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Sexo para o que der e vier: masculinidade e comportamentos preventivos face à SIDA

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Abstract

Em, aproximadamente, duas décadas, a epidemia da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA) terá feito mais de 11 milhões de mortos. Inicialmente, começou por se concentrar nos países ricos, sobretudo nos Estados Unidos da América, sendo esta nova "doença", considerada como uma doença dos ricos (Bastos, 2002; Costa, 1996; Costa & Lima, 1998; Lambert, 2000; Nossa, 2001). Porém, rapidamente se constatou que a região mais pobre do mundo, ou seja, a África Subsahariana, se tornava a zona geográfica mais exposta ao risco, seguindo-se o Sul da Ásia, a América Latina, bem como outras regiões onde continua a ser difícil medir a prevalência da infecção, de que é exemplo a China (Lambert, 2000). De acordo com as estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA (ONUSIDA), neste momento, deverá haver um total de 42 milhões de pessoas com o Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH) ou SIDA, das quais 38.6 milhões são adultos (19.2 milhões são mulheres), e 3.2 milhões são crianças com menos de 15 anos (CNLCS, 2003). A maior parte desta população vive nas regiões do chamado Terceiro Mundo. A SIDA torna-se, assim, "uma doença da pobreza e da exclusão, atingindo as populações mais pobres e menos instruídas, e as camadas sociais mais desfavorecidas, inclusive no interior dos países ricos" (Lambert, 2000, p. 7). Em Portugal, o primeiro caso de SIDA foi diagnosticado em 1983 e, desde então, tem vindo a aumentar (Cardoso, 1999), encontrando-se, actualmente, notificados um total de 21.363 casos de infecção VIH/SIDA nos diferentes estádios da infecção (CNLCS, 2003). Desde o aparecimento da doença que existe um maior número de casos do sexo masculino, sendo a via de transmissão mais comum a "toxicodependência" e as relações "heterossexuais", englobando principalmente pessoas com idades entre os 20 e os 49 anos (CNLCS, 2003). Neste contexto, considerámos importante proceder a uma análise aprofundada de alguns estudos teóricos e empíricos já realizados sobre esta temática, com um especial enfoque num estudo por nós realizado (Santos, 2001), de modo a percebermos melhor os diferentes factores psicossociais a ela associados, ou seja, os conhecimentos, as crenças, as atitudes e os comportamentos face à sexualidade, ao VIH e à SIDA, por parte das pessoas, em geral, e dos jovens, em particular. Os factores de género e etnicidade ocupam, nesta análise, um lugar central.
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Capítulo 5
Sexo para o que der e vier: masculinidade
e comportamentos preventivos face à sida
Helena Santos
1
Em, aproximadamente, duas décadas, a epidemia da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida
(SIDA) terá feito mais de 11 milhões de mortos. Inicialmente, começou por se concentrar nos países
ricos, sobretudo nos Estados Unidos da América, sendo esta nova "doença", considerada como uma
doença dos ricos (Bastos, 2002; Costa, 1996; Costa & Lima, 1998; Lambert, 2000; Nossa, 2001).
Porém, rapidamente se constatou que a região mais pobre do mundo, ou seja, a África
Subsahariana, se tornava a zona geográfica mais exposta ao risco, seguindo-se o Sul da Ásia, a
América Latina, bem como outras regiões onde continua a ser difícil medir a prevalência da
infecção, de que é exemplo a China (Lambert, 2000).
De acordo com as estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Programa
Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA (ONUSIDA), neste momento, deverá haver um
total de 42 milhões de pessoas com o Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH) ou SIDA, das quais
38.6 milhões são adultos (19.2 milhões são mulheres), e 3.2 milhões são crianças com menos de 15
anos (CNLCS, 2003). A maior parte desta população vive nas regiões do chamado Terceiro Mundo.
A SIDA torna-se, assim, “uma doença da pobreza e da exclusão, atingindo as populações mais
pobres e menos instruídas, e as camadas sociais mais desfavorecidas, inclusive no interior dos
países ricos” (Lambert, 2000, p. 7).
Em Portugal, o primeiro caso de SIDA foi diagnosticado em 1983 e, desde então, tem vindo a
aumentar (Cardoso, 1999), encontrando-se, actualmente, notificados um total de 21.363 casos de
infecção VIH/SIDA nos diferentes estádios da infecção (CNLCS, 2003). Desde o aparecimento da
doença que existe um maior número de casos do sexo masculino, sendo a via de transmissão mais
comum a “toxicodependência” e as relações “heterossexuais”, englobando principalmente pessoas
com idades entre os 20 e os 49 anos (CNLCS, 2003).
Neste contexto, considerámos importante proceder a uma análise aprofundada de alguns
estudos teóricos e empíricos já realizados sobre esta temática, com um especial enfoque num estudo
por nós realizado (Santos, 2001), de modo a percebermos melhor os diferentes factores
psicossociais a ela associados, ou seja, os conhecimentos, as crenças, as atitudes e os
comportamentos face à sexualidade, ao VIH e à SIDA, por parte das pessoas, em geral, e dos
jovens, em particular. Os factores de género e etnicidade ocupam, nesta análise, um lugar central.
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Licenciada e Mestranda em Psicologia Social e Organizacional. Bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia
através do Projecto POCTI/SOC/44726/2002.
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1. A SIDA COMO DOENÇA E COMO FENÓMENO SOCIAL
A SIDA é causada pelo VIH (Costa, 1996). Trata-se de um vírus muito específico,
pertencente à categoria dos retrovírus e, basicamente, a sua acção consiste na destruição paulatina
do sistema imunitário humano, conduzindo a uma situação de vulnerabilidade progressiva do corpo
da pessoa infectada, tornando-a susceptível aos efeitos de um conjunto de outros vírus que, na
ausência de resistências, invadem o organismo, provocando, assim, as geralmente designadas
"Doenças Oportunistas” (Lopes, 2000, p. 111).
Embora este seja um fenómeno relativamente recente, uma vez que os primeiros casos datam
de 1981 (Joinet & Mugolola, 1994), a investigação fez enormes progressos, existindo actualmente
amplo conhecimento sobre a doença (e.g., Araújo, 2002; Bastos, 2002; Cardoso, 1999; Costa, 1996;
Costa & Lima, 1998; Guerra, 1994; Lambert, 2000; Lopes, 2000; Nossa, 2001 e Victorino, 2003),
pelo que não é necessário descrevê-la aqui exaustivamente. Referiremos, apenas, que foram
identificados dois tipos de vírus: o VIH1 e o VIH2. O VIH1 foi o primeiro tipo de vírus a ser
identificado, em 1983 (em França, por Luc Montagnier e colaboradores, e nos USA, por Gallo e
colaboradores) e o VIH 2 foi identificado em 1986, pela investigadora portuguesa Odette Ferreira e
colaboradores, sendo este último inicialmente detectado em doentes africanos (Araújo, 2002).
Com base na classificação do Centers for Desease Control (CDC) e do Centro de Vigilância
Epidemiológica das Doenças Transmissíveis (CVEDT), Araújo (2002), descreve os três estádios
progressivos que caracterizam esta doença: (a) Portador Assintomático ou Seropositivo (PA - é todo
o indivíduo que, tendo tido contacto com o vírus e possuindo anticorpos detectáveis no seu sangue,
não apresenta sintomas, podendo vir ou não a desenvolver a SIDA, embora a possa transmitir); (b)
Complexo Relacionado com a SIDA (CRS - é o estádio em que o indivíduo, sendo seropositivo,
apresenta sintomatologia frequentemente caracterizada por adenopatias generalizadas, fadiga,
faringites e diarreias crónicas, suores nocturnos, emagrecimento e febre); (c) SIDA o estádio em
que a imunodepressão, induzida pelo VIH, atinge um grau mais acentuado, determinando quadros
clínicos, caracterizados por infecções oportunistas e tumores.
Em relação ao modo de transmissão, assinale-se que, apesar do carácter epidémico, existem,
apenas, quatro formas de contágio, podendo o VIH ser transmitido através: de relações sexuais
(heterossexuais e homossexuais, caso exista um contacto directo com as secreções orgânicas
respectivas, como por exemplo, o esperma masculino e os fluídos vaginais femininos); através do
contacto com o sangue (o que poderá, por um lado, acontecer através da partilha de instrumentos
que entrem em contacto directo com o sangue, como é o caso dos que são utilizados na
administração endovenosa de drogas e, por outro, através da transfusão de sangue); e de mãe para
filho, durante a gestação, o parto e a aleitação (Lacerda, 1998, cit. por Lopes, 2000), não sendo
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evidente que a saliva, o suor e as lágrimas possam transmitir o vírus, embora possam contê-lo
(Joinet & Mugolola, 1994).
Num estudo realizado por estes últimos autores constatou-se que, de todas estas formas de
transmissão, a mais importante era o contacto sexual, ou seja, 75% das pessoas tinham sido
contaminadas pelo contacto sexual e todos os outros infectados representavam apenas 25% do total
(Joinet & Mugolola, 1994). É, provavelmente, por essa razão, que o preservativo é recomendado
como sendo o melhor meio para impedir o alastramento do VIH (Pato, 1999), visto que quando
correctamente utilizado constitui o meio mais eficaz de prevenção (Araújo, 2002), continuando a
ser a única “arma” garantida contra a SIDA e outras doenças sexualmente transmitidas (DST)
(Contra SIDA, Junho, 1999).
1.1. Factores históricos e sociais
Em 1981, o CDC de Atlanta, um dos organismos que nos EUA faz o controlo e vigilância das
doenças, descreveu, pela primeira vez, uma nova síndrome de causa desconhecida, em que existia
uma falha no sistema imunitário (Joinet & Mugolola, 1994), notando também que os doentes eram
maioritariamente jovens, saudáveis até então, e com comportamentos homossexuais (Bastos, 2002).
Um ano mais tarde, a OMS aceita o termo “SIDA” para identificar esta nova síndrome (Joinet &
Mugolola, 1994).
Portanto, num contexto histórico, a epidemia surgiu entre homossexuais, sendo de início,
associada unicamente a indivíduos do sexo masculino com essa orientação sexual (Guerra, 1994;
Bastos, 2000). Mas, com a evolução da SIDA, começaram a ser detectados casos noutro grupo
específico, constituído pelos toxicodependentes que faziam uso da via endovenosa. Como estes se
injectavam e, geralmente, partilhavam as seringas e agulhas que utilizavam, provocaram um rápido
aumento de contaminados pelo VIH. Por essa razão, começou-se a estabelecer uma relação entre a
contaminação e a troca de produtos sanguíneos, assim como com comportamentos sexuais
“promíscuos” que, geralmente, aparecem associados ao comportamento toxicodependente. Em
simultâneo, começaram a surgir contaminações com o vírus noutro grupo de indivíduos que tinham
sofrido várias transfusões de produtos sanguíneos, sobretudo nos hemofílicos (Ogden, 1999),
verificando-se, mais tarde, uma rápida propagação à população em geral, esta atribuída ao recurso à
prostituição e a relacionamentos sexuais esporádicos com vários parceiros (Reinisch, Sanders &
Ziemba, 1988, cit. por Guerra, 1994).
Tendo em conta esta evolução, o conceito de “grupos de risco” começou a ser posto em causa,
uma vez que os números mostravam que a população homossexual começava a ser uma minoria,
quase insignificante, no número de casos de SIDA no mundo. E, como tal, após muitos anos de
activismo, a sociedade teve de aceitar o facto de que esta não era uma doença de “grupos de
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risco”, podendo afectar qualquer indivíduo com um “comportamento de risco” (Joinet & Mugolola,
1994).
Ainda numa perspectiva histórica, a verdade é que, através dos dados conhecido sobre a
SIDA, criou-se o estigma em torno da mesma, visto afectar grupos sociais já rejeitados pela
sociedade: os homossexuais e os toxicodependentes (Guerra, 1994). De facto, a forma como esta
patologia se repercutiu e as características dos principais grupos infectados, suscitou imediatamente
uma resposta da comunidade aos comportamentos social e moralmente julgados como desviantes.
Ela foi, sobretudo, discriminatória e culpabilizadora para a maioria dos indivíduos afectados. Se até
essa altura esses grupos eram marginalizados, a partir daí a sociedade passou a ver a SIDA como
um castigo, devido aos comportamentos “desviantes” que estavam na sua génese. Para ilustrar esta
ideia, existem vários exemplos, nomeadamente, o de Jerry Falwell que avança o diagnóstico
genérico de que a SIDA é o julgamento que Deus fez desta sociedade que não segue os Seus
mandamentos; o do bispo Falcão de Brasília que considerou a SIDA como uma consequência da
moral de decadência; ou o do cardeal do Rio de Janeiro, Eugênio Sales, que define a SIDA como
sendo um castigo de Deus e uma vingança da natureza (Sontag, 1989).
