOOTPRINTS OF THE BOTUCATU PALEODESERT
(UPPER JURASSIC - LOWER CRETACEOUS) FROM PARANÁ BASIN
Marcelo Adorna Fernandes1, Aline Marcele Ghilardi1, Ismar de Souza Carvalho2 & Giuseppe Leonardi3
1 Universidade Federal de São Carlos. Depto de Ecologia e Biologia Evolutiva. Via Washington Luis, km 235, Caixa Postal 676,
13565-905; São Carlos - São Paulo – Brasil; 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Geociências. Depto de Geologia.
Cidade Universitária. Ilha do Fundão, 21949-900 Rio de Janeiro - Rio de Janeiro – Brasil; 3 7, Av. Chemin de la Forêt Place
Commerciale, Ma Campagne Kinshasa/Ngaliema République Démocratique du Congo.
E-mails: mafernandes@ufscar.br; alinemghilardi@yahoo.com.br, ismar@geologia.ufrj.br, gi-leonardi@simbatel.com
RESUMO
Lajes de arenito da Formação Botucatu foram coletadas na pedreira São Bento de Araraquara,
SP. De acordo com os ângulos interdigitais, relações comprimento/largura e forma dos dígitos,
as pegadas de Theropoda foram agrupadas em quatro morfotipos. Morfotipo I: Coelurosauria,
com ângulos interdigitais entre 20o e 30o; relação comprimento da pegada/largura da pegada
em torno de 1,7. Morfotipo II: Carnosauria com ângulos interdigitais entre 30o e 40o; relação
comprimento da pegada/largura da pegada em torno de 1,1. Morfotipo III: Carnosauria
(variação I) com ângulos interdigitais entre 35o e 50o. Morfotipo IV: Carnosauria (variação
II) com ângulos interdigitais entre 30o e 40o. As diferenças morfológicas das pegadas dos
Carnosauria podem ser variações do Morfotipo II, explicáveis em conseqüência do esforço e da
direção do deslocamento dos dinossauros em um plano inclinado, e da velocidade desenvolvida
durante o percurso no foreset.
Palavras-chave: Icnofóssil, Formação Botucatu, Theropoda
ABSTRACT
Slabs of sandstone from the Botucatu Formation were collected at the São Bento quarry,
Araraquara, SP. Four morphotypes were identified regarding the interdigital angles, the ratio of
length to width of the footprint, and the form of the digits. Morphotype I: Coelurosauria, shows
interdigital angles ranging from 20-30º and a footprint length/width ratio of approximately
1.7. Morphotype II: Carnosauria, revealed an interdigital angle ranging from 30-40º and a
ratio of length to width of the footprint of 1.1. Morphotype III: Carnosauria (variation I)
with interdigital angles ranging from 35-50º. Morphotype IV: Carnosauria (variation II) with
interdigital angles ranging from 30-40º. The differences between the Carnosauria footprints
are apparently variations of the Morphotype II, reflecting the effort and direction of dislocation
(movement) of the dinosaurs on an inclined plane and the speed developed during the passage
across the dune.
Keywords: Ichnofossil, Botucatu Formation, Theropod
610 Paleontologia: Cenários de Vida
1. INTRODUÇÃO
Segundo Leonardi & Sarjeant (1986), os primeiros registros fósseis da Formação Botucatu
foram observados e identificados por um engenheiro de minas brasileiro, Joviano A. A. Pacheco
em 1913, no calçamento das vias públicas da cidade de São Carlos, interior paulista. Huene (1931)
estudou alguns destes achados levando à compreensão do tipo de organismo produtor, associado ao
ambiente desértico.
Estudos feitos por Leonardi & Oliveira (1990) atribuíram à Formação Botucatu, nos arredores
de Araraquara, estado de São Paulo, uma icnofauna endêmica onde predominavam os mamíferos
primitivos, especialmente Brasilichnium elusivum, acompanhados de dinossauróides bípedes
(Ornithopoda e Theropoda).
Os icnofósseis atribuíveis a Theropoda foram coletados na Pedreira São Bento, localizada no
município de Araraquara, nas coordenadas de 21o49’03.4”S e 48o04’22.9”W.
Segundo Leonardi & Carvalho (2002), as pistas de tetrápodes das pedreiras da região do
Ouro (e de calçadas da cidade de Araraquara) são quase sempre (90-95%) de baixa qualidade, sendo
simplesmente cavidades arredondadas ou elípticas sem detalhes morfológicos. Estas cavidades são
freqüentemente acompanhadas de uma crista de arenito em forma de meia-lua, amiúde na direção do
mergulho dos estratos, representando assim um deslocamento de areia pelos pés dos animais, quando
em progressão através das dunas. Apesar da baixa qualidade de preservação, ainda assim os parâmetros
das pistas freqüentemente possibilitam classificá-las.
2. GEOLOGIA
A Formação Botucatu representa um extenso campo de dunas iniciado no Jurássico, sobre o
antigo continente Gondwânico, que foi recoberto no Eocretáceo pelo mais volumoso episódio de
vulcanismo intracontinental do planeta, registrado pela Formação Serra Geral.
O Arenito Botucatu cobre a maior parte da Bacia do Paraná, o Paraguai Oriental e o nordeste da
Argentina, perfazendo uma área de mais de 1.300.000 km2, constituindo uma das maiores deposições
áridas contínuas do mundo. No contexto paleontológico, além dos icnofósseis, poucos são os fósseis
corporais presentes na Formação Botucatu, sendo encontrados troncos e conchostráceos na porção
norte da Formação (Campos, 1889 apud Almeida & Melo, 1981).
As estruturas sedimentares mais típicas são estratificações cruzadas tangenciais em grandes
cunhas que, para o topo, passam à estratificação plano-paralela e cruzada acanalada. Zonas silicificadas
também são comuns nos arenitos da Formação Botucatu, principalmente na porção superior próxima
ao contato com as rochas vulcânicas da Formação Serra Geral (Paragassu,1970).
