Bandas de música concentram parte expressiva da documentação musical prduzida ou acumulada no Brasil, sobretudo entre as últimas décadas do século XIX e a primeira metade do XX. Este trabalho tem como tema o acervo da Banda de Música da 10a Região Militar, grupo formado por músicos militares do Exército Brasileiro, sediado no estado do Ceará. O início das atividades da agremiação remonta ao entresséculos, mas, ao longo do século XX, bastante material foi produzido e conservado em seu acervo. Nesta investigação, objetiva-se compreender as proveniências dos documentos musicográficos, de modo a traçar rotas geográficas do processo de constituição do acervo. Para tanto, empreendeu-se Análise Diplomática Musical em diversos conjuntos de fontes do acervo. Os resultados apontam para compositores e copistas ainda pouco conhecidos no panorama nacional, bem como para rotas de circulação das fontes que incluem as cidades de Manaus (AM), Ceará-Mirim (RN), Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ).
Quando Leopoldo I foi coroado imperador do Sacro Império Romano-Germânico,
em 1658, a maior parte da Europa ainda estava em processo de recuperação econômica decorrente da chamada “crise geral do século XVII”. Dentro deste contexto, coube a Leopoldo e aos demais membros da Casa de Habsburgo a tarefa de reorganização e de
solidificação do absolutismo na Áustria. Para tal fim, o imperador encontrou na música sacra uma ferramenta eficaz de convencimento, propaganda e exibição do poder imperial. Neste
trabalho procuramos demonstrar o papel produções musicais ligadas às atividades
da Contrarreforma no reinado de Leopoldo I. Inicialmente, discorremos acerca da criação religiosa de Leopoldo, assim como sobre seu interesse particular pela música e pela composição. E, em seguida, examinamos a influência
da imperatriz viúva Leonor de Gonzaga-Nevers (madrasta de Leopoldo I) para o desenvolvimento da música austríaca, principalmente em relação à sua participação no
estabelecimento do sepulcro em Viena.
Entre os séculos XVI e XVIII, o mundo reformado luterano produziu textos que têm em comum o fato de emprestarem sistematicamente a terminologia derivada de retóricas e de poéticas clássicas para descrever fenômenos musicais. Certamente, a mais abrangente e detalhada dentre estas obras é aquela escrita por Johann Mattheson, intitulada Der vollkommene Capellmeister (“O mestre de capela perfeito”), publicada em 1739.
O presente artigo aborda o capítulo da obra de Mattheson dedicado à invenção melódica. Ele a descreve como a primeira parte de construção do discurso musical, discorre sobre suas partes e finalmente discute os lugares-comuns, fontes de argumentos para a invenção temática. Ao apresentar as ideias de Mattheson sobre a invenção, nossos objetivos, além de dar a conhecer o conteúdo do texto, são evidenciar a base retórica de seus escritos e defender a utilidade dos lugares-comuns como ferramentas para a composição musical nos séculos XVII e XVIII.
A crescente produção de trabalhos acadêmicos, inclusive no Brasil, inspirados na teoria das schematae de Gjerdingen, em paralelo com a discussão no âmbito da teoria das tópicas musicais, a partir das ideias de Ratner, vem estimulando a busca de significados resultantes da interação entre aspectos sintáticos e semânticos da obra musical, especialmente aquela desenvolvida entre os séculos XVIII e XIX. Tais trabalhos, reunidos a partir da junção da musicologia com vários outros campos de estudo, na música ou fora dela, reacendem o debate sobre o uso da Retórica e da Poética como orientação dos projetos composicionais dos autores daquele período. Neste sentido, o presente artigo discute as estratégias criativas de André da Silva Gomes (1752-1844) à luz da sua Arte explicada do Contraponto.
O texto apresenta uma resenha do livro Francisco de Sá Noronha (1821-1881) - um músico português no espaço atlântico(CESEM/Editora Húmus, 2019), de Luísa Cymbron (Universidade Nova de Lisboa - CESEM), sobre o violinista e compositor português nascido em Viana do Castelo em 1820 e falecido no Rio de janeiro em 1881. Como compositor de óperas, operetas e outros gêneros de música vocal e instrumental, Noronha foi atuante em Portugal e no Brasil no séc. XIX, e sua biografia inclui também viagens aos Estados Unidos, Inglaterra e Cuba.
O artigo objetiva resgatar a trajetória e as atividades musicais de um personagem que atuou em Pernambuco entre as décadas de 1830 e 1860: Pedro Nolasco Baptista (? – 1865). Músico de múltipla atuação, Nolasco teve passagens pela corte do Rio de Janeiro e a província do Ceará, mas foi em sua cidade natal, Recife, que alcançou um prestígio e reconhecimento singulares, trabalhando como intérprete (instrumentos de sopro e violão), compositor, professor e maestro, inclusive de orquestras e bandas militares. O método consistiu em uma pesquisa documental (levantamento, catalogação e análise crítica) que suscitou mais de 60 inéditas entradas em periódicos brasileiros oitocentistas. Os resultados apontam para a significativa inserção do artista no cenário musical pernambucano de seu tempo, um dado até então desconhecido nos estudos sobre o tema.
Transcrever ou arranjar peças de outros instrumentos e/ou formações foi uma prática
violonística muito comum, no Brasil, desde meados do século XIX. Em diálogo com parte da bibliografia disponível e apresentando fontes primárias, o presente artigo traça um breve panorama histórico das transcrições e arranjos para violão, buscando compreender algumas das funções socioculturais que esse repertório adaptado teve no caso brasileiro, especialmente na passagem entre os anos oitocentos e novecentos. Tomando como objeto de estudo duas transcrições de autores românticos (Chopin e Massenet) realizadas por Melchior Cortez (1882-1947), os resultados sugerem que houve um empenho para que cânones da música de concerto fossem incorporados à literatura do violão, com o intuito de revelar as suas potencialidades e demonstrar que o instrumento poderia servir a qualquer repertório, incluindo “os grandes clássicos […] interpretados nas suas seis simples cordas” (O VIOLÃO, 1928, p.3).