É de salientar que as ideologias políticas autoritárias têm um grande interesse em promover o
medo e o sentimento de ameaça da tomada do poder por parte de elementos “estranhos”. As
doenças epidémicas abrem as portas aos apelos à proibição da entrada de estrangeiros, por estas
serem percebidas como doenças estrangeiras e, segundo Bastos (2002), a SIDA não foge à regra. A
propaganda xenófoba sempre descreveu os imigrantes como portadores de doenças (e.g., nos fins do
século XIX, a cólera, febre-amarela, febre tifóide, tuberculose), e, como tal, não é de admirar que
Jean-Marie Le Pen, representante das ideias mais racistas e xenófobas, em França, tenha adoptado a
estratégia de atiçar o medo desta nova ameaça exterior, insistindo no facto de que a SIDA é
contagiosa, apelando à instauração de um exame geral obrigatório, assim como à quarentena de
todos os portadores do vírus (Sontag, 1989).
No meio científico, inicialmente, o nome proposto para a SIDA foi GRIDS (Gay-Related
Immune Deficiency), o que significa que a própria comunidade científica reforçava a ideia de
associação da SIDA aos homossexuais (Ogden, 1999). Constitui um bom exemplo, a afirmação de
Fletcher num editorial do Southern Medical Journal, defendendo que uma das soluções óbvias para
a SIDA era a conversão dos homossexuais em heterossexuais (Cassens, 1985, cit. por Guerra,
1994).
Em síntese, e como diria Sontag (1989), a SIDA é o cavalo de Tróia de toda a gente. Por
exemplo, seis meses antes das Olimpíadas de 1988, o Governo Sul-Coreano anunciou que iria
distribuir preservativos, gratuitamente, a todos os participantes estrangeiros; o director-geral do
Conselho de Investigação Médica do Governo Indiano referiu tratar-se de uma doença totalmente
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estrangeira, e a única maneira de deter a sua difusão seria evitar os contactos sexuais entre indianos
e estrangeiros (Sontag, 1989).
1.2. Dados epidemiológicos: a SIDA em Portugal e no Mundo
Em Portugal, o primeiro caso de SIDA foi diagnosticado em 1983 e, desde então, tem vindo a
aumentar, encontrando-se, actualmente, notificados um total de 21.363 casos de infecção
VIH/SIDA nos diferentes estádios da infecção (CNLCS, 2003). O total acumulado de casos de
SIDA, em 31 de Dezembro de 2002, segundo o CVEDT, era de 9.735, dos quais 8.117 (83, 4%)
correspondem a indivíduos do sexo masculino e 1.614 (16,6%) a indivíduos do sexo feminino
(CNLCS, 2003). Assim, e tal como se poderá constatar no gráfico n.º1, desde o surgimento da
epidemia que existe um maior número de casos do sexo masculino.
Gráfico 1 - Casos por diagnóstico e por sexo: de 01/01/1983 a 31/12/2002
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1983/90
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
Ignorado
Ano
Casos
masculino
feminino
Fonte: CNLCS (2003).
Até aos 14 anos, as diferenças entre os sexos são praticamente nulas; no entanto, a partir dos
15 anos, as diferenças vão-se acentuando (e.g., no grupo etário dos 20-24, 739 casos correspondem
ao sexo masculino e 216 ao sexo feminino), sendo o grupo etário dos 20 aos 49 o mais afectado
(86%), como se pode verificar no gráfico n.º 2.
Gráfico 2 - Casos diagnosticados até 2002 por grupo etário e sexo
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
0-11 meses
1-4 anos
5-9
10-12
13-14
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
>65
Ignorado
Grupo etário
Casos
masculino
feminino
Fonte: CNLCS (2003).
96
96
Em relação à categoria de transmissão, segundo a mesma fonte, as vias de transmissão mais
comuns, até 2002, são a toxicodependência” (50%), seguindo-se das relações “heterossexuais”
(28,8%) e das relações “homo ou bissexuais” (14,8%), tendo-se verificado, nesta última, uma
tendência para uma diminuição substancial da incidência de casos. Por exemplo, enquanto que em
1995 se tinham verificado 115 casos, em 2002 observaram-se apenas 39.
A nível mundial, o número de casos também tem vindo a aumentar exponencialmente, com
excepção da Austrália e Nova Zelândia
2
. Com base na leitura da figura n.º 1, podemos constatar que
em 2000, o número de casos era de 36 milhões, passando em 2002 para 42 milhões. Houve,
portanto, um aumento de aproximadamente seis milhões de casos nestes dois últimos anos, sendo a
África Subsahariana a zona do globo com uma maior estimativa de disseminação desta epidemia,
com 29, 4 milhões de pessoas infectadas em 2002. É de salientar que esta região, com 10% da
população mundial, tem 70% do total dos casos de infecção VIH/SIDA e mais de 50% são
diagnosticados em mulheres (Araújo, 2002).
Figura 1: Adultos e crianças com VIH/SIDA
540 000
400 000
25,3 milhões
700 000
5,8 milhões
15 000
920 000
390 000
1,4 milhões
640 000
Europa
Ocidenta
l
África
subsahariana
Europa Oriental
e Ásia Central
Sul e Sudeste da Ásia
Austrália
e Nova-Zelândia
América do Norte
Caraíbas
América Latina
Leste da Ásia e Pacífico
África do Norte
e Médio-Oriente
Total: 36,1 milhões
Estimativas do fim de 2000
570 000
550.000
milhões
6 milhões
15 000
980 000
440 000
1,5 milhões
milhões
1.2 milhões
Europa
Ocidental
África
subsahariana
Europa
e Ásia Central
1,2
milhões
Sul e Sudeste da Ásia
Austráli
e Nova-
Zelândia
América do Norte
Caraíbas
América Latina
Leste
da
Ásia e
Pacífico
África do Norte
e Médio-Oriente
Total: 42
milhões
Estimativas do fim de 2002
1.3. Conhecimento da SIDA
Por tudo isto, as preocupações não têm parado de aumentar, dando origem a várias teorias e
debates em torno deste fenómeno. Se, por um lado, existem alguns autores que defendem que as
campanhas de educação e o aumento do conhecimento em relação à SIDA não são uma garantia de
que as pessoas vão alterar as suas atitudes e, consequentemente, os seus comportamentos de risco,
outros acreditam que estes podem conduzir a uma mudança de comportamentos (Willig, 1992),
2
Em relação a 2000: www.unaids.org/wac/2000/wad00/files/wad2000MasterFrench
97
97
levando, por exemplo, ao aumento do uso do preservativo (Rosenthal & Shepherd, 1993).
É legítimo pressupor que a melhor maneira de as pessoas poderem combater um problema
seja, antes de mais, conhecê-lo. Porém, em relação à SIDA, a investigação tem mostrado que esse
conhecimento é, ainda, bastante escasso, apesar desta ser conhecida desde 1981 (e.g., Lucas, 1993;
Bowd & Loos, 1995).
Em Portugal, também têm sido realizados alguns estudos (e.g., Lucas, 1993; Amaro, 1994)
que mostram que a SIDA é conhecida por uma larga maioria da população, que sabe quais as
principais vias de transmissão. No entanto, mais recentemente, passadas quase duas décadas do
surgimento da SIDA, um estudo realizado junto da população estudantil universitária do distrito de
Bragança, vem mostrar que os jovens ainda revelam alguma falta de conhecimento sobre os
comportamentos de risco. Neste estudo, foram inquiridos 517 jovens, dos quais 19,2% não sabia o
que significava a palavra “SIDA” e 16,4% acreditava que se pudesse transmitir através de picadas
de mosquitos, suor, lágrimas, saliva e pelo contacto social (Contra SIDA, Setembro, 1999).
Mas se, aparentemente, é difícil conseguir fazer chegar a informação a este grupo, mais difícil
deverá ser conseguir fazê-la chegar às comunidades mais marginalizadas da sociedade, como os
imigrantes e as minorias étnicas (Contra SIDA, Junho, 1999). É o que defende o anterior Alto
Comissário para as Minorias Étnicas, José Leitão (2000), uma vez que estas comunidades
enfrentam, geralmente, várias dificuldades, como o uso da língua do país de acolhimento, tornando-
as mais vulneráveis, o que faz com que sejam, em Portugal, designadas por “população em situação
de risco”, relativamente à SIDA (Contra SIDA, Dezembro, 2000). A título de exemplo, em 1999,
foi realizado um estudo com 248 pessoas, na zona de Lisboa, sendo o país de origem mais
representado Cabo-Verde (44,3%), seguido pela Guiné-Bissau (19,6%) e de Portugal (19,4%).
Constatou-se que 30% destas pessoas não conhecia bem os modos de transmissão do vírus,
enquanto que 55% não tinha a certeza e 10% não os conhecia de todo. Em relação às campanhas,
64,5% respondeu que estas são pouco adaptadas ou mesmo completamente desadequadas, e que
deviam ser realizadas campanhas específicas dirigidas à população africana (38,3%) (ABRAÇO,
Março-Abril, 2000).
É importante referir que esta questão do aumento do conhecimento não é assim tão linear,
podendo, segundo Oden (1999), levar a várias consequências: (a) aumentar o medo, o que poderá
provocar a negação, não tendo qualquer efeito ou tendo mesmo um efeito prejudicial no
comportamento; (b) aumentar a percepção da realidade e do risco, o que pode provocar uma
mudança de comportamento, uma vez que o indivíduo não está com medo; e, (c) aumentar a
percepção da gravidade da doença, o que pode fazer com que as pessoas que realmente a contraíram
Em relação a 2002: www.eurohiv.org/aidssurv/rapport_67/1
98
98
sejam culpabilizadas por isso. Poderá, ainda, haver uma influência de factores, como: a idade, o
sexo, a etnia, a educação, o estatuto sócio-económico, as atitudes ou a personalidade, os factores
situacionais, bem como as características da relação (Oden, 1999).
2. A SEXUALIDADE: PADRÕES E CONFIGURAÇÕES
Tendo em conta que o modo mais frequente de transmissão do VIH é através das relações
sexuais, torna-se, então, importante perceber como é que a sexualidade é construída, enquanto
fenómeno cultural, e de que modo os padrões e configurações que lhe estão ligados podem
contribuir para a disseminação da SIDA.
2.1. A sexualidade na cultura ocidental
De acordo com Giddens (1997), as atitudes ocidentais relativas ao comportamento sexual
foram sobretudo moldadas pelo Cristianismo, ao longo de cerca de dois mil anos, que encarava todo
o comportamento sexual como suspeito e procurava mantê-lo ao nível mínimo necessário à
reprodução. O acto sexual associava-se, por inerência, ao pecado, sendo considerado um mero meio
de procriação ou de fuga à concupiscência (Pacheco, 2000). Por isso, a continência e a castidade
conjugal eram muito valorizadas e, no caso extremo, chegava-se a sugerir a abstinência sexual. De
facto, muitos eram os autores (e.g., Alvares, 1692, cit. por Pacheco, 2000, p. 31) que condenavam
os “excessos” sexuais e os “feios desejos e deleites”, mesmo no interior do casamento, sendo pouco
habitual a ideia de que a satisfação sexual podia e devia ser conseguida no casamento (Giddens,
1997).
No século XIX, as concepções religiosas sobre a sexualidade foram parcialmente substituídas
pelo discurso médico, sendo, no entanto, os primeiros artigos médicos, tão austeros como a igreja,
em relação ao comportamento sexual. Na generalidade, os comportamentos ligados à reprodução
eram vistos como normais, mas outros como, por exemplo, a masturbação e a homossexualidade
eram considerados anormais (Ogden, 1999). Dizia-se, nomeadamente, que a masturbação causava
cegueira, loucura, problemas cardíacos, e que o sexo oral era causador de cancro (Fieldman &
MacCulloch, 1980, cit. por Giddens, 1997). Tal facto é ilustrado pela preocupação vitoriana com a
moralidade sexual e pelos movimentos que proclamavam o puritanismo sexual e as tentativas para
controlar a prostituição. O sexo era, portanto, visto como um impulso biológico, que precisava de
ser expresso, mas somente dentro dos limites das suas funções, ou seja, a reprodução (Ogden,
1999).
Porém, nas cidades e vilas em expansão, a prostituição era comum, sendo, por vezes, bem
99
99
tolerada. Muitos homens, aparentemente bem comportados e dedicados às suas esposas,
relacionavam-se, de um modo regular, com prostitutas ou tinham amantes (Corbin, 1991). E tal
comportamento era tratado com brandura, sendo a opinião pública bastante tolerante em relação à
infidelidade por parte dos homens, pois era visto como prestigiante relacionar-se sexualmente com
muitas mulheres (Pacheco, 2000). Em contraste, as mulheres que tivessem amantes, podiam mesmo
ser banidas da sociedade, caso o seu comportamento viesse a público, o que significa que a
sexualidade era especialmente imprópria para as mulheres, sendo esperado que estas não tivessem
qualquer desejo sexual, visto que só as mulheres "perdidas" gostavam de sexo (Vilar, 2003, p. 87).