A Pedreira São Bento, de onde foram coletadas as lajes, apresenta a secção de uma grande
duna com 20 m de altura e 100 m de comprimento, exibindo a feição de foreset com mergulho de 29º
aproximadamente em direção S-SW.
611
3. METODOLOGIA
Oito amostras de arenito Botucatu contendo os mais relevantes vestígios de pegadas de
dinossauros Theropoda foram selecionadas (MPA-200, MPA-231A, MPA-207, MPA213, MPA-
610, MPA628, MPA-630A e MPA-231B).
A codificação dos novos materiais coletados foi realizada tomando-se como base seu
tombamento em um museu local, em fase de implantação, o Museu de Arqueologia e Paleontologia
de Araraquara, com a sigla de lastro correspondente à MPA - Material Paleontológico de Araraquara.
Atualmente, devido ao espaço físico insuficiente do Museu de Araraquara, a grande maioria das lajes
com este lastro encontra-se em fase de incorporação à coleção de paleontologia do Departamento de
Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
As descrições dos icnofósseis de vertebrados foram efetuadas tomando-se como referência as
publicações de Leonardi (1987, 1994). Cada amostra foi lastreada e fotografada constituindo-se em
um banco de dados onde houve a separação dos diferentes grupos parataxonômicos.
Com relação às formas dinossaurianas foi estabelecida uma associação de grupos de pegadas
com base em suas características morfológicas, tais como: formas dos dígitos, presença de garras,
largura e comprimento da pegada, ângulos interdigitais. Nas pistas com três ou mais pegadas foi
possível encontrar uma constância nas formas dos autopódios o que levou a um melhor detalhamento
do organismo produtor.
4. DESCRIÇÃO DAS PISTAS E PEGADAS
De acordo com Osmólska (1990) os dinossauros Theropoda possuem pés com metatarsos
estreitos e alongados, sendo o metatarsal V reduzido a um vestígio de osso e o metatarsal I separado
do tarso, caracterizando os dinossauros carnívoros.
Thulborn (1990) sugeriu como regra geral que as pegadas de Theropoda com comprimento
menor que 25 cm sejam atribuídas a Coelurosauria, e as com tamanho maior que este, aos Carnosauria.
Entretanto, no presente trabalho, as características morfométricas destas duas categorias são muito
díspares, por isso continuaram agrupadas em quatro morfotipos.
Dentre os dinossauros Theropoda, o grupo Coelurosauria foi definido inicialmente por Huene
(1914 apud Osmólska, 1990) para incluir pequenas formas carnívoras. Para Ostrom (1990) os pés
dos Coelurosauria são típicos dos Theropoda, apresentando adaptações cursoriais, com metatarsais
II, III e IV longos e finos, um metatarsal I relativamente curto e um metatarsal V rudimentar. De
acordo com Thulborn (1990), o dígito III é relativamente maior que os demais. As falanges são
delgadas, tendo a mesma fórmula falangeal 2-3-4-5-0, da maioria dos Theropoda. O dígito I é muito
curto, não ultrapassando em comprimento a porção distal do metatarsal II. A largura das pegadas dos
Coelurosauria é geralmente 70% a 75% do seu comprimento. A divergência total entre os dígitos II e
IV não ultrapassa os 50º. Normalmente todos os dígitos apresentam vestígios da impressão de garras.
Para Molnar et al. (1990) os Carnosauria, outro grupo de Theropoda, possuem pés
funcionalmente tridáctilos. O metatarso é robusto, com o dígito I curto e reverso. Os metatarsais II e
IV são freqüentemente semelhantes em comprimento e moderadamente divergentes, mas o metatarsal
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612 Paleontologia: Cenários de Vida
II é ligeiramente maior. O metatarsal III é o de maior comprimento e pode possuir a porção proximal
mais fina. Segundo Thulborn (1990), a fórmula falangeal é 2-3-4-5-0, com o dígito III maior. As
pegadas individuais são ligeiramente mais longas do que largas, com divergência entre os dígitos II e
IV ao redor de 50º e 60º. Freqüentemente os ângulos interdigitais são semelhantes com os hypex em
forma de “V”. A porção posterior das pegadas dos Carnosauria apresenta forma levemente triangular.
De acordo com as disposições dos dígitos nas pegadas, um grupo apresenta dedos com as
extremidades pontiagudas, sugerindo a presença de garras e o hypex na forma de “V”, como na maioria
dos dinossauros Theropoda presentes na Formação Botucatu.
Ainda assim, de acordo com os ângulos interdigitais, poderíamos agrupar os dinossauros
Theropoda em dois subgrupos, um Coelurosauria (ângulos entre 20o e 30o, Morfotipo I) e outro
Carnosauria (ângulos entre 30o e 40o, Morfotipos II, III e IV), porém nesse último caso existem
variações morfológicas das pegadas, talvez em função da direção do movimento em um plano inclinado
e da velocidade desenvolvida durante o percurso no foreset, ou mesmo da própria anatomia dos pés.
Morfotipo I: Coelurosauria
Características diagnósticas: pegadas tridáctilas mais compridas do que largas, digitígradas
e mesaxônicas. Relação comprimento da pegada/largura da pegada em torno de 1,7. Relação largura
da pista/largura da pegada em torno de 1,6. O dígito III possui ligeira curvatura em relação ao eixo
da pegada. Dígitos II e IV curtos em comparação ao dígito III, porém o dígito II é maior que o
IV. Aparentemente os dígitos II e IV apresentam pequeno encurvamento interno à pegada. Na
maioria das pegadas a garra do dígito III é bem evidente e curvada. Nas formas pequenas os três
dígitos apresentam garras evidentes. O hypex é em forma de “V”. Existe o intumescimento na porção
proximal do dígito III, porém com afinamento pronunciado nas extremidades, onde se inserem as
garras. Apresenta o padrão de pegadas atribuíveis ao grupo dos Coelurosauria. Ângulos interdigitais
entre 20o e 30o. Apresenta divergência total entre os dígitos II e IV de 40º a 50º.
