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Faculdade de Filosofia e Ciências,
Campus de Marília - SP
Rodrigo Moreira Garcia
Modelos de comportamento de busca de informação:
contribuições para a Organização da Informação
Marília – SP
2007
RODRIGO MOREIRA GARCIA
Modelos de comportamento de busca de informação:
contribuições para a Organização da Informação
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciência da Informação da
Faculdade de Filosofia e Ciências – FFC –
Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de
Marília, como requisito parcial para obtenção do título
de Mestre.
Área de concentração: Informação, Tecnologia e
Conhecimento.
Linha de pesquisa: Organização da Informação.
Orientadora: Drª Helen de Castro Silva.
Marília – SP
2007
Garcia, Rodrigo Moreira
G216m Modelos de comportamento de busca de informação:
contribuições para a Organização da Informação / Rodrigo Moreira
Garcia. – Marília: UNESP, 2007
139f: il.; 30 cm
Dissertação – Mestrado – Faculdade de Filosofia e Ciências
– Universidade Estadual Paulista, Marília, 2007.
1. Modelos de busca. 2. Comportamento informacional. 3.
Recuperação da Informação. 4. Organização da Informação.
5. Usuário final. I. Autor. II. Título.
CDD 025.5
RODRIGO MOREIRA GARCIA
Modelos de comportamento de busca de informação:
contribuições para a Organização da Informação
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciência da Informação da
Faculdade de Filosofia e Ciências – FFC –
Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de
Marília, como requisito parcial para obtenção do título
de Mestre.
Área de concentração: Informação, Tecnologia e
Conhecimento.
Linha de pesquisa: Organização da Informação.
Orientadora: Drª Helen de Castro Silva.
Data de defesa: 10 set. 2007
BANCA EXAMINADORA:
Nome: Helen de Castro Silva
Titulação: Profª. do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Faculdade de
Filosofia e Ciências, UNESP – Campus de Marília.
Nome: Mariângela Spotti Lopes Fujita
Titulação: Profª. do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Faculdade de
Filosofia e Ciências, UNESP – Campus de Marília.
Nome: Ariadne Chloe Mary Furnival
Titulação: Profª do Departamento de Ciências da Informação, Centro de Educação e Ciências
Humanas, Universidade Federal de São Carlos, UFSCAR – São Carlos.
Local: Universidade Estadual Paulista – UNESP
Faculdade de Filosofia e Ciências
Campus de Marília
À minha Família.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que tornaram possível a realização deste trabalho, em especial:
À Profª Helen de Castro Silva, pelo apoio, estímulo, compreensão e dedicada orientação;
À profª Mariângela Spotti Lopes Fujita, por fazer parte de minha banca examinadora e pelas
pertinentes sugestões dadas à minha Dissertação;
À profª Ariadne Chloe Mary Furnival, por fazer parte de minha banca examinadora e pelas
pertinentes sugestões dadas à minha Dissertação;
Às Profas Maria Eunice Quilici Gonzáles e Mariana C. Broens do Programa de Pós-Graduação em
Filosofia da Unesp-FFC-Marília pela oportunidade e amizade, em especial à Profª Maria Eunice por meio da
disciplina Fundamentos da Teoria da Informação ministrada ao PPGCI-FFC-UNESP-Marília;
Ao Profº Juan Carlos Fernández Molina da
Faculdad de Biblioteconomía y Documentación de la
Universidad de Granada – España
, pela valiosa contribuição, incentivo e amizade por meio da disciplina
Aspectos Jurídicos e Éticos da Informação Digital ministrada ao PPGCI-FFC-UNESP-Marília;
À Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – pelo apoio parcial
para o desenvolvimento desta pesquisa;
À profª Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti pelo apoio durante seu período como
coordenadora do PPGCI-UNESP-Marília;
À Sylvia Helena Morales Horiguela de Moraes (Escritório de Pesquisa da UNESP-FFC-Marília) pela
atenção e disposição para comigo;
Aos alunos (estimados colegas) que convivi durante as atividades realizadas na Pós-Graduação.
A cega arrogância que vem com a juventude é
paralisada pela falta de flexibilidade do velho; a
impaciência e a ambição do jovem chocam-se
com o medo que o velho tem de idéias novas e
de suas possíveis conseqüências contra a sua
hegemonia. A curto prazo o velho em geral
vence, o jovem recuando para repensar seu
plano de ataque. Se a força dos argumentos do
jovem, contudo, for realmente grande, ele
conquistará o velho no final, forçando uma
completa transformação de valores ou, pelo
menos, o início de uma transição (GLEISERα, 1997).
[...] mesmo que horizontes possam existir, eles são horizontes em fuga,
que nunca serão atingidos; numa terra de horizontes em fuga, um
viajante inspirado sempre encontrará novas maravilhas. Pelo menos,
essa é a minha metáfora para a criatividade humana (GLEISERα,
1997, p. 360).
‘o Tempo é uma criança que joga dados’β.
α GLEISER, Marcelo. A dança do universo: dos mitos de criação ao Big Bang. São Paulo: Companhia
das Letras, 1997.
β Inscrição grega citada por: JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. São Paulo: Círculo do
Livro, 1991.
T
Th
he
e
S
Sc
ci
ie
en
nt
ti
is
st
t
(Coldplayγ, 2002)
Come up to meet you, Tell you I'm sorry
You don't know how lovely you are
I had to find you, Tell you I need you
And tell you I set you apart
Tell me your secrets, And ask me your questions
Oh let's go back to the start
Running in circles, Coming up tails
Heads on a silence apart
Nobody said it was easy
It's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh take me back to the start
I was just guessing at numbers and figures
Pulling the puzzles apart
Questions of science, science and progress
Do not speak as loud as my heart
And tell me you love me, Come back and haunt me
Oh and I rush to the start
Running in circles, Chasing tails
Coming back as we are
Nobody said it was easy
Oh it's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be so hard
I'm going back to the start
Aah oooh ooh ooh ooh ooh (x4)
γ COLDPLAY. The scientist. Intérprete: Coldplay. In: A rush of blood to the head. [S.l.]: Emi Records, p2002.
1 CD. Faixa 4 (5 min. 9 s).
GARCIA, Rodrigo Moreira. Modelos de comportamento de busca de informação:
contribuições para a Organização da Informação. 2007. 139f. Dissertação – Faculdade de
Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Marília. 2007.
RESUMO
Com o desenvolvimento da Web e, conseqüentemente, das bibliotecas digitais, open archives,
repositórios entre outros, novos sistemas e fontes de informação têm sido criados, colocando
os usuários em um novo ambiente de busca e recuperação da informação, caracterizado pela
sobreabundância de recursos informacionais dispostos no formato de hipertexto, aumentando
significativamente as possibilidades de acesso. Diante deste ‘ambiente digital de informação’,
uma das funções das Linguagens Documentárias é representar as informações dos
documentos contidos nestes sistemas de informação, de tal forma que o usuário seja capaz de
acessar essa informação para o uso, comunicação e, principalmente, para a geração de novos
conhecimentos. No entanto, o problema-chave da Recuperação da Informação passa pela
busca de procedimentos teóricos e metodológicos para a Organização e Representação da
Informação, ou seja, uma das principais problemáticas é encontrar meios de aperfeiçoar os
métodos de Organização da Informação ao nível conceitual, de forma a aumentar a
acessibilidade pelos usuários finais. Diante disto, foi proposto um estudo exploratório de
análise teórica de alguns modelos de comportamento de busca de informação que, de acordo
com a literatura especializada, são os que têm maior impacto em termos de pesquisa na área.
Tais modelos podem ser incorporados aos processos de tratamento temático da informação,
permitindo a bibliotecários e indexadores a se darem conta das variáveis que interferem no
processo de busca e recuperação da informação dos usuários e, desta forma, entenderem os
fatores que afetam a organização e representação da informação. Como resultados considera-
se que uma abordagem que procure colocar o usuário no centro das preocupações na
Organização da Informação deve recorrer à experiência acumulada nos chamados estudos de
usuários. Conclui-se que os estudos sobre os comportamentos informacionais dos usuários,
que incluam os fatores contextuais que intervêm nestes comportamentos, podem contribuir
para o desenvolvimento de novos sistemas e ferramentas para a Organização e Representação
da Informação, assim como para o uso da informação, seja nos contextos
acadêmicos/científicos ou, ainda, em outros tipos de organizações.
Palavras-chave: Modelos de busca. Comportamento informacional. Recuperação da
Informação. Organização da informação. Usuário final.
GARCIA, Rodrigo Moreira. Modelos de comportamento de busca de informação:
contribuições para a Organização da Informação. 2007. 139f. Dissertação – Faculdade de
Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Marília. 2007.
ABSTRACT
With the development of the Web and, consequently, of the digital libraries, open archives,
repositories between other, new systems and information sources have been created, placing
the users in a new search and information retrieval environment, characterized by the
abundance of informational resources disposed in the hypertext format, increasing the access
possibilities significantly. Ahead of this ‘information digital environment’, one of the
Indexing Languages functions is to represent the information of the documents contained in
these information systems, so that the user be capable to access that information for the use,
communication and, mainly, for the generation of new knowledge. However, the problem-key
of the Information Retrieval goes by the search of theoretical and methodological proceedings
for the Information Organization and Representation. In other words, the principal
problematic is to find means of improving the methods of Information Organization at the
conceptual level, in way to increase the accessibility for the end-users. Ahead this, an
exploratory study of theoretical analysis was proposed of some information search behavior
models that, in agreement with the specialized literature, they are the ones that have larger
impact in research terms in the area. Such models can be incorporate to the information
thematic treatment processes, allowing to librarians and indexers the if give bill of the
intervening variables in the search and information retrieval process of the users and, this
way, that they understand the factors that affect the information organization and
representation. As results are considered that an approach that tries to place the user in the
center of the concerns in the Information Organization should appeal to the accumulated
experience in the calls studies of users. It is ended that the studies about the users' information
behaviors, that include the contextual factors that intervening in these behaviors, can
contribute for the development of new systems and tools for the Information Organization and
Representation, as well as for the use of the information, be in the academics/scientifics
contexts or, still, in other types of organizations.
Keywords: Search models. Informational behavior. Information retrieval. Information
organization. End-user.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1: Representação sugestiva da Ciência da Informação__________________25
FIGURA 2: Ícone que significa ‘salvar’ na maioria dos editores de texto___________38
FIGURA 3: Relação entre objeto, representação e idéia do usuário _______________41
FIGURA 4: O modelo mais simples de recuperação da informação _______________46
FIGURA 5: Roda de leitura de Ramelli _____________________________________55
FIGURA 6: Uma integração dos modelos de Information Seeking e Information
Searching __________________________________________________ 81
FIGURA 7: Modelo de comportamento de busca de informação _________________83
FIGURA 8: Modelo de comportamento informacional _________________________85
FIGURA 9: Modelo do Processo de Busca de Informação (ISP) _________________99
FIGURA 10: Estrutura Sense-Making modificada de Dervin _____________________102
FIGURA 11: Uma versão do processo de fases da estrutura comportamental de Ellis
(1989) _____________________________________________________107
FIGURA 12: Modelo cognitivo do processo de recuperação da informação (adaptado) _109
FIGURA 13: Análise dos principais componentes dos modelos apresentados ________112
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ___________________________________________________12
2 INFORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO NA CIÊNCIA
DA INFORMAÇÃO _______________________________________________
21
2.1 Organização e Representação na Ciência da Informação ___________________ 29
2.1.1 Representação da informação na Ciência da Informação ____________________34
2.2 A Recuperação da informação centrada no usuário ________________________42
3 HIPERTEXTO: CONCEITOS E APLICABILIDADES NA
ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM AMBIENTE DIGITAL _______ 52
3.1 Hipertexto: conceitos________________________________________________ 56
3.2 Interface: conceitos _________________________________________________ 62
3.3 Modelos Conceituais para a Organização da Informação____________________66
4 MODELOS DE COMPORTAMENTO DE BUSCA DE INFORMAÇÃO
75
4.1 Comportamento informacional dos usuários _____________________________78
4.2 Modelos de busca de informação ______________________________________80
4.2.1 O modelo geral de comportamento de informação (Wilson, 1996) ____________82
4.2.1.1 Variáveis interferentes ______________________________________________87
4.2.1.2 Mecanismos de ativação_____________________________________________89
4.2.2 O modelo ISP – Information Search Process (Kuhlthau, 1993) ______________92
4.2.3 A teoria de Sense-Making (Dervin, 1986) _______________________________ 101
4.2.4 O modelo comportamental de busca de informação (Ellis, 1989) _____________103
4.2.5 Modelo cognitivo do processo de recuperação da informação (Ingwersen, 2002) 107
5 MODELOS DE COMPORTAMENTO DE BUSCA E SUAS
IMPLICAÇÕES PARA A ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO ________114
5.1 Análise do Modelo Geral de Comportamento de Busca de Informação_________119
CONSIDERAÇÕES FINAIS______________________________________________124
REFERÊNCIAS ________________________________________________________129
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA _________________________________________137
LINKS ________________________________________________________________139
12
1
1.
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O presente estudo insere-se na linha de pesquisa Organização da Informação,
do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP (Universidade Estadual
Paulista), FFC (Faculdade de Filosofia e Ciências), Campus de Marília, tendo como tema os
modelos de comportamento busca de informação e suas contribuições para a Organização
da Informação. Trata-se de Dissertação de Mestrado com bolsa parcial concedida pela
CAPES – Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – referente ao
período de setembro de 2005 a maio de 2006.
É importante destacar que, no decorrer de sua elaboração, a referida pesquisa
resultou em trabalhos apresentados em eventos1, um artigo na revista Informação &
Sociedade2, além de um capítulo de livro3 (no prelo).
1 GARCIA, Rodrigo Moreira; SILVA, Helen de Castro. Competência em informação para o auto-arquivamento
em open archives. In: Integrar - Congresso Internacional de arquivos, bibliotecas, centros de documentação e
museus, 2º, 2006, São Paulo. Anais... São Paulo: FEBAB, Imprensa Oficial, 2006. 1 CD-ROM.
GARCIA, Rodrigo Moreira; SILVA, Helen de Castro. Competência em informação para o auto-arquivamento
em open archives. In: COSTA, Sely Maria de Souza; VIDOTTI, Silvana Aparecida Borsetti Gregório;
SIMEÃO, Elmira, L. Melo S.; MOREIRA, Ana Cristina Santos (orgs.). I Conferência Iberoamericana de
Publicações Eletrônicas no Contexto da Comunicação Científica: maximizando a disseminação da pesquisa,
ferramentas e estratégias. Campo Grande – MS, Uniderp, 2006, p. 217-221.
GARCIA, Rodrigo Moreira et al. Reflexões filosóficas sobre a informação no contexto cibernético e biológico.
In: PAGNI, P. (org.). Universidade e contemporaneidade: produção do conhecimento e formação profissional
– coletânea de textos do VI Simpósio em Filosofia e Ciência. Marília: FFC/Marília/UNESP – Comissão
Permanente de publicações, 2005. CD-ROM. ISBN 858673828-X.
2 GARCIA, Rodrigo Moreira. Governo eletrônico, informação e competência em informação. Informação &
Sociedade, v.16, n.2, p. 87-97, jul./dez. 2006. Disponível em:
<http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/viewFile/624/460 >. Acesso em: 14 mar. 2007.
3 GARCIA, Rodrigo Moreira; SILVA, Helen de Castro. Competência informacional/digital para o acesso a
informação pública nos e-governos. In: GUIMARÂRES, José Augusto Chaves (Org.). No prelo.
13
Nesta seção é apresentado o universo desta pesquisa, indicando suas origens,
justificativa, problema, proposição, procedimentos metodológicos e objetivos, além das
demais partes que compõe esta pesquisa.
Atualmente, com o desenvolvimento da Web e, conseqüentemente, das
bibliotecas digitais, open archives, repositórios, entre outros, novos sistemas e fontes de
informação têm sido criados e organizados, colocando os usuários em um novo ambiente de
busca e recuperação da informação.
Ou seja, a Web está alterando o comportamento informacional dos usuários: a
busca, a recuperação, a organização, a gestão, o uso e a comunicação da informação se vêm
todas afetadas pelas mudanças dos métodos informacionais tradicionais, que têm sido
auxiliados pelas tecnologias da informação e comunicação (BARRY, 1999). Neste contexto, a
busca, identificação, avaliação e recuperação de recursos informacionais (sobretudo em
ambientes digitais) apresentam-se como um processo semiótico4, no qual a representação
(tanto temática quanto descritiva) “substitui” os recursos informacionais, servindo como um
dispositivo inferencial aos usuários (agentes cognitivos) no que diz respeito a sua relevância.
Assim, o campo das representações está localizado entre os dois extremos:
sistema de informação/usuário. É um espaço onde se encontram representações de uma e/ou
de outra realidade. Essas representações criam pontes (representação temática/descritiva;
desenvolvimento de interfaces amigáveis) ou elucidam algumas ou todas as estranhezas que
se supõe existirem entre essas realidades (SAYÃO, 2001).
Deste modo, é esta ‘interface’ que possibilita a recuperação da informação
mediante um processo de comunicação, sendo a intermediária entre os dois extremos
(sistema/usuário), ou seja, propicia a comunicação (escrita, visual, gestual e cognitiva) entre
ambos. É por isso que a interface tem suma importância, e a mesma é desenvolvida
4 Da semiótica (ciência geral dos signos) de Charles Sanders Peirce (1931-1958) que se ocupa do estudo da
gênese dos signos e do seu papel na construção do conhecimento (GOMES, 2005).
14
principalmente com o auxílio das Linguagens Documentárias (um dos produtos atribuídos à
Organização e Representação do Conhecimento5). Uma das funções das Linguagens
Documentárias é a de criar representações das informações contidas no sistema de
informação, de tal forma que o usuário seja capaz de acessar essa informação para o uso,
comunicação e, principalmente, para a geração de novos conhecimentos (MARÍN MILANÉS;
TORREZ VELÁSQUEZ, 2006).
Assim, o processo de recuperação da informação consiste em considerar a
representação das estruturas cognitivas dos autores, dos trabalhadores da informação (que
incluem os seus princípios teóricos, metodológicos e as técnicas da Organização e
Representação do Conhecimento) e dos usuários e seus contextos, a fim de satisfazer a real
necessidade de informação (INGWERSEN, 2002). Estes elementos devem ser levados em
conta e analisados para um melhor desenvolvimento e funcionamento dos sistemas de
informação, uma vez que, o problema-chave da recuperação da informação passa pela busca
de procedimentos teóricos e metodológicos para a organização e representação da informação
(LÓPES ALONSO, 2000; MARÍN MILANÉS; TORREZ VELÁSQUEZ, 2006).