Nos anos 60 do século XX, começaram a surgir atitudes mais liberais: o aparecimento da
pílula levou à separação entre a sexualidade e a reprodução; o prazer sexual passou a ser visto como
uma característica desejável e importante nas relações conjugais; a sociedade adoptou atitudes mais
flexíveis face à actividade sexual pré-nupcial e passou a ter uma atitude tolerante relativamente a
uma larga gama de práticas sexuais (Giddens, 1997). No entanto, em Portugal, esta era, ainda, uma
época em que o sexo se escondia e dissimulava, dando lugar a que muitos adolescentes se
assustassem quando, sozinhos, descobriam os mistérios da sexualidade e que, muitas jovens
chegassem à noite de núpcias na mais pura ignorância sexual (Pacheco, 2000).
Em 1967, é criada a Associação para o Planeamento da Família (APF) que se propõe divulgar
os métodos de contracepção modernos, nomeadamente, a pílula (Vilar, 2003), mas mais tarde,
em 1974, a instauração da democracia viria a possibilitar uma certa ruptura com a moral dominante,
abrindo a possibilidade a novos quadros de relacionamento interpessoal e à relativa generalização
das relações sexuais pré-conjugais. No início da década de 80, já as adolescentes se sentiam
pressionadas para ter namorado e para ter relações sexuais (Pacheco, 2000). Hoje, as relações
sexuais pré-conjugais são amplamente aceites, nomeadamente, entre os jovens de estratos sociais
mais elevados e com maior nível de escolaridade (Torres, 1998).
Em suma, as atitudes relativas à sexualidade tornaram-se mais permissivas nestes últimos
anos, na maior parte dos países ocidentais. Contudo, parecem existir duas influências opostas. Por
um lado, discute-se abertamente várias actividades e inclinações sexuais (e.g., travestismo,
sadomasoquismo) e, por outro lado, existe uma corrente de “puritanismo sexual” relacionada, até
certo ponto, com ideais políticos de direita, que critica severamente a permissividade sexual,
pregando o retorno a padrões mais rígidos de comportamento (Giddens, 1997). A disseminação da
SIDA é um factor de peso a pressionar a favor da defesa das relações monogâmicas dentro ou fora
do casamento.
2.2. A Construção da Sexualidade e o Género
De acordo com Rao Gupta (2000), o género é uma construção que varia de cultura para
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cultura, existindo, contudo, alguns elementos relativamente constantes, nomeadamente, o facto de
haver uma distinção entre os papéis das mulheres e os dos homens, no seu acesso aos recursos
produtivos e na autoridade de decisão. Embora com algumas disparidades, na maior parte das
culturas, o homem é considerado responsável pelas actividades produtivas fora de casa e a mulher
pelas actividades produtivas dentro de casa, tendo estas menos acesso e controlo no plano dos
recursos produtivos, nomeadamente ao nível do rendimento. Esta lógica, segundo a autora, também
se aplica à sexualidade, ou seja, esta também é uma construção social, existindo, de igual modo,
uma distinção entre mulheres e homens, onde estes, geralmente, detêm um maior poder. Refere que,
no indivíduo, a sexualidade é definida por “com quem”, “como”, “em que circunstâncias”, e “com
que consequências” é que ele teve relações sexuais. Mais do que um conjunto de comportamentos
de orientação sexual, a sexualidade é, assim, um conceito multidimensional e dinâmico,
influenciada por regras implícitas e explícitas, impostas pela sociedade, consoante o sexo da pessoa,
a sua idade, a sua situação económica, a sua origem étnica e muitos outros factores (Gupta, 2000).
Parece, de facto, haver uma diferença na forma como homens e mulheres percepcionam o
sexo, principalmente no plano da relação entre sexo e amor (Giddens, 1996). A investigação
psicossociológica tem analisado as diferenças entre os sexos ao vel do comportamento sexual,
recorrendo a diferentes conceitos (papéis sexuais, diferentes scripts e diferentes discursos de
género), que referiremos brevemente.
Apesar das relações sexuais não serem geneticamente inatas, mas sim quase todas aprendidas,
variando de cultura para cultura (Giddens, 1997), muita gente supõe que o comportamento sexual
humano é sobretudo regido por influências biológicas, na medida em que a relação sexual é
necessária à reprodução da espécie. Muitas são, ainda, as pessoas que continuam a acreditar que a
experiência sexual do homem e da mulher, assim como as suas necessidades sexuais e as suas
atitudes face a isso, são diferentes devido a diferenças biológicas (Garrett, 1987). Acreditam que os
homens têm uma forte necessidade de se relacionarem sexualmente, estando mais motivados pelo
desejo físico do que pelos sentimentos, desejando, antes, ter relações sexuais sem demasiados
compromissos sentimentais (Alberoni, 1988). Enquanto que os homens são percepcionados como
os iniciadores das relações sexuais, as mulheres são percepcionadas como sendo passivas por
natureza, estando mais interessadas na relação emocional que têm com o seu parceiro do que no
aspecto físico, limitando-se, apenas, a responder aos avanços sexuais. Nesta perspectiva, as
mulheres apenas estariam satisfeitas com o sexo no contexto de uma relação, enquanto que, para os
homens, é o acto sexual em si que é mais relevante (Garrett, 1987).
De um modo geral, as pessoas continuam a esperar que sejam os homens a demonstrar um
maior interesse nos traços físicos das mulheres, de modo a provar à sociedade que são “normais” e
que são “verdadeiros machos”. Em contrapartida, quando uma mulher é sexualmente activa, muitas
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vezes recebe desaprovação social e uma designação negativa (e.g., prostituta).
Actualmente, a distinção entre uma “boa” ou má” rapariga continua, de certo modo, a ser
usada, existindo, porém, algumas alterações, sobretudo por parte dos adolescentes. Por exemplo, as
raparigas sentem que se podem envolver em actividades sexuais e, isso, na idade que lhes pareça
mais apropriada (Giddens, 1996).
Em suma, existem papéis sexuais que são incutidos no homem e na mulher. Estes englobam
características, comportamentos e interesses definidos pela sociedade ou pela cultura, como sendo
apropriados para os membros de cada sexo e, como é óbvio, têm implicações para o comportamento
sexual manifesto. Os rapazes que não estejam tão fortemente motivados para a gratificação sexual
ou que não falem sobre as suas experiências sexuais arriscam-se a ser julgados através de atributos
indesejáveis (e.g., homossexuais), enquanto que as raparigas que expressem muito cedo ou
frequentemente a sua sexualidade, são julgadas negativamente pela sociedade (Lees, 1989).
Mas, por vezes, as pessoas agem de forma diferente, dentro da mesma cultura, o que, segundo
Gagnon e Simon (1973), acontece quando estas pessoas seguem diferentes scripts ou esquemas. O
conceito de script aproxima-se, pelas suas funções, do conceito de “representação social”
(Moscovici, 1961/1976), uma vez que, à semelhança das representações sociais, os scripts referem-
se a modalidades de conhecimento prático, socialmente elaboradas e partilhadas, constituindo,
simultaneamente, sistemas de interpretação e de categorização do real e modelos ou guias de acção
(ver Alferes, 1997, para um maior aprofundamento).
Sinteticamente, os scripts sexuais especificam: (a) quem são os possíveis parceiros sexuais;
(b) em que circunstâncias é apropriado comportarmo-nos sexualmente e que tipo de actividades são
“permitidas”; e (c) quais são as razões que nos levam a comportar de modo sexual (Alferes, 1997).
Assim, os scripts sexuais organizam os comportamentos sexuais, definindo as situações de
interacção, gerando expectativas relacionais e sinalizando as respostas “incongruentes”.
Geralmente, as pessoas são socializadas de acordo com os scripts sexuais relativos ao seu sexo
(Gagnon & Simon, 1973). As raparigas aprenderam a ligar o sexo ao amor e, frequentemente,
racionalizam o seu comportamento sexual ao acreditarem que fizeram tudo por amor, para
satisfazerem o parceiro que amam, e não para satisfazerem os seus próprios desejos e necessidades
sexuais, contrastando com os rapazes que apreendem os scripts (a eles direccionados) que acentuam
a satisfação dos próprios desejos e necessidades sexuais.
De acordo com outros autores (e.g., Fine, 1988, cit. por Baptista, 1999), por vezes, as pessoas
agem de forma diferente, porque se comportam de acordo com determinados discursos. Para este
autor, existem essencialmente quatro temas que dominam o discurso público e privado sobre
sexualidade, fornecendo mensagens conflituais acerca de como os jovens devem gerir a sua vida
sexual: (a) o discurso da moralidade, bastante representado por alguns pais e pela religião, enfatiza
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assuntos, como o dever de abstinência das relações sexuais antes do casamento; (b) o discurso do
desejo, particularmente presente nos meios de comunicação; (c) o discurso do perigo, direccionado
sobretudo às raparigas, e que salienta o perigo de gravidez e da dor emocional provocada pela perda
de reputação; (d) e o discurso de vitimização, segundo o qual, os homens possuem o poder na
actividade sexual e utilizam as mulheres em nome do prazer. A existência destes quatro discursos
distintos pode conduzir os jovens à confusão sobre como agir. Por exemplo, em relação aos rapazes,
muitas vezes, são-lhes transmitidas mensagens em como um homem deve ser poderoso e forte, mas,
por outro lado, também deve ser responsável e sensível.
É claro que as pessoas poderão sempre optar por não seguir as normas sociais prevalecentes,
mas o poder destes papéis, scripts ou discursos é muito forte, podendo afirmar-se que, no essencial,
serão o condicionamento social, os papéis sexuais e os scripts sexuais a conduzir às diferenças
observadas entre os sexos, a nível comportamental.
2.3. Sexualidade e Amor: persistência do duplo-padrão
A investigação tem mostrado que continuam a existir grandes diferenças quando rapazes e
raparigas falam sobre sexo (Giddens, 1996). Segundo este autor, enquanto que para os rapazes, a
primeira experiência sexual é um ganho, um talismã para o futuro, não relativamente a aspectos
centrais do self, mas como um, entre outros emblemas da capacidade masculina, para as raparigas, a
virgindade tem ainda algo de renúncia. A questão está em escolher o tempo e as circunstâncias
certas, continuando os rapazes a esperar forçar o tema da iniciação sexual e as raparigas a esperar
adiá-la (Giddens, 1996).
Apesar destas diferenças, alguns autores consideram que, actualmente, já não existe um
duplo-padrão sexual clássico (e.g., McCabe & Collins, 1990), ao verificarem um declínio na
popularidade deste padrão entre os jovens, uma vez que muitos começam a acreditar na
existência da igualdade sexual, sendo os padrões de sexo pré-matrimónio aplicáveis aos jovens de
ambos os sexos. Na sua forma clássica (hoje minoritária), tal padrão traduz-se pela permissividade
exclusiva dos homens para se envolverem em relações sexuais antes do casamento. Na forma
actual, o chamado “duplo-padrão sexual condicionado” admitiria, igualmente, a sexualidade pré-
matrimonial feminina desde que vivida numa relação relativamente duradoira e acompanhada de
envolvimento emocional (Alferes, 1997).
A investigação desenvolvida por Alferes (1997), sobre a existência do duplo-padrão na
sociedade portuguesa, numa população de estudantes universitários, mostrou claramente a
existência de um duplo-padrão sexual pré-matrimonial. De facto, os resultados obtidos no seu
estudo mostram que os rapazes têm mais parceira(os) e mais relações sexuais concomitantes do que
as raparigas; têm fantasias sexuais, incluindo infidelidade imaginária, mais frequentes; e o só
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gostariam, como esperam vir a ter, um maior número de parceira(os) sexuais. Em contraste, a taxa
de virgindade é mais elevada nas raparigas, as quais mostram deter um maior conhecimento da
eficácia dos métodos contraceptivos, e estar mais sensibilizadas para a educação sexual e o
planeamento familiar. Verificou-se, ainda, uma convergência de ambos os sexos para uma
sexualidade subordinada ao prazer, e idealmente vivida no quadro institucional do casamento, e
uma aceitação generalizada da sexualidade pré-matrimonial, orientada para o prazer e vivida no
quadro de uma relação emocional duradoura”.
Em síntese, a adesão ao script do “sexo com afecto” surge aqui maioritária, mas o script do
"sexo pelo sexo", predominantemente recreativo ou centrado no corpo, continua a caracterizar a
sexualidade masculina (Alferes, 1997, p. 141), para quem a dissociação entre sexo e sentimento
continua a ser percepcionada com muita facilidade (Lipovetsky, 2000).