MPA-200
Pista contendo quatro pegadas consecutivas muito bem preservadas, como epirrelevo côncavo,
onde existe a preservação dos dígitos II, III e IV. As extremidades de todos os dígitos são afiladas
indicando a presença de garras. O ângulo do passo possui valor obtuso de 166o e o valor médio do
meio-passo é de 13 cm. Há uma ligeira rotação da direção do passo para cada pegada, voltando-se para
o interior da pista, autopódios voltados para dentro, rotação positiva (Figura 1).
613
Figura 1. MPA-200, (A) pista com quatro pegadas em epirrelevo negativo do morfotipo I. (B) Detalhes das pegadas. Escala
em centímetros.
MPA-231A
Figura 2. MPA-231A, pista com sete pegadas consecutivas em epirrelevo negativo do morfotipo I.
Escala em centímetros.
Mosaico de lajes que compõem uma pista com sete pegadas consecutivas,
mesaxônicas. São todas undertracks bem preservadas onde se pode observar a
impressão de garras somente nos dígitos III de cada pegada. Os dígitos III de cada
pegada mostram-se com as extremidades voltadas para o interior do eixo médio
da pista e com a porção proximal mais intumescida devido à morfologia externa
dos pés do animal. O ângulo de passo no início é de 172o e no final da pista é de
aproximadamente 174o e o valor médio do meio-passo de 43 cm, indicam que o
animal deveria estar acelerando durante o percurso. Esta pista, diferindo apenas em
tamanho, apresentou padrões morfométricos totalmente idênticos aos da pista MPA-
200 que é comparativamente muito menor, podendo ser um estágio ontogenético de
uma mesma espécie (Figura 2).
Morfotipo II: Carnosauria
Características diagnósticas: pegadas tridáctilas ligeiramente mais
compridas do que largas, digitígradas e mesaxônicas. Relação comprimento da
pegada/largura da pegada em torno de 1,1. O dígito III é praticamente reto e no
mesmo eixo da pegada. Dígitos II e IV curtos em comparação ao dígito III, porém
o dígito II é maior que o IV. Aparentemente os dígitos II e IV não apresentam
nenhuma rotação externa ou interna à pegada. Na maioria das pegadas a garra do
dígito III é evidente. O hypex é em forma de “V”. Existe o intumescimento na
porção proximal do dígito III sendo mais largo que os demais dígitos. Apresenta
Marcelo Adorna Fernandes, Aline Marcele Ghilardi, Ismar de Souza Carvalho & Giuseppe Leonardi
614 Paleontologia: Cenários de Vida
o padrão de pegadas atribuíveis ao grupo dos Carnosauria. Ângulos interdigitais entre 30o e 40o.
Apresenta divergência total entre os dígitos II e IV de 50º a 70º.
MPA-207
Pegada isolada preservada sob a forma de hiporrelevo convexo. O dígito III é o de maior
comprimento, apresentando a extremidade afilada. O dígito IV apresenta pequeno arredondamento
na extremidade. O hypex entre os dígitos II-III e III-IV é anguloso. A margem posterior é bem
arredondada com a feição em forma de meia-lua situada ao lado do dígito IV (Figura 3).
Figura 3. MPA-207, pegada isolada do morfotipo II preservada sob a forma de hiporrelevo convexo. Escala em centímetros.
MPA-213
Pegada isolada cuja preservação ocorreu sob a forma de epirrelevo côncavo. Os dígitos II e III
apresentam extremidades afiladas, já o dígito IV é arredondado e apresenta uma curvatura ligeiramente
divergente. O hypex entre os dígitos II-III e III-IV é anguloso. Existem pequenas crenulações nas
porções terminais dos dígitos. A margem posterior da pegada é arredondada com a forma em meia-lua
presente ao lado do dígito IV (Figura 4).
Figura 4. MPA-213, pegada isolada do morfotipo II preservada sob a forma de epirrelevo côncavo. Escala em centímetros.
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Morfotipo III: Carnosauria
Características diagnósticas: pegadas tridáctilas geralmente tão compridas quanto largas,
digitígradas e mesaxônicas. Relação comprimento da pegada/largura da pegada em torno de 1,0. O
dígito III possui maior curvatura em relação ao eixo da pegada. O dígito II também possui curvatura
voltada ao mesmo lado do dígito III. Dígitos II e IV curtos em comparação ao dígito III, porém o
dígito II é maior que o IV. Na maioria das pegadas a garra do dígito III é mais evidente que nos
demais dígitos. O hypex é em forma de “V”. Existe o intumescimento na porção proximal do dígito
III, porém com afinamento pronunciado nas extremidades, onde se inserem as garras. Apresenta o
padrão de pegadas atribuíveis ao grupo dos Carnosauria, podendo ser uma variação do morfotipo II.
Ângulos interdigitais entre 35o e 50o. Apresenta divergência total entre os dígitos II e IV de 60º a 80º.
MPA-610
Pegada isolada preservada sob a forma de epirrelevo côncavo. O dígito II aparenta ser maior
que o dígito III, porém o alto grau de encurvamento mascara este fato. O dígito IV apresenta
pequeno arredondamento na extremidade e é muito curto, em relação aos demais dígitos. Os hypex
são moderadamente angulosos. A margem posterior é bem arredondada com a feição em forma de
meia-lua situada ao lado do dígito IV (Figura 5).
Figura 5. MPA-610, pegada isolada do morfotipo III preservada sob a forma de epirrelevo côncavo. Escala em centímetros.
MPA-628
Pegada isolada preservada sob a forma de epirrelevo côncavo. As garras são evidentes apenas nos
dígitos II e III. O hypex é ânguloso e o dígito IV apresenta pequeno arredondamento na extremidade
e também pequeno comprimento. A margem posterior da pegada é bem arredondada com a feição
em forma de meia-lua situada ao lado do dígito IV. Os ditos II e III são excessivamente curvos, com
pequena crenulação entre eles (Figura 6).