É comum estabelecer-se uma associação imediata entre a propalada “influência do jazz” e a emergência e consolidação da Bossa Nova. Este artigo, no entanto, empreende uma viagem de volta no tempo e pretende documentar, de forma analítica, como as lutas de representações travadas entre setores que cultuavam a tradição e a brasilidade e outros que se apresentavam como modernizantes antecederam em muito aquela época. Para tanto, num apanhado geral, retrocede ao período pós-Primeira Guerra Mundial a fim de flagrar a eclosão das jazz bands, que na “era do jazz”, nos anos 1920, estenderam seu raio de alcance a diferentes pontos do Brasil, incluindo cidades interioranas. Em sua marcha ascendente, a penetração de elementos musicais estadunidenses prosseguiu, especialmente na década de 1930, num momento em que o fox-trot se converteu no gênero de música estrangeira mais gravado no país. Na esteira desse fenômeno, este texto objetiva, então, capturar as reações ao que foi entendido como um processo de desnacionalização da música popular brasileira, que culminaria com a preparação de terreno para a “desfiguração” do samba “autêntico” promovida pelo samba-canção e pela Bossa Nova.
Este artigo tem como foco o estudo de diálogos e trocas musicais entre Pixinguinha e músicos argentinos na década de 1920. Alinha-se com trabalhos recentes (BESSA, 2005; MENEZES BASTOS, 2005; COELHO, 2009) que têm procurado redimensionar a trajetória de Pixinguinha e seu papel na indústria fonográfica da primeira metade do século XX a partir de novos ângulos, colocando em relevo as múltiplas influências de um compositor e arranjador imerso em um sistema cosmopolita que exigia uma escuta diversificada e aberta a influências musicais estrangeiras. A primeira parte do artigo é focada na análise do tango La Brisa de Francisco Canaro, gravado pelo Grupo do Pixinguinha em 1922 e procura investigar evidências históricas que liguem os dois músicos neste período, além de realizar uma análise comparativa entre a gravação de Pixinguinha e outras gravações argentinas do mesmo ano. A segunda parte é dedicada ao estudo das relações entre Pixinguinha e a Orquestra Andreoni, orquestra que esteve no Rio de Janeiro no ano de 1928 e que realizou gravações de duas polcas e dois tangos argentinos do compositor brasileiro, além de apresentações em conjunto com a orquestra Os Batutas. Por meio destes dois estudos de caso, o artigo procura lançar novas luzes sobre gravações históricas pouco conhecidas que evidenciam processos de trânsito e de influências musicais múltiplas na carreira musical de Pixinguinha.
O presente artigo trata do tema das práticas criativas no contexto da Progressive Education Association. Para tanto, as fontes investigadas foram a revista homônima produzida pela associação, bem como outros documentos ligados ao grupo, datados das décadas de 1920, 1930 e 1940. Parto de uma reflexão sobre as fontes focalizadas e, em seguida, desenvolvo o tema de maneira a evidenciar que as práticas criativas gozavam de importância destacada tanto nas atividades de escolas experimentais quanto nos escritos em imprensa, movimentando debates e inovação pedagógica.
Tradução do ensaio Les “hop” musicaux (Os “hop” musicais), de autoria de Émile Jaques-Dalcroze e publicado originalmente na revista Le Rythme em 1930. A tradução é precedida por uma apresentação sobre as origens e desdobramentos do “hop” musical, um dos princípios didáticos mais importantes e lúdicos da Rítmica Dalcroze, integrado aos exercícios de solfejo, improvisação e plasticidade viva (“plastique animée”). Ao final do ensaio, para exemplificar o uso do “hop” musical, Dalcroze apresenta um compêndio com 55 exercícios, um valioso material sobre um tema ainda muito pouco estudado no Brasil.
Disertaremos sobre la construcción histórica del discurso hegemónico que vehiculó las prácticas musicales de familias negras y reificó el “Negro del Perú” (sujeto social e histórico) a favor de un “Perú Negro” (comodificación del simbolismo). Por esta lógica, y suponiendo que aún se desconocen ‘otras’ afroperuanidades, se trabajará con la hipótesis que considera el corpus canónico de la denominada música afroperuana como dispositivo silenciador de una cultura que, hoy como ayer, posee sus propias características performáticas (manifestaciones expresivas). La investigación concluye que resulta urgente relativizar (responder críticamente) la vigencia del discurso musical afroperuano de 1950 redireccionando las preguntas metodológicas hacia las ‘lagunas’ o ‘vacíos’ que dicho ‘renacimiento’ provocó.
Inspirados no paradigma indiciário (GINZBURG, 2007) e no método biográfico (BOURDIEU, 2001), analisamos os usos e abusos da história do pianista Tenório Jr. no interior da memória e da historiografia sobre o jazz brasileiro dos anos 1960-1970. Morto em 1976 em plena ditadura argentina, a figura do músico foi acionada como símbolo da condição do jazz nacional naquele período. Cotejamos, assim, a vida e os discursos sobre Tenório, destacando, por fim, os desmembramentos históricos do instrumental brasileiro. Chegamos ao entendimento de que a trajetória do músico foi apropriada para fundamentar leituras distintas sobre a relação entre canção e música instrumental, gerando posições estético-ideológicas conflitantes. Fundamentados em dados empíricos, problematizamos essas narrativas e percebemos que as nuances da memória trágica de Tenório dão indícios, mas não determinam os rumos que o jazz e a música instrumental brasileira tomaram nos anos 70. Assim, concluímos que apesar dos traumas sofridos, esses estilos não “morreram” nos porões da indústria fonográfica. Antes, resistiram e se reinventaram.