Estudos posteriores têm confirmado as diferenças entre os sexos, relativamente às orientações
normativas, atitudinais e comportamentais face à sexualidade tanto ao vel de inquéritos em larga
escala (Vasconcelos, 1998), como em estudos com grupos mais restritos, utilizando técnicas
quantitativas (Figueira, Xavier & Gonçalves, 2001), ou qualitativas, como os grupos de discussão
(Mendes, 2001). Por exemplo, Vasconcelos (1998) realizou um estudo, com 609 jovens, acerca da
conjugalidade e da sexualidade, e constatou que muitos dos jovens, sobretudo, do sexo masculino,
revelam ter uma sexualidade mais activa antes de atingirem a maioridade legal. Apesar disso,
verificou que, as idades de iniciação da vida sexual, o número de parceiros sexuais e o seu estatuto,
bem como as fontes de influência, que parecem ter estruturado a visão que m da sexualidade,
variam de acordo com o sexo. Por exemplo, as taxas declaradas de iniciação sexual são mais
elevadas nos homens do que nas mulheres. Assim, para Vasconcelos (1998), embora atenuado, o
duplo-padrão sexual ainda prevalece, visto que os homens continuam com uma sexualidade dita
“compulsiva” e são muito influenciados pela ideologia da masculinidade dominante, que valoriza
uma virilidade fálica e orgástica, enquanto que as mulheres continuam a ter uma sexualidade
constrangida e dominada, embora apresentem a possibilidade legitimada de uma sexualidade
juvenil e pré-matrimonial.
Relativamente à utilização de métodos contraceptivos, Vasconcelos (1998) verificou a
existência de diferenças sociais entre os jovens com maior escolarização e com um estatuto social
mais elevado e os jovens social e culturalmente mais desfavorecidos. Ou seja, por um lado, existe
um duplo-padrão sexual e, por outro, um duplo-padrão social, visto que, quanto mais se avança de
um eixo socialmente desfavorecido para um eixo socialmente favorecido, mais se avança das
posições e atitudes tradicionais para posições e atitudes modernistas.
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3. SEXUALIDADE E SIDA
Como já vimos, à excepção da África Subsahariana, onde a maior parte das pessoas infectadas
pelo VIH/SIDA são mulheres, no resto do mundo, os mais atingidos têm sido os homens. Assim,
torna-se evidente que, embora alguns destes resultados possam ser atribuídos às diferenças
biológicas entre os sexos, a maior parte dever-se-á às diferenças de género socialmente definidas, as
quais podem diferir de cultura para cultura. É um bom exemplo, o facto de, ainda na actualidade, a
mulher ter pouco poder de negociação (sobretudo nos países em desenvolvimento, como veremos a
seguir) na decisão de usar o preservativo de modo a poder prevenir-se do VIH/SIDA e outras DST.
3.1. Género e vulnerabilidade face à SIDA nos países em desenvolvimento
As mulheres são quatro vezes mais susceptíveis de se infectarem do que os homens durante as
relações sexuais (ABRAÇO, Setembro-Outubro, 2000), mas as mulheres das minorias étnicas
correm um risco particular de contrair o VIH/SIDA, uma vez que, muitas vezes, elas têm menos
poder de decidir “onde”, “quando” e “se” as relações sexuais terão lugar (Rivers & Aggleton,
1998). Esta é a conclusão retirada por estes autores após uma investigação aprofundada.
Constataram que, em rios países, sobretudo nos países em desenvolvimento, as raparigas têm
pouco controlo sobre as relações sexuais, visto que a sociedade exige a virgindade até ao
casamento, tornando, assim, a sexualidade fora deste, invisível. Ora, esta pressão social a favor da
virgindade poderá agravar o risco de DST e do VIH, visto que, por vezes, as raparigas praticam
relações sexuais mais arriscadas em termos de contágio, a fim de protegerem a virgindade (Rivers
& Aggleton, 1998).
O valor social da virgindade das raparigas solteiras faz com que, por vezes, a família e o meio
prefiram manter as raparigas na ignorância relativamente às questões sexuais, uma ignorância
frequentemente considerada como sinal de pureza e de inocência, sendo o contrário sinónimo de
“rapariga fácil”. É esta insistência sobre a inocência que impede as raparigas de aprenderem sobre
sexualidade e de procurarem os serviços de saúde adequados. As raparigas sexualmente activas não
são incentivadas a falar do assunto com os seus parceiros, sendo antes incentivadas a serem
ignorantes e inexperientes, o que faz com que elas não possam sequer dizer aos parceiros que se
devem proteger (Rivers & Aggleton, 1998).
Para Guerny e Sjöberg (1993, cit. por Alves, 1998), a disseminação heterossexual da epidemia
também é, frequentemente, facilitada pela incapacidade de muitas mulheres de baixo estatuto
cultural e sócio-económico se protegerem, devido ao pouco poder de influência que têm nas
relações sexuais. Os rapazes insistem, muitas vezes, para que as raparigas tenham relações sexuais,
como prova do seu amor e da sua obediência. Submetidas a estas pressões contraditórias, as
raparigas têm, de facto, pouca influência sobre os riscos de decisão ou utilização da contracepção, e
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mesmo quando as mulheres estão conscientes do VIH/SIDA e das medidas de precaução, elas
raramente têm o poder de assegurar que os preservativos sejam utilizados (Rivers & Aggleton,
1998). Dque, quanto menor for a capacidade de negociação da mulher, mais difícil separa ela
evitar correr riscos (Alves, 1998). As relações de poder entre homens e mulheres dificultam a
exigência do uso de preservativos, e isso, mesmo quando elas sabem que os seus maridos e
parceiros podem estar infectados com VIH/SIDA, porque temem que a sua relação seja colocada
em risco.
Assim, enquanto que a ideologia dominante relativa à feminilidade incentiva a ignorância, a
inocência e a virgindade, as versões dominantes da masculinidade incentivam os rapazes a terem
várias experiências sexuais, o que não significa que estes estejam informados sobre a sexualidade e
a reprodução, antes pelo contrário, muitas vezes estão mal informados e como a ignorância é algo
de pouco aceitável, eles hesitam em admiti-lo, o que pode levar a experiências sexuais inseguras
(Rivers & Aggleton, 1998).
Existe, portanto, um desequilíbrio de poder entre as mulheres e os homens que diminui a
autonomia das mulheres e favorece a liberdade sexual dos homens, podendo conduzir a uma maior
vulnerabilidade tanto das mulheres, como dos homens face ao VIH e à SIDA (Gupta, 2000). Mas
esta vulnerabilidade das mulheres não está apenas enraizada nas desigualdades sexuais, sociais e
económicas que elas vivem, dependendo também de factores como a etnia, a classe social, a
condição urbana ou rural do seu meio de vida, a orientação sexual, a região e a cultura (Albertyn,
2000), sendo um bom exemplo disso, as mulheres de zonas como a África Subsahariana (Albertyn,
2000; UNAIDS, 2000a; UNICEF, 2002). No entanto, o sexismo permanece um dos principais
factores de aumento do risco das mulheres contraírem a SIDA (Cohan & Atwood, 1994).
Tendo em conta que, na maior parte das vezes, o uso do preservativo depende dos homens,
recentemente, os esforços de prevenção deixaram de estar tão focalizados nas mulheres e passaram
também a estar focalizados nos homens, visto que estes podem, de facto, constituir um recurso
importante no combate à SIDA. Foi a pensar nisso que, em 2000, a UNAIDS lançou uma campanha
designada “os homens fazem a diferença”, com o objectivo de incutir nos homens a ideia de que
podem, de alguma forma, impedir o progresso da epidemia, se procurarem alterar atitudes e
comportamentos, para melhorarem as suas próprias vidas e as das suas famílias. A luta contra a
epidemia da SIDA, a este nível, implica, antes de mais, que se questionem os conceitos nefastos
associados à masculinidade e que se alterem numerosos comportamentos correntemente adoptados,
como a concepção que os homens m do risco e a maneira como os rapazes são socializados para
se tornarem homens (UNAIDS, 2000b). Algumas das expectativas que as sociedades têm em
relação a estes podem conduzir a uma forma de pensar e agir que coloca em perigo a saúde e o bem-
estar dos homens e das suas parceiras sexuais. Por exemplo, os rapazes que são criados com a
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crença segundo a qual os “verdadeiros homens não ficam doentes” imaginam-se, frequentemente,
invulneráveis face à doença e ao risco, o que se reflecte numa sub-utilização dos serviços de saúde
pelos homens.
3.2. Comportamentos Preventivos: o uso do preservativo
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística, em Portugal, a iniciação sexual
é, cada vez mais, precoce, assim como o primeiro uso de contracepção (INE, 1997). Um Inquérito à
Fecundidade e Família mostra que a idade mediana da primeira relação sexual é de 20,6 anos, no
caso das mulheres, e de 17,4 anos, no caso dos homens, não tendo havido grandes alterações ao
longo de várias gerações para eles, e havendo apenas um pequeno decréscimo no caso delas. Por
exemplo, a idade mediana da primeira relação sexual nas mulheres que na altura da realização do
inquérito tinham 45-49 anos era de 21,5 anos, em contraste com 19,8 no caso das que tinham 20-24
anos (INE, 1997). Porém, as pressões sociais e a mutação dos valores apontam para uma descida
progressiva na idade dos iniciados (Contra SIDA, Dezembro, 1998), havendo estudos, realizados
em vários países, que mostram que a idade na qual os jovens se tornam sexualmente activos não
pára de decrescer. Por exemplo, no Uganda os jovens têm a primeira relação sexual por volta dos 15
anos, na Tanzânia por volta dos 14 anos e no Brasil por volta dos 13 anos (ver Rivers & Aggleton,
1998). É, provavelmente, uma das razões que tem conduzido ao alarmante crescimento de infecções
do VIH entre os jovens dos 10 aos 24 anos (UNAIDS, cit. por Contra SIDA, Dezembro, 1998).
Segundo a mesma fonte, mais de 50% dos infectados pelo vírus são jovens dos 10 aos 24 anos,
sendo 2.6 milhões de jovens contaminados por ano, ou seja, 7.000 em cada dia. O relatório da
UNICEF, intitulado “O Progresso das Nações 1999” coloca Portugal como o segundo país europeu,
a seguir à Ucrânia, com a maior percentagem de jovens, dos 15 aos 24 anos, vivendo com
VIH/SIDA (ABRAÇO, Setembro-Outubro, 2000).
Com vista a reduzir o risco de contrair o VIH, parece haver um consenso (tanto das
instituições, como das pessoas em geral) em como a forma mais eficaz é o uso do preservativo (e.g.,
Amaro, 1994), o que nem sempre é assim tão fácil, como vimos. Tal problema poderia ser
atenuado se, como refere o responsável da Associação Americana de Saúde Pública, existissem
métodos de prevenção eficazes que as mulheres pudessem usar e controlar directamente, visto que
os preservativos femininos continuam a não estar disponíveis na maior parte dos países (ABRAÇO,
Setembro-Outubro, 2000)
3
.
São vários os motivos que levam as pessoas a recusarem o uso do preservativo:
3
Portugal foi, provavelmente, um dos primeiros países da Europa a comercializar o preservativo feminino, designado
de Femindo há uns anos atrás. Porém, devido ao seu preço demasiado elevado, à reduzida divulgação e à ausência de
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Por se julgarem capazes de prever quem são os parceiros seguros, através da sua aparência
saudável ou da sua reputação (Moore, Rosenthal & Mitchell, 1996);
Por se considerarem os preservativos como menos eficazes e mais inconvenientes do que os
outros meios de contracepção (Moore et al., 1996).
Porque usam pouco o preservativo em relações percebidas como seguras, estáveis, exclusivas,
caso contrário, isso pode ser entendido como um sinal de desconfiança em relação à fidelidade
do parceiro (Moore et al., 1996; ONUSIDA, Agosto, 2000).
Porque a comunicação durante os encontros sexuais é sobretudo não verbal e nem sempre as
decisões são discutidas e as situações previstas, tornando a utilização do preservativo pouco
provável (Boldero, 1992, cit. por Cardoso, 1999).
Porque consideram o uso do preservativo desadequado ao acto sexual, visto que este é
espontâneo e não premeditado (Moore & Rosenthal, 1991), para além de não acreditarem na sua
eficácia protectora (Moore et al., 1996).
Em síntese, parecem existir múltiplas barreiras para um uso regular e adequado do
preservativo. Em geral, as razões dadas pelos rapazes para não usarem o preservativo passam por:
não o quererem usar, não haver nenhum preservativo disponível; a relação sexual não estar
planeada; estarem alcoolizados; estarem demasiado excitados; o receio de comprar contracepção, e
a convicção de que esta não é um problema do rapaz (Darling, 1992). E as razões dadas pelas
mulheres, pelo contrário, passam pela: objecção do parceiro; perda de prazer sexual; embaraço
relativamente ao sexo, em geral, e no que diz respeito à utilização do preservativo, em particular
(Hobfoll et al., 1994, cit. por Cardoso 1999).
