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As Relações Públicas em Portugal. Uma visão da profissão através do currículo do ensino superior

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Abstract

Com esta investigação ambiciona-se analisar o estatuto da profissão de relações públicas em Portugal através da variável ensino superior em Comunicação/Relações públicas. A partir de um estudo empírico aplicado a profissionais e docentes pretende-se definir as forças e fraquezas do ensino ministrado na preparação dos futuros profissionais, não só numa perspectiva pedagógica-científica mas também do próprio mercado de trabalho. Nos resultados obtidos sobressai o consenso, entre professores e profissionais, sobre o perfil ideal de um licenciado em Comunicação/Relações públicas quanto às suas competências técnicas e características profissionais. Também é visível acordo na análise do elenco curricular, sobretudo na necessidade premente de atribuir maior relevo a determinados conteúdos programáticos. Por outro lado, apesar de concordarem sobre os principais critérios que podem permitir elevar o estatuto profissional das relações públicas a percentagem de profissionais que considera os licenciados preparados para entrar no mercado de trabalho é consideravelmente mais baixa do que a dos educadores. Palavras-chave: Relações públicas,ensino, profissão.
5º SOPCOM – Comunicação e Cidadania
Moisés de Lemos Martins & Manuel Pinto (Orgs.) (2008)
Comunicação e Cidadania - Actas do 5º Congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação
6 - 8 Setembro 2007, Braga: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (Universidade do Minho)
ISBN 978-989-95500-1-8
As Relações Públicas em Portugal. Uma visão da
profissão através do currículo do ensino superior
GISELA GONÇALVES
Departamento de Comunicação e Artes, Universidade da Beira Interior
~ gisela@ubi.pt
Resumo:
Com esta investigação ambiciona-se analisar o estatuto da profissão de relações públicas
em Portugal através da variável ensino superior em Comunicação/Relações públicas. A
partir de um estudo empírico aplicado a profissionais e docentes pretende-se definir as
forças e fraquezas do ensino ministrado na preparação dos futuros profissionais, não só
numa perspectiva pedagógica-científica mas também do próprio mercado de trabalho.
Nos resultados obtidos sobressai o consenso, entre professores e profissionais, sobre o
perfil ideal de um licenciado em Comunicação/Relações públicas quanto às suas
competências técnicas e características profissionais. Também é visível acordo na
análise do elenco curricular, sobretudo na necessidade premente de atribuir maior relevo
a determinados conteúdos programáticos. Por outro lado, apesar de concordarem sobre
os principais critérios que podem permitir elevar o estatuto profissional das relações
públicas a percentagem de profissionais que considera os licenciados preparados para
entrar no mercado de trabalho é consideravelmente mais baixa do que a dos educadores.
Palavras-chave:
Relações públicas,ensino, profissão
O estatuto e legitimidade da profissão de relações públicas na sociedade têm sido largamente
debatidos nas últimas décadas. A maioria dos autores aponta para a urgente necessidade das
relações públicas alcançarem um status profissional que lhes permita obter credibilidade e
responsabilidade no interior das organizações. O campo de acção das relações públicas, ao contrário
da percepção mais comum, não deve ser limitado à publicity ou à construção de uma imagem
positiva. As relações públicas, como algumas definições bem enfatizam, podem contribuir para a
gestão estratégica da comunicação desenvolvida pelas organizações na construção de relações
longas e mutuamente benéficas com os vários stakeholders. Ou seja, a actividade das RP não deve
ser guiada apenas pelos interesses da organização mas também pelas necessidades, valores e
interesses da sociedade.
Segundo vários investigadores, o estatuto profissional das relações públicas só poderá ser
alcançado quando for ao encontro de critérios básicos a todas as profissões, tais como manter um
código ético, servir o interesse público, possuir um corpo teórico de conhecimentos e competências
técnicas especializadas, oferecer um serviço único e de qualidade na sociedade e, existirem
organizações profissionais sólidas. (Agee et al. 1992; Hainsworth 1993; Sallot et al. 1998b; Wylie
1994)
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5º SOPCOM – Comunicação e Cidadania
O estatuto profissional das relações públicas em Portugal é aqui estudado através da variável
ensino superior em Ciências da Comunicação/Relações públicas. Através do estudo empírico
aplicado a profissionais e docentes especializados nesta área da comunicação esta investigação
ambiciona analisar até que ponto o ensino superior prepara os alunos para se tornarem profissionais.
