A caça e a redução de habitats na Mata Atlântica afetam principalmente
mamíferos de grande e médio porte que necessitam de extensas áreas
para manterem a perenidade de suas populações. No Estado do Rio de
Janeiro, as mesorregiões Norte e Noroeste são as que sofreram maior
pressão antrópica, possuindo poucos fragmentos florestais em matriz
canavieira e pastoril respectivamente. A maioria dos fragmentos que ainda
restam nestas duas mesorregiões encontram-se sob constante influência
antrópica, todavia são fundamentais para a manutenção da biodiversidade
local que ainda resta. Neste contexto, as pesquisas com monitoramento
de fauna se fazem necessárias para avaliar e subsidiar iniciativas em
proteção, conservação, e manejo dos mamíferos silvestres de mosaicos
paisagísticos com baixa biodiversidade nativa, como é o caso do Noroeste
Fluminense. Por isto, o objetivo deste estudo é realizar um levantamento
da riqueza de espécies de mamíferos no recém-criado Refúgio de Vida
Silvestre Jorge Assis de Oliveira em Bom Jesus do Itabapoana-RJ, como
primeiro inventário sobre a mastofauna local. A amostragem foi realizada
através de armadilhas fotográficas nos períodos noturnos e diurnos. Entre
os meses de abril e novembro foram 145 registros e 2.208 horas/câmera
de esforço amostral. Foram registrados o cachorro-do-mato Cerdocyon
thous (Linnaeus, 1766), tatu-galinha Dasypus novemcinctus (Lineu, 1758),
gambá-de-orelha-preta Didelphis aurita (Neuwied, 1826), ouriço
Sphiggurus sp. (Cuvier, 1825), macaco-prego Sapajus nigritus (Goldfuss,
1809), capivara Hydrochoerus hydrochaeris (Linnaeus, 1766) e uma
espécie de Cricetidae que não foi identificada. A maior frequência de
captura fotográfica foi observada para o Sapajus nigritus (61%) e
Hydrochoerus hydrochaeris (36,9%), enquanto Dasypus novemcinctus
(8,6%) e Sphiggurus sp. (3,2%) foram menos frequentes. Todas as
espécies encontradas são amplamente distribuídas em ambientes
alterados e possuem hábito generalista, denotando baixa qualidade
ambiental. De acordo com a lista vermelha de espécies, somente o
Sapajus nigritus está estabelecido como quase ameaçado (Near
threatened) de extinção. Um grupo isolado de quatro indivíduos foi
registrado neste fragmento pequeno, impossibilitando realizarem suas
funções ecológicas como a dispersão de sementes ou locomoção na
paisagem para reprodução e fluxo gênico. Apesar do C. thous não estar
ameaçado, possuir ampla distribuição e alta resiliência à habitats
degradados, a espécie é uma conhecida dispersora de frutíferas como a
goiaba, coquinho catarro, dentre outras. Podendo ser considerado uma
espécie-chave para os processos ecológicos de restauração natural dos ecossistemas degradados desta região, pois canídeos cobrem longas
distâncias em pouco tempo. O Sphiggurus sp. e D. aurita também se
alimentam de frutos e transportam sementes menores, todavia seu
alcance dispersor é muito reduzido se comparados ao Cerdocyon thous.
Os mamíferos deste fragmento florestal convivem com interferências
humanas que restringem sua sobrevivência, como a crescente devastação
em função das pastagens e residências rurais no entorno, que reduz seu
espaço e oferta de alimentos. Desse modo, mesmo que apresente uma
fauna generalista, enfatizamos a importância desse Refúgio de Vida
Silvestre para a conservação da fauna e flora, sendo necessário monitorar
a ocorrência e abundância desses animais na área a fim de conservar os
remanescentes da região, suas comunidades nativas e seus processos
ecológicos.