Porém, existem alguns estudos que mostram que as pessoas estão a mudar os seus
comportamentos, sobretudo desde o surgimento da SIDA (ONUSIDA, 2000), provavelmente
devido às muitas campanhas realizadas nessa área. É o que mostra, por exemplo, uma campanha
conduzida na Suíça, ao longo de sete anos, sobre a utilização do preservativo. A proporção dos que
tinham relações sexuais variadas e declaravam utilizar o preservativo em todas as circunstâncias
passaram, em sete anos, de oito para 56%, a proporção daqueles que diziam ter vários parceiros
baixou, e a proporção dos jovens com 17 anos sexualmente activos diminuiu (Journal et Revue de
Presse RFI, 1997). Esta evolução poderá, por um lado, ser explicada pela vontade de protecção face
à SIDA e outras DST, mas também devido a uma melhor tomada de consciência face à
contracepção (Journal et Revue de Presse RFI, 1998).
Vimos, ao longo deste texto, que existem vários factores que podem influenciar um
determinado comportamento, desde as motivações e crenças da própria pessoa em causa, até às
empenhamento na sua distribuição gratuita e continuada, por parte das instituições governamentais, foi retirado do
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influências sociais. Neste ambito, a investigação tem mostrado que tanto a família, como os amigos,
os meios de comunicação ou a escola são fontes de (in)formação muito relevantes.
Em relação à família, os pais são os primeiros socializadores da criança e, como tal,
influenciam o quadro de valores, atitudes e as competências na vida sexual e amorosa dos
filhos (Vilar, 2003). Todavia, existem ainda muitos pais para quem o tema da sexualidade
continua a ser um tema embaraçoso e de difícil abordagem, havendo uma diferença no
tratamento entre filhas e filhos relativamente ao conteúdo das discussões sobre a sexualidade,
devido a uma maior aceitação do comportamento sexual dos filhos do que dos das filhas
(Moore & Rosenthal, 1991). Apesar de tudo, quando os adolescentes já são sexualmente
activos, as opiniões dos pais parecem ser relevantes em relação ao uso do preservativo (Moore
et al., 1996). Em Portugal, parece ter havido uma grande mudança no comportamento dos
progenitores, sobretudo das mães, ao nível da comunicação sobre sexualidade com os seus
filhos, permanecendo, deste modo, uma fonte de influência fundamental. É o que mostra o
estudo de Vilar (2003), com 109 jovens, com idades compreendidas entre os 15 e os 20 anos de
idade, onde 80% das raparigas e perto de 50% dos rapazes admitiam conversar com os seus
pais sobre estas questões.
Relativamente aos pares, a investigação sobre fontes de informação sexual para adolescentes
demonstra que estes são uma das principais influências nesta área, ultrapassando a influência
dos próprios pais (Vilar, 2003). No que diz respeito ao uso do preservativo, alguns estudos
mostram a influência do(a) parceiro(a) sexual na intenção de usar o preservativo (e.g., Jemmott,
Jemmott & Hacker, 1992; Kashima, Gallois & McCamish, 1993) e mostram que as crenças que
os jovens têm, quanto ao que acreditam que os seus colegas pensam, influenciam a sua
utilização, podendo, por exemplo, levar à diminuição do uso do preservativo caso os rapazes
percebam que a norma do grupo é não utilizar preservativo ou levar ao seu aumento, caso eles
percebam que a norma do grupo é não utilizar preservativo (VanLandingham et al., 1995, cit.
por Baptista, 1999).
A escola, é uma das soluções para tentar solucionar o problema da dificuldade de comunicação
entre pais e filhos, uma vez que esta tem um papel muito importante na educação dos
adolescentes, devendo-os informar e clarificar (Serpa & Costa, 1995, cit. por Pato, 1999).
Existem estudos que mostram (e.g., Rosenthal e Smith, 1994, cit. por Moore et al., 1996) que
os alunos percebem os professores como fontes úteis sobre saúde sexual, consideram os
programas escolares como a maior fonte de informação nesta área, sentindo-os como legítimos
e fiáveis, sendo as fontes mais importantes, a seguir aos pares (Darling, 1992). Em Portugal, a
mercado, privando, deste modo, as mulheres de mais este meio de protecção (ABRAÇO, Setembro-Outubro, 2000).
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questão da educação sexual nas escolas tem sido objecto de debate ao longo dos anos. Sendo
um direito constitucional, passou a fazer parte do ordenamento jurídico através da Lei 3/84,
mas a verdadeira concretização e operacionalização sistemática nas escolas ficou por
concretizar, salvo raras excepções (Marques & Prazeres, 2000). A partir de 1998, deu-se nova
produção legislativa e tomaram-se algumas iniciativas para o incremento efectivo da educação
sexual nas escolas, sendo reforçadas as garantias do direito à saúde reprodutiva, através da
implementação de programas nos ensinos básico e secundário que promovem a saúde e a
sexualidade humana e que fornecem informação adequada, por exemplo, sobre o aparelho
reprodutivo, a SIDA e outras DST, os métodos contraceptivos, assim como a igualdade entre os
sexos (Marques & Prazeres, 2000).
Os meios de comunicação têm, também, um papel muito importante (Vilar, 2003). Wolitski,
Bensley, Corby, Fishbein e Galavotti (1996), realizaram um estudo nos EUA, sobre fontes de
informação relacionadas com a SIDA, com 4.329 participantes de ambos os sexos e verificaram
que os meios de comunicação eram a fonte de informação mais referida pelas mulheres,
estando estas mais expostas a este tipo de informação do que os homens. Actualmente, a
sexualidade é explícita nos meios de comunicação, sobretudo na televisão e nos jornais,
podendo os adolescentes obter conhecimentos sobre a sexualidade desde muito cedo, o que
tanto pode ser negativo como benéfico. Com efeito, a maior parte dos filmes passa ideias
estereotipadas das relações entre homens e mulheres, podendo mesmo transmitir mensagens
acerca de qual o comportamento sexual mais apropriado, promovendo, na maior parte das
vezes, modelos para uma sexualidade pouco saudável. Segundo Perry e col. (1993, cit. por
Cardoso, 1999), por exemplo, o modelo de sexualidade apresentado na televisão foca,
essencialmente, relações heterossexuais entre indivíduos não casados, que não demonstram
qualquer preocupação acerca das DST. Felizmente, existem alguns filmes, séries, músicas e
programas de rádio que começam a adoptar um padrão de comportamentos de sexo mais
seguro, como é o caso do filme Filadélfia.
Em suma, a família, o grupo de pares, as escolas, os meios de comunicação, entre outras
fontes de influência, exercem, no seu conjunto, efeitos inegáveis nas atitudes e comportamentos
sexuais dos adolescente. Foi o que se verificou em Portugal, num estudo coordenado por Daniel
Sampaio, com cerca de 10.000 alunos, do ao 11º ano de escolaridade, onde se constatou que
todas estas fontes têm, de facto, uma grande influência, sendo a família a mais forte, seguindo-se os
amigos, a namorado(a), o(a) professor(a), e a televisão (Loureiro, 1998, Novembro/Dezembro).
110
110
3. DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO PREVENTIVO
É neste contexto que vale a pena destacar alguns resultados de um estudo por nós realizado
recentemente (Santos, 2001) sobre o uso do preservativo, onde procurámos identificar o(s)
factor(es) explicativo(s) deste comportamento preventivo, junto de um grupo de adolescentes. Tanto
os adolescentes, como os jovens adultos têm merecido uma grande atenção por parte dos
investigadores, porque, por um lado, é nesta faixa etária que, na maioria dos casos, ocorre o início
do relacionamento e experimentação sexual, muitas vezes associada a vários parceiros sexuais e,
por outro lado, porque muitos estudos sugerem que nesta faixa etária a resistência às campanhas de
informação e prevenção relacionadas com o VIH e a SIDA é muito elevada (e.g., DiClemente,
Forrest & Micker, 1990, cit. por Cardoso, 1999). Esta foi uma das razões pelas quais optámos por
uma população mais jovem. Além disso, dada a escassa investigação nesta área, pareceu-nos
importante realizar uma análise comparativa entre jovens africanos e portugueses, para além de
analisar as diferenças relacionadas com as normas de género.
A população do nosso estudo era constituída por jovens que frequentavam o 10º, 11º e o 12º
ano de cinco escolas dos arredores de Lisboa, de ambos os sexos, com idades compreendidas entre
os 15 e os 20 anos de idade (M=17.5 anos), de origem africana (nascidos em África ou filhos de
africanos) e portuguesa, como podemos verificar na tabela 1.
Tabela 1: População do estudo
Sexo Rapazes Raparigas
Origem Portugueses Africanos Portuguesas Africanas
N
45 43 53 47
Média de idades
17.29 17.53 17.60 17.62
Na tentativa de analisar o peso relativo de diversas referências considerámos factores de
ordem ideológica, como as representações e atitudes face à sexualidade; factores de ordem inter-
individual, como a importância da aprovação dos pares, da família, do/a namorado/a; e factores de
ordem individual, como o nível de conhecimentos dos jovens sobre o VIH/SIDA e os modos de
transmissão.
Como hipóteses de partida, esperávamos, nomeadamente, que: (a) os conhecimentos acerca
da SIDA não tivessem qualquer relação com o comportamento preventivo, neste caso, o uso do
preservativo; (b) os pares fossem a fonte de influência mais importante sobre o uso do preservativo;
(c) os rapazes recorressem mais ao uso do preservativo do que as raparigas, como precaução face à
SIDA, devido à posição de subordinação que estas ocupam na relação e ao fraco poder de
negociação que detêm; (d) os membros das minorias étnicas tivessem um vel de conhecimento
111
111
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
conhecim ento
baixo
conhecim ento
médio
conhecim ento
elevado
Raparigas
Rapazes
mais baixo; (e) e que usassem menos o preservativo do que os membros das maiorias, visto que
naquelas as relações de género se presumem mais tradicionais, sendo as regras de comportamento
em relação ao casamento e à reprodução ainda mais estritas.
Assim, com vista a verificar o nível de conhecimentos destes jovens, recorremos ao
“Questionário de Conhecimento do VIH”, utilizado em Portugal (Cardoso, 1999), o qual
compreende 62 itens de resposta dicotómica (verdadeiro/falso), que servem para avaliar o grau de
conhecimentos acerca da transmissão, prevenção e consequências da infecção pelo VIH e a SIDA
(por exemplo: “uma pessoa pode contrair o VIH em casas de banho públicas”). A partir desses 62
itens, criámos uma nova variável designada de "conhecimento"
4
e, posteriormente, dividimos a
amostra em três grupos de conhecimento (baixo, dio e elevado). Verificámos que a maior parte
dos jovens tem um conhecimento médio sobre o VIH e a SIDA (ver gráfico n3). Porém, existem
diferenças estatísticas importantes ao nível do sexo, ou seja, existem mais rapazes com um
conhecimento baixo (22) do que raparigas (12), ao contrário do que acontece no grupo de
conhecimento médio (do qual fazem parte 77 raparigas e 60 rapazes) e no grupo de conhecimento
elevado, que engloba 11 raparigas e, apenas, seis rapazes
5
.
Gráfico 3 – Grau de conhecimento em função do sexo
Em relação à origem, como nos mostra o gráfico n.º 4, também existem diferenças
significativas
6
. De facto, apesar de a maioria dos inquiridos se situar no nível de conhecimento
médio, quatro vezes mais africanos do que portugueses com conhecimentos baixos, enquanto
que ao nível superior de conhecimento, a relação é de um africano para 16 portugueses.
Gráfico n.º 4 Grau de conhecimento em função da origem
4
Foi criado um índice designado de "conhecimento" (α=,705), tendo-se, posteriormente, dividido a população em três
grupos com graus de conhecimento distintos: o grupo com um conhecimento baixo, do qual fazem parte 34
participantes (mais de 20 respostas erradas); o grupo com um conhecimento médio, que engloba 137 participantes (entre
10 e 20 questões erradas); e o grupo com um conhecimento elevado, que abrange 17 participantes (com menos de 10
questões erradas).
5
Teste marginalmente significativo: X2(2)=5,779, P>.056.
6
Teste significativo: (X2 (2)=25,940, P<.000).
