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Identificação de padrões na linguagem gráfica verbal, pictórica e esquemática dos letreiramentos populares Identification of patterns in verbal, pictorial and schematic graphic language of popular letterings

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Abstract and Figures

As paisagens tipográficas urbanas de cada região podem revelar um pouco dos hábitos e costumes de seu povo, bem como elementos de sua cultura visual. Este artigo procura investigar a linguagem gráfica verbal, pictórica e esquemática utilizadas pelos pintores letristas profissionais nos letreiramentos populares de Pernambuco e busca identificar a existência de padrões ou convenções visuais peculiares a este universo. A metodologia de pesquisa adotada considerou duas etapas principais: a primeira consistiu em um estudo comparativo entre pesquisas de outros autores que observaram anteriormente estes artefatos em territórios diversos; a segunda buscou ampliar e detalhar os resultados da fase inicial através de uma pesquisa de campo para estudo de caso específico na cidade do Recife. Urban typographic landscapes of each region may reveal some of the habits and customs of its people, as well as elements of their visual culture. This article seeks to investigate the verbal, pictorial and schematic graphic language used by professional painters in popular forms of lettering in the state of Pernambuco, and also attempts to identify the existence of patterns or visual conventions common to this particular universe. The research methodology considered two main steps: the first consisted of a comparative study between the research of other authors that observed previously these artifacts in different territories, the latter aimed to expand and detail the results of the previous stage through a field research to develop a case study in the city of Recife.
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Identificação de padrões na linguagem gráfica verbal, pictórica e
esquemática dos letreiramentos populares
Identification of patterns in verbal, pictorial and schematic graphic language
of popular letterings
Fátima Finizola, Solange G. Coutinho
letreiramento popular, tipografia, linguagem gráfica verbal
As paisagens tipográficas urbanas de cada região podem revelar um pouco dos hábitos e costumes de
seu povo, bem como elementos de sua cultura visual. Este artigo procura investigar a linguagem gráfica
verbal, pictórica e esquemática utilizadas pelos pintores letristas profissionais nos letreiramentos
populares de Pernambuco e busca identificar a existência de padrões ou convenções visuais peculiares a
este universo. A metodologia de pesquisa adotada considerou duas etapas principais: a primeira consistiu
em um estudo comparativo entre pesquisas de outros autores que observaram anteriormente estes
artefatos em territórios diversos; a segunda buscou ampliar e detalhar os resultados da fase inicial através
de uma pesquisa de campo para estudo de caso específico na cidade do Recife.
popular lettering, typography, verbal graphic language
Urban typographic landscapes of each region may reveal some of the habits and customs of its people, as
well as elements of their visual culture. This article seeks to investigate the verbal, pictorial and schematic
graphic language used by professional painters in popular forms of lettering in the state of Pernambuco,
and also attempts to identify the existence of patterns or visual conventions common to this particular
universe. The research methodology considered two main steps: the first consisted of a comparative study
between the research of other authors that observed previously these artifacts in different territories, the
latter aimed to expand and detail the results of the previous stage through a field research to develop a
case study in the city of Recife.
1 Introdução
No corre-corre incessante das grandes cidades, mergulhamos numa rotina por vezes exaustiva
e deixamos de lado o hábito de contemplar a paisagem da nossa própria cidade. As ruas,
becos, esquinas e avenidas nos convidam a observar com outros olhos as manifestações
gráficas da nossa paisagem urbana, e podem nos revelar um pouco dos hábitos e costumes de
cada povo, bem como elementos de sua cultura visual. Segundo Walker (2001, p:10), Baron
observa que “as características da linguagem escrita são sempre moldadas por variáveis
sociais, econômicas, educacionais ou tecnológicas, de acordo com determinada sociedade,
linguagem ou tempo”.
Ao caminharmos por nossa cidade percebemos que existe uma série de interferências
tipográficas urbanas que convivem conosco no nosso dia a dia. Fachadas de estabelecimentos,
placas indicativas de ruas, propagandas em muros e faixas, letreiramentos populares, lambe-
lambes, pichações e grafites, entre outras inscrições que disputam acirradamente os espaços de
comunicação.
Parte desses artefatos é desenvolvida por designers e publicitários, geralmente a partir de
sistemas de impressão mecânicos e digitais e dispostos na cidade em espaços
regulamentados por órgãos oficiais; o restante é desenvolvido por cidadãos comuns, em sua
maioria por meio de processos manuais, caracterizando-se como instrumentos de comunicação
alternativos que ocupam de forma aleatória os espaços públicos.