As diferentes percepções documentadas permitem analisar as competências e características
pessoais que melhor descrevem o perfil ideal de um licenciado; o nível de preparação do recém-
licenciado à entrada no mercado de trabalho; determinar o elenco curricular ideal; e, definir os
critérios essenciais ao reconhecimento do estatuto da profissão de relações públicas. Em última
análise, pretende-se definir as forças e fraquezas do ensino ministrado na preparação dos futuros
profissionais, numa perspectiva pedagógica mas também do próprio mercado de trabalho, com o
intuito de perceber não apenas como a educação contribui para a profissão mas sobretudo, para
identificar as áreas em que o ensino deve ser melhorado.
Revisão Bibliográfica
A questão sobre se as Relações Públicas (RP) são uma profissão ou apenas uma habilidade
tem sido muito debatida ao longo da última década, especialmente por investigadores norte
americanos e do Reino Unido. Através da bibliografia consultada para efectuar este estudo tentou-se
documentar a percepção de investigadores, docentes e profissionais sobre o actual status da
profissão de RP, quais os critérios mais importantes para fundamentar e desenvolver o seu grau de
profissionalismo e, fundamentalmente, qual o contributo da educação nessa mesma busca.
Muitos autores (Agee et al. 1992; Hainsworth 1993; Sallot et al. 1998b; Wylie 1994) são da
opinião de que as RP ainda têm muito que caminhar para provarem que são e que devem ser
reconhecidas como uma profissão. Os critérios característicos desta profissão são discutidos tanto
por autores da especialidade (Sallot et al. 1998b; Wylie, 1994) como por Associações Profissionais
Nacionais e Internacionais de RP (Gonçalves, 2006). Com base nestas análises podem-se identificar
os 7 principais critérios que de seguida foram utilizados para avaliar a opinião de docentes e
profissionais sobre a profissão de RP:
1. Seguir um código deontológico e de conduta profissional.
2. Comprometer-se a servir o interesse público e a ser socialmente responsável.
3. Desenvolver competências técnicas e de investigação (competências técnicas inclui escrita,
expressão oral, planificação, etc.; competências em investigação como a habilidade para
conduzir investigação quantitativa e qualitativa através de sondagens, entrevista, focus
groups, etc.).
4. Ser membro de organizações profissionais (APECOM, IPRA, IABC, ICCO, etc.).
5. Providenciar um serviço único à organização e à comunidade (o profissional de RP está
especialmente preparado para oferecer um serviço de aconselhamento que não pode ser
dado por qualquer outro tipo de profissional).
6. Apostar na formação contínua, seja em pós-graduações académicas seja em cursos de
aperfeiçoamento técnico.
7. Estabelecer relações continuadas com instituições de ensino superior (quer seja através da
oferta de estágios quer da participação em workshops ou seminários).
Sobre o papel da educação superior em RP para elevar o status da profissão pode-se observar
que muitos autores advogam a necessidade de treino especializado e continuado (Grunig 1989; Sallot
1997, 1998; Turk 1989; Van Leuven 1989) e também, a urgência de chegar a um consenso sobre o
qual o curriculum de educação em RP ideal (Sallot 1997, 1998; Van Leuven 1989 ). Sallot et al (1997,
1998a) descobriram que educadores e profissionais têm visões diferentes sobre a profissão e
concluíram que, para melhorar a educação, primeiro é necessário estar de acordo sobre quais são os
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padrões profissionais e qual o curriculum de RP mais apropriado. Certamente que a falta de
consenso torna difícil definir exactamente o que são as RP e como podem contribuir para o sucesso
das organizações.
O facto do campo académico e científico das RP ser relativamente novo pode explicar a
dificuldade em encontrar um consenso sobre quais as disciplinas centrais e os conteúdos essenciais
à formação superior em RP. No entanto, a maioria dos autores defendem que os estudantes de RP
devem receber uma ampla educação em ciências sociais e humanidades em conjunto com disciplinas
mais especializadas de RP. Alguns desses investigadores recomendam que os estudantes de RP
recebam formação em psicologia, sociologia e humanidades (Falb 1992; Kruckeberg 1998; Van
Leuven 1989a) e outros realçam a importância de conteúdos de gestão, direito, economia e história
(Heath 1991). Na opinião de Kruckeberg (1998) os estudantes de RP também devem possuir
conhecimentos e competências técnicas no âmbito do jornalismo e da comunicação de massas.
