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Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na Óptica da Gestão * Barrier-Islands Vulnerability and Ria Formosa Dynamics under a Management Viewpoint

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RESUMO O sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa oferece excelentes condições a diversas actividades, das quais se podem salientar as turístico-balneares. Desde os anos 60 que essas actividades vêm sendo exercidas com grande intensidade, com a construção de infra-estruturas e cargas superiores ao limite de capacidade em algumas ilhas, sendo mais notável na chamada «Praia de Faro», na Península do Ancão. Há, porém, que atender à instabilidade que caracteriza este sistema, o qual impõe fortes condicionamentos à sua ocupação, uma vez que esta tende a localizar-se em zonas muito vulneráveis e de grande risco. Como a maioria dos sistemas deste tipo, a Ria Formosa apresenta um carácter extremamente dinâmico, tanto na evolução das ilhas como das barras. A ocorrência de temporais e a elevação do nível médio do mar são os principais factores que conduzem a uma elevada susceptibilidade a galgamentos oceânicos, neste sistema. É nas ilhas-barreira que ocorrem os maiores problemas de gestão do sistema. Com vários grupos de interesse envolvidos torna-se necessário manter uma gestão eficiente no sistema de ilhas-barreira. A intervenção é, actualmente, urgente, correndo-se o risco do sistema se perder de forma irreversível. Tal intervenção deverá ser ampla e cautelosa. Para tal, esta terá que ser suportada e apoiada por uma sólida base de investigação científica, não menosprezando aspectos de carácter social, económico e ambiental. Podem destacar-se três técnicas de intervenção a serem adoptadas: intervenção rígida, intervenção suave e demolição de infra-estruturas. Palavras-chave: Ria Formosa, ilhas-barreira, barras, gestão, vulnerabilidade. ABSTRACT The barrier-islands system of Ria Formosa is an important natural resource providing many conditions to several activities, such as tourism. Since the 1960s, tourism has been intense on some islands, particularly «Praia de Faro» at Ancão Peninsula, with the construction
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Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na
Óptica da Gestão*
Barrier-Islands Vulnerability and Ria Formosa Dynamics under a
Management Viewpoint
Filipe Rafael Ceia1
RESUMO
O sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa oferece excelentes condições a diversas actividades, das quais se podem
salientar as turístico-balneares. Desde os anos 60 que essas actividades vêm sendo exercidas com grande intensidade, com
a construção de infra-estruturas e cargas superiores ao limite de capacidade em algumas ilhas, sendo mais notável na
chamada «Praia de Faro», na Península do Ancão. Há, porém, que atender à instabilidade que caracteriza este sistema, o
qual impõe fortes condicionamentos à sua ocupação, uma vez que esta tende a localizar-se em zonas muito vulneráveis e
de grande risco.
Como a maioria dos sistemas deste tipo, a Ria Formosa apresenta um carácter extremamente dinâmico, tanto na
evolução das ilhas como das barras. A ocorrência de temporais e a elevação do nível médio do mar são os principais
factores que conduzem a uma elevada susceptibilidade a galgamentos oceânicos, neste sistema.
É nas ilhas-barreira que ocorrem os maiores problemas de gestão do sistema. Com vários grupos de interesse envolvidos
torna-se necessário manter uma gestão eficiente no sistema de ilhas-barreira. A intervenção é, actualmente, urgente,
correndo-se o risco do sistema se perder de forma irreversível. Tal intervenção deverá ser ampla e cautelosa. Para tal, esta
terá que ser suportada e apoiada por uma sólida base de investigação científica, não menosprezando aspectos de carácter
social, económico e ambiental. Podem destacar-se três técnicas de intervenção a serem adoptadas: intervenção rígida,
intervenção suave e demolição de infra-estruturas.
Palavras-chave: Ria Formosa, ilhas-barreira, barras, gestão, vulnerabilidade.
ABSTRACT
The barrier-islands system of Ria Formosa is an important natural resource providing many conditions to several activities, such as
tourism. Since the 1960s, tourism has been intense on some islands, particularly «Praia de Faro» at Ancão Peninsula, with the construction
* Submissão – 14 Fevereiro 2009; Avaliação – 19 Março 2009; Recepção da versão revista – 11 Abril 2009; Disponibilização on-line - 13 Maio 2009
1 e-mail: ceiafilipe@zoo.uc.pt, IMAR, Departamento de Zoologia, Universidade de Coimbra, 3004-517 Coimbra
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Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1):57-77 (2009)
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Filipe Rafael Ceia
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1. INTRODUÇÃO
1.1. A Ria Formosa
A Ria Formosa é a unidade fisiográfica dominante
do litoral central e oriental da região do Algarve e
encontra-se inserida na área do Parque Natural da Ria
Formosa (PNRF) e da Rede Natura 2000 (Fig.1). O
sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa é, na
actualidade, constituído por duas penínsulas (Ancão
e Cacela) que constituem, respectivamente, os limites
ocidental e oriental do sistema, por cinco ilhas-barreira
(de Oeste para Este: Barreta ou Deserta, Culatra,
Armona, Tavira e Cabanas), e por um vasto corpo
lagunar (Fig.2). As ilhas e penínsulas são separadas
por 6 canais de maré, também designados barras
(Ancão ou São Luís, Faro-Olhão, Armona ou Grande,
Fuzeta, Tavira e Lacém ou Cacela), que viabilizam
trocas hídricas, sedimentares, químicas e de nutrientes
entre o meio lagunar e o oceano. Das barras aludidas,
a de Faro-Olhão e a de Tavira são artificiais, estando
fixadas com molhes. Em termos gerais, o sistema tem
cerca de 50km de comprimento, que se desenvolve
entre as longitudes de 8º02‘W e 7º31‘W. Os cordões
dunares apresentam uma largura variável entre 100 e
750m (Duarte et al., 1999). A área do sistema lagunar
é de 11866ha e o das penínsulas e ilhas-barreira é cerca
de 1947ha. O PNRF abrange uma área sensivelmente
maior, com cerca de 18400ha (Pré-Parque – zona
tampão 3400ha e Parque 15000ha) e engloba parte
dos concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila
Real Santo António (Marcelo & Fonseca, 1998).
1.2. Características Hidrodinâmicas
De acordo com Dias (1988) e Pilkey et al. (1989),
fundamentados no modelo de Hoyt (1967), a origem
deste sistema de ilhas-barreira esteve relacionado com
as flutuações quaternárias do nível do mar ocorridas
durante os períodos glaciários e interglaciares. O
sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa apresenta
algumas características peculiares, tais como a
inexisncia de um grande rio, as condições de
amplitude de maré a que está sujeito e a disposição
geral do sistema, em forma de triângulo escaleno, com
vértice virado a Sul (Dias, 1988; Pilkey et al., 1989).
As marés m regime de meso-marés, com uma
amplitude máxima de aproximadamente 3,5m nas
marés vivas, encontrando-se no limite máximo para a
formação de ilhas-barreira (Pilkey et al., 1989). O lado
ocidental do sistema é mais energético, directamente
exposto à ondulação dominante de W e SW (68%
das ocorrências), enquanto que o lado oriental está
exposto às condições de “Levante” (ventos de SE
provenientes do Mediterrâneo), também importantes,
representando 25% das ocorrências. A ondulação de
W e SW tem médias anuais de altura significativa ao
largo (Hso) de 0,9m, com períodos médios de 4,7s. A
ondulação de SE apresenta Hso ligeiramente superior
de 1,2m e período médio de 4,9s (Costa, 1994).
Durante o Inverno é frequente a ocorrência de
temporais com Hso superior a 3m, sobretudo de W e
SW, mais comuns que os temporais de SE (Sá-Pires et
al., 2001).
of many infra-structures on the dune ridge, with the consequent human occupation. It is essential to attend to the instability that characterises
this system because the occupation area is very vulnerable and concentrates in great risk situation.
As the majority of the barrier-islands systems, Ria Formosa is a complex environment that presents a very dynamic processes, with high
evolution rates of islands and inlets. The precarious equilibrium conditions associated to storm events and sea-level rise leads to great overwash
susceptibility.
The main problems of system management occur in barrier-islands. With several stakeholders involved it is necessary to maintain an
efficient management. An extensive and carefully urgent intervention is necessary in order to avoid irreversible negative consequences. To achieve
this, a solid scientific investigation should be carried out, including social, economic and environmental aspects. Three types of techniques should
be adopted to protect barrier-islands and structures from shoreline erosion: hard defences, soft techniques and non-structural alternatives, such
as relocation or retreat of infra-structures.
Keywords
: Ria Formosa, barrier-islands, inlets, management, vulnerability.
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Figura 1 – Localização geográfica da Ria Formosa e comunidades.
Figure 1 – Location of Ria Formosa and communities.
Figura 2 – Imagem de satélite da Ria Formosa. Penínsulas, ilhas-barreira e barras que a constituem
(adaptado de Google Earth 4.2, 2007).
Figure 2 Ria Formosa satellite image, showing the peninsulas, barrier-islands and inlets (adapted from Google
Earth 4.2, 2007).
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1.3. Morfodinâmica
No sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa, a
morfodinâmica é muito intensa, sendo função do
clima de agitação marítima e das correntes de maré
(Pilkey et al., 1989). As taxas de crescimento de
algumas ilhas são verdadeiramente notáveis a nível
mundial. Como consequência desta dinâmica, o
sistema é muito vulnerável, respondendo de forma
rápida e intensa à construção de obras de engenharia
litoral (Dias, 1988).
As praias ao longo das ilhas-barreirao
geralmente estreitas e o seu comportamento varia
entre o reflectivo e o intermédio no extremo ocidental
(Martins et al., 1996) e intermédio a dissipativo no
extremo oriental (Matias et al., 1998).
As ilhas-barreira do sistema da Ria Formosa, à
semelhança de grande parte dos sistemas mundiais
deste tipo, estão em activa fase de migração em
direcção ao continente, muito provavelmente como
resposta à actual elevação do nível médio do mar
sendo, portanto, um sistema do tipo transgressivo.
Os galgamentos oceânicos são extremamente
importantes neste complexo processo (Dias, 1988;
Pilkey et al., 1989).