Coutinho (2007) observa que: “paralelamente a uma tipografia denominada canônica, com
suas regras e implicações, há aquela produzida por indivíduos que se encontram à margem do
sistema dominante” (Coutinho, 2007, p:4). Nesse contexto, Dohmann (2007) identifica a
tipografia vernacular, como aquela que surge do intermédio entre a necessidade de transmitir
algo e uma carência de conhecimento mais apurada, construída a partir da restrita bagagem
cultural de indivíduos que desconhecem os postulados das técnicas acadêmicas e
escolarizadas (Dohmann, 2007, p:38).
Particularmente, no universo da tipografia vernacular, os letreiramentos comerciais
populares nos chamam a atenção pela originalidade e diversidade de soluções gráficas
empregadas para articulação do texto e imagem nas mensagens, por meio da combinação
entre tipografias, ilustrações e grafismos peculiares. Identificamos os letristas populares como
os principais responsáveis pela sua produção. Notamos, entretanto, que há certa hierarquia
entre estes artífices: existem aqueles letristas considerados profissionais, que possuem um
elevado domínio técnico do ofício de pintar letras, e que fazem dessa prática sua fonte de
renda; por outro lado, há também os letristas ocasionais, que pintam letreiros no improviso com
o objetivo de suprir uma necessidade comunicacional emergente, de forma rápida e objetiva.
Finizola (2010b) aponta que há duas vertentes que norteiam o processo de elaboração dos
letreiramentos populares: o primeiro grupo, que ela denomina especificamente de manuscritos
populares, caracteriza-se por uma produção mais espontânea e ingênua, geralmente produzida
por pessoas comuns ou donos dos próprios estabelecimentos comerciais de maneira
improvisada sem nenhum projeto prévio. Já o segundo grupo, abarca a produção de inscrições
comerciais desenvolvidas por artífices profissionais, que geralmente não passaram por nenhum
curso técnico no ofício de desenhar letreiros, mas que desenvolvem regularmente essa
atividade e possuem um domínio mais elevado das técnicas de pintura e desenho de letras.
Objetivos gerais e específicos
O estudo elaborado neste artigo apresenta um desdobramento dos procedimentos
metodológicos desenvolvidos por Finizola (2010a) durante a pesquisa de mestrado „Panorama
Tipográfico dos Letreiramentos Populares um estudo de caso na cidade do Recife‟, cujo
objetivo geral foi o de investigar a produção de letreiramentos populares de Pernambuco em
busca de traçar um perfil da produção destes artefatos nesta região, com ênfase nos seus
aspectos tipográficos.
Como objetivo específico deste artigo, propomos uma reflexão sobre a linguagem gráfica
verbal, pictórica e esquemática presente nos letreiramentos populares, em busca de identificar
padrões na articulação das informações nos artefatos comunicativos provenientes do design
vernacular.
No contexto desta pesquisa, ao utilizarmos a expressão letreiramentos populares
empregaremos o termo „letreiramento‟ na sua forma mais abrangente, como uma técnica que
inclui todo e qualquer desenho de letras, independentemente da ferramenta, método ou
suporte utilizado para sua reprodução, porém considerando apenas aqueles artefatos
confeccionados por técnicas manuais, como a pintura, por artífices muitas vezes anônimos que
não passaram por nenhuma formação acadêmica na área.
2 Definindo a linguagem gráfica
Para o desenvolvimento de nossas tarefas rotineiras podemos identificar diferentes tipos de
linguagem que utilizamos diariamente.
Twyman (1982) aponta que do ponto de vista da linguística, a linguagem é dividida em duas
grandes áreas: a falada e a escrita; e do ponto de vista do design gráfico a linguagem é
dividida em verbal e pictórica. No entanto, Twyman sugere um modelo que acomoda tanto a
abordagem lingüística quanto a gráfica, onde demonstra a distinção entre o modo e o canal de
comunicação em relação à linguagem (figura 1).
Figura 1: Modelo de Twyman construído a partir de uma abordagem lingüística e gráfica em relação à linguagem (fonte:
Finizola, 2010b).
Com a finalidade de compreendermos melhor o processo de articulação da linguagem
gráfica nos artefatos pertencentes ao universo da comunicação popular, em busca de
investigar a existência padrões ou convenções recorrentes no contexto daqueles artefatos
desenvolvidos por letristas profissionais, elegemos dentre os estilos de linguagem apontados
por Twyman (1982), a linguagem gráfica verbal, pictórica e esquemática como nosso objeto de
estudo.