A inclusão de cadeiras de gestão e economia na educação em RP é uma das recomendações
mais redundantes (Berkowitz 1999; Falb 1992; Grunig 1989; Heath 1991; Kinnick 1994; Turk 1989;
Van Leuven 1989). Este facto é compreensível uma vez que, tal como Sriramesh e Hornaman
defendem, existem poucas dúvidas sobre o facto das RP se terem vindo a afirmar cada vez mais
como “management-based and strategy driven” (Sriramesh et al 2006, 159).
Outras disciplinas muitas vezes mencionadas como essenciais à boa formação em RP são a
Teoria das RP e as Técnicas de investigação (Grunig 1989; Heath 1991). Segundo Grunig (1989), um
dos maiores benefícios em introduzir os estudantes na teoria das RP advém da possibilidade de eles
poderem vir a contribuir no futuro para desenvolver o seu corpo de conhecimento. Também Heath
(1991) corrobora a importância de conduzir investigação útil e rigorosa em RP, que contribua para
aumentar a respeitabilidade deste campo científico.
Finalmente, a mais curiosa recomendação é sem dúvida a referencia à inclusão da Ética e
Deontologia no currículo de RP (Grunig 1989; Heath 1991; Turk 1989; Pratt et al 1989). Tendo
presente as muitas vozes críticas que se referem a RP como eufemismo para manipulação,
propaganda ou spin, dar relevo à educação ética talvez seja uma das suas melhores defesas. Porque
como Pratt and Rentner (1989: 53) argumentam, “high ethical standards in the practice are seen as
substantially contributing to the professionalization of the occupation”.
Em suma, muitos são os investigadores do campo das RP que defendem a educação superior
como um factor chave para fazer evoluir a profissionalização desta ocupação. E é com base nas suas
opiniões que se identificaram as seguintes questões de investigação:
1.
a) Qual a percepção dos docentes de comunicação/RP em relação ao curriculum actual de
ensino superior em RP?
b) Qual a percepção dos profissionais de Comunicação/ RP em relação ao curriculum actual
de ensino superior em RP?
2.
a) Qual a opinião dos docentes de comunicação/RP em relação ao curriculum ideal de
ensino superior em RP?
b) Qual a opinião dos profissionais de comunicação/RP em relação ao curriculum ideal de
ensino superior em RP?
3.
a) Qual a opinião dos docentes de comunicação/RP quanto à preparação dos recém-
licenciados à entrada no mercado de trabalho?
b) Qual a opinião dos profissionais de Comunicação/RP quanto à preparação dos recém-
licenciados à entrada no mercado de trabalho?
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4.
a) Qual a percepção dos docentes de Comunicação/ RP sobre o perfil ideal do profissional
de RP?
b) Qual a percepção dos profissionais de Comunicação/ RP sobre o perfil ideal do
profissional de RP?
Metodologia
Um estudo exploratório através de questionário auto-administrado via e-mail foi o método
utilizado para reunir dados sobre profissionais e docentes de RP em Portugal. A amostra de docentes
a inquirir foi formada apenas com base nos cursos de ensino superior público e os contactos obtidos
no acesso directo aos sites institucionais das universidades que ministram cursos de graduação na
área das Ciências da Comunicação/RP. A amostra de profissionais a estudar foi delimitada através
da consulta dos sites das Associações profissionais de Comunicação e RP (APECOM e APCE) e da
Associação Portuguesa de Municípios Portugueses uma vez que, se pretendia obter respostas de
profissionais que desenvolvem funções em departamentos internos de Empresas/Instituições mas
também de profissionais que pertencem a agências de comunicação especializadas1. A partir de uma
amostra de 120 indivíduos obtiveram-se 57% de respostas válidas, divisíveis em 4 grupos distintos:
Docentes, profissionais de empresas, câmaras municipais e agências de comunicação.