Outro aspecto a ser considerado é que a sobreabundância de recursos
disponíveis unida ao aumento de possibilidades de acesso, sobretudo no ambiente digital, tem
gerado a necessidade do usuário final em adquirir conhecimentos sobre a busca, recuperação,
organização e uso da informação.
Neste sentido, as habilidades que se exigem de um pesquisador na ‘era digital’,
por exemplo, são de magnitudes diferentes das que se exigiam em uma ‘era de documentação
impressa’. Identificar e localizar recursos em um mundo digital pode ser uma tarefa quase
5 A Organização e Representação do Conhecimento “[...] como disciplina da conta do desenvolvimento de
técnicas para a construção, a gestão, o uso e a avaliação de classificações científicas, taxonomias, nomenclaturas
e linguagens documentárias. Por outro lado, contribui com metodologias de uso e recuperação por Linguagem
Natural” (BARITE, 2001, p. 41, tradução nossa).
15
infinita. E a medida que se continua fazendo a transição de uma era tradicional para uma
digital, se intensifica a necessidade de habilidades de informação (BARRY, 1999).
Diante do exposto, uma das principais problemáticas é encontrar meios de
aperfeiçoar os métodos de organização da informação ao nível conceitual, de forma a
aumentar a acessibilidade pelos usuários finais.
O tema desta pesquisa, a saber: os modelos de comportamento de busca de
informação e suas contribuições para a Organização da Informação, é atual e de extrema
relevância, visto que o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação vêm
aumentando a capacidade de armazenamento em sistemas de informação, assim como tem
facilitado o acesso e a autonomia de clientes/usuários, tornando os processos de busca e
recuperação da informação em meio eletrônico/digital uma tarefa bastante complexa. Este
tema é, sem dúvida, imprescindível e precisa ser mais estudado. Robredo (2003) ao relacionar
os temas que, em sua opinião, deveriam ser objeto de estudos da Ciência da Informação nos
anos seguintes, incluiu o estudo do comportamento de diversos tipos e níveis de usuários nos
processos de busca e recuperação da informação, a partir de um dado sistema como, por
exemplo, a Web (WWW) e as Bibliotecas Digitais. Estudos como estes podem trazer
feedbacks para o desenvolvimento de referenciais teóricos e metodológicos à Organização da
Informação, subsidiando o desenvolvimento de sistemas de informação mais interativos, que
facilitem a recuperação da informação pelo usuário final.
Conforme afirma Sayão (2001, p. 86), “[...] um modelo de informação é uma
representação de um ser humano enquanto usuário e/ou parte de um sistema de informação e
das suas relações de aquisição, organização e manipulação da informação”. Ou seja, tenta
descrever e explicar as circunstâncias que predizem as ações de indivíduos que buscam
informação de algum tipo (CASE, 2002).
16
De maneira geral os modelos são “[...] representações simplificadas e
inteligíveis do mundo, que permitem vislumbrar características essenciais de um domínio ou
campo de estudo” (SAYÃO, 2001, p. 83).
Assim, um modelo pode ser descrito como uma estrutura para se pensar sobre
um problema e pode envolver em uma apresentação das relações entre as proposições teóricas
podendo, deste modo, sugerir relações que poderiam ser úteis explorar ou testar sobretudo
no campo da Recuperação da Informação centrada no usuário e, conseqüentemente, na
Organização da Informação (WILSON, 1999).
Neste sentido, os modelos de processo de busca e recuperação da informação
podem ser incorporados aos processos de tratamento temático da informação, permitindo a
bibliotecários e indexadores a se darem conta das variáveis que interferem no processo de
busca e recuperação da informação dos usuários e, desta forma, entenderem os fatores que
afetam a organização e representação da informação.
Este estudo, coloca-se em sintonia com as abordagens mais contemporâneas
de investigação do usuário, que o situam como o centro das preocupações (DIAS; NAVES;
MOURA, 2001). Também se destaca o fato de que é inusitado o delineamento escolhido, a
saber: analisar os modelos de comportamento de busca de informação tendo como ponto de
referência o tratamento da informação, mais especificamente a Organização da Informação.
O interesse por este estudo partiu de pesquisa de Iniciação Científica intitulada
“A busca da informação especializada e a efetividade de sua recuperação: interação entre
bibliotecário, usuário e base de dados”, subsidiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo – FAPESP (sob o processo nº 03/14144-2), referente ao período de
17
março de 2004 a dezembro de 20046. Ao término da referida pesquisa, foi demonstrado que
diversos problemas impediam que os participantes da pesquisa (alunos da Pós-Graduação da
UNESP-FFC-Marília) utilizassem toda a potencialidade que as bases de dados atualmente
oferecem para a recuperação da informação. Conforme pôde-se constatar, a escolha de bases
de dados; a seleção dos termos; a elaboração e a aplicação das estratégias de busca; a
utilização dos operadores lógicos; a utilização de recursos auxiliares à busca, como os
Tesauros; além dos próprios problemas de interação do usuário com o bibliotecário e as
interfaces dos sistemas de recuperação da informação e o desconhecimento dos benefícios que
tais ferramentas podem oferecer para a realização de suas atividades acadêmicas, foram
apontadas como sendo as principais dificuldades. Assim, embora os pós-graduandos sejam
usuários correntes da informação especializada, os alunos dos programas de Pós-Graduação
da UNESP-FFC-Marília, sujeitos da referida pesquisa, não demonstraram autonomia para
uma busca e recuperação da informação eficaz (GARCIA, 2005).
Assim, a partir da análise teórica de fontes bibliográficas pertinentes ao tema,
propôs-se a análise dos modelos de busca de informação de Wilson (1996); Kuhlthau (1991);
Dervin (1986); Ellis (1989) e Ingwersen (2002) e suas contribuições à Organização da
Informação.
A presente pesquisa é de caráter teórico e de nível exploratório. Primeiramente
contextualizou-se a informação, sua organização e representação no âmbito da Ciência da
Informação e suas implicações na recuperação da informação centrada no usuário. Em
6 O relatório final desta pesquisa resultou no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do aluno, defendido
perante a banca examinadora em 21 de janeiro de 2005, obtendo a nota 10 (dez), com Distinção e Louvor. O
referido TCC também resultou em um artigo publicado na revista DATAGRAMAZERO (ver referências) e
também em trabalho apresentado no 3º Simpósio Internacional de Bibliotecas Digitais, com a publicação:
GARCIA, Rodrigo Moreira; SILVA, Helen de Castro. Necessidades de otimização dos processos de
planejamento e operacionalização das estratégias de busca em bases de dados especializada: um estudo com pós-
graduandos da UNESP de Marília. In: FUJITA, Mariângela SPOTTI LOPES et al. (org.). A dimensão social da
Biblioteca digital na organização e acesso ao conhecimento: aspectos teóricos e aplicados. São Paulo:
Departamento Técnico do SIBi/USP; IBICT, 2005. 2 v. p. 305-324. ISBN 857314032-1. Disponível em: <
http://bibliotecas-cruesp.usp.br/3sibd/docs/necess324.pdf>. Acesso em: 02 dez. 2005.
18
seguida, discutiu-se os conceitos de hipertexto e interface, de modo a contextualizar as
características do ambiente de informação digital e suas implicações à Organização da
Informação. Depois foram analisados os modelos de busca e recuperação da informação de
Wilson (1996); Kuhlthau (1991); Dervin (1986); Ellis (1989) e Ingwersen (2002), os quais
tentam descrever os comportamentos de busca de informações dos usuários. Estes modelos
revelam variáveis que podem interferir no comportamento do usuário na busca e recuperação
da informação e que, portanto, devem ser consideradas na Organização da Informação, a fim
de que seus efeitos negativos possam ser minimizados e os positivos reforçados por meio dos
instrumentos da Organização da Informação.
As razões por esta pesquisa ter focalizado os modelos supracitados deve-se ao
fato de que estes são os mais desenvolvidos, em termos de pesquisas sobre a modelagem de
comportamento de busca de informação dos usuários, encontrados na literatura especializada
e citados por outros autores.
Trata-se então de uma pesquisa de cunho teórico. Para o seu desenvolvimento,
foram realizados levantamentos bibliográficos de documentos primários, secundários e
terciários7 nos idiomas inglês, espanhol, e português para escolha dos modelos, bem como da
leitura, seleção, extração dos conceitos aplicáveis ao tema e, conseqüentemente, a redação das
seções da dissertação.
A partir dos procedimentos metodológicos adotados, pretendeu-se atingir os
objetivos descritos a seguir:
7 Feito nas seguintes fontes bibliográficas da área de Ciência da Informação: Livros, periódicos, anais e
relatórios; Bases de dados nacionais e internacionais, textuais e referenciais, disponíveis em: Portal de Periódicos
da CAPES, Portal Bibliotecas UNESP, Portal da Pesquisa, Unibibli WEB, ERL, Biblioteca Eletrônica do
CRUESP, dentre outras, open archives, Repositórios Institucionais e Internet. Também buscou-se levantar
informações em eventos da área, realizados durante o período da pesquisa. Compreende-se por fontes
bibliográficas primárias, obras produzidas com a interferência direta do autor como, livros, teses, dissertações,
relatórios técnicos, normas técnicas, artigos científicos e outros. Como fontes secundárias, documentos
produzidos a partir de documentos primários e são representadas por exemplo pelas enciclopédias, tratados,
manuais, dicionários e outros. Como fontes terciárias documentos que tem por função guiar o usuário para as
fontes primárias e secundárias como, bibliografias, catálogos coletivos, guias de literatura, diretórios, índices e
outros (MUELLER, 2000).
19
- Objetivo final:
Contribuir como referencial teórico, trazendo subsídios para a área da
Biblioteconomia e Ciência da Informação, em especial à Organização da
Informação, no que diz respeito ao contexto dos usuários e o processo de busca
e recuperação da informação.
- Objetivos intermediários:
- Analisar os modelos de comportamento de busca de informação de
Wilson (1996); Kuhlthau (1991); Dervin (1986); Ellis (1989) e
Ingwersen (2002), identificando nestes as variáveis que interferem na
busca e obtenção de informações pelos usuários finais;
- Relacionar os aspectos contextuais do usuário final e as suas
implicações para a Organização da informação.
Com os resultados desta pesquisa pretendeu-se demonstrar que os modelos de
comportamento informacional podem contribuir como subsídios para a Organização da
Informação, principalmente para o entendimento do contexto do usuário e suas variáveis.
Este relatório da pesquisa, que se constitui a dissertação, esta estruturado em
seis seções, incluindo a presente introdução, as quais estão organizadas como se segue:
20
2 Informação, Organização e Representação na Ciência da Informação:
apresenta brevemente os conceitos de informação, organização e representação na Ciência da
informação e suas implicações na recuperação da informação centrada no usuário.
3 Hipertexto: conceitos e aplicabilidades na Organização da Informação
em ambiente digital: aborda os conceitos de hipertexto e interface contextualizando o
ambiente de recuperação da informação em ambiente digital e suas implicações na
Organização da Informação.
4 Modelos de comportamento de busca de informação: apresenta os
modelos de busca e comportamento informacional de Wilson (1996); Kuhlthau (1991);
Dervin (1986); Ellis (1989) e Ingwersen (2002), e explora as variáveis que compõem o
contexto do usuário e podem interferir no processo de busca e recuperação da informação.
5 Modelos de comportamento de busca e suas implicações para a
Organização da Informação: aborda a relação entre as variáveis encontradas nos estudos
dos modelos e suas implicações com a Organização da Informação.
6 Considerações Finais: relata os resultados alcançados por esta pesquisa.
A seguir é apresentada a seção 2: Informação e Representação na Ciência
da Informação.
21
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Informação é a diferença que faz diferença.
Gregory Bateson.
Esta seção apresenta brevemente os conceitos de informação, organização e
representação na Ciência da Informação e suas implicações na recuperação da informação
centrada no usuário.
A Ciência da Informação preocupa-se com a geração, coleção, organização,
interpretação, armazenamento, recuperação, disseminação, transformação e uso da
informação, ou seja, tanto a organização do conteúdo documentado, quanto o processo e fluxo
da informação com particular ênfase nas aplicações das modernas tecnologias de informação
e comunicação nestas áreas.
Conforme Buckland (1991), Pode-se identificar três principais usos da palavra
informação, sobretudo no âmbito da Ciência da Informação:
1. Informação-como-processo: Quando alguém é informado, aquilo que
conhece é modificado. Nesse sentido, informação é o ato de informar;
comunicação do conhecimento ou novidade de algum fato ou ocorrência; a
ação de falar ou o fato de ter falado sobre alguma coisa.
2. Informação-como-conhecimento: Informação é também usado para
denotar aquilo que é percebido na informação-como-processo: o conhecimento
comunicado referente a algum fato particular, assunto, ou evento; aquilo que é
transmitido, inteligência, noticias. A noção de que informação é aquela que
reduz a incerteza poderia ser entendida como um caso especial de
informação-como-conhecimento. Às vezes informação aumenta a incerteza.
22
3. Informação-como-coisa: O termo “informação” é também atribuído para
objetos, assim como dados para documentos, que são considerados como
“informação“, porque são relacionados como sendo informativos, tendo a
qualidade de conhecimento comunicado ou comunicação, informação, algo
informativo.
Uma característica importante da ‘informação-como-conhecimento’ é que esta
é intangível, ou seja, não se pode tocá-la ou medi-la, pois, conhecimento é um atributo
individual, subjetivo e conceitual. No entanto, para comunicá-lo ele deve ser expresso,
descrito ou ‘representado’ de alguma forma física, como um sinal, texto ou comunicação.
Qualquer expressão, descrição ou representação seria, então, ‘informação-como-coisa’1
(BUCKLAND, 1991).
Neste sentido, a informação é um conhecimento inscrito (gravado) sob a forma
escrita (impressa ou numérica), oral ou audiovisual (LE COADIC, 1996).
Le Coadic (1996, p.5) ainda acrescenta que,
A informação comporta um elemento de sentido. É um significado transmitido a
um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte espacial-
temporal: impresso, sinal elétrico, onda sonora, etc. Essa inscrição é feita graças a
um sistema de signos (a linguagem), signo este que é um elemento da linguagem
que associa um significante a um significado: signo alfabético, palavra, sinal de
pontuação. [...] o objetivo da informação permanece sendo a apreensão de sentidos
ou seres em sua significação, ou seja, continua sendo o conhecimento; e o meio é a
transmissão do suporte, da estrutura.
Assim, Hjørland (2003) aponta que o foco principal da Ciência da Informação
está no conhecimento documentado (conhecimento explícito) produzido pelo ser humano em
1 A distinção entre intangíveis (informação-como-conhecimento) e tangíveis (informação-como-coisa) pode estar
superada. Conhecimento pode tranqüilamente ser representado no cérebro como algo tangível, de modo físico.
23
alguns tipos de documentos de uso potencial para outros seres humanos. A luz das estrelas
não é informação para a Ciência da Informação, mas a informação astronômica produzida e
utilizada pelos astrônomos é. Em outras palavras,
em um sentido da palavra informação, astrônomos podem ser vistos como
especialistas que identificam, processam, e interpretam a informação do Universo.
Os sub produtos de suas atividades mantêm-se como observações de uma forma ou
de outra. Eles podem fazer fotografias do Universo e de uma única estrela, planeta
ou galáxia. Eles também publicam suas descobertas empíricas e teóricas em
periódicos e outras publicações. As fotos e as publicações são exemplos de
documentos. A biblioteca, a documentação e o profissional da informação estão
interessados em todos os tipos de documentos. Sua especialidade e interesse central
são, porém, relacionados à comunicação de documentos publicados. Nosso ponto
é que no sentido da palavra informação como é usada a cerca das atividades dos
astrônomos, cientistas da informação não são especialistas para interpretar a
informação das estrelas, mas são muito especialistas em manipular a informação
documentada pelos astrônomos (ex: indexando e recuperando documentos
astronômicos) (CAPURRO; HJØRLAND, 2003, grifo nosso).
Ou seja, a Ciência da informação é um campo voltado à pesquisa científica e à
prática profissional e que trata dos problemas da comunicação dos conhecimentos e dos
registros de conhecimentos na sociedade, no contexto de usos e necessidades das informações
sociais, institucionais e/ou individuais (SARACEVIC, 1995).
Mas, por outro lado, a combinação de um estímulo externo, uma reordenação
mental (classificação) e uma designação (ainda que articulada apenas em nível de
identificação de algo que não o havia sido anteriormente) podem ser vista como uma primeira
aproximação ao conceito de informação. Esta noção é, de certa forma, aquela que vê a
informação como aquilo que é capaz de transformar estruturas (BELKIN; ROBERTSON
1975 citados por OLIVEIRA, 2005). Essa visão é, no entanto, ainda muito ampla e abrange
Entretanto, para os presentes propósitos, diferenciar logicamente conhecimento de armazenamento artificial de
informação (sistemas de informação) parece razoável e útil (BUCKLAND, 1991).
24
várias instâncias em que o termo informação não é empregado. A idéia central do conceito
apresentado é a de transformação de estruturas (BRAGA, 1995). Ou seja, a informação é uma
representação simbólica e formal de fatos ou idéias, potencialmente capaz de alterar o estado
de conhecimento (GONÇALVES, 1996). Oliveira (2005, grifo do autor) reconhece a utilidade
desse conceito para a Ciência da Informação, entretanto, sugere “que é mais conveniente dizer
que: informação é aquilo que é capaz de desencadear uma possível mudança numa
estrutura”. De acordo com a autora – baseada em Bateson (1986), “só posso dizer que algo
tem informação, se contrasto isso com um referencial que já tenho e que me diz que ali tem
informação. Pois, não é possível perceber uma diferença sem uma estrutura através da qual se
possa medir se, o que se vê, é ou não uma diferença”.
Neste sentido a contextualização é a principal característica para a
informação. Uma informação pode ser importante, ter valor, fazer sentido para uma pessoa, e
não causar nenhuma mudança em outra pessoa. Ou seja, o contexto é que dá o sentido a uma
determinada informação, num dado momento.
Assim, levando-se em consideração estes conceitos apresentados sobre
‘informação’ pode-se caracterizar “a Ciência da Informação como uma ciência
‘multiparadigmática’, dentro de uma escala em que se pode identificar as ciências ‘normais’ e
as de crise, em que dois [ou mais] paradigmas estão em competição” (SAYÃO, 2001, p. 86).