Na perspectiva do presente estudo consideramos que a linguagem gráfica verbal
compreende os caracteres ortográficos, para-ortográficos e dígitos utilizados para a
representação da escrita, enquanto a linguagem gráfica esquemática engloba aqueles artifícios
gráficos utilizados para facilitar a organização visual do texto, como barras, fios, etc. que
geralmente não se enquadram na categoria pictórica (Finizola, 2010b).
3 Identificando padrões na linguagem gráfica dos Letreiramentos Populares
Se olharmos com atenção, a gráfica popular possui uma assombrosa coerência, apesar de suas
manifestações concretas [letreiros, murais, anúncios, etc.] terem sido feitas por pessoas distantes
tanto no tempo como no espaço. Chama a atenção, por exemplo, que certos elementos gráficos,
como símbolos, letras e cores, apareçam sem grandes variações em lugares distantes e ainda que
tenham sido feitos por pessoas distintas em épocas diferentes. Inclusive, há elementos que
transpassam as fronteiras nacionais, e que podem chegar a ser considerados como pertencentes à
cultura latinoamericana. (Rojas & Soto, 2001, p:1).
De acordo com Finizola (2010b) a elaboração dos letreiramentos populares não é uma
prática tipicamente brasileira, pois a encontramos em outros países. Mais do que relacionados
a um território específico, a autora observou algumas evidências de que os letreiramentos
apresentam características recorrentes em virtude das ferramentas de trabalho em comum
utilizadas para executá-los, bem como das técnicas empregadas, geralmente construídas de
forma intuitiva, muitas vezes desvinculadas de uma formação especializada na área. A autora
também aponta que assim como o estilo caligráfico gótico, que se estendeu em vários padrões
visuais em diferentes países da Europa, podemos inferir que também existam padrões visuais
de letreiramentos populares mais ou menos peculiares a essa ou àquela região, de acordo com
suas influências e referências culturais.
A partir do levantamento de outras pesquisas realizadas sobre os letreiramentos populares
e temáticas correlacionadas, como os manuscritos populares, a tipografia vernacular e a
tipografia popular, tentamos traçar um perfil geral desse artefato de comunicação, sob o ponto
de vista do design gráfico, com ênfase em seus aspectos tipográficos. Nesse sentido, pudemos
identificar certos padrões visuais recorrentes, mesmo em diferentes lugares e culturas.
Métodos de Análise
Para o desenvolvimento da análise dos letreiramentos populares e suas convenções gráficas
verbais, pictóricas e esquemáticas, foi realizada uma investigação de acordo com duas etapas
distintas:
Fase 1 | Revisão bibliográfica de 5 autores brasileiros e 1 estrangeiro que já realizaram
análises semelhantes a partir da observação do mesmo objeto de estudo os letreiramentos
populares -, para verificar as características comuns já identificadas por eles em territórios
diversos: Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará, Pará e Inglaterra de acordo com o Quadro1:
Quadro 1: Autores selecionados para a investigação
Autor selecionado para análise
Região observada
Alan Lima Coutinho
Recife | PE
Bianca Faria
Recife | PE
Fernanda de Abreu Cardoso
Rio de Janeiro | RJ
Tarcísio Martins Filho e Juliana Lotif
Fortaleza | CE
Fernanda Martins
Belém | PA
Sue Walker
Inglaterra
Filho & Lotif (2010) foram acrescentados à amostra num momento posterior aos outros
autores, por verificarem a mesma ocorrência das características elencadas por Finizola (2010a)
também nos letreiramentos populares da cidade de Fortaleza.
Fase 2 | Pesquisa de Campo na cidade do Recife para registro e catalogação de letreiramentos
populares pertencentes a paisagem urbana desta cidade por meio de fichas de análise, para
posterior exame dos elementos mais expressivos da linguagem gráfica verbal, pictórica e
esquemática presentes nestes artefatos, em busca de ampliar os dados coletados na fase
anterior.
A ficha de análise desenvolvida contemplou com maior ênfase os aspectos da linguagem
gráfica verbal presentes nos letreiramentos populares, de acordo com os aspectos intrínsecos
e extrínsecos
1
da linguagem gráfica de cada artefato observado. Os elementos intrínsecos
foram catalogados de acordo com oito atributos formais da tipografia, elencados por Dixon
(2008): construção, forma, proporção, modulação, peso, serifas/terminais, decoração e
caracteres-chave. Já os elementos extrínsecos observados foram cor, alinhamento, disposição
das letras e uso de minúsculas e maiúsculas.