A evolão das barras é, de modo geral,
caracterizada por uma migração para nascente até
atingirem uma posição limite, na qual começam a
assorear, abrindo-se nova barra, aproximadamente no
local inicial (Weinholtz, 1978), à excepção da Barra
da Armona, que se tem mantido aproximadamente
na mesma posição, e às barras de Faro-Olhão e de
Tavira, que são artificiais (Fig.2).
As arribas, localizadas a ocidente do sistema,
principalmente as que se situam entre o Ancão e
Olhos de Água, têm sido consideradas como principal
elemento abastecedor de areias para o sistema
(Andrade, 1990a; Correia et al., 1997) (Fig.1).
1.4. Importância Socio-Económica e Ambiental
Devido às suas características naturais, o sistema
de ilhas-barreira da Ria Formosa constitui uma área
de usos múltiplos, que providenciam benefícios sócio-
económicos e que geram conflitos na afectação dos
recursos existentes, tais como o turismo de massas, o
ecoturismo, a aquacultura, a pesca, a conservação da
natureza, as descargas de efluentes, a navegação, a
extracção de sal e de areia, entre outros (Van Den
Belt et al., 2000).
A nível ambiental assume particular importância,
pelo que lhe foi atribuído o estatuto de Reserva
Natural (decreto-lei 45/78 de 2 de Maio) e mais tarde
de Parque Natural da Ria Formosa (decreto-lei 373/
87 de 9 de Dezembro) e de Rede Natura 2000,
procurando-se, assim, efectuar uma exploração dos
recursos racional e sustentável.
Este sistema é caracterizado pela diversidade
faunística e florística, destacando-se o facto de esta
área ter, no que respeita à avifauna, uma importância
nacional (como zona de nidificação) e internacional
(migração e invernada). É considerada uma zona
húmida de interesse mundial, estando protegida pelas
convenções internacionais de Ramsar e de Berna.
O cordão litoral que forma as ilhas-barreira serve
de protecção a uma grande diversidade de habitats,
tais como uma vasta área de sapal, dunas, zonas de
água salobra, zonas intertidais, canais, ilhotes, salinas,
pisciculturas e cursos de água doce com vegetação
ribeirinha. Acresce referir que este sistema de ilhas-
barreira é único, na Europa, a nível geomorfológico.
1.5. Situação Actual
Apesar das grandes apetências que apresenta para
exploração pelo Homem, a ocupação humana na Ria
Formosa, sobretudo nas ilhas-barreira, iniciou-se,
significativamente, apenas em finais do século XIX
por populões ligadas à actividade pesqueira
(Bernardo et al., 2002).
Os problemas de gestão do sistema só surgiram
com grande amplitude a partir da década de 60 do
século XX, quando a ocupação (principalmente de
índole turística), seguindo o modelo de
desenvolvimento turístico dessa época, se veio a
estabelecer em áreas de risco permanente, devido à
erosão e exposição aos temporais.
As características do sistema são incompatíveis
com uma ocupação intensa e permanente. Contudo,
nas últimas décadas, a ocupão tem revelado
tendência para se intensificar, tornar permanente e
localizar nas zonas de maior risco, colocando em causa
a própria sobrevivência do sistema de ilhas-barreira
como ambiente natural (Dias et al., 2004).
Na frente oceânica, a erosão costeira tem sido
antropicamente amplificada. Os principais causadores
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que levaram o sistema da Ria Formosa a entrar em
ruptura foram a construção dos molhes da marina de
Vilamoura e do campo de esporões de Quarteira, e a
fixação artificial das barras Faro-Olhão e Tavira. A
erosão costeira, juntamente com o acréscimo do
pisoteio, veio aumentar a vulnerabilidade ao
galgamento na maior parte do sistema. As cerca de
2000 construções clandestinas existentes nas ilhas-
barreira, potenciam, ainda mais, o risco de galgamento,
pois estão frequentemente edificadas sobre o cordão
dunar frontal, em zonas de elevada vulnerabilidade
(Ramos & Dias, 2000).
Os sistemas de ilhas-barreira são, ainda, muito
sensíveis a variações do nível médio do mar (NMM)
principalmente a fases de elevação deste. Segundo
Ferreira et al. (2008), os estuários e os sistemas
lagunares costeiros são as zonas mais afectadas pela
subida do NMM, em Portugal. Na Ria Formosa os
impactes socio-económicos serão grandes. No
entanto, muitos destes impactes negativos poderão
ser minimizados, ou até evitados, se se tomarem as
devidas precaões. Para que isto aconteça,
governantes, gestores e população em geral terão que
ter em conta esta problemática nas suas decisões.
Dias & Taborda (1992) chegaram a um valor de
elevação do NMM de 1,5 ± 0,2mm/ano, calculado
em Lagos, no último século. Douglas (1995) estimou,
numa perspectiva global, um aumento médio de
2mm/ano nos últimos 100-150 anos.
É, principalmente, durante eventos tempestivos,
associados a períodos de marés vivas, que se verificam
os mais graves episódios de erosão costeira. Esta
situação é, pois, agravada pela subida do NMM
(Ferreira et al., 2008).
1.6. Objectivos
Este trabalho pretende apresentar uma visão
actualizada do que ocorre na zona de interface entre
o mar e o meio lagunar do sistema de ilhas-barreira
da Ria Formosa. Em particular, pretende-se analisar
a dinâmica e evolução das barras e das ilhas-barreira,
identificar as principais áreas de risco e os impactes
da ocupação humana e discutir aspectos relacionados
com as obras de protecção/intervenção realizadas em
alguns locais.
2. METODOLOGIA
A recolha de dados foi efectuada sobretudo por
pesquisa bibliográfica, por recolha de informações
em instituições com conhecimento particular da Ria
Formosa (com maior relevância para o Parque Natural
da Ria Formosa e o Instituto Portuário e dos
Transportes Marítimos) e por observação in situ da
área de estudo. O software informático Google Earth
- Versão 4.2 (2007) foi, também, utilizado na análise
do sistema lagunar. Conquanto a área de estudo se
defina como todo o sistema lagunar da Ria Formosa,
a recolha de dados incidiu predominantemente nas
ilhas-barreira e nas barras que as delimitam.
Foram definidos e individualizados oito sectores,
ao longo da área de estudo. Cada ilha ou península
foi definida como um sector. As seis barras do sistema
foram, também, definidas separadamente. O sector
Quarteira – Praia do Garrão, por se encontrar a
barlamar do sistema da Ria Formosa foi, também,
analisado, uma vez que vários problemas que afectam
o sistema têm origem nesta área. Dividiram-se os
sectores em partes, distinguidos segundo a sua
orientação Ocidental (W), Central (C) e Oriental
(E). Em cada sector, foram identificadas as zonas de
maior risco, analisadas as taxas de evolução da linha
de costa, a existência ou ausência de ocupação, a
presença de corredores eólicos e de vegetação e a
existência de intervenções. Para as barras foram
analisadas as características mais relevantes: largura,
estabilidade e taxas de migração. Os dados obtidos
permitem analisar a evolução geral do sistema de ilhas-
barreira, identificar as áreas de risco e efectuar uma
referência à intervenção no sistema mediante três
técnicas: intervenção suave, intervenção rígida e
demolição de infra-estruturas (retirada estratégica).
3. O SISTEMA DE ILHAS-BARREIRA
3.1. Quarteira – Praia do Garrão
Embora não faça parte integrante do sistema da
Ria Formosa, este sector é de extrema importância
na medida em que fornece sedimentos ao sistema.
Na realidade, não existem sistemas isolados na
Natureza, e um plano de gestão terá, obrigatoriamente,
que avaliar a situação e os impactes previsíveis a
barlamar e a sotamar de qualquer intervenção.
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O sector entre Quarteira e a Praia do Garrão
apresenta intensa actividade e ocupação antrópica,
designadamente em Vale do Lobo (Fig.1). A evolução
das arribas, neste sector, está fortemente dependente
da praia subjacente que, em maior ou menor grau,
confere protecção da acção directa do mar. No
entanto, a susceptibilidade destas arribas à erosão
marinha é extremamente elevada (Andrade, 1990a;
Dias & Neal, 1992). Nalguns locais, o recuo chegou a
ultrapassar 2m/ano ou mais (Correia et al., 1997).
Ao longo da zona urbanizada de Quarteira
(aproximadamente 3,3km), a Direcção Geral de
Portos procedeu a obras de defesa costeira,
construindo, entre 1971 e 1974, doze esporões e dois
molhes de acesso à marina de Vilamoura (o ocidental
com 600m e o oriental com 500m) (Bettencourt,
1985). O aumento das taxas médias de recuo neste
sector parece resultar, essencialmente, da construção
destas estruturas que interrompem a deriva litoral,
privando as praias a nascente de sedimentos, o que,
consequentemente, facilita o ataque das ondas à base
das arribas. Após a construção dos molhes de
Vilamoura o recuo médio anual da crista da arriba foi
fortemente amplificado, chegando, por exemplo, a
ultrapassar, nalguns pontos, os 4 metros por ano no
período 1983-1991 (Correia et al., 1996)
A situação em todo o sector é, na actualidade,
grave. Vale do Lobo é o local em que o problema de
erosão costeira é mais sério, dada a amplitude e
intensidade de ocupão antpica. Os dados
disponíveis parecem reflectir a tendência de aumento
da erosão na parte oriental do sector (até agora mais
estável), apesar das realimentações efectuadas para
proteger a Praia de Vale do Lobo.
3.2. Península do Ancão
A Península do Ancão tem cerca de 8km de
comprimento e 50 a 250m de largura (Fig.2). Segundo
Pilkey et al. (1989) e Bettencourt (1994), o recuo da
linha de costa chegou a atingir valores na ordem de 1
a 2m/ano, em alguns locais.
O sector Ancão W (da Praia do Garrão à Praia de
Faro) possui um cordão dunar contínuo que
praticamente é desprovido de ocupação antrópica.
Uma arriba permanente, talhada na duna, marca a
transição entre a praia e o cordão dunar, o que
demonstra um recuo da linha de costa devido à erosão
que, em média, atingiu 0,8m/ano, entre 1989 e 2001
(Ferreira et al., 2006).
