De acordo com a carta de Ottawa (WHO, 1986), a Promoção da Saúde é [...] o nome dado ao processo de capacitação da comu-nidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente (grifo nosso). A saúde mental compartilha dos mesmos determinantes da saúde em geral, como níveis de renda, escolaridade, segurança física e alimentar, acesso a serviços de saúde e às redes de apoio social. Portanto, são necessárias ações políticas mais amplas para modificar e favorecer o meio ambiente onde as pessoas vivem, a fim de promover sua saúde física e mental. Discutir promoção da saúde mental num país como o Brasil, onde 30% dos adultos apresentam sintomas de trans-tornos mentais comuns (Nunes e Onocko-Campos, 2014), parece ser tarefa bastante oportuna para o momento atual. A mobilização social gerada pela Luta Antimanicomial como reação às condições indignas e desumanas da assistência em saúde mental no passado recente do Brasil, colocou o país numa posição central na luta pelos direitos humanos das pessoas com transtornos mentais. A atual Política Nacional de Saúde Mental, produto dessa luta e conquista legítima da sociedade brasileira, tem centrado seus esforços atuais nas várias dimensões da re-forma psiquiátrica: política, clínica, sociocultural, jurídica, assistencial, bem como na formação de recursos humanos, as quais se traduzem na construção e organização dos serviços e da rede assistencial; na capacitação profissional e manutenção de um programa permanente de formação de recursos humanos para reforma psiquiátrica e na pró-pria consolidação dos ideais da reforma (Bezerra-Filho, 2007). Tais assuntos têm norteado as prioridades da atual Política Nacional de Saúde Mental, como não poderia deixar de ser. Contudo, certas questões, como a atenção às pessoas que sofrem com a crise social, a violência e o desemprego, bem como a atenção integral aos usuários de álcool e outras drogas ainda são desafiadoras para a atual Política Nacional de Saúde Mental, o que revela a nossa dificuldade e os entraves para o alcance da integralidade da atenção (Brasil, 2010). A discussão sobre os determinantes sociais do processo saúde-doença, seu impacto na saúde mental e o aprofunda-mento nos aportes teóricos da Promoção da Saúde seriam, portanto, de grande valia no momento atual para os profis-sionais de saúde em geral, já que tais referenciais são funda-mentais para se dar "os próximos passos" da saúde mental no Brasil rumo à integralidade da atenção. Entretanto, para que tal construção se dê, também é necessário-e fundamental-que haja reconhecimento, por parte dos profissionais de saúde em geral, de que a saúde mental é parte integrante da saúde; que os serviços de saúde mental não estão desarticulados e independentes do restante da rede de serviços e, sobretudo, que a atual Política Nacio-nal de Saúde Mental, por ser de base aberta e comunitária, enfatiza o direito das pessoas com transtornos mentais tran-sitarem livremente pelos serviços de saúde em geral, a fim de resolverem seus problemas e necessidades, o que se traduz na presença desses indivíduos diariamente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), nas Unidades de Saúde da Família (USF), Ambulatórios de especialidades, bem como nos consultórios odontológicos, Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) e nos demais serviços de saúde. As dificuldades encontradas pelos profissionais de saúde em geral (que não sejam especialistas na área mental ou que não estejam lotados em Unidades de Saúde Mental) tradu-zem-se em cenários de desatenção à saúde geral e à saúde bucal dos indivíduos com transtornos mentais. Nesse quadro incluem-se os Cirurgiões-Dentistas. Isso, certamente, é resultado da falta de conhecimento, debate e reflexão sobre a saúde mental, tanto no que diz res-peito à sua importância, aos aspectos ligados aos transtornos, ao cuidado e às abordagens, quanto (principalmente) ao papel de promover saúde, que é inerente a todos esses profissionais. O presente capítulo, nesse sentido, busca induzir à re-flexão em torno da saúde mental e de sua promoção. Para tanto, estrutura-se quatro partes: A primeira parte trata de conceitos, recomendações, experiências e outras reflexões em torno da saúde e da doença mental, segundo a OMS 1;2. A segunda parte traz o histórico de lutas da sociedade brasileira para a construção do atual modelo de atenção, traduzido na Política Nacional de Saúde Mental (PNSM). A terceira parte oferece um panorama do impacto da saúde mental na saúde bucal e vice-versa, bem como a dificuldade dos cirurgiões-dentistas em lidar com o assunto. E a quarta parte busca traduzir o momento atual da saúde mental no cenário brasileiro, seus desafios e barreiras.