Introdução:
A fauna é uma das componentes ambientais sobre as quais as actividades humanas exercem influências de diversas ordens. Estão neste caso as acções de florestação ou de desflorestação, cujos impactes podem ser encarados, quer a uma escala local quer a uma escala mais vasta, regional por exemplo. Ainda que à escala local os impactes possam ser negativos, estes podem não o ser, necessariamente, à escala regional. No caso particular dos projectos de arborização, os impactes sobre a fauna verificam se sempre e o saldo entre impactes negativos e positivos depende de vários factores. Estes incluem o tipo de formação vegetal pré‑existente – e logo o seu inerente valor faunístico potencial, relativo às suas zoocenoses potenciais, bem como a natureza específica das espécies animais presentes – a espécie de árvore que se pretende instalar, o seu regime de exploração (talhadia ao alto fuste) e, em particular, o tempo decorrido entre os cortes de exploração, o tipo de preparação do terreno, o faseamento da sua instalação, a área do povoamento a instalar e a extensão da mancha contínua que se cria.
As plantações de eucalipto devem ser encaradas na perspectiva de uma cultura industrial que, embora tendo as suas próprias características, enfermam, no que diz respeito aos impactes sobre a fauna selvagem, dos mesmos defeitos gerais imputáveis às culturas monoespecíficas intensivas, sejam elas agrícolas ou florestais, constituídas por espécies exóticas ou alóctones (choupos, girassol, arroz, trigo, etc.). A silvicultura intensiva, cujo objectivo é maximizar a produção de lenho, leva à constituição de um estrato arbóreo monoespecífico, onde se procura controlar ou eliminar todos os factores, estruturas e organismos que com ele compitam, o que faz distanciar as plantações de cultura intensiva das florestas naturais (como os bosques de carvalhos e galerias ripícolas), ou tradicionais exploradas extensivamente (como os montados), mais complexas nas suas biocenoses.
A monoespecifidade, a uniformidade em termos de estrutura (povoamentos equiénios), as intervenções culturais e extractivas, o corte relativamente precoce do arvoredo, tornam a cultura do eucalipto num sistema ecológico particular.
As implicações destas plantações florestais na diversidade da fauna selvagem têm sido objecto de numerosos estudos a nível mundial desde há mais de três décadas, sendo merecedoras de realce as obras pioneiras dos anos 70 do século XX que abordaram o problema, como as editadas por Smith (1975), DeGraaf (1978), DeGraaf & Evans (1979) ou DeGraaf & Tilghman (1980), nos Estados Unidos da América, ou as de Ford et al. (1979) ou Malcolm & Atterson (1979), na Grã‑Bretanha. Neste sentido, é de realçar o importante progresso que se tem verificado ao nível das preocupações ambientais por esse mundo fora, principalmente no que se refere ao fomento da vida selvagem nas plantações de espécies de rápido crescimento para produção de lenho, nomeadamente na procura de soluções que cumpram este objectivo.
Em traços gerais, os possíveis impactes das plantações intensivas de eucalipto na fauna selvagem dividem‑se em três grandes grupos: 1) sobre as comunidades animais; 2) sobre as espécies ameaçadas e 3) sobre a diversidade faunística da região. Quanto à escala a que se exercem, podemos considerar que os primeiros dois grupos de impactes tendem a verificar se à escala local – ao nível da unidade de gestão – enquanto o terceiro grupo já se verifica a uma escala mais vasta, da paisagem.