Este texto aborda a importância histórica do Grupo de Teatro Opinião (1965-1980) e dos seus espetáculos como expressão política de resistência à ditadura militar no Brasil. Na esteira disso, focalizo de que forma a utilização do discurso musical afeta o espectador não só por meio dos parâmetros sonoros, mas igualmente pela sua capacidade de sugerir imagens e de inventar espaços e lugares ao criar figurações cênico-dramáticas. Enfatizo, como características fundamentais desse teatro musicado, a mistura de tradições culturais
e a produção/criação artística dos atores/cantores. Daí a pertinência da discussão sobre o contraponto entre as linguagens musicais e plásticas na composição da polifonia intrínseca ao espetáculo teatral.
O artigo apresenta uma proposta analítica das sonoridades construídas pelo grupo brasileiro de rock O Terço, durante a década de 1970. Mostra-se que o grupo em questão não trouxe uma ideia fixa de música, ou melhor, de rock brasileiro. Com diversas influências do gênero rock, e de várias sonoridades já consideradas como parte da música brasileira, os músicos d’O Terço trouxeram suas representações de campo e cidade, tradição e modernidade, elogio ao rock e críticas ao contexto da ditadura civil-militar no Brasil. Tais ideias serão analisadas em algumas canções selecionadas para este estudo. Para tal, propõe-se conjugar as ferramentas metodológicas dos autores Bruce Baugh (1994), Marcos Napolitano (2002), Felipe Trotta (2008) e Paul Friedlander (2012), demonstrando como os elementos musicais estabelecem um jogo dinâmico com seu tempo histórico. Discutem-se, também, algumas teorias e problemáticas sobre identidade, por meio dos estudos de Fredrik Barth (1998), Stuart Hall (1998) e Miguel Alberto Bartolomé (2006). Com estes, procura-se apontar que a identidade é sempre construída dentro de um contexto, sendo, portanto, relacional.
Este artigo apresenta uma pesquisa-ação em quatro turmas de aulas de música do primeiro ano do ensino fundamental em uma escola no Rio de Janeiro. Tem por objetivo investigar condições teóricas e práticas para o uso de trilhas sonoras e atividades decorrentes de sua interpre- tação como um caminho complementar de ensino. A linguagem multimidiática, unindo o audiovisual a elementos está- ticos, como imagens, textos e partituras, foi utilizada como principal ferramenta pedagógica. A partir dela, foram reali- zadas criações musicais com narrativas, com sons e com imagens que demons- tram a compreensão dos estudantes acerca das relações entre expressão, comunicação, arte e diversas culturas. Como resultado, verificou-se o desen- volvimento da técnica do instrumento flauta doce, das habilidades de leitura e de escrita musical não tradicional e tra- dicional e da expressividade artística.
Das Mortes nas Estações (2018) é um ciclo de quatro canções escritas por Marília Santos (1987-) – poemas – e Dierson Torres (1953-) – música. Estão baseadas no Vier Letzte Lied – Quatros Últimas Canções – (1948), do compositor Richard Strauss (1964-1949). Dierson Torres busca nas Quatro Últimas Canções relações para compor a melodia, a harmonia, o movimento das vozes, toda a textura musical, utilizando harmonias cromáticas, quintas aumentadas, dissonâncias, “desenhos musicais” que, além de manter uma coerência com os textos utilizados, de Marília Santos, cria uma relação com o ciclo de canções de Richard Strauss e com a sutileza de falar sobre a morte, sobre o fim dos ciclos, através de sons, que penetram como sentimentos ditos sem palavras, complementando estas, que vestidas de poesia transcendem escritora e compositor.
Este texto apresenta a resenha do livro “Globalizing music education: a framework”, da professora e pesquisadora alemã Alexandra Kertz-Welzel (2018), da Ludwig-Maximilians-Universität München (LMU). O livro tem como tema a globalização e internacionalização no campo da Educação Musical, trazendo reflexões sobre práticas, políticas e pesquisa em Educação Musical para a proposição de um campo conceitual com vistas ao fortalecimento de uma comunidade internacional de educação musical culturalmente sensível.
Das Mortes nas Estações (2018) é um ciclo de quatro canções escritas por Marília Santos (1987-) – poemas – e Dierson Torres (1953-) – música. Estão baseadas no Vier Letzte Lied – Quatros Últimas Canções – (1948), do compositor Richard Strauss (1964-1949). Dierson Torres busca nas Quatro Últimas Canções relações para compor a melodia, a harmonia, o movimento das vozes, toda a textura musical, utilizando harmonias cromáticas, quintas aumentadas, dissonâncias, “desenhos musicais” que, além de manter uma coerência com os textos utilizados, de Marília Santos, cria uma relação com o ciclo de canções de Richard Strauss e com a sutileza de falar sobre a morte, sobre o fim dos ciclos, através de sons, que penetram como sentimentos ditos sem palavras, complementando estas, que vestidas de poesia transcendem escritora e compositor.