Marcelo Adorna Fernandes, Aline Marcele Ghilardi, Ismar de Souza Carvalho & Giuseppe Leonardi
616 Paleontologia: Cenários de Vida
Figura 6. MPA-628, pegada isolada do morfotipo III preservada sob a forma de epirrelevo côncavo. Escala em centímetros.
Morfotipo IV: Carnosauria
Características diagnósticas: pegadas tridáctilas geralmente mais compridas do que largas,
digitígradas e mesaxônicas. Relação comprimento da pegada/largura da pegada em torno de 1,2.
Relação largura da pista/largura da pegada em torno de 1,2. O dígito III possui maior curvatura em
relação ao eixo da pegada. O dígito II também possui curvatura voltada ao mesmo lado do dígito
III, neste caso o dígito IV também apresenta ligeiro encurvamento no mesmo sentido. Dígitos II
e IV mais curtos em comparação ao dígito III, porém o dígito II é maior que o IV. Na maioria das
pegadas a garra do dígito III é mais evidente que nos demais dígitos. O hypex é em forma de “V”.
Existe o intumescimento na porção proximal do dígito III, porém com afinamento pronunciado nas
extremidades, onde se inserem as garras. Apresenta o padrão de pegadas atribuíveis ao grupo dos
Carnosauria, podendo ser também uma variação do morfotipo II. Ângulos interdigitais entre 30o e
40o. Apresenta divergência total entre os dígitos II e IV de 50º a 70º.
MPA-231B
Figura 7. MPA-231B, pista com três pegadas consecutivas do morfotipo IV, associada a outra pista de dinossauro
correspondendo à MPA-231A do morfotipo I, preservada sob a forma de epirrelevo côncavo. Escala em centímetros.
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Pista com três pegadas consecutivas, associada a outra pista de dinossauro correspondendo à
MPA-231A. O ângulo do passo possui valor obtuso de 178o e o valor médio do meio-passo é de 60
cm. A primeira e a terceira pegada desta pista apresentam os dígitos II e III com nítida impressão de
unhas (Figura 7).
MPA-630A
Pista associada com uma pegada de um dinossauro Ornithopoda, contendo três pegadas
consecutivas muito bem preservadas, apresentando-se sob a forma de epirrelevo côncavo. As pegadas
possuem dígitos curvos, como da amostra MPA-231B, porém são bem maiores. O ângulo do passo
possui valor obtuso de 176o e o valor médio do meio-passo é de 74 cm. Esta pista, diferindo apenas
em tamanho, apresentou padrões morfométricos totalmente idênticos aos da pista MPA-231B que é
comparativamente muito menor, podendo ser um estágio ontogenético de uma mesma espécie, como
foi observado entre amostras MPA-200 e MPA-231A do morfotipo I (Figura 8).
Figura 8. MPA-630A, pista do morfotipo IV associada com uma pegada de um dinossauro Ornithopoda, contendo três
pegadas em epirrelevo côncavo. Escala em centímetros.
5. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
As pistas se dispõem em direções preferenciais, na pedreira São Bento. Em 80% das ocorrências,
a direção preferencial do movimento esteve entre 300o e 330o, com algumas pistas em sentido contrário
120o e 150o. Os animais do paleodeserto Botucatu atravessaram comumente (de maneira diagonal)
uma grande duna transversa.
As variações preservacionais das pegadas fossilizadas nos arenitos da Formação Botucatu
condizem com aspectos relacionados à consistência do substrato em função da umidade e também das
velocidades e direções diferentes, adotadas pelos animais durante o percurso através das paleodunas.
Marcelo Adorna Fernandes, Aline Marcele Ghilardi, Ismar de Souza Carvalho & Giuseppe Leonardi
618 Paleontologia: Cenários de Vida
Para o morfotipo I o dígito II possui um comprimento maior do que o do dígito IV. Talvez o
dígito II possuísse uma garra muito maior (como é o caso dos dromeossaurídeos), que aprofundasse
mais na areia no momento de pisoteio, como mostra a pista MPA-200. Em todas as ocorrências o
sulco afilado na areia, provocado pelo dígito II foi maior que os dos demais dígitos.
Segundo Carvalho & Kattah (1998), a forma triangular da metade posterior da pegada e o
espalhamento simétrico dos dígitos podem associar-se aos Carnosauria de pequenas dimensões, como
é o caso das pegadas do morfotipo II e das variações demonstradas nos morfotipos III e IV.
Leonardi (1991) estudando as icnofaunas sul-americanas observou que havia uma freqüência
de dinossauros Theropoda de até 87%, com predominância de Coelurosauria para paleoambientes
desérticos, sugerindo que este grupo seria mais bem adaptado às regiões áridas e desérticas que outros
grupos de dinossauros. No entanto, isso pode ser um reflexo das condições preservacionais do ambiente,
que favoreceria a preservação de pegadas, ou undertracks, com proporções menores produzidas por
dinossauros com pequena massa corporal e que também dependeriam da maior ou menor umidade
em subsuperfície.
Os ângulos interdigitais no morfotipo III são elevados, sendo maiores ou iguais aos dos dígitos
das pegadas do morfotipo II. Os dígitos das pegadas do morfotipo III parecem ter uma curvatura
preferencial para o interior da pista, considerando-se o dígito II, mais longo que o IV e mais curvo
também.
Como foram encontradas duas pistas bem preservadas (MPA-231B e MPA-630A) foi possível
estabelecer a morfologia das pegadas, colocando-as na categoria do morfotipo IV. O dígito II é
relativamente maior que o dígito IV e ligeiramente curvado em relação ao eixo maior da pegada. Os
dígitos curvos das pegadas deste morfotipo IV são muito parecidos com os do morfotipo III, diferindo
apenas na largura da pegada, cuja base dos dígitos é bem mais estreita que no morfotipo III.