O sector Ancão C (Praia de Faro) é urbanizado e,
como tal, o mais problemático. O nível da ocupação
humana é bastante elevado (Fig.3). Até meados da
década de 50, a Praia de Faro era ocupada apenas por
alguns pescadores, não havendo registos de problemas
graves para as habitações, pois encontravam-se
instaladas junto à laguna e separadas do mar por um
campo dunar singular. A construção da ponte
rodoviária, na década de 50, foi o factor determinante
para a forte intensificação da ocupação. O cordão
dunar, apesar de afectado pela erosão costeira, foi
quase totalmente ocupado e destruído por edificações
(Dias et al., 1997, 2004).
Não tendo sido possível concretizar as acções
mínimas necessárias para uma ocupação racional da
zona (Dias et al., 1997), aconteceu o que era previsível.
Durante o Inverno de 1989/90, a Praia de Faro foi
fustigada por temporais que provocaram graves danos
nas construções e infra-estruturas existentes, uma vez
que não é suficientemente robusta para suportar
eventos energéticos extremos (Ferreira et al., 1997).
Os locais onde a ocupação é mais intensa são os que
apresentam maior susceptibilidade a qualquer evento
erosivo. Este facto deve-se, em parte, à construção
de estruturas fixas e rígidas na parte superior dos perfis
de praia, causando a truncatura do perfil e um
rebaixamento da cota dunar, não permitindo à praia
desempenhar o seu papel natural face às tempestades
(Ferreira et al., 1997).
A erosão afecta os limites marinhos e lagunares
da Praia de Faro. Entre 1945 e 1964, a linha de baixa-
mar recuou 34m, ou seja, cerca de 1,7m/ano
(Weinholtz, 1978). Actualmente, as edificações, que
truncam o perfil de praia emersa, impossibilitam que
a península tenha um comportamento natural,
migrando em direcção ao continente (Dias et al., 1997).
Por outro lado, o aterro que conduz à ponte canalizou
os fluxos de enchente e, principalmente, de vazante.
Consequentemente, a corrente na zona da ponte é
muito forte, impedindo a acumulação de sedimentos
na parte interna da península, o que seria fundamental
para permitir a migração aludida.
A construção de muros de revestimento e de
outras estruturas de protecção inibiram o recuo da
linha de costa, embora não impeçam a ocorrência de
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galgamentos. Devido a estas protecções, a Praia de
Faro praticamente não apresentou recuo da linha de
costa entre 1989 e 2001 (Ferreira et al., 2006). No
entanto, possui uma boa capacidade de recuperação
sedimentar após eventos erosivos (Martins et al., 1996),
em apenas um ciclo de maré (Sá-Pires et al., 2002).
Matias et al. (1997) e Duarte et al. (1999) ao
avaliarem a vulnerabilidade de um conjunto de
sistemas dunares do Algarve foram unânimes em
identificar a Praia de Faro como uma das zonas mais
vulneráveis da Ria Formosa. O núcleo urbano da Praia
de Faro encontra-se em situão de alto risco,
confinado a uma estreita faixa (normalmente com
menos de 100 metros de largura) entre a laguna e o
oceano. As probabilidades de uma catástrofe
aumentam de ano para ano, se considerarmos a
elevação do NMM e a possível ocorrência de um
grande temporal que coincida com maré viva cheia.
No sector Ancão E (entre a Praia de Faro e a Barra
do Ancão), a duna está consideravelmente bem
preservada e os perfis de praia revelam maior
capacidade para reagir a eventos energéticos, excepto
na margem da Barra do Ancão (Ferreira et al., 1997).
A população consiste sobretudo em pescadores que
vivem na margem da laguna.
3.3. Barra do Ancão
O limite oriental da Península do Ancão termina
na Barra do Ancão, também designada por Barra de
São Luís (Fig.2). Está localizada numa das áreas mais
dinâmicas do sistema, mudando frequentemente de
morfologia e posição, com uma tendência de migração
para nascente a uma velocidade média de 70m/ano e
uma largura média de 260m. Entre 1945 e 1996
completou dois ciclos migratórios (Vila-Concejo et
al., 2006).
Em 1997 a Barra do Ancão em fase final do seu
ciclo de migração, encontrando-se muito assoreada e
Figura 3 – Parte central da Península do Ancão – Praia de Faro (de Oeste para Este), evidenciando a intensa
ocupação sobre o cordão dunar (fotografias obtidas em Novembro de 2006, pelo autor).
Figure 3 Aerial photo of the Ancão Peninsula from West to East (central zone) Beach of Faro, showing the intense
occupation on dune ridges (photos by author in November 2006).
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com baixa eficiência hidráulica. No sentido de ampliar
essa eficiência e proteger os interesses nesta zona
procedeu-se à abertura artificial de uma nova barra
(23 Junho de 1997), a cerca de 3,5km a W da posição
anterior e imediatamente a oriente das últimas casas
da Praia de Faro, permitindo a esta migrar, novamente,
no sentido nascente (Vila et al., 1999). A forma e a
posição da nova barra não foram baseadas em estudos
aprofundados, mas no conhecimento empírico da
situação (Dias et al., 2003). Estudos recentes sobre a
evolução e dinâmica da barra desde a sua abertura
artificial (e.g.: Vila-Concejo et al., 2002, 2003, 2004a,
2006) permitem concluir que bastaram dois anos para
que se atingisse o estado de equilíbrio e começasse a
evoluir e a migrar naturalmente, o que confirma o
sucesso desta intervenção, que foi das primeiras a nível
mundial.
3.4. Ilha da Barreta
A Ilha da Barreta tem um comprimento de cerca
de 8km e largura entre 70 e 700m (Fig.2). Existem
poucos estudos publicados que focam esta ilha, uma
vez que é uma zona menos acessível, com baixa
ocupação antrópica e, consequentemente, menos
problemática.
A parte ocidental é estreita, de baixa elevação, com
pouca vegetação e vulnerável a galgamentos. Na
realidade corresponde à parte oriental da zona de
migração da Barra do Ancão. Apresenta uma
morfodinâmica semelhante à Península do Ancão
(Pilkey et al., 1989; Bettencourt, 1994) e um único
cordão dunar com cerca de 7m de altura (Vila-Concejo
et al., 2006).
A complexidade deste sector aumenta de ocidente
para oriente, onde a ilha já apresenta um campo dunar
largo e bem vegetado. Existem dois pequenos
aglomerados de casas de pescadores e de apoio à praia
localizados na parte interna, junto à laguna e à Barra
Faro-Olhão, respectivamente.
A metade oriental da ilha é a única que apresenta
um comportamento regressivo (Vila et al., 1999),
proporcionando o crescimento do cordão dunar
frontal (Duarte et al., 1999). Este comportamento foi
consequência da construção dos molhes da barra
artificial de Faro-Olhão, entre 1929 e 1955 (Esaguy,
1986a), que interromperam a deriva litoral e,
consequentemente, induziram a barlamar (junto ao
molhe W localizado no extremo oriental da ilha) uma
acumulação arenosa notável.
3.5. Barra Faro-Olhão
A Barra Faro-Olhão, que separa as ilhas da Barreta
e da Culatra, foi artificialmente aberta e estabilizada
por molhes entre 1929 e 1955, num local onde existia
uma barra (Barra do Bispo), relativamente larga mas
bastante instável (Esaguy, 1986a) (Fig.2). O objectivo
da abertura foi o de assegurar a navegabilidade ao
canal de acesso que conduz ao porto comercial de
Faro, bem como às localidades de Faro e Olhão. Esta
intervenção induziu grande alargamento da parte
oriental da Ilha da Barreta, a barlamar, e erosão
bastante significativa da parte ocidental da Ilha da
Culatra, a sotamar, bem como modificações
importantes no comportamento hidrodinâmico
lagunar (Vila-Concejo et al., 2006). Veio retirar
eficiência hidráulica à Barra da Armona, que era a
barra principal do sistema, em consequência do que
se verificou grande estreitamento desta, sendo
actualmente a sua eficácia extremamente reduzida.
O canal da barra de Faro-Olhão, projectado para
manter cotas entre 4 a 4,5m abaixo do zero
hidrográfico (Weinholtz, 1978), foi, progressivamente,
ficando mais fundo até atingir profundidades na
ordem dos 40m, em 2001, assim aumentando a secção
de escoamento. Consequentemente, surgiram
problemas de segurança no que respeita à navegação
devido às fortes correntes de vazante e de enchente e
a graves danos nos troços terminais dos molhes.
A abertura da barra e a construção dos molhes
alteraram a circulãodrica e os balaos
sedimentares nesta zona do sistema. A Barra Faro-
Olhão é a grande responsável pela importação de
sedimentos para o sistema lagunar. A entrada de
140000m3/ano de sedimentos (Pacheco et al., 2007)
poderá estar relacionada com as intensas dragagens
efectuadas no canal de navegação, no interior do
sistema, recomendando-se que sejam apenas
realizadas de modo a manter as condições de
navegabilidade.
3.6. Ilha da Culatra
A Ilha da Culatra tem aproximadamente 7km de
comprimento, estando a ocupação humana
concentrada em três povoações (Farol, Hangares e
65
Filipe Rafael Ceia
Revista de Gestão Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1):57-77 (2009)
Culatra), que só podem ser atingidas por barco (Fig.4).
A evolução recente da ilha, e das barras que a limitam,
foi alvo de estudo de diversos autores (e.g.: Granja,
1984, Esaguy, 1984, 1986a, Dias, 1988, Pilkey et al.,
1989, Andrade, 1990a, Garcia et al., 2002, Vila-Concejo
et al., 2002). É consensual que os molhes da Barra
Faro-Olhão foram responsáveis por uma profunda
alteração da hidrodinâmica do sistema e alterações
significativas na Ilha da Culatra. Segundo Garcia et al.
(2002), as principais consequências foram o
crescimento muito rápido, para oriente, da ilha e a
ampliação do recuo da linha de costa na zona
ocidental.
A linha de costa da extremidade ocidental da ilha,
onde se localiza a povoão do Farol, es
completamente artificializada (molhe oriental da barra,
enrocamento longitudinal construído para protecção
das edificações e estabilização da linha de costa, e um
esporão no limite oriental da povoação). Neste sector,
a ilha é relativamente estreita com uma duna de declive
acentuado, paralela à linha de costa, evidenciando
carência de sedimentos (Garcia et al., 2002), o que se
torna problemático pois que esta zona se encontra
intensamente ocupada.