O inquérito de opinião foi aplicado entre Abril e Junho de 2007 via e-mail onde se explicava o
objectivo do estudo e se solicitava o preenchimento de um questionário através do acesso ao site
criado especialmente para a ocasião.2 O inquérito foi constituído com base em 6 questões fulcrais. Na
primeira questão inquiria-se sobre o grau de importância a atribuir a uma lista de competências
técnicas e características pessoais na definição do perfil ideal do licenciado em Ciências da
Comunicação/RP e se esta lista seria suficiente para descrever esse mesmo perfil. Na segunda
questão pretendia-se obter a opinião dos inquiridos sobre a importância para a formação superior em
RP de 25 disciplinas ou áreas de estudo e, qual a percepção de docentes e profissionais sobre o
relevo que lhes é atribuído actualmente nos currículos em vigor. Os inquiridos foram também
questionados sobre qual a localização departamental mais indicada para uma licenciatura em RP no
ensino superior e qual as áreas de pós-graduação mais indicadas para a prossecução de estudos no
ensino superior na terceira e quarta questão. Com a quinta pergunta pretendia-se obter a opinião dos
inquiridos que já trabalharam com estagiários de RP sobre o grau de preparação dos recém
licenciados. Finalmente, foi pedido a todos que ordenassem por ordem de importância os sete
critérios que caracterizam ou podem contribuir para o profissionalismo das RP.
Apresentação crítica dos resultados
A investigação desenvolvida ambiciona analisar o estatuto da profissão de RP em Portugal
através da variável ensino superior em Comunicação/RP. Com a aplicação de um estudo exploratório
junto de docentes e profissionais especializados em RP e comunicação aplicada pretende-se definir
as forças e fraquezas do ensino ministrado na preparação dos futuros profissionais, não só numa
perspectiva pedagógico-científica mas também na visão do próprio mercado de trabalho.
O ensino superior em comunicação tem vindo a expandir-se de forma exponencial, sobretudo
desde o boom dos cursos de Ciências da Comunicação na década de 1990. Curiosamente, entre a
1 Associação Nacional de Municípios portugueses (ANMP): www.anmp.pt (acedido em Abril de 2007);
Associação Portuguesa de Empresas de Conselho em Comunicação (APECOM): www.apecom.pt (acedido em Abril de 2007);
Associação Portuguesa de Comunicação de Empresa: www.apce.pt (acedido em Abril de 2007).
2 http://bocc1.ubi.pt/~inqueritos/2007/gisela.goncalves-a.educacao.em.rp/
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oferta de 43 cursos distribuídos por diferentes instituições de ensino superior público e de ensino
superior particular e cooperativo apenas 6 cursos contêm as palavras Relações Públicas na sua
denominação. Por ano, segundo dados do Ministério da Educação, o ensino superior português
disponibiliza cerca de 2500 vagas para todos os alunos que ambicionam seguir carreiras ligadas ao
Jornalismo, Relações Públicas, Comunicação audiovisual ou Publicidade.3
Apesar da juventude desta área de estudos consegue-se observar a sua forte presença no
mercado de trabalho, tanto em departamentos de comunicação de diferentes tipos de organizações
como, em empresas especializadas em consultoria de comunicação. A grande maioria dos
profissionais inquiridos é formada em Ciências da Comunicação (77%), seguindo-se 9% em
Economia/Gestão de empresas, 4% em Relações Internacionais e, os restantes 10% subdividem-se
por áreas de graduação muito diferenciadas (Filosofia, Sociologia, Psicologia, Design Multimédia e
Educadores de Infância).
Tendo presente a heterogeneidade dos profissionais inquiridos, os dados que a seguir se
analisam são tratados através da comparação entre 2 grupos: grupo docente/grupo profissionais.