Segundo Thulborn (1990) podem ocorrer variações dos ângulos interdigitais, dentro de uma
mesma espécie, dependendo da consistência do substrato. Importante salientar então que dependendo
da consistência das areias no foreset e da velocidade desenvolvida pelos animais, os ângulos interdigitais
poderiam variar consideravelmente. A direção do movimento em relação ao plano inclinado também
poderia fazer variar os ângulos e até mesmo a morfologia dos dígitos.
Figura 9. Representação esquemática dos dinossauros Theropoda do Paleodeserto Botucatu e suas respectivas pistas e
pegadas. Escalas: 5 centímetros
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As imagens correspondendo às pistas de MPA-231A e MPA-200 do morfotipo I, e às
pistas MPA-231B e MPA-630A do morfotipo IV, foram redimensionadas de forma a ocorrer uma
sobreposição total, revelando a semelhança de padrões morfométricos. Isso certamente se deve ao fato
de que dentro de cada grupo ocorre uma mesma icnoespécie, diferindo apenas no tamanho. Portanto,
considerados aqui como estádios ontogenéticos distintos, dentro da mesma categoria parataxonômica
(Figura 9). Então coexistiram formas juvenis e formas consideradas adultas de Coelurosauria (Figura
10) e Carnosauria (Figura 11) neste contexto paleoambiental.
Figura 10. Reconstrução paleoartística do produtor das pegadas de dinossauros Coelurosauria, por Aline M. Ghilardi.
Figura 11. Reconstrução paleoartística do produtor das pegadas de dinossauros Carnosauria, por Aline M. Ghilardi.
Marcelo Adorna Fernandes, Aline Marcele Ghilardi, Ismar de Souza Carvalho & Giuseppe Leonardi
620 Paleontologia: Cenários de Vida
6. AGRADECIMENTOS
À Dra. Luciana Bueno dos Reis Fernandes pelas sugestões e auxílio na elaboração das figuras. Ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação Carlos Chagas
Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (IVP-FAPERJ) pelo suporte financeiro. As
Universidades Federais do Rio de Janeiro e de São Carlos pelo suporte técnico e infra-estrutura.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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621
MOLNAR, R.E.; KURZANOV, S.M. & ZHIMING, D. 1990. Carnosauria. In: WEISHAMPEL,
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OSMÓLSKA, H. 1990. eropoda. In: WEISHAMPEL, D.B.; DODSON, P. & OSMÓLSKA, H.
(Eds.) e Dinosauria. University of California Press, p.148-150.
OSTROM, J.H. 1990. Dromaeosauridae. In: WEISHAMPEL, D.B.; DODSON, P. & OSMÓLSKA,
H. (eds.). e Dinosauria. University of California Press, p. 269-279.
PARAGUASSU, A.B. 1970. Estruturas sedimentares da Formação Botucatu. Mineração e Metalurgia,
Rio de Janeiro, 51(301):25-30
THULBORN, T. 1990. Dinosaur tracks. London, British Library Cataloguing in Publication Data,
409 p.
Marcelo Adorna Fernandes, Aline Marcele Ghilardi, Ismar de Souza Carvalho & Giuseppe Leonardi
... The Botucatu Formation fossil record is mainly composed of vertebrate and invertebrate tracks, trails, and burrows produced in an extensive eolian environment, which covered a large area of South America and Africa during the late Mesozoic (Leonardi and Sarjeant, 1986;Leonardi and Carvalho, 2002;Leonardi et al., 2007;Fernandes and Carvalho, 2007;Fernandes et al., 2011;Fernandes et al., 2014;Buck et al., 2017a;Buck et al., 2017b;D' Orazi Porchetti et al., 2017a, D' Orazi Porchetti et al., 2017bPeixoto, 2020). The most significant ichnofossil diversity from this geological unit comes from the 'Ouro Ichnosite', located in the Araraquara municipality region, Southeast Brazil (Leonardi and Carvalho, 2002). ...
... After he left Brazil, studies continued to be carried out and many discoveries have been and are still being made over the years (e.g. Fernandes et al., 2004;Fernandes and Carvalho, 2007;Fernandes et al., 2011;Fernandes et al., 2014;Buck et al., 2017a;Buck et al., 2017b;D'Orazzi Porchetti et al., 2017a;D'Orazzi Porchetti et al., 2017b;Peixoto et al., 2020;Leonardi and Carvalho, 2020). ...
... The tracks' anteroposterior elongation, with an average length/width ratio of 1.54 ± 0.09, is different from both Brasilichnium (0.72 ± 0.1) and Aracoaraichnium (0.78 ± 0.09) (see Buck et al., 2017a;Buck et al., 2017b). When compared with Botucatu Formation theropod tracks, in turn, the general outline of the footprints is similar (length/width ratio between 1 and 1.7 for dinosaurs) but dinosaur trackways have a higher pace angulation (see Fernandes et al., 2011). The currently described trackways indicate a quadrupedal trackmaker excluding the possibility of a theropod producer. ...
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The Botucatu Formation (Paraná Basin) is an eolian deposit that represents an extensive paleoerg that existed in the south-central Gondwana during the Early Cretaceous. The fossil record of the unit is almost exclusively constituted of ichnofossils, including numerous tracks and burrows of vertebrates and invertebrates. The greatest trace fossil diversity of the Botucatu Formation is reported at the Ouro ichnosite, located in the Araraquara municipality region, São Paulo State, Brazil. This site comprises a faunal-rich setting of greater humidity in the ancient desert. In this work, a new footprint morphotype is reported for the Ouro ichnosite. Five trackways including tracks with an elongated anteroposterior axis associated with tail drag marks are described. The morphology of the autopodia and geometry of the trackways indicate an affinity with a lizard-like trackmaker. Furthermore, at least three different modes of locomotion were recognized: a typical walking gait, a pause-walking gait, and sideways drifting. The current report suggests Lepidosauria may have inhabited the ancient Botucatu desert, a group never reported before in this geological context. This finding expands the knowledge about the Botucatu Formation paleofauna and adds more complexity to its ecological network. Squamata and Sphenodontia are plausible candidates to have produced the described fossil tracks.