112
112
0
10
20
30
40
50
60
70
80
conhecimento
baixo
conhecimento
médio
conhecimento
elevado
Portuguesa
Africana
No que diz respeito às atitudes dos jovens face à sexualidade
7
, recorremos a um questionário
utilizado por Alferes (1997), seleccionando 33 itens destinados a medir as diferenças de género
relativamente à sexualidade, como por exemplo, “o sexo pelo sexo, é perfeitamente aceitável” e “o
sexo sem amor não faz sentido”. Estes 33 itens foram, em seguida, sujeitos a uma análise factorial
em componentes principais (ACP)
8
que nos deu uma solução de cinco factores
9
, apresentada na
Tabela 1, que contribuem 46,2% para explicar as atitudes dos jovens face à sexualidade e que
passamos a descrever, muito sinteticamente:
Factor 1: a permissividade: refere-se às atitudes face ao "sexo ocasional", ao "sexo sem
compromisso" e à diversidade e simultaneidade de parceiros sexuais;
Factor 2: prazer físico/comunhão: ligado às atitudes face ao sexo, como uma experiência
sublime de intimidade física e psicológica, sendo a masturbação vista como algo de bom (a
interpretação deste factor apresenta algumas dificuldades, visto que reúne itens relativamente
heterogéneos);
Factor 3: prazer físico/instrumentalidade: visão do sexo como uma fonte de obtenção de
prazer;
7
que o autor adaptou da Escala de Atitudes Sexuais de Hendrick e Hendrick. Optámos por seleccionar apenas as
questões significativas no seu estudo, visto tratar-se de uma amostra semelhante, ou seja, jovens. Os participantes eram
confrontados com 33 afirmações, devendo indicar qual o seu grau de concordância, recorrendo a uma escala do tipo
Likert que varia de 1=completamente em desacordo a 5= completamente de acordo.
8
A ACP é muito adequada às tabelas que descrevem indivíduos em várias variáveis quantitativas, como, por exemplo,
as respostas aos itens de uma escala de atitudes, sendo aplicavel a variáveis métricas. É uma técnica estatística que
analisa as intercorrelações entre um grande número de variáveis para explicar essas variáveis em termos das suas
dimensões (factores) subjacentes (Hair, Anderson, Tatham & Black, 1998), sendo o objectivo condensar a informação
contida num grande mero de variáveis, num número mais pequeno (factores) perdendo o mínimo da informação.
Assim, desta análise resulta a especificação de um conjunto de factores, os quais constituem novas variáveis que vão
explicar como é que as variáveis iniciais estão correlacionadas.
9
A opção pelos cinco factores tem a ver com razões teóricas (Alferes, 1997) e metodológicas (e.g., a leitura do Scree
Plot, e segundo Cattel, 1966, cit. por Reis, 1997). Tanto o valor do Teste de Barttlett (sig=.00), como do Kaiser-Meyer-
Olkin (.75) permitem-nos continuar a análise. Foram retiradas da análise as questões cujo loading, após a rotação
Varimax, era inferior a .40. Assim, obtivemos os factores designados de: (1) permissividade (α=.818; percentagem de
variância=14, 66); (2) comunhão (α=.627; percentagem de variância=9,44); (3) prazer físico/Instrumentalidade
(α=.573; percentagem de variância=8,43); (4) individualismo/permissividade (α=.170, percentagem de
variância=8,098); (5) necessidade fisiológica (α=.488, percentagem de variância=5,52).
113
113
Factor 4: individualismo/permissividade: referente à recusa da partilha de responsabilidades no
planeamento familiar e a uma perspectiva acerca do sexo que pressupõe uma visão sem
compromisso com o parceiro (a interpretação deste factor, também, apresenta algumas
dificuldades, uma vez que engloba itens bastante heterogéneos); e (5) a necessidade fisiológica:
engloba uma perspectiva do sexo como uma actividade meramente fisiológica, tal como comer
e beber.
Em seguida fizemos uma análise com cada uma dessas novas variáveis ou dimensões
10
,
encontrando-se no gráfico n.º 5, aquelas que apresentam diferenças relevantes. Assim, podemos
constatar que os rapazes, em geral, são mais permissivos
11
do que as raparigas, mas, os portugueses
Gráfico 5 - Atitudes sexuais em função do sexo e da origem
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0
0,2
0,4
0,6
0,8
Permissividade PF/Comunhão PF/Instrumentalidade
Rapazes portugueses Rapazes africanos Raparigas portuguesas Raparigas africanas
10
De modo a analisar o posicionamento do grupo dos rapazes e o das raparigas portuguese(as) e africano(as),
relativamente às cinco dimensões retidas, procedeu-se à gravação dos "scores" factoriais. Estes funcionaram como
variáveis dependentes e como variáveis independentes o "sexo" e a "origem" dos participantes, tendo-se realizado uma
análise de variância (ANOVA) para cada uma das quatro dimensões, com excepção da dimensão "Individualismo/
Permissividade", uma vez que apresenta um alfa muito baixo (.169). Através desta análise poder-se-á verificar quer o
efeito isolado de cada variável independente, quer o efeito de interacção de ambas as variáveis independentes sobre a
variável dependente. Porém, através da análise efectuada, constata-se que os efeitos de interacção não assumem
significância estatística e, por isso, não serão analisados, o mesmo acontecendo com os efeitos isolados não
significativos.
11
A ANOVA da variável Permissividade mostrou diferenças estatísticas a nível do sexo e da origem: F
(1, 187)
=Sexo:
62,868, sig=.000; Origem: 3,252, sig.=.073. Este poderá ser visto como marginalmente significativo.
114
114
Tabela 1 - Organização dos factores de sexualidade
ITENS F1 F2 F3 F4 F5
Permissividade (
α
αα
α
=.818)
As relações ocasionais são aceitáveis (per)
.686
Não preciso de estar comprometido com uma pessoa para ter relações sexuais com ela (per) .662
É correcto ter relações sexuais com mais que uma pessoa no mesmo período de tempo (per) .608
As "aventuras sexuais" de uma só noite são, por vezes, muito agradáveis (per) .598
É correcto influenciar uma pessoa para ter relações sexuais sem fazer quaisquer promessas para o futuro
(per)
.574
O melhor sexo é o que se faz na ausência de quaisquer "compromissos" (per) .547
Gostaria de ter relações sexuais com muitos parceiros (per) .546
As relações sexuais como simples troca de "serviços" são aceitáveis desde que ambos os parceiros estejam
de acordo (per)
.543
O sexo pelo sexo é perfeitamente aceitável (per) .509
É bom ter uma prolongada experiência sexual pré-marital (per) .502
A vida teria menos problemas se as pessoas tivessem relações sexuais de modo mais livre (per) .403
Prazer físico/Comunhão (
α
αα
α
=.627)
A masturbação é algo de agradável e inofensivo (pra)
.696
O sexo é uma parte muito importante da vida (com) .641
Masturbar o nosso parceiro durante as relações sexuais pode aumentar o prazer do sexo (pra) .625
Um encontro sexual entre duas pessoas profundamente apaixonadas é a forma mais sublime de interacção
humana (com)
.525
Durante as relações sexuais, o conhecimento intenso do parceiro é o "melhor estado de espírito" (com) .511
Prazer físico/Instrumentalidade (
α
αα
α
=.573)
A principal finalidade do sexo é dar prazer a nós mesmos (inst)
.822
O sexo é, principalmente, uma actividade física (inst) .630
O sexo é melhor quando nos "deixamos ir" e nos centramos no nosso próprio prazer (inst) .543
Individualismo/Permissividade
(
α
αα
α
=.170)
Sentir-me-ia confortável tendo relações sexuais com o meu parceiro na presença de outras pessoas (per)
.688
Os homens devem partilhar as responsabilidades do planeamento familiar (pra)
-.642
É correcto "pressionar" alguém para ter relações sexuais (per) .527
As mulheres devem partilhar as responsabilidades do planeamento familiar (pra)
-.446
Na sua expressão, o sexo parece ser a fusão de dois "seres" (com)
-.433
Necessidade fisiológica (
α
αα
α
=.488)
Usar "instrumentos e objectos sexuais" quando se faz amor é aceitável (pra)
.650
O sexo é, principalmente, uma função corporal, tal como comer (inst) .626
O sexo apenas como forma de "descarga" física é bom (per) .493
Alpha de Cronbach dos 27 itens =.791 Percentagem de Variância Explicada 14,66
9,44
8,43
8,10
5,52
Percentagem da Variância Global 46,2
de ambos os sexos são mais orientados para o modelo do sexo com afecto (prazer
físico/comunhão)
12
do que os africanos, que valorizam mais o sexo centrado no prazer e no corpo
(prazer físico/instrumentalidade)
13
. Estes resultados vêm confirmar um aspecto conhecido ao
nível do duplo-padrão tradicional, isto é, que a permissividade das relações sexuais, que é ainda
12
Existem diferenças estatisticamente significativas ao nível da origem dos participantes: F
(1, 187)
=Origem
:
4,431,
nível de significância =.037.
115
115
mais acentuada nos rapazes africanos, não está relacionada com um maior conhecimento sobre a
sexualidade (Alferes, 1997), nem sobre o VIH e a SIDA.
Em relação à dimensão designada de "Individualismo/Permissividade", e tendo em conta a
fraca consistência entre os itens, optámos por realizar uma análise item a item. No gráfico n.º 6,
estão presentes os dois itens face aos quais verificámos diferenças relevantes. No que diz respeito
ao 2.º item, percebe-se muito bem
14
que as raparigas portuguesas concordam mais do que os rapazes
portugueses que "os homens devem partilhar as responsabilidades do planeamento familiar",
verificando-se o contrário entre os jovens africanos, sendo, neste caso, os rapazes a preferirem mais
essa partilha de responsabilidades. Além disso, em geral, os rapazes concordam mais do que as
raparigas em como seria "correcto pressionar alguém para ter relações sexuais" (3.º item)
15
.
Gráfico 6 - Atitudes sexuais em função do sexo e da origem
Individualismo/permissividade
0
1
2
3
4
5
6
2.º item 3.º item
Rapazes portugueses
Raparigas portuguesas
Rapazes africanos
Raparigas africanas
Quando questionados sobre os agentes a que recorreram mais para obter a (in)formação
acerca da sexualidade e da SIDA, constatámos que os meios de comunicação são a fonte preferida
destes jovens, seguindo-se os colegas e amigos, e os pais, com quem, segundo Vilar (2003), nem
sempre é fácil falar, sendo estes ainda menos acessíveis para os jovens africanos que,
provavelmente por causa disso, dão mais importância aos professores e aos centros de saúde (ver
Tabela 2).
13
Existem diferenças estatisticamente significativas ao vel da origem dos participantes: F
(1, 187)
=Origem: 9,213,
nível de significância = .003.
14
Existe um efeito de interacção: F
(1, 187) -
sexo x origem: 5,586, nível de significância = .019.
15
Existem diferenças estatisticamente significativas ao nível do sexo dos participantes: F
(1, 187)
=7,517, nível de
significância=.007.
116
116
Tabela 2 - Agentes importantes na formação da sexualidade e da SIDA dos jovens*
Rapazes Raparigas
Agentes de formação Portugueses % Africanos % Portuguesa % Africanas%
Meios de comunicação
Colegas e amigos
Pais,
Namorado/a
Centros de saúde
Professores
Outros familiares próximos
86,7
48,9
51,1
33,3
8,9
6,7
6,7
74,4
44,2
37,2
32,6
14,0
16,3
9,3
71,7
62,3
54,7
28,3
15,1
9,4
13,2
59,6
53,2
38,3
27,7
23,4
21,3
4,3
* Os participantes tinham a opção de seleccionar várias fontes de informação/formação.
Com vista a percebermos o comportamento preventivo destes jovens, colocámos cinco
questões relativas à frequência do uso do preservativo
16
, as quais nos permitiram verificar que os
jovens portugueses têm mais comportamentos preventivos (M=2,39) do que os jovens africanos
(M=2,16), embora todas as médias sejam baixas (Gráfico 7). Salientemos, ainda, que mais de 80%
das raparigas, em geral, não responderam à questão uso o preservativo com parceiros casuais” (na
qual lhes era pedido que não respondessem caso nunca tenham tido relações casuais), assim como
cerca de 70% dos rapazes portugueses, mas 35% dos rapazes africanos o não fizeram, o que
significa que estes têm mais relacionamentos casuais.
Gráfico 7 - Comportamento preventivo em função do sexo e da origem
17
Origem
Africana Portuguesa
Média
2,5
2,4
2,3
2,2
2,1
2,0
Sexo
masculino
feminino
16
A partir dos cinco itens: (1) uso o preservativo em todas as relações sexuais, (2) uso o preservativo com parceiros
casuais, (3) recuso ter relações se não tiver preservativo, (4) uso preservativo com parceiro regular, (5) e insisto com
o(a) parceiro(a) para utilizar o preservativo, de acordo com uma escala da 3 pontos: 1=nunca usei, 2=já usei, 3=costumo
usar - aos quais responderam 156 dos 188 participantes - foi criado um índice designado de "Comportamento
Preventivo", que engloba quatro itens (α=.878), sendo, portanto, retirado o item, uma vez que teve um baixo número
de respostas (só responderam 58, por se tratar de um item ao qual deveriam responder, apenas, aqueles que tivessem
tido relações casuais). Posteriormente, foi realizada uma análise de variância (ANOVA) funcionando esta nova variável
como variável dependente e como variável independente o "sexo" e a "origem" dos participantes.