Assim, deve-se considerar que a Ciência da Informação, é traçada dentro do
paradigma da Pós-Modernidade2 (pois admite a pluralidade de pensamentos, opiniões e
‘paradigmas’ sem necessariamente excluir uns aos outros) e, desta forma,
[...] instaura seu objeto – a informação – no seu universo simbólico original –
distinguindo objeto material – conteúdo documentado – e objeto formal –
2 De forma genérica [...] o pós-modernismo corresponde a um movimento teórico multidisciplinar que vai da
filosofia à estética, envolvendo as artes, a sociologia chegando ao campo dos estudos organizacionais [...]
caracterizado por diversos elementos como a globalização, o relativismo e o pluralismo (VIEIRA; CALDAS,
2006).
25
processos de elaboração de estruturas significantes (formas sintéticas), passíveis
de integrarem fluxos sociais e de serem apropriadas subjetivamente. A abordagem
do seu objeto é interdisciplinar, já que esta é uma exigência das temáticas que trata,
mas a Ciência da Informação enquanto tal constitui campo específico – uma
disciplina (KOBASHI; TÁLAMO, 2003, p. 15, grifo nosso).
Malheiro da Silva e Ribeiro (2002) representam em um esquema ilustrativo
estes enfoques da Ciência da Informação:
Processo que inclui
comportamento
informacional e um
conjunto subjacente de
<<etapas>> - criação,
uso, difusão, organização,
armazenamento, colecção,
pesquisa, interpretação
Fenómeno que
emerge da
<<coisa>> (código
lingüístico, numérico,
gráfico, etc. e suporte
material correlativo) e
possui propriedades
essenciais
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
como
FIGURA 1: Representação sugestiva da Ciência da Informação
FONTE: MALHEIRO DA SILVA; RIBEIRO (2002, p. 84)
Percebe-se então que a Ciência da Informação, disciplina do Campo das
“Ciências Socialmente Aplicáveis”, requer em princípio, a admissão de ‘paradigmas’ opostos,
entretanto não excludentes entre si e até, às vezes, complementares entre si ou tendo seus
pontos de convergência.
Conforme Ingwersen (1992), pode-se esperar que as várias visões
epistemológicas rivais possam contribuir uma com a outra, ser de natureza complementar e
produzir resultados suplementares – mutuamente não-excludentes. A exemplo, segundo
Kobashi e Tálamo (2003, p. 13),
26
A operação com a informação no campo da Ciência da Informação parece, portanto,
requerer a adoção de dois paradigmas em princípio opostos: a Teoria da Informação
para lidar com sua dimensão formal (como estrutura e como sinal) e a Teoria da
Comunicação para dar conta da mensagem e sua recepção (como significado).
Quanto à utilização do termo ‘paradigma’, muitas vezes utilizado pelos autores
ressalta-se que,
o problema [da] análise através de paradigmas científicos – expressão popularizada
a partir da análise de Thomas Kuhn (2006), feita essencialmente sobre a evolução
do conhecimento científico nas ciências naturais – caracteriza-se por destacar a
competição entre teorias e grupos de pesquisadores, sendo os paradigmas
concorrentes considerados mutuamente exclusivos (MATHEUS, 2005, p. 159).
Rafael Capurro (2003) ao identificar os diferentes paradigmas epistemológicos
associados às diferentes abordagens existentes na Ciência da Informação (paradigmas físico,
cognitivo e social), reconhece que tal esquematização não só é simplista “[...] como pode dar
lugar a um mal entendido, considerando a presente exposição como avanço histórico, posto
que muitas teorias se entrecruzam com distintas intensidades e em diversos períodos”.
Desta forma Matheus (2005, p. 159) sugere que,
[...] tal tese contraria a necessidade de colaboração interdisciplinar na Ciência da
Informação. A fim de resolver tal questão, uma possibilidade é abandonar o termo
paradigma, reinterpretando-o através do termo abordagem. Nessa concepção,
abordagens complementares teriam emergido historicamente com a ampliação dos
interesses das pesquisas na Ciência da Informação, ampliação esta que teve como
foco diferentes objetos ao longo do tempo.
Assim, seguindo tal linha de raciocínio, é possível associar objetos de estudo a
cada uma das ‘abordagens’ (anteriormente paradigmas3). A abordagem física estaria assim
3 Ao longo desta pesquisa há outras citações em que o autor citado utiliza-se do termo paradigma. No entanto,
pode-se tratar de uma ‘abordagem’, conforme sugere Matheus (2005).
27
associada à tecnologia e aos sistemas de informação; a abordagem cognitiva estaria associada
às necessidades do usuário e suas interações com os sistemas; e a abordagem social estudaria
o usuário e suas interações com os sistemas, bem como diferentes grupos e contextos sociais,
dentro de organizações ou comunidades. Desta forma, é possível entender que as abordagens
anteriores continuam sendo essenciais para o estudo dos problemas associados à informação,
em virtude dos diferentes aspectos analisados por cada uma, no entanto, uma ‘abordagem’ não
exclui necessariamente outra, pelo contrário, é possível uma complementaridade entre as
diferentes abordagens (MATHEUS, 2005).
De qualquer forma, percebe-se que a análise de Buckland (1991) sobre
informação, citada anteriormente, parece ter duas importantes conseqüências para o
desenvolvimento dos ‘paradigmas’ da Ciência da Informação: por um lado se re-introduziu o
conceito de documento (informação-como-coisa) pois, a informação representa algo que
existe, isto é, a informação (numérica ou não) não é uma abstração, mas está inexoravelmente
ligada a uma representação física (COHEN,2002) e, por outro lado, mostrou a natureza
subjetiva da informação, com o seu significado a partir de determinado contexto.
Ou seja, Buckland (1991) citado por Capurro (2003) propõe a informação
como sendo “[...] algo tangível como documentos e livros, ou, mais genericamente, qualquer
tipo de objeto que possa ter valor informativo, o qual pode ser, em princípio, literalmente
qualquer coisa”. Este conceito é de extrema importância para a Ciência da Informação,
entretanto,
[...] é claro que o valor informativo a que alude Buckland não é uma coisa nem a
propriedade de uma coisa, mas um predicado de segunda ordem, isto é, algo que o
usuário ou o sujeito cognoscente adjudica a “qualquer coisa” num processo
interpretativo demarcado por limites sociais de pré-compreensão que o sustentam
(CAPURRO, 2003).
28
Por exemplo: um documento sobre uma pedra no campo tal como uma
fotografia representa um tipo de informação para o geólogo e outro tipo para o arqueólogo. A
informação da pedra pode ser mapeada sobre estruturas de conhecimento coletivo diferentes
(contextos diferentes) produzido pela Geologia e Arqueologia (CAPURRO; HJØRLAND,
2003).
Vê-se então que a informação, no âmbito da Ciência da informação, conforme
Smit e Barreto (2002, p. 21), pode ser conceituada como:
[...] estruturas simbolicamente significantes, codificadas de forma socialmente
decodificável e registradas (para garantir permanência no tempo e portabilidade no
espaço) e que apresentam a competência de gerar conhecimento para o indivíduo e
para o seu meio. Estas estruturas significantes são estocadas em função de um uso
futuro, causando a institucionalização da informação.
O conceito de ‘informação-como-coisa’ é de interesse especial nos estudos de
sistemas de informação. É com informação nesse sentido que estes sistemas lidam
diretamente. Bibliotecas tratam com livros, artigos de periódicos, dentre outros materiais,
digitais ou não; bases de computadores em sistemas de informação manipulam dados na
forma física de bits e bytes; museus trabalham diretamente com objetos. A intenção e os
objetivos dessas unidades e sistemas de informação pode ser que seja a de que seus usuários
tornem-se informados (informação-como-processo) e o resultado desse processo seja o
conhecimento (informação-como-conhecimento). Mas o significante, no entanto, o que é
manipulado e operacionalizado, o que é armazenado e recuperado nesses sistemas, é a
informação física (informação-como-coisa) (BUCKLAND, 1991).
Neste sentido, a informação pode ser identificada, descrita, organizada e
representada em sistemas de informação de diferentes domínios do conhecimento para uma
futura recuperação.
29
2.1 Organização e Representação na Ciência da Informação
Foram a partir dos desenvolvimentos ocorridos durante e no pós Segunda
Guerra Mundial, principalmente os tecnológicos, que acabaram por causar novas necessidades
e, conseqüentemente, novos problemas.
Um rápido retrospecto sobre a área da documentação [e da Ciência da Informação]
mostra que, nas décadas de 1950 e 1960, com o crescimento do conhecimento
científico e tecnológico, houve dificuldades para armazenar e recuperar
informações (CINTRA et al, 2002, p.33).
Isto é, o problema crítico do fenômeno conhecido como a ‘explosão da
informação’, ou seja, “o irreprimível crescimento exponencial da informação e de seus
registros, particularmente em ciência e tecnologia”, em meados do século XX, fez com que
cientistas, engenheiros e empreendedores iniciassem pesquisas e trabalhos para solucionar
esse problema (SARACEVIC, 1996, p. 42).
Considerando a questão da explosão informacional a Recuperação da
Informação, como disciplina e campo de estudo, veio a ser uma solução bem sucedida
encontrada pela Ciência da Informação e está em contínuo processo de desenvolvimento até
os dias de hoje (SARACEVIC, 1996).
Mas, como toda solução faz aparecer seus próprios e específicos problemas,
Mooers (1951), questiona:
a) como descrever intelectualmente a informação?
b) Como especificar intelectualmente a busca?
c) Que sistemas, técnicas ou máquinas devem ser empregados?
30
E, embora outros problemas tenham surgido, ao longo destes últimos 50 anos,
estes três fatores, apontados por Mooers (1951), continuam sendo os principais ou os mais
desafiadores até hoje. Ou seja, os problemas da Recuperação da Informação englobam os
aspectos intelectuais da descrição (representação) de informações e suas especificidades para
a busca, além de quaisquer sistemas, técnicas ou máquinas empregados para o desempenho da
operação (MOOERS, 1951). Saracevic (1996, p. 44) acrescenta que,
De tais questões, surgiu uma grande variedade de conceitos e construtos teóricos,
empíricos e pragmáticos, bem como numerosas realizações práticas. Muitos
exemplos históricos podem ilustrar a marcante evolução de sistemas, técnicas e/ou
máquinas utilizados para recuperação da informação. Sua variedade vai dos cartões
perfurados aos CD-ROMs e acesso on line; dos sistemas não-interativos àqueles de
múltiplas possibilidades de interação, com interfaces inteligentes, transformando a
recuperação de informação em um processo altamente interativo; de bases
documentais para bases de conhecimento; dos textos escritos aos multimídia; da
recuperação de citações à recuperação de textos completos; e ainda aos sistemas
inteligentes e de respostas a perguntas.
Dentre os conceitos e constructos teóricos, (inclusive empíricos e
pragmáticos), citados por Saracevic (1996), a temática da Organização e Representação do
Conhecimento4, enquanto área interdisciplinar tem, ao longo dos anos, proporcionado
subsídios teóricos e metodológicos à Organização da Informação na Biblioteconomia e
Ciência da Informação no que se refere ao “[...] desenvolvimento de técnicas para a
construção, a gestão, o uso e a avaliação de classificações científicas, taxonomias,
nomenclaturas e, [principalmente], linguagens documentárias. Por outro lado, contribuindo
[também] com metodologias de uso e recuperação por Linguagem Natural” (BARITE, 2001,
p. 41, tradução nossa). Segundo Fujita (2001, p. 29),
4 A expressão Organização do Conhecimento (em inglês Knowledge Organization ou KO) procede originalmente
de um livro de Henry Bliss editado em 1933: Organization of Knowledge in Libraries. Mas foi Soergel quem
propugnou a expressão em uma conferência em 1971. Em 1989, foi fundada a ISKO (International Society for
Knowledge Organization), sob a direção de Ingetraut Dahlberg (BARITÉ, 2001).
31
Baseada em práticas e atividades significativas de armazenagem e recuperação de
documentos no decorrer de um processo de aperfeiçoamento da sistematização do
conhecimento humano, a organização do conhecimento tem suas origens na criação,
por bibliotecários, de sistemas de classificação como instrumentos de organização
temática de documentos para armazenagem [e recuperação].
Neste sentido, a Organização e Representação do Conhecimento, no âmbito da
Ciência da Informação, significa especialmente a organização da informação em registros
bibliográficos5 (metadados6), incluindo índices de citação, textos completos e Internet, para a
geração e organização de instrumentos de recuperação da informação (HJØRLAND, 2003;
GUIMARÃES, 2001).
No entanto, cabe ressaltar que a Organização e Representação do
Conhecimento, como conhecimento, procuram proporcionar uma estrutura conceitual
adequada às diversas práticas e atividades sociais vinculadas com o acesso ao ‘conhecimento’,
e pretende operar como instrumento de tratamento da informação e de gestão de uso da
informação, abarcando e integrando os fenômenos e as aplicações vinculadas à estruturação, a
disposição, o acesso e a difusão do conhecimento socializado, através da divulgação
científica, congressos, docência etc; junto com as bibliotecas, arquivos e centros de
documentação (BARITÉ, 2001). Ou seja, trabalha-se aqui com o ‘conhecimento’ registrado e
divulgado, mediante documentos (GUIMARÃES, 2001).
Opera-se, então, com a noção de Buckland (1991) citada anteriormente, do
‘conhecimento comunicado’ mediante algo (coisa) informativo.
5 Mais especificamente os aspectos temáticos da análise documental referindo-se basicamente às questões de
conteúdo dos registros bibliográficos (GUIMARÃES, 2001).
6 Aqui o termo ‘metadado’ é compreendido no mesmo sentido adotado por: MILSTEAD, J. ; FELDMAN, S.
Metadata: Cataloging by Any Other Name. Online, Jan. 1999. Disponível em:
<http://www.onlineinc.com/online/OL1999/milstead1.html>. Acesso em: 10 set. 2003.
32
Assim, parte-se do princípio das possibilidades de organização de um
‘conhecimento’ registrado (ou seja, socializado) sob a perspectiva de geração (através da
integração e articulação de seus diversos desenvolvimentos) de novo conhecimento que, uma
vez registrado, transforma-se em informação (potencial) para gerar um novo conhecimento,
‘completando-se o ciclo’ (ou melhor, a espiral7) (GUIMARÃES, 2001).
Neste sentido, são os profissionais da informação que ‘transformam’ este
conhecimento socializado em informação disponível a partir “[...] dos procedimentos de
leitura e de análise temática visando à geração de produtos documentários (resumos e índices)
e tendo como ferramentas as Linguagens Documentárias alfabéticas e hierárquicas ou
notacionais”, além do processamento da Linguagem Natural (FUJITA, 2001, p. 32). Esta
representação temática dos documentos tem como objetivo oferecer esta informação a um
usuário que, a partir de sua análise e interpretação pessoal (pois cada informação admite
sempre distintas interpretações para distintos usuários) a aplicará, juntamente com o seu
conhecimento já adquirido, para a produção de um novo conhecimento (BARITÉ, 2001).
Verifica-se, no entanto, que o resgate da informação em si (para posterior geração
de conhecimento) se dá por meio de novos documentos (ou metadocumentos) – os
registros documentários [ou metadados], como resumos e índices – fruto de um
processo de representação (GUIMARÃES, 2001, p. 66).
Este processo de representação, sofre mudanças continuamente, pois as
classificações científicas, as taxonomias, os códigos, e as nomenclaturas especializadas vêm
mudando (e precisam mudar) permanentemente.
Se fosse possível desenhar um mapa do conhecimento, comprovaríamos que sua
geografia esta mudando continuamente, pois as sociedades se encarregam de
7 Guimarães (2001) compreende que este processo (organização, recuperação, assimilação, reordenação mental,
e geração de novo conhecimento) nunca passa por um mesmo ponto novamente sendo, então, caracterizada sob a
forma de uma espiral.
33
fragmentá-lo, reagrupá-lo, diversificá-lo e modificá-lo. Cada estado de acumulação
de conhecimento muda na medida em que as funções e necessidades sociais assim o
requerem. Por outra parte, a distribuição social e a geração de novo conhecimento
esta exposta aos vaivens políticos, econômicos, e culturais de cada momento
histórico (BARITÉ, 2001, p.46, tradução nossa).
Assim, devido à dinâmica do conhecimento, as linguagens documentárias que
os profissionais da informação constroem e manipulam, não acompanham eficientemente este
processo de atualização e reorganização de conceitos, mesmo porque sempre se perde algo do
original no processo de representação8. Isto tem provocado, há alguns anos, uma atualização
do debate entre a aplicação de linguagens controladas ou linguagem natural para a criação dos
pontos de acesso de assunto. No entanto, a informação deve ser organizada de alguma forma,
porque em todos os níveis de comunicação (especializado, de divulgação, etc) deve existir um
sistema de conceitos estável (ou seja, mais ou menos fechado) que permita o recíproco
entendimento e a comunicação, dentro dos mesmos ou dos diversos estratos sócio-culturais
(BARITÉ, 2001).
Neste sentido, segundo Barité, (2001, p. 47, tradução nossa),
[...] pode se dizer que o ‘conhecimento’ é um sistema9 aberto (e isto interessa
diretamente ao nosso trabalho profissional), porque pode ser estudado desde muitos
pontos de vista: como se adquire, como se organiza, como se transmite, como se
utiliza, quantos tipos de conhecimento existem, como se transforma ou se torna
obsoleto, etc.
Neste sentido, a Organização e Representação do Conhecimento, como
dimensão teórica à Organização da Informação na Ciência da Informação, pode apontar
8 Ver as características das representações dos recursos informacionais apontadas por Buckland (1991) na
próxima subseção.
9 De forma sintética pode-se definir um sistema como um conjunto de elementos em interação (relação)
dinâmica em função de um objetivo. Um sistema pode ser aberto, quando se realizam intercâmbios com seu
ambiente, ou fechado se não os faz. Na realidade os sistemas absolutamente fechados não existem, mas sim,
existem graus de abertura muito diferentes (GARCÍA MARCO, 1996).
34
critérios, diretrizes e procedimentos para dar respostas satisfatórias “[...] à brecha existente
entre o sistema aberto do conhecimento e o sistema mais ou menos fechado da representação
do conhecimento que criamos e utilizamos” (BARITÉ, 2001, p. 47, tradução nossa).