Apesar de serem encontrados numa incidência relativamente menor nos artefatos
registrados, os elementos da linguagem pictórica e esquemática também foram analisados. No
caso da linguagem esquemática, o instrumento de análise possibilitou registrar e descrever
livremente os elementos mais empregados para organizar o texto. A análise da linguagem
pictórica foi realizada a partir do registro do tema da ilustração, bem como o seu estilo
realista, icônico ou abstrato.
Universo de Análise
Foi desenvolvida uma pesquisa de campo exploratória inicial onde foram registrados 50
letreiramentos de forma indiscriminada para familiarização com o objeto de estudo. Em um
segundo momento, através de uma pesquisa de campo sistematizada, foram registrados e
1
Segundo Twyman (1981), podemos dividir as características da linguagem gráfica em duas categorias: os aspectos
intrínsecos e extrínsecos. Os intrínsecos se referem aos elementos que definem a forma particular de cada letra,
caracterizando um conjunto específico de caracteres, definindo seu estilo; os extrínsecos se referem à relação entre os
caracteres e o suporte, a maneira como são configuradas e organizadas as informações num layout, influenciando
diretamente a hierarquia das informações.
catalogados, por meio das fichas de análise, 80 artefatos de comunicação popular de acordo
com quatro roteiros urbanos que contemplaram vários bairros da cidade do Recife.
4 Resultados
A partir da análise das pesquisas catalogadas durante a fase 1 da investigação, traçamos um
perfil geral dos artefatos de comunicação popular, sob o ponto de vista do design gráfico,
elencando as principais características formais dos letreiramentos populares recorrentes nas
obras estudadas (Quadro 2).
Quadro 2: Resumo inicial das principais características formais dos letreiramentos populares (Finizola, 2010b)
Principais características formais dos letreiramentos populares
01
Predominância de maiúsculas.
02
Mistura ou alternância, em uma mesma sentença, de variações de estilo, corpo e peso.
03
Proporções das letras adaptadas às circunstâncias específicas de cada suporte.
04
Textura da ferramenta aparente (pincel).
05
Caracteres-chave definidos de acordo com o traço específico de cada artista.
06
Preferência por fontes sem serifa e pouca incidência de cursivas.
07
Uso de recursos decorativos nas tipografias: sombras, contornos, hachuras, simulação de volume.
08
Preferência por alinhamento centralizado ou justificado.
09
Disposição de textos em curva, na vertical ou inclinados.
10
Elementos esquemáticos recorrentes na articulação do texto: fios, balões, boxes, asteriscos,
molduras e setas.
Partindo das observações gerais em relação aos aspectos gráficos dos letreiramentos
populares, passamos para um estudo de caso específico dos letreiramentos na cidade do
Recife, a fim de verificar a incidência das características assinaladas nas pesquisas anteriores,
bem como detalhar e ampliar as informações do quadro inicial proposto. Dessa forma iniciamos
a fase 2 da investigação, com o objetivo de identificar padrões na linguagem gráfica verbal,
esquemática e pictórica nos letreiramentos que constituíram nosso universo de análise.
Apresentamos a seguir os principais resultados apontados por Finizola (2010b).
Observações quanto à Linguagem Gráfica Verbal
De forma geral, os letreiramentos populares apresentam padrões irregulares em alguns
atributos formais, mesmo quando desenvolvidos por letristas especialistas, provavelmente
devido às técnicas manuais empregadas para sua confecção. Há uma grande mistura de vários
estilos de letras em um mesmo artefato, e mesmo identificando dois ou três padrões
tipográficos nestas peças, estes apresentam variações de contraste, peso, largura ou
inconsistências no estilo de seus terminais e serifas.
Quanto à forma de representação da linguagem gráfica verbal, pudemos observar três
caminhos utilizados como base para a construção dos letreiramentos: derivada de referências
tipográficas, referências caligráficas ou desenvolvida a partir do desenho (Figura 2).
Figura 2: Letreiramentos com referência a fontes tipográficas, estilos caligráficos e derivados de desenhos (fonte: Finizola,
2010b)
Entre as fontes tipográficas referenciadas com mais frequência no trabalho dos letristas do
Recife estão as fontes sem serifa geométricas, como a Futura; fontes sem serifa monolineares
com terminais arredondados, como a Arial Rounded; e algumas fontes serifadas,
preferencialmente de serifa quadrada ou curva, como a Serifa BT.