A morfologia do sector central reflecte a
alternância de cordões dunares e canais de maré. Na
primeira metade do século XX a margem ocidental
da barra da Armona (que era a principal do sistema)
localizava-se junto à povoação da Culatra, tendo
sido constrdas as instalações do Instituto de
Socorros a Náufragos, onde estava sedeado o bote
salva-vidas. Estas instalações há muito que perderam
por completo a sua funcionalidade, estando
actualmente convertidas num Centro Social da
povoação. A ocupação apenas ocorre na margem
lagunar da ilha e, consequentemente, não está sujeita
a problemas significativos de erosão costeira.
O sector oriental, que se constituiu essencialmente
a partir de meados do século XX, é despovoado. Este
crescimento da ilha está provavelmente relacionado
com a modificação da hidrodinâmica do sistema
devido à construção da Barra de Faro-Olhão.
Apresenta corpo dunar pouco desenvolvido e elevada
susceptibilidade a galgamentos (Andrade et al., 1998;
Garcia et al, 2002; Vila-Concejo et al., 2006).
3.7. Barra da Armona
A Barra da Armona, que separa as ilhas da Culatra
Figura 4 – Panorâmica da Ilha da Culatra e Barra de Faro-Olhão vista de Oeste; na foto são visíveis as povoações
do Farol, Hangares e Culatra (fotografia obtida em Novembro de 2006, pelo autor).
Figure 4 Oblique aerial photo from West of the Culatra Island and Faro-Olhão Inlet, showing the Farol, Hangares and
Culatra communities (photo by author in November 2006).
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e da Armona, é considerada a única barra estável do
sistema, em termos de localização (Pilkey et al., 1989),
e a que apresenta o delta de vazante mais desenvolvido
(Dias et al., 1997) (Fig.2). Era a principal barra do
sistema, mas o crescimento da ilha da Culatra tem
provocado o seu estreitamento progressivo. Entre
1873 e 1983, a barra estreitou cerca de 2500m,
passando de uma largura de 4300m para 1850m
(Esaguy, 1984). A maior taxa de estreitamento, entre
1950 e 1977, está provavelmente relacionada com a
conclusão da abertura da Barra de Faro-Olhão (Vila-
Concejo et al., 2002). Na actualidade, apresenta uma
largura de cerca de 200m.
3.8. Ilha da Armona
A Ilha da Armona tem comprimento aproximado
de 9km e largura máxima de cerca de 1400m na
extremidade SW (Fig.2). A parte ocidental apresenta
um longo cordão dunar frontal de 8 a 9m. A deposição
de sedimento a ocidente é um fenómeno único em
todo o sistema da Ria Formosa (Pilkey et al., 1989) e
contribui para o estreitamento da Barra da Armona.
A parte oriental apresenta um cordão dunar pouco
desenvolvido e elevada susceptibilidade ao galgamento
(Andrade et al., 1998).
Na zona mais larga, a ocidente, encontra-se a
povoação da Armona. Progressivamente, a largura da
ilha vai diminuindo para oriente, sendo o cordão dunar
robusto e bem vegetado, até à zona fronteira à
povoação da Fuzeta (Fig.1).
Nesta zona, bastante estreita e sujeita a
galgamentos oceânicos, onde se localizava a Barra da
Fuzeta em meados do século XX, encontra-se um
conjunto de casas (construídas ilegalmente) com
utilização não permanente. Ramos & Dias (2000)
apontam esta ocupação como um dos casos mais
críticos do sistema, por se localizar numa zona com
elevada vulnerabilidade ao galgamento.
3.9. Barra da Fuzeta
A Barra da Fuzeta, que separa as ilhas da Armona
e de Tavira, tem actualmente cerca de 250m de largura
(Fig.2). Apresenta, normalmente, evolução muito
rápida (Dias et al., 1997). Entre 1945 e 1996 registou
uma taxa de migração média de cerca de 65m/ano
(Vila-Concejo et al., 2006). Não são conhecidos valores
exactos da extensão ou duração do ciclo de migração.
Contudo, de acordo com Vila-Concejo et al. (2002), o
ciclo completo dura pelo menos 50 anos e a barra
migra no total mais de 3500m. Esta migração pode
ser progressiva ou intermitente (Dias et al., 1997).
À semelhança da Barra do Ancão, procedeu-se à
abertura artificial de uma nova Barra da Fuzeta, em
Julho de 1999. Porém, devido aos condicionamentos
impostos pelas casas existentes frente à povoação da
Fuzeta, foi aberta apenas a cerca de 800m a ocidente
da posição que ocupava em 1996. Parte do sedimento
dragado foi utilizada para fechar artificialmente a
antiga barra. No entanto, esta intervenção não obteve
muito sucesso, devido ao aumento de sinuosidade do
canal após a abertura. De acordo com os resultados
de Vila-Concejo et al. (2004b), o canal atingiu o
equilíbrio dinâmico em Julho de 2000.
3.10. Ilha de Tavira
A Ilha de Tavira é a maior do sistema, com cerca
de 11km de comprimento e 800m de largura máxima
na parte central (Fig.2). Esta ilha estreita
progressivamente para SW, onde existem sinais de
forte erosão e de frequentes galgamentos. No entanto,
o campo dunar é, na generalidade, moderadamente
largo e elevado, constituído por vários cordões
dunares. A Ilha de Tavira, exceptuando a extremidade
SW, é considerada uma das mais “estáveis” do sistema
da Ria Formosa, não existindo indícios de processos
destrutivos/construtivos relacionados com a
migração de barras. Apresenta, pom, alguns
corredores eólicos junto às zonas de maior ocupação
devido ao pisoteio e, na parte central, na zona
envolvente ao Arraial do Barril, verificou-se um recuo
da linha de costa, entre 1976 e 2001, de 0,2 a 1,3m/
ano (Garcia et al., 2005).
A extremidade oriental da ilha está estabilizada
artificialmente pelos molhes da Barra de Tavira, o que
levou à acumulação de sedimentos, a ocidente da
barra, numa extensão de cerca de 1000m. A parte
mais vulnerável da zona NE situa-se junto ao Canal
de Tavira, artificial pois que a sua posição tem sido
mantida através de dragagens, e traçado
meandriforme. Neste local a ilha têm apenas cerca de
150m de largura.
A Ilha de Tavira apresenta duas zonas de ocupação:
o Arraial do Barril (antiga infra-estrutura de pesca do
atum convertida em apoio de praia) e a Praia de Tavira,
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Filipe Rafael Ceia
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onde se situam estruturas de apoio com alguma
envergadura, designadamente um parque de
campismo (Fig.1). Na actualidade, apesar dos impactes
antrópicos serem elevados, são concentrados e
limitados. Segundo Dias et al. (2004), o Arraial do
Barril pode ser apontado como um bom exemplo de
exploração turística sustentável: o há habitação
permanente; o acesso é efectuado por uma ponte
pedonal e por um pequeno comboio ou pelo passeio
que o ladeia (o que evita impactes generalizados); as
antigas instalações da companhia de pesca, que
estavam abandonadas, tiveram reaproveitamento
lucrativo. Contudo, o cordão dunar frontal está sujeito
a alguma erosão e a pequenos galgamentos oceânicos,
detectando-se também alguns corredores eólicos e
pisoteio moderado. A previsão da localização da linha
de costa em 2050, considerando a aceleração da
elevão do nível médio do mar e a eventual
ocorrência de um temporal com período de retorno
de 50 anos, indica que é expectável um recuo da ordem
dos 70m, ou seja, que atingirá as edificações
existentes (Ferreira et al., 2006).
3.11. Barra de Tavira
A Barra de Tavira, artificial, separa as ilhas de
Tavira e de Cabanas e tem largura de 60m (Fig.2). Foi
aberta artificialmente em 1927, quase em frente à foz
do Rio Gilão, conduzindo ao encerramento da antiga
barra, em 1930 (Vila-Concejo et al., 2006). Os dados
disponíveis sugerem uma velocidade de migração da
antiga barra de cerca de 40m/ano (Weinholtz, 1978).
A barra artificial teve que ser sujeita a várias operações
de dragagem entre 1930 e 1935, e estabilizada por
dois esporões em 1936, devido ao constante
assoreamento (Esaguy, 1987). Um ciclone, ocorrido
em 1941, abriu uma nova barra a cerca de 1100m a
Este da barra artificial (Barra do Cochicho-
Almargem), a qual rapidamente alargou e começou a
migrar para oriente. A existência da nova barra levou
ao aumento do assoreamento da Barra de Tavira, que
teve que ser reaberta em 1961, face às dificuldades de
navegação. Posteriormente, foram efectuadas diversas
obras de dragagem, estabilização e fortalecimento de
diques, no sentido de diminuir o assoreamento
(Esaguy, 1987). A eficiência hidrodinâmica da Barra
de Tavira é muito pequena, representando cerca de
4% do prisma de maré total do sistema (Andrade,
1990a).
3.12. Ilha de Cabanas
A Ilha de Cabanas é a ilha mais oriental e a mais
pequena do sistema, com um comprimento de cerca
de 6km e uma largura máxima de 300m (Fig.2). Na
realidade, constitui a extremidade natural da Ilha de
Tavira, tendo sido convertida numa ilha autónoma
pela abertura artificial da Barra de Tavira (Dias, 1988).
Foi completamente destruída durante o ciclone de
1941 e novamente no decurso de um violento
temporal em 1961, os quais provocaram extensos
galgamentos oceânicos e a formação de uma nova
barra (Barra de Cabanas), para além da Barra do
Cochicho-Almargem, as quais, juntas, formaram uma
abertura única com cerca de 2500m de extensão, a
partir da meia maré (Matias, 2000).
Consequentemente, o cordão dunar é relativamente
recente, frágil e elevando-se apenas a uma cota média
de 2,5m (Dias et al., 2003).
A Ilha de Cabanas foi a primeira zona a ser
intervencionada ao abrigo do programa
“Requalificação do sistema lagunar da Ria Formosa”,
entre Abril e Junho de 1999. Não existem estimativas
da quantidade de sedimentos perdidos para o mar.