... According to comparison with [33] data, this Himalayadrinda is unique small theropod. Reference [37] mentioned interdigital angle upto 50˚ of theropod footprints from Brazil but Himalayadrinda from Pakistan have angle upto 90˚ ( Figure 1). While [37] mentioned interdigital angle upto 80˚ of footprints which is close to Himalayadrinda footprints. ...
... Reference [37] mentioned interdigital angle upto 50˚ of theropod footprints from Brazil but Himalayadrinda from Pakistan have angle upto 90˚ ( Figure 1). While [37] mentioned interdigital angle upto 80˚ of footprints which is close to Himalayadrinda footprints. This study reveals that the Himalayadrinda potwari (divarication angle of digits II -IV = c. ...
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Recent Geological and Paleontological exploration during the start of new/third millennium (from 2000 to 2019) yielded 45 taxa of vertebrates and invertebrates from Mesozoic and Tertiary (except a jawless fish from Cambrian and a trilobite from Permo-Triassic boundary) strata of Pakistan like dinosaurs, mesoeucrocodiles, eucrocodiles, pterosaurs-light bodied flying reptiles, ple-siosaurs-broad bodied and ichthyosaurs-streamlined bodied reptiles and fishes, basilosaurid whale, Baluchithere rhinoceroses and paleo-horses mammals , invertebrates (hippurites/rudists, oysters, mussels and other bivalves, ammonites, belemnites nautilides and gastropods Mollusca, starfish echino-ids, nummulites, assilina and alveolina foraminifers, arthropods and corals), algae, sponge and wood fossils. Here described new fossil records would attract widespread interests.
... The footprints occur mainly in the sand sheets, and one theropod trackway in the aeolian dunes (Dentzien-Dias et al., 2007;Francischini et al., 2015). The occurrence of dinosaur footprints in arid, and even more arid settings (e.g., the earliest Cretaceous Botucatu Formation: Leonardi & Carvalho, 1999;Leonardi et al., 2007;Fernandes et al., 2011;Carvalho & Leonardi, 2024;Peixoto et al., 2025), shows that dinosaurs were capable to inhabiting extensive arid dune fields. The paleoenvironment recorded in the intertraps of Mosquito Formation would be less arid than the cited examples. ...
... Fernandes et al. (2011) utilizaram uma separação em Ceolulosauria e Carnosauria para os morfotipos de pegadas deTheropoda, enquanto Francischini et al. (2015) abandonaram essa classificação por ela ter o seu significado taxonômico alterado. Estes últimos, levando em consideração a idade dos depósitos da Formação Botucatu e o contexto paleobiogeográfico, inferem a possibilidade de produtores Ceratosauria, como Noasauridae e Abelisauridae, e a possiblidade de Ceolulosauria de pequeno a médio porte. ...
... The biota of this complex environment is known mainly from trace fossils from the Araraquara region, São Paulo State, but there are many other occurrences in São Paulo, Paran a, Santa Catarina, Rio Grande do Sul and Mato Grosso do Sul states, Brazil. There are tracks of a small lizard-like reptile trackway, small and medium-sized mammals, small and medium-sized theropod dinosaurs and one ornithopod of medium to large-size (Buck et al., 2017a(Buck et al., , 2017b(Buck et al., , 2022D'Orazi Porchetti et al., 2017;Fernandes, 2005;Fernandes andCarvalho, 2007, 2008;Fernandes et al., 1988Fernandes et al., , 1990Fernandes et al., , 2004Fernandes et al., , 2011Francischini et al., 2015Francischini et al., , 2020Francischini et al., , 2022Leonardi, 1977Leonardi, , 1980Leonardi, , 1981Leonardi, , 1989Leonardi, , 1994Leonardi and Godoy, 1980;Leonardi and Sarjeant, 1986;Leonardi and Oliveira, 1990;Leonardi and Carvalho, 2021a;Manes et al., 2021;Peixoto et al., 2020). Among the valid tetrapod ichnotaxa are Brasilichnium elusivum, Brasilichnium saltatorium, Aracoaraichnium leonardii, Brasilichnium anaiti and cf. ...
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The Botucatu Formation (Paraná Basin, Brazil and the southern neighboring countries) comprises one of the richest tetrapod ichnological deposits of the Lower Cretaceous in South America. The ichnofossils are found in reddish sandstones lithofacies -interpreted to be dune and interdune deposits. The sandstones of Botucatu Formation originally covered a surface estimated in at least 1,300,000 km2, the largest known fossil desert in the Earth’s history. The distribution area of the Botucatu paleodesert presents one of the world’s largest megatracksites. The tetrapod ichnofauna from the Botucatu Formation comprises minor bipedal dinosaur tracks (almost all attributable to theropods, with one exception, a doubt ornithopod trackway) along with many thousands of footprints of early mammals, and a single trackway of a lacertiform reptile. Among the bipedal dinosaur footprints, the most common and typical are considered theropod tracks, with long strides and high step angle and always with an acuminate termination. These trackways are straight and very narrow, with long strides and step angles showing high values. The footprints have a relatively large and very wide III digit and small, short, pointed, bladelike outer digits. The most special characteristic is that the II digit is longer and more important than the IV digit. Because of this morphology, the general outline of the footprint often reminds that of a waterdrop and, although it is structurally tridactyl, it usually looks like functionally monodactylous. These tracks are herein assigned to small theropods adapted to desert life with a prevalently cursorial gait, probably ancestors of clades such as noasaurs and velocisaurs. Due its unique morphological aspects it is defined a new ichnogenus and ichnospecies.
... Dentro desse vasto registro icnológico foi possível identificar a presença de invertebrados (e.g. Hexapodichnus, Paleohelcura), ornitópodes e terópodes bípedes, bem como e mamíferos (Leonardi & Oliveira, 1990;Fernandes & Carvalho, 2007;Fernandes et al., 2010;Francischini et al., 2020 (Souza et al., 1971;Würdig & Pinto, 2001). Entretanto, acredita-se que a maioria destes registros pertença a Formação Pirambóia (Francischini et al., 2018b). ...