Ao compararmos os letreiramentos com os estilos caligráficos históricos, nota-se também,
de forma geral, similaridades com as características formais mais marcantes de alguns desses
estilos ou, especificamente, com algumas formas caligráficas isoladas (Figura 3).
Figura 3: Letreiramentos com referência a formas caligráficas (fonte: Finizola, 2010b)
A partir dos resultados obtidos durante as pesquisas de campo e catalogação dos artefatos
registrados por meio da ficha de análise, apresentamos detalhadamente nos Quadros 3 e 4 e
nas Figuras 4 e 5 os principais padrões identificados quanto aos aspectos intrínsecos e
extrínsecos da linguagem gráfica verbal dos letreiramentos populares da cidade do Recife.
Quadro 3: Principais características dos aspectos intrínsecos da LGV dos letreiramentos populares de PE
Padrões Encontrados
a. Predominância de caracteres construídos de modo contínuo, sem
interrupções ou quebras ao longo de suas hastes.
b. Identificação de referências claras à ferramenta de trabalho utilizada para
desenvolver o letreiramento, de forma natural ou planejada. A referência
Padrões Encontrados
natural ocorre, por exemplo, por meio da impressão das pinceladas do letrista
sobre o seu suporte. a planejada é percebida por meio da decoração de
algumas hastes com marcas de pincel ou do uso de hastes cruzadas, que deixam
transparecer o movimento de construção de cada letra.
c. Forte tendência para o uso quase exclusivo de letras maiúsculas nos
letreiramentos. Baixa incidência de letras em estilo mais cursivo que utilizam
conexões entre letras.
a. Predominância de malhas construtivas em formato retangular, em que a
altura total do corpo de cada letra é maior que sua largura. Registro de
poucos casos que se utilizam de malhas com formato mais quadrado, ou
mesmo hexagonal, fazendo referência ao estilo gótico textura.
b. Uso da malha construtiva retangular de duas formas: invisível ou visível. No
primeiro caso a malha empregada serve como linhas-guias para orientar a
proporção das letras; no segundo, a malha torna-se claramente perceptível
resultando num estilo de letreiramento de perfil quadrado.
c. Uso balanceado de letras em estilo romano e itálico. Incidência também de
peças mistas que alternam mais de um estilo na composição de uma mesma
palavra, talvez por imperícia do próprio pintor.
a. Preferência pelo uso de letras com largura condensada ou normal. Registro
discreto de artefatos elaborados com letras expandidas ou
superrexpandidas, cuja largura dos caracteres é igual ou maior do que a
altura das maiúsculas.
b. O uso predominante de maiúsculas dificultou o registro de padrões
significativos entre a relação altura-x e largura dos caracteres.
a. Predominantemente, nota-se uma falta de consistência e uniformidade na
aplicação da modulação no desenho dos caracteres de um mesmo artefato,
devido à grande irregularidade no desenho dos caracteres presentes na
maioria dos letreiramentos. É comum a variação da modulação ao longo de
uma mesma palavra, oscilando a forma de aplicação de contraste nas
hastes das letras, talvez pelo fato dos letristas não possuírem plena
consciência do seu uso.
b. Mais da metade da amostra estudada apresentou modulação nas hastes das
letras usando preferencialmente o eixo oblíquo ou vertical. No restante dos
letreiramentos modulados, não foi possível identificarmos claramente o eixo,
pois seu emprego ocorre de forma inconstante, ou é notado apenas a partir
de variações de espessura, mais expressivas, nos terminais das hastes.
c. Maior incidência de modulações suaves do que abruptas, ou ainda do seu
uso alternado.
d. Registro de letreiramentos que possuem hastes praticamente monolineares,
que fazem aplicação da variação de modulação mais perceptível apenas nos
terminais e remates.
a. Preferência pelo uso de tipos com peso bold, provavelmente em virtude do
caráter comercial dos artefatos analisados, que devem atrair a atenção,
mesmo estando posicionadas a uma longa distância de seu público. A
escolha de pincéis, geralmente de espessura mais grossa, também contribui
para esse resultado.