No entanto, os dragados, usados na realimentação,
eram grosseiros, ajudando à naturalização dos aterros
efectuados (Sá-Pires et al., 2001). Além desta
intervenção, foi construído mais um pequeno esporão
a oriente da Barra de Tavira, pelo que a erosão que aí
se verifica ficou atenuada pela existência de dois
esporões. As intervenções parecem ter sido
determinantes na protecção da praia, uma vez que
não se têm registado galgamentos ou erosão do cordão
dunar nos locais intervencionados; os mesmos
apresentam alguma colonizão por vegetão
pioneira (Sá-Pires et al., 2001). No entanto, uma vez
que a realimentação foi localizada, e o cordão dunar
é de baixa altitude, as intervenções não impedem que,
num futuro próximo, ocorram galgamentos
sobretudo junto aos apoios de praia existentes.
3.13. Barra do Lacém
A Barra do Lacém corresponde à barra natural do
limite Este da Ilha de Tavira, se esta não fosse
interrompida pela barra artificial de Tavira (Fig.2).
Vários autores documentaram a evolução da mesma
(e.g.: Weinholtz, 1978; Esaguy, 1986b; Dias, 1988;
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Pilkey et al., 1989; Andrade, 1990a; Bettencourt, 1994;
Matias, 2000; Vila-Concejo et al., 2002). A barra separa
a Ilha de Cabanas e a Península de Cacela deriva da
junção, em 1985, das Barras de Cochicho-Almargem
(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (aberta
pelo temporal de 1961) (Esaguy, 1986b). A velocidade
média de migração da barra tem sido de 97m/ano
(Vila-Concejo et al., 2006).
Mais recentemente, em 2004, abriu-se uma nova
barra natural, localizada a oriente da antiga Barra do
Lacém. A nova barra conduziu ao assoreamento da
antiga Barra do Lacém com o seu consequente
encerramento.
3.14. Península de Cacela
A Península de Cacela localiza-se no extremo
oriental da Ria Formosa. Tem cerca de 3km de
comprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig.2).
Em 1976, a cota média do cordão dunar singular,
robusto e vegetado, era de 3,4m atingindo um máximo
de 6,1m (Esaguy, 1986c). A posterior degradação dos
corpos dunares, devido ao pisoteio, conduziu a um
grande aumento da frequência de galgamentos (Dias
et al., 2004). Em 1990, Andrade (1990b) verificou que
a Península de Cacela apresentava um máximo de
susceptibilidade a galgamentos oceânicos. De facto,
durante o Inverno de 1995/1996, ocorreram
galgamentos generalizados em quase toda a península,
que conduziram à abertura de uma nova barra no
centro da mesma (Barra da Fábrica), a qual, em
Outubro de 1996, chegou a ter cerca de 35m de largura
e uma profundidade de 0,7m (Matias et al., 2004). Caso
não se efectuasse qualquer intervenção, era de prever
que as dunas remanescentes desaparecessem por
completo.
Assim, no sentido de diminuir a vulnerabilidade a
galgamentos e de manter a produção de bivalves
(actividade económica mais importante da zona),
foram efectuadas, entre Outubro de 1996 e Fevereiro
de 1997, grandes intervenções que consistiram
principalmente na “reconstituição” do cordão dunar
da Península de Cacela, na colmatação da Barra da
Fábrica e na dragagem da Barra do Lacém e do canal
lagunar (Ramos & Dias, 2000, Matias et al., 2005). O
objectivo era elevar a cota do topo do cordão dunar
até aos 7,5m acima do Zero Hidrográfico (ZH),
reconstituindo uma situação semelhante à existente
nos anos 60 (Ramos & Dias, 2000). Todavia, devido
à existência de formações consolidadas que
impossibilitaram a dragagem às cotas inicialmente
estabelecidas a quantidade de sedimentos repulsados
para a península foi bastante inferior ao previsto,
estimando-se que o material deposto no cordão dunar
tenha atingido apenas 325000m3 (Ramos & Dias,
2000). Tal obrigou à reformulação do projecto,
elevando-se a cota de topo da duna apenas para os
5m acima do ZH. Segundo Matias et al. (1999) cerca
de 32% do sedimento depositado perdeu-se
imediatamente após a deposição no cordão arenoso.
Tal verificou-se devido aos processos de acomodação
do perfil de praia submerso, mas também porque
grande parte do material não apresentava a
granulometria adequada, Depois da realimentação, a
vegetação pioneira começou rapidamente a colonizar
a duna reconstituída (Matias et al., 2004).
Outras intervenções têm vindo a ser efectuadas
depois do robustecimento do cordão dunar: foram
construídos passadiços de madeira; procedeu-se à
colocação de paliçadas no sentido de propiciar o
desenvolvimento de dunas naturais e à plantação de
Ammophila arenaria. Posteriormente, entre Abril de
1999 e Julho de 2000, efectuaram-se, em quase todo
o sistema novas dragagens nos canais não
considerados de navegação, integradas no Projecto
de Requalificação do Sistema Lagunar, com o
objectivo de intensificar a circulação assim mantendo
as condições ecológicas do sistema. Nesta intervenção
voltou-se a dragar a Barra do Lacém, em Junho de
1999. Segundo Ramos & Dias (2000), as intervenções
atingiram os objectivos, tendo a vulnerabilidade ao
galgamento sido drasticamente reduzida e, do lado
nascente, verificando-se o estabelecimento da
sucessão fitogenética, conferindo um aspecto natural
ao novo cordão dunar.
Mais recentemente, na parte central da zona
intervencionada, verificou-se erosão completa da
“duna” reconstruída, o que tinha sido previsto nos
estudos de monitorização realizados no decurso e
imediatamente após a intervenção, tendo-se na altura
sugerido a possibilidade de nova pequena intervenção
pontual. Todavia, quando se verificou a ruptura, não
houve possibilidades de efectuar essa pequena
intervenção, pelo que se abriu naturalmente nova
barra, o que, nos últimos anos, provocou a colmatação
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da antiga barra e erosão de grande parte das “dunas”
reconstruídas no final do século XX.
4. DISCUSSÃO
4.1. Evolução Geral do Sistema
Como se deduz dos pontos anteriores, o sistema
de ilhas-barreira da Ria Formosa é extremamente
dinâmico e, como tal, bastante vulnerável. As taxas
de crescimento longitudinal de algumas ilhas são das
mais notáveis a nível mundial (Dias et al., 1997).
Segundo Pilkey et al. (1989), os principais processos
que contribuem para a evolução das ilhas-barreira da
Ria Formosa são: (1) recuo da linha de costa, (2) deriva
litoral, (3) galgamentos oceânicos, (4) formação de
corpos dunares e de estabelecimento da respectiva
vegetação, (5) constituição de deltas de maré e sua
agregação às ilhas, (6) comportamento das barras e
(7) erosão/acumulação provocada pelas marés-vivas
designadamente nos canais de maré.
Recuo da linha de costa
Os valores observados na evolução da linha de
costa indicam a existência de recuo generalizado das
ilhas e penínsulas (com excepção das zonas
imediatamente a barlamar dos molhes das barras de
navegação), a qual varia consoante a localização
geográfica e a interacção com os processos oceânicos.
A linha de costa move-se em resposta aos factores
naturais, de forma a manter o equilíbrio (Williams,
2001). O recuo da linha de costa é mais acentuado
nos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhas
e penínsulas. Na parte central do sistema, e nos
extremos orientais das ilhas, verifica-se alguma
acreção. Nas duas áreas mais intensamente ocupadas
(Praia de Faro e Farol) existe estabilização da linha de
costa devido a artificialização desta com estruturas
fixas de engenharia costeira. A acreção verificada a
oriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se à
deposição de sedimentos a barlamar dos molhes das
barras artificiais.
Deriva litoral
Torna-se evidente que o sistema da Ria Formosa
tem grande carência de sedimentos, principalmente
nalgumas zonas mais expostas. Contudo, grande parte
deste problema tem origem a barlamar do sistema,
onde foram construídos os molhes da marina de
Vilamoura e o campo de esporões de Quarteira, que
interromperam a deriva litoral, provocando, a oriente,
intensificação da erosão nas arribas situadas entre
Quarteira e a Praia do Garrão. Actualmente, as arribas
são o principal elemento abastecedor de areias ao
sistema da Ria Formosa (Correia et al., 1997). No
entanto, estas não chegam para colmatar as carências
sedimentares do sistema da Ria Formosa, o que
significa que se forem construídas obras rígidas de
engenharia costeira neste sector se verificará
intensificação do desequilíbrio dinâmico do sistema,
ampliando o grau de ruptura em que este já se
encontra. Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidade
foi a conclusão da construção dos molhes da barra
artificial de Faro-Olhão, em meados do século
passado, que induziu grandes alterações, com efeitos
drásticos no suprimento de sedimento à parte oriental.
Na realidade, a abertura desta barra estabilizada pelos
molhes respectivos fez com que o sistema natural
entrasse em ruptura, modificando radicalmente as
características hidro-sedimentológicas. Segundo Dias
(1990), as únicas acções de protecção realmente
eficazes são as que possibilitam a reconstituição da
deriva litoral, com os consequentes volumes de
sedimentos necessários.
Galgamentos oceânicos
As ilhas-barreira da Ria Formosa são
periodicamente sujeitas a galgamentos oceânicos
durante temporais de SW e SE. Estes galgamentos
constituem um elemento muito importante na
dinâmica e na evolão natural do sistema,
contribuindo com fornecimento de sedimentos para
o interior da laguna e abertura de novas barras, quando
as antigas não apresentam eficiência (Andrade,
1990a). Têm sido assumidos como principal
mecanismo de migração das ilhas-barreira
(Leatherman, 1976; Bray & Carter, 1992), induzindo
um efeito construtivo de acreção (Matias et al., 2003).
Assim sendo, a gestão deve integrar uma adaptação
aos galgamentos naturais, uma vez que são vitais para
o funcionamento natural do sistema.
Do ponto de vista da ocupação, os galgamentos
oceânicos são um factor importante que necessita de
ser avaliado para propiciar uma gestão mais eficaz,
uma vez que induz sérios danos nas infra-estruturas
existentes (Andrade et al., 1998). Verifica-se que os
pontos mais vulneráveis a galgamentos são a Praia de
Faro, Barreta W, Culatra E, Armona E, Tavira W, toda
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a Ilha de Cabanas e a Península de Cacela. Nestes
locais, mesmo a ocorrência de pequenos temporais,
durante a preia-mar de marés vivas, podem provocar
galgamentos. Alguns pontos, como a Ilha de Cabanas
e a Península de Cacela, viram reduzida a
vulnerabilidade a galgamentos após as intervenções
efectuadas com algum sucesso, embora essa
vulnerabilidade comece a ser actualmente elevada no
segundo caso devido aos factos aludidos mais acima.