17
Existem diferenças estatisticamente significativas ao nível da origem dos participantes F
(1, 155)
=6,994, nível de
significância.<.009.
117
117
Quando procuramos estabelecer a relação entre os vários factores analisados e a medida do
comportamento preventivo, verificamos que, tanto as atitudes e as representações face à
sexualidade, como o grau de conhecimentos não estão directamente ligados com a prevenção. De
facto, só no caso das raparigas
18
parece haver uma relação entre os conhecimentos e a prevenção, ou
seja, à medida que estas têm um maior conhecimento sobre o VIH e a SIDA, também aumenta o
comportamento preventivo, contrastando com os rapazes, para quem, pelo contrário, o
comportamento preventivo não parece ter qualquer relação com o grau de conhecimentos, visto que,
no caso deles, não existem grandes diferenças entre os valores do grupo de conhecimento baixo,
médio ou elevado (gráfico n.º 8).
Gráfico 8 - Comportamento preventivo em função do sexo e do conhecimento
No que diz respeito à opinião
19
dos participantes sobre aquilo que as pessoas que são
importantes para eles - pais, amigos e namorado/a - pensam sobre o facto deles usarem o
preservativo durante as relações sexuais, constatamos que, em média, os jovens consideram que
estas aprovam que eles o utilizem ou o façam utilizar, embora com algumas pequenas diferenças
estatisticamente significativas entre os sexos e a origem dos participantes (gráfico n.º 9). Em relação
aos pais,
20
podemos verificar que os rapazes portugueses e os africanos têm valores mais baixos
18
Foi realizada uma ANOVA, tendo como variável dependente o "comportamento preventivo" e como variáveis
independentes o "sexo" e o "conhecimento" e podemos observar um efeito de interacção entre as variáveis "sexo" e
"conhecimento" sobre o comportamento preventivo, podendo, este valor, ainda, ser considerado estatisticamente
significativo (F
(2, 155) =
Sexo x conhecimento: 2,994, Sig.=.053). Porém, com o testes de comparações múltiplas (Teste
Neurman-Keuls) verificamos que não existem diferenças significativas entre os dois sexos ao vel do baixo
conhecimento (p<0,16), nem ao nível do conhecimento elevado (p<0,20), ao contrário do que poderia parecer (testes de
comparações múltiplas: Teste Neurman-Keuls).
19
A mesma pergunta era colocada três vezes, alterando-se apenas as pessoas, numa escala de cinco pontos, desde
5=aprovam totalmente a 1=desaprovam totalmente. Por exemplo, "aque ponto é que as pessoas que são importantes e
significativas para si (os pais) aprovam que você utilize (ou faça utilizar) o preservativo? As outras duas eram relativas
aos amigos e ao(à) namorado(a).
20
Dados provenientes de análise de variância (ANOVA).
conhecimento
elevado
conhecimento
dio
conhecimento
baixo
média
2,6
2,4
2,2
2,0
1,8
1,6
sexo
masculino
feminino
118
118
nesta fonte do que as raparigas portuguesas e as africanas. Ou seja, quando fazemos uma
comparação entre os sexos, verificamos que os rapazes acreditam mais do que as raparigas que os
pais aprovam que eles utilizem ou façam utilizar o preservativo e quando fazemos uma comparação
entre portugueses e africanos, são os portugueses que mais o fazem.
O mesmo gráfico mostra precisamente o contrário quando analisamos os colegas e amigos e
a(o) namorada(o), existindo diferenças marginalmente significativas. De facto, independentemente
da nacionalidade, desta vez, são as raparigas, em geral, aquelas que mais consideram que quer os
colegas e amigos, quer a(o) namorada(o) aprovam que elas utilizem ou façam utilizar o preservativo
durante as relações sexuais.
Gráfico 9 - Aprovação de pessoas importantes sobre a utilização do preservativo
21
4
4,1
4,2
4,3
4,4
4,5
4,6
4,7
4,8
4,9
5
Pais Colegas/Amigos Namorada(o)
Rapazes portugueses
Raparigas portuguesas
Rapazes africanos
Raparigas africanas
Procurámos, ainda, analisar o controlo que os jovens percebem ter quanto ao uso do
preservativo para se protegerem da SIDA
22
e, verificámos que, em média, os participantes
consideram que esta decisão depende apenas deles (M=3,89), sendo a decisão de usar o preservativo
para se protegerem da SIDA cil (M=4,40) (gráfico n.º 10). Existem, contudo, algumas diferenças
importantes que convém salientar tanto ao vel do sexo, como da origem dos participantes,
relativamente os primeiro item ("penso que a decisão de usar o preservativo para me proteger da
SIDA depende somente de mim"),
ou seja, quando fazemos uma comparação entre ambos os sexos,
podemos verificar que os rapazes percebem um maior controlo do que as raparigas, mas quando
21
A ANOVA relativa aos pais mostra diferenças significativas entre os sexos: F
(1, 186),
Sexo: 6.619, sig.<.011 - F
(1, 186),
e
marginalmente significativas em relação à origem: 3.590, sig.<.060. A ANOVA relativa aos colegas e amigos mostra
diferenças marginalmente significativas a nível do sexo: F
(1, 186),
Sexo: 3.732, sig.<.055. A ANOVA relativa à(ao)
namorada(o) mostra diferenças marginalmente significativas entre os sexos: F
(1, 186),
Sexo: F
(1, 186),
Sexo: 2.713,
sig.<.101.
22
Para realizarmos esta análise utilizámos dois itens: "penso que a decisão de usar o preservativo para me proteger
da SIDA depende somente de mim" (com uma escala de cinco pontos, desde 1= absolutamente falso a 5=
absolutamente verdadeiro); e "indique em que medida considera fácil para si usar o preservativo para se proteger da
SIDA" (com uma escala de cinco pontos, desde 1= muito difícil a 5= muito fácil). Foram realizadas análises
estatísticas descritivas e de variância (ANOVA) e, verificámos, apenas, diferenças estatisticamente significativas em
relação à variável sexo: F
(1, 186) =
Sexo: 6,152, sig.<.014; e marginalmente significativa a nível da origem: F
(1, 186) =
Origem: 10,844, sig.<.001.
119
119
comparamos os jovens portugueses com os jovens africanos, constatamos que estes percepcionam
um maior controlo do que os portugueses na decisão de usarem o preservativo para se prevenirem
da SIDA.
Gráfico 10 - Controlo percebido em função do sexo e da origem
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Depende de mim É Fácil/Difícil
Rapazes Portugueses
Raparigas Portuguesas
Rapazes Africanos
Raparigas Africanas
4. CONCLUSÃO
Neste capítulo debruçámo-nos sobre a problemática do VIH e da SIDA. Mais concretamente,
a partir de uma investigação bibliográfica sobre o tema, procurámos analisar os resultados de uma
investigação empírica por nós realizada (Santos, 2001), onde tivemos em consideração diferentes
factores psicossociais, ou seja, os conhecimentos, as crenças, as atitudes e os comportamentos face
à sexualidade, ao VIH/SIDA de quatro grupos de adolescentes (rapazes e raparigas; portugueses e
africanos) de cinco escolas dos arredores de Lisboa.
O objectivo deste estudo prende-se com o facto de não existirem ainda, apesar de haver
alguma investigação com adolescentes, estudos que tenham realizado uma análise comparativa
entre jovens africanos e portugueses, tendo em conta as diferenças introduzidas pelo género.
A infecção do VIH/SIDA é um grave problema de saúde pública. E, embora, a nível mundial,
haja, aproximadamente, tantas mulheres como homens infectados (CNLCS, 2003), sobretudo,
devido ao enorme número de mulheres infectadas na África Subsahariana (Araújo, 2002), existem
algumas diferenças entre ambos (OMS, 2003) que convém salientar. Apesar de alguns destes
resultados serem fruto das diferenças biológicas entre homens e mulheres, a maior parte deve-se às
diferenças de género socialmente definidas. De facto, muito tempo que a investigação
epidémica e biomédica estabeleceu uma ligação entre o sexo de uma pessoa e o seu risco de
infecção, concluindo, por exemplo, que os factores fisiológicos são mais importantes para facilitar a
transmissão da infecção por parte de um homem infectado a uma mulher do que o contrário (OMS,
2003). Porém, mais recentemente, a investigação também identificou os factores de género no
120
120
aumento da vulnerabilidade e dos riscos pessoais em relação à epidemia do VIH/SIDA. Neste
sentido, dir-se-ia que as normas que regem a masculinidade e a feminilidade, associadas às relações
(desiguais) de poder entre homens e mulheres, “conspiram”, em conjunto com os factores
biológicos e psicológicos para compor os riscos individuais da infecção, levando à epidemia em
larga escala, a nível mundial.
Ora, e como pudemos verificar ao longo deste texto, na maior parte das sociedades, a
ideologia dominante de feminilidade dita que uma “boa mulher” deve ser ignorante relativamente à
sexualidade e deve ser passiva nas interacções sexuais (OMS, 2003). Estas podem permanecer
ignorantes em relação à sexualidade, ao VIH e à SIDA, porque não é suposto” estarem
sexualmente informadas, enquanto que os homens estão sujeitos a permanecerem ignorantes,
porque “é suposto” estarem sexualmente informados. Além disso, as mulheres podem querer que os
seus parceiros usem o preservativo, mas, frequentemente, falta-lhes o poder para o conseguirem e,
como são mais vulneráveis física, social, e economicamente, muitas vezes, têm medo de ser
abandonadas e/ou violentadas (OMS, 2003).
Por isso, os esforços das campanhas de prevenção também deviam estar focalizados nos
homens, procurando combater os preconceitos sobre o preservativo, como a ideia de que este
impede o prazer ou é símbolo de infidelidade, e alterar algumas das suas atitudes e
comportamentos, face à qualidade da relação, à vida e ao respeito pela companheira.
No nosso estudo (Santos, 2001) constatámos que há assimetrias de género que continuam bem
patentes, para além das diferenças encontradas entre os jovens de origem portuguesa e os de origem
africana. De facto, podemos concluir que esta investigação mostra a existência de padrões de
comportamento em relação à sexualidade, claramente marcados pelo género, uma vez que, por um
lado, as raparigas concordam menos do que os rapazes com a visão do sexo como uma fonte de
obtenção de prazer (tal como Alferes, em 1997, tinha verificado), e estão mais bem informadas,
relativamente ao VIH e à SIDA. Esta informação está positivamente relacionada com o seu
comportamento preventivo, ou seja, quanto mais bem informadas as raparigas estão, mais usam o
preservativo para se prevenirem da SIDA. Por outro lado, os rapazes parecem sentir-se menos
responsáveis, uma vez que, de um modo geral, continuam a ser mais permissivos, e têm menos
conhecimentos sobre o VIH/SIDA do que as raparigas. E esses conhecimentos não parecem afectar
a sua decisão sobre se devem ou não usar o preservativo durante as relações sexuais, continuando,
portanto, a adoptar mais "comportamentos de risco" do que elas, apesar de perceberem um maior
controlo na decisão de usarem ou não o preservativo.
Tais resultados poder-se-ão dever ao facto de a ideologia do género ligar mais as raparigas à
reprodução e a tudo o que isso implica, acabando, forçosamente, por as tornar mais acessíveis à
informação relacionada com a sexualidade, o VIH/SIDA e outras DST. Aliás, Alferes (1997) já
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tinha constatado que as raparigas têm um maior conhecimento sobre a eficácia dos métodos
contraceptivos e estavam mais sensibilizadas para a educação sexual e o planeamento familiar. Por
outro lado, como vimos, embora, muitas vezes, se espere que os rapazes, dada a sua experiência
sexual, estejam bem informados, isso nem sempre acontece (Weiss, Whelan & Gupta, 1996, cit. por
Rivers & Aggleton, 2001), o que pode conduzir a experiências sexuais inseguras.