Sempre que pertinente esta comparação desenvolve-se mais especificamente entre o grupo docente
e o grupo de profissionais subdividido em 3 subgrupos: empresas; câmaras municipais e agências de
comunicação.
a) Perfil ideal de um licenciado em Relações Públicas
Com base na revisão bibliográfica, os inquiridos foram questionados sobre a importância de 11
competências técnicas e características pessoais para caracterizar um licenciado em Ciências da
Comunicação/RP. Os resultados indicaram a existência de um consenso entre docentes e
profissionais sobre a importância dessas variáveis. A maioria dos inquiridos de ambos os grupos
assinalou os 11 itens como “importantes” ou “muito importantes”. O “Domínio da língua portuguesa
escrita e oral” foi o elemento mais consensual da listagem, com 100% dos docentes e 98% dos
profissionais a considerarem muito importante para caracterizar um profissional de RP. Segue-se de
perto o acordo quanto à importância da “Sensibilidade na comunicação interpessoal”, com 80% dos
docentes e 82% dos profissionais.
“Competência na planificação de estratégias de comunicação”, “Pró-actividade na resolução de
problemas e negociação de conflitos” e “Eficiência na produção de mensagens para diferentes meios”
seguem na lista das variáveis consideradas muito importantes por ambos os grupos de inquiridos.
Menos claro é o facto de 40% dos profissionais considerar muito importante o “Domínio das técnicas
de análise e segmentação de audiências” e apenas 17% dos docentes concordar. Tendo presente a
constante evolução tecnológica e a necessidade de acompanhar as tendências da planificação de
meios é algo surpreendente que os docentes não considerem esta componente mais importante.
Em suma, apesar da opinião muito consensual entre docentes e profissionais quanto à
importância das 11 características enunciadas podem-se encontrar pequenas nuances no ranking de
cada grupo de entrevistados. A lista de características pode ser ordenada com base nas respostas de
ambos os grupos, ressalvando-se que todos os itens foram considerados importantes, mesmo os que
constam do final da lista. Esta lista é apresentada no Apêndice A.
b) Nível de preparação do recém-licenciado em Relações Públicas
Ao contrário da alínea anterior verificam-se bastantes discrepâncias de opinião entre
profissionais e docentes quanto ao nível de preparação do recém-licenciado/estagiário à entrada no
mercado de trabalho. Segundo os docentes inquiridos os alunos possuem moderada ou bastante
3 Os dados referentes a cursos e vagas do ensino superior foram obtidos no portal governamental oficial de Acesso ao Ensino
Superior: http://www.acessoensinosuperior.pt/ (acedido em Julho de 2007).
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preparação em 6 dos 9 itens indicados, pois apenas em relação à “Apresentação e expressão em
público”, “Análise de audiências” e “Juízo ético” foram considerados pouco ou nada preparados. Já a
opinião dos profissionais é inversamente proporcional na medida em que, a maioria dos inquiridos
considera que os recém-licenciados possuem pouca ou nenhuma preparação em 6 dos 9 itens
enumerados. “Aplicação da teoria das RP”, “Novas Tecnologias” e “Juízo ético” são as variáveis em
que os profissionais consideram que os recém licenciados têm melhor preparação aquando o
primeiro contacto com a profissão.
A análise da variável “Juízo ético” é a mais exemplificativa da oposição de opiniões. De facto, é
curioso que 57% dos profissionais considerem que os recém-licenciados apresentam uma
preparação “moderada ou boa” para desenvolverem “Juízo ético” enquanto que, apenas 27 % do
grupo de docentes os consideram moderadamente preparados. O facto de 64% dos docentes ver os
seus ex-alunos pouco ou mesmo nada preparados para desenvolverem juízos éticos quando
enveredam na profissão levanta duas questões fulcrais. Por um lado, coloca a dúvida sobre qual o
relevo que é dado actualmente à questão ética no currículo de ensino superior, como se tentará
analisar de seguida e por outro, faz necessariamente reflectir sobre qual o tipo de profissionais que se
estão a formar para o mercado de trabalho.
No geral, a análise dos dados leva-nos a concluir que os profissionais são mais críticos do que
os docentes quanto ao grau de preparação do recém-licenciado para iniciar a vida activa. A opinião
dos dois grupos só é consensual quanto à fraca preparação dos alunos no que se refere à “Análise
de audiências” e “Apresentação em Público”. Os docentes são muito mais optimistas quanto ao grau
de preparação dos alunos para o mercado de trabalho, uma posição que só é subscrita pelos
profissionais no que se refere à “Aplicação da teoria das RP” e à utilização das “Novas Tecnologias”.