2.1.1 Representação da Informação na Ciência da Informação
As atividades inerentes à Ciência da Informação (como a geração, coleção,
organização, interpretação, armazenamento, recuperação, disseminação, transformação e uso
da informação) envolvem, principalmente, o processo de produção de representações de
recursos informacionais, sendo estas, conseqüência das atividades de Organização da
Informação. Conforme Marcondes (2001, p. 61, grifo nosso),
O trabalho informacional de desenvolvimento e sistematização de representações
dos recursos informacionais hoje disponíveis na Internet joga um papel essencial
como facilitador da identificação, avaliação e acesso a estes recursos,
intermediando um usuário com suas necessidades e informações potencialmente
relevantes.
Para Buckland (1991) as representações têm importantes características:
1. Toda representação possivelmente é mais ou menos incompleta em alguns
aspectos. Uma fotografia não indica movimento e pode não retratar a cor. Até
uma fotografia colorida mostrará cores imperfeitamente – o que se apaga com
o tempo. Uma narrativa escrita refletirá o ponto de vista do autor e as
limitações da linguagem. Filmes e fotografias usualmente mostram somente
35
uma perspectiva. Algo do original é sempre perdido. Há sempre alguma
distorção, uma inexatidão.
2. Representações são construídas por conveniência, que nesse contexto tende
a facilitar o armazenamento, a compreensão, e/ou busca.
3. Por causa da questão da conveniência, representações são normalmente
substituições do evento ou do objeto do texto, de um texto a outro, ou de
objetos e textos a dados. Exceções a isso, tais como de objeto a objeto ou de
documento relacionado ao objeto (replicas físicas e modelos) podem ser
também encontradas.
4. Detalhes adicionais relacionam-se ao objeto mas não às evidencias que
podem ser próximas às representações, tanto informar quanto para informar
mal.
5. Representações podem ser repetidas indefinidamente. Pode haver
representações de representações.
6. Por razões práticas representações são comumente (mas não
necessariamente) mais breves ou diminutas que do que esteja sento
efetivamente representado, concentrando-se naquelas características mais
significantes. Um resumo, também por definição, é uma descrição incompleta.
Estas idéias de Buckland (1991) remetem aos conceitos de representação no
âmbito da Ciência da Informação, no entanto, os diversos conceitos e definições de
representação encontram-se nas mais diversas áreas da ciência como na Semiótica,
36
Semiologia, Lingüística, Ciência da Computação, e nas teorias de representação da Ciência
Cognitiva (que trata de temas como representação analógica, digital, proposicional, cognitiva
ou, de maneira geral, representação mental) (NÖTH, 1997). Porém é
na semiótica geral que se encontram definições muito variadas do conceito de
representação. O âmbito da sua significação situa-se entre apresentação e
imaginação e estende-se, assim, a conceitos semióticos chave como signo, veículo
do signo, imagem (representação imagética), assim como significação e referência.
As tentativas de delimitação do conceito são variadas, mas, freqüentemente,
imprecisas (NÖTH, 1997, p. 63).
Embora a conceituação sobre representação tenha seus problemas (tal como a
informação ou o conhecimento), algumas definições no âmbito da Semiótica serão aqui
apresentadas para que se tenha um breve entendimento do termo e, assim possa ser mais bem
entendido no âmbito das atividades da Ciência da Informação.
No âmbito da representação como relação de objeto, para Peirce (CP 1.540,
citado por NÖTH, 1997, p. 65, grifo do autor) a representação
é o processo da apresentação de um objeto a um intérprete de um signo, mais
exatamente, a relação entre o signo e o objeto: “Eu restrinjo a palavra representação
à operação do signo ou sua relação com o objeto para o interprete da representação”.
A fim de delimitar os conceitos de representação e signo, ele introduz o termo
representamen para o veículo do signo: “Quando é desejável distinguir entre aquilo
que representa e o ato ou relação de representar, o primeiro pode ser chamado de
‘representamen’, o último de ‘representação’” (Peirce, CP 2.273).
Neste contexto, Peirce (CP 2.273, citado por NÖTH, 1997, p. 65), define
representar como: “estar para, quer dizer, algo está numa relação tal com um outro que, para
certos propósitos, ele é tratado por uma mente como se fosse aquele outro”. E como exemplo,
Peirce (CP 1.554, citado por NÖTH, 1997, p. 66) esclarece:
37
Uma palavra representa algo para a concepção na mente do ouvinte, um retrato
representa a pessoa para quem ele dirige a concepção de reconhecimento, um
catavento representa a direção do vento para a concepção daquele que o entende, um
advogado representa seu cliente para o juiz e júri que ele influencia
Neste sentido, representação é um processo acontecendo na mente de uma
pessoa, originando nesta mente algo que não é o objeto a que se refere. “A representação
então relaciona o objeto que ela representa com a mente que o percebe” (MARCONDES,
2001, p. 64, grifo nosso). Esta noção é importante quando se pensa no processo de busca e
recuperação de informações na perspectiva do usuário, levando-se em consideração seu
contexto e suas concepções da realidade e de formar idéias, abstrações sobre determinado
assunto (ou problema e/ou incertezas sobre) e suas expectativas frente à informação potencial,
onde a representação (durante o processo de busca) pode suportar os vários tipos de operações
cognitivas de inferência acerca do conteúdo do documento original, de modo a permitir ao
usuário decidir em despender ou não energia para obter e ler o documento integral. Muitos
dos estudos de usuários poderiam utilizar tal conceito para caracterizar a subjetividade dos
processos de busca e recuperação da informação.
Assim a idéia de ícone10
[...] corresponderia a um corpo sensível que pode impulsionar nossa experiência a
uma ‘visibilidade’ possível do objeto, não estando relacionado exatamente a uma
representação gráfica como entendem os semiólogos. Em Peirce um ícone não
corresponde a traços de similaridade em relação à aparência do objeto, e sim a um
signo que dirige nosso campo perceptivo através de uma similaridade mais
relacionada a uma semelhança com aspectos constitutivos desse objeto que podem
ser captados pelo "olhar" do seu interprete (GOMES, 2005).
10 Um ícone é um tipo de signo que pode representar um objeto, porque seus atributos têm relações análogas com
os atributos do objeto sendo representado (MARCONDES, 2001, p. 66).
38
Desta forma, a figura abaixo corresponde a uma propriedade do objeto e não ao
objeto em si:
FIGURA 2: Ícone que significa ‘salvar’ na maioria dos
editores de texto.
Ou seja, a semelhança não está associada à aparência, mas mais precisamente a
uma característica importante para o reconhecimento do objeto ou de alguma função do
mesmo. “O ícone cumpre um papel de grande relevância na percepção que conduz ao
processo de abstração e construção do conhecimento [...]” (GOMES, 2005).
Kaczmarek (1986, p. 88, citado por NÖTH, 1997, p. 67) apresenta, na
perspectiva de representação como referência, outra definição importante a qual representar
significa
apresentar algo por meio de algo materialmente distinto de acordo com regras
exatas, nas quais certas características ou estruturas daquilo representado devem ser
expressas, acentuadas e tornadas compreensíveis pelo tipo de apresentação,
enquanto outras devem ser conscientemente suprimidas.
Neste sentido, Alvarenga (2003) diz que, partindo-se da definição de que
representar significa o “ato de colocar algo no lugar de” classifica-se em nível primário a
representação feita pelos autores no instante da expressão dos resultados de seus pensamentos,
estes derivados de observações metódicas da natureza e dos fatos sociais, utilizando-se das
linguagens disponíveis no contexto da produção e comunicação de conhecimentos. Nesse
nível de representação, as línguas dos diversos povos e das especialidades (campos de
39
conhecimento) desempenham papel primordial, incluindo-se também nesse instrumental
outros símbolos icônicos e sonoros.
Depois de produzidos, os registros de conhecimentos constantes nos
documentos passam a integrar acervos de arquivos, bibliotecas, serviços ou centros de
documentação/informações, sendo então novamente representados (representação
secundária), visando-se à sua inclusão em sistemas documentais referenciais (sistemas de
informação) (ALVARENGA, 2003).
Alvarenga (2003) trata a representação descritiva e temática como pertencentes
à ‘representação secundária’. No entanto, quando o assunto do documento é extraído e
conceitualmente modificado em uma estrutura de Linguagem Documentária, ou seja,
implicando na obtenção de termos representativos (pontos de acesso de assunto) os quais,
podem ser traduzidos para um vocabulário controlado e estendidos por estruturas de tesauros,
pode-se dizer que este processo seja de nível terciário, podendo ser denominado de
representação terciária11. Sob este ponto de vista, a representação de nível secundário seria
a representação descritiva.
Neste sentido, claramente são combinados dois tipos de estados de
‘transformação’ do conhecimento: o dos autores e o dos profissionais da informação, que
incluem os catalogadores e os indexadores.
Ou seja, a Organização da informação compreende as atividades e operações
do tratamento da informação, envolvendo para isso, o conhecimento teórico e metodológico
disponível quanto ao tratamento descritivo do suporte material da informação e ao tratamento
temático de conteúdo da informação. Esta dicotomia que se apresenta no tratamento da
informação é explicada, de um lado, pelo desenvolvimento teórico e metodológico distintos
11 Uma maior discussão sobre o que sejam os diversos ‘níveis de representação’ é necessária na literatura
especializada.
40
alcançados pelas duas áreas e de outro, pela diferença existente entre os aspectos da
informação – o material e o conteúdo, que exigem tratamento diferenciado (FUJITA, 2007).
Sendo assim, a representação descritiva, visa à descrição normalizada dos
aspectos físicos dos documentos (título, autoria, edição, publicação, data de publicação, local
de publicação) para, justamente, propiciar uma acessibilidade física (KOBASHI, 1994). A
descrição dos aspectos físicos dos documentos é desenvolvida mais especificamente, segundo
Guinchat e Menou (1994) pela descrição bibliográfica ou catalogação no contexto da
representação descritiva.
O tratamento quanto ao conteúdo do documento objetiva, por outro lado, uma
descrição do conteúdo para uma representação condensada do que está expresso no texto com
vistas à uma acessibilidade temática (FUJITA, 2007).
Isto é, sob o ponto de vista da representação temática, a questão tratada por um
documento pode, assim, ser respondida por um indexador que, através de linguagens de
classificação ou indexação de documentos, tenta representar os conteúdos da mensagem em
cada documento ou pedaço de texto. Desta forma, a opinião e/ou significado final não é
necessariamente a do documento original, pois este é analisado e unido às interpretações de
um estado de conhecimento de um indexador humano (geralmente) (INGWERSEN, 2002).
Este ‘produto da representação’ (representação secundária e terciária) tem,
teoricamente, uma vantagem sobre o ‘documento em si’, pois o papel dos profissionais da
informação é elaborar representações unificadas de significados de conteúdos, para diferentes
grupos de usuários.
A complexidade dos atuais sistemas de recuperação da informação
compreende a estas ‘representações’ (secundária e terciária) e envolve, basicamente, quatro
processos: a representação descritiva (dos aspectos físicos); a representação temática, ou
seja, a representação de conteúdo (resumo, indexação, classificação, etc), as quais compõem
41
os registros de metadados nos atuais sistemas de informação (sobretudo de texto completo);
o armazenamento e o processo de recuperação propriamente dito (ROWLEY, 2002).
Assim, no âmbito da Ciência da Informação as representações12 são as
descrições temáticas e descritivas dos recursos informacionais. Desta forma, a “representação
de um documento por meio de uma referência bibliográfica [registro de metadados], o objeto
seria o documento original, o signo seria a referência bibliográfica e o interpretante seria a
idéia do documento criada pela referência na mente do usuário” (MARCONDES, 2001, p. 66,
grifo nosso).
Então, este signo (registro de metadados que aparece ao usuário) seria um
ícone, pois seus atributos possuem relações análogas com os atributos do objeto (documento)
sendo representado. Ou seja, como o documento original, um registro de metadados contendo
o mesmo autor, título, palavras-chave associadas ao assunto (como os termos de indexação),
resumo descrevendo o conteúdo, a fonte do documento original, etc.
Desta forma, pode-se perceber que, é na relação entre a representação da
informação (produto da Organização da Informação) e usuário que ocorre a interação entre o
objeto informacional (criado pelo autor), a ‘representação’ (registro de metadados criado
pelos profissionais da informação) e a idéia do objeto na mente do usuário, a qual caracteriza
o comportamento de busca de informação13.
Relação que caracteriza o
comportamento de busca de
informação
Idéia na mente
do usuário
(interpretante)
Representação
(ícone)
Objeto
FIGURA 3: Relação entre objeto, representação e idéia do usuário.
12 No caso as “representações que podem ser produzidas com lápis e papel. Em contraste com representações
mentais internas” (CASA, 1997, p. 209).
13 Ver definição na subseção 4.2 (Modelos de busca de informação).
42
Cabe ressaltar neste ponto, a visão de Hjørland (2003, p. 88, tradução nossa)
quando diz que,
Os principais atores em Ciência da Informação são os produtores de conhecimento
(por ex., autores), os usuários e os intermediários. É a sua interação com registros
bibliográficos [representações] o foco da Ciência da Informação. Cada um destes
atores traz com ele certos pré-entendimentos, visões, conceitos e linguagens
adquiridas principalmente durante sua socialização. O sucesso da interação depende
destes pré-entendimentos, conceitos e linguagens.
Visto que são estas representações (temáticas e descritivas) que os usuários
manipulam no processo de busca e recuperação da informação, um ambiente de informação
necessariamente deve prover múltiplas formas de representação para os diversos tipos de
recursos informacionais, pois são necessários para atender aos mais diferentes tipos e
necessidades dos usuários, isto porque, conforme Marcondes (2001, p. 66),
o valor da representação consiste no fato de que ela pode economizar energia do
usuário, tornando o processo de busca de informações mais econômico de um ponto
de vista do seu dispêndio de energia; ler um resumo despende muito menos energia
que a leitura do documento completo.
Ou seja, determinadas representações devem ser elaboradas de tal forma que
atenda as expectativas geradas por um determinado usuário durante o processo de busca e
recuperação da informação, assim como, outras representações (incluindo aqui recursos
informacionais já representados anteriormente, mas de outra forma) devem ser elaboradas
para atender a demandas de outros tipos de usuários, poupando assim esforços maiores
durante o processo de busca e recuperação da informação. Conforme afirmam Marín Milanés
e Torres Velásquez (2006, tradução nossa),
43
a representação da informação de um ponto de vista centrado nos usuários consegue
alcançar níveis superiores de expressão, em consonância com sua própria realidade,
que não é outra que a de representar um conhecimento transformado. Trata-se não
só de responder a demanda do usuário com a entrega da informação solicitada, mas
também a de oferecer-lhe uma orientação adequada subordinada ao contexto social e
aos antecedentes culturais nos quais o usuário se desenvolveu.
Neste sentido, uma maior expressão das linguagens documentárias poderá
permitir ao usuário navegar com maior precisão e competência dentro do complexo mundo
das inter-relações entre os diferentes campos do saber (MARÍN MILANÉS; TORREZ
VELÁSQUEZ, 2006).
2.2 A Recuperação da informação centrada no usuário
O surgimento e uso de sistemas de recuperação da informação (sobretudo os
atuais sistemas hipertextuais/digitais) foram uma ‘potencialização’ nos processos de busca da
informação, uma vez que permitiram a busca de recursos informacionais (muitos deles inter-
relacionados, isto é, dispostos na forma de ‘hipertextos’) de modo mais pertinente (em maior
ou menor grau), sob o ponto de vista do usuário, como no caso dos índices de citações on line
(FOSTER, 2002).
Assim como a Organização da Informação, pode-se argumentar que a
Recuperação da Informação, enquanto área, está preocupada com os processos de organização
que envolvem a representação (tanto descritiva, quanto temática), o armazenamento, a busca,
e a obtenção da informação que é pertinente para a demanda de um usuário (INGWERSEN,
2002). Ou seja, como Ingwersen (2002, p. 49, tradução nossa) argumenta,
44
como tal, a Recuperação da Informação [Information Retrieval] é o campo de
pesquisa central em Ciência da Informação [...]. O objetivo é estudar e entender os
processos de Recuperação da Informação para projetar, construir e testar sistemas
de recuperação que podem facilitar a comunicação efetiva de informação desejada
entre o gerador humano e o usuário humano.
Assim, a necessidade de recuperar informações promoveu problemas e
pesquisas exploratórias de fenômenos, processos e variáveis, causas e efeitos,
comportamentos e manifestações,
[...] levando a estudos do comportamento humano frente à informação; a interação
homem-computador, com ênfase no lado humano da equação; relevância, utilidade,
obsolescência e outros atributos do uso da informação juntamente com medidas e
métodos de avaliação dos sistemas de recuperação da informação; economia,
impacto e valor da informação, dentre outros (SARACEVIC, 1996, p.45).
Nos estudos sobre recuperação da informação há duas linhas principais de
investigação. A primeira é focada nos sistemas de recuperação da informação algorítmicos, ou
seja, utiliza-se uma abordagem computacional para pesquisas sobre recuperação da
informação. Segundo Ribeiro Júnior (2003),
A expressão abordagem computacional pode ser entendida como toda abordagem
em pesquisa sobre Recuperação Informação que envolve o uso de um sistema de
recuperação de informação baseado no uso de um software, que inclui uma
interface de busca, um banco de dados (no sentido que é dado na área de
computação) e um mecanismo de busca.
Neste enfoque as pesquisas, geralmente, são realizadas por pesquisadores e
profissionais da área da Ciência da Computação. Mas pode-se verificar na literatura, autores
da área da Ciência da Informação investigando este mesmo enfoque (RIBEIRO JÚNIOR,
2003). Neste âmbito, do ponto de vista de Robins (2000, p. 57, tradução nossa),
45
A recuperação da informação é uma disciplina interessada nos processos pelos quais
questões são apresentadas a sistemas de informação [...]. O resultado final desses
processos é uma lista de documentos que são um subconjunto dos sistemas de
informação. O processo pode ser realizado por qualquer meio, mas essencialmente,
quando atributos específicos de uma questão são correspondidos com atributos
específicos de um documento, o documento é incluído na lista.
Ou seja, na abordagem computacional, com o enfoque nos sistemas de
recuperação da informação, é o mecanismo que permite armazenar e recuperar a informação,
a estratégia de busca é a forma de entrada (input) no sistema e os documentos recuperados são
os resultados (output). Esta delimitação contrasta com a situação que acontece no mundo real,
onde as necessidades de informação surgem em contextos concretos e as pessoas estão
implicadas no processo de busca (GARCIA; SILVA, 2005a).