Este artigo apresenta aspectos das diferentes poéticas composicionais adotadas em peças estreadas durante a temporada 2019 do Grupo Prelúdio 21. O objetivo é demonstrar a pluralidade de procedimentos, técnicas e recursos utilizados nas composições de quatro dentre seus seis membros, além de descrever, em linhas gerais, aspectos da sua criação e da 21ª temporada de concertos realizada em 2019. Para alcançar o objetivo proposto, os quatro compositores selecionaram uma das peças estreadas em 2019 para comentar e retratar características relevantes da poética composicional, a partir de uma metodologia descritiva específica para cada composição. Dentre os diferenciados procedimentos presentes nas peças comentadas, podemos citar o dodecafonismo, a melodia de timbres, a textura pontilhística, o modalismo, aspectos do teatro musical (music theatre), a utilização de intervalos característicos, a auto-intertextualidade, o uso de recursos eletrônicos e de remissão a culturas tradicionais de povos originários. Concluímos que, além da ampla produção composicional e da participação de intérpretes renomados durante seus 21 anos de existência, o trabalho em conjunto dos compositores membros atuando também como produtores musicais foi decisivo para a existência e manutenção das temporadas de concertos do grupo. Assim, esperamos que a experiência coletiva de 21 anos de trabalho composicional em conjunto, talvez inédita no panorama mundial da música contemporânea de concerto contemporânea, irá encorajar o surgimento de novos grupos.
Esta pesquisa examina os elementos estilísticos provenientes da música folclórica da
Região da Puna, encontrados na Puneña n.º 2, Op. 45 para violoncelo solo de Alberto Ginastera, com o objetivo de embasar violoncelistas
interessados no seu estudo e na sua performance. Como procedimento metodológico, foram
estudados autores como Aretz (2003, 2008), Aguilar (2007) e Falú (2011), com o intuito de
melhor compreender a música folclórica da Região da Puna e das culturas pré-hispânicas, e
Suárez Urtubey (1967, 1972, 2003), que discorre sobre a vida e obra do compositor. A partir do levantamento bibliográfico, foram expostos ideias e conceitos que auxiliam o intérprete a
decodificar aspectos relevantes da obra. Além disso, foi realizada uma análise detalhada de
como o compositor coloca em jogo os recursos pesquisados ao compor para o violoncelo,
destacando alguns aspectos idiomáticos.
Este artigo apresenta a criação musical nas pedagogias musicais abertas, trazendo um panorama sobre a temática. Traremos, na primeira parte, uma caracterização histórica e conceitual sobre como tais pedagogias foram sendo forjadas. Cabe, neste sentido, sinalizar o marco da criação do Foro Latinoamericano de Educación Musical (FLADEM), que foi se tornando o espaço de debate sobre tais pedagogias. A seguir dissertaremos sobre a perspectiva de criatividade/criação musical e como esta foi sendo construída, principalmente a partir das ideias de Violeta Hemsy de Gainza. Na terceira parte discorreremos sobre o tripé formação, atuação e avaliação em práticas criativas na educação musical. Por fim, apresentaremos algumas propostas criativas de autores orientados pelas pedagogias abertas a partir de três eixos: experiências musicais centradas na prática, práxis musical participativa e práxis musical integrada. Nas considerações finais comentaremos sobre o alargamento conceitual das pedagogias abertas e a emergência de novas questões para a educação musical.
Para saber como as pesquisas (auto)biográficas estão sendo desenvolvidas na educação musical, analisamos 47 teses e dissertações por meio de um estudo de estado do conhecimento. Neste artigo ressaltamos a análise sobre o referencial teórico, a metodologia e aos neologismos formados na interface educação musical e (auto)biografia. Esses trabalhos reforçam a autonomia da educação musical como área de conhecimento, e mesmo diante da contribuição da sociologia, psicologia e filosofia, seus objetos de estudos centram-se em problemáticas e campos empíricos específicos da educação musical. A metodologia dos trabalhos revela uma pluralidade de nomes utilizados que se misturam à abordagem de investigação como: narrativas, biográficas, histórias de vida, história oral, embora percebamos pouca variação de autores(as) para fundamentar. Encontramos seis novos termos com conceitos delineados pelos(as) pesquisadores(as), que contribuem para o vocabulário da área de educação musical, mostram as encruzilhadas conceituais da área e ampliam os caminhos investigativos percorridos.
A escassez de tempo (característica da contemporaneidade), a dependência em relação ao professor durante o estudo individual e a generalização dos problemas apontam a necessidade de um estudo eficiente e autônomo que se adéque às particularidades do indivíduo. Através de uma revisão da literatura na área da música, podemos verificar que os trabalhos existentes estão voltados, em sua maioria, para problemas específicos, normalmente práticos e técnico-instrumentais. A partir disso, buscamos ofertar aos músicos um caminho para integrar todos os âmbitos do estudo já tratados pelos pesquisadores: a prática deliberada, a organização, o planejamento, a autorregulação, as estratégias e ferramentas. Considerando a construção de teorias por meio da abstração (DEWEY, 1920), nossa proposta se baseia no gerenciamento de projetos ao traduzir para a música as principais práticas de acordo com o Guia PMBOK® (PMI, 2017). Como se trata de uma pesquisa ainda em desenvolvimento, ajustes serão necessários.
Este trabalho é um recorte de uma pesquisa concluída em nível de mestrado que teve como objeto de estudo os processos de musicobiografização de três professores de música a partir de suas pesquisas realizadas no mestrado. O objetivo principal da pesquisa consistiu em compreender como esses profissionais vêm refigurando-se com suas pesquisas nas práticas músico-educativas. O referencial teórico esteve centrado na teoria da tríplice mimese de Paul Ricoeur – prefiguração, configuração e refiguração – no tempo e narrativa. Como referencial metodológico, a pesquisa utilizou o método biográfico, tendo como fonte as narrativas (auto)biográficas de professores. Para este artigo, tomamos como objetivo apresentar uma síntese analítica da pesquisa concluída destacando compreensões a respeito do conceito de musicobiografização que foram se delineando com a pesquisa. Ao concluir a pesquisa, compreendemos que os três coparticipantes da pesquisa engendram uma vida-formação refigurada. Assim, a reflexividade narrativa é constitutiva de uma força potencial geradora de impactos nas práticas músico-educativas desses profissionais.