Paradoxalmente, uma vez que como se verá a seguir, as novas tecnologias não foram consideradas
fulcrais para a formação superior em RP, a maior percentagem de opiniões sobre o elevado grau de
preparação do recém-licenciado quando entra na vida profissional recaiu mesmo nesta última
variável.
c) O elenco curricular da licenciatura em Relações Públicas
Através da revisão bibliográfica e da análise dos diferentes currículos em vigor no ensino
superior português foi criada uma lista com as 25 disciplinas ou áreas de estudo consideras centrais
para a formação em RP. Os inquiridos foram desafiados a classificar as disciplinas por grau de
importância e, ao mesmo tempo, para opinarem sobre o relevo curricular que lhes é atribuída
individualmente no currículo actual da licenciatura em Ciências da Comunicação/RP.
Através da análise das disciplinas assinaladas com “bastante ou muitíssimo importante” com
mais de 50% de respostas consegue-se determinar a lista das 10 disciplinas centrais (Apêndice B).
“Gestão e comunicação de crise, assessoria de imprensa, planificação de estratégicas de
comunicação, comunicação interna” são as 4 disciplinas ou áreas de estudo consideradas mais
importantes e que coincidem na opinião de docentes e profissionais. O consenso mantém-se quanto
às disciplinas menos importantes uma vez que os dois grupos de inquiridos dão pouca importância a
“Produção Rádio/TV; Fotografia/Cinema; Design/Artes Gráficas e Web Design” na formação em RP.
Se se compararem os dados obtidos sobre as disciplinas mais importantes com os dados
relativos à percepção que os inquiridos têm sobre o relevo que é dado nos currículos vigentes
verificam-se claras divisões de opinião não só na comparação docentes/profissionais mas em
especial entre os diferentes grupos de profissionais, Por exemplo, 50% dos docentes, dos
profissionais de empresas e dos profissionais de maras Municipais considera que é dado suficiente
relevo ao estudo da “Assessoria de imprensa” enquanto que apenas 31% dos profissionais de
Agências de Comunicação concorda; 58% dos docentes, 68% dos profissionais de agências e 41%
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dos profissionais de Câmaras municipais pensa que é dado pouca importância ao ensino “da Gestão
e Comunicação de Crise” enquanto que apenas 16% dos profissionais de empresas são da mesma
opinião. Talvez fosse interessante investigar o porquê do grupo das agências de comunicação
integrar profissionais mais cépticos sobre a qualidade do currículo de ensino superior.
Além da “Gestão e Comunicação de crise”, as disciplinas em que se detecta maior
desfasamento sobre a sua importância para a formação em RP e a percepção do relevo que lhe é
atribuído actualmente nos currículos de ensino superior são “Comunicação política” e “Estratégias de
Lobby”. Os dados mostram que 79% dos docentes e 53% dos profissionais considera a “comunicação
política” muitíssimo importante para a formação superior em RP e que, paralelamente, 79% dos
docentes e 49% dos profissionais pensa ser-lhe atribuída pouca importância nos currículos actuais.
d) Critérios que caracterizam a profissão de RP
Através da análise das resposta sobre a lista de 7 critérios que com base na revisão
bibliográfica se definiram como fundamentais para a profissão de RP sobressai o consenso quanto à
importância de “Seguir um Código deontológico”, “Servir o interesse público” e “Providenciar um
serviço único”. Curiosamente, comparando os dados dos 3 grupos de profissionais sobressai uma
menor percentagem de respostas do grupo “Empresas” ao critério “Servir o interesse público”. Este
facto mostra a necessidade de reflectir sobre até que ponto estes profissionais enfrentam maiores
dilemas morais quanto ao dever para com o empregador e para com a sociedade, ou o interesse
público.
“Ser membro de organizações profissionais” é o critério considerado claramente menos
importantes para todos os inquiridos. Uma interpretação possível para este facto pode ser encontrado
na juventude da profissão e consequente falta de corporativismo.
O facto de se ter solicitado uma ordenação dos critérios e não uma quantificação de cada
critério produz dificuldades na interpretação das respostas uma vez que, como alguns inquiridos
enfatizaram, todos os critérios são importantes e devem ser seguidos pelo bom profissional.
Desenvolver uma nova investigação no futuro sobre o que caracteriza o profissionalismo em RP
impõe-se pela pertinência.