Em geral, os locais de maior vulnerabilidade são os
que apresentam perfis de praia de pouca inclinação,
cordão dunar frágil e proximidade das barras.
Cordão dunar e vegetação dunar
Ao longo das ilhas existiu um cordão dunar frontal
contínuo com 5 a 10m de altura sem cortes eólicos e
de galgamento muito significativos e bem cobertos
de vegetação (Pilkey et al., 1989). No entanto, o cordão
dunar encontra-se, na actualidade, completamente
ocupado em alguns locais por edificações, como
acontece na Praia de Faro, na povoação do Farol e na
Ilha da Armona. A vegetação tornou-se escassa, não
somente nas zonas ocupadas mas, também, noutros
locais, como na parte ocidental da Ilha da Barreta, e
na oriental das ilhas da Armona e da Culatra.
Com a crescente pressão antrópica exercida sobre
o sistema, especialmente para fins balneares, verifica-
se que em vários locais a quantidade de cortes eólicos
tem aumentado devido ao pisoteio. Este facto pode
conduzir, em períodos de agitação marítima mais
energética, à ocorrência de galgamentos oceânicos.
Ramos & Dias (2000) referem que grande parte dos
cortes de galgamento oceânico do sistema da Ria
Formosa é devido ao pisoteio dos corpos dunares e
não a causas naturais.
A instalação intensiva, nos últimos anos, de
paliçadas para recuperação dunar complementada
com plantação de vegetação típica destes ambientes
corresponde a uma acção de gestão com efeitos muito
positivos, com a qual se tem conseguido robustecer
o cordão dunar do sistema.
Deltas de maré
A incorporação de deltas de enchente e posterior
migrão ou encerramento da barra respectiva
constitui importante mecanismo de evolução das
ilhas-barreira, estando na origem da grande largura
das ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al., 1989).
A formação de deltas de enchente, em associação com
os galgamentos oceânicos, contribui para a migração
das ilhas-barreira em direcção ao continente, o que
podeestar a suceder com o caso particular da
Península de Cacela (Andrade et al, 2004).
Comportamento das barras
A Ria Formosa é caracterizada por apresentar
elevadas taxas de migração das barras. A estabilização
de duas das barras no sector oriental provocou fortes
modificações na dinâmica do sistema. Segundo Vila-
Concejo et al. (2002), a estabilização da Barra Faro-
Olhão (1929-1955) teve maiores consequências nas
barras do Ancão e da Armona, enquanto que a
abertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)
produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e do
Lacém.
A Barra da Armona era a principal barra do
sistema, controlando a maior parte da circulação da
Ria Formosa na parte central. Com a abertura da Barra
Faro-Olhão, projectada para manter profundidades
entre-molhes da ordem de 4,5m ZH mas que
progressivamente se foi aprofundando até
profundidades superiores a 40 metros, as trocas
dricas com o oceano passaram a efectuar-se
predominantemente por esta barra. Os molhes
provocaram grande acumulação a barlamar, pelo que,
nos 12 anos seguintes à sua construção, a Ilha da
Barreta registou alargamento superior a 220 metros
na zona por eles influenciada (Bettencourt, 1985). Em
consequência, a barra da Armona perdeu eficácia,
reduzindo progressivamente largura e profundidade.
Nos anos 80 do século XX tinha ainda cerca de 2000
metros de largura, mas actualmente essa largura é
apenas da ordem de 200 metros.
O sentido de migração das barras não estabilizadas
é para oriente (à excepção da Barra da Armona que
tem mantido a sua posição). Essa migração efectua-
se quer progressivamente (mantendo ou não a largura)
ou por “saltos” na sequência de temporais, em que
nova barra se abre, em geral a sotamar da barra
existente, seguindo-se, frequentemente, a posterior
colmatação desta (Dias, 1988, Pilkey et al., 1989,
Andrade et al., 1998).
Erosão provocada pelas marés-vivas
A Ria Formosa é um sistema lagunar com uma
grande área de zona intertidal (cerca de 1/3 do total
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da área). Em cada ciclo de maré, 50 a 75% da água é
renovada (Sprung, 1994). Devido à diferença de
amplitude entre marés-vivas e marés-mortas, as zonas
de menor elevação das ilhas-barreira são regularmente
inundadas durante as primeiras, causando transporte
significativo de sedimentos. Estes fluxos são
responsáveis pela formação de canais de maré e
aumento da erosão das ilhas-barreira.
Como já foi referido, os períodos de marés-vivas
o bastante probleticos, especialmente no
Inverno, na medida em que potenciam o efeito de
tempestades que ocorrem durante marés-cheias.
Todos os anos, nos pontos críticos do sistema, como
a Praia de Faro, a probabilidade de ocorrer uma
situação muito grave aumenta, principalmente se se
considerar a elevação do NMM.
4.2. Intervenção
Como é reconhecido por Scheele & Westen (1996),
os planos de gestão costeira devem apontar para a
protecção ambiental de longo prazo, o que implica:
(1) uma estratégia com objectivos claros e concisos,
(2) uma metodologia ptica e realista, (3)
monitorização contínua, (4) forte aposta nos
programas de educação e sensibilização ambiental e
(5) envolvimento da comunidade local no processo
de planeamento e tomada de decisões.
Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinâmico,
com elevada vulnerabilidade e que reage rapidamente
a elevações do nível do mar, os múltiplos interesses
económicos e sociais aí existentes fazem com que a
área seja caracterizada por elevado grau de conflitos
de interesses. A situação torna-se ainda mais complexa
quando se considera que o sistema corresponde a um
Parque Natural, onde há que compatibilizar interesses
económicos com a conservação da Natureza. Neste
contexto, é possível proceder à conservação da
Natureza através de intervenções tendentes a minorar
os impactes negativos induzidos pelas actividades
antrópicas (Ramos & Dias, 2000).
De acordo com as actividades desenvolvidas, os
principais grupos de interesse na Ria Formosa são:
(1) o PNRF/ICNB; (2) a Comissão de Coordenação
e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-
Algarve); (3) as entidades promotoras do turismo; (4)
as associações comerciais e industriais (incluindo o
porto); (5) os pescadores e autoridades responsáveis
por este sector; (6) as entidades regionais e locais; (7)
as associações de defesa do ambiente e os
ambientalistas e (8) a população local, incluindo
residentes e não residentes. Como sugere Antunes et
al. (2006), o entendimento entre os diferentes grupos
conduz a uma sinergia que beneficia as potencialidades
que contribuem para uma gestão eficaz.
Os principais problemas das ilhas-barreira estão
localizados nos núcleos urbanos, devido às estruturas
edificadas. Dos principais núcleos existentes, apenas
os de Hangares e Culatra não têm problemas erosão
costeira, pois que se localizam junto à parte lagunar
(e consequentemente afastados da praia oceânica e,
portanto, resguardados dos temporais). Os restantes
pólos de ocupação (Praia de Faro, Farol, etc.) são
problemáticos, sendo os riscos de inundação e erosão
bastante elevados. Para resolver estes problemas
existem, fundamentalmente, três estragias de
intervenção: (1) intervenção rígida (ex. esporões,
paredões), (2) retirada estratégica / programas não
estruturais (ex. demolição de infra-estruturas) e (3)
intervenção suave (ex. realimentação de praias) (Pilkey
& Dixon, 1996). Qualquer uma destas estratégias tem
prós e contras, sendo praticamente impossível que
qualquer uma delas satisfaça todos os grupos de
interesse afectados.
Intervenção rígida
Até há poucas décadas, em todo o mundo, a
constrão de estruturas rígidas e permanentes
constituiu o método mais utilizado de protecção do
património edificado no litoral. Embora estas
estruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliário
em risco de ser danificado pela erosão costeira,
provocam fortes impactes negativos a sotamar do
local onde são construídas (Inman, 1978; Mangor,
1998; Greene, 2002), pelo que internacionalmente se
verifica tendência para adoptar outros tipos de
protecção ambientalmente menos agressivos.
A construção dos molhes da marina de Vilamoura
e do campo de esporões de Quarteira, provocou forte
aumento da erosão a oriente e, consequentemente,
graves problemas de gestão. Por outro lado, a abertura
e fixação das barras de Faro-Olhão e de Tavira para
propiciar melhor funcionamento das estruturas
portrias existentes no meio lagunar e,
consequentemente, beneficiar as actividades socio-
económicas da região, provocaram grandes alterações
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Filipe Rafael Ceia
Revista de Gestão Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1):57-77 (2009)
no sistema, fazendo com que o seu funcionamento
natural tivesse entrado em ruptura e que a erosão
costeira tivesse sido fortemente amplificada a sotamar.
Como se vena parte dedicada às intervenções
suaves, a utilização de técnicas de transposição dos
molhes (“by-passing) permitiria reduzir
substancialmente alguns destes impactes negativos.
A construção de mais estruturas rígidas na Ria
Formosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numa
forte amplificação do desequilíbrio dinâmico em que
o sistema já se encontra, tendendo, a médio – longo
prazo, para a completa artificialização da Ria Formosa,
consignada por legislação nacional como Parque
Natural e reconhecida internacionalmente como
importante área de preservação ambiental.
Retirada estratégica / Programas não estruturais
Os programas não estruturais são intervenções em
que se procede à demolição de infra-estruturas
ameaçadas pela erosão costeira ou transferência das
mesmas para locais mais seguros, o que é também
conhecido como “retirada estratégica”. Viabiliza-se,
assim, a evolão natural dos sistemas. Com a
migração das ilhas-barreira em direcção ao continente
como resposta à elevação do NMM, este tipo de
intervenção começou por ser aplicado em alguns
locais da costa Leste dos EUA, em 1972 (NRC, 1995).