Padrões Encontrados
b. Incidência também de letreiramentos com peso regular, extrabold e light,
porém em menor quantidade.
a. Pouca incidência do uso de serifas. Mesmo os letristas que reproduzem
estilos tipográficos clássicos, geralmente optam por fazer referência às
fontes da classe das grotescas.
b. Preferência pelo uso de serifas de junção suave com as hastes, em
detrimento de junções abruptas.
c. Uso restrito de serifas com referência a formas de serifas tipográficas
conhecidas quadradas, triangulares, curvas e toscanas.
d. Identificação de dois estilos de serifas peculiares aos letreiramentos
populares: as serifas arredondadas e as proto-serifas. As serifas
arredondadas são similares às triangulares, porém são mais espessas e
suas extremidades são redondas e não pontudas. Já as proto-serifas
caracterizam-se como terminais que sugerem a formação de serifas, porém
de forma incompleta ou irregular, às vezes, pronunciando-se apenas para
um dos lados da base das hastes e apresentando, de forma geral, um
aspecto arredondado.
e. Discreta preferência pelo uso de terminais retos, tanto na finalização das
ascendentes como na linha de base. Verifica-se também um número
expressivo de letras com extremidades arredondadas ou irregulares.
f. Presença de terminais denominados de „caligráficos‟ naqueles
letreiramentos que tomam partido de estilos mais cursivos, que deixam
transparecer os movimentos do pincel.
g. Uso restrito de terminais com referência aos terminais clássicos da
tipografia, tais como, lágrima, bico ou circulares.
a. Uso significativo de efeitos decorativos no desenho dos caracteres de quase
todos os letreiramentos analisados. Entre eles, podemos destacar o uso com
maior frequência de sombras, contornos e efeitos 3D, bem como alguns
casos peculiares onde foram empregadas letras bicolores, hastes com
decoração externa ou interna, perspectivas, hastes duplas e caudas.
a. Identificação de um „conjunto‟ diversificado de caracteres-chave em cada
letreiramento, geralmente definido pelo traço de cada pintor. Devido à forte
tendência caligráfica presente neste universo, observamos que quase todos
caracteres apresentam características únicas, ao contrário das fontes
tipográficas, nas quais apenas um caractere pode fazer a distinção entre
uma fonte e outra.
b. Registro de formas variantes de algumas letras do alfabeto romano, tais
como a letra “A” sem o ápice superior; a letra “E” com a haste horizontal da
linha de base substituída por um arco; a letra “C” com arco superior
“quebrado”; e a letra “X” com uma das diagonais substituída por uma curva
sinuosa.
c. Registro de peculiaridades estruturais percebidas de forma recorrente em
muitos artefatos, como pinceladas aparentes, arcos fraturados, hastes
curvas, barras inclinadas entre outros recursos.
Figura 4: Aspectos intrínsecos dos letreiramentos populares (fonte: Finizola, 2010b)
Quadro 4: Principais características dos aspectos extrínsecos da LGV dos letreiramentos populares de PE
Padrões Encontrados
a. Tendência ao uso restrito de cores em cada peça, geralmente alternando a
combinação entre uma ou duas tonalidades diferentes.
b. Preferência pelo uso de cores primárias e algumas secundárias, entre elas,
o vermelho, o amarelo, o azul, o verde, o branco e o preto.
c. Identificações de combinações cromáticas recorrentes também nas
combinações entre figura/fundo, sendo frequente o uso de fundos mais
claros, como o branco ou o amarelo, em contraste com letras nas cores
vermelho, azul ou preto, ou de fundos mais escuros, como o vermelho, o
azul-marinho e o preto em contraste com letras brancas.
a. Predominância do uso de alinhamento de forma irregular, desvinculado de
um eixo visual marcante, ou que mescla mais de um estilo de alinhamento
ao mesmo tempo.
b. Preferência pelo uso de alinhamento centralizado, seguido pelo justificado
ou à esquerda, naqueles artefatos que o utilizam de maneira mais regular.
c. Posicionamento do texto no suporte de formas diversificadas. Preferência
pela disposição das letras a partir de um eixo horizontal ou em diagonal,
combinado com linhas de base lineares ou curvilíneas.
d. Disposição de textos no layout também definida ou ajustada de acordo com
o espaço disponível no suporte de cada artefato.
a. Preferência geral pelo uso exclusivo do texto em maiúsculas em quase todos
os letreiramentos analisados. Em menor escala também verificamos a
combinação de palavras em maiúsculas com palavras em minúsculas ou
versaletes.