O segundo enfoque é aquele centrado no usuário, o qual se estuda o
comportamento de busca dos usuários de sistemas de recuperação de informação, como
descreve Dias (2003, p. 9),
Desde a década de 90, a preocupação com a qualidade da informação ofertada na
Internet tem suscitado vários estudos na área da Ciência da Informação e de
interação Homem-Computador, principalmente no estabelecimento de diretrizes e
métodos de avaliação, como tentativas de garantir a confiabilidade da informação e
proporcionar uma experiência eficiente e agradável ao usuário, independentemente
do tipo de portal visitado (busca de informações, comércio eletrônico, home-
banking, governo eletrônico).
Na ótica da recuperação da informação centrada no usuário, entende-se que
um sistema de recuperação da informação não recupera informação, pois a informação
consiste no relacionamento que ocorre entre o usuário e os símbolos que recebe. Neste
sentido, pelo caráter extrínseco da informação enfocado pela teoria dos sistemas, quem a pode
recuperar é o usuário e não o sistema (MACIEL, 1974). Ou seja, um sistema de recuperação
46
da informação não informa (isto é, transforma o conhecimento de) o usuário no assunto de sua
pesquisa. Ele meramente informa da existência (ou não existência) e o paradeiro dos
documentos relativos ao pedido dele (CAPURRO; HJØRLAND, 2003). Como analisa Braga
(1995, p. 85),
na verdade, os sistemas de recuperação da informação não recuperam informação,
ou recupera, uma informação potencial, uma probabilidade de informação, que só
vai se consubstanciar a partir do estímulo externo do documento, se também houver
uma identificação (em vários níveis) da linguagem desse documento, e uma
alteração, uma reordenação mental do receptor-usuário.
Assim, a perspectiva centrada no usuário amplia os limites do Sistema de
Recuperação da Informação com a incorporação do componente humano e do ambiente em
que acontece a busca por informações (CARO-CASTRO; TRAVIESO RODRÍGUEZ;
CEDEIRA SERANTES, 2003). Conforme discorre Robins (2000, p. 57, tradução nossa, grifo
nosso),
Desde meados do Século XX, a maioria dos esforços para melhorar a recuperação
da informação tem focado em métodos que comparam representações de textos
com representações de questões. Recentemente, porém, pesquisadores têm
empreendido na tarefa de entender o papel do humano, ou usuário, na recuperação
da informação. A suposição básica entre estes esforços é que nós não podemos
desenhar sistemas de recuperação efetivos sem um pouco de conhecimento de
como os usuários interagem com eles. Então esta linha de pesquisa que estuda os
usuários no processo de consulta direta a um Sistema de Recuperação da
Informação, é chamada Recuperação Interativa da Informação.
Desde que o termo Recuperação da Informação foi difundido por Calvin
Mooers em 1951 tem-se gerado muita polêmica. Hoje, entretanto, ele é amplamente aceito e
utilizado pela comunidade científica, ainda que existam diversos pontos de vista do que seja
“Recuperação da Informação”. Porém, os pesquisadores começaram a olhar para o outro lado
47
da equação na Recuperação da Informação: seres humanos que usam sistemas de recuperação
da informação (ROBINS, 2000).
O mais simples modelo de recuperação da informação é mostrado na figura 4.
QUESTÃO
FUNÇÃO
DE
COMPARAÇÃO
REPRESENTAÇÃO
FIGURA 4: O modelo mais simples de recuperação da informação.
FONTE: INGWERSEN, 2002, p. 49.
À esquerda (da figura), a informação potencial é representada, por exemplo,
por si mesma (linguagem natural), palavras-chave, resumo, descritores de indexação a partir
de Linguagens Documentárias (alfabéticas, hierárquicas, notacionais, tesauros, etc), entre
outros pontos de acesso de assunto, gerando um registro de metadados. À direita um
requerimento para uma informação específica é representada, através de uma questão, em
linguagem natural ou em uma linguagem de interrogação14. No centro uma ‘função de
comparação’ (gerada a partir de um arquivo invertido15, por exemplo) compara as
representações da questão com as representações das entidades de textos recuperadas, como
documentos ou partes de documentos, que forneça a informação que o usuário busca
(INGWERSEN, 2002).
14 Seria uma determinada linguagem acessível pelo sistema de informação da qual mediante a tradução, obtém-se
a equação de busca. Esta pode ser definida como uma técnica ou conjunto de regras para tornar possível o
encontro entre uma pergunta formulada e a informação armazenada em um sistema de informação (GARCIA,
2005).
15 Um arquivo invertido, também conhecido como índice invertido, é um índice ordenado de palavras-chave,
com cada palavra-chave contendo encadeamentos para os documentos que as contém. Assim, segundo Menou e
Guinchat (1994, p. 319) “a pesquisa em arquivo invertido [...] consiste em comparar cada um dos pontos de
acesso que figuram nas questões, com os pontos do arquivo invertido a partir das informações dos registros
bibliográficos”. Esta “pesquisa”, que compara os pontos de acesso digitados pelo usuário com os pontos do
arquivo invertido, é feito pelo sistema de busca.
48
Essencialmente, o problema é encontrar aquela informação, na forma de
texto(s) e outras mídias16, a qual satisfaz otimamente o estado de incerteza e o espaço de
problema do usuário. Conseqüentemente, alguns textos são mais relevantes em uma
solicitação por informação do que outros e, um texto específico pode ter diferentes
significados para diferentes solicitações de informação (INGWERSEN, 2002).
Neste sentido, ao ser considerado todo o domínio de possibilidades dos
modelos de busca e recuperação da informação, os quais descrevem os comportamentos
informacionais do usuário (ou grupo de usuários), tais modelos podem trazer subsídios à
Organização da Informação, trazendo os aspectos subjetivos do processo de busca e
recuperação da informação que podem ser aplicados pelos profissionais da informação no
momento de determinar se uma informação é relevante ou não e em qual categoria se deve
nomear a mesma, durante o processo de representação da informação. Em outras palavras,
O conjunto de conhecimentos do profissional da informação deve ser
suficientemente amplo para saber quando extrair um possível termo relevante de
um documento ou para criar as relações necessárias entre os diferentes campos.
Além disso, deve levar em conta que o que é útil em um determinado contexto, não
necessariamente é útil em outro. Esta tarefa lhe será mais fácil de concluir na
medida em que conhecer melhor a sua comunidade usuária (seus interesses,
competências informacionais, inclinações, comportamentos, etc) e o ambiente em
que esta se desenvolve. É assim que a representação da informação deveria ser
centrada, nas ‘fundações sociais’ do conhecimento (MARÍN MILANÉS; TORREZ
VELÁSQUEZ, 2006).
Desta forma, ao interagir com o documento, no âmbito da Ciência da
Informação, o profissional da informação lida com dois extremos. Em um dos extremos está o
usuário com sua realidade pessoal, interna e presumidamente idiossincrática, ou seja, com a
sua estrutura de conhecimento; no extremo oposto está o sistema de informação com a sua
16 “o termo texto pode ser substituído ainda por imagens, sons, vídeos, pinturas, ou qualquer outro artefato de
atividade intelectual” (ROBINS, 2000, p.57, tradução nossa).
49
realidade dependente dos seus próprios limites internos. Entre esses dois extremos, está
localizado o campo das representações, o espaço onde se encontram representações de uma
e/ou de outra realidade. Essas representações experimentam criar pontes (representação
temática e descritiva; desenvolvimento de interfaces amigáveis) ou elucidar algumas ou todas
as estranhezas que se supõe existirem entre essas realidades (SAYÃO, 2001).
Deste modo, é esta ‘interface’ que possibilita a recuperação da informação
mediante um processo de comunicação, sendo a intermediária entre os dois extremos
(sistema/usuário), ou seja, propicia a comunicação (escrita, visual, gestual e cognitiva) entre
ambos. É por isso que a interface tem suma importância, e a mesma é desenvolvida
principalmente com o auxílio das Linguagens Documentárias (um dos produtos atribuídos à
Organização e Representação do Conhecimento). Uma das funções das Linguagens
Documentárias é a de criar representações das informações, mediante documentos contidos no
sistema de informação, de tal forma que o usuário seja capaz de acessar essa informação para
o uso, comunicação e, principalmente, para a geração de novos conhecimentos (MARÍN
MILANÉS; TORREZ VELÁSQUEZ, 2006).
Sendo assim, considera-se que as contribuições entre a Recuperação da
Informação centrada no usuário e a Organização da Informação são recíprocas, uma vez que,
a primeira pode contribuir com estudos de usuários que indiquem variáveis externas e/ou
internas que modelam os comportamentos de busca e recuperação da informação destes
usuários frente às representações, oferecendo, desta forma, subsídios para o adequado
tratamento e representação da informação a determinado grupo ou segmento de usuários,
enquanto que a segunda pode contribuir com o desenvolvimento de ‘interfaces’ (sobretudo a
partir dos modelos conceituais de organização e representação da informação, devido as
características hipertextuais dos documentos digitais) que levem em consideração o contexto
50
do usuário, e assim, possibilitem ao mesmo uma redução na complexidade presente no
processo de busca e recuperação da informação.
No entanto, percebe-se que o atual ambiente hipertextual de informação vem
interferindo e modificando o comportamento de busca de informação, assim como todo o
comportamento informacional dos usuários frente às fontes e canais de informação. Segundo
Carvalho (2003, p. 76), “[...] a cada evolução da tecnologia digital, um contingente enorme de
indivíduos deixa de ter acesso às informações que são armazenadas por meio da nova
tecnologia. Estes indivíduos são denominados excluídos da Sociedade da Informação”.
Neste contexto, apesar de todos os recursos da Web e ferramentas de
organização contribuir para tornar disponíveis, cada vez mais e rapidamente, conteúdos em
princípio acessíveis em nível global, a acessibilidade não depende apenas da disponibilidade
mas, também, do desenvolvimento das competências em informação17 (conhecimentos
necessários ao acesso, entendimento e uso dos conteúdos disponíveis) dos usuários da
informação (COSTA, 2005).
E, embora atualmente vive-se um momento de coexistência entre a forma
impressa e a forma digital, os documentos digitais, destituídos da materialidade impressa,
“[...] são, no entanto, instituídos de uma forma que poderá alterar o conceito de acervo,
bibliotecas, dos livros e, sobretudo, das relações da leitura”, inclusive dos processos de busca
e recuperação da informação, isto, se já não os alterou (MONTEIRO, 2000, p. 28). Como
destaca Alvarenga (2003, p 18),
O meio digital se constitui, portanto, no espaço sem precedentes para a
representação, registro e recuperação de documentos textuais, sonoros e
iconográficos e, ao ensejar possibilidades variadas de armazenagem, memória e
formatos, passou também a requerer novos elementos facilitadores de sua
representação e recuperação.
17 Para um maior esclarecimento desse assunto, vide publicações do autor/pesquisador citadas na introdução.
51
Ou seja, devido a esta característica dos documentos digitais, a representação
(tanto temática quanto descritiva) de textos (além de sons, imagens, audiovisuais etc.) em
meio digital, atualmente vem sendo amplamente discutida, pois, vê-se, cada vez mais, livros,
periódicos, palestras e conferências tornarem-se escritos e exibidos na linguagem de
hipertexto e se proliferarem na Rede (MONTEIRO, 2000).
Assim, o desenvolvimento deste ‘ambiente digital’ (bibliotecas e repositórios
digitais que contêm os mais diversos tipos de recursos informacionais, além dos mais diversos
sites de conteúdos informacionais) também vem afetando diretamente os processos de
organização e representação (especialmente); armazenamento, busca e recuperação; além da
apresentação da informação potencial demandada pelo usuário. Como por exemplo apontam
Meho e Tibbo (2003, p. 586, tradução nossa), “a Internet acrescentou uma nova dimensão ao
comportamento de busca e recuperação da informação de estudantes e pesquisadores em que
algumas das informações necessárias, se e quando encontradas, têm uma alta chance de se
apresentarem como textos completos”.
Ou seja, as inovações tecnológicas como extensões das habilidades humanas,
alteraram o equilíbrio perceptivo antes existente entre os humanos (a partir de seus sentidos) e
o ambiente. “Uma alteração que ao mesmo tempo ‘reformatou’ a sociedade que criou a
tecnologia”, necessitando, assim, do desenvolvimento de linguagens que levem em
consideração este ‘novo’ ambiente de informação e as características de percepção dos
usuários da informação.
Para um maior entendimento dos conceitos que envolvem o atual ambiente de
informação, a próxima seção discute, brevemente, o conceito de hipertexto, sua evolução para
a sua forma eminentemente digital, caracterizada pela apresentação e representação da
informação de uma maneira não-linear e suas implicações para a Organização da Informação.
52
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A interface de usuário é o meio, não o fim.
Michel Lafon Beaudouin.
Aborda-se nesta seção, os conceitos de hipertexto e interface contextualizando
o ambiente de busca e recuperação da informação em ambiente digital e suas implicações na
Organização da Informação. Entende-se que estes conceitos são importantes para o
entendimento dos elementos que constituem o contexto da busca e recuperação da informação
pelo usuário na atualidade.
A idéia de hipertexto remonta, para muitos, a 1945 com o matemático e físico
Vannevar Bush em seu artigo “As we may think”1 onde propõe um dispositivo denominado
Memex que, baseado na mente humana a qual funciona por associações, permitiria a
mecanização da “[...] classificação e a seleção por associação paralelamente ao princípio da
indexação clássica” (LÉVY, 1993, p. 28). “Bush (1945) descreveu o Memex como um
dispositivo mecanizado em que uma pessoa guardaria todos os seus livros, fotos, jornais,
revistas e correspondências e poderia consultá-los de forma rápida e flexível, como se fosse
uma extensão de sua memória” (DIAS, 1999, p. 272).
Entretanto, autores como Rayward e Arnan Rived (1995)2, consideram que as
idéias e práticas hoje conhecidas como tecnologia da informação, recuperação da informação,
estratégias de busca, bases de dados ‘conectadas’, software de automação de bases de dados,
multimídia e hipertexto, etc, têm suas origens na Documentação, termo introduzido por
Paul Otlet para descrever o trabalho do Instituto Internacional de Bibliografia (IIB e mais
1 BUSH, Vannevar. As We May Think. The Atlantic Monthly, v.176, n.1 p. 101-108, July. 1945. Disponível
em: <http://www.theatlantic.com/unbound/flashbks/computer/bushf.htm>. Acesso em 09 jan. 2005.
2 Para estes autores, os “[...] aspectos importantes das origens da agora conhecida por Ciência da Informação,
estão imersos ou chegaram a ser uma ampliação da formação discursiva que se tem denominado
‘Documentação’” (RAYWARD; ARNAN RIVED, 1995, p. 123).
53
tarde FID – Federação Internacional de Informação e Documentação), fundado em Bruxelas
em 1895. Em 1907-1908, os escritórios internacionais de documentação para as regiões
polares, para caça e pesca, e para Aeronáutica necessitavam de serviços que exigiam a
composição de um amplo repertório bibliográfico de suas áreas especiais, um repertório de
material ilustrado como por exemplo, fotografias, desenhos e impressos, fragmentos de obras
literárias, artigos soltos, recortes de periódicos, documentos parlamentares, informes, etc
(RAYWARD; ARNAN RIVED, 1995). Para tanto, o uso da CDU (Classificação Decimal
Universal) com sua natureza hierárquica e a sua versatilidade, “[...] era teoricamente possível
em uma pesquisa valer-se de certa flexibilidade entre os temas relacionados em uma pasta em
particular ou através de distintas pastas de distintas classes de materiais” (RAYWARD;
ARNAN RIVED, 1995, p. 139, tradução nossa).
E, segundo Rayward e Arnan Rived (1995, p. 139, tradução nossa, grifo
nosso),
[…] completando a CDU e as guias divisórias [...] (fichas coloridas e lingüetas
aplicadas no alto das fichas divisórias), Otlet sugeriu a necessidade de um engenho
para a navegação ou cartografia geral e para mudar a direção nas pastas ou entre as
mesmas. Este engenho consistia em uma série de esquemas e diagramas, que o
mesmo Otlet chamou “Atlas” significando “mapas conceituais”. Estes expuseram
de forma visual e simplificada a relação intrincada dos conceitos compreendidos
nas áreas temáticas. Otlet os concedeu grande importância tanto para fins
educativos como para clarificar e estimular os conceitos sobre o uso de esquemas,
diagramas, cartas de navegação e quadros. Alguns destes esquemas e cartas de
navegação estavam na realidade desenhados para ajudar à orientação conceitual dos
usuários [...]. A existência de todas estas séries de pastas, a idéia de “partes” que
parece ser inerente à aplicação do princípio monográfico3 [...], o sistema de nós e
conexões proporcionado pela CDU, e outros engenhos de navegação tais como os
3 O uso deste termo por Otlet, [...] “monográfico”, foi bem selecionado do grego, porque etimologicamente
significa um elemento único e independente ou uma unidade de escritura. A idéia foi “liberar” o que o livro
amalgama, reduzir tudo o que é complexo a seus distintos elementos e dedicar uma página a cada um deles. As
páginas neste caso eram folhas ou fichas de acordo com o formato que se adotava (RAYWARD; ARNAN
RIVED, 1995, p. 140).
54
“Atlas” sugerem que estes escritórios de documentação funcionavam como
sistemas rudimentares e manuais simulares aos hipertexto/hipermídia.
Nota-se que as idéias de hipertexto já estavam presentes muito antes a que
1945. E conforme pode-se perceber nas considerações dos autores, as bases teórico-práticas
da Documentação não só influenciaram a Organização da Informação na atual Ciência da
informação, como também a Recuperação da Informação e as estratégias de busca, além de
contribuir (com importantes teorias) para o desenvolvimento das Tecnologias de Informação e
Comunicação com a noção de bases de dados ‘conectadas’, softwares de automação de
sistemas de informação, multimídia e hipertexto.
No entanto, para Dias (1999, p. 270),
Os primórdios do hipertexto podem ser associados a uma idéia de Agostino Ramelli
cuja proposta era permitir a consulta simultânea de vários livros. A “roda de
leitura” foi descrita na obra Le diverse et artificiose machine del Capitano Agostino
Ramelli (Paris, 1588): ‘Esta é uma máquina bonita e engenhosa, muito útil e
conveniente para qualquer pessoa que tenha prazer em estudar. Com esta máquina
um homem pode ver e percorrer através de um grande número de livros sem sair do
lugar. Esta roda é feita da maneira mostrada [ver figura], isto é, é construída de tal
forma que, quando os livros estão em seus leitoris4, nunca caem ou saem do local
em que se encontram, mesmo que a roda gire uma volta completa’.