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The Cenomanian–Turonian interval represents a critical period of faunal change during the Late Cretaceous. Although the main causes of this turnover are contentious, it is undeniable that these global events significantly influenced the last stages of dinosaur evolution. The Bauru Group in southeastern Brazil is known for its rich body-fossil record of crocodyliform and dinosaur remains, representing a key geological unit for understanding the evolution of continental biotas in the Upper Cretaceous of Gondwana. However, the ichnological record in these units are scarce, primarily consisting of invertebrate burrows and rare tetrapod traces. This study focuses on the newly discovered tracksite within the Cenomanian–Turonian Santo Anastácio Formation, marking the first dinosaur ichnofauna identified in the Bauru Group. The new ichnocoenosis includes four theropod morphotypes, a quadrupedal and a small bipedal ornithischian, bipedal and graviportal ornithopods, and a small, narrow-gauged sauropod trackmaker. These tracks provide new insights into the dinosaur faunas during the Cenomanian–Turonian interval and highlight the existence of clades not previously identified in the Bauru Group, particularly ornithischians. The absence of body fossils of these taxa in the younger strata of the Bauru Group indicates that the successive environmental fluctuations during the Cenomanian–Turonian may have been responsible for regional extinctions or migration of these animals to higher latitudes. This ecological shift might have allowed specialized crocodyliforms like sphagesaurians to fill the niches left by small herbivorous dinosaurs in the Bauru Group, while titanosaurians dominate the medium-to-large herbivore roles in these ancient ecosystems.
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This work aimed to investigate the ichnofossiliferous sites in Nioaque and surrounding region, Mato Grosso do Sul state, Brazil, analyzing their paleontological, stratigraphic and paleoenvironmental context, because dinosaur tracks were found in an area previously mapped as Permo–Carboniferous age. Some sedimentary facies previously assigned to the glacial Aquidauana Formation were herein reinterpreted as part of the basal section of the Botucatu Formation (Late Jurassic/Early Cretaceous) and include floodplain and residual channel deposits, possibly representing the lower half of this formation's sequence in the studied area. The ichnofossils that have been found include both isolated tracks of Theropoda and Ornithopoda, a trackway of Eubrontes isp., a vertebrate burrow and invertebrate traces (Palaeophycus) possibly related to the Entradichnus ichnofacies. Sedimentological interpretation suggests the existence of a river system just before the deposition of the typical Botucatu eolian facies in this region. This is the first documented record of fluvial deposits transitionally to the traditional eolian Botucatu Formation. Noteworthy, the dinosaur tracks have played a key role for the interpretation of these rocks as Botucatu Formation and for better understanding the whole system due to the impossible Paleozoic age (dinosaur tracks).
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The ichnogenus Brasilichnium Leonardi, 1981 is an early mammal track, presently recognized in several continents, but originally found in the aeolian deposits of Botucatu Formation in the Paraná Basin, Brazil. The sandstones of the Botucatu Formation are generally fine-grained and well-sorted, containing no pebbles; its color can be white, yellowish or reddish, but more commonly it is pinkish. Nearly always, it is silicified and therefore compact and hard, making it a very suitable building material. These sedimentary rocks are interpreted as a Lower Cretaceous desert regarded as the largest paleodesert in the Earth’s history. Although the aeolian environment is generally considered inadequate for track preservation, taphonomic events linked to moist dunes and microbial mats foster a good geological context for an early diagenization of the sediments. Brasilichnium is associated with a large ichnofauna of other mammal, theropod and ornithopod tracks, in addition to invertebrate traces. It is today a worldwide ichnogenus that allows an overview of the arid terrestrial ecosystems during Mesozoic. The presence of tritylodontids in the world after the end of the Triassic and up to the Late Cretaceous, and the possibility of attributing Brasilichnium and related ichnogenera to them, has been discussed at great length. It seems preferable, however, to suggest that these tracks can only belong to the crown-group Mammalia. Thus, these track-bearing deposits bear witness to small- and medium-size mammaliaform trackmakers; some of them would be remarkably larger than the coeval mammals represented by skeletal remains. This chronological discrepancy between ichnological and bone findings is not a surprising phenomenon: it is also known in other clades. A complete check of these tracks will have to be carried out. It would also be advisable to perform a review of all the tracks recently attributed to Brasilichnium world-wide. The Botucatu and Caiuá ichnofaunas and, globally, the ichnogenus Brasilichnium, should be stressed as an important window into the arid terrestrial ecosystems during the Gondwanic Cretaceous. This study is the result of forty-four years of research in the Botucatu Formation by the first author.
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The city of Araraquara in southeastern Brazil is unique regarding its paleontological record. Flagstones have been quarried from eolianites (Botucatu Formation, Lower Cretaceous) since the beginning of the twentieth century and used to pave and cover public and private spaces of the city. As a consequence, fossil tracks and traces (ichnofossils) of invertebrates, early mammals, and dinosaurs are widely distributed in the flagstones that pave the sidewalks of the city, right under the feet of Araraquara’s inhabitants. In this paper we aimed to characterize this unique fossil record, focusing on the main trace morphotypes and their conservation. In a survey conducted in 2007–2008, 585 trace fossil-bearing flagstones were identified across Araraquara, much of which are moderately to poorly preserved. Nevertheless, optimally preserved (elite) traces of very high scientific potential were also recorded. The present study also includes a history of investigations conducted regarding these materials and discusses different aspects, difficulties, and peculiarities of conservation efforts towards this urban paleontological heritage, including some recently achieved goals.