Debate sobre a situação dos intérpretes da área de Música – cantores, instrumentistas e regentes – e sua respectiva subárea no meio acadêmico brasileiro da atualidade. O método consiste em revisão bibliográfica ligada a pesquisadores que se debruçaram sobre a questão, em nível nacional e internacional, juntamente com cruzamentos interdisciplinares. Conclusões apontam para a possível implementação da pesquisa artística, mais especificamente a pesquisa através das Artes juntamente com a infraestrutura necessária, como forma de contribuir para a legitimidade de sua posição na academia.
De caráter bibliográfico, com o intuito de compreender a escrita da história da música em Santa Catarina, realiza-se um mapeamento das pesquisas defendidas sobre esse tema, junto aos programas de Pós-Graduação no Brasil. Os trabalhos são problematizados a partir de enfoques específicos, como a perspectiva institucional, biográfica e voltada à descrição de gêneros e movimentos musicais catarinenses. As pesquisas de cunho científico contribuem para a superação de uma literatura musical parcial e exaltativa. Nota-se uma predominância de trabalhos voltados à capital do estado, dentre pesquisas histórico-musicológicas ou de natureza etnográfica, com um gradativo processo de descentralização. Pode-se dizer, por fim, que todos os trabalhos mapeados trazem importantes contribuições para a escrita e para o entendimento da cultura musical catarinense do passado e do presente.
Neste Dossiê apresentamos nove artigos que contemplam desde a educação musical de bebês, crianças e educadores da educação infantil, até crianças de 12 anos de idade. Dois consistem em traduções de artigos de personalidades internacionais no campo da pesquisa em educação musical, da França e da Itália. Os outros sete apresentam significativas contribuições inéditas de pesquisadoras brasileiras e de uma pesquisadora peruana. Os artigos apontam avanços em várias direções, consolidando alguns percursos de pesquisa e também abrindo novos caminhos e olhares teórico-metodológicos. As temáticas colorem um leque de modos de pensar a educação musical de, com e para crianças: os processos de composição e criação musical, o ensino de canções na educação infantil, os jogos de criação na aprendizagem de piano, a motivação para aprender violão, as concepções de ensino-aprendizagem entre crianças Guarani Mbya, a formação do senso de eu musical de bebês, as rodas poéticas e a documentação pedagógica na educação infantil, os processos de musicalização de crianças surdas, as interfaces da educação musical com a musicoterapia e a interação reflexiva de crianças em plataformas digitais para desenvolver a criatividade. O conjunto de textos apresentado certamente contribui com a área de educação musical, trazendo os estudos com e sobre crianças ao centro. Os trabalhos apontam diferentes contextos socioculturais, visões de mundo e de pesquisa que podem nos orientar em campos teóricos e práticos. Podemos perceber que ainda há muito trabalho a ser feito e temos muito a aprender sobre as crianças e suas relações com a música. Esperamos que esta publicação seja desafiante a ponto de desencadear a continuidade e o desenvolvimento de propostas de pesquisa, ação e formação que busquem compreender, respeitar e valorizar os pontos de vista, as experiências e as culturas das crianças, reconhecendo-as enquanto protagonistas de suas aprendizagens.
Embora menos mencionados no campo da musicologia histórica no Brasil do que os arquivos, os acervos das bibliotecas também contêm fontes de interesse para o estudo da música. Neste trabalho, busca-se compreender a constituição da Seção de Obras Raras da Biblioteca do Grêmio Literário e Recreativo Português do Pará, observando-se indícios que sugiram ou afastem a hipótese de que os itens da seção e, mais especificamente, aqueles de
interesse musical – manual de procissões, livros de teoria e libretos encadernados, datados dos séculos XVII e XVIII – tenham tido usos locais ao tempo de sua produção.
Para tanto, foi pesquisa de campo no Pará e em Lisboa, recorrendo-se ainda ao quadro teórico de Cataldo e Loureiro, Mouren e Candau. Os resultados apontam para a provável aquisição dos itens bibliográficos no século XIX, que, embora não pareçam ter relação com práticas musicais locais, sua seleção reflete a afirmação intencional de uma identidade luso-amazônida.
La historiografía musical afirmativa, conformada básicamente por la musicología y el folklore, han producido como inexistente la dimensión histórica de la música popular, mediante la propia aplicación de una epistemología objetual/personalista basada en la concepción occidentalocéntrica de la música como objeto (de cambio). Si bien esta es una historiografía zombie, a todas luces vetusta, sigue habitando la porción mayoritaria de los imaginarios sobre la música, y en especial, está presente en los cursos universitarios de historia de la música. El presente trabajo intentará problematizar esta concepción hegemónica con el fin de contribuir a la (re)integración conceptual, en una historia popular de la música, de las prácticas del mundo popular subalterno presentes en todo el desarrollo histórico de Occidente y en especial, de Latinoamérica. Dado que para ello es necesaria una aproximación conceptual divergente, propondremos una serie de conceptos-otros que puedan dar cuenta de la especificidad musical del mundo popular subalterno: su aspecto localizado y performativo, su condición dinámica de musicar, y su carácter nómada, mestizo, transcultural y transmoderno.