Os resultados mostram, ainda, que esses padrões de comportamento face à sexualidade o
modulados pelas culturas e valores dominantes, uma vez que também se registam diferenças entre
os jovens portugueses e os africanos ao nível da sexualidade. Salientemos, por exemplo, o facto de
os jovens africanos valorizarem mais o sexo centrado no prazer e no corpo e valorizarem menos o
sexo com afecto; terem menos conhecimentos sobre o VIH e a SIDA; adoptarem menos
comportamentos preventivos, apesar de ainda perceberem um maior controlo na decisão de usarem
ou não o preservativo; enquanto que os jovens portugueses se mostram mais orientados para o
modelo do sexo com afecto, valorizando mais a comunhão e adoptando mais comportamentos
preventivos. Estes resultados são consonantes com outras investigações (e.g., o estudo de
Vasconcelos, 1998), que mostram a modulação das representações sobre a sexualidade e dos
comportamentos sexuais por outros factores de ordem social e cultural, como a classe social de
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... Por outro lado, alguns estudos sobre a população portuguesa têm clarificado que, apesar desse envolvimento em situações de risco, os rapazes e os homens tenderão a subvalorizar a sua vulnerabilidade face às consequências negativas dos seus comportamentos sexuais (Marques, 2002a(Marques, , 2002bNodin, 2001;Roque, 2001;Santos, 2004;Vasconcelos, 1999). ...
... Os rapazes envolvem-se, em média, mais precoce e frequentemente em situações de risco, tanto em relação à gravidez não desejada como ao contágio de IST's (Brindis et al., 2005; Prazeres, 2003; Sonenstein, 2000) e, paradoxalmente, recebem menos atenção da parte das famílias no que respeita à disponibilização de informação e de medidas de prevenção (Ketting, 2000; Lindberg, Ku, & Sonenstein, 2000a; Lindberg & Sonenstein, 2000b; Marques, 2002a; Vilar, 2002). Por outro lado, alguns estudos sobre a população portuguesa têm clarificado que, apesar desse envolvimento em situações de risco, os rapazes e os homens tenderão a subvalorizar a sua vulnerabilidade face às consequências negativas dos seus comportamentos sexuais (Marques, 2002aMarques, , 2002b Nodin, 2001; Roque, 2001; Santos, 2004; Vasconcelos, 1999). Quando questionados, muitos dos rapazes referem que gostariam de possuir mais informação acerca da saúde sexual e reprodutiva do que aquela que, em geral, recebem (Brindis et al., 2005; Prazeres, 2003 ), e é também comum expressarem desconhecimento acerca dos locais a que podem recorrer para efeitos de prevenção ou de suporte neste domínio (Lindberg et al., 2000a; Sonenstein, 2000). ...
... Por outro lado, alguns estudos sobre a população portuguesa têm clarificado que, apesar desse envolvimento em situações de risco, os rapazes e os homens tenderão a subvalorizar a sua vulnerabilidade face às consequências negativas dos seus comportamentos sexuais (Marques, 2002a(Marques, , 2002bNodin, 2001;Roque, 2001;Santos, 2004;Vasconcelos, 1999). ...
... O género refere--se às expectativas e comportamentos socialmente aprendidos e construídos que se associam a cada um dos sexos, fornecendo à mulher e ao homem diferentes "guiões" de conduta, de normas e de valores que influenciam as relações que estabelecem (Amâncio, 1998;Neves, 2007;Santos & Amâncio, 2002). Assim, as construções socioculturais de género influenciam a forma como a mulher e o homem significam e vivem as relações de intimidade que, como vários estudos indicam (e.g., Alferes, 1997;Santos, 2004;Santos & Amâncio, 2002), é marcadamente desigual. A investigação, neste âmbito, indica que os papéis e os estereótipos tradicionais de género têm sustentado manifestações de intimidade assimétricas e diferenciadas, em que as relações são pautadas por um duplo padrão moral e sexual que diferencia os comportamentos femininos e os masculinos: incentivam--se, permitem--se ou toleram--se determinados comportamentos no homem (pró--atividade nas relações, iniciação sexual precoce, dissociação entre sexo e amor, vários relacionamentos e relações pré--matrimoniais) que, por sua vez, são proibidos, negados ou censurados na mulher (Alferes, 1997;Pais, 1998;Saavedra et al., 2010). ...
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In the present study we aim to understand how people conceptualize and experience love and intimate relationships. The study involved 28 subjects, with whom we conducted an individual interview about their lives’ love story. We compare the speech of young subjects and adults from different generations, also considering their civil status and sex. We found some generational differences and we discuss them under the different historical, social and political background. We conclude that there is a consensual discourse about love, widely shared, as well as a return to more traditional and conventional conceptions about love and relationships - more marked and with more asymmetry and inequality in the youngsters.
... O género refere--se às expectativas e comportamentos socialmente aprendidos e construídos que se associam a cada um dos sexos, fornecendo à mulher e ao homem diferentes "guiões" de conduta, de normas e de valores que influenciam as relações que estabelecem (Amâncio, 1998;Neves, 2007;Santos & Amâncio, 2002). Assim, as construções socioculturais de género influenciam a forma como a mulher e o homem significam e vivem as relações de intimidade que, como vários estudos indicam (e.g., Alferes, 1997;Santos, 2004;Santos & Amâncio, 2002), é marcadamente desigual. A investigação, neste âmbito, indica que os papéis e os estereótipos tradicionais de género têm sustentado manifestações de intimidade assimétricas e diferenciadas, em que as relações são pautadas por um duplo padrão moral e sexual que diferencia os comportamentos femininos e os masculinos: incentivam--se, permitem--se ou toleram--se determinados comportamentos no homem (pró--atividade nas relações, iniciação sexual precoce, dissociação entre sexo e amor, vários relacionamentos e relações pré--matrimoniais) que, por sua vez, são proibidos, negados ou censurados na mulher (Alferes, 1997;Pais, 1998;Saavedra et al., 2010). ...
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In this study we make a comparative analysis between the discourse of participants with a history of violence in intimate relationships and the discourse of the participants without a history of violence, both in the youth population as in the adulthood. The study includes 24 participants with a history of violence and 28 participants without a history of violence, with who we conducted an individual interview about the love story of their lives. Five interpretative repertoires about love were identified in all participants, and we also found differences in the use pattern and in the range of the repertoires. We discuss how the participants use the interpretative repertoires to facilitate or limit the intimate violence. Finally, considering the specificities identified in the discourse of victims, offenders and young people, we discuss some potential intervention issues for each case.
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This study aims toshow the importance of social and cognitive factors to understand the underestimation of AIDS risk.The main goal of this research was to establish the determinants of perceived invulnerability to this disease, considering three levels of analysis: an individual level based on the Cognitive Adaptation Theory (Taylor & Brown, 1988), an inter-personal level based on Sternberg Theory of Love (1984) and a inter-group level based on Social Identity Theory (Tajfel, 1984). 362 university students answered a structured survey. Results show that although interpersonal variables (specifically optimism about their partner) was the best predictor of perceived invulnerability to AIDS, all the other levels significantly contribute to the explanation of that variation.
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La première édition de La psychanalyse, son image et son public était une thèse. Cette seconde édition est, je l’espère, un livre. De l’une à l’outre j’ai modifié le style, le mode d’exposition des faits et des idées, éliminé des indications techniques et théoriques qui n’intéressaient qu’un cercle restreint de spécialistes ou qui sont devenues monnaie courante. Ce travail de réécriture correspond, bien entendu, aussi à une évolution personnelle et intellectuelle vis-à-vis des rites d’initiation universitaire et de la science. Lors de sa parution, la thèse a provoqué un malaise. Des psychanalystes surtout ont vu d’un mauvaise œil la tentative de prendre la psychanalyse comme objet quelconque d’étude et de la situer dans la société. 2 J’ai été frappé alors, et je le suis toujours, par le fait que les détenteurs d’un savoir, scientifique ou non, croient avoir le droit de tout étudier — et en définitive de tout juger — mais estiment inutile, voire pernicieux, de rendre compte des déterminismes dont ils sont le lieu, des effets qu’ils produisent, bref d’être étudiés à leur tour et de regarder le miroir qu’on leur tend en conséquence. Ils y voient une immixtion intolérable dans leurs propres affaires, une profanation de leur savoir — veut-on qu’il reste sacré ? — et réagissent, suivant leur tempérament, avec mépris ou mauvaise humeur. Ceci est vrai de la plupart des scientifiques, ceci est même vrai des marxistes. C’est pourquoi nous n’avons pas de sociologie de la science, ni du marxisme, ni de la psychanalyse. Je me suis cependant aperçu qu’en dix ans, du moins en ce qui concerne la psychanalyse et les psychanalystes, les attitudes ont beaucoup changé dans un sens favorable à un travail tel que celui-ci. 3 Au centre de ce livre est le phénomène des représentations sociales. Depuis la première édition, de nombreuses études tant de terrain que de laboratoire lui ont été consacrées. Je pense notamment à celles de Chombart de Lauwe, Hertzlich, Jodelet, Kaës d’un côté et à celles d’Abric, Codol, Flament, Henry, Pêcheux, Poitou de l’autre. Elles ont permis de mieux saisir sa généralité et de mieux comprendre son rôle dans la communication et la genèse des comportements sociaux. Mon ambition était cependant plus vaste. Je voulais redéfinir les problèmes et les concepts de la psychologie sociale à partir de ce phénomène, en insistant sur sa fonction symbolique et son pouvoir de construction du réel. La tradition behavioriste, le fait que la psychologie sociale se soit bornée à étudier l’individu, le petit groupe, les relations informelles, ont constitué et continuent à constituer un obstacle à cet égard. Une philosophie positiviste qui n’accorde d’importance qu’aux prédictions vérifiables par l’expérience et aux phénomènes directement observables s’ajoute à la liste des obstacles. 4 Cette tradition et cette philosophie empêchent, à mon avis, le développement de la psychologie sociale au-delà des limites qui sont les dermes aujourd’hui. Quand on s’en rendra compte et que l’on osera franchir ces limites, les représentations sociales, j’en suis convaincu, prendront dans cette science la place qui est la leur. En outre, elles seront un facteur de renouvellement des problèmes et clés concepts de la philosophie qui doit sous-tendre le travail scientifique. Là encore, les jeux ne sont pas faits. Au contraire ils sont à refaire et la crise que traverse la psychologie sociale le montre à l’évidence. 5 Il y va de l’intérêt de bien d’autres domaines de recherche concernant la littérature, l’art, les mythes, les idéologies et le langage. Enfermés dans des cadres dépassés, prisonniers de préjugés quant au pecking order des sciences, les chercheurs dans ces domaines se privent des moyens que, dans son état actuel, la psychologie sociale met à leur disposition. En France notamment ils se réclament, sous l’emprise du structuralisme, d’une orthodoxie saussurienne, tout en oubliant ce que Ferdinand de Saussure a entrevu avec précision : « La langue est un système de signes exprimant des idées, et, par là, comparable à récriture, à l’alphabet des sourds-muets, aux rites symboliques, aux formes de politesse, aux signaux militaires, etc. Elle rat seulement le plus important de ces systèmes. On peut donc concevoir une science qui étudie la vie des signes au sein de la vie sociale ; elle formerait une partie de la psychologie sociale et par conséquent de la psychologie générale ; nous la nommerons sémiologie (du grec semeïon, « signe »). Elle nous apprendrait en quoi consistent les signes, quelles lois les régissent. » Mais le lecteur n’a pas à se soucier de ce passé, de cet état de la science, des projets flottant autour du livre. Pas plus que je ne m’en soucie. En faisant l’étude d’abord, en lui donnant forme ensuite, je me suis enrichi et j’ai eu du plaisir. Tout ce que je souhaite c’est que, en lisant ce livre, il lui arrive la même chose.
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Argues that the contemporary social constructions pertaining to AIDS and the inherent biases and imbalances of power contained within the culture with regard to gender have converged to increase women's risks for contracting the AIDS virus and have limited their access to appropriate and adequate health care. These social constructions relating both to women and to AIDS are reflected in how issues of women and AIDS are addressed on the micro to macro levels in our society. They influence women's perceptions of their risk of contracting HIV, the nature of intimate relationships, and their susceptibility to drug use. There has been little attention paid to issues of women's health care or to women's role as caretakers. Many of the difficulties that women face in regard to AIDS are intertwined with the social constructions of gender, and successful therapy must address these constructions. (PsycINFO Database Record (c) 2012 APA, all rights reserved)
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Government AIDS education campaigns are based on a number of tacit assumptions. They presuppose that an increase in knowledge of HIV transmission routes will produce behaviour change in and of itself. In addition, the major slogans used in nationwide media campaigns make three further assumptions: 1. there are objective facts that are undisputably true, 2. such facts can be assessed via scientific inquiry, and 3. individual freedom of behavioural choice. Research reported in this paper aims to assess to what extent a consensus with regard to these assumptions can be expected among ‘the general public’. The material presented in this paper is based on a series of depth interviews with 12 representative individuals. Qualitative analysis of interview transcripts via the identification of fundamental assumptions about the world in respondents' discourse revealed a concern with emotional and psychological factors which is not matched by national AIDS slogans.