A deslocalização de infra-estruturas pode ser eficaz
em locais pouco povoados, ou quando existe interesse
na salvaguarda de património, como aconteceu com
o farol do Cabo Hatteras, nos EUA. No entanto,
torna-se impraticável em grandes núcleos urbanos,
devido aos elevados custos e dificuldades logísticas.
Na Ria Formosa, este tipo de intervenção tem
encontrado grandes dificuldades de execução,
designadamente no que se refere à demolição de casas
constrdas ilegalmente em Domínio Hídrico /
Domínio Público Marítimo, o que, além de tender a
perpetuar situações de muito alto risco, põe em causa
a imagem do País como Estado de direito (Dias, 2002).
Intervenção Suave
A intervenção suave, também designada por
protecção dinâmica, desde há algumas décadas que é
utilizada preferencialmente como alternativa às
técnicas de intervenção rígida. Apresentam menores
impactes ambientais, sendo uma solução mais
apropriada para áreas sensíveis, como as ilhas-barreira.
As técnicas de protecção suave, tais como, a
realimentação de praias, a reconstrução dunar, a
transposição de molhes (by-passing), a abertura de
barras (para as deixar evoluir naturalmente) e as
“dragagens ecológicas” correspondem, em geral, a
uma intervenção inicial deixando depois a Natureza
“trabalhar”. Por essa razão estas técnicas são também
frequentemente designadas por “building with Nature”.
São, com frequência, menos dispendiosas e mais
eficientes a longo prazo do que as intervenções rígidas
(Koster & Hillen, 1995; Griggs, 1999; Dias et al., 2003).
Porém, estas técnicas têm que ser executadas com
forte suporte científico e devem envolver o conceito
de protecção de trechos costeiros na sua globalidade
e não apenas a protecção local de património edificado
em zonas de risco. Se forem concretizadas de forma
deficiente podem, mesmo, revelar-se
contraproducentes. É o que se passa, por exemplo,
quando a realimentação de praias é efectuada com
areias extraídas da praia submersa (acima da
profundidade de fecho): nestes casos nenhum
sedimento é adicionado ao sistema (Wells & McNinch,
1991), havendo apenas transferências dentro do
sistema, com consequências negativas para o seu
funcionamento natural, tanto ao nível morfodinâmico
como biológico.
Desde 1996 que o PNRF/ICN tem realizado
intervenções de carácter suave na tentativa de
melhorar o funcionamento do sistema e diminuir a
vulnerabilidade ao galgamento e, ao mesmo tempo,
manter a dinâmica dos processos naturais (Dias et al.,
2004). Entre as intervenções efectuadas procedeu-se
ao robustecimento da Península de Cacela, à abertura
das Barras do Ancão e da Fuzeta (deixando-as de
seguida evoluir naturalmente), à dragagem de muitos
canais que não são de navegação para melhorar a
circulação no sistema, à repulsão de sedimentos para
o cordão arenoso, à colocação de paliçadas para
reconstrução dunar, à plantação de Ammophila arenaria
e à construção de passadiços sobrelevados.
Segundo Dias et al. (2003), as intervenções suaves
realizadas na Ria Formosa propiciaram melhor
protecção das ilhas-barreira, tendo-se, em geral,
atingido os objectivos esperados. Os mesmos autores
referem que os sistemas naturais de elevada
importância sócio-económica e ambiental (como a
Ria Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo
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Filipe Rafael Ceia
Revista de Gestão Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1):57-77 (2009)
de técnicas, lucrando com o aproveitamento dos
recursos existentes.
A transposição (by-passing) dos molhes das barras
artificiais, método utilizado desde há muito um pouco
por todo o mundo, permitiria que as areias retidas
pelos molhes a barlamar fosse transferido para
sotamar, aí reconstituindo a deriva litoral e,
consequentemente, minimizando alguns dos impactes
negativos induzidos por estas estruturas. Vários
estudos que demonstram que esta tecnologia não
aparenta ter efeitos ambientais negativos associados
(e.g.: Lindeman, 1997 in Greene, 2002).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-
barreira da Ria Formosa, o presente trabalho incidiu
na actualização desta problemática na óptica da gestão,
uma vez que se trata de um sistema em permanente
transformação. Nesta análise é imprescindível ter
sempre em consideração que o sistema de ilhas-
barreira da Ria Formosa está consignado legalmente
como área de protecção ambiental desde 1978, ano
em que lhe foi atribuído o estatuto de Reserva Natural,
tendo ficado protegido pelo estatuto de Parque
Natural em 1987 (Decreto-lei 373/87) e Rede Natura
2000, tendo ainda sido integrado, desde 1980, na Lista
de Sítios da Convenção de Ramsar (zonas húmidas
de importância internacional).
Da alise efectuada conclui-se que é
imprescindível compatibilizar os diversificados valores
naturais (biológicos, geomorfológicos, sico-
químicos, geológicos, etc.) intrínsecos ao sistema com
os múltiplos interesses sócio-económicos decorrentes
da sua exploração (pesca, maricultura, aquacultura,
turismo, portos comerciais e de pesca, navegação de
recreio, etc.). Estando influenciado por fortes
impactes antrópicos directos e indirectos, tais como,
entre muitos outros, a erosão costeira e a intensificação
do assoreamento lagunar, a sobrevivência do sistema
“naturale a sustentabilidade da sua exploração
carecem de intervenções correctivas frequentes por
forma a minimizar os impactes negativos aludidos.
Tais intervenções terão que ser cautelosas e contínuas,
tentando, o mais possível, aproximar-se do que seria
a dinâmica natural do sistema.
É, ainda, urgente resolver vários conflitos de
interesses existentes, privilegiando as actividades
indutoras de menores impactes negativos e que,
simultaneamente, viabilizem uma melhor exploração
sustenvel do sistema. Aponta-se, a título
exemplificativo, o caso do turismo: há que
desincentivar o turismo de massas directo nesta área
(até porque nas proximidades pólos turísticos deste
nero bem consolidados), desenvolvendo em
alternativa outros tipos de turismo complementar,
designadamente o turismo de Natureza, a observação
de aves (bird watching) e de peixes (fish watching) em
ambiente natural, os passeios no meio lagunar em
embarcações não poluentes, o turismo gastronómico,
etc.A maior parte da zona de barreira do sistema não
está ainda ocupado por estruturas imobiliárias. Com
vista à exploração sustenvel do sistema é
imprescindível que estas zonas continuem sem
ocupação permanente, mantendo algumas
características pristinas ainda aí existentes. Nos poucos
núcleos urbanos piscatórios existentes, cujo caso
paradigmático é a povoação da Culatra, onde não
existem problemas realmente graves pois que se
localizam na margem lagunar (relativamente afastada
do litoral oceânico), devem-se adoptar algumas
medidas correctivas pontuais por forma a preservar
a sua identidade cultural, a melhorar a qualidade de
vida da população e a impedir um crescimento
exagerado. Nos restantes núcleos urbanos, com
características “turísticas”, vários dos quais localizados
nas zonas de maior risco do sistema, seria altamente
desejável que se procedesse à completa reformulação
da ocupação ou, sempre que possível, se optasse pela
desocupação.
No sentido de tentar resolver os problemas de
erosão costeira existentes (que se agravarão no futuro),
recomenda-se vivamente que: a) não se construam
obras de protecção rígida (esporões, paredões, etc.)
na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta da
qual o sistema depende; b) se continuem a executar
acções de robustecimento do cordão dunar e de
colmatação dos cortes de galgamento, utilizando, tanto
quanto posvel, sedimentos provenientes da
dragagem dos canais de navegação; c) se implemente
a transposição dos molhes portuários, com relevância
especial para os molhes da Barra de Faro-Olhão; d)
efectivamente se proceda à demolição das edificações
situadas em zonas de maior risco e sobre a duna
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Revista de Gestão Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1):57-77 (2009)
priria, concretizando finalmente decies
governamentais que têm vindo a ser repetidamente
tomadas há quase três décadas, mas nunca executadas
cabalmente; e) sejam amplificadas as acções de
intervenção e protecção dinâmica, na linha do que se
verificou desde finais do século passado (abertura de
barras, quando necessário, para as deixar evoluir
naturalmente, dragagens “ecológicas”, etc.) e que
transformaram a Ria Formosa num sítio de referência
internacional nesta matéria, e que nos últimos anos
apenas têm sido executadas de forma extremamente
moderada.
Finalmente, é altamente recomendável que em
todos os actos de gestão, envolvendo quer as
componentes geomorfológicas, quer as ecológicas,
quer as sócio-económicas se tenham sempre em
consideração as alterações climáticas, principalmente
no que se refere à elevação do nível médio do mar.
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... Ria Formosa barrier islands are a low lying sandy islands some kilometres off the Algarve central and eastern coast, south of Portugal. This very dynamic system is currently composed of five islands and two peninsulas, separated by six tidal inlets (e.g., Dias et al., 2004; Ceia, 2009) (Figure 4). Islands width varies between tens of meters (e.g., Ancão and Cacela) until more than 1.3 km (Culatra island SW extreme) and are characterized by dune fields sometimes higher than 25 meters (Dias, 1088). ...
... Also it should be mentioned the dune fields destruction by structures building and people walking. All these factors have been critical for barrier islands vulnerability amplification to overwashes (Dias et al., 2004; Ceia, 2009). During the 1941 event three small fishing villages were severely damaged and two new inlets were opened in the system. ...
... The urban nucleus, limited to a narrow strip of land with less than 100 meters between the ocean and the lagoon, is in a high risk situation. «Disaster odds increases from year to year, considering the rise in mean sea level and the hypothesis of a large storm match full spring tide» (Ceia, 2009). In short, in both settings, two effects are combined today which worsen the effect of a storm. ...
Article
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On February 15, 1941, the Iberian Peninsula was struck by a devastating windstorm. Human and material losses were significant. Coastal areas were among the most affected. Storm surge caused by strong wind and low atmospheric pressures favoured overwash occurrence. Unlike other past catastrophic events, there is abundant information on the 1941 windstorm. Historical sources – newspapers, survivor’s testimonies and official institutions reports - allowed us to realize its impact on territory and on populations. Until today 1941 phenomenon is still the biggest known storm. However, what happened then is almost forgotten. But, it can happen again. Sesimbra and Ria Formosa coastal areas are excellent case studies to understand what happened on the windstorm day and to discuss what could happen if an event like this reaches those regions again. The analysed data lead to the conclusion that the consequences would be even more devastating. First, because the current urbanization level is much higher. Second, Sesimbra and Ria Formosa are as vulnerable (or even more) to extreme events as they were in 1941. Third, its inhabitants have no "risk memory" and therefore have no concept of the danger inherent to seashore occupation. Preserving the memory of such events can be a way of preparing people for new disasters and to get authorities to take concrete measures to mitigate their effects.