Nesta pesquisa, adaptamos e buscamos validação semântica do Inventário de Estilos de Pensamento-Revisado 2 (STERNBERG; WAGNER; ZHANG, 2007) – o TSI-R2 –, a fim de medir diferentes estágios e meios que são utilizados para solucionar problemas, executar tarefas ou projetos e tomar decisões, tendo como objetivos específicos: a) adaptar o instrumento para a área de Música; b) avaliar o instrumento adaptado por juízes das áreas envolvidas; e c) investigar a compreensão pelo público-alvo. Metodologicamente, são os procedimentos necessários segundo as normas da International Test Commission (2010), a saber: a concordância pelos juízes das áreas de Linguística, Música e Cognição musical, e a confiança com evidência robusta do entendimento pelo público-alvo. Os resultados de validação semântica mostram que o TSI-R2 pode ser utilizado com licenciandos em Música, pois tem seu construto preservado a despeito da eliminação de alguns itens durante a pesquisa.
Music is an integral part of society. How it is taught and represented in educational institutions reflects the educational values. Moreover, it is part of a nation’s cultural fabric. The paper will discuss the issues pertaining to music education courses in Australia and postulate why an individualised curriculum at the pre-service teacher stage is necessary. From this, an existing unit has been adapted to meet the needs of pre-service teachers in regional and remote areas of Australia. A mix methods approach of Critical Discourse Analysis and Participation Action Approach has been used. This has been necessary to identify and understand the issues of identity, access and inclusiveness. Through these changes, the unit was transformed to better align with the individual needs of pre-service teachers, the changing environment of schools and the Year 11 and 12 music curriculum.
A criação musical, que há setenta anos estava restrita a músicos profissionais, é hoje acessível a amadores e crianças. Esta prática pode ser sua primeira experiência musical e a base de um processo educacional. O estudo de estratégias composicionais mostra que no centro do processo criativo encontra-se uma “ideia musical”. O que é uma “ideia musical”? Trata-se de uma singularidade sonora que atrai a atenção do músico e o incita a estendê-la. Para estender sua descoberta, ele a repete com variações. A ideia musical – que há um século era geralmente um tema ou um motivo – é, nos dias de hoje, geralmente uma sonoridade particular. No entanto, repetir e variar um som distinto é típico do comportamento de exploração sonora da primeira infância, algo conhecido como “reação circular”. Assim, desde a infância, é possível encorajar um comportamento de exploração que se torna invenção, uma vez que seja intencional. Tal comportamento pode ser enriquecido pela dimensão simbólica e, posteriormente, pelo gosto pela construção. A criança percorre diferentes formas de jogo, como analisado por Piaget: o jogo sensório-motor, o jogo simbólico e o jogo baseado em regras. O papel do educador é, então, estimular e guiar este desenvolvimento espontâneo, e alguns equipamentos podem ajuda-lo. Por volta de nove ou dez anos de idade, o computador é uma ferramenta conveniente para a composição.
As transformações psicológicas, físicas e sociais que surgem na adolescência podem trazer
consequências para o processo de aprendizagem musical, fazendo com que o estudante,
em alguns casos, passe a duvidar de suas habilidades e se desinteresse pela prática da
música. O professor de instrumento, nesses casos, tem papel relevante na manutenção da
motivação desses alunos. O objetivo geral deste estudo, portanto, foi conhecer as crenças, opiniões e atitudes dos professores de instrumento sobre as Necessidades Psicológicas Básicas (DECI; RYAN, 2000), no contexto da promoção da motivação dos alunos adolescentes para aprender música. Para alcançar este objetivo, a metodologia utilizada foi o Estudo de Levantamento (survey), e os dados foram colhidos por meio de um questionário. Os resultados obtidos trouxeram considerações para os professores de música sobre o planejamento e a condução das aulas, de modo a ampliar a motivação dos adolescentes. Também foi constatado, por meio dos resultados, que uma boa regulação da motivação é capaz de permitir aprendizagem e rendimentos mais eficazes.
O objetivo deste trabalho é caracterizar a interação entre professor e aluno no ensino e aprendizagem vocal durante os exercícios iniciais em aulas de voz de nível avançado. Um professor especialista de canto foi observado em aulas individuais com seis estudantes de graduação e gravações em vídeo das aulas são descritas e interpretadas em termos de comportamento colaborativo, com especial referência ao coaching e ao feedback. Os resultados apontam para procedimentos de natureza instrutiva, ou seja, com o professor dominando o diálogo verbal e direcionando a atividade dos alunos juntamente com procedimentos multimodais nos quais o professor baseia-se nas comunicações verbal, vocal e gestual para dar suporte ao aprendizado do aluno. Argumenta-se que a natureza complexa e desafiadora do aprendizado e do ensino de voz de nível avançado dá origem a práticas especializadas que devem ser abordadas e compreendidas no seu contexto específico.
O artigo traz relato de um processo composicional musical que teve como fonte de materiais e ideias poéticas uma pintura da artista plástica Tomie Ohtake. Serão discutidos diferentes aspectos do trajeto criativo, de modo a serem ilustradas as ferramentas de escrita escolhidas, a definição de aspectos formais e as potências poéticas envolvidas. Além disso, serão comentadas algumas influências de outras fontes ligadas ao contexto da composição. Desta forma, busca-se mostrar uma possibilidade de trabalho para lidar com a problemática de criar música a partir de uma obra visual.
O presente artigo apresenta um diálogo com autores/as do chamado Atlântico Negro para introduzir no debate necessário sobre uma educação musical embasada nos saberes e bases filosóficas - históricos e contemporâneos - das artes musicais africanas e da diáspora africana. Aponta uma lacuna histórica nos estudos das musicalidades afro-latinas, afro-caribenhas e afro-americanas nos países da América Latina, assim como a necessidade de construir procedimentos e fundamentos metodológicos aplicados ao ensino das artes musicais (das diásporas) africanas com ênfase no contexto brasileiro. A autora procura incentivar um debate epistemológico, referenciado por vários autores dos contextos musicais e históricos da África e da Diáspora africana, e esboçar um arcabouço teórico para uma educação musical nas bases das matrizes africanas nos demais países e regiões com expressões culturais e musicais negras, que possa levar a uma educação e formação musical e performática (das diásporas) africanas.