b. Não foi registrado o uso alternado de letras maiúsculas e minúsculas em
uma mesma palavra, porém notamos a utilização de algumas maiúsculas
com estrutura semelhante às formas minúsculas (ou cursivas) das mesmas,
a exemplo do “u”, “i” e do “k”.
a. Registro de convenções gráficas recorrentes na formatação de algumas
informações ou textos específicos.
b. Uso de letras minúsculas ou maiúsculas em corpo reduzido para grafar
preposições ou conjunções de texto como “e”, “ou”, “em”, “DO”, “C/” etc.
c. Na formatação de valores promocionais, nota-se o uso recorrente dos
algarismos referentes aos centavos em corpo reduzido e, às vezes,
sublinhados.
d. O uso de palavras indicativas de preço, como “A PARTIR” e “À VISTA”,
geralmente também antecedem o valor em tamanho reduzido.
Figura 5: Aspectos extrínsecos dos letreiramentos populares (fonte: Finizola, 2010b)
Observações quanto à linguagem gráfica pictórica e esquemática
No estudo de caso específico desenvolvido na cidade do Recife, observa-se uma
predominância de artefatos de comunicação popular que fazem uso preferencial apenas da
linguagem gráfica verbal ou da linguagem gráfica verbal em conjunto com elementos da
linguagem gráfica esquemática. Aqueles artefatos que recorrem ao uso de elementos pictóricos
geralmente fazem referência direta a algum estabelecimento comercial ou serviço específico.
Dentre os elementos esquemáticos catalogados notamos que seu uso geralmente varia
entre três funções básicas: organizar, destacar ou decorar o texto. Por exemplo, observa-se
que linhas, tracejados ou campos coloridos são empregados com freqüência para organizar e
distribuir as informações no espaço do layout; já as molduras, balões, „splashes‟ ou hachuras
também podem ser utilizadas para destacar informações importantes. Nota-se ainda a
aplicação de asteriscos para decorar os espaços em branco do suporte.
Os elementos pictóricos também servem para compor o espaço diagramado pelo letrista,
geralmente com a função de identificar de maneira objetiva o tipo do negócio a que o
letreiramento comercial se refere, tais como as associações freqüentemente utilizadas entre
cabeleireiro>tesoura, cabeleireiro>pente, lanchonete>hambúrguer, sapateiro>sapato,
chaveiro>chave, entre outras. Nestes casos nota-se que a informação pictórica geralmente é
redundante em relação à informação presente no texto do artefato e não complementar.
Dentre os letreiramentos analisados, a grande maioria optou pelo uso de ilustrações sintéticas
como ícones e pictogramas e o restante apresentou ilustrações realistas, abstratas ou
reprodução de logotipos já existentes (Figura 6).
Figura 6: Elementos esquemáticos e pictóricos dos letreiramentos populares do Recife (fonte: Finizola, 2010b)
5 Considerações finais
A análise desenvolvida neste artigo aponta evidências que existam alguns padrões visuais na
linguagem gráfica verbal, esquemática e pictórica dos letreiramentos populares recorrentes em
várias regiões, nem sempre diretamente relacionados com influências e referências culturais do
território onde está inserido. Estudar a articulação dos elementos da linguagem gráfica nos
artefatos da comunicação popular pode sugerir a existência de um conhecimento prévio
inerente aos indivíduos comuns, mesmo desprovidos de um estudo especializado na área do
design.
Novas perguntas surgem e apontam caminhos para pesquisas futuras: onde são adquiridos
estes conhecimentos? Os padrões são construídos através de réplicas dos elementos da
cultura mainstream? Ou será que há padrões universais ensinados ainda na fase escolar que
direcionam mais adiante o trabalho dos pintores letristas? Será que há uma cultura visual
popular, que ultrapassa as fronteiras de territórios? Qual o limite entre estes padrões
elementares comuns em todas as regiões e aqueles elementos peculiares a determinado
território que identificam traços de uma cultura específica?
Nesse sentido, este artigo representa uma pequena contribuição para um campo de
pesquisa que ainda encontra-se em plena expansão e torna-se também uma forma de registrar
a memória gráfica brasileira, com ênfase na produção do design vernacular.
Este artigo se insere no projeto de pesquisa Memória Gráfica Brasileira: estudos comparativos de
manifestações gráficas nas cidades do Recife, Rio de Janeiro e São Paulo (PROCAD/CAPES 08/2008).
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Rojas, L. Soto, J. (2001). Resumen proyecto rescate de tipografias urbano populares chilenas.
Disponível em: <http://www.tipografia.cl>. Acesso em: 13 set. 2007.