4 Espécie de estante em plano inclinado, também denominada ‘atril’, onde se põe papel ou livro aberto para se ler
comodamente (DIAS, 1999, p. 271).
55
FIGURA 5: Roda de leitura de Ramelli
FONTE: DIAS, 1999, p. 271
Johnson (2001) vai ainda mais além: O poeta grego Simônides, nascido seis
século antes de Cristo, construía o que os retóricos chamam de ‘palácios de memória’, que se
constituía de histórias que se convertiam em arquitetura, conceitos abstratos transformados
em vastas – e meticulosamente – casas imaginárias. O artifício de Simônides baseava-se numa
característica da mente humana: nossa memória visual é muito mais duradoura que a memória
textual5. O poeta grego imaginava suas histórias como edificações, aplicando a mnemônica
espacial, a cada aposento, acrescentando mobílias e objetos a sua necessidade. O ato de contar
a história era uma mera questão de perambular pelos aposentos do palácio. Segundo o autor,
esta seria a idéia mais original e remota sobre hipertexto.
5 É por isso que temos muito mais facilidade de esquecer um nome que um rosto, e nos lembramos meses mais
tarde de que certa citação aparecia no canto superior esquerdo de uma página, mesmo que tenhamos esquecido
as palavras da própria citação (JOHNSON, 2001).
56
O próprio livro, quando surgiu em formato de códice, modificou em
profundidade os usos, as circulações e as compreensões de um mesmo texto (CHARTIER,
1998). Ou seja, conforme Dias (1999, p. 270),
o livro moderno passou a apresentar uma interface padronizada [...] com o
aparecimento evolutivo de vários elementos [...] como paginação, sumário,
citações, capítulos, títulos, resumos, erratas, esquemas, diagramas, índices,
palavras-chave, bibliografias, glossários, [...]. Com esses elementos foi oferecida ao
leitor a possibilidade de avaliar o conteúdo da obra de forma rápida e acessar partes
do livro que mais lhe interessavam, de modo seletivo e não-linear. Por meio das
notas de rodapé e das referências bibliográficas, o leitor passou a ter conhecimento
de outros livros [...]. Essa nova forma de interação com o conteúdo da obra já
mostrava uma certa tendência à não-linearidade.
Porém, como cita Monteiro (2000, p. 27), “[...] como na história, primeiro o
fato se dá empiricamente e depois a teoria o apreende e explica-o”, ou ao menos o tenta
explicar, Vannevar Bush (1945) foi o primeiro pesquisador a pensar sobre um conceito de
hipertexto, ou seja, os links6 entre os recursos informacionais.
3.1 Hipertexto: conceitos
O termo ‘hipertexto’ foi cunhado por Theodore Nelson em 1962 – filósofo e
sociólogo envolvido com pesquisas na área de programação de computadores (RESENDE,
2000) - [...] “para exprimir a idéia de escrita/leitura não linear em um sistema de informática”
(LÉVY, 1993, p. 29). Segundo Dias (1999, p. 272), “o termo hipertexto, no conceito de
6 Ligações ou conexões feitas entre nós em um hipertexto. Os nós podem ser trechos, palavras, figuras, imagens,
imagens ou sons no mesmo documento ou em outro documento hipertexto (DIAS, 1999, p. 270).
57
Nelson, estava relacionado à idéia de leitura/escrita não linear em sistemas informatizados.
Durante suas pesquisas, Nelson descreveu muitas das idéias implantadas nos sistemas [de]
hipertexto atuais”.
Pierre Lévy (1993) “utiliza a metáfora do hipertexto para caracterizar o
fecundo momento da comunicação, onde os agentes remodelam constantemente os universos
de sentidos” (RESENDE, 2000, p. 16). Ou seja, o sentido de uma palavra se dá em um dado
momento, dentro de um contexto construído pela rede semântica e dinâmica de significações.
Pois para Lévy (1993, p. 22) “o sentido emerge e se constrói no contexto, é sempre local,
datado, transitório”.
A metáfora do hipertexto, segundo Lévy (1993), não se aplica somente à
comunicação, mas também aos processos ‘sociotécnicos’ e, talvez, a todos os campos da
realidade em que significações estejam em jogo. Assim, o autor propõe seis princípios
abstratos (LÉVY, 1993).
1. Princípio da metamorfose – A rede hipertextual está em constante
construção e renegociação.
2. Princípio da heterogeneidade – Os nós e as conexões dessa rede são
diversos e conectam grupos, artefatos, forças naturais, provocando infinitas
associações (afetivas, lógicas, etc).
3. Princípio da multiplicidade e de encaixe de escalas – cada nó ou conexão,
quando analisado em separado, pode ser constituído por outra rede, ou redes.
Assim o que pode parecer único a primeira vista é múltiplo.
58
4. Princípio da exterioridade – A rede não possui uma unidade orgânica, nem
motor interno responsável pelo seu movimento. Ela cresce, ou se modifica,
agregando elementos externos, conectando-se a novos elementos e novas redes.
5. Princípio da topologia – No hipertexto tudo funciona por proximidade, não
há grandes pulos, apenas contigüidade. A rede não está no espaço ela é o espaço.
6. Princípio da mobilidade de centros – A rede não tem centro, ou melhor,
tem múltiplos centros que se constituem à medida da necessidade de construção
dos sentidos.
Neste sentido, a similaridade que o conceito de hipertexto tem com a dinâmica
dos processos de pensamento e conhecimento humano, permite enquadrá-lo como uma
metáfora para o melhor entendimento das relações, “[...] que se multiplicam na forma de redes
associativas pela sociedade, conectando não só seus membros, mas também as pessoas, suas
ações e o mundo natural” (REZENDE, 2000, p. 18). Ou seja, “A tecnologia hipertexto é um
modelo não seqüencial de organização da informação orientado para a expansão da atividade
de pensamento e representação do conhecimento e do trabalho colaborativo” (LIMA, 2004a,
p. 133).
No atual contexto tecnológico, “o hipertexto é entendido como uma forma
eminentemente eletrônica [...]. Sua característica principal é a apresentação da informação de
uma maneira não-linear, como se a organização seqüencial e linear do papel fosse
desmantelada” (MONTEIRO, 2000, p. 29). Lévy (1993, p. 33), neste sentido, define que
• Tecnicamente um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós
podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, seqüências
sonoras, documentos completos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens
de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas
59
cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular.
Navegar em um hipertexto significa portanto desenhar um percurso em uma rede
que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez,
conter uma rede inteira.
•
Funcionalmente, um hipertexto é um tipo de programa para organização de
conhecimentos ou dados, a aquisição de informações e a comunicação.
Pode-se compreender o hipertexto, ao estabelecer a relação com a unidade
textual de um material impresso. Neste sentido, Le Coadic (1996, p. 59) diz que,
Em que um documento hipertexto difere de um documento convencional de papel?
Num documento de papel, seja um artigo ou romance, as estruturas físicas e lógicas
estão muito próximas. Fisicamente, o documento é uma longa seqüência linear de
palavras que, por razões de ordem prática, foi dividida em linhas e páginas. A
estrutura lógica do documento também é linear: combinam-se as palavras para
formar frases, as frases, parágrafos, os parágrafos, capítulos, etc. Se o documento
apresentar uma estrutura lógica hierarquizada, como acontece com muitos
documentos científicos, esta hierarquia será reproduzida de forma linear: resumo,
introdução, primeiro parágrafo, segunda parte, e assim por diante até conclusão.
Mesmo que algumas obras tenham algum arranjo similar ao hipertexto
(enciclopédias, dicionários, obras de referência etc), o que diferencia o conceito de hipertexto
dos documentos impressos é que no hipertexto “a informação encontra-se de fato, armazenada
em uma rede de nós conectados por ligações” podendo ser nós que contenham gráficos,
textos, sons, imagens, os chamados documentos hipermídia7. “As ligações unem essas
entradas entre si: do texto lido aos textos a ler, da ilustração ao trecho de música [...]. É
sempre possível modificá-los ao contrário do documento impresso” (LE COADIC, 1996, p.
60).
Para Monteiro (2000, p. 30),
7 Hipermídia é uma extensão do paradigma do hipertexto incluindo links com diferentes tipos de informações
expressos por meio de diversos tipos de mídias: vídeo, áudio, textos, gráficos, audiovisuais (LIMA, 2004b, p.1).
Neste trabalho os termos ‘hipertexto’ e ‘hipermídia’ serão usados indistintamente.
60
A página, que é a unidade de dobra do texto impresso, torna a leitura do códice
uniforme e linear. O hipertexto possui todas as dobras possíveis, pois o mesmo, por
meio de um novo meio de comunicação, o digital, e de um novo elemento na
comunicação, o sinal, tem potencialidades dantes jamais imaginadas.
Ou seja, a interatividade que ocorre na forma eletrônica do hipertexto é com
mais recursos e intensidade, uma vez que, a informação não esta armazenada numa única ou
em algumas unidades físicas, “[...] sem contar que o bit usa menos espaço em seu suporte ou
meio de registro que a palavra impressa” (MONTEIRO, 2000, p. 29).
Essa é a principal diferença entre o hipertexto e outros documentos impressos
ou outros eletrônicos, a sua forma de armazenamento da informação é caracterizada por uma
estrutura associativa que reproduz, muito de perto, a estrutura da memória humana
e pode tornar-se seu complemento íntimo e ampliado. Permite substituir as
estruturas clássicas arborescentes da informação por estruturas mais ricas e mais
complexas, organizadas em redes, mostrando um mero infinito de caminhos,
abertos a todas as navegações e interligando múltiplos objetos (Le Coadic, 1996, p.
61).
Ou seja, o hipertexto é
[...] um novo veículo textual que se caracteriza como uma inscrição que possibilita
uma maior aproximação entre o ato de organizar tematicamente uma idéia/questão
e o ato da escrita, pois a escrita hipertextual, como toda produção textual, se realiza
através de associação de conceitos interligados formando uma rede de conceitos.
Além, disso, o hipertexto é o primeiro suporte de escrita que potencializa uma
escrita em rede (CAMPOS; GOMES, 2005).
Entretanto Lévy (1993) relata que o hipertexto retoma e transforma antigas
interfaces da escrita. A impressão trouxe uma interface padronizada extremamente original,
lógica e espacial, ou seja, uma estrutura sistemática:
61
[...] não há sumários, índices, remissão a outras partes do texto, e nem referências
precisas a outros livros sem que haja páginas uniformemente numeradas. Estamos
hoje tão habituados com esta interface que nem notamos mais que existe. Mas no
momento que foi inventada, possibilitou uma relação com o texto e com a escrita
totalmente diferente da que fora estabelecida com o manuscrito: possibilidade de
exame rápido do conteúdo, de acesso não linear e seletivo ao texto, de segmentação
do saber em módulos,de conexões múltiplas a uma infinidade de outros livros
graças às notas de pé de página e às bibliografias (LÉVY, 1993, p. 34).
O hipertexto possui, sem dúvida, aspectos de várias outras mídias, no entanto,
constitui-se em uma rede original de interfaces. “Algumas particularidades do hipertexto (seu
aspecto dinâmico e multimídia) devem-se ao seu suporte de inscrição óptica ou magnética e a
seu ambiente de consulta do tipo ‘interface amigável’” (LÉVY, 1993, p. 37). O que distingue,
então, o texto impresso do hipertexto é a velocidade. “A quase instantaneidade da passagem
de um nó a outro permite generalizar e utilizar em toda sua extensão o princípio da não-
linearidade. Isto se torna a norma, um novo sistema de escrita, uma metamorfose da leitura,
batizada de navegação8” (LÉVY, 1993, p. 37). Esta navegação, então, torna-se o resultado da
interação entre os elementos do sistema e as necessidades e/ou práticas dos usuários. Esta
interação, que ocorre através da “[...] interface entre o sistema e o usuário, pode ser física,
perceptiva e cognitiva. Assim, a navegação no hipertexto é uma ação que pressupõe aspectos
mecânicos, cognitivos e tecnológicos em um só processo” (LIMA, 2004a, p. 127).
Trata-se, portanto, mais de uma reconfiguração das práticas de leitura/escrita
ao suporte eletrônico/digital do que uma revolução “[...] que possa dividir a história humana
em eras (do manuscrito, do impresso, da informática, etc). É assim que a pretensa revolução
da informática perde sua mística e torna-se mais um rearranjo da era da escrita” (RIBEIRO,
2004, p. 158).
8 A navegação é uma metáfora utilizada para descrever como os usuários se movimentam por documentos
hipertextuais, desenhando um percurso em uma rede que pode ser simples, mas também tão complicada quanto
possível. Isto porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede interativa. (LIMA, 2004a, p. 127).
62
3.2 Interface: conceitos
Douglas Engelbart, engenheiro e diretor do Augmentation Research Center
entre as décadas de 1950 e 1960, foi quem introduziu as idéias de que a informática poderia
ter um uso social, pois “à época dos trabalhos de Engelbart [...] a informática era considerada
pelo seu potencial para automatizar cálculos e não pelas suas possibilidades como tecnologia
intelectual” (RESENDE, 2000, p. 25).
Engelbart, na sua concepção delineada na célebre demonstração em São
Francisco no ano de 1968, desenvolveu alguns dos fundamentos que são utilizados atualmente
nos sistemas, que envolvem o princípio da manipulação direta:
•
•
•
O mouse, que possibilitou a manipulação dos complexos informacionais
representados na tela por símbolos gráficos;
As telas windows, que permitiam a visualização de múltiplas janelas de trabalho no
monitor do computador, para o desempenho de tarefas diferentes;
E o processador de texto (REZENDE, 2000, p. 26, grifo do autor).
Dos mecanismos citados,
o mouse trouxe significativas mudanças na interação homem/computador.
Representa a conexão entre o gesto humano (movimento da mão e do braço) e o
espaço topográfico do computador. Serve como extensão da mão do usuário,
possibilitando-lhe manipular intuitivamente o contexto simbólico que se coloca
ante seus olhos. Traduz o movimento humano para o espaço eletrônico
(REZENDE, 2000, p. 26, grifo do autor).
Em vez de teclar comandos difíceis, o usuário podia simplesmente indicar
algum elemento na tela e expor seus conteúdos, ou então arrastá-lo para outro ponto da tela.
63
Isto proporcionou a muitos usuários não especialistas em computadores a realizarem suas
tarefas de uma forma mais simples e rápida. No entanto, segundo Johnson (2001, p. 21),
a manipulação direta tinha uma qualidade estranhamente paradoxal: na realidade, a
interface gráfica havia acrescentado uma outra camada entre o usuário e sua
informação. Mas a instantaneidade táctil da ilusão dava a impressão de que a
informação estava mais próxima, mais à mão em vez de mais afastada.
E “pela primeira vez, uma máquina era imaginada não como um apêndice aos
nossos corpos, mas como um ambiente, um espaço a ser explorado” (JOHNSON, 2001, p.
23).
A interação do usuário com este ambiente de hipertexto se dá mediante o
contato entre estes dois elementos através de uma interface. O desenvolvimento de interfaces
segundo Lévy (1993, p. 36), se deu através de um certo número de características as quais
chamou de ‘princípios básicos da interação amigável’:
•
•
•
•
A representação figurada, diagramática ou icônica das estruturas de informação e
dos comandos (por oposição a representações codificadas e abstratas);
O uso do ‘mouse’ que permite ao usuário agir sobre o que ocorre na tela de forma
intuitiva, sem sensório-motora e não através do envio de uma seqüência de
caracteres alfanuméricos;
Os ‘menus’ que mostram constantemente ao usuário as operações que ele pode
realizar;
A tela gráfica de alta resolução.
Quanto à representação, ao se considerar a Recuperação da Informação
centrada no usuário, pode-se acrescentar a estes ‘princípios da interação amigável’ a
importância da Organização da Informação, através do desenvolvimento das Linguagens
Documentárias, pois são estas que são encarregadas de construir as ‘interfaces’
(representações) entre as informações constantes nos documentos que, por sua vez, estão
contidos nos sistemas de informação, e o usuário e seu contexto.
64
Num sentido simples a palavras interface refere-se normalmente a softwares
que dão a forma à interação entre usuário e computador. No entanto, pode-se pensar que a
interface atua como uma espécie de tradutor, mediando entre as duas partes (usuário-sistema),
tornando uma sensível para a outra, ou seja é o campo das representações de uma e de outra
realidade (JOHNSON, 2001). Ou seja,
a noção de interface pode estender-se ainda para além do domínio dos artefatos.
Esta é, por sinal, sua vocação, já que interface é uma superfície de contato, de
tradução, de articulação entre dois espaços, duas espécies, duas ordens de realidade
diferentes: de um código para outro, do analógico para o digital, do mecânico para
o humano... Tudo aquilo que é tradução, transformação, passagem, é da ordem da
interface (LÉVY, 1993, p. 181).
Assim no que concerne esta ‘tradução, do mundo binário ao mundo humano’,
o desenvolvimento da interface possibilitou que ao “[...] deslizar um pequeno aparelho (o
mouse) sobre uma superfície plana, era possível selecionar, na tela do computador,
ideogramas (ícones) que representavam documentos, pastas, instrumentos, de desenho, ou
partes de textos e gráficos”, além de sons e imagens em movimento. (LÉVY, 1993, p. 49,
grifo nosso).
Desta forma, ao interagir com a interface, um usuário entra em contato com
“[...] uma pequena superfície vinda de outro espaço, como que suspensa entre dois mundos,
sobre a qual é difícil projetar-se. É como se explorássemos um grande mapa sem nunca
podermos desdobrá-lo, sempre através de pedaços minúsculos” (LÉVY, 1993, p. 37). Esta
característica faz com que se torne necessário que a informação seja disposta, de alguma
maneira, com organização. Pode-se representar de várias formas a conectividade de um
hipertexto. E a visualização gráfica ou diagramática é o meio mais intuitivo, facilitando as
tarefas do usuário (LÉVY, 1993). Porém, “[...] se a estrutura apresentar uma trilha de
navegação desorganizada ou um design cognitivamente pobre, o folheio (browsing) ou a
65
pesquisa mais direcionada, [por exemplo], por parte do usuário se torna difícil ou ineficiente”
(LIMA, 2004a, p. 126).