... The area of the lagoon, with a length of 60 km, is around 18 400 ha and the barrier island that separates it from the sea is about 2000 ha. Strong winds and high tides, in turn, cause a frequent fluctuation in the proportions of islands and inlets and even the risk of flooding (Ceia, 2009). It is an interesting wetland, internationally recognized as such. ...
... This park is also important for its dunes and marshes.However, together with an identification of its potentialities, there is an apparent contrast with its vulnerability precisely as a complex and multidimensional ecosystem, a situation that becomes clear with the development of tourism in the 1960"s and its most recent growth. In 2018, there were around 47000 visitors, having reached its peak in 2017 with around 56000 visitors.The inherent increase in human occupation is accompanied by the growth of many infrastructures, as well as an intensive use of means of transport, with emphasis on cars, which end up compromising the stability of the most vulnerable and most-at-risk areas, like the barrier of islands itself, with significant damage to the natural habitat, and with negative consequences for the inhabitants who live on the resources it provides, in particular in terms of fishing, bivalve harvesting and salt extraction (Ceia, 2009). According to the Electric Mobility Plan of Ria Formosa Natural Park (2020),the park had already been visited by 46,662 visitors, of which 37% came to contact with nature, 32% to observe birds, 15% to walk and 13% for cultural motivations. ...
... Les changements morphologiques et volumétriques enregistrés au niveau des différents profils des plages de la péninsule d'Ancão et l'île de Tavira mettent en évidence l'importance des opérations de rechargement des côtes en sédiment pour le maintien de l'équilibre dynamique des plage car il repose sur les échanges sédimentaires entre la plage et l'avant plage. D'où le besoin constant de rechargement de sable à ces sites pour atténuer les effets de submersion et d'aider à la restauration des plages après le passage d'une tempête (Dias et al, 2003 ;Ceia, 2009). le passage d'une tempête (Dias et al, 2003 ;Ceia, 2009). ...
... D'où le besoin constant de rechargement de sable à ces sites pour atténuer les effets de submersion et d'aider à la restauration des plages après le passage d'une tempête (Dias et al, 2003 ;Ceia, 2009). le passage d'une tempête (Dias et al, 2003 ;Ceia, 2009). Teixeira S.B., Alves F.J., Andrade C.F. & Romariz C., 1989. ...
Conference Paper
Lining most of the world’s exposed shores, beach ecosystems are subject to numerous, increasing pressures imposed by burgeoning coastal development and climate change. Consequently, beach ecosystems are vulnerable and their ecological health and resilience are in question. This paper identifies the major threats to beaches, explores some of the ecological consequences, and discusses concepts of ecological health and resilience as applied to sandy shores. We also suggest some goals and strategies for coastal management and pose questions for which robust answers are currently lacking.
... Ancão Peninsula shows a general NW-SE direction and has undergone considerable morphological changes in recent decades, due to shoreline retreat, inlet relocation or beach nourishment (Vila-Concejo et al., 2002;Ferreira et al., 2006;Matias et al., 2008, Ceia, 2009Rodrigues et al., 2012). Its natural length ranged from 8,500 m in 1947 to 10,000 m in 2007, depending on the Ancão Inlet position and migration. ...
... Currently existing indicators related to dredging operations performed in the study area show that they have improved the functioning of the ecological system of the Ria Formosa, the renewal of water in the lagoon system, and that they also induced positive effects on different economic activities (Dias et al., 2003;Ceia, 2009;Ceia et al., 2010). These authors also suggest that natural systems of high socio-economic and environmental importance, such as Ria Formosa, can be managed using these types of techniques, while taking advantage of the use of existing resources. ...
Article
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The Ria Formosa barrier island system is the most remarkable physiographic unit of the Algarve, south Portugal. This system composed of sand spits, beaches and dunes constitutes a Natural Park that has undergone artificial nourishment under the project “Rehabilitation of the lagoon system of Ria Formosa”. The main objective of this study is to evaluate the effects of a beach and dune rehabilitation program in particle size and morphology in two contrasting sites of the system (Ancão Peninsula and Tavira Island). A monitoring program was performed from June 1999 until September 2000, in order to determine the morphological and grain size changes along these beaches, before and after nourishment. The results of particle size analysis show the predominance of coarse sand at Ancão Peninsula and medium sands in Tavira Island. Nourished beaches presented coarser sands and bimodality, due to the heterogeneity of the dredged sediment used for nourishment. The nourished profiles, with increased sand stock, quickly developed natural profile morphology and proved to be able to decrease the effects of acting storms, namely avoiding dune erosion and overwashes. The soft interventions conducted at Ria Formosa proved to be useful on protecting the natural system, being a positive indication for future interventions at sensitive areas prone to marine erosion.
... Les changements morphologiques et volumétriques enregistrés au niveau des différents profils des plages de la péninsule d'Ancão et l'île de Tavira mettent en évidence l'importance des opérations de rechargement des côtes en sédiment pour le maintien de l'équilibre dynamique des plage car il repose sur les échanges sédimentaires entre la plage et l'avant plage. D'où le besoin constant de rechargement de sable à ces sites pour atténuer les effets de submersion et d'aider à la restauration des plages après le passage d'une tempête (Dias et al, 2003 ;Ceia, 2009). le passage d'une tempête (Dias et al, 2003 ;Ceia, 2009 ...
... D'où le besoin constant de rechargement de sable à ces sites pour atténuer les effets de submersion et d'aider à la restauration des plages après le passage d'une tempête (Dias et al, 2003 ;Ceia, 2009). le passage d'une tempête (Dias et al, 2003 ;Ceia, 2009 ...
... No Z. marina was observed in the two abovementioned sites where it had been previously documented: Faro Island and Cacela-a-Velha. At Faro Island channel the disappearance was due to dredging of this channel (by dredging activities that started in 1996 to deepen the channels), whereas at Cacela the causes for disappearance are unknown but might possibly also be related to the intense interventions in this area during 1996/1997, that included channel dredging, closing a recent inlet and refilling barrier island dunes (Ceia, 2009). The Ludo (Baião) meadow had been reduced from ca. 300 m 2 in the spring of 2001 to about 10 m 2 in December 2004, and in April 2005 only a single living shoot was observed among a dead rhizome mat covered by a decaying Ulva spp. ...
... No Z. marina was observed in the two abovementioned sites where it had been previously documented: Faro Island and Cacela-a-Velha. At Faro Island channel the disappearance was due to dredging of this channel (by dredging activities that started in 1996 to deepen the channels), whereas at Cacela the causes for disappearance are unknown but might possibly also be related to the intense interventions in this area during 1996/1997, that included channel dredging, closing a recent inlet and refilling barrier island dunes (Ceia, 2009). The Ludo (Baião) meadow had been reduced from ca. 300 m 2 in the spring of 2001 to about 10 m 2 in December 2004, and in April 2005 only a single living shoot was observed among a dead rhizome mat covered by a decaying Ulva spp. ...
Article
Numerous reports of seagrass decline around the world indicate that seagrass habitats are undergoing a global crisis with important consequences for coastal biodiversity, environmental status and economy, reflecting their vulnerable and overlooked status within many conservation agendas. This paper describes the results of the first extensive survey of this habitat in Portugal. It shows the present cover distribution and declining trends of seagrasses on the Portuguese coast (1980–2010), identifies environmental and conservation issues, and discusses challenges for long-term survival. Seagrass populations of the Portuguese coast are also facing an unprecedented decline in distribution, matching the general trends described for most world seagrasses. The results of this investigation show a dramatic decrease of seagrass cover in Portugal in the last 20 years. This decrease followed different trends for the three species present on this coast. Zostera noltii, having disappeared from some systems by almost 75%, is still the most abundant species, present in 10 of the 18 sites assessed. Zostera marina is presently the most endangered seagrass species in Portugal, as it disappeared from six of eight historical locations and faces extinction from the Portuguese territory if measures are not taken to assure the protection of the last regions left with populations. Cymodocea nodosa has a geographic distribution range limited to the southern/southwestern coasts, and its current conservation status is uncertain, although there is evidence for the recent occurrence of several population bottlenecks. Management questions are discussed and actions to improve habitat conservation are suggested.
Chapter
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Praia de Faro is an open sandy beach in the Algarve (Southern Portugal), with a high degree of on-off shore sediment exchange in winter associated with a constant change between high and low-to-moderate energy wave conditions. A monitoring study of Praia de Faro was carried out between May 1995 and April1996 in order to obtain an idea of seasonal beach changes, cross-shore profile and alongshore variability. The western part of the monitored area is most impacted by human activity, the dune ridge has been destroyed and beach profiles have smaller sand stocks, leading to a high probability of coastal erosion problems. Overwashes are f requent in this sector, being sometimes responsible for the damage of houses and infrastructure. On the eastern part of Praia de Faro the dune ridge is preserved and beach profiles show a better ability to react to storm events. Beach recovery is generally good and no major sediment losses were found in the short and medium termo Th is can help future artificial beach nourishment, in order to avoid extreme overwashes and damages to properties, since the life span of such kinds of interventions cou ld be enough to make them cost effective.
Article
In this paper some backgrounds are given on the coastal defence policy for the Netherlands. Coastal defence in the Netherlands is not only a State affair, and therefore the Dutch combat erosion by law. -from Authors
Article
Beach scraping is a temporary, highly experimental, but widely used measure to counteract erosion by removing sediment from the lower beach and depositing it on the upper beach near the toe of the dune. In this paper we 1) compare results of previous beach scraping studies, 2) discuss the regulations and status of beach scraping in North Carolina, 3) provide field data from a one year study on scraping at Topsail Beach, North Carolina, that included the effects of Hurricane Hugo, and 4) offer recommendations for future scraping projects. Despite the higher erosion rates in the scraped section, it can be argued that, without scraping, the loss of sediment could have been even greater during the passage of Hugo. -Authors