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Singapura: Pearson Education Limited.
Sobre os autores
Fátima Finizola, Doutoranda. UFPE: Sócia-diretora da Corisco Design e colaboradora do
projeto Crimes Tipográficos. Atualmente integra também a diretoria da ADG Brasil. Autora do
livro „Tipografia Vernacular Urbana: uma análise dos letreiramentos populares‟ pela Editora
Blucher. A tipografia e o design vernacular são as suas principais áreas de pesquisa.
fatima.finizola@gmail.com
Solange Galvão Coutinho, PhD. UFPE: Graduada em Comunicação Visual (UFPE/1980);
Doutorado em Typography & Graphic Communication, University of Reading (1998);
Professora/Pesquisadora da UFPE (1984/atual); Pesquisadora do Centre de Recherche
Images, Cultures et Cognitions (CRICC), Paris 1 - Pantheon Sorbonne; Líder do Grupo de
Pesquisa em Design da Informação (CNPq).
solangecoutinho@globo.com
Article
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Este texto investiga as classificações Contemporâneas do produto Livro Ilustrado da Literatura Infantil. A investigação propõe uma unificação destas classificações. Tal objetivo é caracterizado como descritivo e interpretativo, de abordagem qualitativa. O estudo se baseia em pesquisas documental e bibliográfica, e foi estruturado da seguinte forma: descrição das classificações Contemporâneas do produto Livro da Literatura Infantil, reordenamento das classificações existentes e a proposição de uma unificação. Espera-se que o estudo possa contribuir com pesquisas acadêmicas relacionadas ao Design do Livro Ilustrado da Literatura Infantil. Palavras-chave: Design Editorial; Literatura infantil; classificações dos livros de Ilustração.
Article
This paper draws attention to the 'language element' of graphic communication. It is argued that we need better tools for thinking about this and related matters; models are proposed which draw attention to general issues and aim to help break down barriers between different means of production. It is proposed that such general issues should be discussed at all levels of education because designers of graphic messages in the future are increasingly likely to be non-specialists. Finally, it is suggested that only in the light of a serious study of graphic language requirements will we be in a position to design satisfactory new systems and make good use of them.
Describing typeforms: a designer " s response. InfoDesign -Revista Brasileira de Design da Informação
  • C Dixon
Dixon, C. (2008). Describing typeforms: a designer " s response. InfoDesign -Revista Brasileira de Design da Informação, v. 5, n. 2, p 21-35.
Pintores de letras brasileiros. Cadernos de Tipografia, n.3. Lisboa Disponível em: <http://www.tipografos.net/cadernos> Acesso em: 14 jun
  • M V Dohmann
Dohmann, M. V. (2008). Pintores de letras brasileiros. Cadernos de Tipografia, n.3. Lisboa, 2007. Disponível em: <http://www.tipografos.net/cadernos>. Acesso em: 14 jun. 2008. p 37- 40.
Tipografia Popular: o ilegível como caminho para a percepção da materialidade
  • B G Martins
Martins, B. G. (2007). Tipografia Popular: o ilegível como caminho para a percepção da materialidade. São Paulo: Annablume.
Parâmetros gerais para a tipografia vernacular? A verificação da hipótese em Fortaleza
  • T M Filho
  • J Lotif
Filho, T. M. Lotif, J. (2010). Parâmetros gerais para a tipografia vernacular? A verificação da hipótese em Fortaleza. Anais do XII Congresso de Ciências da Comunicação da Região Nordeste.
Resumen proyecto rescate de tipografias urbano populares chilenas. Disponível em: <http://www.tipografia.cl>. Acesso em: 13 set
  • L Rojas
  • J Soto
Rojas, L. Soto, J. (2001). Resumen proyecto rescate de tipografias urbano populares chilenas. Disponível em: <http://www.tipografia.cl>. Acesso em: 13 set. 2007.
  • Solange Galvão Coutinho
  • Phd
  • Ufpe
Solange Galvão Coutinho, PhD. UFPE: Graduada em Comunicação Visual (UFPE/1980);
Letras que Flutuam: o abridor de letra e a tipografia vitoriana. Monografia de Especialização em Semiótica e Cultura Visual não publicada
  • F Martins
Martins, F. (2008). Letras que Flutuam: o abridor de letra e a tipografia vitoriana. Monografia de Especialização em Semiótica e Cultura Visual não publicada. Universidade Federal do Pará, UFPA, Belém.