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Sociabilidade: apenas um conceito?

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Diante de alguns impasses da teorização sociológica micro c macro, o objetivo central deste ensaio e desenvolver uma reflexão acerca da noção de "sociabilidade" inspirada na acepção de Simmel, buscando inscreve-la entre algumas correntes do pensamento social contemporâneo. A sociabilidade, mais que uma mera categoria de interação social, oferece um frutífero ponto de partida para se examinar a dinâmica da experiencia vivida e sem modus social de organização, mostrando um confronto sempre contraditório e agonístico com as ordens normativas e os padrões culturais mais amplos da sociedade.
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... Em um primeiro momento, o esporte foi difundido apenas para a elite brasileira nas grandes cidades, mas, na medida em que as décadas avançaram, a atividade começou a cair no gosto popular (SILVA, 2005) e, já no início do século XX, existiam clubes de diferentes origens espalhados em várias regiões brasileiras. 9 Na perspectiva de Maia (2002), diante de reflexões sobre Simmel, sociabilidade é uma forma de interação social espontânea. Isso significa dizer que ela "não possui um fim definitivo, nem conteúdo, e nem resultado fora dela mesma" (SIMMEL, 1997, p. 126 apud MAIA, 2002. ...
... Como esclareceMaia (2002), ao conferir atenção especial às espontaneidades, às falas descompromissadas e às banalidades da vida social, a sociabilidade não desmerece o olhar macro da dimensão estrutural, afinal, "se ignorarmos as instituições, as tradições, 'os padrões regulares de comportamentos e de expectativas', atribuiremos ao atoruma soberania absoluta" (MAIA, 2002, p. 13). Dito isso, é preciso amarrar mais uma vez as ideias e defender que entender a configuração espacial de Mariana pela lógica da sociabilidade do futebol é, ao mesmo tempo, contextualizar o poder das estruturas e mergulhar na linha das interações. ...
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Este artigo objetiva investigar a influência do esporte na configuração socioespacial da cidade de Mariana-MG através da rivalidade dos tradicionais clubes e Marianense Futebol Clube e Guarany Futebol Clube, partindo da ideia de que, por meio do futebol, é possível refletir sobre questões ligadas ao pertencimento, à vida social e às disputas de uma determinada sociedade. Tendo em vista as dinâmicas dos processos comunicativos e das interações sociais, este trabalho se debruça sobre entrevistas, sob o viés da história oral, realizadas com moradores do município que vivenciaram a força dessa rixa, com apogeu e declínio no século XX. As memórias revelam que a dicotomia entre Marianense e Guarany (pensada dentro dos eixos: espaços privados, espaços públicos e espaços desportivos): 1) movimentou geográfica e simbolicamente uma cidade estagnada pelo fim do ciclo do ouro e 2) desenvolveu, a partir dos clubes de futebol, novos hábitos, relações e aspectos civilizatórios, revelando também questões estruturais de ordem política, étnica e de classe.
... Segundo moradores, essas manifestações vinham por meio de piadas, críticas e comentários direcionados a sotaque, hábitos e costumes. Atitudes consideradas racistas também apareceram como marca da trajetória de alguns(as) moradores(as), evidenciando a presença 9 ISSN 1807-0310 de assimetrias estruturais, conflitos sociais e tensões culturais que não podem ser desprezadas nos estudos sobre a sociabilidade (Maia, 2001). Para Anna Paula Vencato (2014), é importante retomar a diferença pela ideia de riqueza, para que sejam produzidos contextos com relações mais democráticas e baseadas na valorização da diversidade, tendo em vista que hierarquias e opressões promovem a manutenção da desigualdade. ...
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Resumo O convívio em moradia estudantil revela desafios nas relações entre seus moradores e destes com o espaço que, então, habitam. O objetivo deste artigo foi o de apresentar os principais desafios de ser morador nesse contexto, compreendendo as sociabilidades e as relações com o lugar. Este estudo constitui-se, a partir de uma abordagem qualitativa, em uma pesquisa de intervenção participativa, com observação participante e entrevistas semiestruturadas. Os sujeitos da pesquisa apontaram a moradia como espaço que amplia a qualidade de vida e viabiliza laços de amizade, permitindo-lhes apropriar-se do lugar como lar. É na dimensão das sociabilidades que, comumente, encontram-se desafios como negociar rotinas, privacidade e organização do espaço e convivência com diferenças culturais, o que resulta situações de conflito. É relevante conhecer caminhos que contribuam para ações coletivas, formação de redes de apoio e mediações frente situações de vulnerabilidade e conflitos.
... Por outro lado, podemos pensar a sociabilidade como um jogo no qual os indivíduos desempenham papéis e assumem posições em relação às pessoas. Aqui adotamos o raciocínio proposto por Maia (2001) em uma alusão ao termo "jogo" ou "play", na língua inglesa, em seus sentidos de "brincar", "jogar (participar de um jogo)", "fazer o papel de", o que coloca em relevo o universo simbólico que envolve os indivíduos nas diversas formas de interação social e permite a fusão de subjetividades: o "estarcom", o "ser-com" (MAIA, 2001, p. 11) 5 . Como um jogo social, a sociabilidade pode tomar muitas formas, desde as mais universais presentes no "instrumento mais abrangente da vida comum da humanidade -a conversação", até as mais específicas, tal como no jogo erótico do flerte, ou da sedução. ...
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RESUMO Este texto discute a captura, em registros fotográficos da coleção do Museu Paranaense, dos espaços de sociabilidades da cidade de Curitiba nos recortes temporais de 1913 e 1930, tomando as transformações ocorridas no Passeio Público como estudo de caso. A eleição desse espaço para análise retoma dois momentos da cidade de Curitiba: a reforma urbana proposta por Cândido de Abreu em sua gestão a partir de 1913 e aquele em que a Prefeitura Municipal enfrenta um período de adequações devido à falta de recursos destinados às melhorias do equipamento urbano em 1930, imediatamente anterior à grande reforma urbana indicada no Plano Agache (1941). Primeiro foram examinados conceitos relativos à cidade como experiência visual, às sociabilidades, ao cotidiano e ao imaginário urbano, depois as reformas urbanas e as transformações estéticas em Curitiba no período da Belle Époque. Em seguida, circunscrevemos as transformações do espaço do Passeio Público, analisando as fotografias do acervo do Museu. Finalmente, consideramos a circulação de imaginários, imagens e memórias relativas à cidade na constituição do acervo do Museu Paranaense e da Fundação Cultural de Curitiba.
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No contexto global da crise sanitarista, a cidade de São Paulo, epicentro da pandemia no Brasil, também se viu diante da necessidade de retenção dos corpos em movimentação, enunciando medidas restritivas de urgência num quadro geral denominado de quarentena. Paradoxalmente, percepções aparentemente lúdicas e jocosas de se lidar com a pandemia puderam ser observadas nos meandros da sociabilidade citadina, chamando nossa atenção para os usos de alguns conceitos e noções caros à Antropologia Urbana. Esse texto discute como essa conjuntura de sofrimento se desdobrou em manejos mais lábeis numa sintomatologia popular, sem desconsiderar o potencial analítico da noção de sociabilidade ao lidar com a politização de corpos dispostos a operar a partir do cenário que moldou localmente a pandemia: de um lado, estratégias políticas e científicas orientando as ações públicas na administração da cidade e, do outro, a presença de contradiscursos anti-intelectualistas e/ou cientificistas dissonantes ressoados pelas esferas federais de poder.
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