Conclusão
Os resultados indicam que ambos os grupos inquiridos, docentes e profissionais, estão de
acordo sobre o perfil ideal de um licenciado em Comunicação/RP quanto às suas competências
técnicas e características profissionais. Também é visível consenso na análise do elenco curricular,
sobretudo quanto à necessidade premente de atribuir maior relevo a conteúdos como “Gestão e
comunicação de crise, Estratégias de Lobby e Comunicação política”. Por outro lado, apesar de
ambos os grupos de inquiridos concordarem sobre os principais critérios que podem permitir elevar o
estatuto profissional das relações públicas (seguir um código deontológico, servir o interesse público
e providenciar um serviço único) a percentagem de profissionais que considera os licenciados
preparados para entrar no mercado de trabalho é consideravelmente mais baixa do que a dos
educadores.
Uma da conclusões mais importantes a retirar deste estudo incide necessariamente sobre o
contributo da educação superior em RP para o crescimento da profissão uma vez que, se detectam
muitos pontos comuns entre professores e profissionais sobre a importância das questões
equacionadas ao longo deste estudo sobre o ensino das RP.
É também de realçar que os inquiridos apontaram consensualmente as Ciências da
Comunicação como a mais correcta localização científica para uma licenciatura em RP, com apenas
21% dos docentes e 16% dos profissionais a referirem o Marketing como 2ª opção. Questionados
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5º SOPCOM – Comunicação e Cidadania
ainda sobre qual a área de pós-graduação mais relevante para um profissional de RP que pretenda
prosseguir estudos, 79% docentes e 76% profissionais apontaram claramente a especialização em
diferentes ramos das RP, seguindo-se muito de longe, mais uma vez, pelo Marketing. Talvez no
futuro fosse interessante alargar o estudo a docentes da área do Marketing para perspectivar a sua
opinião sobre o ensino das RP e compará-la com os dados aqui alcançados.
Referências
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200 As Relações Públicas em Portugal
5º SOPCOM – Comunicação e Cidadania
Apêndice A
“Perfil ideal de um Licenciado em Ciências da Comunicação/RP:
competências técnicas e características pessoais”
Ranking Docentes Profissionais
1 Domínio da língua portuguesa escrita e oral Domínio da língua portuguesa escrita e oral
2 Sensibilidade na comunicação interpessoal Sensibilidade na comunicação interpessoal
3 Competência na planificação de estratégias de
comunicação
Eficiência na produção de mensagens escritas em
diferentes meios
4 Facilidade de apresentação e comunicação em público Competência na planificação de estratégias de
comunicação
5 Eficiência na produção de mensagens escritas em
diferentes meios
Pró-actividade na resolução de problemas e negociação
de conflitos
6 Pró-actividade na resolução de problemas e negociação
de conflitos Facilidade de apresentação e comunicação em público
7 Domínio das técnicas de análise e segmentação de
audiências Fluência em inglês ou em outra língua estrangeira
8 Fluência em Inglês Capacidade de liderança
9 Pensamento crítico Pensamento crítico
10 Fluência em inglês ou em outra língua estrangeira Fluência em inglês
11 Capacidade de liderança Domínio das técnicas de análise e segmentação de
audiências
G. Gonçalves 201
5º SOPCOM – Comunicação e Cidadania
APÊNDICE B
“Formação superior em Ciências da Comunicação/RP:
disciplinas e áreas de estudo fundamentais”
Ranking Docentes Profissionais
1 Gestão e comunicação de crise
Língua estrangeira
2 Assessoria de Imprensa
Comunicação interna
3 Cultura/filosofia organizacional
Gestão e comunicação de crise
4 Ciências Sociais
Assessoria de imprensa
5 Jornalismo
Planificação de estratégias de comunicação
6 Publicidade
Ética da Comunicação
7 Língua estrangeira
Marketing
8 Marketing
Deontologia das RP
9 Planificação de estratégias de comunicação Jornalismo
10 Comunicação interna
Técnicas de Pesquisa
Conference Paper
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Este artigo tem como principal objetivo analisar as actas do Grupo de Trabalho de Comunicação Organizacional e Institucional da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (SOPCOM) ao longo do 10 congressos realizados em Portugal. Realizou-se uma análise bibliométrica com o intuito de identificar a quantidade de artigos publicados em comparação com os demais Grupos de Trabalho, os géneros, países/universidades dos autores e também o perfil das investigações apresentadas em Congressos (práticas/teóricas). Conclui-se que há uma maior representatividade do género feminino e que o número de artigos publicados pelo GT COI foi aumentando progressivamente ao longo do tempo. The main objective of this artice is to analyze the proceedings of the Working Group of Organizational and Institutional Communication of the Portuguese Association of Communication Sciences (SOPCOM) during the 10 congresses held in Portugal. For this, a bibliometric analysis was carried out in order to identify the number of articles published in comparison to the other Working Groups, the genres, countries / universities of the researchers and also the profile of these investigations (practical / theoretical). After collecting and interpreting the data, it was concluded that there is a greater representation of the female gender and that the number of articles published by this WG increased progressivly over time.