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ABSTRACT - The results of a number of expeditions (1979 - 85) to outcrops of the Botucatu formation in the State of São Paulo, Brazil are herein presented. The most important pieces from Araraquara here recorded, are the trackways: ARCE 1, morphologically next to Laoporus; ARCE 4, mammaloid; ARCE 6, attributable to a small bipedal dinosaur, with toes caracterized by a great variabili ty of position (functionally tridactyl to monodactyl); ARCE 7 also dinosauroid; other bigger dinosauroid trackways, all of them bipedal, referable both to Omithischians and to Saurischians; ARSB 62, 73, 97 and others. Long mammaloid trackways of good quality, classified Brasilichnium elusivum Leonardi; they allow to begin an examination of the behavior of the trackmakers, by means of statistics; ARSB 54 and 102, interesting new trackways of difficult interpretation; ARSB 113 and others kind of trackway of hopping gait; ARSB 3 and 95, 130 and ANNA 1, "ricochet" and/or gallop trackways of an animal with tridactyl hindfeet. Visits to some quarries in the Counties of Araraquara, São Carlos, Brodósqui and Rifaina are reported. Ichnological material from the sidewalks and wall-coating of Araraquara, São Carlos, Franca, Rifaina and other towns is herein recorded. A systematical survey in these towns is in process; we can syntetically record: dinosauroid, theromorphoid and mammaloid trackways; beside invertebrate trails and other traces. The ichnofauna in question (with 24 different forms) is proving of a difficult reading, but it is very useful for the knowledge of animal associations in the highlands and in the arid environment of the brazilian Mesozoic. The paper includes an account of how the 1st author could reach the extraction of about 60 flagstones from the sidewalks of Araraquara and São Carlos, after a very long insistence with and against the local municipal authorities. NB: Note that the actual more probable datation (2015) for Botucatu Formation is Lower Cretaceous.
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Sedimentary rocks in most Brazilian basins indicate the establishment of extensive paleodeserts from the Jurassic through the whole Cretaceous. In many basins, the occurrences of reptiles associated to these desertic settings are commonly recorded. This paper registers and describes eleven dinosaur footprints that occur in the upper Jurassic(?)/ lower Cretaceous of the Sanfranciscana Basin, Minas Gerais state, Brazil. The ichnofossils are present at the basal part of the Areado Group in a reddish sandstone interpreted as eolian facies of a humid interdune environment. These fossil footprints contribute to a better understanding of the paleogeographic distribution of the reptilian fauna in the south hemisphere during the Mesozoic times. The ichnofossils were codified as JPAR-01 to JPAR-11. The footprints were preserved as epireliefs filled with sandstone similar to the surrounding matrix. Three of them represent a small trackway, the rest are isolated forms, generally tridactyl, mesaxonic with the digitigrade aspects preserved in some cases. The general morphology attributes those fossil footprints to biped dinosaur - Theropoda, most probably carnosaurs and coelurosaurs. Some considerations about the occurrence and preservation of footprints in desertic environments are included. The more diverse biologic activity in deserts are concentrated in interdune areas. The parameters controlling the kind of activity in those settings are: humidity, sedimentation rate, and the size of surrounding dunes. The described footprints are analogs to some ichnofossils that occur in wadis facies of the Botucatu and Caiuá formations (Paraná Basin) and some of the Corda Formation (Parnaíba Basin). Unfortunately, the wide temporal amplitude and the preservational features of these prints make it difficult to obtain a detailed inference of their producers.
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ABSTRACT. A description and a revision of the Trìassic (Las Higueras, Ischigualasto, Quebrada Los Rastros, Rio Los Tarros-Sur Pagancillo and Los Menucos) and Jurassic (Estancìa Laguna Manantiales) tetrapod ichnofaunas of Argentina and of the Botucatu Formation at Araraquara (São Paulo, BraziI) are given. The structures of these ichno-assocìations are compared. The Triassic Argentinean ichnofaunas present therapsids and archosaurians, specially quadrupedal thecodonts. Mammals are very rare. In the Jurassic (Oxfordian) ichnofauna of Estancia Laguna Manantiales, mammals, accompanied by four dinosaurian forms, predominate. There are not obviously either therapsids nor quadrupedal thecodonts. The Botucatu Formation, whose age was up to now uncertain and is herein discussed, presents at Araraquara a rich ichnofauna. This includes many mammals, a few bipedal dinosaurs and some theromorphoid footprints, tentatively attributed to Tritylodontoidea. The Botucatu Formation, at least in the outcrops of the State of São Paulo and particularly in the Araraquara area, might be put into a period of time between the Rhaetian and Middle Jurassic, with a greater probability for Lower Jurassic or the lowest section of the Middle Jurassic. Keywords: JTetrapod footprìnts, Jurassic, Trìassic, Botucatu Formation, Argentina, Brazil.
Verschiedene mesozoische Wierbeltierreste aus Südamerika
HUENE, F. 1931. Verschiedene mesozoische Wierbeltierreste aus Südamerika. Neues Jahrbuch für Mineralogie, Geologie, Paläontologie Monastshefte 66(B):181-198.
Jazigo icnofossilífero do Ouro SP: ricas pistas de tetrápodes do Jurássico Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil
  • G Carvalho
LEONARDI, G. & CARVALHO, I.S. 2002. Jazigo icnofossilífero do Ouro, Araraquara, SP: ricas pistas de tetrápodes do Jurássico. In: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D.A.; QUEIROZ, E.T.; WINGE, M. & BERBERT-BORN, M.L.C. (eds.). Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM, p. 39-48.
Carnosauria The Dinosauria
  • R E Kurzanov
  • S M Zhiming
MOLNAR, R.E.; KURZANOV, S.M. & ZHIMING, D. 1990. Carnosauria. In: WEISHAMPEL, D.B.; DODSON, P. & OSMÓLSKA H. (eds.) The Dinosauria. University of California Press, p.169-209.
Luciana Bueno dos Reis Fernandes pelas sugestões e auxílio na elaboração das figuras Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (IVP-FAPERJ) pelo suporte financeiro
  • Agradecimentos Dra
AGRADECIMENTOS À Dra. Luciana Bueno dos Reis Fernandes pelas sugestões e auxílio na elaboração das figuras. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (IVP-FAPERJ) pelo suporte financeiro. As Universidades Federais do Rio de Janeiro e de São Carlos pelo suporte técnico e infra-estrutura.