As crenças que as pessoas mantêm sobre as próprias habilidades e características influenciam suas decisões e, muitas vezes, explicam sucessos e fracassos na solução de problemas, incluindo os que demandam criatividade. As crenças do self criativo atuam como preditores da realização criativa, sendo apontadas por estudiosos como importantes fatores subjacentes ao desenvolvimento e expressão da criatividade em distintos contextos, inclusive no escolar. Estudos teóricos brasileiros sugerem que a escola militar apresenta características que podem inibir a manifestação de habilidades associadas à criatividade. Questiona-se, portanto, em que medida as autocrenças criativas dos estudantes podem ser influenciadas pelo ambiente escolar. Nesse sentido, por meio de dois estudos, esta pesquisa buscou explorar as crenças do self criativo de estudantes de escolas civis e militares. O estudo 1 objetivou adaptar a Escala Breve do Self Criativo (EBSC; Short Scale for Creative-Self [SSCS]), que avalia Autoeficácia Criativa (AEC) e Identidade Pessoal Criativa (IPC), para estudantes brasileiros do ensino médio, reunindo evidências de validade fatorial, precisão e equivalência psicométrica. Participaram 253 estudantes do ensino médio do Distrito Federal, a maioria do sexo feminino (169; 66,8%) e oriundos de escolas militares (168; 66,4%), com idade média de 16,7 anos (DP = 0,92). Realizou-se previamente a adaptação da EBSC, mediante tradução e análise de evidências de validade de conteúdo. No estudo 1, a análise se deu em duas etapas. A primeira utilizou análise fatorial exploratória (AFE) para avaliar a estrutura fatorial, precisão, confiabilidade e replicabilidade da escala. A segunda etapa utilizou análise fatorial confirmatória multigrupo (AFCMG), a qual avaliou a equivalência psicométrica da EBSC para tipo de escola (civil e militar) e sexo (feminino e masculino). A AFE resultou em elevadas cargas fatoriais (de 0,70 a 0,93), baixas cargas fatoriais cruzadas (inferiores a 0,23), moderada correlação entre as variáveis (r = 0,46), índices de ajuste adequados (χ2 /gl = 1,97; RMSEA = 0,062; CFI = 0,992; TLI = 0,984), elevada confiabilidade (ICC = 0,92; α = 0,84) e boa replicabilidade (H-latent entre 0,80 e 0,94; H-observed entre 0,76 e 0,84). Os resultados da AFCMG demonstraram a invariância da EBSC entre os grupos definidos por tipo de escola e sexo, com ΔCFI < 0,010, ΔRMSEA < 0,015 e ΔSRMR < 0,03. Isso indicou uma manutenção significativa no ajuste entre os modelos de equivalência linear, métrico e escalar. Ao final do estudo 1, concluiu-se que a EBSC é um instrumento psicométrico apropriado para a avaliação da AEC e IPC de estudantes brasileiros do ensino médio. Além disso, essa escala é adequada para a comparação desses construtos entre estudantes brasileiros de ensino médio de escolas militares e civis de ambos os sexos. O objetivo do estudo 2 foi comparar estudantes de escolas militares e civis, do sexo masculino e feminino, quanto à AEF e IPC, além de verificar a interação entre essas variáveis e o tipo de escola e sexo. Participaram 230 estudantes do ensino médio de escolas públicas do Distrito Federal, a maioria do sexo feminino (151; 65,7%) e oriundos de escolas militares (163; 70,87%), com idade média de 16,15 anos (DP = 1,08). Os instrumentos foram a EBSC e um questionário sociodemográfico. Para a análise comparativa e de interação, utilizou-se a ANOVA, acompanhada por procedimentos de bootstrapping. Os resultados do estudo 2 não revelaram diferenças significativas de AEC relacionadas ao tipo de escola (F [1, 226] = 0,057, p = 0,811, ) ou sexo (F [1, 226] = 2,933, p = 0,088, = 0,013). Quando comparada a IPC dos estudantes, não se observaram diferenças significativas relacionadas ao tipo de escola (F [1, 226] = 0,085, p = 0,771, < 0,001). Entretanto, estudantes do sexo feminino apresentaram índices de IPC superiores (F [1, 226] = 4,082, p = 0,045, = 0,018) ao dos homens. Também não foi identificada interação significativa entre tipo de escola e sexo para a AEC e IPC. Portanto, para a amostra do estudo 2, as diferenças ambientais entre escolas civis e militares não resultaram necessariamente em variações da AEC e IPC. Nesse sentido, é possível que as restrições típicas do modelo militar de educação não impliquem necessariamente barreiras à criatividade. Com base nos resultados dos estudos, são propostos direcionamentos para promoção da criatividade no contexto escolar, bem como sugestões para estudos futuros.