Palavras chaves: Educação musical na diáspora africana; Estudos das músicas negras nas Américas; epistemologias das artes musicais (das diásporas) africanas
Este artigo pretende analisar e demonstrar as características e utilização de tópicas musicais afro-brasileiras dentro de algumas obras do compositor Heitor Villa-Lobos e outros compositores brasileiros. Desta forma, será feito o estudo, identificação e sistematização das principais características do tipo xangô proposto e identificado por Eero Tarasti na obra de Villa-Lobos, e de uma das tópicas mais utilizadas por Villa-Lobos, que aqui chamaremos de tópica canto de xangô, por ser considerada pelo autor um arquétipo da qualidade de afro-brasileiro. Entendendo que a tópica é uma figura de representação, analisarei também como Villa-Lobos e posteriormente outros compositores brasileiros representaram a música afro-brasileira em suas obras através do tipo xangô e da tópica canto de xangô, considerando a cultura africana como parte formadora e intrínseca da identidade nacional brasileira, e reforçando a ideia de fusão cultural que permeia nossa identidade nacional.
El objetivo del presente escrito es ofrecer una reflexión sobre las manifestaciones artísticas de una comunidad afrodescendiente en el departamento colombiano de Antioquia. Aquí exploramos con especial atención la música de cuerda pulsada que ha permitido visibilizar en el ámbito regional, nacional e internacional, a intérpretes y compositores de esta comunidad. La contribución de la investigación consignada en este texto es explorar el papel preponderante de estas manifestaciones en la afirmación étnica del grupo, donde a diferencia de otras poblaciones afro del continente, no existe una tradición musical de percusión. Esta investigación concluye que el grupo estudiado afirma su identidad a partir de la interpretación de música y otras prácticas que son asociadas a un origen ibérico, pero que en el contexto local han sido apropiadas e incorporadas como parte de su legado y tradiciones, tal como ocurre entre otros pocos grupos del país.
Palabras clave: música afrocolombiana; etnicidad; Girardota; Antioquia
Trata-se de um estudo sobre o processo histórico das religiões afro-brasileiras em Santa Catarina, em especial a umbanda e o candomblé na região entre Florianópolis e Joinville. Visando compreender por que estas religiões estão intimamente relacionadas, foi realizada
uma investigação histórica amparada pelas lentes da etnomusicologia (BLACKING, 2000), antropologia (LAPLANTINE, 2012) e dos estudos culturais (GARCÍA CANCLINI, 2015). Diante da escassez de pesquisas sobre esta temática na região, foi adotada como estratégia o conceito das ressonâncias históricas. Foram utilizadas bibliografias locais da área da história, antropologia, etnomusicologia, ciências humanas e de afrorreligiosidades. Conta-se também com relatos orais e intensa experiência de campo. Por conta de fatores geográficos, políticos e econômicos, detectamos que a história do candomblé em Santa Catarina passa pela umbanda, kardecismo, benzedeiras, curandeiros e pela figura do caboclo indígena, com vínculos no Rio de Janeiro e na Bahia. Diante das metamorfoses
culturais, as religiões afro-brasileiras catarinenses são caracterizadas pela liberdade
religiosa e pelo hibridismo doutrinal.
Este artigo relata o movimento de educação comunitária gratuita promovido pela Universidade Federal de Alagoas no projeto denominado JPMB (Jornada Pe-
dagógica para Músicos de Banda), através do Grupo de Pesquisa Cemupe (Centro de Musicologia de Penedo), no estado de Alagoas. Esta ação de extensão, além de percorrer alguns municípios interioranos, carateriza-se hoje como um processo de aprendizado coletivo e social por meio do ensino musical. Faz uma abordagem de como a academia pode se mobilizar para debater sobre música e políticas públicas sobre a educação musical no interior de Alagoas, no Nordeste, e as parcerias com governos municipais, estaduais e federal juntamente com a iniciativa privada e instituições de ensino de outros países.
Resumo: Memorial e partitura do arranjo para violão de sete cordas da valsa Recordando o Passado de Aldo Krieger, estreado durante as atividades da 4ª Semana Aldo Krieger em julho de 2016. O arranjo foi criado utilizando como referência uma gravação e um caderno de partituras com obras do compositor, tendo como objetivo preservar a melodia original e explorar recursos e efeitos idiomáticos do violão.
O eixo central deste artigo é uma análise da canção “Alegria, alegria”, de Caetano Veloso, com interesse em aspectos formais de certa representação da brasilidade na música comercial radiofônica local durante os anos sessenta. Apontamos como a canção, proponente no III Festival de Música Popular Brasileira, de 1967, e espécie de manifesto de primeira hora pelo programa estético da Tropicália, suspende uma interpretação consagrada da brasilidade ao tensionar os pares conceituais antitéticos arcaico/moderno e local/universal. Visando à exposição do argumento, percorremos, em detalhe, procedimentos que chamamos multidirecionamento e justaposição, realizados entre os estratos musical e poético. À luz dos elementos levantados, ressaltamos, enfim, como “Alegria, alegria” encampa, na própria estrutura, impasses que inflexionam o debate da brasilidade ante o influxo global da cultura de massas.