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This study attempts to evaluate the efficacy of undergraduate public relations programmes in the United States. The study surveyed 155 public relations educators and practitioners to determine their impressions on factors such as whether students are being imparted the knowledge and experience to become public relations practitioners, the knowledge and skills respondents thought students ought to possess to become successful professionals, the skills new graduates should possess, and the characteristics of the public relations profession. Results revealed agreement among educators and practitioners about the subjects that should be taught in undergraduate public relations programmes, including the knowledge and skills recommended by the Commission for Public Relations Education. Respondents did not agree on the best career plan for future public relations professionals. However, a majority felt that majoring in public relations with a minor in business was the best thing for students who want to work in this field. Respondents felt that not all of the subjects they deemed important were currently being taught in all public relations programmes. Both practitioners and educators agreed that graduates were well trained in the use of new technologies for public relations. However, the percentage of practitioners who felt that graduates were prepared to enter the public relations profession was considerably lower than educators.
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A survey instrument operationalizing twenty-four elements of professional performance was administered to 291 public relations educators across the nation, yielding a 43.6 percent response rate. Respondents assessed the extent to which a standard of professionalism currently exists for each of the twenty-four items. Educators tended to view writing/editing and graphics/production skills, ethical guidelines, accreditation, and ''public relations as advocacy'' as enjoying well-established standards. Licensing, location of public relations on the organizational chart and inclusion of public relations in the dominant coalition were viewed as most lacking in a standard of professional performance. The twenty-four items factored into six: dimensions. Assessments of professionalism along these six factors differed significantly as a function of sex, region, tenure of teaching, size of institution, and whether the educator was accredited by PRSA. Comparing educators' assessments with practitioners' views expressed in an earlier national survey, it is dear that professional standards in public relations have pet to have coalesced among educators or practitioners. Given the influence that educators have on the future of the field, it is imperative that educators work to elevate the profession by promulgating professional standards among their students. This study, conducted under the auspices of the Yarbrough Public Relations Laboratory, is a follow up to results of a survey of practitioners reported in the article titled ''Developing Standards of Professional Performance in Public Relations'' published in Public Relations Review in 1996.
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This article contends that public relations is a professional occupation that has become more than a subset or specialization of other disciplinary areas. Perspectives of professional and disciplinary areas that have had a strong influence on public relations education must be reevaluated.The integrity of public relations professional education must take precedence over academic unit perspectives and biases; furthermore, public relations as a professional occupation is ideological—with its own set of professional values and beliefs. The new Commission on Public Relations Education must recognize public relations is an occupation that requires its own identity as well as clearly defined professional parameters.
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The Review has a policy of leading each issue, whenever possible, with a commentary, rather than an article based on empirical research. Often these commentaries have been by leading practitioners, but contributions are welcomed from academics and others concerned with this field. We hope these commentaries will inspire further discussion and rebuttals, and we welcome letters to the editor in response.
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In keeping with our policy to lead each issue of the Review with a professional commentary as often as possible, this piece provides a comment countering Dr. Brad E. Hainsworth's presentation in the last issue of the Review ("Professionalism in Public Relations," Winter 1994, p. 311). We invite professionals and academics to submit commentaries to the Review.
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This expression of opinion has been received by the Public Relations Review as a letter to the editor. We felt it should be published here in this discussion of public relations education.