Isto é, há dois problemas que podem ser identificados relativos aos aspectos
cognitivos9 na interação com as interfaces de sistemas de hipertexto: a desorientação do
usuário, que surge da necessidade do usuário de saber onde ele se encontra na rede (Web), de
onde ele vem e para onde ele vai, e o transbordamento cognitivo, quando os usuários na hora
de tomar decisões sobre quais links seguir e quais devem ser abandonados, devido ao grande
número de opções que encontra (LIMA, 2004b).
Neste sentido, para melhorar a leitura e a escrita (incluindo a busca e
recuperação) em hipertextos, não é suficiente concentrar-se somente na navegação, sem
considerar a compreensão do usuário e seu contexto, o que implica na construção de
‘interfaces’ com o objetivo de reduzir o esforço mental do mesmo, buscando coerência no
trabalho mental requerido para as atividades de navegação e orientação (LIMA 2004b). Ou
seja, apesar das grandes possibilidades, é importante que se estruture muito bem a rede
semântica do hipertexto, para que o usuário não se perca entre um ‘link’ e outro (FREIRE,
2003).
Para isso, os constructos teóricos e metodológicos da Organização e
Representação do Conhecimento (entre outras teorias vindas das mais diversas áreas como a
Psicologia, a Lingüística, Inteligência Artificial, Ciência Cognitiva, etc) têm contribuído à
Organização da Informação, sobretudo no âmbito da representação da informação disponível
em ambiente digital.
9 Os processos cognitivos são actividades mentais como o pensamento, a imaginação, a lembrança e a solução de
problemas. Como outras actividades humanas, são desempenhadas por indivíduos que têm níveis diferentes de
habilidade em raciocínio lógico e memória visual, o que pode afectar o desempenho na recuperação da
informação (LIMA, 2004a, p. 131).
66
3.3 Modelos Conceituais para a Organização da Informação
Ao considerar que na Ciência da Informação trata-se tanto da organização da
informação, quanto do processo e fluxo da informação com particular ênfase nas aplicações
das modernas tecnologias de informação e comunicação, conforme aponta Hjørland (2003),
deve-se levar em conta que os desenvolvimentos tecnológicos da Ciência da Computação10 –
os quais, segundo Rayward e Arnan Rived (1995), tiveram suas idéias e práticas originadas da
Documentação – têm influenciado a Ciência da Informação (sobretudo a partir da década de
1950). Mas, deve ficar claro que
[...] o objetivo da Biblioteconomia e Ciência da Informação é otimizar a utilização
do conhecimento documentado. O propósito primário das bibliotecas é prover
acesso físico e intelectual à informação. O acesso intelectual é provido pela
organização propriamente dos documentos [...] ou pela organização de
representação de documentos em catálogos, bibliografias e bases de dados. A
Biblioteconomia e Ciência da Informação não estão primeiramente focadas na
construção de algoritmos, mas em informar pessoas sobre documentos
(HJØRLAND, 2003, p. 92, tradução nossa).
Assim, considerando as características dos sistemas de hipertexto, e sua
influência na Organização da Informação, atualmente
[...] com o desenvolvimento dos recursos nas bases de conhecimentos da web, se
fala de ontologias ou taxonomias virtuais como modelo conceitual de organização e
representação do conhecimento [...], capazes de servir de classificações, de
representar conhecimentos e de argumentar com eles mediante regras de inferência
(LÓPES ALONSO, 2000, p. 116, tradução nossa).
10 A Ciência da Computação, fundada na década de 1930 (ou seja, muito antes do surgimento do computador
moderno) por pesquisadores como Alonso Church, Emil Post e Alan Turing, procura “[...] fornecer uma base
científica para o estudo do processamento da informação, a solução de problemas por algoritmos e o desenho e
programação de computadores” (ARBIB, KFOURI E MOLL, 1981 citado por HJØRLAND, 2003, p. 92,
tradução nossa).
67
A teoria dos modelos conceituais foi desenvolvida por Novak, e Gowin (1999),
a partir da teoria da aprendizagem significativa11, e parte do pressuposto de que o
armazenamento de informações ocorre a partir da organização de conceitos, tanto nas relações
envolvendo os elementos mais genéricos, quanto os mais específicos, apontando similaridades
e diferenças e valendo-se da seqüência natural entre os tópicos do conteúdo a ser trabalhado
(LIMA, 2004c). Isto é, tem como objetivo representar relações significativas entre conceitos
na forma de proposições. Uma proposição consiste em dois ou mais termos conceituais unidos
por palavras de maneira que formam uma unidade semântica (NOVAK; GOWIN, 1999). “Em
essência, os modelos conceituais permitem estabelecer representações gráficas dos conceitos
de um campo específico do conhecimento” (CUNHA; SILVA, 2004, p. 163).
Os modelos conceituais de organização da informação surgem dos problemas
de representação da informação (textual ou hipermídia) de forma codificada, tentando
responder a seguinte questão: de que maneira pode-se incorporar as entidades abstratas da
teoria sintática e semântica, e suas relações, ao complexo ambiente dos sistemas de
informação, de modo que participem no processo informático-matemático de codificação da
informação analisada (indexação e resumo) e sua posterior decodificação para a busca e
recuperação da informação demandada pelos usuários? (LÓPES ALONSO, 2000). Ou seja, os
estudos sobre os modelos conceituais tentam, de alguma forma, estruturar (organizar) a rede
semântica de hipertextos (entidades digitais).
Assim, um modelo conceitual ou mapa conceitual12 é uma ferramenta de
organização da informação, capaz de representar idéias ou conceitos na forma de um
11 A teoria da aprendizagem significativa (desenvolvida na psicologia educacional por David Ausubel) é baseada
no modelo construtivista do processo cognitivo humano, que explica como os conceitos são adquiridos e
organizados dentro de um aprendizado mais baseado na cognição, ou seja, a idéia fundamental da teoria da
aprendizagem significativa é que a aprendizagem é feita por assimilação de novos conceitos (LIMA, 2004c).
12 O mapa conceitual pode estar também relacionado na literatura com termos como rede semântica, estrutura do
conhecimento, estrutura cognitiva, mapa cognitivo, mapa mental ou mapa da Web (LIMA, 2004c).
68
diagrama hierárquico escrito ou gráfico e capaz de indicar as relações entre os conceitos,
procurando refletir a organização da estrutura cognitiva sobre um determinado assunto
(LIMA, 2004c).
Segundo López Alonso (2000), existem técnicas para representar o
conhecimento de uma forma lógica bastante elementar, lineares ou hierárquicas que vêm
sendo utilizadas tradicionalmente para a indexação documental. No entanto outras mais
complexas que utilizam ‘redes’ ou grafos começaram a ser utilizadas para a estruturação dos
registros em bases de dados. Assim, as técnicas de representação da informação são
estruturadas baseadas em:
- Técnicas lineares: usa-se de diferentes maneiras nos sistemas
hipermídia, normalmente para reter a estrutura seqüencial do
documento original em papel. É um hábito manter a estrutura linear do
documento original, ordenada pelo autor original. O leitor deste
documento em um sistema eletrônico tem acesso a esta ordem da
mesma maneira que o leitor da versão em suporte papel;
- Técnicas hierárquicas: usa-se para manter a estrutura original não
seqüencial da informação contida nas bases de dados hipermídia. A
estruturação hierárquica dos livros, divididos em capítulos com seções
e subseções, normalmente é imitada nas bases de dados hipermídia
mediante o uso dos vínculos (links) hierárquicos. Um leitor pode entrar
na tabela de conteúdos ou índice de um sistema hipermídia e selecionar
um lugar para ler dentro do espaço da informação, da mesma forma que
o faria no suporte papel.
69
- Técnicas de grafos e/ou redes: que podem ser semânticos (ambiente
intensivo) ou pragmáticos (ambiente extensivo), compostos de links
associativos por natureza, verdadeiramente não seqüenciais e capazes
de unir conceitos similares ou que precisam relacionar-se no espaço
conceitual da informação. A habilidade para rastrear este espaço de
conceitos (navegação hipertextual) de forma progressiva, não
seqüencial, é uma das maiores vantagens dos sistemas hipermídia.
Os tesauros convencionais, por exemplo, como estruturas de indexação mais
utilizadas na maioria dos sistemas de recuperação da informação, são formados por uma série
limitada de conceitos e de associações entre eles. Neles, representam-se somente três tipos de
associações relacionadas: as hierárquicas (conceitos gerais ou específicos), as de equivalência
(conceitos preferíveis ou equivalentes) e as associativas (conceitos afins conceitualmente). Ou
seja, os sistemas e ferramentas tradicionais para representação e, conseqüentemente, busca e
recuperação da informação, não operam diretamente sobre o significado dos conceitos. São
estáticos e somente proporcionam uma coleção de ferramentas genéricas para manipular redes
de objetos de uma forma inteligente, nunca os seus conteúdos (LÓPES ALONSO, 2000).
Diferentemente disto, os modelos conceituais pretendem ser capazes de
processar o ‘conhecimento’ de maneira dinâmica, mediante uma rica semântica de objetos e
suas associações, distinguindo os objetos por aquilo que representam seus conceitos e
interpretando o conhecimento das equações de busca dos usuários (LÓPES ALONSO, 2000).
Lópes Alonso (2000), enumera os principais modelos conceituais de
organização e recuperação da informação para sistemas de informação em ambientes
digitais/hipertextuais:
70
- Tesauros facetados: é um instrumento de indexação em que os
conceitos se classificam em estruturas hierárquicas independentes as quais
cada uma captura um ponto de vista ou propriedade diferente dos documentos,
ou seja, cada uma delas é utilizada para indexar os documentos com uma
perspectiva diferente de conhecimento. Sua vantagem sobre os tesauros
convencionais é que a estrutura facetada permite maior exaustividade e
precisão no processo de indexação hipermídia, visto que os documentos
podem ser indexados levando em conta todos os aspectos que se consideram
relevantes.
- Sistemas conceituais de indexação: são extensões da estrutura do
Tesauro, pois são compostos de uma série ordenada de conceitos em que cada
par tem um único conceito comum. A estrutura de indexação resultante é
similar a do Tesauro, mas pluridimensional, devido a qualquer conceito poder
ter outros gerais ou específicos, não necessariamente em um nível mais alto ou
mais baixo na hierarquia de conceitos, já que o usuário move em uma matriz
n-dimensional.
- Hiperíndices Semânticos: compreende em um instrumento de
indexação desenvolvido para os sistemas de informação hipermídia, em que os
conteúdos dos documentos são representados por um ‘conjunto de termos de
indexação’ formado a partir do próprio documento, com os termos de
indexação vinculados entre si. A partir do primeiro conjunto de termos de
indexação, pode-se derivar outro ‘conjunto reforçado’ que forma uma matriz
de conjunto de termos de indexação que é usada como uma estrutura de
indexação hipertextual. Esta matriz pode ser gerada automaticamente e
71
permite o uso de associações entre os conceitos pertencentes a diferentes
domínios. Seu uso permite validar os conceitos, excluir algumas associações
geradas automaticamente e incluir outras que o indexador considerar
imprescindíveis.
- Redes de inferência: são formadas por dois conjuntos de redes: uma
‘rede documental’ que representa os documentos e uma rede de perguntas que
representa a informação demandada pelos usuários. Os dois conjuntos se
unem mediante vínculos entre os conceitos documentais e os conceitos das
questões, de maneira que durante o processo de busca os conceitos das
equações de busca se confrontem com os conceitos documentais, mediante
cálculos probabilísticos.
- Rede semântica: comparada ao tesauro, possui uma organização interna
de relações mais rica, que podem suportar diferentes mecanismos de dedução.
Sua estrutura nó-vínculo-nó é conceitualmente muito próxima da estrutura de
uma rede hipertextual. Nesta teoria, o significado é definido como um
conjunto de semas que podem atribuir relações lexicais. Um assunto é
representado por um grafo13, os termos são os ‘pontos’ (ou nós) e as relações
são as ‘linhas’ (ou arestas). Desta forma, um programa compara o grafo da
demanda do usuário com os grafos dos documentos, apresentando um mapa
daqueles com a estrutura mais parecida.
13 Diagrama composto de pontos, alguns dos quais são ligados entre si por linhas, e que é geralmente usado para
representar graficamente conjuntos de elementos inter-relacionados. Os pontos, ditos nós, representam os
elementos individuais, e as linhas, ditas arestas, representam a relação entre pares de elementos (DICIONÁRIO
AURÉLIO ELETRÔNICO, 2002).
72
- Ontologia: é uma descrição de conceitos e suas associações existentes
em um agente ou federação de agentes de software da Web. Possui certa
analogia com os tesauros e as classificações conceituais, que igualmente
estabelecem associações entre seus conceitos. Por outro lado, existem
diferenças fundamentais quanto à representação da informação, pois as
ontologias permitem representar axiomas (conhecimentos certos e imutáveis)
e argumentar com eles mediante as regras de inferência, definidas no núcleo
de conhecimentos dos agentes que filtram a informação das redes distribuídas
da Internet. Sua aplicação proporciona uma ‘metavisão’ da estrutura e da
terminologia de um domínio, melhorando a precisão da recuperação de
documentos. Seu uso pode unificar vocabulários e definir estruturas comuns,
entre diferentes aplicações federadas que tenham como objetivo a
representação e recuperação do conhecimento.
Sem dúvida, com o resultado da necessidade de processamento da informação
pertencente a diferentes sistemas, a interconexão entre as informações disponíveis em
ambientes digitais tem aumentado nos últimos anos mediante o uso das tecnologias de
informação e comunicação baseadas na Internet, aumentando, desta forma, a
interoperabilidade entre sistemas de informação heterogêneos (como no caso dos open
archives, e repositórios institucionais). No entanto, uma conexão puramente técnica é
insuficiente para aqueles usuários que necessitam encontrar o caminho para a sua informação
específica (LÓPES ALONSO, 2000).
O desenvolvimento de ferramentas que proporcionem ao usuário maior e
melhor acesso à informação é evidente pois, desde a época de Bush (1945), segundo Johnson
(2001, p. 91),
73
Bush [1945] queria que o Memex correspondesse à visão de mundo do usuário: as
trilhas serpenteariam através de documentos de maneiras variadas, idiossincráticas,
percorrendo o espaço-informação como o usuário bem entendesse. Não haveria duas
trilhas exatamente iguais. A Web tornou grande parte da visão de Bush realidade,
mas sua intuição central – a necessidade de um instrumento para a abertura de
trilhas – continua irrealizada, pelo menos na Internet.
Ou seja, apesar de todo o impacto que a Internet causou e esta causando nas
sociedades contemporâneas, a necessidade de instrumentos para melhorar significativamente
o atendimento às necessidades dos usuários é notória.
O que torna um ‘fragmento’ de informação valioso, já havia sugerido Bush
(1945), não era a classe ou espécie mais abrangentes a qual pertencia, mas suas conexões com
outros dados (JOHNSON, 2001). Já se pôde interconectar por links e hipertextos uma grande
quantidade de documentos que estavam ou não nos computadores. O que falta agora “[...]
fazer são sistemas de pesquisas e informações que serão mais poderosos e mais intuitivos para
serem manipulados pelos seres humanos” (LÉVY, 2005).
Algumas iniciativas no âmbito da Organização e Representação da Informação
vêm acontecendo, sendo a de maior destaque a proposta da Web Semântica que, baseada no
amplo uso de padrões e arquiteturas extensíveis (incluindo ontologias, taxonomias virtuais
entre outros modelos conceituais de organização e representação da informação), capazes de
se adaptarem à dinâmica dos requisitos do meio eletrônico/digital, vem trazendo novas
perspectivas à organização, representação, compartilhamento, intercâmbio, integração de
recursos, além da busca e recuperação de informações (CAMPOS, Maria; ALMEIDA
CAMPOS; CAMPOS, Linair 2005).
Neste sentido, tratando-se do ponto de vista da Recuperação da Informação, o
desenvolvimento de sistemas de informação vem considerando o meio ambiente que os
rodeiam, entendendo-se por meio ambiente todos aqueles aspectos que os afetam, tanto
materiais como sociais, sendo os usuários os principais elementos destes, pois, recuperam a
74
informação como o auxílio de seus processos mentais e em seus respectivos contextos sociais
e culturais (MARÍN MILANÉS; TORREZ VELÁSQUEZ, 2006). Para isso, os subsídios
trazidos pelos modelos de comportamento de busca de informação são de extrema
importância visto que, representam o ser humano enquanto usuário e/ou parte de um sistema
de informação e, também, suas relações de aquisição, interpretação, organização, e
manipulação da informação (SAYÃO, 2001). A seguir os modelos de comportamento de
busca de informação de Wilson (1996); Kuhlthau (1991); Dervin (1986); Ellis (1989) e
Ingwersen (2002), são apresentados.
75
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O paradigma bibliográfico é baseado na certeza e
na ordem, ao passo que os problemas dos usuários
são caracterizados pela incerteza e confusão.
Kuhlthau.
Os Modelos, de uma maneira geral, sempre estiveram presentes desde os
primórdios da Ciência. Formulações de hipóteses e estruturação de modelos como os da
origem e evolução da vida e das espécies, ou como os da origem e ‘arquitetura’ do Universo e
seus sistemas são abstrações que constituem
[...] uma ferramenta poderosa no exercício eterno de aquisição de conhecimento,
uma vez que, para se compreender a imensa variedade de formas, estruturas,
comportamentos e fenômenos residentes no nosso universo, é necessário selecionar
aqueles de maior relevância para o problema objeto de investigação e elaborar para
eles descrições adequadas (SAYÃO, 2001, p. 82).
Um modelo sempre é uma aproximação, ou seja, são representações
simplificadas, mas que permitem perceber certas características essenciais de determinada
área do conhecimento. Tal simplificação exige, além de criatividade sensorial e intelectual,
admitir que, na construção de modelos, algumas características da realidade devem ser
desprezadas ou abandonadas para se atingir os objetivos buscados. Isso para uma maior
inteligibilidade ou facilidade de compreensão dos aspectos fundamentais e relevantes
envolvidos na compreensão do objeto de estudo (SAYÃO, 2001).
Uma mesma realidade observável naturalmente pode ter diversos e diferentes
modelos. Isto ocorre porque visões diferentes, construídas sobre diferentes correntes teóricas
e paradigmas – implicando ainda aspectos ideológicos, culturais, entre outros – acabam por
estruturar modelos a partir da seleção de elementos de seus respectivos universos de discurso
que comporão, por sua vez, a visão a ser representada. Assim cada modelo destina-se a
76
explicar certas características de um fenômeno e pode comumente chegar a explicações
complementares ou contraditórias com outros modelos.