O presente artigo investiga o nacionalismo de Alexandre Levy (1864 - 1892) através da revisão bibliográfica, compreendendo o contexto histórico, um resumo biográfico do compositor e o estudo de suas correspondências com os ideais de modernidade e identidade nacional da “geração de 1870” e outros intelectuais de seu tempo. Por fim, também coleta informações relevantes e analiza comentários publicados sobre as Variações sobre um tema popular brasileiro (1887), além de realizar uma pequena análise musical. O objetivo foi esclarecer o pensamento do compositor e suas intenções ao compor a obra em questão. Pôde-se deslumbrar um nacionalismo musical que não era exclusivo de Alexandre Levy, mas compartilhado por contemporâneos e que apresenta uma proeminente faceta cosmopolita.
Este artigo pretende analisar aspectos rítmicos na obra Areia II, do compositor Alexandre Lunsqui. Analisamos as diversas influências rítmicas que ocorrem na obra, sejam elas vindas do repertório erudito, sejam oriundas de manifestações musicais externas a este repertório, como a música tradicional africana. O artigo mapeia as figuras rítmicas usadas na obra, contextualizando- as dentro das estratégias criativas empregadas pelo compositor.
Este texto, de natureza ensaística, discute a pesquisa em educação musical com foco em questões relativas às formas de apropriação da literatura especializada nos trabalhos. A partir de uma discussão inicial sobre a noção de teoria científica e seu valor acadêmico, discorre também sobre a questão da coerência epistemológica como um dado importantepara a confiabilidade da pesquisa. Problematizando o estatuto das diversas fontes bibliográficas mobilizadas em um trabalho investigativo, propõe um modo de organização desse material que permita que as diferentes funções dos diferentes textos usados fiquem explicitadas inclusive no modo de escrita. Sem nenhuma intenção de fornecer um modelo como o melhor, muito menos fechar a questão, acredita-se, porém, que uma preocupação com as questões aqui abordadas poderá qualificar as pesquisas e avaliações de pesquisas na área.
Palavras Chave: Pesquisa em Educação Musical. Teoria Científica. Epistemologia.
Abstract
This essay discusses research in music education regarding the use of specialized literature in the works. From an initial discussion on the notion of scientific theory and its academic value, it also raises the question of epistemological coherence as an important aspect for research reliability. Inquiring the status
of the texts mobilized in an investigative work, this essay proposes a way of organizing this material. The objective is to allow different functions of different texts used to be made explicit even in the way of writing. There is no intention of providing a model as the best, much less closing the question. However, it is believed that a concern with the issues
addressed here may qualify research and research evaluations in the area.
Keywords: Music Education Research; Scientific Theory; Epistemology.
Este artigo trata de uma proposta no campo da teoria musical através de analogia entre a construção fraseológica musical e a elaboração poética. A metodologia parte dos tópicos de tratados históricos sobre a fraseologia musical e temas filosóficos ligados à poética. Como resultado, através de uma prática analítica e do confronto da fraseologia com regras de poética, chega-se a uma proposta de duas novas categorias fraseológicas. Concluindo, as estruturas fraseológicas de músicas do repertório popular brasileiro poderiam ser entendidas como análogas a certas estruturas poéticas, ensejando-se, desse modo, discussões conceituais derivadas da problemática apresentada.
Este artigo é composto por reflexões acerca do conceito de produção de presença desenvolvido por Hans Ulrich-Gumbrecht e pela apresentação de procedimentos que visam aproximar o conceito à prática da Livre Improvisação Musical
(LIM). Para instaurar o processo criativo associado às concepções de Gumbrecht, foi desenvolvida uma proposta performativa a ser realizada pela Orquestra Errante, grupo que pesquisa a LIM. Dentre seus direcionamentos, a proposta sugere que musicistas improvisem mediadas/os por gravadores de áudio e pela internet e, posteriormente, façam relatos sobre oscilações entre efeitos de sentido e presença que tenham ocorrido durante as improvisações e quais qualidades a presença física trariam para este tipo de performance. O estudo buscou, portanto, acrescentar novas ferramentas para a criação sonora em tempo real e propiciar reflexões a respeito das relações unívocas estabelecidas entre suas/seus participantes, seguindo preceitos conceituais apresentados pelo pensamento gumbrechtiano.
A subordinação da mulher é um fenômeno universal, milenar, e é a primeira forma de opressão da humanidade (Ana COSTA; Cecília SARDENBERG, 2008). Trabalhos que abordam a relação entre mulher e música, ou música e gênero, ainda precisam emergir mais, embora perceba-se uma crescente no campo nos últimosanos. Este artigo apresenta a presença das mulheres (como criadoras, performers, musas, mestras) na Mazurca Pé Quente do Alto do Moura, apontando para a importância dos contextos em que a música está inserida, assim como a relevância de trabalhos que falam sobre mulher no âmbito musical. Foram realizadas entrevistas, observações e conversas informais com as/os integrantes da mazurca. A maior partedos dados foi coletada para o “Inventário do Ofício dos Artesãos e Artesãs do Barro do Alto do Moura – Caruaru-PE”.
A retórica tem seu nascimento e desenvolvimento na Grécia e posteriormente em Roma, alcançando toda a Europa no final da Antiguidade e se estendendo ao medievo, contribuindo para o enriquecimento de várias esferas do conhecimento humano, bem como da música. O contato entre as duas artes se dá, a partir do século XVI por meio dos tratados que vão desde compositores alemães, franceses, italianos, até os portugueses, chegando então, aos músicos brasileiros estudantes na metrópole, o conhecimento consciente da utilização de elementos e técnicas que estabelecem, entre outras possibilidades, uma maior aderência junto à plateia.
Situado neste quadro está Luís Álvares Pinto, compositor e professor brasileiro que, por meio de seu contato com os estudos humanísticos, trouxe à sua obra Te deum Laudamus possíveis figuras de elocução que caracterizam a aplicabilidade da retórica em sua música.