SEIXAS, F. A. V.; CASTALDO, A.; BIANCONI, A. L.; NILSON, L. G. Interação entre traço falciforme e alfa-talassemia: relato de um caso no noroeste do paraná. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, Umuarama, v. 13, n. 1, p. 51-54, jan./abr. 2009. RESUMO: O traço falciforme associado à alfa-talassemia (AS/α-talassemia) é uma característica rara na população do sul do Brasil. Em função deste e de outros motivos, casos dessa interação são confundidos e muitas vezes subdiagnosticados como sendo de anemia ferropriva, o que pode levar pacientes a tratamentos desnecessários e, muitas vezes prejudiciais à sua saúde. Este trabalho relata o caso de uma paciente de 80 anos de idade que, após participar de um estudo populacional sobre incidência de hemoglobinopatias, descobriu ser portadora da interação AS/α-talassemia. Até então vinha recebendo tratamento para anemia ferropriva, apesar de não apresentar melhora. Este trabalho discute ainda como os índices hematimétricos, associados aos achados eletroforéticos, contribuíram para um diagnóstico diferencial da interação AS/α-talassemia, o que pode auxiliar médicos e profissionais da saúde a um diagnóstico mais preciso, visando à melhoria da qualidade de vida do paciente e, consequentemente, a diminuição da incidência destas doenças genéticas na população. ABSTRACT: Sickle cell trait, associated to alpha-thalassemia (AS/α-talassemia), is a rare characteristic in the population living in the South of Brazil. Because of such a rare condition and other reasons, cases of that interaction are confusing and most of the times sub-diagnosed as iron deficiency anemia, thus submitting the disease carrier to unnecessary treatments which, most of the time, are harmful to the patient's health. The present study reports the case of an 80-year-old patient, who after taking part in a study on the incidence of hemoglo-binopathies on population, discovered to carry the interaction AS/α-thalassemia. Up to then the patient had been submitted to treatments to control iron deficiency anemia, although not presenting any improvement. Moreover, the present study discusses how hematimeter indexes, associated to electrophoretic findings, have contributed for a differential diagnosis of AS/α-talassemia interaction, what may aid physicians and health professionals to obtain a more precise diagnosis, aiming at improving the patient's life-quality, and consequently, leading to a decrease in the incidence of such genetic diseases in the population. Introdução O traço falciforme (AS) é um distúrbio gené-tico da hemoglobina bastante comum na população brasileira, principalmente a da região nordeste. Este distúrbio, de caráter co-dominante, raramente está as-sociado a manifestações clínicas e hematológicas sig-nificativas. Como os pacientes portadores convivem com a doença desde o seu nascimento, os mesmos não notam diferença em seu modo de vida, comparando-se com indivíduos de genótipo normal (LEE et al., 1998). Sendo assim, episódios de cansaço mediante esforços físicos que são decorrentes da doença, passam desper-cebidos e, dessa maneira, o paciente nascido antes do estabelecimento da portaria GM/MS nº 822/GM de 06 de junho de 2001, a qual torna obrigatória a triagem neonatal para doenças falciformes e outras hemoglo-binopatias, só descobre que é portador quando realiza um hemograma, geralmente solicitado para investigar outras doenças, ou nos procedimentos para triagem de doadores em bancos de sangue. Frequentemente suas manifestações hematoló-gicas são confundidas, e muitas vezes subdiagnostica-das, como as de anemia ferropriva (WAGNER et al., 2005; MATOS et al., 2008), o que expõe os pacientes a tratamentos inadequados e muitas vezes por longos períodos de tempo. O traço falciforme, por si só, é menos frequente na região sul, em relação às outras regiões do país e, quando associado à alfa-talassemia, torna-se uma carac-terística rara nessa população. Estudos populacionais na região sul do Brasil têm demonstrado que a frequência de indivíduos portadores da interação AS/α-talassemia é baixíssima, sendo de 0,17% no Noroeste do Paraná, enquanto que no Rio Grande do Sul é de 0%, porém, esta freqüência aumenta para 1,02% em portadores de anemia a esclarecer (SEIXAS et al., 2008). Pacientes portadores desta interação podem transmitir um, outro, ou ambos os genes relacionados a essas hemoglobi-nopatias a seus descendentes, aumentando ainda mais a frequência destes genes na população. Por motivos como estes, trabalhos que correlacionam as manifesta-ções clínicas e hematológicas desta interação, visando a um diagnóstico mais preciso desta patologia, se tornam necessários e devem ser estimulados. Este trabalho visa relatar um caso ocorrido na cidade, de Umuarama-PR, onde uma paciente, na oca-sião com 80 anos de idade descobriu ser portadora do