Desta forma “esta característica dos modelos implica imediatamente a sua
natureza sugestiva, no sentido de que um bom modelo traz, em si, na sua própria estrutura,
sugestões para a sua própria extensão, generalização” ou mesmo ser refutado (SAYÃO, 2001,
p. 84).
A Ciência da Informação (assim como muitas outras disciplinas do
conhecimento), devido a sua característica interdisciplinar, em grande parte assume como
seus ou é muito influenciada por ‘paradigmas’ e modelos de outras áreas, tais como a
informática, a inteligência artificial, a lingüística, a economia, o marketing, etc. Por exemplo:
a Teoria Matemática da Comunicação de Shannon e Weaver (1949) que propôs um modelo
matemático para explicar a comunicação entre dois pólos, denominados “emissor” e
“receptor”, foi amplamente utilizado pela Comunicação, Ciência da Informação e Ciência da
Computação. Tal modelo, criticado, adaptado, modificado, ainda hoje está sendo amplamente
utilizado, na medida em que, de modo preciso e simples, propicia uma boa idéia de como se
dá a comunicação humana (SAYÃO, 2001).
Assim, embora os modelos de busca e comportamento informacional
caracterizam-se mais por não possuir fronteiras claras dos seus domínios internos e externos
do que possuir um corpo coerente e consistente de trabalhos – devido, sobretudo, a própria
característica interdisciplinar da Ciência da Informação – estes modelos são extremamente
importantes, considerando que as pessoas e as organizações têm exigências cada vez mais
sofisticadas em relação aos sistemas de informação e em como saber utilizá-los.
O Comportamento Informacional inclui “[...] comportamentos humanos
relacionados com a busca, coleta, recuperação, organização e uso da informação” (SPINK;
COLE, 2006, p. 25). Wilson (2000, p. 49) define que:
77
Comportamento informacional é a totalidade do comportamento humano em relação
às fontes e canais de informação, incluindo a busca de informação ativa e passiva,
além do uso da informação. Ou seja, inclui a comunicação face to face com outras
fontes e canais de informação, como também a recepção passiva de informação
como, por exemplo, assistir a anúncios de televisão, sem qualquer intenção para agir
na informação dada.
A maioria dos modelos de comportamento informacional são definições,
freqüentemente na forma de diagramas, que tentam descrever uma atividade de busca de
informação, as causas e conseqüências desta atividade, ou ainda os relacionamentos entre os
estágios ou fases no comportamento de busca de informação (WILSON 1999). Ou seja, estes
modelos apresentam, de um modo simplificado, as relações entre as proposições teóricas e
processos ligados com a identificação e satisfação das necessidades de informação de uma
pessoa ou grupo. Os modelos existentes podem se agrupar de acordo com o nível de
processos descritos (por exemplo, nível de cognição, nível de comportamento social) ou de
acordo com o modo que completam um quadro de comportamentos que eles apresentam
(quer dizer, se eles se referem a uma fase particular da aquisição de informação ou se
apresentam uma sucessão completa de atividades mentais e físicas relacionadas). O conteúdo
dos modelos depende da perspectiva de pesquisa assumida pelos autores deles. Os principais
são: perspectiva cognitiva, social, sócio-cognitiva ou organizacional (NIEDŹWIEDZKA,
2003). Porém, segundo Dias, Naves e Moura (2001), pode distinguir-se duas abordagens
específicas: a abordagem cognitiva e a abordagem holística. A primeira quer identificar como
os usuários processam informação e busca um modelo que represente bem esse processo. A
segunda, além de levar em conta os aspectos cognitivos, considera também aspectos físicos,
afetivos, sociais e comportamentais.
78
Quanto às características dos modelos de comportamento informacional, estes
se subdividem principalmente em dois tipos: aqueles desenvolvidos para o comportamento de
busca de informação e aqueles para a busca em sistemas de recuperação da informação1.
4.1 Comportamento informacional dos usuários
A pesquisa em comportamento informacional tem ocupado os cientistas desde
antes do termo ‘Ciência da Informação’ ser cunhado. Segundo Wilson (1999), as origens
podem ser atribuídas a Royal Society Scientific Information Conference de 1948, quando um
considerável número de trabalhos em comportamento informacional de cientistas e
tecnólogos foi apresentado. O termo Comportamento Informacional não foi usado nestes
trabalhos, os quais foram, geralmente, sobre o uso da biblioteca e documentos, mas as origens
estão claramente nesta conferência. Segundo Wilson (1999, p. 250, tradução nossa),
Isto foi sete [7] anos antes de Chris Hanson (da Aslib – The Association for
Information Management) cunhar o termo ‘Ciência da Informação’ e dez [10] anos
antes do estabelecimento do Institute of Information Scientists no Reino Unido, a
primeira sociedade profissional dedicada à este campo.
Desde a Royal Society Scientific Information Conference de 1948, milhares de
trabalhos e relatórios de pesquisa têm sido produzidos sobre as necessidades de usuários, as
necessidades de informação e de comportamento de busca de informação etc. Porém, ao
longo deste período, críticos vêm constantemente dizendo que os pesquisadores não têm
1 A diferença entre ‘busca de informação’ e ‘busca em sistemas de recuperação da informação’ é mostrada no
item: 4.2 Modelos de busca de informação.
79
construído com estas pesquisas um corpo de teoria e de estudos empíricos que poderiam
servir como um ponto de partida para novas pesquisas.
Isto ocorreu por várias razões. Dentre elas podemos destacar os métodos de
pesquisa quantitativos que foram adotados inapropriadamente para os estudos sobre o
comportamento humano, sobretudo frente à informação. Muitos itens foram ‘contados’ como,
do número de visitas à biblioteca; o número de assinaturas pessoais ou acessos aos periódicos
e o número de itens citados em trabalhos. Muito pouco destas ‘contagens’ de dados revelaram
insights de valor para o desenvolvimento da teoria ou, realmente, da prática. Outro ponto a
destacar é que os pesquisadores do campo da Ciência da Informação parecem ter ignorado o
trabalho realizado em áreas relacionadas que poderiam oferecer modelos teóricos mais
robustos de comportamento humano (WILSON, 1999).
Isto está agora começando a mudar com os métodos etnográficos que estão
sendo introduzidos na fase de definição de designs de sistemas de informação e também na
organização da informação, por exemplo. Porém, até mesmo quando são empregados tais
métodos, os designers (incluindo aqui os profissionais da informação) parecem estar
perguntando: ‘Como tal pessoa está usando o sistema?’, em lugar de procurar determinar
quais podem ser as necessidades de informação do indivíduo (ou da organização e seu
ambiente) e como o comportamento de busca de informação relaciona-se com outros
comportamentos de tarefa orientada (como a elaboração de trabalhos de pesquisa, por
exemplo). De fato, a preocupação com qual informação é necessária na realidade, não tem
sido parte dos estudos e desenvolvimentos de sistemas de informação, mas sim da Ciência da
Informação e, antes disso, da Biblioteconomia (WILSON, 2000). E, muito menos, tem
ocorrido a aplicação destes estudos no auxílio ao desenvolvimento e organização de sistemas
de informação.
80
Os modelos de comportamento informacional, no geral, só começaram a
emergir, e chamar a atenção, nos últimos vinte/vinte e cinco anos, quando começaram a ser
adotados os métodos qualitativos. Isto foi possível pela utilização das teorias e modelos das
Ciências Sociais e que podem ser aplicados aos estudos de comportamento informacional,
resultando, assim, em trabalhos que estão mais relacionados às pesquisas referentes ao
comportamento humano frente à informação.
4.2 Modelos de busca de informação
Os modelos de busca de informação, caracterizam o comportamento de busca
de informação, que é a busca proposital por informação como conseqüência de uma
necessidade de se atingir um objetivo. Spink e Cole (2006, p. 25) definem o comportamento
de “[...] busca da informação [Information Seeking Behaviour] como um subconjunto do
Comportamento Informacional (citado anteriormente) que inclui a busca intencional de
informação em relação a um objetivo”. No curso da busca, o indivíduo pode interagir com
sistemas de informação manuais (tal como periódicos, uma biblioteca, ou outros centros de
informação), ou com sistemas baseados em computador (tal como a World Wide Web).
Já o comportamento de busca em sistemas de recuperação da informação
(Information Searching Behavior) é o micro-nível do comportamento empregado pelo
pesquisador na interação com sistemas de informação de todos os tipos. Consiste em todas as
interações com o sistema, ao nível da interação humano/computador (por exemplo, o uso do
mouse e os clicks nos links) ou ao nível intelectual (por exemplo, na adoção de uma estratégia
de busca Booleana ou na determinação de critérios para decidir qual de dois livros
81
selecionados de lugares adjacentes em uma estante de biblioteca é o mais útil) que também
envolverá atos mentais, tal como o julgamento de relevância dos dados ou informação
recuperada (WILSON, 2000).
Assim, Wilson (1999) define que o comportamento informacional pode ser
visto, então, como uma série de campos integrados (como mostrado na figura 6) onde,
[...] information behaviour pode ser definido como campo mais geral de
investigação [...], information-seeking behaviour é um subconjunto deste do
campo, particularmente se referindo a variedade de métodos que os usuários
empregam para descobrir e ter acesso a fontes de informação, e o information
searching behaviour sendo definido como um subconjunto da information-
seeking, particularmente interessado nas interações entre usuários da informação
(com ou sem intermediário) e sistemas de informação baseados em computador,
dos quais os sistemas de recuperação da informação de texto completo fazem
parte (WILSON, 1999, p. 263, tradução nossa, grifo nosso).
FIGURA 6: Uma integração dos modelos de Information Seeking e Information Searching2.
FONTE: WINSON, 1999, p. 263.
2 ‘Seek’ (do Inglês) é quando você procura alguma coisa, como um lugar (ou informação), para tentar encontrar
uma. ‘Search’ é quando você busca por alguma coisa (como uma informação ou textos numa base de dados),
“olhando” cuidadosamente para ela (COLLINS COBUILD ENGLISH DICTIONARY, 1997-2001).
82
Este ‘modelo’ pode ser usado por pesquisadores dos vários campos que
envolvem a busca por informação para lembrá-los e entenderem que os estudos de um tópico
particular necessitam ser feitos no contexto do campo específico (information
behaviour,information seeking behaviour ou information searching behaviour), embora seja
preciso enfatizar que, os estudos de busca em sistemas de informação devem ser explorados
com um entendimento da busca de informação que, por sua vez, devem levar em conta o
entendimento do comportamento informacional no geral, este que envolve o usuário que
busca informação conhecida ou desconhecida em ralação às fontes e canais de informação,
além do uso da informação.
4.2.1 O modelo geral de comportamento de informação (Wilson, 1996)
O modelo geral de comportamento de informação de Wilson (1996) é uma
revisão expandida do modelo de Wilson (1981). Segundo o autor, o modelo de 1981
precisava ser expandido para prover uma estrutura geral mais efetiva, considerando, assim,
todos os aspectos do comportamento de busca de informação (WILSON, 1996).
O primeiro modelo de Wilson (1981) é baseado em duas principais
proposições: primeiro, que a necessidade de informação não é a primeira necessidade, mas
uma necessidade secundária que surge além das necessidades de um tipo mais básico; e
segundo, que no esforço para descobrir a informação para satisfazer a necessidade, é provável
que o indivíduo encontre barreiras de diferentes tipos. Utilizando definições da Psicologia,
Wilson (1981) propõe que a necessidade básica pode ser definida como fisiológica, cognitiva
ou afetiva. O pesquisador aponta que o contexto de qualquer uma destas necessidades pode
83
ser a própria pessoa, ou o seu papel exigido no trabalho ou na vida desta pessoa, ou ainda os
ambientes (sociais, políticos, econômicos, tecnológicos, etc.) dentro dos quais a vida ou
trabalho desta pessoa acontece. O autor ainda sugere que as barreiras que impedem a busca
por informação surgem dentro destes conjuntos de contextos.
Barreiras
Contexto da necessidade
de informação
Papel Social
Comportamento
de busca de
informação
Pessoa
Estado fisiológico,
afetivo e cognitivo
Ambiente
Pessoal Ambiental
Papel
social/interpessoal
FIGURA 7: Modelo de comportamento de busca de informação
FONTE: WILSON, 1981
Este modelo pode ser descrito como um macro-modelo ou um modelo de
comportamento de busca de informação geral e sugere como as necessidades de informação
surgem e o que pode frustrar (e, implicitamente, ajudar) a busca por informação. O modelo
também engloba, implicitamente, um conjunto de hipóteses sobre comportamento
informacional que são testáveis (sobretudo empiricamente): por exemplo, a proposição de que
a necessidade de informação em papéis de trabalho distintos será diferente, ou que
características pessoais podem inibir ou ajudar a busca de informação (WILSON, 1981).
Assim, este tipo de modelo pode ser considerado como uma fonte de hipóteses para pesquisas
empíricas de estudos de usuário ou ainda para auxiliar os programas de capacitação de
84
usuários frente à busca por informação, no que se refere a identificação da necessidade de
informação em relação a um determinado contexto ou ainda, na identificação de
características positivas e negativas dos usuários que influem na busca de informação.
Porém, ressalta-se que, a fragilidade deste modelo é que todas as hipóteses
estão somente implícitas. Não há qualquer indicação dos processos pelos quais o contexto
tem seu efeito no indivíduo, nem dos fatores que resultam na percepção de barreiras (ou seja,
os fatores que indicam as barreiras), nem se as várias barreiras assumidas têm efeitos
semelhantes ou diferentes na motivação em diferentes indivíduos que buscam por
informação. Entretanto, conforme Wilson (1981), o próprio fato de estar faltando certos
elementos neste modelo, estimula o pensamento sobre os tipos de elementos que um modelo
mais completo deveria incluir.
Assim, Wilson (1996) propõe um novo modelo, baseado na estrutura do
modelo de 1981, em que a pessoa em contexto permanece no foco da necessidade de
informação, enquanto que as barreiras são representadas pelas ‘variáveis interferentes’ e
o(s) comportamento(s) de busca de informação é (são) identificado(s).
Segundo Case (2002), o segundo modelo de Wilson (1996) é complexo, pois
tenta explicar os seguintes aspectos da busca de informação:
• Por que algumas necessidades induzem a uma busca de informação maior
do que outras;
• Por que algumas fontes de informação são mais usadas do que outras;
• Por que, na busca de informação, uma pessoa pode (ou não pode) atingir
os seus objetivos eficientemente, baseada na percepção de sua própria
eficácia.
85
O modelo revisado de Wilson (1996) é apresentado na figura 8. Apresenta o
ciclo de atividades de informação, desde a urgente necessidade de informação até o estágio
em que a informação está sendo usada. O modelo inclui diversas variáveis interferentes que
têm influências significantes no comportamento informacional, além dos mecanismos que o
ativam.
ativação ativação de informação
Auto-eficácia
Busca
contínua
Busca ativa
Busca
passiva
Atenção
passiva
Teoria do
aprendizado
Teoria risco/
benefício
Características
das fontes
ambiente
Papel-social/
interpessoal
Demográfico
psicológico
Processamento
e uso da
informação
Teoria
stress/esforço
Contexto da
necessidade
Mecanismos
de
Variáveis
interferentes
Mecanismos
de
Comportamento
de busca de
informação
Pessoa no
contexto
FIGURA 8: Modelo geral de comportamento informacional.
FONTE: WILSON, 1996.
Inicialmente, apesar do indivíduo (sobretudo o pesquisador) predispor-se de
algumas características para o comportamento de busca de informação, as necessidades de
um médico diferem das de uma enfermeira, por exemplo. E as necessidades dessas mesmas
pessoas variam dependendo das mudanças no ambiente. As características dos papéis que
86
uma pessoa tem na vida, inclusive papéis profissionais, são os efeitos dos padrões de
comportamento estabelecidos em uma sociedade para o papel em particular, incluindo o de
pai, líder, gerente, doutor ou sócio de um grupo em particular, por exemplo
(NIEDŹWIEDZKA, 2003).
As características de um papel profissional, no entanto, são estritamente
conectadas com a posição ocupada, as peculiaridades do trabalho, e seu lugar na hierarquia
profissional. Assim, certos papéis indicam necessidades de informação específicas.
Finalmente, ao analisar o ambiente dos usuários (ou seja, seu contexto) pode-
se levar em conta o macro-ambiente (sistema sócio-político e econômico de um país ou setor
da indústria), o meso-ambiente (quer dizer, ambiente regional, comunidade local, uma cidade
particular) ou o micro-ambiente de uma única organização. Ou seja, o ambiente dentro do
qual vida e trabalho do usuário da informação acontecem, define o seu âmbito social e sua
‘estrutura organizacional’ (o contexto do usuário), inclusive os serviços e sistemas de
informação usados, sua situação econômica, tecnológica, cultural, tradições, etc
(NIEDŹWIEDZKA, 2003).
Inclusive, é o ambiente que condiciona a ocorrência de certas necessidades.
Por exemplo: as necessidades diferem-se, em períodos de mudanças políticas e econômicas,
das necessidades apresentadas por um período
de estabilidade. Da mesma forma, as
características das fontes de informação formais e informais e as funções dos canais de todos
os níveis podem influenciar (estimular ou impedir) a necessidade de informação e determinar
o comportamento informacional.
Deste modo, apesar de Wilson (1996) separar graficamente o contexto da
necessidade de informação em seu modelo, estes fatores contextuais não só influenciam a
ocorrência e determinam o tipo de uma necessidade de informação, como também afetam a
percepção de barreiras de informação e os modos pelos quais uma necessidade é satisfeita
87
(os chamados mecanismos de ativação). Os fatores que condicionam o comportamento
informacional podem ser estimulantes ou preventivos. Para indicar este duplo impacto,
Wilson (1996) usa o termo ‘variáveis interferentes’, em vez de ‘barreiras’, com era usado no
modelo de 1981, além dos ‘mecanismos de ativação’ (stress/esforço e risco/beneficio).
4.2.1.1 Variáveis interferentes
Wilson (1996) extrai de pesquisas de outros campos, incluindo administração,
psicologia, comunicação em saúde e pesquisa do consumidor, vários pontos significativos do
comportamento informacional, para identificar os fatores que compõe o seu modelo. São
estes fatores que influenciam